No Valor, em 22/5/12, notícia sobre o PIB brasileiro. Recebi o texto do grupo de Economia Política.
Já não há mais dúvida de
que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, a ser anunciado no
início do próximo mês, não será nada animador. A economia está devagar e são
poucas as chances de o crescimento deste ano superar em muito os fracos 2,7% de
2011.
Uma previsão desse cenário
nada auspicioso foi vislumbrada no comportamento do Índice de Atividade
Econômica do Banco Central, chamado de IBC-Br, divulgado sexta-feira, que
assustou até os mais pessimistas. Concebido como indicador antecedente do PIB,
o IBC-Br caiu 0,35% em março em relação a fevereiro, a terceira queda
consecutiva, acumulando crescimento de apenas 0,15% no primeiro trimestre em
relação ao último trimestre de 2011 na série com ajustes sazonais; e de 1,06%
frente a igual período de 2011, sem ajuste.
Espera-se que o PIB do
primeiro trimestre seja um pouco melhor, mostrando expansão de 0,3% a 0,4%, mas
não o suficiente para sustentar a meta do governo de que a economia cresça 4,5%
neste ano nem a do Banco Central, de 3,5%. Até o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, está mais conformado e já admite que um crescimento igual ao de 2011,
de 2,7%, já seria "muito bom". No mercado financeiro, há consultorias
esperado índices ainda menores.
O primeiro sinal de alerta
foi o comportamento da produção industrial, que diminuiu 3% no primeiro
trimestre em comparação com igual período de 2011, com retração em 15 dos 27
setores industriais pesquisados. A maior queda foi na fabricação de veículos
automotores, que recuou 20,4% em comparação com o primeiro trimestre do ano
passado. Na comparação anual, também diminuiu a produção de máquinas e
materiais elétricos (12,1%), material eletrônico e equipamentos de comunicações
(13,1%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (12,7%),
borracha e plástico (5,1%), têxtil (7,5%) e vestuário e acessórios (14,1%).
O setor de veículos voltou
a convencer o governo de que precisava de ajuda, com estoques equivalentes a 43
dias de vendas no fim de abril e queda de 3,4% das vendas no primeiro
quadrimestre. Ainda ontem foram anunciadas medidas de estímulo. Apesar da
arrecadação inferior à esperada neste início de ano, o governo reduziu o
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis e utilitários e o
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) do crédito para pessoas físicas. Além
disso, diminuiu o recolhimento compulsório dos bancos para aumentar a oferta de
financiamento para aquisição de veículos.
Já as vendas no varejo
começaram o ano bem, graças às medidas de estímulo do governo ao setor de
eletrodomésticos da linha branca e móveis e ao aumento da renda das famílias. O
chamado varejo restrito, excluído o desempenho de automóveis, peças e material
de construção, cresceu 0,2% em março em relação a fevereiro e 4% em comparação
com o último trimestre de 2011. A principal sustentação do consumo das famílias
está no ganho real de renda, que cresceu 5,6% em março em comparação com igual
mês de 2011, uma vez que a oferta de crédito está contida pela inadimplência e
endividamento elevados. Já o varejo ampliado teve aumento de 0,6% entre março e
fevereiro, graças ao desempenho do setor de material de construção, que
neutralizou a queda de 1,4% das vendas de veículos no mês e de 0,3% no
trimestre.
A massa salarial,
combinação de variação do nível de emprego com a renda real, cresceu 6,2% acima
da inflação nas seis principais regiões metropolitanas no primeiro trimestre em
comparação com igual período de 2011. O que explica essa expansão em um momento
em que a economia rateia é o aumento do salário mínimo e da remuneração de
trabalhadores de setores que não sofrem a concorrência externa, como a
construção civil.
Esperava-se que a economia
se recuperasse a partir do segundo trimestre. No entanto, o recrudescimento da
crise na zona do euro não autoriza maiores expectativas. A piora na região, com
a cada vez mais provável saída da Grécia, e a falta de consenso entre os
líderes mundiais entre estimular o crescimento da economia ou fazer pé firme na
austeridade vai repercutir no resto do mundo. A crise internacional vai
prejudicar a expansão das exportações brasileiras, especialmente de
manufaturados, e, se for muito intensa, corta a oferta de crédito, como
aconteceu em 2008. Com reservas internacionais elevadas e um sistema financeiro
relativamente sólido, o Brasil está preparado para aguentar a onda de choque.
Além disso, tem espaço para cortar mais os juros - e tudo indica que irá fazer
isso. Mas não há como passar incólume a esse novo solavanco.