Editorial da FOLHA DE S. PAULO e os 20 anos do Plano Real.
O aniversário de 20 anos
da medida provisória 434/1994, que instituiu a URV (Unidade Real de Valor) e
preparou o caminho para o lançamento do real, decerto merece celebração.
Não pela nostalgia de um
momento de grandes mudanças, quando os artífices do Plano Real demonstraram
singular visão de Estado --destaque-se, além do então presidente Itamar Franco
e seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, os economistas André Lara
Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco e Pérsio Arida.
A lembrança é válida pela
constatação de que, mesmo em meio às dificuldades daqueles dias, o governo
construiu consensos e obteve legitimidade para um salto de qualidade nas
instituições. Há, portanto, lições para o Brasil de hoje.
Sem a estabilização da
moeda não teriam sido possíveis os avanços posteriores, como o alargamento dos
direitos sociais e a redução da desigualdade. O fim da inflação galopante, em
si, foi o primeiro passo para isso, pois eram os mais pobres os mais
prejudicados.
Houve erros graves, como
os desequilíbrios que fizeram o Brasil recorrer ao FMI em 1998. Mas mudanças de
monta na condução da economia deram ao país uma estabilidade havia tempo
esquecida.
Depois, o presidente Lula
construiu sobre esses alicerces, criando um grande mercado interno de massas.
Manteve, especialmente no primeiro mandato, a aderência aos pilares
macroeconômicos e acelerou a inclusão social.
O bom momento mundial
catalisou as ações internas, e o Brasil registrou crescimento acelerado. Foram
criados mais de 15 milhões de empregos entre 2003 e 2010.
Nos últimos anos, porém,
cessaram as propostas ambiciosas. A administração Dilma Rousseff, em especial,
abusou do modelo de consumo, sem enxergar a necessidade de novas estratégias à
luz das transformações globais e da baixa produtividade interna.
Reformas em áreas como
Previdência e tributação, fundamentais para o equilíbrio das contas públicas e
recuperação da capacidade de investimento do Estado, permanecem paralisadas
enquanto as autoridades de turno vendem a ilusão de que tudo vai muito bem.
O ex-presidente Fernando
Henrique tem razão quando fala da natural fadiga que acomete grupos políticos
instalados por muito tempo no poder --regra que vale para todos os partidos, em
todos os níveis da Federação.
Fundamental, nesse
sentido, oxigenar o debate --não necessariamente com novos mandatários, mas sem
dúvida com novas ideias.
Forças governistas e seus
opositores poderiam se inspirar nos exemplos do passado. Pouco importam, no
fundo, discussões sobre o mérito do que já desbota no tempo; o país demanda uma
visão de futuro. O ano é propício.
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