LUIZ
CARLOS MENDONÇA DE BARROS, economista-chefe da
Quest Investimentos, em mais um de seus ótimos artigos sobre a economia brasileira, ontem na FOLHA DE S. PAULO. E com uma visão otimista, que sempre é bem vinda nestes tempos de crise.
Embora
tenha durado apenas o tempo de uma flor de manacá, a exposição do aumento dos
índices de IDHM dos municípios do Brasil na mídia precisa ser recuperada.
Talvez tenha sido a notícia mais importante do ano para os analistas que
procuram olhar o Brasil sob a ótica das mudanças estruturais de nossa
sociedade.
Os
números são impressionantes e mostram um país que passa de uma posição
vergonhosa no campo de desenvolvimento social para a companhia de sociedades
mais justas e ricas. Mas essas informações entram em choque com o clima de que
estamos próximos de um desastre e que tomou conta de boa parte dos agentes
econômicos -- empresários e financistas -- nos últimos meses.
Não é possível que uma economia que fez com que a renda
média real da sociedade dobrasse em 17 anos esteja à beira do abismo, mesmo que
os resultados nos últimos três anos sejam decepcionantes.
Em
1993, a renda média anual do brasileiro era -- a valores reais de 2012 -- de R$
5.016,00, equivalentes ao câmbio também de 2012 a US$ 2.500. Em 2010, 17 anos
depois, esse número atingiu R$ 10.884,00, ou seja, próximo de US$ 5.500. Um
aumento de mais de 100% no período, o que corresponde a uma taxa anual composta
de 4,7%.
Mesmo
se tomarmos como base a renda média de 1994, início do período do real, os
números chamam a nossa atenção. Nesses 16 anos,
entre o início do período de estabilidade de nossa moeda e o fim do ciclo de
crescimento em 2010, o aumento real da renda média do brasileiro chegou a 64%,
ou seja, cresceu a uma taxa anual de 3,14%.
Todo economista sabe -- ou deveria saber -- que o fator mais
importante por trás das mudanças sociais é o crescimento econômico por um prazo
longo. Importa menos a taxa anual de crescimento e mais a duração do período em
que esse crescimento se sustenta.
Uma
segunda verdade em que acredito é a que nos diz que o principal -- e mais
difícil -- fator por trás do crescimento econômico sustentado é o aumento da
renda real das famílias. Isso é verdade principalmente em uma sociedade de
cigarras como a nossa, em que o consumo representa mais de 2/3 do PIB (Produto
Interno Bruto).
Por
isso, os dados do Pnud da ONU, publicados recentemente, não surpreenderam a
equipe de economistas da Quest Investimentos. Afinal, o quadro inicial das
apresentações institucionais aos nossos clientes, desde 2007, apresenta um
gráfico da renda real calculada pelo IBGE entre 1978 e 2013 e mostra, por meio
de uma linha de tendência, seu comportamento nesse período.
Em
1979, último ano do milagre econômico dos militares, a renda real anual era de
R$ 7.464,00. Em 1993, fim do período em que tivemos uma hiperinflação
histórica, o brasileiro médio ganhava anualmente apenas R$ 5.016,00. Ou seja,
uma queda de mais 30% em 14 anos. Podemos contar essa mesma terrível história
dizendo que, nesse período negro, o brasileiro empobreceu em média mais de 2%
ao ano.
A
mais importante consequência desse longo período de crescimento que tivemos depois
do Plano Real pode ser vista -- a olho nu -- em uma fotografia da sociedade
brasileira dividida em classes de renda. Ela também faz parte, desde 2006, das
apresentações da Quest como um de seus pontos centrais.
Para
chegar a ela, dividimos os brasileiros em apenas duas classes de renda: na
primeira estão aqueles que estão inseridos na economia de mercado, ou seja, têm
carteira de trabalho assinada, acesso a crédito bancário e no comércio e estão
protegidos por programas sociais como aposentadoria, seguro-desemprego e outros
que não o Bolsa Família. Na outra classe, estão os brasileiros que vivem na
informalidade e não têm acesso às instituições do mundo formal.
Em
1993, os brasileiros da classe formal representavam um terço da população,
ficando o grupo informal com os outros dois terços. Hoje temos a situação
oposta, ou seja, dois terços vivem no mundo formal e o outro terço no informal.
Uma mudança extraordinária e muito difícil de
ser encontrada na história das nações emergentes como a nossa.
Peço
agora ao leitor que volte ao título desta coluna.