domingo, 7 de dezembro de 2014

Vitória amarga.

Fernando Henrique Cardoso, hoje em seu artigo dominical.  

Raras vezes houve vitória eleitoral tão pouco festejada. Nem mesmo o partido da vencedora, tonitruante e dado a autocelebrações, vibrou o suficiente para despertar o país da letargia.

Os mais espertos talvez tenham percebido que seus quadros minguaram, com graves perdas de entusiasmo e adesão na juventude e certo rancor em setores do empresariado mais moderno.

A reeleita possivelmente saboreie o êxito com certo amargor. É indiscutível a legalidade da vitória, mas discutível sua legitimidade. O que foi dito durante a campanha eleitoral não se compaginava com a realidade.

Só mesmo seu ministro da Fazenda, que coabita com o novo ministro designado, pôde dizer de cara lavada que a economia saíra da estagnação e que os males que a assolam vêm da crise mundial.

Recentemente, fazendo coro a esta euforia de encomenda, diante de dados que mostram um “crescimento” de 0,1% do PIB no trimestre passado, houve a repetição da bobagem: finalmente a economia teria saído da “recessão técnica”, de dois ou mais trimestres seguidos.

Palavras, palavras, palavras, que não enganam sequer aos que as estão pronunciando.

Na formação do novo gabinete, a presidenta começou a atuar (escrevo antes que a tarefa esteja completa) no sentido de desdizer o que pregara na campanha. Buscou um tripé “de direita” para o comando da economia.

Na verdade, o adjetivo é despiciendo: a calamidade das contas públicas levou-a a escolher quem se imagina possa repô-las em ordem, pois sem isso não existe direita nem esquerda, mas o caos.

Menos justificável, senão pela angústia dos apoios perdidos, é a composição anunciada do resto do Ministério de cunho mais conservador/clientelístico. Esperemos.

A presidenta, com esta reviravolta, deve sentir certa constrangedora falta de legitimidade. Foi a partir da ação dela na Casa Civil, e daí por diante, que se implantou a “nova matriz econômica”: mais gastança governamental e mais crédito público, à custa do Tesouro.

Foi isso que não deu certo, e serviu de alavanca para outros equívocos que levaram o governo do PT a perder a confiança de metade do país. Sem falar da quebra moral.

Metade, sim, mas que metade? É só ver os dados eleitorais com maior minúcia, município por município: a oposição ganhou, em geral, nas áreas mais dinâmicas do país, inclusive nas capitais onde há sociedade civil mais ativa, maior escolaridade, capacidade empreendedora mais autônoma e menos amarras aos governos.

O lulopetismo, nascido no coração da classe trabalhadora do ABC, recuou para as áreas do país onde a ação do governo supre a ausência de uma sociedade civil ativa e de setores produtivos mais independentes de decisões governamentais.

É falaciosa a afirmação de que houve vitória da oposição em áreas geográficas tomadas isoladamente: Sudeste rico em contraposição ao Nordeste pobre, idem quanto ao Sul ou quanto ao Centro-Oeste em relação ao Norte. Ou de ricos contra pobres, à moda lulista.

Por certo, como há maior concentração da pobreza nas áreas mais dependentes do assistencialismo governamental, houve, de fato, uma distinção na qual as faixas de renda pesam. Mas os sete milhões de dianteira que Aécio levou sobre Dilma em São Paulo terão sido “dos ricos”? Absurdo.

Nas áreas menos dependentes do governo, ricos e pobres tenderam a votar contra o lulopetismo; nas demais, a favor de Dilma, ou melhor, do governo.

A votação na oposição no Acre, em Rondônia, em Roraima ou nas capitais do Norte e Nordeste se explica melhor pelo dinamismo do agronegócio e pelos serviços que ele gera, e, no caso das capitais, pela maior autonomia de decisão das pessoas.

Este o xis da questão. Eleito com apoio dos mais dependentes (não só dos mais pobres, mas também dos dependentes “da máquina pública” e das empresas a ela associadas), o “novo” governo precisa fazer uma política econômica que atenda aos setores mais dinâmicos do país.

Vem daí certa tristeza na vitória: a tarefa a ser cumprida seria mais bem realizada com a esperança, o ânimo e o compromisso de campanha dos que não venceram.

Cabe agora aos vitoriosos vestir a camisa de seus opositores (como Lula já fez em 2003), continuar maldizendo-nos e fazendo malfeito o que nós faríamos de corpo e alma, portanto, melhor. Atenção: a economia não é tudo. Menos ainda um ajuste fiscal.

O êxito de uma política econômica depende, como é óbvio, da política. Economia é política. Política exige convicção, capacidade de comunicar-se, mensagem e desempenho.

No Plano Real, coube-me ser o arauto, falar com a sociedade, ir ao Congresso, convencer o próprio governo. O presidente Itamar Franco teve a sabedoria de indicar o embaixador Ricupero para me suceder, que fez o mesmo papel.

E agora, quem desempenhará a função de governar numa democracia, isto é, obter o apoio, o consentimento, a adesão dos demais atores políticos? Do Congresso, das empresas, dos sindicatos, das igrejas, da mídia, numa palavra, da sociedade.

A presidenta Dilma, mulher sincera, ciosa de suas opiniões, terá condições para se transmutar em andorinha da mensagem execrada por ela e sua grei? A nova equipe econômica terá esse perfil ou se isolará no tecnicismo?

O “petrolão” será uma ventania ou um tufão a derrubar as muralhas do governo e da “base aliada”? E a oposição se oporá de verdade, ou embarcará no tecnicismo e na boa vontade à espera de que o “mercado”, sobretudo o financeiro, acalme-se e que tudo volte à moda antiga? O mesmo se diga de cada setor da sociedade.

É mais fácil rearranjar a economia do que acertar a política. Que fazer com essa quantidade de partidos e ministérios, interligados mais por interesses, muitos dos quais escusos?


Sem liderança, nada a fazer. Com miopia eleitoreira, menos ainda. Tomara não sejam os juízes os únicos a purgar nossos males, como ocorreu na Itália, até porque no exemplo citado o resultado posterior, a eleição de um demagogo como Berlusconi, não foi promissor.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Economia brasileira: adeus 2015. Feliz 2016!

Nestes dias já tão próximos de 2015 e da nova posse em Brasília da presidente Dilma Rousseff, nossas orações e pensamentos estão direcionadas para que a nova equipe de governo consiga para este segundo mandato, o que não se conseguiu durante o período de 2011 a 2014.

Em que pese o esforço do governo na inclusão social das classes menos favorecidas, lamentavelmente os números econômicos não brilharam tanto nestes últimos anos. A relevância da taxa de desemprego em sucessivas quedas, estimando-se 5,1% para este ano, não condiz com um cenário macroeconômico de pífio crescimento e desenvolvimento.

A mediocridade do resultado do PIB esperado para 2014, algo em torno de zero, é frustrante para uma nação com mais de duzentos milhões de habitantes. Enquanto isso, a inflação registra a sua deletéria presença diariamente e a meta de 4,5% ao ano é algo que a equipe econômica efetivamente não conseguiu atingir, mesmo com o forçoso represamento de preços e tarifas.

O Banco Central ainda tenta manter a taxa de câmbio sob controle, porém estudos demonstram a real possibilidade de em 2015 a cotação R$/US$ atingir rapidamente os R$ 3,00.

Neste final de ano, para tentar sinalizar uma política monetária ortodoxa e demonstrar uma independência que efetivamente ainda não possui, o Banco Central eleva mais uma vez a taxa Selic de 11,25% para 11,75% ao ano. Para quem iniciou o governo com 10,75% de taxa Selic, a presidente não deve ter ficado muito feliz.

Enquanto o saldo da balança comercial para o final de 2014 chega a quase zero, o saldo em contas correntes estoura em quase US$ 80 bilhões.

E um governo que promoveu gastos e mais gastos em um ano de eleições presidenciais, não poderia realmente fechar bem suas contas contábeis, mesmo mantendo uma contabilidade para lá de criativa. E esquecendo que ainda possa existir algum superávit primário em 2014, o que nos restará será mais um aumento da dívida pública líquida (% PIB) para cerca de 35,5%.


Diante de tantos indicadores negativos, que os votos de um feliz 2015 já sejam acrescidos de um pedido para que 2016 não demore muito.

Best books of 2014 - The Economist.

Economics and business: 
Capital in the Twenty-First Century. By Thomas Piketty. Belknap Press; 696 pages; $39.95 and £29.95. Buy from Amazon.com<http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/067443000X/theeconomists-20>; Amazon.co.uk<http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/ASIN/067443000X/economistshop-21>
An unlikely bestseller by a French economist, who, by looking at historical changes in the concentration of income and wealth, shows that the importance of wealth in modern economies is approaching levels unseen since before 1914.

The Forgotten Depression, 1921: The Crash that Cured Itself. By James Grant. Simon & Schuster; 254 pages; $28. Buy from Amazon.com<http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/1451686455/theeconomists-20>; Amazon.co.uk<http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/ASIN/1451686455/economistshop-21>
A study of the searing 1920s by the founder of a well-regarded financial newsletter. It sheds light on a nasty, but largely ignored, episode and demonstrates that a laissez-faire approach can cure slumps better than the government activism of the 1930s-or indeed 2008.

Brazil: The Troubled Rise of a Global Power. By Michael Reid. Yale University Press; 334 pages; $32.50 and £20. Buy from Amazon.com<http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/0300165609/theeconomists-20>; Amazon.co.uk<http://www.amazon.co.uk/exec/obidos/ASIN/0300165609/economistshop-21>

Our former Americas editor, now the Bello columnist, analyses the troubled rise of a global power and looks at the challenges that lie ahead.

The status of economists: The power of self-belief.

"IF ECONOMISTS could manage to get themselves thought of as humble, competent people, on a level with dentists, that would be splendid!" said John Maynard Keynes, a British economist. Despite their collective failure to predict the financial crisis, let alone follow Keynes's injunction, economists are still very influential. They write newspaper columns, advise politicians and offer expensive consulting services to business-folk far more than other academics. A new paper* tries to explain why.
One reason, say the authors, is that economists have come to believe that they are superior. A survey in 1985 found that just 9% of graduate students in economics at Harvard strongly believed that economics was "the most scientific of the social sciences". But as economics became ever more mathematical, its practitioners grew in self-confidence. By 2003 54% of the graduate economists studying at Harvard strongly agreed with the statement. A glance at a popular blog for doctoral students in economics, econjobrumors.com, gives a taste of the contempt in which its users hold other disciplines. Sociologists "play around with big important ideas without too much effort or rigour," one econo-nerd asserts.
The authors point out that economists demonstrate their self-belief in subtler ways too. Articles in the American Economic Review cite the top 25 political-science journals one-fifth as often as the articles in the American Political Science Review cite the top 25 economics journals. Another study found that American economics professors were less likely than their peers in other subjects to agree with the notion that "interdisciplinary knowledge is better than knowledge obtained by a single discipline."
The odd thing, the authors argue, is that we believe in economists almost as much as they believe in themselves. Journalists and politicians seek strong arguments and clear answers. Most academics are reticent types: historians, for instance, question whether you can learn anything from history. "For a moderate fee," jokes Deirdre McCloskey, an economic historian, "an economist will tell you with all the confidence of a witch doctor that interest rates will rise 56 basis points next month or that dropping agricultural subsidies will increase Swiss national income by 14.8%."

* "The superiority of economists<http://pubman.mpdl.mpg.de/pubman/faces/viewItemOverviewPage.jsp?itemId=escidoc:2071743:2>", by M. Fourcade, E. Ollion and Y. Algan, MaxPo Discussion Paper 14/3.

Adolfo Sachsida: um exemplo para Brasília.


Receber a Folha de S. Paulo e visualizar a imagem do colega Adolfo Sachsida sendo retirado à força do interior do Congresso Nacional é de aterrorizar um democrata.
Sachsida é um competente economista, com sólida bagagem acadêmica, funcionário do IPEA e foi professor nos Estados Unidos.
A infante democracia brasileira não merece conviver com uma cena tão desastrada.
É fato que atualmente o Brasil perpassa por um momento político e econômico que desanima a sociedade e com o agravante da falta de lideranças capazes de transformarem ideias em realidades.

É neste momento que conclamo os homens de bem deste país, dos setores públicos e privados, a unirem-se em um governo de coalização nacional que busque trabalhar pelo país e não por um partido político, com o simples propósito de proporcionar as próximas gerações os benefícios que a nossa geração está desperdiçando.

Copom eleva a taxa Selic para 11,75% ao ano.

Brasília – O Copom decidiu, por unanimidade, intensificar, neste momento, o ajuste da taxa Selic e elevá-la em 0,50 p.p., para 11,75% a.a., sem viés.
Considerando os efeitos cumulativos e defasados da política monetária, entre outros fatores, o Comitê avalia que o esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com parcimônia.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques.
Brasília, 3 de dezembro de 2014
Banco Central do Brasil
Assessoria de Imprensa

(61) 3414-2808

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

London Business School - a melhor da Europa.

Leio no VALOR matéria do Financial Times sobre a melhor escola de negócios da Europa. 

A britânica London Business School foi escolhida a melhor escola de negócios da Europa, segundo ranking do jornal "Financial Times" publicado neste domingo (30). É a primeira vez que ela sobe ao topo da lista desde 2005.

A francesa HEC Paris e a espanhola IE Business School, que no ano passado empataram em primeiro lugar, ficaram neste ano com a segunda e terceira posição, respectivamente. Suíça e Itália também tiveram instituições incluídas no top 10.

Segundo pesquisa do jornal com mais de 1.500 alunos formados entre 2010 e 2011, 40% sentiram impacto negativo na carreira decorrente das baixas taxas de crescimento econômico da Europa. Entre eles, 67% citam menos vagas de emprego, 41% encontraram pouca oportunidade de promoção e 36% reportam remuneração e bônus mais baixos. Mas 77% acreditam que as habilidades adquiridas nas escolas de negócios ajudaram a lidar com o cenário econômico, e 40% receberam acesso a eventos de networking e conselhos de carreira por meio das instituições.

Ainda assim, cerca de um terço dos ex-estudantes que vivem na Europa consideram mudar para outro país dentro de um ano em busca de mais oportunidades de crescimento. O Estados Unidos é opção mais citada. 

Educação: a força de um cearense.


Para um mês de festas, uma notícia que somente poderia acontecer no meu Ceará. 
A força do João é orgulho de todo brasileiro que ama educação.

Parabéns. 

domingo, 30 de novembro de 2014

Dilma Rousseff: o que esperar para 2015.

Neste último dia de novembro, realmente o cenário que espera a presidente Dilma a partir de 01/01/2015 não é dos melhores.

Como não existe almoço grátis, a presidente tem a obrigação de, em benefício da sociedade brasileira, efetivamente optar pelo único caminho que possa levar o Brasil ao caminho do crescimento com distribuição de renda.

Para isso, Dilma Rousseff enfrentará aliados inimigos e críticas nem sempre sinceras, mas se o dever de casa for feito da maneira correta, a presidente poderá, ao final de seu governo em 31/12/2018, apresentar números que mostrem o país com crescimento sustentável, uma inflação até abaixo da meta de 4,5% e com as contas públicas controladas, ou seja, nada de gastar mais do que arrecadar.

Hoje os indicadores são ruins, com um PIB estimado para 2014 de apenas 0,30%, a inflação fechando o ano bem acima da meta de 4,50%, o déficit em conta corrente em U$$ 84 bilhões e o resultado primário do setor público fechando 2014 com um déficit de R$ 12 bilhões.

Esperamos que a nova equipe econômica composta pelo Joaquim Vieira Ferreira Levy no Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Ministério do Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central possa orientar a presidente a adotar medidas mais duras, mesmo que possam, nestes momentos iniciais, diminuir a sua popularidade.


Afinal, a eleição acabou!       

sábado, 29 de novembro de 2014

Rio Piracicaba: um pouco antes e depois!

E que neste final de 2014, as águas retornem, finalmente, ao leito do Rio Piracicaba. 






Thomas Piketty em detalhes.

Leio nesta semana no portal UOL mais uma entrevista com o agora célebre THOMAS PIKETTY.
No dia em que o governo brasileiro oficializou um novo ministro da Fazenda simpático ao mercado, o economista francês Thomas Piketty, autor do best-seller "O Capital no Século 21", afirmou considerar um erro pensar que o Brasil precisa de mais mercado e menos intervenção na economia.
Piketty, que está no Brasil para promover o livro que lhe rendeu status de celebridade no debate econômico, não quis discutir especificamente a nova equipe econômica, mas afirmou que "seria um erro pensar que o Brasil fez demais na área social e para reduzir a desigualdade".
Em seu livro, o francês sustenta que a desigualdade voltou a aumentar nas últimas décadas, beneficiando herdeiros e prejudicando a ascensão social, o que colocaria em risco a democracia.
Em entrevista à Folha, Piketty, que já foi citado em discurso pela presidente Dilma Rousseff, reclamou que dados de má qualidade fazem com que a desigualdade brasileira seja subestimada, e sua redução, alardeada pelo governo, talvez exagerada.
Folha - Recentemente, Dilma disse que o Brasil vai contra a corrente internacional de alta da desigualdade que seu livro aponta. O sr. concorda?
Thomas Piketty - Políticas de educação e transferências sociais como as que foram aplicadas em certa medida no Brasil nestes dez últimos anos podem permitir ir contra a corrente de aumento da desigualdade, mas ela realmente diminuiu?
Não é tão certo, é possível que tudo tenha sido puxado para cima, inclusive os mais pobres, mas não necessariamente em maior proporção que os mais ricos.
A forma como medimos a desigualdade sem dúvida a subestima. No Brasil, ela é sem dúvida ainda mais alta do que muitas estatísticas oficiais dizem porque a maior parte delas se baseia em pesquisas familiares com autodeclaração. O problema dessas pesquisas é que temos tendência a subestimar o topo da distribuição. Infelizmente, tem sido muito difícil acessar os dados fiscais do Brasil.
Falta transparência?
Estudo recente (de pesquisadores da Universidade de Brasília) sugere que, se utilizamos dados fiscais, o nível das desigualdades no Brasil aumenta. Não sabemos muitas coisas sobre a distribuição da renda no Brasil e precisamos de mais transparência para ver melhor em que medida os diferentes grupos sociais se beneficiam do crescimento.
É evidente que todo o mundo se beneficiou do crescimento dos últimos 15 anos. Agora, em qual proporção exatamente os diferentes grupos se beneficiaram dele não sabemos muito bem. É possível que se tenha exagerado um pouco a [divulgação da] redução das desigualdades no Brasil.
Dilma também disse preferir investir em consumo e educação para lutar contra desigualdade a fazer taxação, como o sr. defende. Isso é suficiente?
Também é preciso reforma fiscal, de um imposto progressivo sobre a renda e sobre o patrimônio. Precisamos da reforma fiscal para financiar a educação. Acrescento que uma parte das desigualdades grandes do Brasil se explica pela relativamente baixa progressividade do sistema fiscal.
Como seria a reforma?
A faixa mais alta de Imposto de Renda no Brasil é de 27,5%, inferior à menor dos Estados Unidos. Creio que uma das razões pela qual há muito desigualdade no Brasil é a progressividade de IR relativamente baixa. Há também muitos impostos indiretos, que são regressivos e pesam sobre as camadas populares.
É importante também tratar de forma diferente as rendas anuais de R$ 100 mil e de R$ 1 milhão, R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. Poderíamos ter faixas mais elevadas, de 50%, 60%.
Como na sua França natal?
Também como os EUA, o Reino Unido, a Alemanha, que têm taxas que vão até 40%, 50%. É ainda mais impressionante o imposto sobre herança, 4% [na maioria dos Estados] é realmente baixo, muito perto de zero.
É possível ter uma economia dinâmica e sistema capitalista próspero com imposto sobre herança alto. Para as novas gerações que não têm patrimônio familiar e procuram comprar apartamento em São Paulo, é muito difícil se você só tem a renda de seu trabalho. Não é normal que você ganhe R$ 100 mil por ano com seu trabalho e pague muito mais de imposto do que se você recebesse R$ 100 mil de herança de sua família.
O governo oficializou uma nova equipe econômica com um ministro da Fazenda mais ligado ao mercado e vindo de uma escola liberal. Que avaliação o sr. faz disso?
Não conheço o contexto político brasileiro, não posso me pronunciar. Quem quer que seja colocado no comando da política, qualquer que seja a orientação, os níveis de desigualdade muito altos que temos no Brasil devem ser questionados e tratados pelo governo, assim como a baixa progressividade do sistema fiscal.
Mas abordagem liberal e pró-mercado é boa ideia para enfrentar tais desafios?
Precisamos de mercado e também de poder público que tome decisões que permitam a cada um de se beneficiar da globalização e dos mercados.
Eu tento ir além dessas oposições um pouco teóricas e ideológicas. Creio que que seria um erro pensar que o Brasil fez demais na área social, que fez demais para reduzir a desigualdade, que agora é preciso mais mercado, menos intervenção, eu acho que isso seria um erro.
Apesar dos esforços que foram feitos em políticas sociais nos últimos 15 anos, o Brasil continua extraordinariamente desigual. O nível de investimento social, educacional para os desfavorecidos da população brasileira continua insuficiente.
O sr. defende que os estudos em economia levem em conta aspectos históricos, sociais, políticos e culturais. Isso é importante também para a gestão econômica do governo?
Sim, é importante para o governo também. A questão econômica é importante demais para ser deixada para economistas, que às vezes tentam fazer crer que dispõem de uma ciência realmente complicada que os outros não podem compreender e que é preciso deixá-los em paz. Isso é uma piada gigantesca.
O nome de seu livro, que remete a Karl Marx, e algumas de suas opiniões fazem que muitos o considerem anticapitalista.
O problema é que há gente que vive ainda na Guerra Fria e tem necessidade de inimigos anticapitalistas. Não sou esse inimigo. Creio no capitalismo, na propriedade privada e nas forças do mercado.
Nasci tarde demais para ter a menor tentação que seja pelo comunismo de tipo soviético. Isso não me interessa. Ao mesmo tempo, acho que temos necessidade, basta ver a crise de 2008, de instituições públicas muito fortes para regular o mercado financeiro e as desigualdades produzidas pelo capitalismo.
Sua defesa de um imposto global sobre grandes fortunas já foi feita por outros autores e nunca avançou. Não é ingênuo crer que seja realmente possível contrariar tantos interesses contrários?
Não precisamos esperar ter um governo mundial, um imposto unificado mundial para fazer progressos, se não arriscamos esperar um longo tempo. Podemos fazer progresso por etapas e a nível nacional. Há diferentes formas de imposto sobre capital e patrimônio em cada país, que podem ser melhorados de forma mais progressiva. Em seguida podemos progredir na cooperação internacional, como já tem sido feito quanto aos paraísos fiscais.
Como o sr. demonstra, a desigualdade no século 20 só caiu em um contexto de crise e reconstrução das sociedade após duas guerras mundiais. Seria mesmo possível algo tão ambicioso em tempos de paz?

As lições de história são importantes, as elites que não querem pagar mais impostos no Brasil, nos EUA e na Europa devem se lembrar que não é uma boa solução esperar a crise. Todo o mundo precisa de uma globalização que seja mais justa, que beneficie diferentes grupos sociais em proporção equilibrada. Se não, é a própria globalização que arrisca ser questionada.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A nova equipe econômica e a FEBRABAN: mudanças à vista, finalmente.

A presidente Dilma fez excelentes escolhas ao nomear Joaquim Levy para ministro da Fazenda, confirmar Alexandre Tombini como presidente do Banco Central, e indicar Nelson Barbosa para o ministério do Planejamento. Os três têm larga experiência na formulação e implementação de políticas macroeconômicas, sempre colocando o interesse público em primeiro lugar. 
Como secretário do Tesouro, Joaquim Levy executou com firmeza as políticas do ex-presidente Lula de ampliação do superávit primário e de redução e melhoria da composição da dívida pública. Os bons resultados destas políticas contribuíram para a retomada da confiança, a conquista pelo Brasil do grau de investimento, e a aceleração do crescimento econômico que se seguiu. Levy tem experiência e credibilidade internacional, adquiridas no exercício de funções em importantes organizações multilaterais como o FMI, o Banco Central Europeu e o BID, além de sólida formação acadêmica. 
A confirmação de Alexandre Tombini no comando do Banco Central renova a expectativa do combate firme à inflação e a confiança na continuidade do excelente trabalho de regulação e supervisão prudencial exercido pelo BACEN, o qual tem sido essencial para a estabilidade e solidez do sistema financeiro nacional. Com sua larga experiência doméstica e internacional, qualificação técnica e dedicação, Tombini tem sido um comandante exemplar do Banco Central. 
Nelson Barbosa acumulou experiência em importantes cargos, como secretário de Acompanhamento Econômico, secretário de Política Econômica e de secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Assume agora o ministério do Planejamento, pelo qual também já havia passado em 2003, com expectativa de que dará contribuição positiva para uma atuação coesa e harmônica da nova equipe econômica. Estamos mais otimistas com o próximo ano, esperando que estas indicações contribuam para a retomada da confiança o que, como os mercados indicam, já começou a ocorrer. A FEBRABAN, seus bancos associados e eu pessoalmente desejamos grande sucesso aos novos Ministros e ao Presidente do BACEN, nos colocamos à disposição para continuar a trabalhar em prol do desenvolvimento do Brasil." 
Diretoria de Comunicação
11 3244-9831/9942
Twitter: @febraban

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

"Fiscal, a mãe de todas as ordens" - Delfim Netto.

Li hoje no no site do CORECON SP, mais um artigo do mestre Delfim Netto, escrito para o Valor Econômico em 19/11/2014.

O professor Marcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, coordenou, no dia 7, um magnífico Encontro de Política Fiscal na Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Com uma única e óbvia exceção, os participantes são o "crème de la crème" dos especialistas nacionais e internacionais sobre o assunto. O ilustre ministro Guido Mantega fez uma cuidadosa e equilibrada exposição, na qual defendeu, com sóbria habilidade, a política fiscal do governo.

Mas afinal, o que é a política fiscal? Podemos repetir a síntese do professor R.A.Musgrave ("The Theory of Public Finance", 1959) que sugeriu que ela consiste na intervenção deliberada do poder incumbente sobre a receita e a despesa públicas para cumprir alguns papéis que dele se espera: 1) de alocador de recursos para suprir os bens públicos (justiça, saúde, educação, infraestrutura, pesquisas etc.) que se acomodam muito mal nas condições que tornam eficiente a sua oferta pelo mercado; 2) de redistribuidor de recursos no espaço social para reduzir as desigualdades e atender às necessidades básicas dos menos favorecidos e, redistribuir no tempo, para a seguridade social; e 3) de estabilizador da conjuntura, com a manobra de aumentar ou diminuir receita e a despesa públicas para amortecer as flutuações ínsitas no sistema capitalista.

Essa descrição, tão "certinha", contrasta fortemente com as dificuldades e incertezas que cercam a sua execução: a existência de defasagens na resposta aos estímulos, o uso de conceitos não mensuráveis como o produto potencial, o estabelecimento de prioridades (análise custo/benefício), da taxa de desconto social, do custo de oportunidade etc.

É evidente que o papel do poder incumbente não se esgota aí. Ele ainda: 1) tem - através de instituições adequadas - que garantir o bom funcionamento dos mercados que controlam a alocação dos fatores de produção privados e que produzem os bens e serviços para atender à demanda dos consumidores; e 2) deve ter a capacidade de regulá-los para evitar a concentração e estimular a competição.

Quando convenientemente conduzida, a política fiscal: 1) "garante" a relativa estabilidade da atividade econômica e do emprego, fundamentais para a coesão social; 2) dá credibilidade ao ajuste "mais fino" da política monetária que, com pequenas manobras da taxa de juro real de longo prazo, compatibiliza a soma da demanda privada com a demanda pública para manter a taxa de inflação baixa e relativamente estável; 3) por sua vez, "credibilidade" e "previsibilidade" tornam possível uma política salarial capaz de manter o desejável aumento do salário real sem pressões marginais sobre a taxa de inflação; e 4) propicia uma relativa estabilidade da taxa de câmbio real, fundamental para determinar o nível de atividade, oferecendo um "buffer" de recursos para minorar os excessos das flutuações idiossincráticas.

Por essa rápida descrição deve ficar claro que o equilíbrio fiscal é o maestro que comanda a política monetária, salarial e a cambial. A ordem fiscal é a mãe de todas as ordens! É por isso que um Estado forte, constitucionalmente controlado, capaz de regular o funcionamento dos mercados e implementar uma política fiscal adequada - 1) pequeno déficit fiscal/PIB e 2) relação dívida bruta/PIB relativamente constante e em nível apropriado para garantir espaço para as manobras anti e pró-cíclicas -, é condição necessária, ainda que não suficiente, para a promoção do desenvolvimento social e econômico sustentável com equilíbrio interno (aumento harmonioso entre a igualdade de oportunidade e o investimento) e externo (relativo equilíbrio do balanço em conta corrente durante o ciclo).

Por motivos internos e externos, estamos hoje muito longe dessa configuração. No quadriênio 2011-2014, em parte pela perda do "bônus" externo, apresentamos: 1) um crescimento do PIB per capita de 0,6% ao ano; 2) uma taxa de inflação que namorou o nível superior da margem de tolerância da meta; 3) uma significativa deterioração da situação fiscal com déficit nominal de 5% do PIB e clara tendência de aumento da relação dívida bruta/PIB. Parte disso se explica pela estagnação do PIB, mas é preciso insistir que ela não parece ser apenas cíclica, tem uma componente estrutural. Por fim, 4) acumulamos um déficit em conta corrente de US$ 270 bilhões, devido à tragédia imposta ao setor industrial. O resultado positivo do período - que não é pouca coisa -, é que se manteve o nível de emprego.

A situação é muito desconfortável. Não estamos à beira do fim do mundo, mas é imperioso corrigi-la com a devida urgência. Isso exige um novo diagnóstico, ajustado às novas condições internas e externas e envolverá mudanças na política macroeconômica e, ainda mais, na micro, para encurtar a distância entre o governo e o setor privado produtivo.


Dilma recebeu das urnas um "voto de confiança". Esse é o fato fundamental incontornável. Supera todas as opiniões, mesmo as que se pensam "científicas"... Por que não dar-lhe, então, algum tempo para que apresente um bom programa de política fiscal?

Paris é uma festa até para quem quer estudar.


Leio na VEJA.com que Paris é a melhor cidade do mundo para estudar

Conheço algumas da cidade abaixo relacionadas e realmente estudar em Paris não tem preço. O chame de ler um livro num de seus famosos cafés e vendo o melhor do mundo é inesquecível.

Pelo terceiro ano consecutivo, a capital francesa aparece no topo da lista das 50 melhores cidades para estudar, ranking divulgado pela consultoria britânica Quacquarelli Symonds (QS), especializada em ensino superior. Todos os anos a organização internacional avalia o desempenho de instituições para graduação e pós-graduação.

Segundo a consultoria, Paris possui 17 universidades avaliadas como as melhores do mundo no QS World University Rankings 2014/15 - só perdendo para Londres, que tem 18. Além disso, as taxas relativamente baixas de matrícula significam um destino mais acessível aos estudantes. Outro critério levado em conta foi a 16º posição da capital francesa no ranking da The Economist 2014 Global Liveability Ranking, que lista as 140 melhores cidades para se viver.

A capital da França lidera o ranking desde 2012. Em segundo lugar aparece Melbourne, na Austrália - que subiu três colocações desde o ano passado. Em seguida encontra-se Londres, na Inglaterra, em 4º lugar vem Sydney, na Austrália, e em 5º lugar aparece a cidade de Boston, nos Estados Unidos.

O ranking considera dezoito critérios para a realização do ranking, entre eles segurança, poluição, acessibilidade ao transporte público e oportunidades de emprego. Confira a lista:

1º     Paris (França)
2º     Melbourne (Austrália)
3º     Londres (Reino Unido)
4º     Sydney (Austrália)
5º     Boston (EUA) e Hong Kong (China)
7º     Tóquio (Japão)
8º     Montreal (Canadá)
9º     Toronto (Canadá)
10º   Seul (Coreia do Sul) e Zurique (Suíça)
12º    Vancouver (Canadá)
13º    San Francisco (EUA)
14º    Munique (Alemanha)
15º    Cingapura (Cingapura)
16º    Berlim (Alemanha)
17º    Nova York (EUA)
18º    Barcelona (Espanha)
19º    Chicago (EUA)
20º   Canberra (Austrália) e Viena (Áustria)
22º   Auckland (Nova Zelândia)
23º   Brisbane (Austrália)
24º Buenos Aires (Argentina)
25º   Edinburgo (Reino Unido) e Taipé (Taiwan)
27º   Pequim (China)
28º   Copenhague (Dinamarca)
29º   Adelaide (Austrália)
30º   Manchester (Reino Unido)
31º    Los Angeles (EUA) e Xangai (China)
33º   Dublin (Irlanda)
34º   Estocolmo (Suécia)
35º   Kyoto (Japão)
36º   Milão (Itália)
37º   Amsterdã (Holanda)
38º   Helsinque (Finlândia)
39º   Madri (Espanha) e Perth (Austrália)
41º    Filadélfia (EUA)
42º   Washington (EUA)
43º   Moscou (Rússia)
44º   Santiago (Chile)
45º   Coventry (Reino Unido)
46º   Pittsburgh (EUA)
47º   Bruxelas (Bélgica)
48º   Osaka (Japão) e Praga (Rep. Checa)
50º   Cidade do México (México)

A propósito, por que será que não foi citada nenhuma cidade brasileira? 

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