Editorial da FOLHA DE S. PAULO sobre a recente avaliação da agência Moody's.
A Moody's, agência norte-americana de classificação de risco,
emitiu ontem mais um sinal de alerta a respeito dos fundamentos econômicos do
Brasil.
No ano passado, havia diminuído a perspectiva da nota do crédito
brasileiro de "positiva" para "neutra"; agora, passou-a
para "negativa". Se for dado um próximo passo nessa mesma direção, o
país terá seu crédito rebaixado de acordo com os critérios da agência.
O Brasil, hoje, está na categoria Baa2, que indica um grau de
investimento com risco moderado. Esse patamar é o segundo acima do
"especulativo", que implica menor segurança para investidores.
Ainda que estejam desacreditadas desde 2008, quando papéis
imobiliários com a nota máxima viraram pó nos EUA, e mesmo considerando
conflitos de interesses, já que seus financiadores compram títulos, as agências
balizam inúmeros investidores. Alguns, como os fundos de pensão internacionais,
por vezes nem podem aplicar em países considerados especulativos.
Não é só por isso, contudo, que o alerta da Moody's deve ser levado
em consideração. A agência reuniu três fortes argumentos para justificar sua
decisão. O primeiro diz respeito à perda de vigor da economia nacional, que
deve permanecer até pelo menos 2015.
Há, além disso, o colapso da confiança empresarial e a retração dos
investimentos --estes caíram em nove dos últimos 12 trimestres e estão no mesmo
patamar de 2010. Tal comportamento resulta, para a agência, do intervencionismo
do governo Dilma Rousseff (PT).
Sem investimento, a capacidade de produção da economia não aumenta,
com o que uma expansão do PIB provocará mais inflação.
A falta de crescimento, por sua vez, é um problema para a nota de
crédito por comprometer a geração de renda e reduzir a arrecadação. Levando-se
em conta os crescentes gastos federais, tem-se um processo de aumento da dívida
pública --que, como proporção do PIB, já é cerca de 50% maior que a da média de
países de risco similar.
Esse é o terceiro motivo de preocupação da agência. Diante dessa
combinação de fatores, os desafios não serão pequenos para o próximo governo,
qualquer que seja ele.
Por fim, a Moodys não deixa de destacar pontos fortes da nossa
economia: reservas internacionais elevadas, diversificação produtiva e sistema
bancário sólido, entre outros. Se não houver alteração no horizonte próximo,
entretanto, o corte da nota será inevitável.
A receita para não haver esse retrocesso é conhecida e tem sido
repetida por incontáveis analistas brasileiros: restaurar a credibilidade das
contas públicas e estabelecer uma gestão competente.
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