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sábado, 4 de abril de 2009

VERÍSSIMO TAMBÉM É ECONOMIA.

Essa eu li em 02/04/09 e fiquei curioso, pois o autor desta crônica “Respeitável",  Luis Fernando Veríssimo, não faz parte da minha lista de preferidos. Porém, vindo dele, claro que tinha que ter uma crítica ao capitalismo... De qualquer maneira, sempre sou favorável a "ouvir ambas as partes"...

Hyman Minsky morreu em 1996 mas está sendo muito lembrado, e citado, agora. Era um economista e acadêmico americano que destoava da ortodoxia neo-clássica dominante de Milton Friedman e seus discípulos e combateu a desregulação do mercado que desmantelou o capitalismo auto-controlado montado pelos keynesianos depois da Grande Depressão - e acabou dando no atual desastre. Minsky previu o que ia acontecer mas na época do pensamento único e indiscutível ninguém lhe deu muita atenção. Agora o profeta está recebendo as honras devidas. Num trecho de um dos seus livros sobre a instabilidade da economia americana reproduzido recentemente pela revista "The Nation", Minsky escreveu que "o fracasso de políticas desde a metade dos anos 60 tem relação com a banalidade da análise econômica ortodoxa. Apenas uma análise crítica do capitalismo pode ser guia para uma política capitalista bem sucedida". Quer dizer, a análise acritica ou invariavelmente a favor ameaça o capitalismo mais do que qualquer pregação de esquerda. Minsky estava escrevendo para a grande imprensa americana e, sem saber, para a grande imprensa brasileira.

RICOS X POBRES: SEMPRE A MESMA COISA

Enquanto no Brasil os 10% mais ricos detem 75% da riqueza, lá no Clube do G20 não é muito é diferente: nada mais nada menos do que 90% do PIB mundial estavam em Londres.

Análise feita pela Miriam Leitão afirma que do grupo do G8, que inclui a Rússia entre as nações mais ricas, praticamente todos já estão em recessão ou tiveram PIB negativo no 4º trimestre de 2008. São eles: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Itália e Rússia.

Além deles estão reunidos os países que fazem parte da União Europeia e também o grupo de 11 nações emergentes, que inclui Brasil, Argentina, México, China, Índia, Austrália, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul e Turquia.

Nota: e o que acontece com os quase 200 países que possuem APENAS 25% da riqueza?

O DÓLAR AINDA É MOEDA FORTE?

Clóvis Rossi é um dos jornalistas mais respeitados no meio e em seu texto de 27/03/09 na Folha de S. Paulo, traz mais uma preocupação para os tempos atuais. Para os meus quase dois leitores, o título do texto é bastante sugestivo "Aquelas notas verdes". E como gostamos dela...

LONDRES - Editorial desta Folha demonstrava faz pouco a fortaleza do dólar, apesar de toda a crise, apesar de todo o colossal déficit externo norte-americano. Um número bastava: o mundo comprou no ano passado US$ 815 bilhões em títulos norte-americanos. Significa, grosso modo, transferir para os EUA três quartas partes de tudo o que o Brasil produz por ano de bens e serviços. Mas as coisas começam a ficar esquisitas. Primeiro foi o premiê chinês, Wen Jiabao, a desconfiar publicamente da solvência dos EUA. Depois foi outro líder chinês, o presidente de seu Banco Central, a sugerir a troca do dólar pelos Direitos Especiais de Saque (moeda contábil do FMI) como moeda de reserva do planeta.  Ontem, foi a vez de Andrei Denisov, vice-ministro russo de Exteriores, a endossar a proposta chinesa. Denisov foi além: propôs uma conferência internacional para estudar a adoção da nova moeda, o que, de quebra, já mina a cúpula do G20 marcada para dia 2 em Londres. A cúpula destina-se a tentar estabilizar a economia, numa ponta, e a reformular a arquitetura financeira global, na outra. Se um dos participantes de certo peso já pensa em nova conferência em torno do mesmo assunto, para que servirá então a de Londres?  Observe-se que os dois países que lançaram a proposta sobre o dólar são Brics (Brasil, Rússia, Índia e China, supostas futuras potências mundiais). Como têm atuado coordenadamente no âmbito do G20, o Brasil será fatalmente chamado a manifestar-se, ainda mais que é um dos maiores detentores de papéis norte-americanos. É possível que o tema morra por aí. Mas, se os planos Obama/Geithner não conseguirem endireitar a coisa, prepare-se para um choque sobre aquelas notinhas verdes que parecem (ou pareciam) as únicas coisas no planeta em que se podia confiar para sempre

Em tempo: Atualizando a nota acima, o presidente Lula já propôs ao seu colega chinês Hu Jintao a utilização de suas respectivas moedas, real e yuan no comércio.(Não acredito na "quebra" do dólar, apesar do estado atual da economia norte-americana). A confirmar. 

quinta-feira, 2 de abril de 2009

OS MAIS RICOS DO MUNDO - RESULTADOS?

Do blog do Joemir Beting, um comentário sobre a reunião de hoje do G-20, em Londres:

Os países ricos vão ficar 4,3% menos ricos em 2009. Vulgo recessão em bloco dos 30 países mais desenvolvidos economicamente, politicamente, socialmente. E os 30 maiores países emergentes? Também estão em marcha à ré? Não! Estão em desaceleração, como que rodando em terceira ou segunda marcha e não mais em quinta ou sexta. O Brasil estaria ou já teria passado da quinta para a segunda. A crise é dos ricos - diria o presidente Lula. Eles produziram a bolha e explodiram a bolha. Os países emergentes - sem contar os submergentes, os que ainda não emergiram - acabaram atingidos, em maior ou menos escala, pelos estilhaços da bolha financeira nos flancos da economia real de cada um. O dado curioso é que os emergentes perderam os dedos, enquanto os opulentos perderam os dedos, as mãos e os braços. . Nesta crise, os emergentes passaram a ter uma fatia maior no bolo da economia mundial, recalculado na semana passada, a dólar de hoje, em US$ 62 tri. O planeta China, por exemplo, já é a terceira maior economia do mundo e ensaia ganhar a medalha de prata, já em 2011 ou 2012. É do Banco Central da China comunista a maior reserva internacional do capitalismo. Ou, se preferem: os EUA, primeira potência, desfilam dívida externa de US$ 4,4 tri. E o seu maior credor, brandindo cobrança de US$ 786 bi, é justamente o Tesouro Nacional da China. Pois o acordo global do G-20, afinal, tem apenas um defeito: entra hoje em órbita, com pelo menos 20 anos de atraso. Mas quais são os parceiros do G-20? Os do G-8 e os do G-12. No G-8, os 7 países ricos,m dando carona à Rússia do poder nuclear. No G-12, os emergentes de maior afluência no mercado globalizado. Anote aí: no G-8, pela ordem de tamanho do PIB, EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia. No G-12, China, Brasil, Índia, Coréia do Sul, México, Austrália, Turquia, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul e Argentina. Na soma de 2008, o PIB conjunto do G-20 foi de exatos US$ 45 tri., sendo US$ 31,5 tri do G-8 e US$ 10,5 tri do G-12.

A MELHOR REVISTA DO MUNDO

Existem revistas e revistas, pois gostos são muito pessoais. Porém, a cada semana a The Economist consegue ser e manter o padrão de melhor revista do mundo.
Jornalismo sério, desde a a primeira edição lá pelos ideos de 1843, a revista tinha como objetivo "a defesa do livre-comércio, do internacionalismo e da mínima interferência do governo, especialmente nos negócios de mercado", princípios que mantém até hoje.
O livre mercado ainda é a melhor saída. Quem sobreviver a crise, confirmará. É fato que a economia mundial está em crise, sem sequer conhecermos seu tamanho real. Fato mais seguro é que depois dessa crise teremos outra e outra. O capitalismo é criativo e consegue adaptar-se e criar riquezas, melhorando a vida de muitos. Uma saída socialista, realmente não é a melhor saída. Ainda bem camarada KARL MARX.

quinta-feira, 26 de março de 2009

CRISE 2009 - BOAS NOTÍCIAS. E AINDA ESTAMOS EM MARÇO...

Um pouco de otimismo ajuda, mesmo no meio de um tsunami. De hoje, no site da EXAME, que bom ler a notícia abaixo e torcer para que realmente seja verdade suas previsões...
Após meses de notícias negativas e retração econômica, o banco britânico Barclays acredita que a atividade está próxima do "ponto de inflexão". No relatório trimestral sobre mercados emergentes intitulado "O fim da queda livre", o banco diz que a velocidade da retração econômica vem diminuindo e o fluxo de surpresas negativas que pesaram sobre o mercado está perdendo força. Apesar de ser provável que o ajuste à nova realidade continue nos próximos meses, o Barclays enxerga sinais ainda "incipientes" de que a atividade econômica caiu numa velocidade menor no primeiro trimestre. Além disso, o banco prevê que o consumo tenha expansão nos Estados Unidos entre abril e junho. A China também tem dados sinais mais animadores, já que o governo se mostrou comprometido com a batalha contra a desaceleração econômica. O pacote de investimentos em infraestrutura tentará compensar a queda nas exportações e do mercado imobiliário. O banco também acredita que os diversos pacotes de estímulo econômico divulgados por governos de todos os continentes comecem a fazer efeito no segundo semestre, ajudando na retomada da produção industrial global ainda neste ano. Para aqueles que acreditam que é hora de investir agressivamente na bolsa devido à melhora do cenário, o Barclays avisa: "Esperamos que a recuperação da economia global seja relativamente débil na maioria dos países". Mesmo nesse cenário, há a possibilidade de ganhos nos mercados financeiros - já que hoje está precificado um cenário de depressão ou ao menos de uma recessão muito longa. No entanto, a baixa velocidade da recuperação deve limitar os ganhos de curto prazo. Para o Barclays, a recuperação será lenta devido ao sincronismo da crise em diversas partes do mundo e à provável demora na retomada do crédito aos mesmos níveis pré-crise, principalmente nos países mais alavancados. Além disso, é muito provável que em breve as políticas expancionistas adotadas nas principais economias do mundo gerem inflação e obriguem os bancos centrais a adotar uma posição mais cautelosa. Segundo o Barclays, a atividade econômica na América Latina "está caindo como em qualquer outra economia". A produção industrial deve ter queda de 2,3% neste ano, o pior resultado desde 1983. Mas a boa notícia é que os bancos centrais da região ainda têm muito espaço para baixar os juros. No Brasil, os juros também podem cair muito ainda sem o temor de aumento da inflação ou de uma grande desvalorização do real. Após o corte de 2,5 pontos percentuais acumulado neste ano, ainda haveria espaço para reduzir a Selic dos atuais 11,25% ao ano para 8,75%. Caso a atividade econômica continue a gerar surpresas negativas, um corte adicional para 8,25% ou 8% não estaria descartado. O Barclays está entre os bancos mais pessimistas sobre 2009 e acredita que o PIB cairá 1,9%. A correção no consumo interno já foi até mais forte que a da própria produção, mas ainda deve haver novos ajustes nos próximos meses devido ao aumento do desemprego e às restrições de crédito. Além disso, o investimento deve continuar em queda. Mas quando a economia dará sinais de recuperação? Para o Barclays, o PIB brasileiro só voltará a crescer com algum vigor no quarto trimestre.

domingo, 22 de março de 2009

LULA NA NEWSWEEK - EDIÇÃO DE 30/03/2009

Lula, nosso Presidente, mais uma vez está nas páginas e também na capa da última edição da revista NEWSWEEK. Entrevistado pelo famoso jornalista Fareed Zakaria, "Lula quer lutar” é título da entrevista. Segundo o jornalista, depois de ser uma marca da esquerda brasileira, “Lula enveredou para o liberalismo de livre mercado e ajudou a transformar seu país no maior sucesso econômico da América Latina”. Na entrevista, Lula fala sobre o encontro com Obama e sobre as perspectivas da economia brasileira, mas também é questionado sobre seu posicionamento em relação à “democracia”(?) venezuelana. (Nota deste blogueiro: Faltou mencionar o agradecimento de Lula à herança maldita de FHC...)

Lula Wants to Fight Invigorated by the crisis, Brazil's president says he's praying for Obama. From the magazine issue dated Mar 30, 2009

Once a leftist firebrand, brazil's president Luiz Inácio Lula da Silva turned to free-market liberalism and helped make his country Latin America's biggest economic success. Earlier this month he became the first Latin leader to visit President Barack Obama at the White House, and in April he'll head to London for the G20 summit on the global financial crisis. He met with NEWSWEEK's Fareed Zakaria in New York. Excerpts:

Zakaria:Your meeting with President Obama went longer than expected. What did you talk about?

Da Silva: We talked a lot about the economic crisis. We also decided to create a working group between the U.S. and Brazil to participate in the G20 summit meeting. I told Obama that I'm praying more for him than I pray for myself, because he has much more delicate problems than I. He left a huge impression on me, and he has everything it takes to build a new image for the U.S. with relation to the rest of the world.

You got on pretty well with President Bush. How are they different?

Look, I did have a good relationship with President Bush, it's true. But there are political problems, cultural problems, energy-grid problems, and I hope that President Obama will be the next step forward. I believe that Obama doesn't have to be so concerned with the Iraq War. This will permit him to explore the possibility of building peace policies where there is no war, which is Latin America and Africa.

You are probably the most popular leader in the world, with an 80 percent approval rating. Why?

Brazil is a country that has rich people, as you have in New York City. But we also have poor people, like in Bangladesh. So we tried to prove it was possible to develop economic growth while simultaneously improving income distribution. In six years we have lifted 20 million people out of poverty and into the middle class, brought electricity into 10 million households and increased the minimum wage every year. All without hurting anyone, without insulting anyone, without picking fights. The poor person in Brazil is now less poor. And this is everything we want.

There are people who credit high oil, gas and agriculture prices. Can you manage with prices going down rather than up?

The recent discovery of oil is very important, because part of the oil we find will help resolve the problem of poverty and the problem of education. Brazil does not want to become an exporter of crude oil. We want to be a country that exports oil byproducts—more gasoline, high-quality oil. The investments were calculated at the price of $35 per barrel. Now, at $40, we still have enough margin.

Critics say that during this period of high commodity prices, you did not position Brazil to move economically up to the next level.

This doesn't make sense. When I became president of Brazil, the public debt was 55 percent of GDP. Today it is 35 percent. Inflation was 12 percent, and today it's 4.5 percent. We have economic stability. Our exports have quadrupled. The fact is that the growth of the Brazilian economy is the highest it has been in 30 years.

Will Brazil's economy grow this year?

I'm convinced we'll reach the end of the year with a positive growth rate. But we did not foresee that the crisis would have either the size or the depth that it has today in the U.S. Now we need new political decisions that depend on the rich countries' governments. How are we going to reestablish credit, reestablish the American consumer and the European consumer? Now we have to prove we are worthy. I was even getting a little bit disappointed in political life. I've already had my sixth year of my term, and you start getting tired. But this crisis is almost like something—a provocative thing for us, to wake us up. It's giving me enthusiasm. I want to fight. The more crises, the more investment you have to make. So we're investing today in what we never invested in for the last 30 years, in railroads, highways, waterways, dams, bridges, airports, ports, housing projects, basic sanitation. We have to be bold, because in Brazil we have many things to do that in other countries were already done many years ago.

Last December you had a meeting of the 33 countries of the Americas except the United States. Why?

It seemed that the United States was pointedly excluded.We have never had such a meeting among only the Latin American and Caribbean countries. So it was necessary to have this meeting without super economic powers, a meeting of countries that face the same problems.

You've said you hope this crisis will change the politics of the world, to give countries like Brazil and India and China a greater say. What specifically—what power do you want that you don't have now for Brazil?

We want to have much more influence in world politics. For example, we want that the multilateral financial institutions not be open only to the Americans and Europeans—institutions like the IMF and World Bank. We want more continents to participate in the Security Council. Brazil should have a seat, and the African continent should have one or two.

You are regarded as a great symbol of democracy in the Americas. And yet some people say you have been quiet as Hugo Chávez has destroyed democracy in Venezuela. Why not speak out?

If Brazil wants a greater role in the world, wouldn't that be one part, to stand for certain values?Well, maybe we cannot agree with Venezuelan democracy, but no one can say that there is no democracy in Venezuela. He has been through five, six elections. I've only had two.

He has gangs out on the street. This is not real democracy.

Look, we have to respect the local cultures, the political traditions of each country. Given that I have 84 percent support in the public-opinion polls, I could propose an amendment to the Constitution for a third term. I don't believe in that. But Chávez wanted to stay … I believe that changing the president is important for the strengthening of democracy itself. URL: http://www.newsweek.com/id/190352

DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM" - II

Em 18/03/2009, ANTONIO DELFIM NETTO, escreveu em sua coluna na Folha de S. Paulo, o texto abaixo, com o título "Dura realidade."

O BRASIL só muito recentemente havia se reconciliado com o verdadeiro crescimento, que, para os países emergentes, é aquele que o faz convergir e superar a média do crescimento mundial. Depois de 20 anos de taxas de crescimento inferiores à do mundo, o terceiro trimestre de 2006 mostrou importante mudança: voltamos a crescer mais do que ele. Entre 1950 e 1985, o Brasil cresceu, por ano, 2,2% acima do mundo; entre 1986 e 2006, cresceu, em média, 0,7% por ano abaixo do mundo. A tabela mostra o crescimento trimestral em 2008 comparado a cada trimestre de 2007: Trata-se de verdadeiro colapso, que nem os mais pessimistas ousavam prever. Esse enorme desastre "na margem" é relativizado quando se verifica que, na média, nosso crescimento de 2008 foi muito superior ao do mundo (cerca de 1,6%) e praticamente igual ao dos países emergentes (5%). É claro que há mil razões para explicar o fato, mas é ainda mais claro que nem a soma de 999 delas chega a ter a importância da "morte súbita" do crédito interbancário no Brasil. Por que um país que tem um sistema bancário hígido, com alavancagem razoável e controlada e economia relativamente fechada, assistiu à queda do seu recém-redescoberto desenvolvimento? A resposta desagradável é uma só: o Banco Central, perdido no labirinto de seus modelos, demorou a entender o que se passava após a barbeiragem do Tesouro americano e do Fed na desastrada operação Lehman Brothers, em setembro. Quando entendeu, agiu na direção certa, mas com atraso e tibieza. Há fatos fora de nosso controle, como a queda de demanda das exportações e a evolução das relações de troca (preços de exportação/ preços de importação), que cobrarão seu preço sobre nosso desenvolvimento. Mas as preocupações do nosso sistema bancário em relação ao capital subordinado e ao seu "funding" externo deveriam (e poderiam!) ter sido reduzidas pelo BC ainda em setembro. Em vez disso, perdemos meses construindo a perversa teoria de que banco "grande" é melhor do que "pequeno" e que o pior dos bancos "públicos" é melhor do que o melhor dos "privados", o que compromete ainda mais a restauração do crédito interbancário. Se continuarmos "filosofando", o Brasil poderá encolher em 2009. Felizmente temos os próximos nove meses para trabalhar duro e com inteligência para evitar a tragédia.

Uma pergunta deste colega aqui na floresta ao grande Mestre Delfim: e os gastos do governo brasileiro não comprometem o que estavamos vendo hoje? (Ficamos aguardando resposta).

DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM"

Tenho sempre o prazer de compartilhar textos bons que leio para os meus quase dois leitores. Sei que eles também lêem muitas coisas boas, mas por vezes, podem passar ser ter lido algo que li e que registra uma base teórica que nos faz pensar. Com vocês, neste nublado domingo, otimista texto de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66 anos, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Algumas certezas... muitas dúvidas

A CRISE econômica completa seis meses de uma nova e mais deletéria fase, iniciada com a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro do ano passado. Vou dividir com o leitor da Folha algumas certezas -e muitas dúvidas- que tenho em relação a ela. Começo com as minhas certezas:

1) existe no mundo hoje um elevado nível de capacidade ociosa em quase todos os setores produtivos, principalmente o setor industrial;

2) essa situação de excesso de capacidade produtiva foi criada de uma forma brusca, inesperada mesmo, e gerou nos últimos meses um acúmulo de estoques brutal. O ajuste da produção, que se seguiu, está em fase avançada, mas ainda não terminou;

3) o consumidor americano vai continuar a reduzir seu consumo e aumentar sua poupança. Não será um processo contínuo, mas esse é o pano de fundo. Por isso, esse cenário de fraqueza estrutural global deve permanecer, pelo menos, até a passagem de 2010 para 2011;

4) por isso ainda há um desequilíbrio muito grande nos preços de produtos primários e intermediários importantes, o que garante a continuidade por mais tempo da redução generalizada de preços que já atinge a maioria das economias;

5) terminados esses ajustes de quantidade e preço, a elevada ociosidade do sistema produtivo na grande maioria das economias vai garantir, por um período longo, talvez dois anos, um ambiente benigno de inflação;

6) essa situação de "sobra de recursos" também atinge o mercado de trabalho global; esse é outro fator importante para garantir um quadro de inflação muito baixa, apesar dos déficits fiscais elevados e da expansão monetária quase explosiva nos países desenvolvidos;

7) o comércio internacional levará tempo para se recuperar e ainda exercerá influência negativa no crescimento econômico global por algum período;

8) a política monetária é a principal ferramenta contracíclica nas mãos do governo brasileiro.

No campo das certezas menos certas, eu incluiria as seguintes:

1) o pior da crise financeira pode ter passado, ao menos no que se refere às rupturas inesperadas dos últimos meses. As ações agressivas de alguns dos maiores bancos centrais estão diminuindo o risco de um colapso total do sistema financeiro global. A decisão histórica do Fed de comprar volumes maciços de títulos de longo prazo, inclusive os papéis emitidos pelo Tesouro americano, pode ajudar a consolidar essa percepção;

2) mas a oferta de crédito - bancário e via securitização de recebíveis - ainda vai ficar deprimida por muito tempo. Nesse sentido, o sucesso no leilão de compra de ativos gerados por novas operações de crédito securitizado, a ser realizado pelo Fed na próxima semana - o chamado Talf -, será fundamental para possibilitar um aumento da confiança na estabilização da maior economia do mundo;

3) a economia chinesa pode ter encontrado um novo patamar, estabilizando a demanda de certas commodities e criando um piso, ainda que temporário, para a atividade econômica em locais mais diretamente influenciados por essa dinâmica, inclusive o Brasil. Por isso os próximos números da produção industrial chinesa são aguardados com grande ansiedade;

4) a economia brasileira poderá voltar a crescer, mesmo que modestamente, ao redor de 3% ao ano, na virada de 2009 para 2010. (E que possamos confirmar essa previsão meu caro Luiz Carlos...)

CAPITALISMO - SEMPRE

Trabalhador na iniciativa privada desde os meus 14 anos, tenho verdadeira aversão pela interferência do Estado em todas as atividades sociais. Minha visão de Estado é relacionada ao Estado Mínimo, com a economia do livre mercado auto-regulando as atividades econômicas. O economista Maílson da Nóbrega, na VEJA desta semana, concluí o que penso:

"Não há alternativa ao sistema capitalista. Nenhum outro libera tanto as energias produtivas da sociedade nem o supera na geração de renda, emprego e bem-estar. Que o digam Cuba e Coreia do Norte. Ao longo do tempo, o capitalismo mostrou capacidade de aprender lições, de se reinventar, de superar crises e de sobreviver aos seus críticos, principalmente Marx e seus seguidores. Sejam quais forem as mudanças para regular o sistema financeiro e criar "um mundo mais decente", a natureza do sistema econômico não mudará. A ideia é renovar o capitalismo, e não trazer de volta o que não deu certo, menos ainda o socialismo ou sua versão bufa, a da Venezuela de Chávez."

domingo, 15 de março de 2009

UMA BREVE REFLEXÃO COM MÍRIAM LEITÃO

Para reflexão e análise lúcida do que escreveu hoje a nossa melhor blogueira econômica - Míriam Leitão no http://oglobo.globo.com/economia/miriam/post.asp?t=nau-sem-rumo&cod_post=168649, e o longo caminho que temos pela frente neste 2009. Política + Economia + Eleição = alguém pagará essa conta... Espero que alguém do Planalto venha a ler este texto e converse com o dono do palácio....

Nau sem rumo

A crise já atingiu o Brasil há meses, mas o governo ainda não formulou qualquer resposta à altura. Se o governo tivesse mantido suas despesas com pessoal e previdência em proporção do PIB, no patamar de 2003, teria R$ 75 bilhões a mais para investir. As decisões tomadas nos últimos anos limitam a resposta governamental, a tendência de subestimar a crise é um complicador a mais.

A conta acima foi feita pelo economista político Alexandre Marinis, da Mosaico. Os gastos com pessoal subiram de 4,2% para 5% do PIB, as despesas previdenciárias, em parte pelos aumentos reais do salário mínimo, subiram de 5,9% para 7,2% do PIB. Como são despesas que não podem ser reduzidas, o governo não tem muita margem agora para fazer política contracíclica. E há mais gastos em andamento.

Apenas para 2009, o Orçamento da União prevê que o Executivo [sem o Judiciário e Legislativo] contratará mais 30.879 servidores, a um custo anual de R$ 1,8 bilhão. Além disso, prevê a substituição de mais 19.423 terceirizados, a um custo de R$ 678 milhões. Como o governo Lula aumentou o quadro de servidores civis e militares em 298.232 servidores, podemos dizer que as contratações custaram R$ 17,2 bilhões por ano aos contribuintes. Como a maioria das contratações foi efetuada a partir do ano eleitoral de 2006, temos um impacto total nas contas públicas de R$ 51,7 bilhões — diz Alexandre Marinis.

Números estarrecedores, que mostram exatamente o peso que o estado brasileiro assumiu para os próximos anos e décadas e que, neste momento, limita a ação do governo.

Os aumentos salariais são outro peso.

Só em 2008, conforme dados do Ministério do Planejamento, a reestruturação de cargos e carreiras teve impacto de R$ 30,5 bilhões nos gastos de pessoal — conta Marinis.

Isso impactará, no médio e longo prazos, os gastos da previdência pública, que já tem déficit anual de R$ 43 bilhões em 2009.

Em síntese, os dados mostram que o governo Lula cometeu um tremendo erro de estratégia fiscal ao contratar um número excessivo de servidores e reajustar seus salários em demasia. Este erro custará caro ao país, já que agora não tem recursos para enfrentar o tsunami mundial que já varre emprego e crescimento no Brasil — conclui Alexandre Marinis.

Além da estratégia errada nos tempos do boom, o governo não tem estratégia agora para enfrentar a crise. Foram tomadas medidas tópicas, o Banco Central acudiu as emergências bancárias que estouraram em outubro, quando secou o crédito externo. O presidente Lula suou de palco em palco, desde o início da crise, em discursos em que apostava no improvável: o Brasil não seria atingido.

Um líder não pode dizer que o país será derrotado. Mas basta comparar com o que os outros presidentes dizem: todos admitem a gravidade da crise, todos avisam que esse é um ano terrível, todos alertam para os perigos, e a partir destas constatações é que passam a convocar o país para a superação da crise. Assim faz presidente Barack Obama o tempo todo. Assim faz o presidente da França, o primeiro ministro do Reino Unido. Mas para ficar num exemplo mais emergente, até o primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, de um país conhecido pela absurda capacidade de censurar as informações até na web, disse claramente, ao abrir a reunião anual do Congresso, que este seria “um dos anos mais difíceis da história da China”.

A crise é grave, chegou há meses ao Brasil. Só nos últimos dias, o país soube que a produção industrial de janeiro caiu 17%, que o PIB teve queda de 3,6% no último trimestre de 2008, que o governo arrecadou R$ 10 bilhões a menos do que previa no primeiro bimestre, que o Ministério do Trabalho registrou quase 800 mil empregos perdidos de novembro a janeiro, que a Fiesp contou 235 mil postos de trabalho eliminados de outubro para cá. Ninguém precisa de um novo número para saber que a crise está entre nós. Cabe ao governo ter uma equipe que lide com o problema com seriedade, que se antecipe aos fatos, que saiba em que direção está indo. Não há uma ação que resolva tudo. Portanto, o plano habitacional que está sendo aguardado há meses, se for bem formulado, será uma parte da resposta. Mas não toda ela.

O governo Lula teve duas vantagens. Primeiro, recebeu de herança uma economia que tinha feito avanços importantes, como a estabilização, as metas de inflação, o câmbio flutuante, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a autonomia do Banco Central. Segundo, o país passou a ser extraordinariamente favorecido pela onda internacional de crescimento, provocada em grande parte pela bolha de crédito americana. A alta das commodities metálicas, o boom de comércio de alimentos, o aumento do fluxo de comércio, a explosão do fluxo de capitais de toda a natureza.

Estar preparado para aproveitar uma boa onda é tão importante quanto saber que ela é temporária leva a decisões sensatas. Foi o que alguns países fizeram, como o Chile, ao montar um fundo para acumular o excesso de receitas dos bons tempos. O governo Lula tomou algumas decisões certas, como a de manter o superávit primário, acumular as reservas, aumentar os gastos com os muito pobres. Mas ele desperdiçou o bom momento ao interromper o ciclo de reformas que preparariam o país para tempos mais duros e ao aumentar de forma extravagante as despesas que não pode cortar.

O improviso diário do presidente, as apostas do ministro da Fazenda, o ensaio de campanha da ministra da Casa Civil não vão resolver a crise. Podem aprofundá-la.

DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM"

Direto do "FINANCIAL TIMES", neste domingo na FOLHA, ROBERT SHILLER, titular da cátedra Arthur M. Okum de Economia na Universidade Yale e cofundador e economista chefe da MacroMarkets, escreve que "Governos têm o dever de regular os mercados para impedir que as pessoas sejam falsamente atraídas a adquirir ativos ilusórios, sem excluir a parte boa do capitalismo", o que é uma verdade tardiamente reconhecida. Trata-se de um texto racional, que procura os dois lados da moeda e não apenas registrar as falhas de A ou B. Uma boa releitura e visão da história econômica para este ano de 2009.

Lydia Lopokova, mulher do economista John Maynard Keynes, era uma famosa bailarina.

Também era emigrante russa.

Por isso, Keynes conhecia pela experiência de seus sogros os horrores da vida na pior das economias socialistas. Mas também conhecia em primeira mão as grandes dificuldades que a vida sob o capitalismo descontrolado e desregulado pode oferecer. Ele viveu a depressão britânica dos anos 20 e 30 e isso o inspirou a encontrar um caminho intermediário para as economias modernas.

Estamos presenciando, nesta crise financeira, um renascimento da economia keynesiana. Voltamos a discutir "The General Theory of Employment, Interest and Money" [Teoria Geral do Emprego, Juros e Dinheiro], de 1936, escrito durante a Grande Depressão.

Aquela era, como a atual, viu muitos apelos pelo fim do capitalismo tal qual o conhecemos. Os anos 30 foram definidos como o ápice do comunismo no Ocidente. A via intermediária de Keynes pretendia evitar o desemprego, os pânicos e as manias do capitalismo. E também evitaria os controles políticos e econômicos do comunismo. O livro se tornou a mais importante obra de economia do século 20 devido à sua mensagem sensata e equilibrada.

Em momentos de desemprego alto, os governos com bom histórico de crédito deveriam expandir a demanda por meio de gastos públicos bancados por déficits orçamentários. Em seguida, em momentos de desemprego baixo, os governos deveriam amortizar as dívidas contraídas. Com essa mudança aparentemente mínima de procedimento, um sistema capitalista poderia ser estável. Não haveria necessidade de uma cirurgia radical no capitalismo.

Os adeptos da mensagem de Keynes estavam tão ansiosos por fazer implementar essa política simples que deixaram de perceber, ou talvez tenham deliberadamente desconsiderado, que a teoria geral tinha uma mensagem mais profunda e fundamental sobre a maneira pela qual o capitalismo funciona, ainda que mencionada apenas de modo breve. O livro explicava por que as economias capitalistas, se deixadas sem controle, eram essencialmente instáveis. E explicava por que os governos precisavam exercer um papel de contrapeso para que as economias capitalistas funcionassem bem.

A chave para essa percepção era o papel atribuído por Keynes às motivações psicológicas das pessoas, em geral ignoradas pelos macroeconomistas. Ele as denominava "espírito animal" e acreditava que fossem especialmente importantes para determinar a disposição das pessoas em assumir riscos. Os cálculos dos empresários, disse ele, eram precários. "Nossa base de conhecimento para determinar o rendimento, daqui a dez anos, de uma ferrovia, uma mina de cobre, uma fábrica têxtil, o valor intangível de um remédio patenteado, um transatlântico, um edifício na City de Londres, é muito pequena e ocasionalmente inexistente." A despeito disso, as pessoas de alguma forma tomam decisões e agem. Isso "só pode ser compreendido como resultado do espírito animal". Existe um "ímpeto espontâneo de agir".

Há momentos em que as pessoas são espontaneamente aventurosas. As aventuras são sustentadas, nesses momentos, por uma fé jovial no futuro e pela confiança nas instituições econômicas. Isso representa a curva de alta no ciclo de negócios. Mas o espírito animal também pode se mover na direção oposta, quando as pessoas estão cautelosas demais.

Hoje, é possível tratar com muito mais clareza a base psicológica do espírito animal.

Por exemplo, psicólogos sociais demonstraram até que ponto as histórias e as narrativas, especialmente as de interesse humano, motivam o comportamento das pessoas. Essas histórias podem ter valor muito superior ao dos cálculos abstratos. Os humores econômicos das pessoas se baseiam em larga medida nas histórias que elas contam a si mesmas e umas às outras sobre o assunto.

Vimos histórias como essas surgindo e desaparecendo em rápida sucessão, nos últimos anos. Primeiro tivemos a bolha da internet e as histórias sobre jovens milionários que despertavam inveja em todos. Ela estourou em 2000, mas logo foi substituída por uma nova, dessa vez envolvendo pessoas que lucravam ao comprar e revender imóveis com esperteza.

Essa mania foi produto não apenas de uma história sobre pessoas mas de uma história sobre a forma como a economia funcionava. Era parte de uma história em que todos os investimentos em hipotecas securitizadas eram seguros, pois tanta gente inteligente estava envolvida. Todas aquelas pessoas invejáveis estavam adquirindo esse tipo de ativo e certamente os estavam verificando, portanto nós não precisaríamos fazê-los. Bastava acompanhá-las.

O que permitiu que essa mania e essas histórias persistissem por tanto tempo? Em larga medida, nós entramos na atual crise devido a uma teoria econômica incorreta, uma teoria que negava, ela mesma, o papel do espírito animal quanto a nos envolver em pânicos e manias.

Segundo a teoria "clássica" padrão, que remonta a Adam Smith e ao "A Riqueza das Nações", de 1776, a economia é essencialmente estável. Se as pessoas seguirem racionalmente os seus interesses econômicos, em mercados livres, exaurirão todas as oportunidades mutuamente benéficas de produzir bens e comercializar umas com as outras. Essa exaustão das oportunidades de comércio mutuamente benéfico resultaria em pleno emprego. Nos termos dessa teoria, o resultado não poderia ser diferente.

É claro que haverá alguns desempregados. Mas eles serão incapazes de encontrar emprego apenas porque estão temporariamente em busca de trabalho, ou porque insistem em receber salários irracionalmente altos. Desemprego assim é visto como voluntário, nos termos da teoria, e portanto não merecedor de simpatia.

A teoria clássica também nos diz que os mercados financeiros serão estáveis. As pessoas só realizarão transações que considerem benéficas para elas. Ao entrarem nos mercados, elas farão a lição de casa para garantir que aquilo que estão comprando vale o tanto que estão pagando.

O que essa teoria negligencia é que existem momentos nos quais as pessoas confiam demais. E tampouco leva em conta que, se puder fazê-lo com lucro, o capitalismo não produzirá apenas o que as pessoas realmente querem, mas o que elas pensam que querem. O sistema pode produzir os remédios de que as pessoas precisam. Isso é algo que as pessoas realmente querem. Mas, se puder fazê-lo com lucro, também produzirá aquilo que as pessoas consideram equivocadamente querer.

O capitalismo produzirá falsas poções. Não só isso: também poderá produzir o desejo por elas. Esse é um aspecto negativo dele. A teoria econômica padrão não levou em conta que compradores e vendedores de ativos poderiam não exercitar sua responsabilidade e que o mercado não estaria lhes vendendo seguros contra o risco dos títulos complexos que adquiriram, mas sim o equivalente financeiro a uma falsa poção.

Existe uma moral mais ampla nisso tudo quanto à natureza do capitalismo. Por um lado, queremos tirar vantagem da sabedoria de Adam Smith. Em sua maior parte, os produtos que o capitalismo fabrica são o que realmente desejamos, a um preço que estamos dispostos e temos condições de pagar. Por outro lado, quando a confiança é alta, e porque ativos financeiros são difíceis de avaliar por aqueles que os compram, as pessoas se dispõem a adquirir falsas poções, e o fazem. E quando isso é descoberto, como invariavelmente deve, a confiança desaparece e a economia se amarga.

É papel do governo garantir, em dois níveis, que eventos como esses não ocorram. Primeiro, ele tem o dever de regulamentar os mercados de ativos de modo a impedir que as pessoas sejam falsamente atraídas a adquirir ativos ilusórios. Padrões como esses para os produtos financeiros fazem tanto sentido quanto os impostos aos alimentos ou aos remédios que consumimos. Mas não queremos eliminar as boas partes do capitalismo quando excluímos as ruins. Para tirar vantagem das partes boas, quando flutuações ocorrem, é papel do governo garantir que aqueles que desejam e podem produzir aquilo que os demais querem comprar sejam capazes de fazê-lo. É papel do governo, portanto, manter o pleno emprego por meio de suas políticas fiscais e monetárias compensatórias.

Os princípios que embasam esse tipo de economia não são os mesmos que vigoram no modelo socialista. O governo, na medida do possível, está apenas criando as condições macroeconômicas que permitirão que a economia funcione bem.

Esse é o papel do governo.

Seu papel é garantir um "laisser-faire" sábio. Não se trata do capitalismo completamente aberto recomendado pela teoria vigente e que parece ter sido aceito como evangelho pelos planejadores econômicos e também por muitos economistas desde os governos Thatcher e Reagan. O capitalismo que propomos é um meio-termo significativo entre aqueles que veem os desastres econômicos e o desemprego do capitalismo descontrolado, por um lado, e aqueles que acreditam que o governo não deveria exercer qualquer papel, por outro.

A ideia de que o capitalismo descontrolado e desregulado invariavelmente produziria desfechos positivos era uma teoria econômica incorreta quanto à maneira pela qual as sociedades capitalistas se comportam e quanto àquilo que causa suas crises.

Essa teoria econômica incorreta não leva em conta a maneira como o espírito animal afeta o comportamento econômico e tampouco o papel das narrativas que despertam confiança e das falsas poções nas flutuações econômicas.

terça-feira, 10 de março de 2009

LULA NO FINANCIAL TIMES - CAPITALISMO

É claro que não poderia deixar de postar o artigo do nosso Presidente Lula, publicado no Financial Times. Divergências a parte, tenho sempre o hábito de ler os dois lados da moeda. E penso que não pode ser diferente, até para poder conhecer o outro lado.

The future of human beings is what matters By Luiz Inácio Lula da Silva Published: March 9 2009 19:52

For me, capitalism has never been an abstract concept. It is a real, concrete part of everyday life. When I was a boy, my family left the rural misery of Brazil’s north-east and set off for São Paulo. My mother, an extraordinary woman of great courage, uprooted herself and her children and moved to the industrial centre of Brazil in search of a better life. My childhood was no different from that of many boys from poor families: informal jobs; very little formal education. My only diploma was as a machine lathe operator, from a course at the National Service for Industry.

I began to experience the reality of factory life, which awoke in me my vocation as a union leader. I became a member of the Metalworkers’ Union of São Bernardo, in the outskirts of São Paulo. I became the union’s president and, as such, led the strikes of 1978-1980 that changed the face of the Brazilian labour movement and played a big role in returning democracy to the country, then under military dictatorship.

The impact of the union movement on Brazilian society led us to create the Workers’ party, which brought together urban and rural workers, intellectuals and militants from civil society. Brazilian capitalism, at that time, was not only a matter of low salaries, insalubrious working conditions and repression of the union movement. It was also expressed in economic policy and in the whole set of the government’s public policies, as well as in the restrictions it placed on civil liberties. Together with millions of other workers, I discovered it was not enough merely to demand better salaries and working conditions. It was fundamental that we should fight for citizenship and for a profound reorganisation of economic and social life.

I fought and lost four elections before being elected president of the republic in 2002. In opposition, I came to know my country intimately. In discussions with intellectuals I thrashed out the alternatives for our society, living out on the periphery of the world a drama of stagnation and profound social inequality. But my greatest understanding of Brazil came from direct contact with its people through the “caravans of citizenship” that took me across tens of thousands of kilometres.

When I arrived in the presidency, I found myself faced not only by serious structural problems but, above all, by an inheritance of ingrained inequalities. Most of our governors, even those that enacted reforms in the past, had governed for the few. They concerned themselves with a Brazil in which only a third of the population mattered.

The situation I inherited was one not only of material difficulties but also of deep-rooted prejudices that threatened to paralyse our government and lead us into stagnation. We could not grow, it was said, without threatening economic stability – much less grow and distribute wealth. We would have to choose between the internal market and the external. Either we accepted the unforgiving imperatives of the globalised economy or we would be condemned to fatal isolation.

Over the past six years, we have destroyed those myths. We have grown and enjoyed economic stability. Our growth has been accompanied by the inclusion of tens of millions of Brazilian people in the consumer market. We have distributed wealth to more than 40m who lived below the poverty line. We have ensured that the national minimum wage has risen always above the rate of inflation. We have democratised access to credit. We have created more than 10m jobs. We have pushed forward with land reform. The expansion of our domestic market has not happened at the expense of exports – they have tripled in six years. We have attracted enormous volumes of foreign investment with no loss of sovereignty.

All this has enabled us to accumulate $207bn (€164bn, £150bn) in foreign reserves and thereby protect ourselves from the worst effects of a financial crisis that, born at the centre of capitalism, threatens the entire structure of the global economy.

Nobody dares to predict today what will be the future of capitalism.

As the governor of a great economy described as “emerging”, what I can say is what sort of society I hope will emerge from this crisis. It will reward production and not speculation. The function of the financial sector will be to stimulate productive activity – and it will be the object of rigorous controls, both national and international, by means of serious and representative organisations. International trade will be free of the protectionism that shows dangerous signs of intensifying. The reformed multilateral organisations will operate programmes to support poor and emerging economies with the aim of reducing the imbalances that scar the world today. There will be a new and democratic system of global governance. New energy policies, reform of systems of production and of patterns of consumption will ensure the survival of a planet threatened today by global warming.

But, above all, I hope for a world free of the economic dogmas that invaded the thinking of many and were presented as absolute truths. Anti-cyclical policies must not be adopted only when a crisis is under way. Applied in advance – as they have been in Brazil – they can be the guarantors of a more just and democratic society.

As I said at the outset, I do not give much importance to abstract concepts.

I am not worried about the name to be given to the economic and social order that will come after the crisis, so long as its central concern is with human beings.

The writer is president of Brazil.

INDICAÇÃO - FINANCIAL TIMES - CAPITALISMO 2009

Aproveitando a dica do Nelson de Sá na Folha de S. Paulo, recomendo a leitura, direto no site do "Financial Times", da série "O futuro do capitalismo", com textos dos "maiores políticos, pensadores e analistas financeiros do mundo". O modelo de livre mercado que dominou o pensamento por 30 anos foi desacreditado. O Estado está de volta aos negócios e a sobrevivência de uma economia mundial aberta está em questão. Para onde ir?

Para não deixar dúvidas, mais à frente: A fé na ideologia do livre mercado que dominou o pensamento ocidental por uma geração foi destruída. Mas o que pode e deve tomar seu lugar? Editorial e coluna de Martin Wolf abriram a série e ontem apareceu no alto da home o link "Lula da Silva": "O futuro dos seres humanos é o que importa". Ele escreve de sua mãe, do sindicato de São Bernardo, para argumentar que, "para mim, o capitalismo nunca foi abstrato". E para indicar "o futuro do capitalismo" na recompensa à produção, não à especulação; sem protecionismo no comércio internacional; com um sistema democrático de governança global etc.

domingo, 1 de março de 2009

DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM"

Este blog é a minha casa na internet e quando leio um texto que, discordando ou não, considero inteligente, tenho o prazer de divulgar integralmente aos meus leitores, sem link para facilitar o acesso. Com vocês, artigo de GUSTAVO FRANCO na Folha de S. Paulo de hoje, comentando sobre os 15 anos do Plano Real.

PLANO REAL, 15

ONTEM, dia 28 de fevereiro de 2009, completamos 15 anos da publicação da medida provisória nº 434, que introduziu a URV (Unidade Real de Valor), uma formidável inovação que assumiu a forma de segunda moeda nacional, porém, como uma moeda apenas de conta - ou "para servir exclusivamente como padrão de valor monetário".

Em seu artigo 2º, a MP 434 já determinava que, quando a URV fosse emitida em forma de cédulas - e assim passasse a servir para pagamentos -, o cruzeiro real seria extinto e a URV teria seu nome mudado para real. A URV, portanto, era o real, que nasceu naquele momento e, quatro meses depois, em 1º de julho, teve a sua graduação bem-sucedida quando as novas cédulas e moedas do real foram colocadas em circulação.

Na época, dizia-se que o Plano Real, diferentemente dos outros planos econômicos, era um processo e que compreendia uma extensa agenda de ações contemplando os chamados fundamentos econômicos da estabilização e do desenvolvimento. Era uma linguagem inovadora para uma época em que as pessoas ainda acreditavam em milagres. Essa agenda era o cerne do programa. A passagem do tempo e a alternância no poder só tornaram mais claro que estávamos adotando paradigmas já bem assentados no tocante à disciplina monetária, à responsabilidade fiscal e à sustentabilidade financeira do Estado.

Não eram princípios tão polêmicos como a crítica da época fazia supor que fossem e, possivelmente, alguns de seus desdobramentos mais importantes naquelas difíceis circunstâncias - como a privatização, a reforma na Previdência e o Proer - poderiam ter passado mais tranquilamente, sobretudo se a oposição soubesse que governaria a seguir e que desfrutaria dos benefícios desses programas.

Mas a política é o reino das versões retorcidas, uma das quais - a tese da "herança maldita"- seguramente merece o Oscar no quesito efeitos especiais maliciosos e na categoria ingratidão. O fato é que, quando a oposição efetivamente virou governo, em 2002, e nada mudou nas linhas básicas dos princípios e programas acima enunciados, ficou claro que tínhamos experimentado uma espécie de convergência no plano das políticas macroeconômicas. Na verdade, esse foi o grande enredo do décimo aniversário em 2004: tínhamos uma moeda digna desse nome sem que isso se transformasse em evento partidário.

Aos 15 anos, tudo isso é ainda mais verdadeiro - e confuso. Permanece ainda mais desafiador um sofisma de autoria que pode ser descrito nos seguintes termos: o PT construiu uma versão falsa do que foi a coisa, que o partido atacou e depois, ao herdá-la, "consertou" para o que é hoje e, assim, toma a obra como sua. Já o PSDB gagueja ao reafirmar que a coisa era o que realmente era - e que era sua - e era o que é hoje, pois, ao defender o que é seu, alinha-se ao que o PT hoje tem como seu. Complexo, não?

Mais complexo é atinar para o seguinte: se os governos são difíceis de serem diferenciados quando se trata de princípios macroeconômicos básicos, se o Banco Central e o Tesouro não são cargos partidários, onde está, afinal, a diferença? Agora que já estamos aquecendo os motores para a sucessão do presidente Lula, essas perguntas se tornam mais pertinentes. E as respostas precisam começar com as circunstâncias, que, na política, são tudo ou 80% de tudo.

Os governos bons acabam sendo do tamanho dos desafios que enfrentam, exceto quando ganham na loteria e praticam o surfe. É claro que o surfe é popular, basta olhar à nossa volta, na vizinhança latina, e ver as flores da bolha internacional, a plêiade de fanfarrões e populistas torrando o que poderia ser a oportunidade de um salto qualitativo. Felizmente, não é o nosso caso.

A despeito de alguns pecadilhos, é bastante claro o compromisso do presidente Lula nos terrenos da disciplina monetária, da responsabilidade fiscal e da sustentabilidade financeira do Estado. Uma expressão operacional desse compromisso - a "tríade" que compreende metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário- vinha e vem sendo adotada à risca desde que foi introduzida em 1999 no contexto do acordo com o FMI.

É claro que Lula, como FHC, tem prioridades adicionais no campo social, mas ambos aprenderam que nenhuma política social terá efetividade se produzir, simultaneamente, um imposto sobre o pobre na forma de inflação. É fato que, até agora, estamos nos saindo relativamente bem na crise, mas não devemos perder de vista que isso tem pouco a ver com o PAC ou com o Fundo Soberano do Brasil: tem a ver com o fato de termos seguido políticas ortodoxas e reformas gerais e setoriais, com destaque para o Proer, que vem melhorando nossos fundamentos há 15 anos.

Essa consistência, nada comum na nossa história recente, vale celebrar sem preconceitos.

GUSTAVO FRANCO , economista e empresário, doutor em economia pela Universidade de Harvard (EUA), é sócio e diretor da Rio Branco Investimentos e professor do Departamento de Economia da PUC-RJ. Foi diretor de assuntos internacionais (1993-1997) e presidente do Banco Central do Brasil (1997-1999).

sábado, 17 de janeiro de 2009

ESTE BLOG ESTA TOP NA TROPPO DO O LIBERAL

Meu muito obrigado a minha colega de blogosfera jornalista Rejane Barros pela citação do nosso blog em sua famosa coluna na revista TROPPO do O LIBERAL.

Leitor semanal de sua excelente coluna, onde ficamos atualizados com o que acontece de melhor em Belém, a Rejane tem agora a sua coluna virtual no http://colunadarejane.blogspot.com/ onde também brilha em seus posts.

Valeu Rejane.

PAULO FRANCIS E O CAPITALISMO

Em 04/06/1988, Paulo Francis escreveu na Folha de S. Paulo que "NÃO HÁ PAÍSES RICOS NÃO DEMOCRÁTICOS." Mais de 20 anos depois a frase continua atual e verdadeira.

Entretanto, quando na mesma Folha, em 03/06/1989 ele escreveu que "O QUE FAZ A RIQUEZA DOS PAÍSES É A GANÂNCIA. OS EMPRESÁRIOS QUEREM LUCRO E, QUANDO O OBTÊM, CRIAM UMA SÉRIE DE COMBINAÇÕES NA SOCIEDADE, SUSCITAM UMA ATIVIDADE ECONÔMICA QUE ACABA ENRIQUECENDO O PAÍS COMO UM TODO." Pena que dessa vez o inteligente intelectual Paulo Francis não acertou toda a frase. Como diz o meu colega de blogosfera Celso Rocha de Barros no seu http://napraticaateoriaeoutra.org: na prática a teoria é outra.

20 anos depois, se vivo estivesse, ele estaria vendo uma crise financeira global, resultado da ganância de alguns no mercado imobiliário e financeiro, aliado com a complacência da ineficiente fiscalização do poder do Estado. Francis, seu entendimento estava quase certo. Faltou apenas acertar com os "jogadores".

domingo, 11 de janeiro de 2009

O PRESIDENTE E A REVISTA PIAUÍ nº 28

Um dos assuntos mais comentados na semana foi a matéria que o jornalista Mario Sergio Conti, diretor de redação da revista PIAUÍ fez com o Presidente Lula: "O primeiro e o terceiro poder - Azia, ou o dia da caça."

Na reportagem ficamos sabendo (de novo) que o Nosso Guia não lê blogs, nem sites, nem jornais, nem revistas. E não é por falta de tempo. Simplesmente não lê porque "eu tenho problema de azia".

Para encerrar cita que gosta de Eli Gaspari - Clóvis Rossi - Janio de Freitas - Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim. Não gosta de Merval Pereira - Ali Kamel e Diogo Mainardi.

Diante disse, recordo de Nixon quando disse que "O inimigo é a imprensa."

domingo, 4 de janeiro de 2009

LULA NA NEWSWEEK - 2008/2009

Na edição da NEWSWEEK que está nas bancas e na qual cita a nova elite global, está lá na página 39, o nosso Luiz Inácio Lula da Silva - President, Brazil.

Conforme a revista "Economists groaned when the hirsute former union man took office in 2003, but soon they were gasping instead. Brazil, once at the edge of ruin, now has $ 207 billion in Treasury reserves and the lowest inflation rate in the developing world. Thanks to Lula's fiscal smarts, Brazil is among the world's healthiest emerging economies".

Nada como uma "herança maldita" para manter e produzir bons resultados. É o que ouvimos na época do Clinton em 1992: "É a economia, estúpido". E a popularidade chegando ao Everest...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

REVISTA EXAME - 2009

Acabo de receber a EXAME com a feliz data de 31/12/2008, UM ANO PARA FICAR NA HISTÓRIA. Cláudia Vassallo, na sua Carta ao Leitor, consegue ser realista e otimista. Para ela (e eu concordo integralmente), "este ano mudou o mundo e nos deu uma lição de humildade. Cisnes Negros (de novo o livro que estou lendo) continuarão a surgir na economia sem que tenhamos capacidade de antever sua aparição. Continuaremos a ser surpreendidos por eles, sem que isso seja necessariamente ruim. ECONOMISTAS, analistas financeiros, gurus, acadêmicos, NINGUÉM conseguiu desenhar os contornos que o mundo tomaria após o anúncio da quebra do LEHMAN BROTHERS."

Humildade é a própria EXAME reconhecer através de sua Diretora de Redação que também "nós, jornalistas de EXAME cometemos erros". E encerra sua carta com o otimismo de que "não é preciso ser sábio ou profeta para dizer, hoje, que 2009 será tão ou mais emocionante que 2008." E que muitas profecias ruins não se cumpram...

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...