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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Brasil: um país sem poupança, sem presente e sem futuro!



A caderneta de poupança completou o quinto mês consecutivo de saques. Em maio, as retiradas superaram os depósitos em R$ 6,591 bilhões, o pior desempenho já registrado para o mês. Os saques líquidos no ano totalizam R$ 38,888 bilhões, no pior acumulado de cinco primeiros meses da série histórica compilada pelo Banco Central (BC) desde 1995.
Fontes: http://www.bcb.gov.br/?IMPRENSARELPOP
http://www.valor.com.br/financas/4590765/poupanca-tem-maior-saque-para-maio-desde-1995

terça-feira, 19 de abril de 2016

Delfim Netto: "O desastre está feito".


Goste-se ou não do Mestre Antonio Delfim Netto, reconheçamos que tem um estilo próprio de bem utilizar a escrita e um talento para resumir a Economia numa nota só. Por exemplo, hoje no VALOR ECONÔMICO, sua atual previsão para o Brasil neste 2016:

"O final dessa melódia é que a perspectiva atual é terminarmos2016 - se não agirmos rápida, enérgica e inteligentemente - com mais uma queda de 4% do PIB; uma taxa de inflação ainda acima do limite superior da "meta"; um déficit fiscal da ordem de 10% do PIB; um déficit primário próximo de 2% do PIB e a relação dívida bruta/PIB, reforçando sua dinâmica, vai aproximar-se de 75%".

sábado, 2 de maio de 2015

Valor Econômico - 15 anos.

FOLHA DE S. PAULO: Maior jornal de economia e negócios do país, o "Valor Econômico" completa, neste sábado (2), 15 anos de circulação. Uma parceria entre o Grupo Folha e o Grupo Globo, o "Valor" passa a investir em produtos cada vez mais específicos e segmentados de seu conteúdo, produzido por mais de 200 jornalistas.

Segundo a diretora de Redação do "Valor", Vera Brandimarte, essa é a tendência de qualquer empresa, "interpretar o que o cliente quer, como ele muda seus hábitos e adaptar produtos específicos para ele".

Com 60.118 assinantes nas edições impressa e digital, o "Valor" lançou em 2014 o Valor PRO, que oferece em tempo real notícias e informações exclusivas.

Todo o conteúdo feito pela equipe do jornal é inicialmente disponibilizado aos assinantes do Valor PRO e, depois, adaptado e publicado nas edições impressa e digital. O jornal também possui o Valor Empresas, um banco de dados com informações de mais de 5.000 companhias de todo o Brasil.

Lançado em maio de 2000 em meio ao boom de novos sites de notícias, o "Valor" se impôs como jornal de economia em sua versão impressa. A base de sua direção editorial era oriunda da "Gazeta Mercantil", jornal fundado em 1920, que deixou de circular em maio de 2009.

Seu primeiro diretor de Redação --e um dos principais responsáveis pela definição da linha editorial do veículo-- foi o jornalista Celso Pinto, ex-colunista da Folha, que se licenciou do "Valor" em 2003.

Ao longo desses 15 anos, o jornal se firmou em outras plataformas e se tornou referência no seu segmento. Encerrou 2014 com faturamento bruto de R$ 220 milhões.

"O 'Valor' não passou ao largo de todas as situações difíceis e de mudanças no modelo de negócio das empresas do setor, principalmente nos anos entre 2002 e 2004", diz Vera Brandimarte.

"Mas sempre tivemos o lastro financeiro dos controladores e um time de jornalistas que fizeram a diferença nesses anos."


Grupo Folha e Grupo Globo detêm 50% cada um de participação, os conselhos administrativo e editorial do jornal são divididos em partes iguais, e as decisões são sempre tomadas por unanimidade. "A relação é harmônica, e o comando da Redação, muito autônomo", afirma Antonio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente do Grupo Folha.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Uma aula de economia com Ilan Goldfajn.

Li recentemente no site do Banco ITAÚ uma excelente entrevista com o Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. A matéria é extremamente rica e importante para a leitura e avaliação dos colegas, bem como para entendermos o que acontece e pode acontecer com a economia brasileira.

Boa leitura aos meus dois (milhões de) ainda fiéis leitores.

O risco cada vez mais iminente da adoção de racionamento de energia e a crise na Petrobras podem levar o Brasil a registrar retração de 1% do PIB em 2015, prevê Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. Para Goldfajn, que foi diretor de Política Econômica do BC (2000-2003) e economista do FMI (1996-1999), o país vive uma "turbulência perfeita" com uma série de notícias negativas que mantém os índices de confiança baixos e dificultam a retomada dos investimentos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Qual a perspectiva para o crescimento do PIB neste ano?
Ilan Goldfajn: Basicamente o que estamos observando é uma conjunção de fatores que devem levar a um crescimento negativo (recessão) neste ano. Dos fatores importantes para essa desaceleração, o primeiro é que os índices de confiança estão muito baixos, não estamos vendo uma retomada do investimento. Tínhamos a esperança que, na medida em que se tem o começo do segundo mandato, o investimento pudesse retomar, mas isso não aconteceu. Isso tem a ver também com a questão da Petrobras, com os problemas políticos que dificultam ter uma visão mais clara sobre o que vem pela frente. Além disso, há impactos diretos de algumas variáveis, por exemplo, no setor de petróleo devemos ter menos investimentos. Os setores de construção e infraestrutura provavelmente terão algum impacto de menor produção também, nem que seja na reorganização de novos projetos, que vão demorar para começar. Considerando esses fatores, revisamos a projeção para o PIB de 0% para - 0,5%. Mas não para por aí, temos o risco de racionamento de energia elétrica e de água [no Estado de São Paulo]. O racionamento de energia elétrica tem impacto no PIB, o de água é mais difícil de calcular. Mas fazendo a nossa melhor estimativa, se for decretado racionamento de energia, pode ter uma queda de mais 0,5% do PIB, levando a uma retração de 1% em 2015. É um começo do que, até brinco, seria uma turbulência perfeita. São os riscos se materializando.

Valor: Qual o impacto da crise da Petrobras e da Operação Lava-Jato para o PIB e para o resultado fiscal?
Goldfajn: A Petrobras é a maior empresa do setor de petróleo. De forma geral no setor, estimamos queda de 20% nos investimentos e de 15% na produção. Já do lado fiscal, o impacto tem de ser calculado. Você produz menos, tem menos dividendos, menos royalties.

Valor: A troca de comando na Petrobras será suficiente para retomar a credibilidade junto aos investidores?
Goldfajn: Para ter aumento de confiança, tem de ter confiança em tudo. A questão dos escândalos, das dúvidas, dos problemas legais afetam o investimento. Temos de levar em consideração que os processos legais, que são feitos de forma institucional, reforçam a democracia, as instituições e, lá na frente, podem contribuir para um país mais forte. No caso, não é uma questão só de substituição de nomes, mas de mostrar que de fato há uma mudança na gestão, que a empresa começa a dar a volta por cima e isso é relevante.

Valor: O governo conseguirá entregar a meta de superávit primário de 1,2% do PIB neste ano?
Goldfajn: Há um desafio extra. Quando a meta para este ano foi anunciada, o déficit esperado para o ano passado era perto de 0%. Nós tínhamos 0,2% do PIB. O resultado do ano passado foi negativo em 0,6%, ou seja, estamos falando de uma diferença de 0,8%. Para uma mesma meta de 1,2%, você precisava fazer 1% de ajuste e agora precisa fazer 1,8%. É um desafio grande. Agora, eu vejo a equipe econômica comprometida em atingir a meta, comprometida em reduzir o déficit primário para um superávit primário, em reduzir o déficit nominal que foi 6,3%, um dos maiores do mundo no ano passado, preocupada com a dinâmica da dívida bruta e em levá-la para baixo. A minha expectativa é que venham mais medidas. O governo vai cortar despesa corrente, investimento, aumentar tributos, tudo isso que já está aí, na esperança de lá na frente retomar o crescimento.

Valor: Há a possibilidade de retomar o crescimento em 2016?
Goldfajn: Acho que 2016 ainda está no jogo. Prevemos que o PIB pode crescer em torno de 1%, se o governo conseguir a retomada. Mas tem que ter todo mundo comprometido e outras medidas, como reformas, melhorar a produtividade, reduzir o custo de se fazer negócios, ou seja, a retomada da credibilidade fiscal é importantíssima, mas para crescer em 2016 é preciso mais do que isso.

Valor: Qual o cenário para inflação neste ano? O BC conseguirá alcançar o objetivo de levar a inflação para perto do centro da meta em 2016?
Goldfajn: Acho que este ano, com um aumento dos preços administrados acima de 10%, vai ser difícil ficar com inflação abaixo do teto da meta de 6,5%, nossa projeção é de 7,1%. Mas uma parte dessa expectativa tem a ver com o aumento de 30% a 40% de energia elétrica. Esse aumento já reflete a escassez de energia. Por outro lado, quando você olha os preços livres, os preços de serviços, eles já estão começando a ir na direção correta, ou seja, já começa a se imaginar que a partir de 2016 a inflação começa a convergir. Estamos prevendo inflação abaixo de 5,5% para 2016, porque hoje há uma demanda muito menor, uma economia crescendo abaixo do potencial, um cenário internacional desinflacionário, com quase todos os bancos centrais reduzindo juros, estimulando a economia através de programas de quantitative easing [afrouxamento monetário] como o do Banco Central Europeu. No entanto, temos uma corcova dos preços administrados. Hoje estamos pagando pela política de congelamento de preços que se adotou nos últimos anos. Desta forma, nosso cenário é de elevação final de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária [Copom], levando a taxa Selic para 12,50%.

Valor: Na semana passada foi anunciada a mudança na diretoria do BC, com saída do diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, e a indicação de um executivo de mercado, Tony Volpon. O que esperar da nova diretoria?
Goldfajn: As decisões vão continuar sendo tomadas por um comitê, a mudança de um outro membro não tem essa força toda, para mudar completamente a forma de pensar. Quem está ocupando a diretoria de Política Econômica é alguém que já estava lá [Luiz Awazu Pereira da Silva], a diretoria tem dois novos membros, acho que são bem-vindos. Voltar a ter um membro que vem do mercado é bem-vindo, mas não vejo nem melhor nem pior que um membro bom dos quadros do BC. O Carlos Hamilton foi um diretor muito bom. Ele não se furtou a contribuir, sempre estava disposto a ter um diálogo aberto com todas as frentes da sociedade. Tenho certeza que foi um colega que sempre contribuiu com o resto dos membros e também não se furtou a discordar quando foi necessário, e essa característica é interessante manter.

Valor: O sr. esteve em Davos, no Fórum Econômico. Qual a avaliação da percepção dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil?
Goldfajn: A minha impressão é que a recepção à equipe econômica foi muito boa, o discurso foi muito bom, abriu-se espaço para a volta da confiança. Agora, logo depois de Davos tivemos vários choques aqui, a tempestade perfeita, desde racionamento, à questão da Lava-Jato, do déficit [fiscal]. Então, há uma confiança maior na equipe econômica e há a percepção de mais dificuldade com respeito à realidade. Agora, um fator que todos nos perguntaram é o apoio do conjunto do governo a essas medidas [fiscais], não só da equipe econômica, mas do resto dos ministros, presidente, dos partidos de coalização. E isso é relevante para confiança. A aprovação das medidas no Congresso vai ser muito importante como primeiro sinal.

Valor: Como o sr. avalia o risco de um rebaixamento do rating do Brasil após o anúncio das medidas fiscais?
Goldfajn: Eu diria que assim que foram anunciadas a meta e as medidas fiscais, as agências de classificação de risco ficaram mais relaxadas. Começou o ano, os números piores do ano passado vieram e acendeu o alerta de volta. Na medida em que começa a ficar difícil atingir a meta, porque no ano passado foi a festa fiscal, faz com que mesmo com todos os esforços fique alguma dúvida sobre a capacidade de atingir [a meta], e, portanto, dúvida com relação às agências.

Valor: Na semana passada, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, trouxe dúvidas sobre a continuação das atuações do BC no câmbio. Há espaço para reduzir as intervenções?

Goldfajn: Eu entendo que no discurso em novembro, quando a equipe econômica foi anunciada, eles deixaram claro que o estoque de proteção cambial, os famosos swaps e o hedge que estava sendo vendido, em torno de US$ 100 bilhões é um tamanho adequado, e, portanto, isso significa que não vai aumentar esse estoque muito mais, mas também não vai reduzi-lo de forma acentuada. Acho que o mercado pode ter a tranquilidade que algum estoque de proteção vai se manter, mas também de que esse estoque não é infinito, que possa comprometer as finanças do BC e do resto do setor público. Você pode manter o estoque rolando 100%, ou rolando 80% e com um programa pequeno, mas a intenção de manter o estoque me parece parte relevante da política cambial. De qualquer forma, não imagino o real se apreciando muito mais ao longo do tempo. Acho que ele deve fechar o ano em R$ 2,90, caminhando mais ou menos com a inflação.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

London Business School - a melhor da Europa.

Leio no VALOR matéria do Financial Times sobre a melhor escola de negócios da Europa. 

A britânica London Business School foi escolhida a melhor escola de negócios da Europa, segundo ranking do jornal "Financial Times" publicado neste domingo (30). É a primeira vez que ela sobe ao topo da lista desde 2005.

A francesa HEC Paris e a espanhola IE Business School, que no ano passado empataram em primeiro lugar, ficaram neste ano com a segunda e terceira posição, respectivamente. Suíça e Itália também tiveram instituições incluídas no top 10.

Segundo pesquisa do jornal com mais de 1.500 alunos formados entre 2010 e 2011, 40% sentiram impacto negativo na carreira decorrente das baixas taxas de crescimento econômico da Europa. Entre eles, 67% citam menos vagas de emprego, 41% encontraram pouca oportunidade de promoção e 36% reportam remuneração e bônus mais baixos. Mas 77% acreditam que as habilidades adquiridas nas escolas de negócios ajudaram a lidar com o cenário econômico, e 40% receberam acesso a eventos de networking e conselhos de carreira por meio das instituições.

Ainda assim, cerca de um terço dos ex-estudantes que vivem na Europa consideram mudar para outro país dentro de um ano em busca de mais oportunidades de crescimento. O Estados Unidos é opção mais citada. 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Stanley Fischer.

No VALOR de hoje, o retrato de Stanley Fischer pela lente de Delfim Netto.

Stanley Fischer , que parece será nomeado para a vice-presidência do Fed, é um dos mais bem apetrechados economistas teóricos aos quais foram dadas oportunidades para usar seu conhecimento no exercício da política econômica. Recebeu o PhD no MIT em 1969 e rapidamente se notabilizou.

 
Que economista ficou indiferente em 1977 diante da sua inovadora combinação da teoria das "expectativas racionais", com hipóteses keynesianas? Qual não se entusiasmou em 1978, com a síntese magistral do "Macroeconomics" (em colaboração com Rudiger Dornbusch)? E não se maravilhou e sofreu, em 1989, com o seu "Lectures in Macroeconomics" (em colaboração com Olivier Blanchard)?

Em 1984, assessorou o governo de Israel no bem-sucedido programa de estabilização, inaugurando sua vida prática. Depois ocupou o cargo de economista-chefe do Banco Mundial, no período de 1988-1990. Em 1994, foi nomeado economista-chefe do FMI, cargo que ocupou até 2001 e no qual enfrentou várias crises, inclusive a brasileira. Em 2001, ao deixar o FMI, foi assessorar o Citigroup e meteu a mão na massa no lado privado do sistema financeiro.

Voltou à vida pública em 2005, nomeado presidente do Banco Central de Israel, cargo que ocupou até 30 de junho último. Mostrou o seu virtuosismo na grande recessão de 2008. Antecipou um afrouxamento monetário (antes do Fed) e combateu a apreciação da moeda israelense, o shekel, para proteger o nível de atividade do país, onde as exportações são próximas de 40% do PIB.

Ainda em 2008, instituiu um programa de compra diária de US$ 100 milhões, exatamente o oposto do que fazia o Banco Central do Brasil, que estimulava a valorização do real como fator coadjuvante para o combate à inflação à custa da destruição do nosso setor industrial.

A competência e a sensibilidade de Fischer são confirmadas por seu pragmatismo. Não hesita em relativizar sua "ciência" diante da realidade fática que a nega. É o caso, por exemplo, de sua mudança de atitude diante da ampla liberdade de movimento de capitais e do regime de câmbio livremente flutuante, que defendeu ardorosamente enquanto no FMI.

Toda a longa experiência de Fischer está destilada e amadurecida na imperdível introdução à conferência "Lessons from the World Financial Crisis", realizada em Israel em 2011, agora publicada no livro ("The Great Recession" - Lessons for Central Bankers", MIT Press, 2013). Ele aponta as dez lições que colheu até agora. Particularmente interessante é a lição nº 6: "A importância da taxa de câmbio nas pequenas economias abertas".

Nela, Fischer nos ensina que "a taxa de câmbio real é uma das duas mais importantes variáveis macroeconômicas nas pequenas economias abertas. A outra é a taxa de juros real. "Nenhum banqueiro central em tais economias pode ser indiferente quanto ao nível da taxa de câmbio, mas infelizmente não há escolhas fáceis na sua administração".

E Fischer continua: "Primeiro, há a escolha do sistema cambial, que está intimamente ligado à questão do controle de capitais. Se os fluxos de capitais podem ser controlados, pode haver alguma vantagem na escolha de uma taxa de câmbio nominal fixa. Entretanto, e sem entrar no longo e irresoluto debate sobre o sistema cambial, acredito (sic) que é melhor operar com um sistema cambial mais flexível e com um movimento de capitais mais aberto. Mas "flexível" não significa, aqui, que um país não possa intervir no mercado cambial, ou que o movimento de capitais seja completamente aberto... Nenhum país pode comprometer-se a defender uma particular taxa de câmbio. Os participantes do mercado costumam dizer que o banco central não pode colocar-se contra sua força. Entretanto, é preciso reconhecer a assimetria existente entre defender-se de pressões para valorizar ou desvalorizar a moeda. No caso da depreciação, o mercado quer mais moeda estrangeira das quais o banco central dispõe de quantidade limitada e não pode resistir indefinidamente. Os eventos recentes mostraram que grandes reservas podem ajudá-lo a resistir às pressões do mercado... No caso da valorização, os mercados querem mais moeda local, que o banco central pode produzir para comprar o fluxo de moeda estrangeira que está entrando. Evidentemente, para prevenir um processo inflacionário é preciso esterilizar os seus efeitos, como se fez em Israel e em outros países".

Fischer reconhece que, em certas circunstâncias, os países introduzem algum atrito no movimento dos capitais. Para ele, "tais controles são raramente elegantes, de administração difícil e permanentemente erodidos pela capacidade do setor privado de encontrar meio de ilidi-los. Mas, às vezes, necessários, quando o país é confrontado com um importante movimento de entrada de capitais".

A 10ª lição de Fischer é definitiva e moralmente tranquilizadora para os sacerdotes do método do "suponhamos que", que se pensam portadores da "verdadeira" ciência econômica. "Numa crise" - diz ele - "os banqueiros centrais (e sem dúvida outros 'policy makers') vão encontrar-se tendo que decidir por políticas que eles nunca pensaram em aplicar e, frequentemente, que eles nunca prefeririam aplicar. Portanto, uma palavra final para os banqueiros centrais: nunca digam nunca". O conselho pode estender-se aos críticos que, sem saber, serão um dia "policy makers".

Este "suelto" foi publicado nesta coluna em 17/09/2013, quando eu esperava que ele fosse o "chairman" do Fed.

domingo, 10 de novembro de 2013

Entrevista no VALOR com DELFIM NETTO.

Recentemente no VALOR ECONÔMICO, li uma entrevista com Delfim Netto, a qual compartilho com os meus ainda dois fiéis leitores os trechos abaixo:

Valor: Os dados de setembro mostraram uma forte deterioração das contas públicas. O que pode acontecer daqui por diante?
Delfim Netto: Estamos caminhando para um déficit fiscal de 3% do PIB este ano e de 4% do PIB em 2014. Esse é o déficit nominal, que não passava de 2,5% do PIB. Acho que a estimativa do Banco Central para a dívida bruta não tem viés e poderia ser aceita pelo Fundo Monetário Internacional. Hoje, a dívida como proporção do PIB não seria uma coisa trágica, mas a perspectiva é preocupante.

Valor: Por quê?
Delfim: Em condições normais, o ano terminaria com 2,5% do PIB de déficit nominal e 60% do PIB de dívida bruta. Hoje, acho que a probabilidade é de chegarmos a 3%, ou um pouco acima de 3%, do PIB de déficit nominal. E veja o que está acontecendo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Está no Congresso a proposta de mudança retroativa do indexador da dívida dos Estados e municípios.

Valor: Mas não é o próprio Executivo que está patrocinando essa mudança, abrindo caminho para um novo ciclo de endividamento dos Estados e municípios?
Delfim: Rever a taxa de juros daqui para frente não tem problema, mas estimular o endividamento, mesmo que para o investimento, quando estamos perto do pleno emprego, só vai estimular a inflação. O que está perturbando hoje são duas coisas. Primeiro, a perspectiva de aumento da dívida bruta retira do governo a capacidade de enfrentar uma política anticíclica, se ele tiver necessidade. Numa situação perto do pleno emprego, isso pressiona os juros e aumenta o gasto com juros como proporção do PIB. E aí aparece uma de duas coisas: ou um déficit em conta corrente, ou inflação, que é o que está visivelmente ocorrendo.

sábado, 20 de abril de 2013

As eleições de 2014 e a economia.


Recentes dois artigos do Luiz Carlos Mendonça de Barros publicados no VALOR avaliam a situação econômica brasileira, bem como previsões para 2014. Neste, o foco é a eleição e a economia.
A condução da política econômica no Brasil está dando sinais de estar passando por mudanças importantes. Os analistas precisam incorporar os efeitos de uma eleição presidencial - que se mostra hoje mais difícil do que as que consolidaram a hegemonia do PT no quadro político brasileiro - em suas previsões. Vou dividir com os leitores do Valor algumas observações que tenho sobre esse tema, embora deva ressaltar que ainda são ideias iniciais e que só os próximos meses poderão robustecê-las.
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o PT é um partido que segue os princípios do cientista político italiano Antonio Gramsci, adaptado ao cenário brasileiro ao longo dos últimos dez anos. E nesse quadro de princípios a manutenção do poder é um de seus principais itens. Em outras palavras, para o PT e sua liderança política, eleição é uma coisa muito séria que justifica tudo, inclusive a mudança de posições consolidadas ao longo do tempo. A própria presidenta nos lembrou, recentemente, desse fato ao dizer que em época de eleições faz-se o diabo para ganhá-las.
Um segundo ponto que gostaria de desenvolver diz respeito a uma observação feita pelo ex-governador Paulo Hartung - outro político que também leva a questão de eleições a sério - em recente conversa. Para ele as eleições presidenciais do próximo ano serão as mais difíceis que o PT enfrentará na sua fase "poder". As razões são várias, mas as mais importantes me parecem as seguintes:
1 - a economia em 2014 não será a maravilha que vivemos em 2006 e 2010;
2 - a se confirmarem as candidaturas que estão postas hoje, a presidente Dilma terá que enfrentar no Nordeste um político local e de grande visibilidade como Eduardo Campos e que certamente vai roubar muitos votos do PT;
3 - em Minas Gerais (outro curral eleitoral do PT nas últimas eleições) a presença do ex-governador Aécio Neves vai alterar de forma importante a distribuição dos votos;
4 - Marina Silva também pode representar uma alternativa eleitoral interessante para eleitores que votaram nos candidatos do PT nas últimas eleições;
5 - Em um eventual segundo turno entre Dilma Rousseff e Eduardo Campos os riscos de derrota aumentam muito;
Por tudo isso o governo e o PT sabem que o estado da economia vai ter um papel importante no comportamento do eleitor. E os resultados dos dois últimos anos não garantem que um cenário de céu de brigadeiro vá acontecer em 2014. Essa é a razão porque acredito que vamos assistir a algumas mudanças significativas na condução da política econômica nos próximos meses. A direção desses movimentos será nitidamente no sentido de reduzir o mau humor do setor privado em relação ao governo em função de traços claros de um autoritarismo estatal - que não ocorreu nos anos Lula - nas suas decisões.
A presidenta Dilma mudou de forma clara o soft econômico herdado de Lula, reduzindo o espaço e a liberdade da dinâmica privada na economia e aumentando as intervenções do governo, principalmente via regulação e ações de empresas estatais. A presidenta acredita em um modelo econômico em que o Estado deve liderar as ações na economia, inclusive interferindo em contratos em vigor como aconteceu recentemente com o setor elétrico. Por outro lado o governo tem demonstrado pouca disciplina na gestão das âncoras macro que herdou dos governos Fernando Henrique e Lula.
Com isso vem perdendo o apoio de amplas faixas do setor privado, tanto no Brasil como no exterior. Hoje o Brasil é visto com desconfiança pelos mercados financeiros, apesar ainda de ser um polo importante de investimentos de empresas que querem participar do fortalecimento do mercado de consumo nos próximos anos.
Por essa razão, apesar do mau humor dos investidores meramente financeiros, o volume de investimento direto do exterior continua forte, na faixa dos US$ 60 bilhões anuais. Mas o peso dos chamados mercados na construção do clima de negócios em um país emergente como o Brasil é suficiente para que, como acontece agora no Brasil, ocorra uma redução dos investimentos privados. A realidade do PIB do ano passado, com uma queda expressiva da formação bruta de capital, deve ter mostrado aos dirigentes do PT e ao governo a necessidade de restabelecer uma ponte de credibilidade com os mercados.
Alguns sinais dessa nova postura começam a aparecer em decisões do governo e, principalmente, no vazamento pela imprensa de comentários de fontes oficiais. No caso das concessões de serviços públicos parece que o governo vai aceitar que os leilões sejam realizados com taxas de rentabilidade compatíveis com os riscos envolvidos. Também nas negociações sobre a MP dos Portos essa postura, mais realista e favorável ao capital privado, parece estar ocorrendo.
Mas virão das decisões do Copom e das intervenções no mercado de câmbio nos próximos meses as indicações mais importantes destas mudanças. A dimensão e a velocidade da elevação dos juros Selic diante de uma inflação perigosa - inclusive para as eleições - e uma valorização maior do real nos mercados de câmbio mostrarão até onde o governo pretende ir para fortalecer a reeleição da presidenta Dilma.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Inflação: de volta ao passado?


Recentes dois artigos do Luiz Carlos Mendonça de Barros publicados no VALOR avaliam a situação econômica brasileira, bem como previsões para 2014. Neste, o foco é a atual inflação vista por ortodoxos e heterodoxos.  
É muito triste para o analista acompanhar o debate atual sobre a política monetária do Banco Central (BC). Este sentimento nasce principalmente em função da volta da inflação para o centro das discussões, depois de mais de dez anos de esquecimento por parte da sociedade. Esta nossa sensação de "déjà vu" fica reforçada pelo aparecimento de velhos protagonistas de corte heterodoxo - com suas mesmas ideias e soluções do passado - ao lado de novos economistas liberais, com os mesmos erros e utopias de seus colegas mais velhos. Ou seja, em mais de 30 anos, os membros destes dois grupos não esqueceram nada, mas também não aprenderam nada de novo.

Como escrevi acima, considero um retrocesso voltar à questão da inflação nos termos que vêm sendo colocados pela mídia, aqui e no exterior. Em um extraordinário trabalho a quatro mãos, os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula conseguiram convencer a sociedade brasileira que a estabilidade de preços é uma condição absolutamente necessária para que o crescimento econômico seja perene. Mais do que isto, que para atingir este objetivo é preciso ter um Banco Central comprometido com uma meta clara para a inflação e com um mínimo de independência para persegui-la ao longo do tempo.

Aliás, é bom lembrar que foi por conta deste compromisso que a economia brasileira cresceu continuadamente entre 1994 e 2008, apesar das crises que enfrentamos. Nestes 14 anos, a renda real do brasileiro cresceu mais de 3,5% ao ano e a parcela da sociedade que vive na economia de mercado passou de 34% para mais de 60%. Um resultado incrível e que ganhou reconhecimento internacional. Pensava eu que, por isto, estivessem sepultadas de vez as teorias alternativas que sempre fizeram parte do programa de ação do Partido dos Trabalhadores e de parte da esquerda brasileira.

Também por isso me surpreendeu quando a presidenta Dilma começou a deixar de lado este compromisso com o aparecimento de alguns entraves ao crescimento da economia. Ela não percebeu que o problema tinha sua origem em questões estruturais não enfrentadas adequadamente nos anos Lula e no início de seu mandato. No começo, estas mudanças foram sutis, mais relacionadas a intervenções pontuais do governo. Mas, a partir da frustração com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, as ações passaram a ser mais abrangentes, enfraquecendo o arcabouço macroeconômico que havia prevalecido até então.

Nos anos Lula o governo considerava os mercados como um instrumento de ação do governo na busca da geração de renda para, a partir daí, alterar a natureza da distribuição dos frutos do crescimento. De certa forma, o governo Lula utilizou-se da mesma estratégia que os chineses desenvolveram nos últimos anos para construir uma nova economia.

Já a presidenta Dilma colocou a ação do governo como peça central da política econômica, sujeitando a ação privada a um papel apenas complementar e secundário. Ao fazer isto recolocou o ideário do PT tradicional - e também do PDT brizolista - novamente no comando de suas ações. Daí o teor de suas declarações recentes de que não concorda com a utilização dos juros como instrumento de redução do consumo privado no combate à aceleração da inflação. E foi mais longe ainda, ao resgatar a antiga e desgastada imagem do remédio matando o paciente.

Mas vamos também olhar de forma crítica para o outro lado do espectro ideológico e que procura vender a imagem de que estamos próximos a um total descontrole da inflação. O gráfico abaixo mostra, de forma clara, dois momentos distintos dos números do IPCA nos últimos anos. No primeiro, que corresponde à passagem do ponto A para o B, temos um período de desinflação em função da valorização do real e da existência de espaços produtivos ociosos no tecido econômico, como o índice de desemprego de dois dígitos. Por isto a inflação chega a ficar momentaneamente abaixo do centro da meta do BC entre 2006 e 2007.

Já entre B e C temos um período em que pressões inflacionárias por conta da ocorrência de vários choques externos - câmbio e commodities - em um ambiente de redução rápida dos espaços ociosos na economia, levam a inflação a mais de 6% ao ano.

Em resumo, nos últimos anos, mesmo durante o período de um Banco Central ortodoxo e com liberdade de ação, a inflação no Brasil nunca ficou abaixo dos 5% ao ano por um período mais longo. Um sinal claro de que não conseguimos sair da armadilha de um sistema de preços indexados à inflação passada e, portanto, ultrassensível a choques externos de oferta. Por isto, quando voltamos agora a uma situação limite e perigosa, temos que buscar uma política de combate a inflação menos rudimentar do que a proposta pelos dois lados do espectro ideológico que domina o debate econômico nestes dias.

Não serão apenas medidas clássicas como a elevação da taxa Selic que vão tirar a dinâmica de aumento de preços da perigosa trajetória atual. Temos que voltar os olhos ao Plano Real e buscar na sua agenda um conjunto abrangente de medidas de política econômica.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Desafios para a política monetária.


Carlos Thadeu de Freitas Gomes, chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e Marianne Lorena Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), escreveram neste texto para o Valor Econômico, os desafios para a política monetária, onde destacam que é fundamental ancorar as expectativas inflacionárias dentro do regime de metas .  
Durante muito tempo, acreditou-se que o sistema de metas de inflação não só era o conjunto de regras de política monetária mais eficaz para manter a inflação sob controle, como também era capaz de promover a estabilidade macroeconômica como um todo, suavizando os ciclos econômicos. De fato, desde sua adoção e consolidação por boa parte dos bancos centrais pelo mundo, na década de 1990, experimentou-se um longo período de crescimento moderado e estabilidade de preços.
O sistema de metas de inflação foi introduzido pela primeira vez pelo Banco Central da Nova Zelândia, em 1988. Ele consiste em um conjunto de regras que visa criar uma âncora de política monetária baseada nas expectativas dos agentes. Ao se comprometer exclusivamente com uma meta para a inflação e ajustar a taxa de juros para o alcance dessa meta, a política monetária atua diretamente sobre as expectativas, e a demanda agregada converge para o pleno emprego no longo prazo. A transparência na comunicação e a credibilidade da autoridade monetária são premissas essenciais para esse modelo.
No entanto, no período de "grande moderação" que precedeu a crise financeira mais aguda desde a grande depressão, o sistema não foi capaz de impedir desequilíbrios macroeconômicos relacionados ao endividamento excessivo de famílias, empresas e governos, além da sobrealavancagem do sistema financeiro, que culminaram no colapso do mercado de crédito nos países desenvolvidos.
O arcabouço de regras rígidas do sistema de metas de inflação também não fornecia instrumentos para tratar das consequências dessa crise. Os canais tradicionais de política monetária deixaram de funcionar, a taxa de juros foi rapidamente trazida para patamares próximos de zero e outros instrumentos foram criados para prover expansão monetária - as políticas de "quantitative easing" (QE).
Adicionalmente, para lidar com os efeitos das políticas monetárias quantitativas e de taxa de juros reais negativas, foi necessária a adoção de políticas macroprudenciais por países com diferenciais de juros e de crescimento, como o Brasil, que foram afetados com forte influxo de capitais e valorização de ativos.
Países com elevado patamar de endividamento também tiveram que adotar políticas macroprudenciais - por meio de instrumentos regulatórios - para lidar com desequilíbrios financeiros. Nesse contexto, sem essas medidas, a política monetária tradicional pode estimular desequilíbrios nos fluxos de capitais, no mercado de crédito e no preço de ativos e moedas.
A política monetária teve que se adaptar em tempos de crise. Com o risco iminente de uma prolongada recessão e a manutenção de taxas de desemprego em patamares muito elevados, as metas para inflação foram colocadas de lado. A crise atual de endividamento público engessa a política fiscal e coloca a política monetária ainda mais em evidência, colocando-a a serviço, inclusive, da própria redução da dívida, por meio da repressão financeira. Os bancos centrais da zona do euro e dos Estados Unidos saíram na frente e sinalizaram que aceitam uma taxa de inflação maior, para não comprometer a recuperação econômica.
O presidente do Banco Central do Canadá, Mark Carney, sugeriu, recentemente, a adoção de metas para o Produto Interno Bruto (PIB) nominal em substituição às metas de inflação. Outras propostas incluem a mudança para uma meta de nível de preços que absorva choques positivos e represente um custo menor para o nível de atividade.
No Brasil, a política monetária também foi flexibilizada para combater os efeitos adversos da liquidez excessiva proveniente da expansão monetária sem precedentes dos países centrais. Para conter os efeitos do forte influxo de capitais sobre os preços dos ativos, o mercado de crédito e o câmbio, uma política monetária tradicional anticíclica, ao aumentar o diferencial de juros, poderia agravar o problema.
Contudo, apesar de o uso de políticas macroprudenciais - tais como requerimentos de capitais, barreiras aos fluxos de capitais, intervenções no mercado de câmbio, entre outros - ter tido sucesso ao evitar a fragilidade financeira e reduzir volatilidades nocivas, não conseguiu impedir os efeitos dos choques externos sobre preços e atividade.
Embora o PIB tenha crescido apenas 0,9% em 2012, a taxa de desemprego atingiu patamares historicamente baixos. Ou seja, mesmo com a atividade mais fraca, a inflação de salários não deixou de ser uma preocupação. O aumento no custo de produção de um bem devido à elevação dos salários acaba sendo, ao menos em parte, repassado para os preços, realimentando o processo inflacionário.
Há uma dinâmica favorável no país, principalmente no que diz respeito ao consumo das famílias, apoiada no espaço que ainda existe para a ampliação do crédito e no bônus fiscal gerado pelo desaperto monetário. Se isso é bom por um lado, por outro, pode implicar taxa de inflação mais elevada à frente. Adicionalmente, é preciso lembrar que alguns reajustes de preços estão sendo postergados. No curto prazo, esses adiamentos seguram a inflação mas, no médio prazo, têm efeito contrário. A elevada inércia inflacionária remanescente no país e a vulnerabilidade externa latente aumenta o custo de uma inflação mais alta.
Logo, é fundamental ancorar as expectativas inflacionárias dentro do regime de metas, mesmo que isso, temporariamente, afete a recuperação da atividade econômica, permitindo a sua sustentabilidade no longo prazo. A flexibilização da política monetária teve a sua importância num contexto de grandes desequilíbrios externos e atividade fraca. Agora, mesmo que seja reconhecida a necessidade de repensá-la à luz dos episódios recentes, a política monetária precisa retornar a sua função mais importante, que é estabilizar as expectativas inflacionárias.

terça-feira, 26 de março de 2013

Inflação versus Desemprego by Sachida.


Hoje no VALOR ECONÔMICO, o artigo de Delfim Netto cita excelente trabalho de três economistas do IPEA, dentre eles, o Sachida. Parabéns!     
O furo é, certamente, mais embaixo. A revista "Economia Aplicada" (16 (3) 2012:475-500) que acaba de ser publicada, traz um competente artigo de três economistas do Ipea (Mario Mendonça, Adolfo Sachsida e Luis Medrano), "Inflação versus Desemprego: Novas Evidências para o Brasil" onde se procura estimar a Curva de Phillips Novo-Keynesiana para o Brasil. Trata-se de trabalho cuidadoso que utiliza dados mensais de janeiro de 2002 a março de 2012 submetidos a um hábil tratamento econométrico. Analisam, também, um subperíodo de janeiro de 1995 a março de 2012. A curva construída inclui como variável dependente a taxa de inflação do ano e como variáveis "explicativas" a inflação do ano anterior, a estimativa de inflação para o ano seguinte, uma variável que represente o "custo marginal" (de fato a taxa de desemprego) e outra que represente um choque de oferta (de fato, a taxa de câmbio).
As principais conclusões do excelente trabalho são as seguintes:
1) um único resultado permaneceu robusto aos diversos experimentos: a expectativa de inflação e a inflação passada têm relevância na dinâmica do processo inflacionário. O papel das expectativas parece aumentar no período mais recente;
2) com relação ao desemprego, seu impacto de curto prazo sobre a inflação depende do conjunto de variáveis representativas ("próxies") adotadas. Na maior parte dos casos essa relação foi negativa, como era esperado. Já no longo prazo esse efeito torna-se difícil de ser captado, dando a impressão de ser nulo ou pouco relevante na formação do processo inflacionário. De qualquer forma e em qualquer dos casos, o efeito real da taxa de desemprego sobre a inflação foi próximo de zero;
3) o processo inflacionário brasileiro parece não guardar relação próxima com a Curva de Phillips Novo-Keynesiana. Isso é de especial relevância porque a grande maioria dos "macromodelos" da economia brasileira assume formatos parecidos com ela ao descrever a inflação.
É por isso e muito mais que, quando sugere cautela antes de apressar-se a aumentar a taxa de juro real, mas demonstra disposição de fazê-lo se necessário, a autoridade monetária brasileira está mais afinada com o mundo real do que os seus críticos.

segunda-feira, 25 de março de 2013

O colapso do investimento no Brasil.


Hoje, recebi do professor Carlos Pio o artigo que Cláudio R. Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios e diretor no país do International Growth Center (London School of Economics e Oxford University), escreveu no VALOR ECONÔMICO, o qual compartilho abaixo.

A baixa taxa de investimento no Brasil, associada à (quase) estagnação da produtividade, vem progressivamente solapando a competitividade da economia brasileira e seu potencial de crescimento no médio e longo prazo. Na última década, a economia passou por dois ciclos de investimento: um longo, iniciado no segundo trimestre de 2004 e interrompido no terceiro trimestre de 2008 pela Grande Recessão; e um curto, partindo no segundo trimestre de 2009, atinge seu pico em 2010, e se esgota dois anos após seu início (segundo trimestre de 2011, quando a taxa de crescimento do investimento cai abaixo de 3% frente ao trimestre anterior).

A trajetória recente do investimento aponta para seu colapso, no sentido de não apenas ter perdido impulso, mas de ter se contraído em termos absolutos: a formação bruta de capital fixo em 2012 cai 4% (frente a 2011) e a taxa de investimento no ano se reduz a 18,1% (19,3% em 2011). Esse desempenho tem algumas explicações tópicas, a exemplo da contração conjuntural na demanda de caminhões com a adoção de um novo padrão de consumo de diesel, novos motores e preços mais elevados. Contudo, em anos recentes, e principalmente desde 2011, foi introduzido um conjunto de mudanças tributárias e no custo de capital que levou a uma queda efetiva no custo de investimento. Ademais, incentivos fiscais, a ampliação do crédito e o aumento real dos salários favoreceu o consumo, enquanto que compras públicas ampliaram o mercado para máquinas e equipamentos. Sob a premissa de que o "vazamento" da demanda doméstica em volumes crescentes vem retirando dinamismo do mercado, o governo introduziu medidas de proteção, e intervenções no mercado de cambio levaram à desvalorização do real. No seu conjunto seriam medidas que estimulariam o investimento - a queda de seu custo e a ampliação da demanda.

Como, portanto explicar o desempenho do investimento à luz do amplo conjunto de incentivos voltados à sua ampliação e à expansão da produção? E porque o novo regime tem sido incapaz de constituir uma efetiva política de apoio à indústria de transformação?

A decisão de investimento é formada por um conjunto de informações objetivas a respeito da economia e dos mercados, e por percepções subjetivas do ambiente de negócios e de eventos futuros que afetam o ânimo investidor (ou o "espírito animal", conforme Keynes). Sem necessariamente tentar hierarquizar a importância relativa de cada fator, os resultados obtidos em 2011-2012 sugerem que os incentivos diretos e indiretos ao investimento foram sobrepujados por um conjunto relevante de fatores.

Primeiro, a perda de competitividade da economia brasileira, agravado pelo contexto de baixo crescimento da economia mundial. Com a possível exceção da produção assentada em recursos naturais (as chamadas "commodities"), e alguns segmentos da indústria de transformação, o país vem deixando de ser uma plataforma competitiva de exportação de bens e serviços, e crescentemente de produção de bens transacionáveis. Não há um fator determinante, mas a maior fragilidade se explica por uma combinação de infraestrutura precária, baixos níveis educacionais e de qualificação, inflação de custos em serviços, e pressão tributária - o país sendo um ponto fora da curva em termos de carga tributária para o nível de renda per capita.

Segundo, e com impacto direto sobre a decisão de investir, o "capex" (gastos de capital) dos projetos - e os tempos de execução - vem se elevando nos últimos anos. Nos anos pré-crise, esse fenômeno se explica pela escassez e elevação dos preços dos bens de capital, porém crescentemente pelo componente de serviços, num contexto de custos unitários do trabalho em acentuada elevação no Brasil.

Terceiro, houve uma deterioração da qualidade da política econômica. No plano macro, há dificuldades de acomodar de forma simultânea a expansão do consumo (inclusive do governo) e do investimento, o que se expressa nas tensões inflacionárias a partir de 2010, e nas dúvidas se o governo continua compromissado com o sistema de metas e seus fundamentos. As tentativas de encobrir a redução do superávit primário com manobras fiscais heterodoxas e de comprimir artificialmente a inflação, e os ruídos dissonantes de diferentes esferas do governo quanto à política cambial, minaram sua credibilidade. Na realidade, a expansão do consumo acentuou tensões que desaguam no mercado de trabalho (e no aumento do déficit em conta corrente), e corroem a competitividade da economia. Porém "esfriar" o mercado de trabalho seria apagar o ponto brilhante da economia brasileira, que vem premiando a base da pirâmide com ganhos reais (e possivelmente desproporcionais ao incremento da produtividade).

Finalmente, o hiperativismo no plano das políticas industriais e comerciais agrava a percepção de que, apesar da vontade de estimular a economia no seu conjunto e o setor industrial em particular, corre-se atrás de um alvo móvel - seja pelo diagnóstico errôneo, seja pelas falhas de execução. Em qualquer dos casos, a volatilidade das políticas resultou na perda de confiança dos agentes quanto ao rumo da economia. Na medida em que o ato de investir é uma aposta no futuro, a falta de visibilidade quanto à trajetória da economia, combinada com elementos objetivos relativos à perda de competitividade explica em grande medida o colapso do investimento no país.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Dilma no Valor fala de economia.


Recentemente o VALOR ECONÔMICO entrevistou a presidente Dilma. Vide abaixo  comentários que mostram um pouco do que pensa a presidente.     

Valor: Seu governo também é pragmático?
Dilma: Acho que todo governo tem que ser pragmático. Um governo não pode achar que tem um receituário e que ele vai seguir esse receituário. Exemplo: eu vou fazer o ajuste mais austero do mundo e vai dar certo. O que vai acontecer? Meu crescimento cai e, então, aumenta meu déficit. Porque o denominador despenca, o PIB despenca e sobe a relação dívida pública/PIB. É isso eles estão vivendo aqui na Europa. E nós sabemos o que é porque nós já vivemos isso. A hora em que começa a crescer o seu Produto Interno Bruto, seu ajuste vai ficar mais fácil.

Valor: E por que a economia brasileira demora a reagir e crescer?
Dilma: Porque nós temos que fazer um esforço na área da competitividade. Isso não é uma figura de retórica, é real. Nós temos que diminuir o custo de capital, nós estamos tentando fazer isso, temos que aumentar as fontes de financiamento de investimento de longo prazo, não pode ser só o BNDES. Nós temos que ter um capital mais barato, vindo do mercado de capitais. O Brasil vai ter que sofisticar, temos que ter capitais, temos que ter produtos financeiros que viabilizem o investimento.

Valor: A questão macroeconômica é menos relevante hoje?
Dilma: Não, e aquela história de que a gente acabou os três pilares é absolutamente equivocada.

Valor: Mas o câmbio não está administrado?
Dilma: Não acho.

Valor: Não está nos R$ 2 a R$ 2,04 o dólar?
Dilma: Não acho, pela situação internacional ele está até... Ele esta mantendo um patamar, às vezes ele sobe, aí o pessoal fala "o Tombini vai fazer swap". Aí ele cai e o pessoal do mercado fala "vai cair"...

Valor: A senhora diria que o tripé superávit fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante também pode ser administrado com pragmatismo?
Dilma: Não existe política que não seja pragmática. Me diz qual? Você vai ser ortodoxo e vai ver onde vai dar com os burros n'água. Você já viu momentos na história o povo ser muito ortodoxo? Nós estamos vendo agora, aqui. Já nos EUA eles nunca são. O Fundo Monetário Internacional na nossa época [nos anos 80 e 90] era de uma rigidez absoluta. Aí resolveu agora fazer uma avaliação de indicadores dos efeitos dos ajustes e percebeu o efeito negativo que têm sobre o crescimento. O problema daqui [dos países da zona do euro] é que tem problema político também. O euro não é uma obra completa. Você começa pela moeda, moeda exige Estado e exige um emprestador de última instância e exige emissão de título. Então, enquanto não teve crise eles seguraram. Agora tem que negociar e como é que você negocia com 17 Parlamentos? Tem um problema político. É a chamada "armadilha do consenso". E eu acho que tem uma especulação muito forte contra o euro.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...