segunda-feira, 17 de maio de 2010

DEMOGRAFIA - A AMEAÇA INVISÍVEL!

Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, uma entrevista com o economista Fabio Giambiagi, um incansável defensor de mudanças nas regras da Previdência Social no Brasil. Seu mais novo livro, "Demografia - A Ameaça Invisível", escrito em parceria com Paulo Tafner, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), joga luz sobre o envelhecimento da população no Brasil e os desafios que isso impõe à sustentabilidade das contas públicas. A obra defende, entre outras coisas, que benefícios assistenciais sejam diferenciados dos previdenciários e que o salário mínimo deixe de indexar os pagamentos da Previdência -mudanças impopulares e que requerem alterações constitucionais. Giambiagi, ex-professor da UFRJ e da PUC-Rio, ex-membro do Ipea e hoje chefe do Departamento de Risco de Mercado do BNDES, é autor de mais de dez livros sobre economia.

FOLHA - "Demografia - A Ameaça Invisível" pressupõe a existência de uma bomba demográfica que vai estourar, deixando a conta para as futuras gerações. Qual o risco?

FÁBIO GIAMBIAGI - A essência do problema é essa progressiva mudança demográfica. No ano 2000, o número de pessoas com 60 anos ou mais era de 14 milhões de pessoas, enquanto o número de jovens, entre zero e 14 anos, era de 51 milhões. O perfil apontado pelo IBGE para 2050 é que a população jovem irá diminuir em termos absolutos de 51 para 28 milhões de pessoas. Já a população idosa de 60 anos ou mais vai aumentar de 14 para 64 milhões. Em 2050 teremos mais de três vezes o número de idosos, em termos absolutos, por população economicamente ativa do que hoje. Esse é o desafio. E é uma característica universal. O envelhecimento demográfico é algo que se repete em todos os países. No caso brasileiro ele é, de certa forma, mais acentuado, pois os outros países já estão no meio desse processo, ao passo que, no Brasil, ele está apenas se iniciando.

FOLHA - Mesmo assim, parece não haver um reconhecimento do problema, que exigiria reforma no sistema previdenciário. Qual a razão dessa inação?

GIAMBIAGI - Há um paralelo natural que se pode estabelecer entre a questão demográfica e a questão ambiental. Em ambos os casos, lidamos com um fenômeno de longo prazo, em que o país e o mundo são praticamente os mesmos de um dia para o outro. Mas são dramaticamente diferentes quando se coloca a questão em uma perspectiva de 50 anos. O segundo paralelo é que os custos de se dar uma guinada no leme, de mudar o rumo do país, são de curto prazo e muito evidentes. Ao passo que os benefícios são de longo prazo e, em geral, pouco palpáveis. Mas o custo da inação hoje vai aparecer lá na frente. Há uma frase do Al Gore (ex-vice-presidente dos EUA) no documentário "Uma Verdade Inconveniente (sobre o aquecimento global)": "Um dia nossos filhos olharão para nós e dirão: "Mas onde é que vocês estavam quando isso estava acontecendo? Será que ninguém percebeu o que estava ocorrendo bem na frente de todos?" Isso vale para a questão ambiental e para a demográfica.

FOLHA - Os grandes números de um país, e isso também vale para a Previdência, são calculados como proporção de seu PIB (Produto Interno Bruto). Se o Brasil crescer mais rapidamente daqui em diante, esses problemas não estarão atenuados? GIAMBIAGI - O crescimento atenua tudo, obviamente. Se o país crescer 2,5% como crescemos durante duas décadas no passado, vai ser muito difícil equacionar o problema demográfico. Por outro lado, se o crescimento for de 5% ao ano, será, evidentemente, mais fácil. Mas não há garantias de que o país estará em condições de crescer 5% ao ano nos próximos 30 anos. A resposta a isso vamos saber daqui a 30 anos. A questão é que, com uma reforma na Previdência, haveria maiores condições de termos mais espaço no gasto público para um aumento do investimento estatal, que é um ingrediente fundamental para alavancar o crescimento futuro. Mas, se a população idosa crescer 4% ao ano, que é a estimativa para os próximos 15, 20 anos, e a economia crescer também 4% ao ano, ficam elas por elas. E o tamanho da conta vai ser similar ao atual. Se a economia crescer menos, como o número de idosos vai crescer em torno de 4%, a conta vai aumentar. Hoje, na verdade, há toda uma tendência de que a economia cresça mais de 4%. Mas estamos longe de ter segurança de que esse cenário será mantido por 20 ou 30 anos, especialmente em um contexto em que vamos mudar a composição da população economicamente ativa.

FOLHA - O sr. já escreveu outras obras sobre esse tema e publica textos em vários jornais. Mas parece que ninguém lhe dá ouvidos...

GIAMBIAGI - Já tenho 18 anos, com alguma intermitência, de participação nos debates ligados ao tema. Nos debates por aí, as pessoas entendem a natureza da questão. Podem não gostar do assunto, mas, em geral, concluem que há uma questão a ser enfrentada.

O maior elogio que eu já recebi foi, curiosamente, de um sindicalista da CUT. Depois de apresentar essas ideias, no Fórum da Previdência em 2007, um representante da CUT comentou, a respeito do que deveria ser feito para equacionar o problema: "Estou impressionado com a crueldade do professor Giambiagi. Mas o que me deixou mais preocupado é que ele foi convincente". Pensei: "Consegui o que queria".

domingo, 16 de maio de 2010

HOMEM DO ANO 2010!

Festa no The Waldorf Astoria próxima quinta-feira, 20/05/10, para homenagear HENRIQUE MEIRELLES, presidente do BACEN, com o título de “Personalidade do Ano de 2010”. O evento é organizado anualmente pela Brazilian-American Chamber of Commerce (Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos) e, nestes tempos de crise, o homenageado fez por merecer.
PARABÉNS Meirelles!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

SCHWARTSMAN E A GRÉCIA.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN - http://maovisivel.blogspot.com/, também hoje na FOLHA DE S. PAULO, com o artigo Timeo Danaos et dona ferentes, frase da "Eneida", de Virgílio, que significa "Eu temo os gregos, mesmo que tragam presentes", escreve sobre o assunto que vem dominando a economia mundial:

É impossível não falar da atual crise grega (europeia), seja para discutir suas causas, seja para, como pretendo hoje, pensar nas suas possíveis consequências, em particular para a economia brasileira. Será que, como em 2008, a crise externa pode descarrilar a retomada do crescimento vista nos últimos cinco trimestres? Para responder a essa pergunta, temos antes que saber quais são seus potenciais canais de transmissão para o Brasil.

O primeiro é o fenômeno conhecido como "fuga para a qualidade". Em que pese o epicentro da crise de crédito de 2008 ter sido a economia dos EUA, tanto naquela época como agora observamos que investidores, num cenário de turbulência, preferem manter seus recursos sob a forma de ativos americanos. Não se trata apenas da percepção que eles embutem um baixo risco de não pagamento; também o mercado desses papéis é muito líquido, o que permite a investidores montar e desmontar rapidamente suas posições, sem os custos proibitivos que costumam aparecer em tempos de crise em mercados menos profundos.

Não por acaso, portanto, na semana passada, todas as principais moedas flutuantes (exceto o iene) se desvalorizaram ante o dólar, assim como o real. Isto é, uma das formas de transmissão da crise é o fortalecimento global do dólar, que implica, é claro, o enfraquecimento do real.

Além desse efeito, é possível mapear outro, relacionado ao primeiro, mas que atua de forma indireta. Como expliquei no artigo de 31 de março ("Síndrome da China"), há uma clara relação negativa entre o valor do dólar e o preço das commodities: o fortalecimento do primeiro costuma ter repercussões negativas para as últimas. Por outro lado, o real tende a andar em linha com as commodities, de modo que o dólar mais forte traz uma razão adicional para a desvalorização do real (bem como das demais moedas-commodities).

Resta saber se o presumível aprofundamento da crise teria, como em 2008, efeitos nefastos sobre a atividade econômica, provavelmente por uma depressão adicional do crédito.

É uma possibilidade, mas hoje acredito ser muito difícil a repetição, mesmo em escala menor, dos eventos do último trimestre daquele ano.

Estima-se que as perdas associadas à crise de crédito tenham atingido cerca de US$ 1,8 trilhão e possam chegar, ao final do processo, a US$ 2,5 trilhões. Ao mesmo tempo, havia forte incerteza sobre a distribuição das perdas naquele momento, pois tanto os títulos lastreados em hipotecas como os derivativos a eles associados eram transacionados em mercados de balcão, o que manteve todas as instituições financeiras na defensiva por não saberem exatamente a saúde das suas contrapartes, levando à paralisia nos fluxos interbancários e no crédito em geral e, portanto, ao colapso do comércio mundial e da atividade econômica.

Em contraste, pelo menos no caso da Grécia, falamos de valores consideravelmente menores e de um conhecimento bem mais claro da exposição de cada instituição, vale dizer, sem a mesma incerteza quanto às contrapartes. Daí meu ceticismo quanto à reprise do episódio Lehman Brothers e da parada súbita de fluxos financeiros que se seguiu.

Por fim, ao contrário daquele período, não parece haver uma exposição das empresas brasileiras aos derivativos cambiais que exacerbaram a desvalorização da moeda e, também por conta da incerteza, travaram a concessão de crédito no país. Assim, o impacto mais provável da crise parece ser no sentido de enfraquecimento do real, mas sem a queda abrupta de atividade sofrida há um ano e meio.

DELFIM NETTO E O FMI!

Conforme ANTONIO DELFIM NETTO, na FOLHA DE S. PAULO de hoje, “O FMI melhorou.” Será que ele tem razão?

É fato conhecido que, no Brasil, o mais importante para a aceitação de uma "teoria" é que ela seja exposta em inglês.

Sua conformação com nossa realidade e nossa história é, em geral, um acidente de menor importância. Que tais construções são mais "modismo" do que "ciência" nunca foi tão visível como no comportamento recente dos economistas do FMI. Estes costumavam impor sua ideologia como "ciência" a todos os países que lhe pediam ajuda. A geografia, a história e a organização política de cada um deles não lhes interessavam.

Eram todos elementos pertencentes a um mesmo conjunto abstrato de países supostamente controlados por um mesmo modelo de equilíbrio, que respondia a uma ciência econômica universal. Esta, em lugar de ser parte de um todo social, era o próprio todo.

Nem mesmo a distinção entre países "desenvolvidos" e "em desenvolvimento" fazia sentido. Numa espécie de ataque de marxismo tardio, para o FMI todos estavam condenados a percorrer o mesmo caminho. Ele era, apenas, o guia que indicava o caminho "ótimo"!

Foi preciso uma crise internacional, que ainda não terminou, mas já dizimou a economia de muitos países e produziu um desemprego e um empobrecimento fantásticos, para que o "modismo" vendido como "ciência" mostrasse a sua verdadeira cara.

Uma coisa é certa: o FMI não produziu a crise, mas suas "crenças" foram importantes fatores coadjuvantes na insensatez que levou os Estados a reduzirem a regulação do sistema financeiro. Regulação criada nos anos 30 do século passado para coibir a repetição da patifaria que produziu a crise de 1929.

Os fatos mostraram que a crença no "mercado" financeiro perfeito, que ao autorregular-se obedecia ao imperativo categórico kantiano, é uma farsa. Os agentes de tal mercado, quando não duramente regulados pelo Estado, têm uma irresistível propensão à velhacaria. Sempre voltam ao local do crime...

Para mostrar a mudança de atitude do FMI e a recuperação de certo "espírito científico" temos: 1º) a dúvida sistemática; 2º) o cuidado e a humildade com as afirmações apodícticas e, acima de tudo, 3º) a busca incessante de refutar empiricamente suas crenças.

E basta esta frase: "Embora existam algumas evidências sugerindo que uma continuada sobrevalorização da taxa de câmbio prejudique o crescimento e que uma desvalorização o estimule, elas são ainda insuficientes" ("Regional Economic Outlook - Western Hemisphere", maio de 2010, pág. 52). Bingo! Essa é a dúvida que temos de eliminar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O PROFETA NOURIEL ROUBINI!

Acompanhar com atenção o que fala o Professor NOURIEL ROUBINI é sempre conhecer o que pensa um dos primeiros a alertar para a crise de 2008. Abaixo trecho de sua entrevista a DER SPIEGEL.

Spiegel: Você ganhou o apelido “Doutor Fatalidade”, é claro, porque estava prevendo a crise financeira em um momento em que muitos outros economistas estavam cheios de otimismo. Você ainda se encontra pessimista quanto ao futuro da economia global?

Roubini: Antes de mais nada, eu não sou um pessimista profissional. Eu nem sempre sou negativo em relação ao futuro. O que desejo é avaliar a situação corretamente. Mas quando eu olho para o quadro econômico mundial neste momento, ainda vejo muitas nuvens negras no horizonte.

Spiegel: Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a atividade econômica está aumentando novamente, e há previsões de crescimento de 4% para este ano. Isso não seria um motivo para otimismo?

Roubini: Eu sou um indivíduo realista. Eu só consigo enxergar alguns poucos pontos claros em alguns países como China, Índia e Brasil. Mas, e quanto ao resto? A recuperação econômica dos Estados Unidos tem sido anêmica, o Japão parece estar em coma e a Europa está em apuros. O continente europeu é vulnerável a uma recaída recessiva. Mesmo antes da crise grega, o panorama era bem moderado, mas agora o crescimento econômico na zona do euro é de quase zero.

Spiegel: O que você pensa a respeito dos perigos representados pela Grécia?

Roubini: Atualmente os mercados estão bastante preocupados com a Grécia, mas isso é apenas a ponta do iceberg. Cada vez mais, os vigilantes dos mercados de títulos têm despertado para países como Reino Unido e Irlanda. Até mesmo os Estados Unidos e o Japão enfrentam problemas devido aos seus enormes déficits orçamentários. Talvez não neste ano, mas mais cedo ou mais tarde. Nos Estados Unidos, Estados como Califórnia, Nevada, Arizona, Nova York e Flórida têm imensos problemas fiscais. Os déficits orçamentários cada vez maiores e as enormes dívidas governamentais são de fato o que mais me preocupa.

THERE IS NO SUCH THING AS A FREE LUNCH!

Sou leitor semanal da coluna do JOÃO PEREIRA COUTINHO na FOLHA DE S. PAULO e a de hoje tem aquele título favorito de economista e do qual gosto muito de repetir: “NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS”. Além do que, estive em PORTUGAL em fevereiro e a leitura do texto foi uma ótima recordação das férias e da realidade que presenciei.

De qualquer maneira não podemos deixar de analisar com preocupação o que está acontecendo com países como GRÉCIA, PORTUGAL, ESPANHA, IRLANDA e ITÁLIA e evitar que aqui no BRASIL, para piorar, num ano eleitoral, possamos chegar à essa triste situação.

Viver em Portugal é habitar um conto de Charles Dickens: olhamos para o presente e percebemos nele o Fantasma do Natal Futuro.

O presente é tranquilo: a crise que varre a Europa não afetou ainda os portugueses, que continuam a consumir como se não houvesse amanhã.

Mas existe amanhã e o Fantasma do Natal Futuro fala grego e vive em Atenas. O filme não é agradável: protestos nas ruas, três mortos até ao momento. Um pacote de ajuda internacional (110 bilhões de euros) que, segundo os especialistas, não evitará a falência e a saída do euro. Os gregos são nossa imagem futura.

Aliás, não apenas a nossa. Existem apostas sobre as próximas vítimas. Portugal lidera a corrida. A Espanha vem a seguir. Depois a Irlanda. Depois a Itália. Eis os PIIGS, para usar o acrônimo suíno com que os países do Norte olham para o clube. Estamos todos no mesmo chiqueiro. Ou não? Verdade: o deficit português está cinco pontos abaixo do grego, por exemplo. Mas, em contrapartida, o total das nossas dívidas é maior, o que dificulta um crescimento econômico no médio prazo.

E, talvez mais importante, os nossos problemas econômicos radicam na mesma falência moral. Palavras pesadas? Talvez. Mas quando falamos de "moralidade", falamos apenas da justeza de certos comportamentos humanos. E o comportamento dos portugueses, juntamente com os dos seus irmãos porquinhos, é a explicação principal para o atual desarranjo. Se dúvidas houvesse, bastaria assistir a um noticiário luso. Eu assisto, todos os dias. E todos os dias pasmo com a clarividência dos meus compatriotas, que não toleram qualquer medida de austeridade para tapar o abismo das finanças públicas.

Na semana passada, uma feroz trabalhadora portuguesa declarava a um jornalista que não suportaria calada qualquer mexida no seu bolso. "A casa, o carro, as férias - se me cortam o salário, como é que eu posso pagar tudo isso?" O jornalista ouviu. Não replicou o óbvio: e por que motivo a senhora tem tudo isso se não está segura de que pode pagar a conta?

Entendo o jornalista. Provavelmente, ele próprio estaria a pensar na sua casa, no seu carro, nas suas férias. No planeta Terra, comprar uma casa ou um carro seria o resultado do trabalho, da poupança, eventualmente do investimento. E esse processo, que constitui a base de qualquer economia sustentável, exige certas virtudes antiquadas, como o esforço, a prudência ou a frugalidade. Não existe almoço grátis.

Mas os portugueses e restantes parceiros viveram em Marte. E acreditaram que seria possível não produzir como os alemães, mas consumir como eles. Milagre? Não. Crédito fácil. Quem precisa trabalhar, poupar e investir quando existe dinheiro à disposição para pagar casas, carros e férias?

Estou a ser injusto. A cultura da irresponsabilidade não caiu do céu. Como escrevia recentemente Theodore Dalrymple no "City Journal", o comportamento das massas foi promovido pela corrupção democrática dos seus líderes. Foi promovido por governos sucessivos que, alçados ao poder, alimentavam a fantasia do bolso infinito, uma forma indireta de subornarem os seus eleitorados.

A Grécia, nesse capítulo, foi provavelmente imbatível: um país que concedia "subsídios de Páscoa" aos seus trabalhadores não merece apenas falir. Também merece um aplauso pela criatividade. É por isso que os gregos não foram apenas fraudulentos na forma como manipularam os seus indicadores econômicos para enganar Bruxelas. A fraude grega é a fraude portuguesa, ou espanhola, ou irlandesa, ou italiana. É a fraude de professar que é possível viver continuamente acima das posses de cada um.

Azar. Com a crise financeira de 2008, e a imperiosidade necessidade de salvar as economias do abismo, as dívidas dispararam para a estratosfera e a Europa olhou-se no espelho pela primeira vez. Sobretudo a Europa periférica, que vivia de empréstimos para pagar empréstimos, um perfeito esquema Ponzi que aterrorizou os mercados.

E agora? Antes do euro, a desvalorização da moeda era o caminho lógico para aumentar a competitividade das economias. Por outras palavras: os países empobreciam voluntariamente, mas eles continuavam a flutuar. Com o euro, a desvalorização está interdita aos países relapsos. Mas a fatura será igual: empobrecer. E, quem sabe, um dia contar aos netos que a festa foi boa enquanto durou.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A CRISE DO EURO.

Nestes dias de trabalhos extras e com o prazo no limite, não posso deixar órfãos aos meus quase dois atentos e fiéis leitores, principalmente devido à grave situação pela qual passa o EURO. Diante disso, deixo-os na companhia do colega LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, que na FOLHA DE S. PAULO escreve sobre “A NATUREZA DA CRISE NA EUROPA”.

O quadro financeiro europeu continua muito grave. A Alemanha, afinal, decidiu dar apoio ao pacote financeiro grego, de forma que a dívida do setor público da Grécia está equacionada. A imprensa tem dado amplo noticiário sobre o assunto, mas afinal se limita a informar sobre o deficit público e a dívida pública do Estado grego, em vez de informar sobre o problema fundamental que não é do setor público, e sim do setor privado: é o deficit em conta-corrente e a dívida externa dos países. O problema fiscal é grave porque o deficit de 2009 somou-se a elevados níveis de dívida pública, mas o desequilíbrio não está apenas nos governos; está nos países como um todo e, portanto, em seu deficit em conta-corrente e em sua dívida externa, que englobam o setor público e o setor privado.

Se o problema fosse apenas do setor público, o socorro financeiro e uma política dura de ajuste fiscal resolveriam a questão. Sendo do país, necessita da depreciação cambial que não podem realizar.

A União Europeia controla os deficit públicos, não controla os deficit em conta-corrente. Os jornais não publicam dados sobre esse deficit porque não os recebem dos economistas. Esses não os informam porque a teoria econômica ortodoxa pressupõe que o setor privado é equilibrado pelo mercado: é o chamado "princípio de Lawson", associado ao ministro das Finanças de Margaret Thatcher, Nigel Lawson.

A Crise Global de 2008 mostrou que essa tese é absurda no plano nacional. Agora o fenômeno se repete no plano internacional. Em 2009, enquanto a Alemanha, que reduziu salários nos últimos dez anos, obteve superavit em conta-corrente de 4,8% do PIB, Grécia, Portugal, Espanha e Itália realizaram deficit em conta-corrente de 10,2%, 10,5%, 5,8% e 3,9% do PIB, respectivamente. Esses deficit financiaram investimentos de médio prazo, mas as empresas e o Estado se endividaram no mercado financeiro de curto prazo.

Devedores e credores sabiam que os débitos não poderiam ser pagos de um dia para o outro - que teriam que ser rolados -, mas, dado o pressuposto dos mercados privados sempre equilibrados, foram adiante no processo. Até que, neste ano, repentinamente, os credores começaram a elevar os prêmios de risco e a suspender a rolagem da dívida.

O problema se agrava porque decidiram pelo "sudden stop" em um quadro no qual os países não têm o mecanismo de ajuste clássico para esses momentos: a desvalorização cambial, que reduziria os salários e equilibraria a conta-corrente. Os Estados de cada país podem ajustar suas finanças, mas não há solução para o desajuste privado de países que não têm moeda própria para desvalorizar.

Como na Crise Global, existe a solução financeira via Estado. O governo da União Europeia pode garantir a dívida externa daqueles quatro países por meio da criação, às pressas, de um FMI europeu, por meio do próprio FMI e via BC Europeu.

Neste momento, os ortodoxos dirão que o BCE não pode entrar no jogo porque estaria criando dinheiro ao socorrer os países, mas foi exatamente isso o que fez o Federal Reserve na Crise Global, sem causar inflação. Agora o BCE precisará criar dinheiro para salvar os países, ou melhor, novamente os bancos, porque foram eles que emprestaram.

Mas uma situação como essa não pode continuar para sempre. A política de crescimento com poupança externa já vitimou muitos países. É preciso repensar radicalmente o problema das finanças internacionais e dos deficit em conta-corrente.

SEGUNDO RICUPERO CÂMBIO MATA!

Considerando os difíceis momentos pela qual passa o EURO, vamos ler na FOLHA DE S.PAULO a visão e a preocupação do RUBENS RICUPERO no artigo “CÂMBIO MATA”.

O câmbio já está estrangulando o setor de maior tecnologia e valor agregado de nossa indústria (eletrônica, farmacêutica, química, automobilística e maquinaria). Apenas nos três primeiros meses do ano esse setor teve o chocante deficit de US$ 13,6 bilhões, maior do que em todo o ano de 2006 e superior em 42% ao do mesmo período do ano passado.

Os dados do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) servem de necrológio à indústria brasileira, mostrando que o câmbio continua sendo tão mortal como no tempo da advertência de Mário Henrique Simonsen. A tendência está colada à apreciação do real e ao declínio do saldo comercial em geral, que em abril foi o menor em oito anos, tendo caído nada menos que 65% em comparação ao de abril de 2009.

Aliás, parecem estar contados os dias de saldo comercial, uma vez que as importações estão crescendo em ritmo quase duas vezes maior do que as exportações (65% ante 23%).

É bom apertar os cintos para o mergulho na montanha-russa, já que o fim do saldo comercial elimina o único fator que compensava em parte o aumento vertiginoso de todos os demais componentes do deficit em conta-corrente.

Essa é a cara oculta da atual euforia com o crescimento puxado somente pelo consumo do governo e das pessoas, com baixa poupança e pouco investimento. Cada vez se depende mais de recursos de fora para cobrir o buraco, e a desindustrialização precoce entra no segundo estágio de agravamento. No primeiro, as importações substituem os componentes locais, mas o produto continua a ser montado no Brasil; no segundo, importa-se o produto pronto e as indústrias se tornam meras distribuidoras e prestadoras de assistência.

A situação tende a piorar com as elevações de juro que o Banco Central terá de realizar para segurar o superaquecimento do consumo. As previsões de que no fim do ano o dólar se aproxime de R$ 1,60 ou menos vão sacrificar ainda mais os manufaturados. Até agora a valorização dos primários pela demanda da China tem atenuado a deterioração do comércio exterior. É um erro, porém, imaginar que as commodities aguentam qualquer valorização da moeda.

Tenho idade bastante para me lembrar do tempo em que quase todos os produtos primários brasileiros eram gravosos, isto é, seu custo de produção superava, devido ao câmbio, o preço internacional.

Quando as cotações também caem, como sucede no momento com muitos produtos agrícolas, a renda do campo sofre duplo golpe: preço e câmbio.

De onde poderá vir o socorro às contas externas se o panorama negativo se acentuar, como vem acontecendo há anos? Do petróleo?

É o que já ocorre, como mostra Raquel Landim em perceptivo comentário em "O Estado de S. Paulo" (4/5/10).

Nele se aprende que o petróleo passou a ser o principal item das exportações, quase 10% do total! Sem ele, as vendas externas cresceram apenas 16%, agravando o descompasso com o aumento das importações.

Está aí um bom tema para o debate eleitoral. Em vez da discussão pueril sobre qual governo foi melhor, por que não debater como evitar que o Brasil vire uma grande Venezuela, onde 96% das exportações vêm das commodities? Sem mexer no câmbio, como melhorar a competitividade? Com esses juros? Com a infraestrutura em pedaços? Com carga tributária o dobro da da China? Com a redução da semana de trabalho?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A PREOCUPAÇÃO COM O EURO.

Aflito com a situação do euro, nada como recordar de um antigo provérbio espanhol: Quando vires as barbas do vizinho ficar sem pêlos, põe as tuas de molho.

Por isso, lemos com angústia no blog da competente MIRIAM LEITÃO - http://oglobo.globo.com/economia/miriam/, uma preocupante entrevista com o professor de Economia da Universidade Complutense de Madri José Herce. Ele diz que, neste momento, é impensável o pedido de ajuda financeira da Espanha ao FMI e que muitos degraus a separam desse cenário. Para ele, o euro vai continuar sofrendo com a crise, que começou na Grécia, mas desencadeou um problema sistêmico.

A saída de um país da Zona do Euro seria uma má notícia, mas o especialista acha que isso está longe de acontecer. O que está cada vez mais perto é a possibilidade de um ajuste fiscal forte para conter o déficit espanhol que está em 11,2%. Em nome da retomada econômica, ele diz que os espanhóis devem encarar o aperto, aceitando a queda no nível de bem-estar. O pior problema continua relacionado ao mercado de trabalho. "A perspectiva de viver alguns anos convivendo com uma taxa elevada de desemprego é muito perturbadora", diz Herce, também sócio da Analistas Financeiros Internacionais (AFI).

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Qual é a sua avaliação sobre a crise na Europa?
O caso da Grécia desencadeou um problema sistêmico no qual o euro está sendo prejudicado. Ao mesmo tempo, a dívida alemã está servindo de refúgio à fuga dos papéis dos países em pior situação. Não é bom para a Zona do Euro nem para o euro que essa percepção sistêmica dos mercados se prolongue.

Qual o caminho para sair dessa situação?
A essa altura, tendo-se constatado a lentidão e as dúvidas dos responsáveis europeus na resposta à Grécia, as intervenções só podem ser intensivas e contundentes. Não se descarta que o BCE (Banco Central Europeu) acabe comprando dívida grega.

A ajuda financeira à Grécia é suficiente para enfrentar os problemas?
Há um mês, não teria sido necessária uma ajuda tão massiva. Agora, pode ser que os 110 bilhões de euros sejam insuficientes e que sejam necessárias intervenções complementares mais decisivas.

A ajuda à Grécia demorou para sair?
Claro, por isso o custo do resgate à Grécia disparou. Não é tanto por parte do mercado, mas uma defesa por parte de quem quer se livrar de títulos nos quais não confiam.

A sobrevivência do euro está em jogo?
Se todo o dano que o euro tivesse que sofrer se resumisse à situação atual, poderíamos nos dar por satisfeitos. É preciso fazer mais esforços para evitar que os mercados prescindam do euro como moeda de reserva.

O que significaria a quebra de uma país da zona do euro?
Um só país do euro que o abandonasse seria uma má notícia. Creio que estamos longe disso, mas também estou convencido de que o euro seguirá sofrendo algo mais.

Espanha segue o caminho da Grécia? É possível que o país peça ajuda financeira ao FMI?
Hoje, é impensável esse cenário, e a escada de descida até ele tem muitos degraus. Espero que as ações das autoridades espanholas e de todos os agentes evitem que sigamos descendo esses degraus.Para reduzir o déficit, Espanha terá que fazer ajustes.

Na Grécia, a população foi às ruas para protestar. Como seria aí?
Uma parte significativa da população protestará se se planeja a redução dos gastos sociais, dos salários e a alta dos impostos. Mas acho que logo não restará outra alternativa no que se refere a medidas imediatas. Mas acho também que muitos espanhóis entenderão. Hoje, fiz um teste com meus alunos no curso de Macroeconomia e 70% aceitariam essas medidas.

Diante dessa situação de crise, o que é mais difícil para a Espanha?
Os ajustes terão que ser mais convincentes, e a população, o governo e os demais agentes sociais e políticos deverão encontrar um consenso para enfrentá-los, minimizando as consequências, mas aceitando uma redução nas expectativas de bem-estar até que a economia seja mais competitiva e se retome o crescimento econômico. A perspectiva de viver alguns anos convivendo com uma taxa elevada de desemprego é muito perturbadora.

O desemprego na Espanha já atinge mais de 4,5 milhões de pessoas. O que pode ser feito?
Sem dúvida, esse é o pior problema, o resumo das nossas falhas produtivas, competitivas e, sobretudo, do nosso sistema laboral. É preciso reduzir custos trabalhistas para que o emprego aumente a curto prazo e realizar uma grande reforma do mercado de trabalho o quanto antes para que surta efeito a médio e longo prazo.

150ª ATA DO COPOM.

Da 150ª Reunião do COPOM, realizada em 27 e 28/04/2010, destacamos:
18. O Copom entende que os indicadores divulgados desde a última reunião reforçam a percepção de existência de pressões sobre o mercado de fatores, o que aumenta a probabilidade de que desenvolvimentos inflacionários inicialmente localizados venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação. Nesse contexto, aumenta também o risco de repasse de pressões de alta de custos para os preços no atacado e destes para os preços ao consumidor. O Comitê pondera que a materialização desses repasses, bem como a generalização de pressões inicialmente localizadas sobre preços ao consumidor, segue dependendo de forma crítica das expectativas dos agentes econômicos para a inflação e do grau de ociosidade da economia, dentre outros fatores. A propósito, essas e outras variáveis fazem parte do conjunto de informação que é levado em conta no processo de geração das projeções de inflação do Banco Central, que constituem elemento central no julgamento que o Comitê faz sobre o cenário inflacionário prospectivo. Cabe registrar que o comportamento da demanda doméstica tem exercido certa pressão sobre os preços dos itens não comercializáveis, como os serviços, o que, a julgar pela perspectiva de evolução dos principais fatores de sustentação da demanda agregada, tende a se repetir neste e nos próximos trimestres. De qualquer modo, o Comitê reafirma o compromisso de que continuará conduzindo suas ações de forma a assegurar que os ganhos obtidos no combate à inflação em anos recentes sejam permanentes.

25. Nesse contexto, dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias ao cenário prospectivo da economia, para assegurar a convergência da inflação à trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 9,50% a.a., sem viés.

A THE ECONOMIST DESTA SEMANA!

Realmente, escolher o que será a capa de uma revista não deve ser tarefa fácil. No entanto, o pessoal da The Economist, consegue superar-se à cada edição com imagens que mostram o fato mais importante da semana.

A GRÉCIA PODE SER AQUI?

Direto de Fortaleza, do DIÁRIO DO NORDESTE, o humor refinado do genial SINFRÔNIO.

domingo, 2 de maio de 2010

ALEXANDRE SCHWARTSMAN E A IMPORTAÇÃO DO B.

Como leitor do ALEXANDRE SCHWARTSMAN, tanto no seu blog http://maovisivel.blogspot.com/, quando na sua coluna na FOLHA DE S. PAULO, eu já tinha lido o texto abaixo, publicado na FOLHA em 28/04/10.
Porém, como hoje recebi e-mail do nosso grupo de economia política da UnB - via Professor Carlos Pio com o texto, retransmito abaixo para a leitura dos meus ainda (espero) quase dois leitores. ALEXANDRE expõe o assunto de maneira didática um assunto complexo e polêmico, o que facilita o entendimento do paradoxo de que as IMPORTAÇÕES crescem MUITO porque o Brasil importa POUCO.

Importação do B

Em 2010 (até a semana passada) as importações brasileiras aumentaram quase 40% relativamente ao mesmo período de 2009. Na verdade, sempre que a economia brasileira passa por um período de expansão acelerada as importações aumentam por um múltiplo da taxa de crescimento, motivando um dos 17 leitores do meu blog (que espero não serem os mesmos 17 leitores desta Folha) a me perguntar a razão deste comportamento. Refletiria isto uma incapacidade congênita do país, associada às dificuldades da estrutura produtiva de responder ao crescimento da economia? Acredito, porém, que a resposta seja bem mais simples. Pode parecer paradoxal, mas as importações crescem muito porque o Brasil importa pouco.

Caso reste algum leitor depois desta afirmação eu explico.

Imagine duas economias (B e C) idênticas em tudo, exceto seu volume de comércio internacional. Em ambas o PIB vale 100 unidades e a demanda doméstica equivale às mesmas 100 unidades. Só que na economia B as exportações e importações são de 10 unidades, enquanto na economia C atingem, cada uma, 50 unidades.
Suponha agora que a demanda doméstica em ambos os países aumente 5%, de 100 para 105 (por enquanto manteremos o PIB constante). Para equilibrar demanda e oferta, B precisa importar 15 (um aumento de 50%!), enquanto C importará 55, ou seja, apenas 10% a mais. Embora nos dois casos a resposta absoluta das importações à demanda doméstica seja a mesma, o crescimento percentual das importações na economia mais fechada ao comércio internacional é muito maior.
Uma conta simples mostraria que a elasticidade da importação (a reação percentual da importação à demanda doméstica) no país B seria 10 (50% de aumento das importações para 5% de expansão da demanda), enquanto no país C seria apenas 2 (10% contra os mesmos 5%). Assim, um economista pouco atento poderia até concluir (erradamente, como se vê) que a economia B sofreria de sérias “deficiências estruturais” e recomendar um tanto a mais de proteção à indústria local para que possa resistir à “invasão das importações”.
Parece que o argumento depende crucialmente da suposição de um PIB constante, mas é fácil ver que não se trata disso. Imagine, por exemplo, que nos dois países apenas 30% do crescimento da demanda seja atendido por importações (ou seja, 1,5 unidades), enquanto os 70% restantes vêm da produção local. Sob esta suposição, o PIB nos dois países passaria a 103,5, enquanto as importações no país B atingiriam 11,5 (crescimento de 15%) e no país C 51,5 (3% a mais). As respectivas elasticidades seriam 3 (15% de importações contra 5% de demanda) e 0,6 (3% contra 5%), ou seja, ainda seria 5 vezes maior em B do que em C, provavelmente o bastante para “justificar” os pedidos de proteção.
No entanto, acredito que o exemplo simples explorado nos parágrafos seja suficiente para que o escasso leitor se convença do cerne do argumento. Mesmo que uma fração relativamente reduzida do aumento da demanda doméstica seja destinada às importações, no caso de uma economia pouco aberta ao comércio internacional isto se traduzirá num enorme crescimento proporcional das importações, necessário para cobrir a diferença entre a demanda interna e a produção local.
Vale dizer, quanto mais fechada for uma economia, maior é a necessidade de apreciação cambial quando a demanda doméstica cresce a taxas muito superiores às do produto. Com a demanda crescendo a 10% ao ano e meros 11% do PIB em importações, me parece que o comportamento da taxa de câmbio no Brasil faz bastante sentido.

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