Editorial do ESTADÃO sobre o caso Alexandre Schwartsman.
Um dia depois de ter anunciado que impetraria no Tribunal Regional
Federal um recurso contra a decisão da primeira instância da Justiça Federal
que negou seguimento à queixa-crime oferecida contra o economista Alexandre
Schwartsman por entrevistas concedidas aos jornais Correio Braziliense e Brasil
Econômico, entre abril e maio, quando chamou os gestores da política monetária
de "incompetentes" e "subservientes", o procurador-geral do
Banco Central (BC), Isaac Sidney Menezes Ferreira, voltou atrás. Em nota, limitou-se
a afirmar que o Banco Central deu o litígio como encerrado sem, contudo,
explicitar os motivos do recuo.
Antigo diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central,
ex-executivo de importantes instituições financeiras privadas, diretor de uma
empresa de consultoria econômica, colunista de dois jornais e com doutorado na
Universidade da Califórnia, em Berkeley, Schwartsman há muito tempo vinha
classificando como "temerária"a política monetária do governo da
presidente Dilma Rousseff e cobrando "mais independência" e
"menos subserviência" da atual diretoria do Banco Central com relação
ao Palácio do Planalto.
Os argumentos de Schwartsman vão na mesma linha das críticas que
têm sido disparadas à política monetária do governo por economistas das mais
variadas orientações. Por isso, causou surpresa quando o procurador-geral do
Banco Central, autorizado pela diretoria do órgão, impetrou uma queixa-crime
contra ele, sob a justificativa de que teria passado do campo da "mera
opinião" ou da "crítica técnica" para o campo do insulto. Houve
"inequívoco desejo de insultar, denegrir, enxovalhar e ultrajar a honra e
a imagem do Banco Central e de seu corpo funcional", afirmou o
procurador-geral.
Os argumentos invocados pelo procurador causaram perplexidade entre
os economistas que atuam no universo acadêmico e bancário. Eles viram na
queixa-crime não apenas uma tentativa de intimidação contra um colega conhecido
e respeitado que tem exercido o direito de opinião, mas também uma ameaça
velada do Palácio do Planalto a todos os analistas do mercado financeiro, para
que suspendessem toda e qualquer crítica ao governo num momento em que a
campanha eleitoral estava começando. Pela imprensa, alguns diretores do Banco
Central alegaram que já haviam avisado a Schwartsman que o processariam, se não
moderasse suas críticas à política monetária. E, numa das atas do órgão,
assinada pelo secretário do Conselho Monetário Nacional, Henrique Machado, a
diretoria registrou que considerou "ofensivas" e "abusivas"
as críticas recebidas.
Pelas redes sociais, professores de economia e analistas do mercado
financeiro manifestaram solidariedade a Schwartsman, pondo às claras o equívoco
da atitude do Banco Central.
Com a queixa-crime, alguns diretores do órgão esperavam calá-lo.
Mas, como a iniciativa não passa de uma insensata afronta à liberdade de
expressão, o amplo apoio recebido pelo economista, pela internet, acabou dando
ainda mais visibilidade às suas críticas. O caso ganhou repercussão nacional e
internacional quando a primeira instância da Justiça Federal rejeitou a
queixa-crime, reafirmando que o direito de opinião, além de assegurado pela
Constituição, é uma garantia fundamental do regime democrático.
Reincidindo em erro, o Banco Central anunciou, por meio de seu
procurador-geral, que recorreria dessa decisão. E foi aí que entraram em cena
os mais importantes economistas do País, assinando um contundente
abaixo-assinado. Para muitos membros da cúpula do órgão, a situação não poderia
ser mais patética, uma vez que muitos dos signatários, além de terem sido seus
professores, já foram seus superiores hierárquicos na administração pública e
até no Banco Central.
Da cúpula do Banco Central espera-se que saiba conviver com a
liberdade de expressão e o direito de crítica, não que ameace, intimide e
processe quem não reza por sua cartilha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário