Editorial da FOLHA neste domingo é favorável a mudanças no rumo da política econômica.
Eram reduzidas as expectativas a respeito do
desempenho da economia no final de 2013. Ainda assim, a média dos observadores
acabou por se revelar otimista quando neste início de ano foram divulgados os
resultados da indústria, do comércio e do índice de atividade calculado pelo
Banco Central, que caiu 0,2% no último trimestre.
O ritmo mais lento do que o previsto por
economistas do setor privado por si só já não augurava dias melhores, ao menos
para a primeira metade do ano.
As perturbações do mercado financeiro
internacional, o efeito da crise argentina sobre a indústria, o aumento do
preço da energia elétrica e a resistente falta de ânimo do empresário
industrial para investir degradaram as perspectivas.
Alguns dos principais analistas reduzem para
perto de 1,5% as estimativas de crescimento do PIB para 2014, as quais na média
rondavam os 2% no início de janeiro.
Tais números não merecem ser inscritos em
pedra, tanto pelas incertezas que envolvem seus cálculos como pelo simples fato
de que é possível tomar providências para reverter a tendência. Ademais, o
indicador deve ser considerado no panorama de quase meia década de deterioração
da política econômica e da produtividade.
Mais importante do que melhorar os indicadores
de curto prazo, porém, é restabelecer as condições de administrar a economia, o
que pode custar pontos de crescimento do PIB ao fim de 2014, pelo menos.
Isso implica dar fim à maquiagem de preços por
meio de controles mal disfarçados e subsídios, como se faz no caso de
combustíveis, energias e tarifas públicas. Implica contenção de gastos que,
neste ano, não deve poupar nem os escassos investimentos federais. Implica
desistir dos truques contábeis; colocar a inflação em clara trajetória
descendente.
Isso tem o nome de política elementar de estabilização.
Não se trata de receita de crescimento, mas de requisito mínimo para conter
degradação maior das condições econômicas e permitir discussão e implementação
de medidas para elevar a produtividade brasileira.
Um crescimento de 1,5% neste ano por si só não
será boa medida do desempenho das autoridades. Mais relevante é o governo
demonstrar que abriu mão dos emplastros mágicos em favor da racionalidade
econômica rudimentar.
Mais de três anos de experimentos
amadorísticos deveriam ser bastantes para o reconhecimento do insucesso.
Insistir no erro pode colocar o país num caminho perigoso. Seria de fato um
exagero comparar o Brasil com a Argentina, assim como é exorbitante dizer que
esta se candidata ao horror de se tornar uma Venezuela.
A mera sugestão de que é possível trilhar tais
caminhos, contudo, deve ser estímulo suficiente para mudar imediatamente de
rumo.
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