Aflito com a situação do euro, nada como recordar de um antigo provérbio espanhol: Quando vires as barbas do vizinho ficar sem pêlos, põe as tuas de molho.
Por isso, lemos com angústia no blog da competente MIRIAM LEITÃO - http://oglobo.globo.com/economia/miriam/, uma preocupante entrevista com o professor de Economia da Universidade Complutense de Madri José Herce. Ele diz que, neste momento, é impensável o pedido de ajuda financeira da Espanha ao FMI e que muitos degraus a separam desse cenário. Para ele, o euro vai continuar sofrendo com a crise, que começou na Grécia, mas desencadeou um problema sistêmico.
A saída de um país da Zona do Euro seria uma má notícia, mas o especialista acha que isso está longe de acontecer. O que está cada vez mais perto é a possibilidade de um ajuste fiscal forte para conter o déficit espanhol que está em 11,2%. Em nome da retomada econômica, ele diz que os espanhóis devem encarar o aperto, aceitando a queda no nível de bem-estar. O pior problema continua relacionado ao mercado de trabalho. "A perspectiva de viver alguns anos convivendo com uma taxa elevada de desemprego é muito perturbadora", diz Herce, também sócio da Analistas Financeiros Internacionais (AFI).
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Qual é a sua avaliação sobre a crise na Europa?
O caso da Grécia desencadeou um problema sistêmico no qual o euro está sendo prejudicado. Ao mesmo tempo, a dívida alemã está servindo de refúgio à fuga dos papéis dos países em pior situação. Não é bom para a Zona do Euro nem para o euro que essa percepção sistêmica dos mercados se prolongue.
Qual o caminho para sair dessa situação?
A essa altura, tendo-se constatado a lentidão e as dúvidas dos responsáveis europeus na resposta à Grécia, as intervenções só podem ser intensivas e contundentes. Não se descarta que o BCE (Banco Central Europeu) acabe comprando dívida grega.
A ajuda financeira à Grécia é suficiente para enfrentar os problemas?
Há um mês, não teria sido necessária uma ajuda tão massiva. Agora, pode ser que os 110 bilhões de euros sejam insuficientes e que sejam necessárias intervenções complementares mais decisivas.
A ajuda à Grécia demorou para sair?
Claro, por isso o custo do resgate à Grécia disparou. Não é tanto por parte do mercado, mas uma defesa por parte de quem quer se livrar de títulos nos quais não confiam.
A sobrevivência do euro está em jogo?
Se todo o dano que o euro tivesse que sofrer se resumisse à situação atual, poderíamos nos dar por satisfeitos. É preciso fazer mais esforços para evitar que os mercados prescindam do euro como moeda de reserva.
O que significaria a quebra de uma país da zona do euro?
Um só país do euro que o abandonasse seria uma má notícia. Creio que estamos longe disso, mas também estou convencido de que o euro seguirá sofrendo algo mais.
Espanha segue o caminho da Grécia? É possível que o país peça ajuda financeira ao FMI?
Hoje, é impensável esse cenário, e a escada de descida até ele tem muitos degraus. Espero que as ações das autoridades espanholas e de todos os agentes evitem que sigamos descendo esses degraus.Para reduzir o déficit, Espanha terá que fazer ajustes.
Na Grécia, a população foi às ruas para protestar. Como seria aí?
Uma parte significativa da população protestará se se planeja a redução dos gastos sociais, dos salários e a alta dos impostos. Mas acho que logo não restará outra alternativa no que se refere a medidas imediatas. Mas acho também que muitos espanhóis entenderão. Hoje, fiz um teste com meus alunos no curso de Macroeconomia e 70% aceitariam essas medidas.
Diante dessa situação de crise, o que é mais difícil para a Espanha?
Os ajustes terão que ser mais convincentes, e a população, o governo e os demais agentes sociais e políticos deverão encontrar um consenso para enfrentá-los, minimizando as consequências, mas aceitando uma redução nas expectativas de bem-estar até que a economia seja mais competitiva e se retome o crescimento econômico. A perspectiva de viver alguns anos convivendo com uma taxa elevada de desemprego é muito perturbadora.
O desemprego na Espanha já atinge mais de 4,5 milhões de pessoas. O que pode ser feito?
Sem dúvida, esse é o pior problema, o resumo das nossas falhas produtivas, competitivas e, sobretudo, do nosso sistema laboral. É preciso reduzir custos trabalhistas para que o emprego aumente a curto prazo e realizar uma grande reforma do mercado de trabalho o quanto antes para que surta efeito a médio e longo prazo.
2 comentários:
O pior da crise da Grécia é que atrapalha na minha mono, o coisa chata viu, rsrsrs.
Abraços
E aí sr. João Melo, como vai?
Ainda bem que, em termos, o Brasil não sofre mais com a crise econômica. em termos porque vivemos em crise constantemente, com o nosso transporte público, saúde e educação e que, inevitavelmente nos direcionam à "tal" da crise econômica.
Tomara que um dia tenhamos governantes que realmente se preocupem com o bem estar de todos e não queiram apenas enriquecer às custas do esforço alheio.
Não sei se estou escrevendo besteira, mas de qualquer maneira, seu blog está ótimo, sempre atualizado com informações muito úteis a todos nós.
Abraço,
Christoffe Castro.
http://toffe3d.blogspot.com
Postar um comentário