sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O HOMEM FORTE DA ECONOMIA.

Reconheço que se trata de um longo texto, mas este é um blog para leitores que também gostam de ler. Cristiano Romero, do VALOR ECONÔMICO, faz um perfil de ALEXANDRE TOMBINI, presidente do BANCO CENTRAL de uma maneira tão elegante que a leitura torna-se um prazer. Além do que, conhecer quem está no comando do BACEN é sempre uma informação valiosa. Agradeço ao site do CORECON RJ que postou o artigo nesta data. Boa leitura!!!

"Murilo, eu vou lhe dar um cara que ainda vai ser presidente do Banco Central. Você vai me agradecer pelo resto da sua vida." Foi dessa maneira que, em 2001, o então presidente do BC, Armínio Fraga, sugeriu a Murilo Portugal, diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), que contratasse como seu número 2 o economista Alexandre Tombini.

"Eu nunca o tinha visto na vida", conta Portugal, hoje o terceiro na hierarquia do FMI, mas prestes a mudar de emprego - em março, assumirá a presidência da Federação Brasileira de Bancos. Não demorou muito e Tombini ganhou a confiança do novo chefe, tornando-se seu "braço direito". "Eu tinha total confiança nele", afiança o vice-diretor do FMI.

O novo presidente do Banco Central é o nome forte da economia neste início do governo Dilma Rousseff. É o responsável pela gestão de dois dos três pilares da política econômica - o regime cambial e a política monetária. Em menos de dois meses, ganhou uma proximidade da presidente que seu antecessor, Henrique Meirelles, nunca teve do presidente Lula, o que já causa inveja em Brasília e desconfiança em setores do mercado.

Em oito anos de gestão, Meirelles teve encontros esparsos com Lula. Em geral, antes ou depois de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e, na maioria das vezes, para ouvir queixas sobre a taxa de juros. Lula chegou a condenar Meirelles a períodos de isolamento que duraram quase dois meses. A relação entre Dilma e Tombini, fundada há apenas três meses, é bem diferente.

A proximidade de Tombini com a Presidência seria indício, dizem observadores, de perda de autonomia do Banco Central

Todas as vezes que Tombini quer conversar com a presidente, telefona para o Palácio do Planalto e, pouco depois, é atendido. Na maioria das ocasiões, Dilma pede que ele vá ao palácio. "Tête-à-tête", testemunha um assessor graduado do governo. Como boa parte dos encontros não consta da agenda pública da presidente, Tombini entra no prédio pela garagem subterrânea, longe de fotógrafos e cinegrafistas que fazem plantão no palácio.

As conversas não têm durado menos de uma hora. Durante os colóquios, não se fala sobre o nível da taxa de juros ou do câmbio, mas sobre o estado geral da economia. Tombini já visitou Dilma, inclusive, na Granja do Torto, onde ela se hospedou antes de mudar-se para o Palácio da Alvorada. "Dilma é muito técnica, tem muita informação, gosta de discutir, debater", informa um ministro.

Tombini assumiu o BC num momento em que a inflação sobe perigosamente e as expectativas dos agentes econômicos se deterioram. O mercado desconfia da capacidade e do interesse do novo governo de adotar as medidas necessárias à reversão da aceleração inflacionária. Uma das dúvidas é sobre a real disposição de Brasília para conter a evolução dos gastos públicos.

A relação de Tombini com a presidente é próxima: é logo atendido em pedidos de audiência, para conversas, sobre o estado da economia, que não têm durado menos de uma hora

A primeira batalha do presidente do BC foi convencer a cúpula do governo de que a carestia neste momento não decorre apenas do choque de preços de commodities, que pressiona a inflação em todo o mundo. No caso brasileiro, o problema é agravado pelo crescente descompasso entre oferta e demanda. O Ministério da Fazenda rejeita essa hipótese, mas Tombini conseguiu mudar a opinião da presidente. Fez mais: defendeu que o anúncio dos cortes orçamentários fosse antecipado.

Essa proximidade de Tombini com a Presidência da República gera reações distintas. Para alguns observadores, é um indício de que o BC, sob a nova administração, não goza da autonomia que teve na gestão Meirelles. Um mau exemplo dessa adjacência, dizem alguns críticos ouvidos pelo Valor, foi o caso do banco PanAmericano.

Relata-se que Tombini atuou pessoalmente para pressionar o empresário Sílvio Santos a vender o banco ao BTG Pactual, livrando-o de qualquer punição. A operação teria ajudado também a Caixa Econômica Federal, que, numa ação polêmica, comprou 49% do capital do PanAmericano no fim de 2009, nove meses antes da descoberta de rombo de R$ 2,5 bilhões no balanço do banco - recentemente, o prejuízo subiu para R$ 4,3 bilhões.

"O pessoal do mercado vê o Tombini fazendo isso e pergunta: "O que é isso?". Então, esse é o risco que ele está correndo. Quando o BC se mete num negócio desses, as pessoas pensam: "É um sinal de que ele está muito próximo do governo e, assim, está mais sujeito a pressões". Esta é a leitura", diz um ex-dirigente do Banco Central.

Os defensores de Tombini alegam que ele atuou no caso porque essa é uma de suas obrigações como regulador. Ele, de fato, telefonou para Sílvio Santos, mas, se o empresário não concordasse em vender o banco, Tombini nada faria para obrigá-lo. Além do mais, lembram essas fontes, já na primeira operação de socorro do PanAmericano - um empréstimo de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) -, Silvio Santos assinou termo de compromisso em que prometia vender a instituição.

Nem todos os analistas acham que a proximidade de Tombini da cúpula do poder é sinal de capitulação aos interesses políticos do governo. "No nosso estágio de desenvolvimento, acho bom para o país ter um presidente do BC que vai lá dentro e briga pelas coisas e expõe e mostra qual é a situação, mas que também cumpre o seu papel. Eu procurei fazer assim", comenta Armínio Fraga, que comandou o banco entre 1999 e 2002 e hoje é sócio da Gávea Investimentos. "É melhor ele estar lá dentro, falando, brigando pelas teses dele. É difícil, sem dúvida, mas eu o considero um fantástico profissional e não acredito que vá ter uma atuação política."

Ao contrário do que ocorreu na gestão Armínio, nos oito anos do governo Lula, Henrique Meirelles manteve o BC longe do Palácio do Planalto. A hostilidade de vários setores do governo e do PT à instituição era tão intensa que Meirelles achou por bem manter distância.

Tombini sabe que, no novo governo, também há e haverá hostilidades. A relação com o Ministério da Fazenda tende a ser menos tensa do que foi na gestão de Meirelles, mas ele não se ilude: sua visão do que se passa na economia difere da propugnada pela Fazenda. Sabe-se, também, em Brasília, que, em março de 2010, quando Meirelles cogitava deixar a presidência do BC para se candidatar, o ministro Guido Mantega foi a Lula se pronunciar contra a nomeação de Tombini.

"Acho bom ter um presidente do BC que briga pelas teses dele. Não acredito que [Tombini] vá ter uma atuação política", diz Armínio Fraga

As suspeitas de que Tombini é sensível a argumentos políticos remontam às divergências ocorridas nas reuniões do Copom nos últimos cinco anos. Na linguagem dos economistas do mercado financeiro, ele seria "dovish", neologismo inglês que deriva de "pombo" ("dove") e designa os defensores de taxas de juros mais baixas e de uma postura mais tolerante com a inflação. O antônimo seria "hawkish", que vem de "falcão" ("hawk") e define os partidários de juros altos - em política externa, "hawkish" são os que defendem o uso da força, em detrimento da diplomacia, para dirimir conflitos.

A fama de "dovish" colou em Tombini a partir de um episódio nebuloso da história recente do Banco Central. Em 2005, quando ele e Murilo Portugal voltaram para o Brasil, o governo Lula vivia, com o escândalo do mensalão, o seu pior momento. A diretoria do banco, bastante criticada, passava por seu período de maior isolamento. O então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, engendrou um plano para mudar a diretoria, mas mantendo o rumo da política econômica.

Palocci planejava tirar Meirelles do BC e colocá-lo no Ministério do Planejamento. Murilo Portugal assumiria o comando do banco. Num segundo momento, o diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, principal alvo da ira petista, deixaria o BC e seria substituído por Tombini. O plano jamais foi inteiramente realizado porque Palocci deixou a Fazenda em março de 2006, mas a vida de Tombini na diretoria do BC ficou mais difícil.

Era junho de 2005 quando a primeira parte do projeto foi colocada em prática. Tombini assumiu a diretoria de Estudos Especiais. Nos meses seguintes, travou embates ásperos com Bevilaqua. O primeiro deles teve motivação aparentemente prosaica: Tombini queria ter acesso aos dados que alimentavam os modelos rodados pelo Departamento de Pesquisas - que ele ajudou a criar seis anos antes - e que amparavam as projeções do Banco Central para a atividade econômica, os níveis de emprego e os preços.

Como integrante do Copom, Tombini alegava que se sentiria mais à vontade para votar nas decisões sobre juros se tivesse acesso aos dados. Bevilaqua não aquiescia. Julgava que a exigência era uma desconfiança em relação ao seu trabalho. A desavença não se deu apenas com Tombini. Outro diretor, este originário do mercado - Paulo Vieira da Cunha -, ameaçou pedir demissão pouco depois de assumir o cargo, em abril de 2006, por causa da recusa de Bevilaqua em abrir informações.

Nas reuniões do Copom, Tombini debatia, questionava, levantava dúvidas. Sua atitude irritava Bevilaqua, que via nele um sinal de que o Copom passava por um processo de mudança para se tornar mais dócil ao Palácio do Planalto. "Por causa da forma como o Tombini chegou, Bevilaqua centrava a reação dele no Tombini. Aí não era discussão. Era quase porrada", atesta um ex-diretor do BC.

Os choques entre os dois diretores tiveram consequências. Em abril de 2006, Tombini deixou a diretoria de Estudos Especiais e assumiu a de Normas, responsável pela regulação do sistema financeiro. Em seu lugar, foi nomeado o economista Mário Mesquita, que mais adiante substituiu Bevilaqua na diretoria de Política Econômica.

As disputas no Copom reforçavam a imagem de "dovish" que se cristalizava em Tombini. Em meados de 2006, ele publicou, em coautoria com Sérgio Lago Alves, o estudo "O Recente Processo de Desinflação no Brasil e Seus Custos". Alega, no trabalho, que os custos para controlar a inflação, em termos de impacto no crescimento econômico e nos níveis de desemprego, foram reduzidos no período pós-2002. Para alguns analistas, Tombini defendeu, na verdade, a ideia de que já seria possível crescer mais, com juros menores e menos inflação.

Medidas para encarecer o custo do crédito anunciadas pelo Banco Central em dezembro passado já tinham a marca de Tombini

No segundo mandato de Lula (2007-2010), o BC passou a ter menos diretores oriundos do mercado. Em tese, uma diretoria com mais funcionários de carreira significa que o banco resiste menos às pressões do governo por uma política monetária mais frouxa. Nesse ambiente, Tombini começou a figurar como possível sucessor de Meirelles. No fim de 2008, teria se reunido com um diretor vindo do mercado e dito o seguinte, depois de dar a entender que o manteria no cargo caso assumisse a presidência: "É bom ter uma combinação de um presidente que é mais "dovish" com um diretor [de Política Econômica] mais "hawkish" ou vice-versa. O que não dá para ser são os dois para um lado".

No Copom, Tombini começou a defender a adoção de medidas macroprudenciais, em vez do aumento puro e simples da taxa de juros, para conter a inflação. O curioso é que, quando chegou à área de Normas, entendia pouco do assunto. Estudioso, mergulhou no tema, dando às decisões dessa diretoria, segundo testemunho de colegas, "consistência econômica". "Em seus primeiros dias como diretor de Normas, saía do banco carregando malas de papéis para estudar em casa", revela um colega de diretoria.

Em dezembro passado, ainda na gestão Meirelles, o BC anunciou medidas para diminuir os prazos dos financiamentos e encarecer o custo do crédito. As medidas já tinham a marca de Tombini. Os objetivos foram dois: aumentar a segurança do sistema financeiro e, ao mesmo tempo, ajudar a controlar a demanda. Em janeiro, já como presidente do banco, ele comandou a reunião do Copom que promoveu o primeiro aumento de juros da era Dilma.

Como as medidas macroprudenciais têm impacto na demanda, é possível que o BC, na nova fase, recorra menos à alta dos juros para conter a inflação. Para integrantes do mercado, a motivação é política. O PT tolera arrocho no crédito, mas não na taxa básica de juros (Selic).

"A tendência de usar instrumentos macroprudenciais não é porque Tombini foi diretor de Normas do BC. Isso é uma vantagem para ele, mas, na verdade, é algo que está sendo feito no mundo inteiro", argumenta Murilo Portugal. De fato, o uso de medidas macroprudencias tem se intensificado em vários países por causa da diferença entre as taxas de juros das economias centrais e as do restante do mundo. A elevação dos juros para combater a inflação atrai capitais e aprecia as moedas locais, diminuindo a competitividade das economias.

Essas medidas estão sendo implementadas no mundo inteiro (o G-20 comprometeu-se com regras novas), tendo em vista a reação mundial à crise de 2008. Acho que é possível usar essas medidas também como fator de diminuição da demanda agregada. Elas são muito eficazes para evitar "bolhas" de crédito"", observa o vice-presidente do Itaú-Unibanco, Sérgio Werlang. "Contudo, o uso dessas medidas causa outras distorções microeconômicas que têm que ser levadas em consideração. Por exemplo, a meu ver, os compulsórios no Brasil já atingiram níveis que fazem com que usos adicionais tenham que ser pesados cuidadosamente", pondera ele.

Murilo Portugal rejeita a tese de que o presidente do BC é "frouxo". "Ele é uma pessoa que sabe o que precisa ser feito, tem coragem de falar a verdade para o poder, o que é muito importante para quem exerce uma função pública, mas faz isso de uma maneira convincente e não por meio de confrontos", diz o vice-diretor do FMI.

"Há uma desconfiança na cabeça dos analistas, que acham que ele tem um certo viés "dovish" e que o apoio que ele deveria ter das outras áreas pode, na hora H, não se materializar. Ele não é um cara frouxo, é firme, mas ele não é um dogmático, um sacerdote", concorda Armínio Fraga.

Mais de uma dezena de amigos e desafetos de Tombini ouvidos pelo Valor se refere a ele com adjetivos como firme, determinado, disciplinado, fechado. A partir desses depoimentos, conclui-se que o presidente do BC tem temperamento forte, mas não compra brigas à toa. É duro nas discussões, mas não é irascível. Realista, mas não tolo.

"Tem "drive" próprio para pensar e analisar, não é de ficar repetindo o que os outros falam", elogia novamente Portugal. Tendo chegado à presidência do BC, sua responsabilidade daqui em diante é diferente. "Ele não voltará mais a ser diretor, seu horizonte é outro. Ele tem que entregar a inflação na meta", assinala um ex-dirigente do banco.

Tombini é tão reservado que se recusou a informar à reportagem quais são seus economistas prediletos. E mesmo suas preferências literárias. Concordou apenas em informar que é torcedor do Internacional de Porto Alegre, tem dois filhos e é casado com uma americana, cujo nome ele também tentou manter em segredo. Ele conheceu Michele em Urbana, cidade onde fica a Universidade de Illinois. Enquanto ele fazia o doutorado, ela se graduava em ciência política. Mais tarde, ela se doutorou em direito pela Escola de Chicago.

Michele fala português fluentemente. Filha de um casal que recebia estudantes brasileiros que faziam intercâmbio pelo Rotary Club, foi a única de quatro irmãs que se interessou em aprender o idioma. Já vivendo com Tombini em Brasília, passou por uma experiência traumática - um assalto - enquanto recebia um casal de amigos americanos na capital. Por causa do episódio, espalhou-se o rumor de que Tombini pedira a Armínio Fraga um posto no exterior, mas sua assessoria desmente - o assalto foi em 1994, sete anos antes de ele ir para o FMI.

“Tombini é um bom macro e microeconomista. Olha o problema de vários pontos de vista”, observa Sérgio Werlang

Tombini começou a ganhar prestígio em Brasília em 1999. Naquele ano, Armínio Fraga chegou ao comando do BC e decidiu, em meio à crise que resultou na forte desvalorização do real, implantar no país o regime de metas para inflação e o sistema de câmbio flutuante. Combinados com a decisão do governo Fernando Henrique Cardoso de gerar superávits primários nas contas públicas, os novos instrumentos representavam uma guinada na forma como a estabilização da economia, iniciada pelo Plano Real cinco anos antes, passaria a ser conduzida dali em diante.

Até o início de 1999, o câmbio no Brasil ainda era quase-fixo e a taxa de juros era usada não para combater a inflação, mas para atrair dólares e, dessa forma, ajudar a financiar as contas externas. Com o novo tripé de política econômica, a taxa de juros, num ambiente de câmbio flutuante e disciplina fiscal, passou a ser a âncora da economia.

O regime de metas demandava a criação de um Departamento de Pesquisas que olhasse mais para o longo prazo da economia e desenvolvesse e testasse constantemente modelos macroeconômicos. Até então, o BC era incapaz de fazer projeções sobre a atividade econômica e, portanto, sobre o comportamento futuro da inflação.

Na ocasião, Armínio convidou Sérgio Werlang para ser o diretor de Política Econômica, principal responsável pela implementação do regime de metas. Como a legislação determina que a chefia de departamentos do BC seja ocupada apenas por funcionários de carreira, Werlang abriu um processo de seleção interna. O perfil do novo cargo exigia que o candidato tivesse sólida formação em macroeconomia. De preferência, com doutorado.

Currículos foram analisados, entrevistas realizadas e, no fim, Werlang chegou a Tombini, funcionário da Casa desde 1995, consultor do Departamento de Fiscalização, formado em Economia pela Universidade de Brasília e com doutorado pela Universidade de Illinois. "A escolha dele era muito clara", atesta Werlang. "Ele é um bom macro e microeconomista, uma combinação que não é comum. Em geral, os economistas são muito especializados. O Tombini é um economista que olha o problema de vários pontos de vista."

Essa mesma qualidade é ressaltada por seu orientador de tese em Illinois, o professor Werner Baer, um brasilianista que estuda o Brasil desde os anos 50 do século passado. Nos anos 60, chegou a publicar vários artigos em coautoria com Mário Henrique Simonsen. Deu aulas na FGV e na PUC do Rio, e também na USP.

Há décadas, Baer recruta estudantes brasileiros para fazer pós-graduação em Illinois, cujo curso de economia, explica o professor, não é dominado por nenhuma das grandes escolas americanas. "Em macroeconomia, tem influência da Escola de Chicago [de tradição monetarista] e também das escolas da Costa Leste dos Estados Unidos. O estudante escolhe o seu próprio caminho", diz ele para em seguida ressalvar: "Isso aqui não é uma igrejinha".

Parte dos estudantes brasileiros que vão a Illinois recebe bolsas custeadas pelo empresário Jorge Paulo Lemann. No fim dos anos 80, Baer foi apresentado a Tombini por um professor da UnB. Ficou tão impressionado com os conhecimentos do futuro pupilo que o dispensou de fazer o mestrado, levando-o direto ao doutorado.

"Tombini combina uma coisa que não é muito comum. Ele tem domínio muito bom da teoria econômica, é tecnicamente muito bem preparado, mas sempre teve os pés no chão. Ele conhece as instituições, sempre se interessou em saber como funcionam e tem rigor estatístico", comenta o professor.

Em sua tese de doutorado, um calhamaço de 167 páginas intitulado "Atividade Econômica e Instabilidade Financeira no Brasil: Evidência Empírica e Teórica", Tombini desenvolve, pela primeira vez, a ideia de que, diante de crises provocadas por choques exógenos (as crises do petróleo nos anos 70, por exemplo), os sistemas financeiros não são neutros. Na verdade, eles amplificam os impactos desses choques.

"Tombini afirma que o setor financeiro no Brasil deve ser tratado como uma importante fonte de flutuações macroeconômicas. Ele faz isso olhando para teorias de flutuações econômicas existentes e desenvolvendo sua própria teoria e testando-a econometricamente", explica Baer.

No Copom, Tombini começou a defender a adoção de medidas macroprudenciais, em vez do aumento puro e simples das taxas de juros

Tombini concluiu o doutorado em 1991. Tinha apenas 27 anos - hoje tem, portanto, 47. Somente quatro anos depois, ingressou na carreira do Banco Central. O gosto pela Economia veio do pai, Tildo Noelmo Tombini, gaúcho, de ascendência italiana, que trabalhou durante dez anos na Organização das Nações Unidas (ONU), na época em que a instituição tinha um braço econômico forte.

Tildo, já falecido, era um especialista em orçamento. Desenvolveu o conceito de orçamento-programa, cujo principal objetivo é fazer a ligação entre o planejamento de médio e longo prazo do governo e as ações do dia a dia. Foi um dos responsáveis, por exemplo, pela montagem do orçamento do Uruguai, ao tempo da redemocratização do país vizinho, em meados dos anos 80.

Por causa da profissão do pai, Tombini foi alfabetizado em espanhol e viveu em quatro países da América Latina - Chile, Paraguai, Costa Rica e Nicarágua. A família deixou o Chile pouco antes do golpe militar que apeou Salvador Allende do poder em 11 de setembro de 1973. Dali, mudou-se para Porto Alegre, onde Tildo trabalhou numa empresa de consultoria e ajudou a criar o polo industrial de Joinville (SC).

Sua influência intelectual rendeu frutos. E, com a chegada de Tombini à presidência do Banco Central, um novo capítulo na história da família começou a ser escrito.

Governing Brazil

Na metade de seus 100 primeiros dias de governo, reconheço finalmente que DILMA não é LULA e que o governo está comportando-se de maneira diferente e para melhor. Sei que se trata do início, mas estou confiante que dias melhores virão. Não quero acreditar que dilma piores virão... Para os meus quase dois (milhões de) exigentes leitores, abaixo matéria da THE ECONOMIST desta semana sobre este início de governo da Presidente DILMA.

DILMA ROUSSEFF won Brazil’s election last year less because of her own qualities than because her hugely popular predecessor and political mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, urged the voters to choose her. Since she had never before held elected office, nobody could be sure what kind of president she would turn out to be. Some Brazilians (and this newspaper, which endorsed her opponent) worried that she might be a more rigidly ideological left-winger than the pragmatic Lula. The evidence of her first six weeks in office is reassuring.

Under Lula, Brazil saw faster growth, impressive social progress but little or no reform of burdensome taxes and red tape. Abroad, an activist foreign policy brought new clout and new criticism. Ms Rousseff came to power on a platform of continuity. But she has also inherited an overheating economy, with inflation revving up and industrialists screaming about the strength of the real. She knows that she will be judged in part on whether Brazil’s airports, stadiums and transport are ready in time for the 2014 football World Cup.

Ms Rousseff is a very different person from Lula. Lacking his star quality, she has shunned the limelight. But what she has so far said and done has been clear and welcome. She has scotched notions that she would be soft on inflation. Her team has quickly signalled the need for some budget austerity after Lula’s last two spendthrift years. She rightly wants to focus social policy on eliminating extreme poverty (which still afflicts about one Brazilian in ten), while improving health care and schooling. And she is right, too, to want to seek tax and political reforms, even though those prizes eluded both Lula and his predecessor, Fernando Henrique Cardoso.

The most immediate change has been in the tone of foreign policy. Lula had a penchant for embracing dictators, from Cuba’s Fidel Castro to Iran’s Mahmoud Ahmadinejad. Brazil’s decision to vote against the UN resolution tightening sanctions against Iran’s nuclear programme was particularly ill-judged and did nothing to advance its claim to a permanent Security Council seat. In contrast, Ms Rousseff has criticised repression in Iran, stressed her commitment to human rights and said she wants to “deepen” ties with theUnited States. This amounts to a deft rebalancing of policy without detracting from Brazil’s case for reform of global governance.

The mother of battles to reform the state

But Brazilians will judge her on the economy. Can she sustain faster growth without sacrificing economic stability? Here the task is not easy. This week she won an important battle on the minimum wage: she wants to restrict its rise, because it has expensive knock-on effects on pensions. Her government’s plan to seek cuts of 50 billion reais ($30 billion) in the inflated budget may be both insufficient and hard to implement. But at least she is battling on the right side.

The important thing is that Ms Rousseff should see these tussles as the first round in a lengthy campaign to rationalise a baroque state and strip away the handicaps that hinder Brazilian firms from competing. The signs are good. Rather than horse-trade senior jobs in state companies and agencies with her allies in Congress, she wants to appoint the best people. The government hints that it will prise the airports from the dead hand of the air force and bring in private investment. Brazil’s booming capital markets are ready to help.

Ms Rousseff clearly intends to be an efficient administrator. What the next few months will show is whether she also has the political skills to extract reform from her large but voracious coalition in Congress. She has the makings of a good president. But the real tests are yet to come.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

PIB BRASIL - PREVISAO 2010.

Saiu hoje na FOLHA DE S. PAULO, materia sobre o crescimento do BRASIL em 2010.
O Brasil cresceu 7,81% em 2010, segundo o indicador criado pelo BC para antecipar os números do PIB, que só serão conhecidos no início do mês que vem.
Embora o crescimento no ano seja expressivo, dados mensais mostram desaceleração desde abril, quando o governo começou a retirar os incentivos econômicos anunciados na crise de 2009.
Em dezembro, a expansão foi de 4% ante o mesmo período de 2009, oitavo mês seguido de desaceleração. No último trimestre do ano, a expansão foi de 5%, abaixo dos 7% verificados três meses antes na comparação anual.
"Os números sugerem uma desaceleração importante para 2011, distante das grandes variações do ano passado", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima.
Ele estima alta entre 3,7% e 4% neste ano -abaixo dos 5% projetados pelo governo.
O IBC-Br é divulgado mensalmente, com base nos dados disponíveis no momento, e mostra proximidade com os números oficiais trimestrais do IBGE. É avaliado pelo BC no momento de definir os juros, hoje em 11,25%.
NOVOS DIRETORES
O BC anunciou as primeiras mudanças na diretoria desde a posse de seu presidente, Alexandre Tombini.
Dois funcionários de carreira farão parte do grupo, responsável, entre outras atribuições, por definir a política de juros.
Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico, será o diretor de Administração. Essa vaga está hoje com Anthero Meirelles, que responderá pela Fiscalização, no lugar de Alvir Hoffmann, que irá se aposentar.
Sidnei Corrêa Marques, da área de Monitoramento do Sistema Financeiro, vai para a diretoria de Liquidações e Crédito Rural. Ele substituirá Gustavo do Vale, cotado para a Infraero.
Os nomes precisam ser aprovados pelo Senado.
Para completar a diretoria do BC, faltam dois nomes, para as áreas de Normas e de Estudos Especiais. Para essa segunda vaga está cotada Zeina Latif, do banco RBS.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Muito pouco; muito tarde.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, como sempre, com seus provocativos e embasados textos, também na FOLHA DE S. PAULO e na internet no seu conhecido blog www.maovisivel.blogspot.com.

Na semana passada o governo federal anunciou um ajuste fiscal, marcado pela promessa de corte de R$ 50 bilhões em despesas. Parece muito, mas precisamos saber a) se é suficiente e b) se vai acontecer.
A resposta é infelizmente negativa nos dois casos (um desperdício, já que a negativa à segunda pergunta torna a primeira irrelevante, mas, mesmo assim, é importante compreender o porquê) e os motivos para isso devem ficar claros nos próximos parágrafos.
Comecemos por entender o que é realmente o corte anunciado. Uma mente menos afeita à particular forma de apresentação das contas públicas poderia interpretar que, da mesma forma que uma família em dificuldades financeiras reduz seu nível de gasto, o governo estaria disposto a diminuir suas despesas. Não é esse, porém, o caso.
De fato, o corte de R$ 50 bilhões aplica-se às despesas previstas no Orçamento da União para 2011, R$ 769 bilhões, e, posto em prática, traria o gasto federal neste ano para R$ 719 bilhões.
No entanto, como a despesa observada em 2010 ficou ao redor de R$ 657 bilhões, tal "corte" de despesas representa, na verdade, um aumento de R$ 62 bilhões no gasto público federal relativamente ao ano passado.
A família em dificuldades iria certamente à falência caso seu "corte de despesas" implicasse, como no caso do governo federal, aumento de quase 10% nos seus gastos.
Isso dito, como o crescimento do PIB nominal (o crescimento da economia acrescido da inflação) deve ficar em torno de 11%, a despesa federal, medida como proporção do PIB, deve sofrer queda modesta, de 17,9% para 17,7% do PIB.
Será que a redução do gasto, de 0,2 ponto percentual do PIB, será bastante para que o governo possa cumprir sua promessa e gerar um superavit primário de 3% do PIB neste ano? Novamente, à primeira vista, poderia parecer que sim. Visto que o superavit primário em 2010 atingiu 2,8% do PIB, 0,2 ponto do PIB a mais já traria o resultado fiscal para a meta.
Entretanto, como mostrei na minha última coluna, boa parte desse número resulta da criatividade contábil do governo, em particular a operação em torno da capitalização da Petrobras, que permitiu ao Tesouro registrar ganho de quase 1% do PIB, o qual, de resto, não se repetirá neste ano.
Assim, o governo deveria produzir um ajuste fiscal muito superior ao anunciado, caso realmente pretenda atingir a meta fiscal.
Tendo concluído que o corte é insuficiente para atingir a meta que o próprio governo definiu, precisamos saber ainda se ele é possível à luz dos constrangimentos naturais associados à rigidez orçamentária, até mesmo para determinar se há alguma possibilidade de aprofundamento do ajuste que possa nos trazer mais próximos à meta.
Contudo, dos R$ 769 bilhões orçados para 2011, cerca de R$ 550 bilhões representam despesas obrigatórias, com destaque para a folha de pagamento e as aposentadorias, de modo que o universo sujeito a cortes limita-se a cerca de R$ 220 bilhões, o chamado gasto discricionário.
Ainda assim, esse grupo compreende gastos sociais (o Bolsa Família, por exemplo), educação, saúde e os investimentos do PAC, que, segundo o compromisso oficial, seriam preservados dos cortes orçamentários (diga-se, aliás, que restrições legais também impedem a redução dos gastos com saúde relativamente ao PIB).
Caso tais promessas sejam honradas, mesmo a exequibilidade do corte fica ameaçada, pois este recairia sobre um conjunto que, dependendo das estimativas, equivaleria a entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões.
A triste verdade é que, se a política fiscal fosse mesmo "anticíclica", o ajuste deveria ter começado provavelmente ao final de 2009, quando se tornou claro que a recuperação econômica já estava devidamente enraizada.
Agora, depois da farra dos últimos anos, e novos gastos de R$ 85 bilhões em 2010, o ajuste não é só pequeno; é principalmente tardio.

Davos e nos.

Aos 82 anos e com seu conhecimento econômico na teoria e na prática, é sempre uma boa leitura a coluna de ANTONIO DELFIM NETTO, na FOLHA DE S. PAULO.
O conhecimento dos ensinamentos da "escola" neoclássica é necessário, mas não suficiente para a formulação adequada da política econômica que tenta maximizar o emprego e o PIB com o controle da inflação e do balanço em conta corrente. Por maior que seja a resistência de seus seguidores para aceitar a ideia, deveria ser claro que ela, sub-repticiamente, envolve a crença em leis "naturais".
De vez em quando, entretanto, nos momentos mais eufóricos, os neoclássicos baixam a guarda e revelam o fato.
Agora mesmo, em Davos, um dos seus mais representativos defensores, o Institute of International Finance (IIF), um "think-tank" localizado em Washington (financiado pelo sistema financeiro internacional), declarou por seu porta-voz que o Brasil "deveria abandonar a ideia de controlar o real e permitir a evolução natural do seu valor".
E completou: "Se existem pressões naturais dos fundamentos econômicos elevando o valor do real, todo esforço para controlá-lo será custoso e inútil". Ao final, ele disse que deveríamos "deixar o real encontrar naturalmente um valor de mercado mais realista e focar outras coisas, como a política fiscal".
O primeiro conselho é naturalmente duvidoso porque não há relação estável entre "fundamentos" e taxa de câmbio. O segundo faz sentido.
Entretanto por motivos não naturais. Devemos praticar um controle nos gastos de custeio e realizar uma enérgica mudança no financiamento da dívida pública para levar o juro real do Brasil, a um prazo adequado, ao nível internacional. Esse é o ponto. Não há nenhuma lei natural que garanta que somos um caso teratológico (produzido por qualquer "gene": inflação no passado, insegurança jurídica, planos fracassados etc.) que exige, naturalmente, a maior taxa de juro real do mundo.
Os mercados de bens e serviços são diferentes dos financeiros, onde se determina a taxa cambial. Nos primeiros, enfrentam-se dois grupos antagônicos (compradores e vendedores distintos) e o equilíbrio é produzido por suas forças relativas. No segundo, quando o valor de um ativo se eleva, sua demanda necessariamente não cai.
Pode (como ocorre frequentemente) elevar-se porque cada agente é, alternadamente, comprador ou vendedor. É isso o que ocorreu com a moeda (taxa de câmbio) após as espetaculares "inovações" financeiras e a informática transformaram-na numa "mercadoria" comprada e vendida diariamente num mercado que é 20 vezes maior do que o de bens e serviços transacionados externamente.
É mais do que evidente que a concorrência financeira não limita a flutuação da taxa de câmbio.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Brasil terá deficit comercial em 2012, diz Fiesp.

Leio hoje na FOLHA DE S. PAULO que o crescente aumento das importações fará com que o Brasil registre deficit comercial em 2012, segundo Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp.

As importações do país ultrapassaram as exportações pela última vez em 2000, quando a balança comercial brasileira registrou saldo negativo de US$ 732 milhões.

Giannetti da Fonseca afirmou que, neste ano, o superavit da balança deve cair pela metade, fechando 2011 em cerca de US$ 10 bilhões - no ano passado, o saldo foi positivo em US$ 20,3 bilhões.

"As importações continuam crescendo muito mais que as exportações", disse.

Ontem, a Fiesp divulgou que a parcela do consumo brasileiro suprida por importados bateu recorde em 2010.

De acordo com dados, o chamado Coeficiente de Importações (CI) - que mede a parcela dos produtos vindos do exterior no consumo - fechou o ano passado em 21,8%, o maior nível da série, iniciada em 2003. Em 2009, o número havia sido de 18,3%.

Já o Coeficiente de Exportações, que mede quanto da produção nacional foi enviada ao exterior, teve leve alta em 2010, chegando a 18,9% - em 2009, era de 18%.

Segundo a Fiesp, além do forte crescimento da demanda doméstica no ano passado, o real valorizado e os benefícios fiscais concedidos por alguns Estados puxaram o aumento das importações.

Os dados mostram que, do crescimento de 14,2% no consumo dos brasileiros em 2010, 46,8% foi suprido por produtos importados. Considerando só manufaturados, houve aumento de 45% nas importações, contra alta de 18% nas exportações.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A BOA ACAO DE DELFIM NETTO.

Leio na FOLHA de hoje que o economista e ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto vai doar sua biblioteca pessoal para a USP (Universidade de São Paulo). Com 250 mil livros, a coleção é uma das maiores bibliotecas privadas do Brasil.

O motivo da doação, ele conta rindo, são os 82 anos. "Eu estou ficando velho, e a USP vai continuar."

Dizendo não ser um bibliófilo, o ex-ministro afirma que seu acervo é uma "biblioteca de trabalho, especializada".

"Não tem nenhuma primeira edição. Tenho todos os clássicos, mas não tenho nenhuma primeira edição. Eu não sou um bibliófilo, sou um colecionador de livros. Tenho muito prazer nisso", afirma.

Delfim conta que compra livros "como todo mundo, por catálogo e referência". Muitos amigos sugerem títulos a sua secretária, que os compra.

Constituída em sua maioria por títulos de economia, a coleção conta também com livros e documentos de história, geografia, filosofia, ciência política e matemática.

A biblioteca será integralmente doada para a Faculdade de Economia e Administração da USP, da qual Delfim é professor emérito. A faculdade está construindo um espaço para abrigar o acervo.

"Estou devolvendo para a FEA tudo aquilo que ela me deu", afirma Delfim.

Trata-se de um belo exemplo a ser seguido por muitos colegas.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

POR QUE AS EXPECTATIVAS IMPORTAM.

Nesta 851 postagem, a nossa homenagem vai para o Nobel PAUL KRUGMAN, direto do ESTADÃO.

Paul Segal tem uma boa postagem no FT sobre as expectativas de inflação e em particular sobre o que a Grã-Bretanha deve fazer em face de uma recente elevação na curva da inflação:

Discussões ásperas envolvendo as expectativas de inflação hoje e os seus efeitos potenciais sobre a inflação real no futuro evocam uma conclusão, mas parecem ter esquecido o raciocínio. As expectativas de uma alta futura da inflação levam a uma elevação da inflação no futuro somente se os trabalhadores e as empresas conseguirem repassar esse aumento previsto dos preços para seus próprios contratos.

De fato. Como tentei explicar no passado, devemos nos preocupar é com um processo de saltos sucessivos que podem perpetuar a inflação uma vez que ela se incorpore na economia:

Suponhamos que eu tenha estabelecido meu preço para o próximo ano e que espero que o nível geral de preços – incluindo aspectos como o preço médio de produtos concorrentes – suba 10% no curso do ano. Então provavelmente vou estabelecer meu preço 5% mais alto do que faria levando conta apenas as atuais condições.

Mas essa não é a história toda: como os preços fixados temporariamente são revisados apenas a intervalos, o reajuste deles com frequência é para fazer uma equiparação. Então, no momento em que reajusto meus preços, eles provavelmente ficarão 5% mais baixos do que “deveriam” estar; acrescente a isso a antecipação da inflação futura e, provavelmente, precisarei remarcar meu preço em 10% – mesmo se a oferta e a demanda estiverem mais ou menos equilibradas no momento.

Agora, imagine uma economia em que todo mundo esteja agindo da mesma maneira. O que isso nos diz é que a inflação tende a se perpetuar, a menos que ocorra um enorme excesso de oferta ou de demanda. Em especial, uma vez que as expectativas de uma inflação persistente de 10% sejam “incorporadas” na economia, será necessário um período maior de desaceleração – anos de alto nível de desemprego – para conseguir uma queda da inflação.

O ponto chave no caso inglês é que não existe nenhum sinal de que alguma coisa desse tipo esteja ocorrendo. A inflação geral sofreu uma alta por causa do preço dos alimentos, da energia, da desvalorização da libra e aumentos no VAT – imposto sobre o valor agregado; mas os saltos sucessivos no caso de preços que no geral não costumam variar não são absolutamente evidentes. Aqui está uma folha de salário semanal regular:

awe.jpg

Fonte.

Pense o seguinte a respeito: elevar as taxas na Grã-Bretanha agora seria exigir que os salários, já bem abaixo do padrão, diminuíssem ainda mais. Não é uma política sensata para responder a uma subida verificada excepcionalmente na curva dos preços.

A INFLAÇÃO NO BRASIL É UM DRAGÃO ADORMECIDO?

A população brasileira que hoje esta na faixa dos seus 16 anos desconhece o que seja a inflação. O Brasil registrou entre 1980 a junho de 1994, quando foi lançado o Plano Real, uma inflação acumulada de 10,5 trilhões por cento. Esse terrível dragão foi finalmente domado pelo Plano Real, o poder de compra dos brasileiros aumentou e os presidentes Fernando Henrique e Lula da Silva conseguiram governar de uma maneira que favoreceu as classes sociais de baixa renda.

Com o mundo convivendo ainda com os estragos causados pela crise econômica de 2008, registra-se no Brasil um sinal que a inflação pode voltar. Esse perigo latente não deve, sob hipótese alguma, ser desconsiderado pelo atual governo. Durante estes últimos 16 anos o povo brasileiro aprendeu a viver num país onde o preço de um bem hoje é o mesmo de amanhã e foi o mesmo de ontem. Aceitar a volta da inflação somente trará prejuízos a todos, mas em época eleitoral a tolerância do governo com o assunto, resultou em sinal amarelo hoje para o novo governo.

O Brasil, que tem uma meta oficial de inflação de 4,5% ao ano, brilhantemente defendida pelo Banco Central, acumula uma alta de 6% nos doze meses encerrados em janeiro/2011. O país vem crescendo a uma taxa anual de quase 8%, o que vem resultando num aumento mais forte da demanda, que a oferta não consegue atender, o que acarreta o aumento de preços de diversos produtos.

Para combater essa situação, além dos últimos aumentos na taxa básica de juros – hoje em 11,25% ao ano, uma das mais elevadas do mundo, recentemente o governo cortou no próprio orçamento algo em torno de R$ 50 bilhões, um número mágico que até o momento ninguém consegue detectar onde e quais despesas efetivamente sofrerão os cortes. A boa notícia é que, conforme Olivier Blanchard, quando os efeitos sobre as expectativas são levados em conta, uma redução dos gastos do governo não leva necessariamente a uma queda do produto.

Quando analisamos o comportamento das curvas IS e LM nessa situação específica, fica bastante claro que os gastos do governo diminuindo, levam a um deslocamento da curva IS para a esquerda. Porém, se o governo consegue reduzir a taxa de juros, a curva IS desloca-se para a direita e a essa taxa de juros em queda estimula os gastos e aumenta o produto.

Isso posto, mais do que nunca compete ao governo saber onde deve cortar, sem prejuízo às suas funções básicas de assegurar melhores benefícios para a população e sem esquecer da estratosférica carga tributária cobrada da sociedade. Fazendo a sua parte e deixando o mercado trabalhar, o governo atingirá seus objetivos, ou seja, não deixar o dragão inflacionário voltar a dominar este país, bem como, conseguir manter a taxa de juros num patamar que atenda ao consumo consciente da população.

Como comentou nesta semana Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central do Brasil, “Não podemos tolerar que a inflação fuja do controle num país como o Brasil, que ainda trem resquícios de indexação. Quanto menor a inflação, menor o custo para mantê-la em patamar baixo, porque todos os agentes econômicos trabalham com a perspectiva de que ela vai se manter assim e resistem à tentação de reajustar seus preços”.

FÓRUM MUNDIAL DE SUSTENTABILIDADE.

Para quem tem interesse no assunto e, principalmente, para quem está na região norte deste BRASIL, agende 24 a 26 de março próximos, em Manaus, para o FÓRUM MUNDIAL DE SUSTENTABILIDADE. Entre os palestrantes confirmados estão BILL CLINTON, Sir RICHARD BRANSON e ARNOLD SCHWARZENEGGER.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Egypt is free!!!

As imagens que a BBC mostra neste momento, direto do Egito, são inesquecíveis. Somos participantes da história em tempo real e, ao mesmo tempo, como é fascinante ver um povo muito feliz, cantando e dançando pela queda de um ditador. É a história repetindo-se, agora com a força e o poder das redes sociais. Por mais que estejamos no século XXI e a revolução tenha um contexto diferente de outras quedas de tiranos em outras épocas, a liberdade mais uma vez venceu. Viva o povo egipcío nesta celebração única e histórica!!!

O PRAZER DA PESQUISA!!!

Estimados colegas, bom dia e bom final de semana!

Quando você lê PAUL KRUGMAN no ESTADÃO analisando “o prazer da pesquisa”, você realmente reconhece que não existe almoço grátis. Tem que gostar muito do que faz e trabalhar bastante. A declaração de amor vinda de um intelectual de seu nível é assunto que merece ser realmente divulgado para todas as gerações da A à X,Y e Z...

Uma reflexão de ordem pessoal: percebi, algumas horas atrás, que estava desfrutando realmente de um bom fim de semana e isso me fez parar e pensar sobre o que de fato me agrada nesse meu atual papel de intelectual público.

Não é o semistatus de celebridade que ele proporciona; na verdade não me sinto muito à vontade quando sou reconhecido. E também não tem a ver com a capacidade de ter minha voz ouvida, é ótimo poder usar o mais valioso espaço jornalístico do mundo e agradeço a chance de, talvez, fazer uma diferença; mas a responsabilidade que acompanha esse privilégio é muito grande e às vezes me sinto carregando um pesado fardo.

Não, o que eu realmente adoro fazer é pesquisa – procurar entender como funcionam os sistemas de saúde, o que vem ocorrendo com a política monetária, como acessar e interpretar dados sobre o mercado de trigo.

Mas eu não estaria realizado essas pesquisas mesmo que nunca tivesse me afastado da carreira acadêmica? Sim, contudo… O problema de ser um acadêmico bem-sucedido é que é muito fácil cair na rotina, passar o tempo fazendo coisas de menor importância num trabalho que torna você um personagem importante; além do que, mesmo grandes economistas raramente fazem um trabalho revolucionário na minha idade. É por isso que muitos economistas de primeira classe buscam uma segunda carreira, de um tipo ou outro, seja na área de administração, relacionada com políticas públicas, etc.

No meu caso, estou escrevendo para o público em geral. O importante desta coluna é que ela, de uma maneira ou outra, obriga-me a continuar aprendendo novos estratagemas, a explorar áreas pelas quais nunca me interessei muito antes. E me força ainda a encontrar um modo de falar sobre os assuntos numa linguagem mais direta.

E eu amo isso.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF: PT SAUDAÇÕES.

Considero de menor importância esta discussão sobre se devemos chamar Presidenta Dilma ou Presidente Dilma. Entendo que a situação econômica é complexa e deveria merecer maior atenção do que ficar discutindo esse assunto. Mas gostaria de ratificar a minha posição, utilizada desde o início do governo da Presidente Dilma Rousseff, e para isso utilizo do artigo do Professor PASQUALE CIPRO NETO, hoje na FOLHA DE S.PAULO.

A Senadora Marta Suplicy interrompeu o presidente da Casa para "corrigi-lo". José Sarney usou a forma "presidente" para referir-se a Dilma Rousseff; Marta o interrompeu ("Pela ordem, senhor presidente: presidenta da República", disse ela a Sarney, que, em seguida, disse à senadora que as duas formas são corretas gramaticalmente). O fato é que Dilma Rousseff assumiu há 41 dias, e a polêmica continua, como continuam as manifestações a respeito do tema, algumas descabidas.

Já expliquei aqui que a terminação "-nte", presente em inúmeras palavras portuguesas, espanholas e italianas (e também inglesas e francesas, em que passa a "-nt" -em inglês, "presidente" é "president"; em francês, "président"), vem do particípio presente latino. Seu valor, em nossa língua e nas outras, é o de indicar o agente ("presidente" é "aquele/a que preside").

Também já disse que 99,99% das palavras terminadas em "-nte" têm forma única para o masculino e para o feminino. A mulher que gere (sim, "gere", do verbo "gerir", sinônimo de "gerenciar") uma agência bancária, por exemplo, não é gerenta; é gerente (gerenta, aliás, parece ter um certo tom pejorativo, não?).

A forma "presidenta" é uma das raras exceções, registrada -há muito- por vários dicionários (desde o de Cândido Figueiredo, por exemplo, publicado há quase um século). Outra das exceções, também antiga, é "infanta" ("1. Em Portugal ou Espanha, filha de reis que não é herdeira da coroa"; "2. Esposa do infante", explica o "Houaiss", que define "infante", no caso, como "Em Portugal e Espanha, filho de reis, porém não herdeiro do trono").

"Presidenta" é uma variante de "presidente", que, como as demais palavras terminadas em "-nte", é "substantivo ou adjetivo de dois gêneros". Em outras palavras, tanto faz, ou seja, pode-se empregar "a presidente Dilma Rousseff" ou "a presidenta Dilma Rousseff". Pois bem. O fato de haver registro de "presidenta" certamente decorre do fato de haver uso dessa forma (os dicionários não inventam palavras; registram as que ocorrem no corpus definido para a pesquisa). Mas a existência da variante de uma palavra não dá a ninguém o direito de exigir dos outros o uso dessa variante, muito menos o direito de corrigir quem não a usa, mas...

Posto isso, talvez pudéssemos trocar dois dedos de prosa sobre os possíveis motivos do pito que Marta deu em Sarney. Poder-se-ia pensar que o pito tem tom feminista, mas, como esse campo é minadíssimo, explosivo, prefiro não entrar nele.

Outra hipótese (talvez mais consistente) está em que, com o pito, Marta contesta o fato de que, ao empregar "a presidente", o presidente do Senado ignora o opção de Dilma Roussef por "presidenta". Aí o terreno se torna movediço...

Aproveito o mote para lembrar outros vocábulos que terminam em "-nte", como "adolescente" e "valente", que derivam, respectivamente, dos verbos "adolescer" e "valer". Sim, "adolescente" é "aquele/a que adolesce", assim como "valente" é "aquele/a que vale".

O caro leitor já empregou alguma forma de "adolescer"? Já disse a um de seus filhos algo como "Pobre de mim quando você adolescer!"? Elaiá! Certamente, não. O mais comum é algo como "Pobre de mim quando você entrar na adolescência!", não? Isso prova (mais uma vez) que nem sempre temos noção da relação que há entre as palavras ou de seu processo de formação.

Antes que me esqueça, "adolescer" vem do latim, em que significa "desenvolver-se, crescer". É isso.

APAGÕES NO GOVERNO!

Já que estamos falando do CEARÁ, nada como rever o genial SINFRÔNIO e a sua charge do dia no DIÁRIO DO NORDESTE. E que não venham mais apagões... SE ainda for possível...

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...