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domingo, 18 de março de 2012

Ilan Goldfajn entrevistado na Folha.


Na Folha de hoje, entrevista com Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central. 

Na entrevista, Goldfajn diz que problemas como a baixa competitividade da indústria nacional e a falta de mão de obra qualificada em vários setores são tão ou mais importantes para o futuro do país do que o nível dos juros.

domingo, 18 de dezembro de 2011

2012: previsões econômicas brasileiras.


Mais previsões para 2012: agora de quatro conceituados economistas que enviaram as mesmas para a EXAME.com.  Last but not least, previsões devem sempre serem consideradas. 

Os maias, alguns místicos e até Hollywood, todos já anunciaram que 2012 deve ser um ano apocalíptico. Por mais cético que se possa ser, olhar para a situação econômica da Europa, por exemplo, chega mesmo a levantar leves suspeitas. Mas quando se fala em Brasil, grandes economistas apostam que o próximo ano não chega a ter ares de “fim de mundo”.

Um time de especialistas formado por Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da consultoria Tendências; José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e sócio da MB Associados; Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco; e Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco, enviaram a EXAME.com suas projeções para os principais indicadores econômicos em 2012.

Em 2011 a economia brasileira caminhou por um caminho mais complicado do que no ano anterior e deve crescer menos que 3% - bem abaixo dos 7,5% em 2010. Esta queda em grande parte foi causada pelos impactos da piora nas condições da economia mundial.

Além disso, o ciclo de aperto monetário iniciado pelo governo no começo do ano ajudou a desacelerar a economia. Entretanto, a previsão é que o crescimento do país seja maior em 2012, ganhando ainda mais força em 2013.

PIB
O crescimento da economia em 2012 deve ficar acima dos 3%. A maior projeção é de Octávio de Barros, do banco Bradesco, 3,7%. Já Maílson da Nóbrega estima o menor crescimento, de 3,2%

Economista                           PIB
Octávio de Barros               3,7%
J.R. Mendonça de Barros  3,5%
Ilan Goldfajn                        3,5%
Maílson da Nóbrega           3,2%

Todos os economistas ouvidos por EXAME.com fizeram projeções para inflação acima do centro da meta, que é de 4,5%. Entretanto, nenhum deles acredita que o IPCA, índice oficial de inflação calculado pelo governo, vá passar do teto da meta, que é de 6,5%.

Economista                             IPCA
Octávio de Barros                 5,3%
J.R. Mendonça de Barros    5,5%
Ilan Goldfajn                          5,20%
Maílson da Nóbrega             5,40%

Taxa Selic
Em 2011 o comportamento da Selic teve duas fases distintas. Até agosto, o governo mantinha um ciclo de alta que fez a taxa básica pular de 10,75% ao ano em janeiro para 12,50% em julho.

Em agosto, porém, sob o argumento de piora na economia global, o Banco Central não só interrompeu o ciclo de alta, como também começou a cortar os juros. A taxa fechou o ano em 11%. No fim de 2012, o esperado é que a Selic esteja por volta dos 9% ao ano.

Economista                          Selic
Octávio de Barros              9,5%
J.R. Mendonça de Barros  9%
Ilan Goldfajn                        9%
Maílson da Nóbrega           9,5%

O último boletim Focus publicado pelo Banco Central, na segunda-feira, trazia a projeção dos analistas para o câmbio entre real e dólar no fim de 2011 em R$ 1,80. Já para 2012, a menor projeção, de Maílson da Nóbrega, é de R$ 1,65. A maior é de R$ 1,80, feita por J.R. Mendonça de Barros.

Economista                          Câmbio
Octávio de Barros               R$1,7
J.R. Mendonça de Barros  R$1,8
Ilan Goldfajn                        R$1,75
Maílson da Nóbrega           R$1,65

Balança comercial
Ilan Goldfajn, do Itau-Unibanco, projeta um saldo positivo de 15 bilhões de dólares para a balança comercial brasileira em 2012. A projeção de Maílson da Nóbrega é bem superior: 28 bilhões.

Economista                         Balança Comercial
Octávio de Barros              US$ 23 bilhões
J.R. Mendonça de Barros         --
Ilan Goldfajn                       US$ 15 bilhões
Maílson da Nóbrega          US$ 28 bilhões

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"Ação do BC deve amenizar efeitos da crise"


No VALOR ECONÔMICO entrevista com ILAN GOLDFAJN, ex-diretor do Banco Central, sobre o atual momento econômico e a possibilidade de uma severa crise mundial.   

O mundo caminha de um cenário de desaceleração para um quadro de crise, com possibilidade concreta de um default da dívida da Grécia, acredita Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do Banco Central (BC). Tudo indica, portanto, que o mundo se aproxima de fato do quadro mais difícil traçado pelo BC na ata da última reunião do Comitê de Política Monetário (Copom).
Nesse cenário mais duro, Goldfajn acredita em desaceleração da economia brasileira, mas o recuo será minimizado pela atuação do BC, que iniciou um ciclo de corte de juros em agosto. "A economia brasileira vai crescer 3,7% no próximo ano. Se fosse só pela desaceleração mundial, [o crescimento do PIB] poderia cair um pouco abaixo de 3%", diz.
Outros efeitos da crise poderão ser sentidos, como a escassez de linha externa. Ele pondera, no entanto, que a reação do governo deveria ficar concentrada nos juros, não no aumento dos gastos. "Nessa linha, podemos mudar a qualidade da política econômica brasileira". A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: A economia mundial caminha para um crise mais séria?
Ilan Goldfajn O caminho ainda não está totalmente definido, mas estamos indo de um cenário de desaceleração para um cenário de uma crise mesmo. Vemos nos Estados Unidos e na Europa a falta de coordenação para resolver os problemas da Grécia. E os mercados estão muito indóceis, com uma velocidade de reação muito maior que a dos governos. Cada país diz uma coisa e não chegam a um acordo para aumentar o fundo de estabilização da Europa, para poder financiar os problemas que podem surgir.
"O cenário internacional está mais ou menos em linha com o que o BC expressou na última ata do Copom"
Valor: Há risco de default grego?
Goldfajn O cenário de default está cada vez mais provável.
Valor: É o seu cenário base?
Goldfajn Nosso cenário base é de desaceleração forte, mas não temos colocado ainda um cenário de crise. Esse é um cenário que ainda estamos chamando de alternativo, de crise financeira ao estilo Lehman Brothers. Mas está caminhando para isso.
Valor: Qual o impacto para o Brasil? O real continua em queda?
Goldfajn Num cenário de médio prazo, o câmbio real continua forte. Isso no médio prazo, digamos, dois anos. No fim do ano já pode voltar um pouco e fechar em R$ 1,75. É um 'overshooting'. Pode até ir mais longe [subir mais], mas acho que volta depois.
Valor: Essa cotação de R$ 1,75 seria um novo patamar?
Goldfajn Sim.
Valor: O qual o impacto da crise para a inflação doméstica?
Goldfajn Neste ano, a inflação deve ficar em torno de 6,5%. Para o próximo ano, há polos opostos para a inflação. Primeiro você tem uma queda da atividade mundial, que segura o crescimento [no Brasil]. Você tem também alguma queda das commodities, que reduz a inflação e contrabalança um pouco a taxa de câmbio que subiu recentemente. Em termos de inflação, vamos provavelmente para baixo do teto da meta, em um cenário ruim [para a economia mundial]. Não que isso seja alguma virtude, porque a desaceleração global faz com que a inflação recue.
Valor: Qual seria o polo oposto?
Goldfajn As commodities não vão cair tanto assim. Há algumas questões que dão algum suporte, como problemas de oferta. Então mesmo que a inflação recue, não achamos que ela volte para a meta [em 2012]. Até porque o BC está reduzindo os juros. A inflação deve ficar em torno de 5,5%.
Valor: Há algum risco para o déficit em conta corrente?
Goldfajn O câmbio ajuda as exportações e segura [o déficit]. Algumas linhas externas podem secar, no momento da crise. Mas acredito que será algo como em 2008, com uma ida e uma volta rápida [dos fluxos]. Haverá uma tensão e o Brasil vai exportar menos. Mas o câmbio vai ajudar. No âmbito doméstico, vamos desacelerar e importar um pouco menos. Portanto, no geral, uma coisa compensa a outra.
Valor: Os impactos para o Brasil serão prolongados?
Goldfajn Estou vendo um cenário parecido com 2008, quando houve um momento de pico, mas depois voltou ao normal.
Valor: Tem algum prazo para essa volta ao normal?
Goldfajn É muito difícil saber, porque a crise está começando. A Grécia ainda não quebrou. Não sabemos as consequências. Vai depende de como as coisas vão se desenrolar. Mas é uma questão de meses [a volta], não de anos.
Valor: A economia brasileira pode apresentar um maior vigor já em 2012?
Goldfajn Com a queda de juros que o BC está promovendo, a atividade econômica segura um pouco. Acho que a economia brasileira vai crescer 3,7% no próximo ano. Se fosse só pela desaceleração mundial, [o crescimento do PIB] poderia cair um pouco abaixo de 3%. Talvez 2,9%. Mas com o BC reduzindo os juros, [o PIB] volta para 3,7%. Agora, se vier uma ruptura, uma crise muita séria, uma quebradeira, aí é outra questão e a economia cairá mais.
Valor: O cenário que o BC traçou para o mundo na última ata do Copom está se confirmando?
Goldfajn Acho que sim. O cenário internacional está indo mais ou menos em linha com o cenário que eles estavam tentando se precaver.
Valor: Essa antecipação se mostrou positiva?
Goldfajn É positivo que o BC tenha se antecipado à crise. Mas será ainda mais positivo se vier uma reação à crise via juros e não via gastos. Porque aí a queda de juros pode ser muito maior. Se ele de fato for nessa linha, podemos mudar a qualidade da política econômica brasileira.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Acordo na beirada.

Ilan Goldfajn, no O Estado de S. Paulo de hoje, comenta sobre a crise americana e a situação brasileira. Uma excelente leitura.

Obama e os republicanos chegaram a um acordo à beira do abismo. O calote estava próximo. No mínimo, será necessário interromper serviços fundamentais da economia americana para pagar o serviço da dívida. A visão predominante é que era tudo desnecessário, fruto de uma política partidária insana. Mas exageros e desfechos dramáticos à parte, não compartilho essa opinião. O debate fiscal nos EUA é legitimo e essencial. Não deve surpreender a falta de consenso sobre profundos cortes de gastos ou a volta dos impostos: tarefa difícil após a mais grave crise financeira internacional e com desemprego ainda recorde. Mas a dívida alta tem de ser recolocada numa trajetória sustentável. Estamos acostumados a assistir a debates fiscais desesperados e emocionantes nos Parlamentos apenas quando forçados por credores já recusando rolar a dívida do governo. O caso da Grécia é o exemplo mais recente desse fenômeno. Nos EUA não há problema com o financiamento da dívida. No fundo, os problemas nos EUA e na Europa são da mesma natureza fiscal, mas em estágios de degradação distintos.

Nos últimos tempos temos assistido a turbulências nas economias maduras. Parece, mas não é coincidência, que as crises estão ocorrendo em paralelo. Tanto nos EUA como na Europa, os problemas fiscais ficaram mais evidentes depois da crise. O crescimento potencial está sendo reavaliado e a viabilidade de manter a trajetória dos gastos, questionada. A crise mostrou que havia uma percepção mais otimista do futuro do que possível. O estouro da "bolha", visto a posteriori, é um sintoma dessa percepção equivocada. A solução é adaptar-se à realidade. Para evitar promover cortes profundos no meio da recessão é necessário pensar o ajuste no médio e no longo prazos. Alguns países, como Grécia, Portugal e Irlanda (e mesmo Espanha e Itália) não têm mais esse luxo: o seu ajuste de médio e de longo prazos virou de curtíssimo prazo. E mesmo assim, em alguns casos, como o da Grécia, será necessária a reestruturação da dívida. Outros países ainda têm o luxo de ajustes ao longo do tempo, como Alemanha, EUA, França e Japão, mas precisam começar a atuar já nos seus planos.

Nos EUA, o Congresso habitualmente autoriza o aumento do teto da dívida, que cresce sempre nominalmente, mesmo que como proporção do PIB não fosse o caso. Na situação atual, a discussão do teto veio a reboque do problema fiscal. O acordo na 24.ª hora prevê aumento do teto da dívida em US$ 2,1 trilhões (sendo US$ 900 bilhões neste ano e US$ 400 bilhões imediatamente) em troca de cortes de US$ 2,5 trilhões nos próximos dez anos. Mas de que forma ocorrerão esses cortes?

Há um debate legítimo na sociedade sobre como resolver a difícil questão fiscal e o excesso de endividamento. Os democratas querem evitar cortes de programas sociais (preferem aumento de impostos para empresas e para os mais ricos) e os republicanos querem corte de gastos mais profundos, evitando aumento de impostos. No acordo, a composição de cortes de US$ 1 trilhão já está delimitada e envolve gastos militares, entre outros. Os gastos militares voltaram a crescer após os atentados de 11 de setembro de 2001, com a volta do suporte da população às intervenções militares.

O impasse fiscal só parece ter chegado ao fim adiando-se o debate dos cortes de U$ 2,5 trilhões restantes para uma segunda etapa. As elevações adicionais da dívida (US$ 1,2 trilhão) ficam condicionadas a essa negociação. Serão meses e anos difíceis de negociação para decidir onde serão os cortes, inclusive sobre a previdência social e assistência médica aos mais velhos, e sobre uma possível reforma tributária (aumento de impostos).

É claro que questões puramente políticas estavam obscurecendo o debate. Os republicanos tinham interesse em adiar esse debate fiscal (ou antecipar os cortes de gastos) para o ano que vem, no meio das eleições, para prejudicar a imagem de Barack Obama. Era tudo o que ele queria evitar. Enquanto isso, a população mais moderada e independente irritava-se com ambos os partidos, o que, em última instância, os empurrava para a mesa de negociação.

Não obstante o acordo, as agências de classificação de risco ainda podem rebaixar a nota dos EUA por considerarem os cortes de gastos insuficientes. O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês) estima que a dívida líquida vá atingir quase 85% do PIB nos próximos anos.

Há duas lições para o Brasil.

Primeiro, é importante perceber a mudança de curso na economia global. As economias maduras deixarão de ter seu dinamismo de outrora no futuro próximo. É um período em que excesso de velocidade (nos gastos públicos, por exemplo) pode levar a derrapagens sérias.

Segundo, temos aqui nosso próprio debate fiscal, que requer atenção, antes de sermos empurrados para o ajuste forçado. A dinâmica da dívida, que em suas épocas era a questão central, hoje dá lugar ao debate sobre os ajustes fiscais necessários para permitir juros menores, câmbio menos apreciado e espaço maior para investimentos público e privado, tão necessários ao desenvolvimento futuro. Temos avançado pouco num projeto fiscal de médio e de longo prazos nessa direção.

Europa de um lado, EUA do outro. É triste constatar que ainda estamos vivendo os tremores financeiros após o "terremoto" da crise financeira de 2008. O legado da crise são décadas de ajuste e redução das dívidas públicas (e privadas). Melhor pensar em formas de ajuste que antecedam o ajuste forçado. Isso vale para o Brasil, que fez um ajuste fiscal no passado quando necessário, mas que precisa projetar um plano de médio e de longo prazos para permitir queda da inflação, dos juros e do câmbio e um crescimento potencial maior. Nos EUA, o timing da crise fiscal foi autoimposto, o que, apesar de tudo, foi melhor que ajustar sob pressão dos credores.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ENTREVISTA DE ILAN GOLDFAJN NA FSP.

Abaixo, trechos da entrevista de ILAN GOLDFAJN - economista-chefe do Itaú-Unibanco e ex-diretor do Banco Central à Folha de S. Paulo.

Folha - O sr. acha, assim como o FMI, que o Brasil crescerá abaixo dos emergentes em 2011? Ilan Goldfajn - O mundo procura alguém para consumir. Emergentes têm mercado consumidor. É o mesmo na China, na Índia. Os recursos entrarão para financiar o investimento. China e Índia crescem mais porque não temos capacidade de investir tanto. Não temos poupança.

Como aumentar rapidamente a taxa de investimento dos atuais 18% do PIB para 25%, necessários ao crescimento sustentável? Dá para ir para 22%, sem reformas, em 2011. Isso implica um ajuste no governo em 1% do PIB, realocando esse volume, de gastos para investimentos. E permitindo maior deficit em conta-corrente [troca de bens, serviços e rendas do país com o mundo], com algum limite. Não dá para ir para 25% porque temos limitação de oferta na capacidade produtiva. Se fizer mais reformas, é possível conseguir até sem deficit externo. Aí nosso crescimento iria de 4% ou 5% ao ano para 6% ou 7%. Precisamos melhorar o ambiente de negócios, reduzir a burocracia, que trava o crescimento. Não se fala nisso porque é como obra em encanamento: é bom para todos, mas ninguém vê.

O sr. vê alguma ameaça à economia brasileira? A ameaça vem de fora. A Europa ainda tem risco. Não vejo risco no sistema imobiliário. A alta de preço é isolada. As pessoas compram casa para morar, não para especular. A bolha que nos ameaça é a bolha da presunção, achar que já conquistamos o mundo, que não precisamos de reforma, que seremos a bola da vez sempre. Temos muitos problemas: infraestrutura, educação, burocracia, impostos. Ainda somos o décimo pior país em distribuição de renda.

Temos pela frente Copa, Olimpíada, pré-sal. O que fazer para evitar que se gaste e sobrem elefantes brancos? Temos que evitar fazer tudo de última hora. Veja os aeroportos. Há dois anos discutimos, tem gente que acha ruim privatizar. Ruim é não ter aeroporto. Se fizermos tudo minimamente estruturado, dá para fazer coisas que fiquem.

A desaceleração da economia, depois de o PIB ter crescido 9% no primeiro trimestre, é definitiva? O segundo trimestre foi mais fraco. O mundo se desacelerou, o consumo de commodities, as exportações, o investimento, mas isso vai mudar. No Brasil, o consumo arrefeceu porque as pessoas perderam temporariamente a vontade de comprar e a isenção de IPI acabou. Agora, isso vai se reverter, porque as pessoas têm renda.

A taxa básica de juros voltou a subir, para segurar a inflação. Podemos sonhar com taxa de novo abaixo de 10%? Mas estamos avançando. Tínhamos juros de 45% em 1999. Vai cair, mas não amanhã. Sem reformas, levaremos de cinco a dez anos; com reformas, cinco. O mercado vai pensar: "O governo terá menos deficit, logo os juros vão cair". Aí compra títulos de longo prazo com juros mais baixos, antecipando a queda.

O senhor identifica risco de o mundo mergulhar de novo em uma crise em 2011? Não. Nos EUA e na Europa, não vai haver recessão nem crescimento como antes. Depois da crise, o crescimento foi rápido e não se manteve, aí veio decepção. Não sejamos bipolares. O que tinha antes era bolha, percepção de riqueza inexistente. Estamos em uma parada para respirar. Os europeus estão rolando dívidas, fazendo ajustes fiscais. E os emergentes vão voltar melhor porque na China, na Índia e no Brasil temos mais projetos.

Qual é sua impressão sobre as propostas econômicas dos candidatos a presidente? O país precisa de mais investimento em infraestrutura, melhorar a educação, fazer a reforma da Previdência. Nossa carga tributária é alta. Em diferentes graus, os candidatos vão procurar no Orçamento espaço para investir e formas de reduzir gastos correntes.

Todos se preocuparão com o gasto? Não, mas em aumentar o investimento, sim, porque haverá pressão. Até porque não tem outra fonte. Poderia ser com recursos externos, mas há o deficit no balanço de pagamentos [saldo de todas as transações do país com o exterior]. Além disso, a população quer menos tributos. Isso será possível porque a arrecadação cresce com a legalização das empresas e a formalização dos trabalhadores. Há pressão contra o exagero dos gastos. E, quanto mais se reduzem os gastos, mais cai o juro.

O sr. vê risco de intervenção no BC? Todo mundo está satisfeito com a autonomia de fato. Mas os governos não querem perder o poder de trocar o técnico se algo estiver errado. A sociedade também não percebeu a vantagem de ter um BC independente. Com autonomia de direito, caem os juros porque as desconfianças do mercado diminuem. Mas não vejo risco de retrocesso, por mais que os candidatos critiquem.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

DA SÉRIE: LEITURA INEVITÁVEL - ENTREVISTA

Para os meus quase dois (milhões) leitores, abaixo uma otimista e esclarecedora entrevista com o colega Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco e ex-diretor do Banco Central (BC), com data de 26/07/09 no ESTADÃO e o título “Juros não voltam para nível pré-crise''. Como é interessante ler uma entrevista que faz o leitor tomar uma aula de conhecimento e até fazer sua oposição ao entrevistado, porém após ter analisado as diversas variáveis do mundo econômico. Este é o tipo de entrevista que temos que ler e guardar. Ao final do ano, vamos comparar as "previsões".

Segundo o ex-diretor do BC, a taxa Selic tende a subir nos próximos anos, mas não deve voltar a ter dois dígitos. Os juros de longo prazo no Brasil estão altos demais porque a taxa de juros real de equilíbrio - aquele que faz com que a economia cresça sem inflação - caiu para o nível de 4% a 5% ao ano e não vai voltar para onde estava antes da crise. Ao contrário de parte do mercado, o Itaú-Unibanco, que tem projeção de inflação abaixo de 4% para 2010, só vê a Selic (taxa básica) subindo de novo em 2011, e mesmo assim de forma moderada.

Mas nem tudo são flores para Goldfajn. Ele critica a política de expansão dos gastos correntes, que mantém o Brasil num ritmo potencial de crescimento de 4% a 4,5%, quando poderia estar entre 6% e 7%, com taxa de juros real perto de 3%. Outra consequência do aumento dos gastos correntes, para ele, é a valorização cambial, que pode levar o real a R$ 1,70 em 2010. O mundo está disposto a financiar o investimento no Brasil e empurra o País a consumir, na visão de Goldfajn. A contrapartida, porém, será o aumento do déficit em conta corrente, algo que, ele prevê, deve provocar forte debate em 2010. O risco são políticas equivocadas para conter a valorização cambial sem mexer na política fiscal, que podem elevar a inflação e os juros. A seguir, a entrevista.

Por que os juros de longo prazo estão tão descolados?

Há várias razões, e uma delas está ligada à visão geral dos juros no mundo. Toda vez que há uma recessão, e desta vez ela é global, os juros caem o suficiente para estimular a economia. Depois, quando a economia já foi estimulada, os juros voltam a subir. Hoje, os juros estão no limite do que podem baixar: zero ou próximo de zero nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Uma vez que se chega a esse piso, é normal as curvas se inclinarem para cima: a única coisa que pode acontecer daqui em diante é subir. Isso se traduz em vários mercados e, em alguns deles, faz sentido. No caso do Chile, o juro chegou a 0,5%, então a curva mostra que ele vai voltar ao normal.

E o Brasil?

Bem, pode existir uma economia que não estava com os juros no seu equilíbrio, ou na qual o juro de equilíbrio estava caindo, por diversas razões. Nesse caso, o juro não tem de voltar ao nível anterior, mas sim para onde ele chegaria caso a redução gradual do juro de equilíbrio persistisse e não fosse interrompida pela queda brusca ligada ao estímulo para sair da recessão. Em outras palavras, o juro voltaria para um nível mais baixo do que aquele de onde saiu. Assim, para acreditar que o juro do Brasil tem de voltar para perto de onde estava antes da crise, é preciso acreditar que antes da crise ele estava num nível neutro e constante. A minha visão é de que os juros no Brasil estavam e continuam numa tendência de queda. Falo do que se chama juro de equilíbrio, ou juro neutro, aquele que faz com que a economia cresça sem inflação. Houve momentos em que o juro real precisou ser 15%, depois foi caindo para 10%, para 8%, e hoje acho que estamos próximos de 4% ou 5%.

A recessão ajudou o juro de equilíbrio a cair? A gente sabe que o juro neutro em países emergentes converge para níveis normais de forma mais rápida em períodos de recessão do que de boom. Processos desse tipo ocorreram no Chile, no México e na Polônia. Os bancos centrais derrubam os juros para estimular a economia e, na hora de voltar, descobre-se que o juro neutro é menor. Por algum motivo, a recessão parece ser o momento de se dar um empurrão um pouco maior. Isso é difícil de explicar, mas acontece.

Mas os juros no Brasil então não voltam mais? Bem, as possibilidades são de que volte quase totalmente, volte muito pouco, ou volte para um nível intermediário entre esses dois extremos. Eu acho que volta muito pouco. Acho que a Selic poderia ir até 8,25%, se ficar claro um cenário em que a inflação vai para baixo de 4%. O nosso cenário de inflação para o próximo ano é parecido com o do Banco Central, estamos com pouco mais de 3,8%. Acho que, lá para 2011, quando a economia estiver chegando perto de um ritmo de 4,5% e a inflação começar a voltar para a meta de 4,5%, a Selic poderia subir para, quem sabe, 8,75%. O grande teste é que haja um cenário de inflação consistente com o que falei. Se eu estiver certo, e subirem os juros, a inflação cai muito. Se eu estiver errado, e deixarem o juro onde está, a inflação vai acabar subindo.

O que permitiu toda essa queda do juro real de equilíbrio?

São 15 anos de estabilidade, de consistência, que você pode ver nas medidas de risco, como o CDS do Brasil (credit default swap, produto ligado ao risco de crédito dos títulos externos do governo brasileiro), em que estamos hoje abaixo do México e próximos do Chile. Tem o investment grade. E há aquela percepção mais geral de que o Brasil é uma democracia que conseguiu ter políticas econômicas com uma certa continuidade, que sobreviveram a mudanças de ministros e de partidos no governo.

Como o sr. vê a política fiscal brasileira?

Nossa visão é que o superávit primário efetivo vai para 1,5% do PIB, embora o resultado oficial a ser divulgado será de 2,5%, por causa de 0,5% de desconto por conta do Projeto Piloto de Investimentos (PPI) e mais 0,5% do Fundo Soberano. Acho que vai ficar em 1,5% por um tempo, e isso é compatível com um juro real de 4% a 5%, quando se pensa na dinâmica da dívida pública. O que aconteceu é que esse governo usou todo o espaço conquistado nos últimos anos, com a queda dos juros por causa da redução do risco, para aumentar os gastos correntes. Tem uma parte que foi para o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), mas é muito pouco.

E o que o sr. acha do aumento dos gastos correntes?

Considero ruim. Isso se dá em prejuízo de maiores investimentos. A opção por mais gastos correntes significa um crescimento mais moderado. Significa que nosso crescimento, que vai ficar em 4%, 4,5%, poderia subir para 6%, 7%. O juro real poderia cair ainda mais, para perto de 3%. Por outro lado, o mundo vai nos ajudar a investir, mas ao preço de aumentarmos nosso déficit em conta corrente. Esse é outro aspecto dessa política fiscal, o câmbio mais valorizado.

Por quê?

O câmbio apreciado ajuda a importar, ajuda a consumir. Ele faz com que possamos consumir e investir ao mesmo tempo, mas a contrapartida é o aumento do déficit em conta corrente, que é a poupança externa. O mundo está dizendo para não nos preocuparmos porque ele vai financiar o nosso investimento.

Como assim?

Nós somos muito bons de consumir. Se tivéssemos que poupar, aí seria um problema. Nós hoje estamos junto com um grupo de países que inclui China, Índia e Indonésia, que são a coqueluche dos relatórios de bancos de investimento e que têm em comum grandes populações e mercados internos. O mundo está investindo nesses países e empurrando-os a consumir. A nossa diferença é que poupamos menos, então teremos um déficit em conta corrente maior. Outra forma de olhar para isso é constatar que o dólar vai ter de ser mais fraco. Quais são as moedas que vão ficar mais fortes? A grande dúvida do mundo é essa, qual é a contrapartida do dólar fraco. Com Europa e Japão com desempenho econômico fraco, é difícil imaginar como é que as suas moedas vão se apreciar. A China, claramente, tem de ser uma contrapartida, mas tem uma viscosidade lá, eles não deixam, tentam segurar o câmbio desvalorizado, na base de não deixar o mercado funcionar. Já as moedas flutuantes dos países emergentes vão sofrer pressão para se valorizar.

Qual a sua previsão para o câmbio no Brasil?

Acho que o câmbio vai se valorizar um pouco mais do que se espera por aí. Penso que pode fechar este ano em R$ 1,80 e ir na direção de R$ 1,70 lá na frente, no fim do próximo ano. Eu acho isso exatamente porque tenho a impressão de que o Brasil se encaixa muito bem no mundo nesse papel de consumidor que está faltando. Daquele consumidor de última instância.

Isso não vai preocupar os economistas desenvolvimentistas?

Na minha opinião, 2010 vai ser um ano de debate sobre déficit corrente, sobre câmbio apreciado, sobre regime cambial. Acho que não deveria ser feito, mas vai haver muito desejo de mexer um pouquinho na política cambial, de tentar deixar o câmbio mais desvalorizado. Há o risco de nós não aceitarmos a consequência de uma política fiscal mais frouxa, que é o déficit em conta corrente. Aliás, é fácil de resolver. Sobe o superávit primário, que significa poupar mais, e investe esse excesso. Mas o perigo é entrar num processo de tentar evitar um déficit em conta corrente sem mexer na política fiscal, o que acaba batendo na inflação e nos juros. Seria tentar manter o câmbio desvalorizado sem mexer nos fundamentos.

Será que esse risco também pode ser parte da explicação para os juros de longo prazo mais altos?

Sim, também é, embora eu tenha a impressão de que aquela questão global que eu mencionei é muito relevante.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...