Discurso de BETO STUDART Presidente da Federação da Indústrias do Estado
do Ceará- FIEC na recepção à presidente Dilma em Fortaleza em 28/08/2015:
Exma. Senhora Presidente Dilma Rousseff, Exmo. Sr. Ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Amigo Armando Monteiro, Exmo. Sr.
Ministro do Planejamento Nelson Barbosa, Exma. Sra. Ministra Kátia Abreu, Exmo.
Sr. Governador do Estado do Ceará, amigo Camilo Santana,
Amigos empresários...
Estamos muito satisfeitos em fazer parte desse momento importante do
nosso Estado, quando o governador Camilo Santana anfitriona a Presidente Dilma
Roussef e sua comitiva, e reúne tantas pessoas de diferentes setores da
economia, de diferentes pensamentos, em um grande evento cujo título é tão
simbólico quanto esperançoso. Este "Dialoga Ceará" diz muito de nós,
cearenses, sempre abertos, prontos a receber, animados em construir laços, em
interagir, em unir para crescer.
Porém, devo dizer que essa satisfação com a qual nos encontramos nesta
tarde, está longe de ser o sentimento do nosso cotidiano, porque o cenário que
nós, do setor produtivo brasileiro, enfrentamos, não nos permite maiores
lampejos de euforia.
Mas é com um enorme senso de responsabilidade que enalteço, em nome da
Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC e dos industriais do nosso
Estado, a oportunidade de nos fazer ouvir pela Presidente Dilma Roussef e
alguns de seus mais importantes ministros.
Graças à capacidade aglutinadora, ao espírito público e à visão coletiva
do nosso governador, e também ao empenho do Ministro Armando Monteiro, esse
momento se fez possível. Deste encontro, não seria honesto dizer que esperamos
obter respostas para todos os problemas que se avolumam sobre nós. Mas é nosso
dever registrar, de modo franco, de peito aberto, o descontentamento diante do
quadro econômico nacional. É nossa missão trazer à tona aquilo que enxergamos como
equívocos que devem ser corrigidos, e cobrar, direta e energicamente, uma
tomada de posição imediata e assertiva para salvar nosso país e para aventar
uma retomada do crescimento, ainda que num prazo não tão breve.
De modo geral, nós, industriais, nos vangloriamos de sermos visionários,
somos tidos como otimistas, mas, no dia a dia, estamos vendo esta essência ser
arrancada de nós. Mais especificamente nos últimos meses, tem sido doloroso
empreender no Brasil, tem sido torturante produzir, tem sido impossível manter
a confiança de que sairemos inteiros destas dificuldades.
Vimos acumular queda na produção industrial brasileira em torno de -6,5%
nos últimos seis meses, e de -8% no Ceará, numa consequência direta da terrível
redução da demanda nacional e também por força de problemas estruturais da
economia, que reduzem drasticamente a competitividade dos produtos nacionais,
em inúmeros setores da nossa indústria.
No que se refere ao emprego, além dos números propriamente ditos, nos
assombra a velocidade com que tem acontecido as perdas dos postos de trabalho,
denotando quanto essa crise pode alongar-se. Apenas neste ano, no Brasil, foram
quase 400 mil demissões, num reflexo da ociosidade da produção e das incertezas
econômicas.
No nosso Estado, foram suprimidas 35 mil vagas na Indústria, o que
representa cerca de 10% de um universo já restrito de 350 mil empregos no nosso
setor. Se esses números não são ainda maiores, é porque parte do empresariado
conseguiu minimizar demissões com alguns artifícios, como a utilização de
férias coletivas e o uso de banco de horas. Mas esse lastro já está sendo
consumido em mais e mais empresas, e, portanto, o drama do desemprego pode ser
ainda mais profundo.
Na construção civil, por exemplo, setor dos mais fortes, entre os maiores
empregadores, especialmente no nosso
Estado, os sucessivos atrasos dos pagamentos referentes ao Projeto Minha Casa
Minha Vida, chegando a R$ 160 milhões, impactam irremediavelmente sobre as
construtoras. Caso não seja feita a devida regularização, estimamos que haja,
já na próxima semana, uma leva de 4 mil novas demissões que se somarão a outras
5 mil já realizadas por este segmento econômico, apenas no Ceará.
No setor metal-mecânico, o cerco também está apertando, fazendo com que
entre em forte desaceleração. Outros setores importantíssimos, como couro,
calçados, confecções e alimentos também sentem fortemente o golpe da recessão e
engrossam as fileiras dos setores em declínio.
Presidente Dilma, como é de conhecimento, por mais de 70 anos, o Nordeste
tem mantido o PIB per capita médio inferior a 50% do PIB per capita brasileiro.
Este é um desempenho muito aquém do potencial da nossa região, e não podemos
aceitar continuar nesse patamar, porque nós podemos muito mais, podemos gerar
riqueza para nossa sociedade, temos muito mais a oferecer para o Brasil.
Perceba, Presidente Dilma Roussef, é um sofrimento analisar o passado
recente, é angustiante viver o presente, mas o pior tem sido o desalento ao
olhar para frente. Afinal, como podemos ser otimistas, se nos vemos obrigados a
cortar empregos, enquanto o Governo se arrasta nos ajustes da máquina pública e
nos traz de volta a malfadada CPMF que dispensa comentários?
Respostas retóricas não nos bastam. Otimismo não recupera-se com o verbo.
Precisamos de ação, de urgência, de foco, de verdade! Estamos aqui, abertos ao
diálogo, mas palavras não nos convencem. São as atitudes efetivas que poderão
nos reerguer.
Atitudes corajosas como uma reforma significativa na máquina pública,
hoje reconhecidamente ineficiente, não demitindo apenas 1.000 pessoas, como
divulgado, que é um montante irrelevante, mas fazendo um estudo profundo da
real necessidade de corte para tornar o Estado eficiente. O superávit não vem
pela ampliação de impostos, seria catastrófico, e sim por uma grande
racionalização da máquina pública evitando desperdícios.
A verdade é que, efetivamente, o Governo Federal ainda não apresentou as
saídas adequadas para esse momento agudo da economia. Para corroborar, tivemos
hoje a confirmação da recessão, que sentíamos na própria pele há tempos e que
nos devasta.
Para não dizer que só há desesperança, Presidente, ressalto o prenúncio
da chegada das águas do Rio São Francisco ao Canal da Transposição, num feito histórico
que trará a segurança do abastecimento de água para a população e para
atividades produtivas de vários estados do Nordeste e, em particular, para o
nosso Ceará.
Ainda que o volume liberado seja muito pequeno em relação à
disponibilidade, vislumbrar que as obras se completem até o próximo ano, é um
acalanto para nossa população. Mas é preciso que os prazos se cumpram, porque
os efeitos da estiagem no nosso sertão já são sentidos e são verdadeiramente
cruéis.
Outra obra da maior importância para o Nordeste é a Transnordestina, que
vai permitir maior competitividade na produção agrícola e mineral da região,
numa transformação positiva da nossa logística. A viabilização de sua
continuidade e a sua conclusão significam uma grande abertura de oportunidades
econômicas para regiões semi-áridas antes sem perspectiva. Também pelo ritmo
atual das obras, é imperativo que o Governo Federal assegure sua continuidade.
Presidente, não permita que se instale a indústria de recuperação
judicial, RJ, entre os empresários do nosso Estado, na eminência de acontecer,
e colabore, por favor, com o governador Camilo Santana para que ele possa dar
continuidade aos seus projetos estruturantes, fundamentais para o nosso
desenvolvimento, saindo do marasmo atual.
Por fim, Presidente Dilma, meus amigos, ainda que encobertos por toda
essa névoa de desencantamento e sob a sensação de navegarmos num barco sem
leme, nós somos todos brasileiros e, como sabemos, não desistimos nunca.
É por isso que estamos aqui reunidos hoje, desejando fortemente que Deus
ilumine a todos, e a senhora em particular, para que, enfim, possa ser
encontrado o caminho para dias melhores.
Muito obrigado.
BETO STUDART