sexta-feira, 4 de março de 2011

Castelar e a atual situacao economica.

Armando Castelar Pinheiro, pesquisador do IBRE/FGV e professor do IE/UFRJ, escreveu no VALOR ECONÔMICO de hoje sobre o nível de atividade em 2011.

Esta semana foi pródiga de indicadores sobre uma questão que vem desafiando os analistas: a economia brasileira está desacelerando? Como mostrou o Valor Econômico de segunda-feira, há aqueles que apostam que sim, mas também os que entendem que essa desaceleração é localizada e, em especial, insuficiente para trazer a inflação de volta para a meta de 4,5%.

Os dados das contas nacionais divulgados ontem confirmaram a expansão de 7,5% em 2010 e o ritmo mais moderado do quarto trimestre, ainda que com alguma aceleração em relação ao período anterior. O destaque no trimestre foi a expansão do consumo das famílias, de 10,4% em termos anualizados, e dos serviços, de 4,1%; a principal frustração foi o desempenho relativamente modesto da formação bruta de capital fixa, com a taxa de investimento caindo para 18%, contra média de 18,4% no ano. A taxa de poupança, de 16,5% no ano, foi outra vez muito baixa.

O Produto Interno Bruto (PIB) este ano vai crescer menos que em 2010, quando a economia se recuperou da queda sofrida em 2009. O mercado prevê alta de 4,3%, já menor que os 4,6% de quatro semanas atrás, mas há quem duvide que chegue a tanto, seja pelas limitações de oferta, seja pelo enfraquecimento da demanda.

A estatística explica uma parte dessa desaceleração: não apenas a base de comparação é menos favorável, como o carrego estatístico é menor: 1,1 ponto percentual em 2011, contra 3,7 pontos em 2010. A política econômica explica outra parte: ano passado, as políticas fiscal e de crédito público foram amplamente expansionistas e a Selic, de 3,8% em termos reais, ficou abaixo do neutro. Este ano o governo promete aumentar menos o gasto e os juros devem ser mais altos (6% reais, pelas previsões de mercado).

As medidas de natureza macroprudencial adotadas em dezembro - aumento de compulsórios e da exigência de capital para empréstimos mais longos às pessoas físicas - vão desencorajar a expansão do crédito. Em especial, a média diária de concessões de crédito para as pessoas físicas caiu 0,7% em janeiro, com quedas mais pronunciadas para a aquisição de veículos (-27,2%) e outros bens (-24,6%); para o crédito pessoal também houve redução, mas menor (-1,7%). Essas contrações vieram na esteira de um desempenho já ruim em dezembro.

O setor automobilístico, que liderou a expansão da indústria em 2010, deve sofrer mais com essas medidas. A PIM-PF, publicada dois dias atrás, registrou alta de 0,2% na produção industrial em janeiro, mas mostrou uma queda na produção de veículos automotores de 3,2%. Por outro lado, os bens de consumo duráveis registraram a mais forte expansão no mês (6%), aumentando 1,8% na média trimestral, contra uma queda de 0,2% para a indústria.

Nada indica, portanto, que o consumo doméstico esteja desacelerando fortemente. De fato, dados da Fenabrave para fevereiro mostram um recorde de venda de veículos novos no mês, com alta de 11% sobre janeiro. Nas palavras do seu presidente, "no balcão, não estamos sentindo restrição no crédito pelos agentes financeiros".

O contraste entre a evolução das vendas e da produção foi uma marca da economia no último lustro: as vendas do comércio cresceram a uma média de 8,3% ao ano, o triplo dos 2,8% observados para a produção industrial. O bom desempenho do mercado de trabalho vem sustentando a alta do consumo, seja diretamente pelo aumento da renda, seja pelo estímulo que dá à concessão de crédito. A valorização do real, ao baratear itens de consumo como carros e eletrodomésticos, também contribuí para isso.

Os dados para o mercado de trabalho em janeiro foram ambíguos. O desemprego está em nível historicamente muito baixo e a massa salarial cresce em ritmo forte: nos doze meses até janeiro, esta subiu 8,4% acima da inflação, puxada tanto pela alta do emprego como do rendimento médio. Por outro lado, a taxa de desemprego aumentou em janeiro, para 6,1%: ainda que a alta seja normal nesse mês, seu valor pode ser considerado alto (0,8 ponto percentual, contra metade disso um ano antes). Por outro lado, ela é 1,1 ponto percentual mais baixa que um ano antes, basicamente a mesma queda que de 2009 para 2010.

Assim, para além da desaceleração do PIB, 2011 pode ser caracterizado pela dicotomia entre os desempenhos da produção industrial, de um lado, e do consumo e das vendas domésticas de outro. A variável chave a acompanhar será a dinâmica do mercado de trabalho e, em especial, por quanto tempo será possível manter esse ritmo de expansão na massa salarial.

Se o PIB aumentar 4,3% este ano, principalmente se puxado pelos serviços, o emprego deve crescer mais que a população economicamente ativa, ainda que o baixo desemprego limite o espaço para isso. Os rendimentos reais também devem continuar subindo em ritmo forte, ainda que talvez não tanto quanto nos últimos doze meses (5,3%). Nesse cenário, demanda e oferta de crédito devem seguir firmes, mesmo que a juros mais altos. Obviamente, uma questão diferente é se isso se sustenta no médio prazo, dado o nível aparentemente alto de comprometimento da renda das famílias com empréstimos.

ECONOMIA BRASILEIRA.

FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores, escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO sobre o atual momento econômico. Quando se divulgam os dados do PIB, o leitor pode facilmente se perder numa selva de números. Correndo o risco de desanimar os corajosos exploradores que chegaram até aqui, confesso que também vou apresentar alguns números, na esperança de que ajudem a esclarecer como anda a atividade econômica.

Os dados do IBGE revelam os seguintes aspectos:

a) o PIB cresceu bastante em 2010 como um todo (7,5%), mas pouco na segunda metade do ano (quando a produção foi apenas 1,6% maior do que no 1º semestre); b) o período de menor dinamismo foi o 3º trimestre, quando várias indústrias de bens duráveis (como a automobilística) seguraram a produção para reduzir estoques, o que limitou a alta do PIB, sobre o 2º trimestre, a 0,4% (ou 1,6% ao ano);

c) no 4º trimestre, o PIB se acelerou moderadamente, superando o do 3º trimestre em 0,7% (pouco menos de 3% ao ano); d) ao longo do ano, a demanda interna se desacelerou aos poucos, mas cresceu bem mais do que a produção.

Contraste os números de PIB que acabou de ler com os seguintes, relativos à demanda interna (que é a soma de consumo das famílias, do governo e investimento): no ano, a demanda interna cresceu 8,7%; no 2º semestre, ela foi 3,4% maior do que no 1º; e do 3º para o 4º aumentou 1,6% (ou 6,4% ao ano).

Esse "descolamento" persistente entre a demanda e a produção se traduziu, naturalmente, em forte alta da importação de bens e serviços. O volume de importações subiu 36,2% (ante 11,5% do volume de exportações), e elas abocanharam uma fatia bem maior do mercado brasileiro de manufaturados.

A queda do saldo comercial só não foi dramática porque, mais uma vez, os preços daquilo que exportamos subiram muito mais do que os das importações.

Falemos de 2011. Se o PIB se mantiver estagnado -ou seja, se repetir, nos quatro trimestres, o patamar verificado no trimestre final de 2010-, ao encerrar-se o ano ele terá crescido 1,1%. É um "carregamento estatístico" bem menor do que os 3,4% que 2009 "legou" a 2010.

A LCA considera que neste 1º trimestre a economia está crescendo em ritmo similar ao do final de 2010. A política econômica, preocupada com a inflação, desde fins de 2010 está se mobilizando para induzir uma desaceleração adicional da demanda interna.

Parece provável que as autoridades tenham êxito - com "ajuda" do forte encarecimento dos alimentos -, limitando a expansão do PIB no ano a algo como 3,6%.

quinta-feira, 3 de março de 2011

No Brasil PIB, Juros e Inflação até que dá samba!!!

Neste período onde o Rei Momo é quem manda no Brasil, dia seguinte a nova elevação da taxa básica de juros de 11,25% para 11,75%, a sociedade toma conhecimento que a economia brasileira cresceu à taxa de 7,5% em 2010 em comparação com 2009. O Produto Interno Bruto - PIB atingiu R$ 3,675 trilhões e, finalmente, deixamos o 0,6% negativo de 2009 bastante atrás. O exuberante indicador é o maior desde 1986 e encerra com perfeição a era do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de uma excelente recuperação econômica, já esperada pelos analistas de mercado e governo, mas contém o fato desse crescimento incluir fortes investimentos do governo, bem como comparar-se sobre o pífio desempenho de 2009.

Como no Carnaval coexistem momentos de alegrias e tristezas, na economia não poderia ser diferente. Enquanto muitos estão felizes com o excepcional aumento no PIB, outros estão bastante preocupados com um eventual retorno da inflação. Para 2011 o mercado já prevê uma taxa de inflação de 5,8%. Considerando que em 2009 a inflação foi de 5,91%, a maior registrada no país desde 2004 e, em janeiro deste ano, o índice subiu 0,83%, a maior alta desde abril de 2005, existe uma luz amarela no final do túnel. Como qualquer economia que deseja manter-se, sem graves problemas estruturais, entre as maiores do mundo, o Brasil trabalha com o regime de metas de inflação, sendo o Banco Central responsável por manter a taxa de inflação em 4,5% ao ano, com margem de 2% para mais ou menos. Com o consumo mantendo-se nas atuais condições, o país corre um sério risco de retornar ao universo inflacionário, com perdas para todos os extratos da sociedade, principalmente os de baixa renda.

Fato é que com o ingresso de milhões de novos consumidores ao mercado, ávidos por produtos básicos que vão da linha branca até a industria automotiva e que faz a festa das empresas produtoras, o consumo aumentou substancialmente, resultando num preocupante aumento da taxa de inflação, já em níveis superiores ao centro da meta. Diante disso, o governo age através do Banco Central com a elevação da taxa de juros visando frear essa demanda que estava reprimida, bem como comunica ao mercado sua intenção de cortar cerca de R$ 50 bilhões nos seus gastos públicos. Muitos analistas entendem que essa seja a meta mais difícil de cumprir devido os componentes políticos envolvidos, o que no Brasil sempre é, na maioria das vezes, em benefício de setores mais organizados.

Mesmo que os efeitos da elevação da taxa de juros não sejam de curtíssimo prazo, essa sinalização já provoca uma redução no consumo, apesar do Brasil atualmente apresentar um nível de desemprego um pouco superior a 6%, um dos mais baixos da história. Neste momento é importante que a economia ajuste-se aos padrões de macro estabilidade, uma vez que temos uma excessiva carga tributária, uma preocupante dependência das nossas exportações para a China, uma logística que não favorece a produção, uma legislação anacrônica e uma presença estatal em setores privados que há anos deveriam ter sido privatizados. Para o economista Antonio Correa de Lacerda Se você combina corte de gastos com aumento de juros, com restrição da demanda e com o cenário internacional turbulento, você pode jogar a economia no chão.O desafio do Brasil é diminuir um pouco o ritmo de crescimento da economia, porém manter acelerado o ritmo de investimentos. É isso que vai garantir a sustentabilidade no futuro.”

Nesse ponto espera-se que os investimentos do governo através do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e as monumentais obras que deverão ser construídas para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, efetivamente produzam condições para a manutenção de um bom ritmo de crescimento, previsivelmente inferior ao PIB 2010, mas melhor do que o resultado de outros países desenvolvidos. De qualquer maneira, conservadoramente, o próprio governo já trabalha com um PIB para 2011 na média em 5%, crescimento esse aceitável diante das enormes demandas ainda existentes na sociedade brasileira e do risco do retorno da inflação. Que no Carnaval de 2012, os números também dêem samba.

TAXA DE JUROS.

MARCELO L. MOURA, professor associado do Insper e doutor em economia pela Universidade de Chicago, escreveu no VALOR sobre o aumento de ontem na taxa de juros .
Se acreditarmos no que diz a teoria econômica, a decisão do comitê de política monetária do Banco Central de aumentar a taxa de juros de curto prazo deveria elevar o custo de empréstimo das empresas e restringir o crédito para consumidores.
Esse aumento provocaria queda no investimento e em compras de bens duráveis, como casas, automóveis e eletrônicos, entre outros. Vale aqui a lógica pura e simples de que, se a demanda cai, o lado da oferta responde, reduzindo a produção e o ritmo de elevação dos preços.
A pergunta que nos cabe fazer é: por que o combate da inflação no Brasil requer doses tão elevadas de juros?
A pergunta é ainda mais relevante se olharmos para outros países emergentes, que crescem a um ritmo maior e que possuem inflação mais baixa.
A resposta passa por entender as condições nas quais a política monetária funciona bem.
Existem pelo menos duas: que a economia não sofra outros choques e que a taxa básica de juros reflita diretamente o custo de tomar dinheiro emprestado.
A economia não sofrer outros choques significa que não devem ocorrer outras políticas do governo que estimulem a demanda, anulando, assim, parte do efeito da política monetária.
Embora o governo tenha ações nessa área, sendo a mais relevante a do anúncio de um corte de R$ 50 bilhões do Orçamento, a verdade é que, na prática, o gasto do governo aumenta acima da inflação ano após ano.
Mesmo se acreditarmos no cumprimento da promessa de corte, o Orçamento que fica é ainda cerca de 7% acima do valor do ano passado, o qual já representava um nível elevado de gastos. Contando uma história longa em poucas palavras: a política fiscal joga contra a política monetária.
A segunda condição é que exista uma relação direta e forte entre taxa básica de juros e custo do empréstimo.
Essa hipótese é também questionável no Brasil. Aí entra o papel do governo via BNDES, concedendo crédito com juros subsidiados.
Também entra o fato de que, para as pessoas físicas, os juros são tão elevados que apenas pequena parcela da população toma empréstimos no sistema financeiro, seja na forma de financiamentos imobiliários, crédito direto ao consumidor, uso do rotativo no cartão de crédito ou cheque especial.
Com empresas que pouco são afetadas no seu custo de empréstimo e poucos consumidores se financiando, o efeito também será limitado.
Dito isso, cabe agora ao governo assumir uma posição mais clara de coesão de políticas que visem controlar a inflação de forma mais eficiente. É como pedir que os 11 jogadores tentem fazer gol no mesmo lado do campo. Será que é tão difícil perceber? Para o mercado, pelo menos, não é o que parece.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Macro.

Foi imenso o fracasso da ideia que existiriam "leis" quase naturais que determinariam a melhor forma de organização do sistema econômico e que elas poderiam ser "descobertas" e "exploradas" para sugerir à sociedade como construí-la.

Teve como resultado lamentável a descrença que hoje cobre a economia, pensada como "ciência" pelos economistas que sentem inveja da física. É preciso separar o joio do trigo. Trata-se de voltar à velha e modesta economia política (a criança) e jogar fora a água do banho (a econofísica)...

A discussão metodológica é interminável e a ideológica insuperável! O fundamental é reconhecer: 1º) que na economia política, ao contrário da física, o agente (o átomo) reage, pensa, tem limites éticos fixados em sua cultura, imita o comportamento dos outros, tem memória e escolhe e 2º) que os parâmetros do espaço econômico são instáveis e suas condições estruturais, como consequência do aprendizado e da experiência, modificam-se com imensa velocidade quando comparadas aos do mundo físico.

Para dar um exemplo de como o comportamento dos agentes muda com a experiência, altera o espaço econômico e leva ao envelhecimento precoce da "teoria econômica", lembremos que em setembro de 1997, na sua reunião anual, o FMI garantiu que o livre movimento de capitais era fundamental: 1º) para melhorar a eficiência alocativa e acelerar o desenvolvimento econômico mundial; 2º) para aumentar a oportunidade de diversificação dos portfólios, o que beneficiaria os investidores e 3º) que da mesma forma que a liberdade de comércio, a liberdade do movimento de capitais aumentaria a produtividade da economia e a eficiência do seu sistema financeiro.

E terminou triunfalmente: "Esses não são conceitos abstratos. Sugerem as oportunidades para que todos os países aqui representados possam beneficiar-se do acesso à ampla liberdade de movimento de capitais".

Pois bem, no dia 6 de janeiro de 2011, Caroline Atkinson, diretora do Departamento de Relações Externas do FMI, numa entrevista, em resposta a uma pergunta de como aquela instituição via as medidas de controle do movimento de capitais impostas recentemente pelo Brasil, afirmou: "Vemos essa atitude como medidas macroprudenciais destinadas a fortalecer o sistema bancário do Brasil diante do enorme afluxo de capitais. Elas podem ser apropriadas e são parte da caixa de ferramentas disponíveis".

Medidas macroprudenciais se destinam à primeira tarefa dos bancos centrais: manter hígido o sistema financeiro.

Podem, sim, subsidiariamente, ajudar no controle da inflação. Ah, o poder de uma palavra! Tudo agora é "macroprudencial".

Por quem os juros sobem.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, alerta mais uma vez alerta os seus leitores em seu blog www.maovisivel.blogspot.com e na sua coluna na FOLHA DE S. PAULO, sobre a situação dos juros no Brasil.

Hoje, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve decidir por mais uma rodada de elevação da taxa de juros básica da economia. Não tenho dúvida de que, até entre os meus 18 leitores, há mais de uma alma se perguntando por que, afinal de contas, se a taxa de juros no Brasil já é tão alta, seria necessário elevá-la ainda mais.

A resposta simples é porque a inflação, não apenas a corrente, mas, principalmente, a esperada, se encontra acima da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

De fato, a inflação nos últimos 12 meses se encontra ao redor de 6%, enquanto o consenso de mercado e as projeções do próprio Banco Central sugerem que a inflação em 2011 e em 2012 deve superar a meta, caso a Selic não suba.

Mas a resposta simples é insuficiente. Uma mente mais inquisitiva poderia perguntar se uma taxa de juros mais elevada é mesmo um tratamento eficaz contra a aceleração da alta dos preços.

Por exemplo, se a inflação resulta de preços de alimentos, por conta da elevação dos preços mundiais de commodities agrícolas, como se ouve aqui e acolá, que bem poderia fazer o aumento da taxa de juros?

A verdade, contudo, é que a inflação decorre de fenômenos bem mais amplos do que os preços de alimentos. O núcleo de inflação (que retira os preços de alimentos, assim como tarifas públicas) indica que os preços estariam aumentando a um ritmo de 6,5% ao ano.

Destaco adicionalmente que o IPCA medido de 16 de janeiro a 15 de fevereiro revela que mais de 73% dos itens não alimentícios sofreram aumento no período, ante 69% em janeiro, revelando que o processo inflacionário se encontra bastante difundido.

E, antes que alguém alegue que se trata de problema sazonal, noto que essa medida de difusão é a mais alta para o mês desde 2003, merecendo a duvidosa honra de ser a segunda maior para o mês de fevereiro desde o estabelecimento formal do regime de metas para a inflação.

Dito isso, se as causas da aceleração inflacionária vão além do comportamento do preço de alimentos, quais são elas? Ainda que setores menos comprometidos com a estabilidade de preços insistam em "problemas estruturais" ou "conflitos distributivos" (que, misteriosamente, se exacerbam apenas quando a economia cresce em ritmo forte), a verdade é que a inflação varia essencialmente em linha com o grau de pressão sobre a capacidade produtiva da sociedade.

Quando o mercado de trabalho aperta, o nível de utilização de capacidade na indústria sobe e os (muitos) gargalos da infraestrutura (como os recentes "apagões") pipocam mais que o David Beckham, os custos unitários se elevam e as condições de demanda permitem seu repasse generalizado.

Sob essas circunstâncias, não há alternativa para conter o processo inflacionário que não passe pela redução da pressão sobre a capacidade produtiva e, goste-se ou não da conclusão, isso requer que o crescimento fique, por algum tempo, abaixo do potencial.

Isso poderia ter sido evitado se o combate à inflação tivesse sido iniciado mais cedo, promovendo a convergência do crescimento para seu potencial (o chamado "pouso suave") ainda em 2010, mas esse leite já se encontra devidamente derramado.

É bom que se diga, também, que essa desaceleração poderia se dar preservando o consumo e o investimento privados, desde que o governo tomasse para si o fardo de reduzir seu dispêndio.

Obviamente, quando o responsável pelo caixa afirma que "os gastos públicos não têm impacto inflacionário no Brasil", fica claro que essa não é a prioridade, ainda mais depois de um "corte" de despesas que, na verdade, implica seu aumento com relação ao observado em 2010.

Assim, leitor, quando perguntar por quem os juros sobem, saiba que eles não sobem por ti, mas por quem desperdiçou (e, parece, desperdiçará) todas as oportunidades de lidar com o problema antes que isso se tornasse necessário

terça-feira, 1 de março de 2011

INSIDE JOB

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve no VALOR ECONÔMICO de hoje, via CORECON RJ, texto sobre o "Inside Job", documentário que considera imperdível.

O sempre instigante Eu& Fim de Semana publicado nas edições de sexta-feira do Valor, ofereceu a seus leitores uma entrevista do economista Lawrence Summers. Summers, entre outras proezas, ficou conhecido por declarações polêmicas. Recomendou o incentivo à deslocalização de indústrias poluidoras para os países da periferia. Reitor de Harvard, Summers decretou a incapacidade da inteligência feminina em lidar com as complexidades das "hard sciences".

Observei Summers no café do pavilhão onde se realizava a reunião do Fórum Mundial Davos, em 1993. Entre um gole de café e outro, Summers iniciou um sermão aos circunstantes sobre políticas econômicas nos países em desenvolvimento. As lições de Summers sucederam uma tertúlia sobre a economia mexicana que, segundo os participantes da mesa, navegava de velas enfunadas rumo à prosperidade. Não faltaram reverências e salamaleques ao então presidente Salinas de Gortari e a seu ministro da Fazenda, Pedro Aspe.

Sentados na plateia, o professor Carlos Antonio Rocca e este locutor que vos fala, entre estarrecidos e irritados, ouvíamos os julgamentos peremptórios que fluiam do debate entre os sabidos da academia e financistas mais sabidos ainda. As opiniões iam da celebração incondicional do modelo mexicano às referências derrisórias ao Brasil. Digo estarrecidos porque, naquele momento, o México apresentava um déficit em transações correntes de 8% do Produto Interno Bruto (PIB), déficit fiscal elevado e a dolarização galopante de sua dívida interna, infestestada de Tesobonos.

Em dezembro de 1994, o México quebrou vítima de uma "parada súbita" e só sobreviveu com o socorro do Tesouro Americano e do Fundo Monetário Internacional (FMI), providência destinada a salvar os bancos de Tio Sam. Summers, então subsecretário do Tesouro de Clinton capitaneou a operação de salvamento.

Não havia como escapar da impressão de que Summers era encarnação mais acabada do personagem de Molière, o "idiot savant", cheio de si, como tantos outros que se abrigam sob o manto hoje prestigioso dos estudos da economia. (Evito a expressão ciência econômica para evitar que o ego já inflado dos sabichões sofra um processo fatal de inchaço e implosão).

Pois Summers é um dos personagens centrais do imperdível documentário "Inside Job" de Charles Ferguson que, na madrugada de ontem, levou o Oscar na sua categoria. O título do filme foi traduzido para o português como "Trabalhos Internos" - é lamentável a falta de imaginação do tradutor, que provavelmente não viu o filme. "Inside Job" é uma expressão idiomática. Um amigo, mais versado do que eu no idioma de Shakespeare, sugeriu "Trabalhos Promíscuos".

O documentário mostra que Summers faturou uma nota preta ao ministrar palestras remuneradas pelos senhores do Universo sobre as maravilhas da desregulamentação financeira. Entre suas idas e vindas ao governo, dedicava-se a assessorar instituições financeiras mediante farta remuneração. Não sei se ele está no rol de 19 economistas investigados no estudo do seu colega Gerald Epstein, da Universidade de Massachusetts Amherst.

O estudo trata do conflito de interesses entre a atividade acadêmica, a ocupação de funções no Estado e as atividades de consultoria, quando os personagens não advertem a opinião pública a respeito de suas ocupações e pertinências. Essa confusão de papéis está gerando um movimento entre os economistas americanos para a adoção de um código de ética.

Não se trata de limitar as atividades profissionais dos economistas, mas sim de tornar claro ao público que as opiniões podem estar viciadas e deformadas pela infiltração de interesses estranhos à independência acadêmica e à função pública.

Enquanto secretário do Tesouro de Clinton, Lawrence Summers trabalhou intensamente para a aprovação no Congresso dos Estados Unidos do Gramm-Leach-Bliley Act. Essa lei derrotou a legislação dos anos 1930, o Glass-Steagal Act, que separava os bancos de depósito, os bancos de investimento, seguradoras e instituições voltadas para o financiamento imobiliário e "fundeadas" na poupança das famílias.

Os mercados financeiros contemporâneos lograram capturar os controles da economia e do Estado, mediante o incrível aumento do seu poder social e político. As transformações ocorridas no sistema financeiro desataram a livre e brutal concorrência no capitalismo da grande empresa e das grandes instituições financeiras.

A expressão grande demais para falir esconde mais do que revela. Nos últimos anos, a securitização e a alavancagem construíram uma teia de relações de débito e crédito entre as grandes instituições espalhadas pelo mundo. Os bancos de investimento e os demais bancos sombra aproximaram-se das funções monetárias dos bancos comerciais, abastecendo seus passivos nos "mercados atacadistas de dinheiro" ("wholesale money markets"), amparados nas aplicações de curto prazo de empresas e famílias. Não por acaso, a dívida intrafinanceira como proporção do PIB americano cresceu mais rapidamente do que o endividamento das famílias e das empresas. Esse fenômeno corresponde ao controle da riqueza social pelas instituições privadas, o que torna impossível a omissão dos bancos centrais quando um elo da cadeia se rompe.

O depoimento mais constrangedor, entre tantos de "Inside Job", é prestado pelo economista Frederick Mishkin. Ex-membro do Federal Reserve, Mishkin não consegue explicar porque às vésperas do colapso dos bancos da Islândia produziu um relatório que assegurava a estabilidade do sistema financeiro do país, mediante o estipêndio de US$ 124 mil.

ENCONTRO DOS BLOGUEIROS DE ECONOMIA

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Estado mostra suas garras.

GUSTAVO CERBASI, em artigo na FOLHA DE S. PAULO, registra de uma forma distinta uma situação por demais conhecida de todos: o Estado tem garras e elas são afiadas.

Completados dois meses de um governo que se autorrotula como austero, as coisas andam como era de esperar. O debate do momento é sobre a volta da CPMF (o antigo tributo do cheque), supostamente justificada pela necessidade de arrecadação. Nas últimas semanas, o foco das atenções estava na contenção do aumento do salário mínimo e da correção da tabela para desconto do Imposto de Renda na fonte.

Dos debates já encerrados, a conta ficou para o contribuinte. Tanto o simbólico salário mínimo quanto a tabela do IR foram corrigidos abaixo da inflação, diminuindo o poder de consumo da população.

Não seria incoerente, se não vivêssemos um período de recordes na arrecadação de tributos, de formação de reservas e de autonomia dos cidadãos que nunca estiveram tão empregados quanto agora. Este deveria ser o momento de garantir o aumento definitivo do bem-estar da população, mas estamos sendo chicoteados pela incompetência. Agora, não é o caso de debater se a CPMF é justa ou não.

Ela seria justíssima, incidindo proporcionalmente ao volume de riqueza manipulado pelos cidadãos, não fosse a carga tributária geral tão elevada e a aplicação dos recursos tão ineficiente.

Gostaria de pagar 1% de CPMF em lugar dos tributos estaduais e federais que incidem em cascata e que saem muito mais caro. Gostaria de ser tributado em 50% de minha renda se pudesse matricular meu filho em qualquer escola pública sem preocupação, se pudesse ser atendido no SUS (Sistema Único de Saúde) sem risco de morrer na fila ou se pudesse andar em ruas seguras sem me disfarçar por trás das películas ilegais do meu carro.

O pior dessa situação é que não falta dinheiro. Ele sobra, mas é muito mal usado. Aliás, nunca poderá ser bem usado se não houver mudanças profundas na lógica de uso de recursos do Estado.

Empresas públicas e autarquias que ousam ser eficientes em suas contas são punidas com corte das dotações orçamentárias nos anos seguintes. O segredo para o gestor público ter dinheiro é ser ineficiente, gerar deficit, para poder pleitear aumento da mesada. É por isso que, por exemplo, por mais que se enterre dinheiro nos aeroportos, eles sempre serão essa vergonha.

Conversei com pessoas que se sentiram alarmadas ao ouvir dizer que o serviço aeroportuário funcionará com anexos improvisados para a Copa de 2014. Não entendi. Alguma vez os aeroportos deixaram de funcionar de improviso?

Quando o governo alega que está investindo a arrecadação em obras e infraestrutura, ele está abusando de nossa ignorância. Para projetos com prazo definido, o mecanismo de captação recomendado é a emissão de títulos públicos, com prazos de vencimento compatíveis com os prazos de obras -e não faltam investidores interessados em financiar as obras necessárias.

A arrecadação de tributos tem como objetivo custear os gastos do dia a dia do governo, e é aqui que o Brasil mais peca. Falta qualidade, faltam atendimento digno e tecnologia no serviço público, mas o número de servidores não para de crescer.

Onde eles estão? Mal alocados em serviços burocráticos e ineficientes, drenando nossos recursos sem muito agregar ao bem-estar da sociedade. Não defendo a demissão em massa de servidores, mas creio que um enxugamento de funções e a realocação de mão de obra para os serviços realmente necessários à população ajudariam a reduzir a necessidade de tributos.

Estamos sedados pelo hábito de aceitar a ineficiente condução do Estado mas, se o governo realmente se apresenta como austero, o momento é de mudança. A CPMF não é necessária. O aumento do salário mínimo não foi justo. A correção da tabela do IR também não será. Se o Brasil pensa em crescer, está na hora de o Estado encolher.

A sociedade civil está madura o suficiente para administrar bem os recursos que são desperdiçados pela má gestão pública. Na teoria, já somos ricos; só falta colocar isso em prática e lidar inteligentemente com o dinheiro que a economia gera.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

OSCAR 2011

Espero e torco para que O DISCURSO DO REI receba a maioria dos premios nesta noite de OSCAR 2011.
Indicados a melhor filme do ano:
  • “Black Swan” Mike Medavoy, Brian Oliver and Scott Franklin, Producers
  • “The Fighter” David Hoberman, Todd Lieberman and Mark Wahlberg, Producers
  • “Inception” Emma Thomas and Christopher Nolan, Producers
  • “The Kids Are All Right” Gary Gilbert, Jeffrey Levy-Hinte and Celine Rattray, Producers
  • “The King's Speech” Iain Canning, Emile Sherman and Gareth Unwin, Producers
  • “127 Hours” Christian Colson, Danny Boyle and John Smithson, Producers
  • “The Social Network” Scott Rudin, Dana Brunetti, Michael De Luca and Ceán Chaffin, Producers
  • “Toy Story 3” Darla K. Anderson, Producer
  • “True Grit” Scott Rudin, Ethan Coen and Joel Coen, Producers
  • “Winter's Bone" Anne Rosellini and Alix Madigan-Yorkin, Producers

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Quatro falácias sobre a crise.

Jagdish Bhagwati, professor de Economia e Direito na Universidade Columbia e pesquisador sênior em Economia Internacional, no Conselho de Relações Exteriores, escreve no VALOR sobre “Quatro falácias sobre a crise”.

As atuais crises gêmeas - no terreno financeiro e na economia real (que os americanos denominam Wall Street e Main Street) e as discussões intermináveis sobre reforma financeira e as perspectivas de recuperação econômica, já geraram várias falácias que precisam ser abordadas e descartadas.

Falácia 1: A crise produzirá uma "queda livre".

Uma queda livre significa exatamente isso. Mas a economia mundial, ou mesmo os EUA ou a União Europeia (UE) - aos quais esse sombrio prognóstico foi aplicado (por Joseph Stiglitz, por exemplo, que escreveu um livro intitulado "Freefall" (Queda livre) - certamente não vêm despencando como a maçã de Newton. Animadas discussões sobre se uma ou ambas as economias defrontam-se com uma recessão em forma de L ou de V deram lugar à realidade de grande volatilidade, tanto da renda como de indicadores financeiros, em torno de uma leve tendência ascendente.

Falácia 2: Valendo-se de expansão monetária, os EUA estão manipulando a taxa de câmbio do dólar da mesma maneira que, segundo acusam, a China manipula a taxa de câmbio do yuan.

Os dois casos são distintos. Se alguém aceita a premissa de que há insuficiência de demanda agregada mundial, a alegada desvalorização do yuan pode, de fato, ser vista como uma política do tipo "empobreça o vizinho", que desvia uma inadequada demanda mundial para os produtos chineses em detrimento dos outros países.

Por outro lado, o enfraquecimento do dólar é um efeito colateral da expansão monetária americana, posta em prática depois que países como a China e a Alemanha recusaram-se a gastar mais para aumentar a demanda mundial e depois que deixou de haver espaço para um estímulo fiscal adicional. Isso é diferente de uma política de desvalorização do dólar para desviar uma demanda mundial insuficiente para os produtos americanos.

Falácia 3: Os desequilíbrios mundiais atuais continuarão a nos afligir. Inevitavelmente, os economistas generalizam a partir da situação atual, de modo que os superávits em conta corrente chineses e alemães atuais e o déficit americano, por exemplo, sejam vistos como tendo vindo para ficar. Mas a história está repleta de países superavitários que passaram a deficitários. Donald MacDougall. que foi conselheiro de Winston Churchill sugeria que o dólar era o que o Fundo Monetário Internacional (FMI) denominava "moeda escassa". Quando o livro foi publicado, porém, o problema havia desaparecido.

Inicialmente, o superávit chinês surgiu inadvertidamente, não intencionalmente. O mesmo vale para o déficit americano, resultante do não financiamento da guerra do Iraque com nova tributação - uma decisão enraizada num enorme erro de cálculo: a suposição de que a guerra estaria terminada em seis semanas.

Hoje, os próprios chineses se dão conta de que seus superávits obtêm retornos ínfimos quando investidos em títulos do Tesouro americano. Em vez disso, eles estão extremamente interessados em gastar seus ganhos com o comércio exterior em infraestrutura doméstica, eliminando os gargalos que impedem maior crescimento, como na Índia.

Como resultado, as importações chinesas irão crescer - e, assim, seu superávit diminuirá - por duas razões. Primeiro, salários serão gastos, em parte, em mais produtos importados. Em segundo lugar, investimentos em infraestrutura exigem equipamento pesado que normalmente é fornecido por companhias como a Caterpillar, GE, Siemens e outras, em sua maioria fornecedoras ocidentais. Além disso, a imensa pressão, nos EUA, em favor de consolidação fiscal, refletida na mais recente proposta de orçamento do presidente Barack Obama, deverá reduzir a demanda por importações pelos EUA, reduzindo ainda mais o desequilíbrio bilateral.

Falácia 4: Nada de gestão keynesiana da demanda. Algumas pessoas que criticam o estímulo keynesiano a gastos implementado por Obama, entre eles o economista Jeffrey Sachs, alegam que os EUA necessitam é de aumento de produtividade de "longo prazo". Mas a conclusão não decorre da premissa. Como keynesiano, acredito que se o Estado pagar às pessoas para que cavem buracos para apenas voltar a preenchê-los, isso aumentará a demanda agregada e produzirá mais renda. Mas Keynes não era tolo. Ele compreendia que o governo poderia acabar obtendo enormes retornos se o dinheiro fosse gasto em investimentos para melhoria da produtividade, em vez de empregá-lo em atividades "diretamente perdulárias" de expansão de gastos.

A questão, então, é simples: quais investimentos oferecem maior retorno econômico? Mas é também (uma questão) preocupante: quando as pontes estão ruindo, os prédios de escolas estão deteriorados, os professores são mal pagos e não incentivados a ser eficientes e muitas outras coisas requerem dinheiro, não é fácil decidir onde gastar o dinheiro escasso.

Mas uma consideração "estrutural" não é bem compreendida. Dada a necessidade de reduzir o déficit no futuro e a necessidade de aumentá-lo agora para reanimar a economia, o problema com que se defronta Obama é como trocar suavemente de marcha acelerada para marcha a ré. Sem dúvida, a conclusão é que governos precisam para dar menor ênfase a gastos que, num futuro, não possam ser eliminados.

Veio-me essa clareza ao ver um arranha-céu inacabado em Osaka. Relíquia do estouro da bolha imobiliária japonesa duas décadas atrás, tornou-se conhecido como "Torre da Bolha".

O medo esta de volta.

Hoje na FOLHA DE S. PAULO, na excelente avaliação de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, o medo está de volta.

Os mercados financeiros voltaram a viver dias de grande insegurança e ansiedade. Há três anos, em janeiro de 2008, teve início um longo período em que a volatilidade dos preços dos principais ativos financeiros fugiu dos padrões históricos anteriores.

Como sempre ocorre em eventos como esse, foi um drama pessoal que gerou a faísca que acabou incendiando um ambiente dominado pela especulação sem controle.

A descoberta de uma perda gigante - mais de US$ 4 bilhões - no banco francês Société Générale gerou uma crise de confiança no sistema bancário dos países desenvolvidos que culminou com a quebra do banco Lehman Brothers nos EUA.

A crise bancária que se seguiu fez com que as economias de todo o mundo mergulhassem no vazio de uma recessão econômica só vista nos anos 30 do século passado.

Graças a uma ação coordenada dos governos de vários países - inclusive o brasileiro - ao longo dos últimos dois anos, o pior cenário previsto pelos apocalípticos de plantão não ocorreu.

Pouco a pouco, a atividade econômica recuperou-se sob a ação de estímulos fiscais e monetários. Sempre seguindo os conselhos, que andavam meio esquecidos, do brilhante John Maynard Keynes. Primeiro foram os países emergentes, que, suportados pelos gastos dos consumidores, retomaram o caminho do crescimento. Um prêmio merecido por não terem participado da verdadeira farra do boi da especulação imobiliária e de crédito da maioria dos países ricos. Estavam nesse grupo países como Brasil, Austrália, China e Índia.

Nos últimos meses de 2010, mesmo as economias que mais sofreram com a ruptura da bolha de crédito, como a dos EUA, começaram a dar sinais de uma recuperação sólida e duradoura.

O encolhimento do crédito bancário terminou, o medo do desemprego foi sendo substituído por um moderado otimismo dos consumidores e os investimentos privados em algumas áreas voltaram ao normal. Tanto isso é verdade que as estimativas feitas ao fim do ano apontavam crescimento do PIB mundial superior ao dos anos anteriores à quebra do Lehman Brothers.

Mas as economias mais avançadas ainda precisam, para perenizar essa nova fase, da manutenção por mais algum tempo de condições financeiras favoráveis. Por isso, os bancos centrais na área do G7 continuam a manter os juros muito baixos e a liquidez bastante abundante. Talvez apenas em 2012 é que tenhamos as primeiras decisões de aumento dos juros.

Por tudo isso é que a disparada dos preços do petróleo, gerada pela crise política no Oriente Médio, trouxe de volta a insegurança às Bolsas de Valores e aos mercados de juros e câmbio em todo o mundo.

De um lado, ela afeta a renda do consumidor dos países do mundo desenvolvido, tanto pelo aumento desses gastos como pelas incertezas em relação ao futuro. De outro, ela chega aos países emergentes pelo impacto dos preços dos derivados de petróleo na inflação já bastante elevada.

De qualquer forma, tanto em economia como no caso de doenças humanas, sabemos que uma recidiva sempre ocorre com maior vigor e perigo que no caso da doença original. Esse cenário alternativo faz com que a maioria das apostas que os investidores vinham fazendo em relação ao futuro seja posta em xeque. Se antes era esperada uma elevação gradual dos juros nos Estados Unidos por conta da volta do crescimento, agora pode ocorrer o contrário caso a crise do petróleo se agrave ainda mais.

Da mesma forma, o movimento de valorização das ações das empresas americanas em razão de uma retomada dos lucros pode ser substituído por uma queda das cotações devido a uma nova recessão mundial.

Em momentos como este que estamos vivendo, quando cenários antagônicos podem ocorrer devido a eventos impossíveis de prever, o melhor conselho que posso dar ao leitor é o de pôr as barbas de molho. Isso quer dizer: dê prioridade à preservação de seu capital - e não a sua multiplicação.

A educacao de Tiririca!!!

Quando penso que ja li de tudo, veja esta:

O deputado federal Tiririca (PR-SP) foi escolhido para integrar a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. A informação foi confirmada nesta sexta-feira pelo líder do PR na Casa, Lincoln Portela (MG). A indicação será oficializada na manhã de quarta-feira, quando será eleito o presidente da comissão.

Segundo informações da assessoria de imprensa do humorista, foi ele próprio quem pediu para integrar a comissão como membro permanente. Tiririca também pediu para participar da Comissão de Turismo e Desporto, como suplente. O ex-jogador Romário (PSB-RJ) será o vice-presidente desta .

- Ele foi indicado pelo fato se ser um humorista de êxito no Brasil. Evidentemente que esperamos que ele tenha ideias principalmente na área de cultura. Se ele não fosse a personalidade que é e não tivesse a tremenda audiência junto aos eleitores, ele não seria escolhido. É claro que esperamos as ideias sem apelações. Ele mostrou que é um homem gabaritado, uma pessoa alegre e um ótimo interlocutor junto à sociedade - disse o líder.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Atualidades economicas.

Com a posse da presidente DILMA ROUSSEFF o Brasil desfruta de um início de ano e de governo, um pouco diferente de outras épocas. Apesar de a população brasileira entender que o ano somente começa após o Carnaval – que neste ano sera dias 07 e 08/03/2011, a roda da vida vai rodando e nestes quase dois meses de governo, a mudança é positiva.

Enquanto grande parte dos países ainda recupera-se da brutal crise de 2008 e, nos dias de hoje, o mundo árabe esteja passando por uma revolução atraves das tradicionais e conhecidas redes sociais existentes no Ocidente, o Brasil aguarda um resultado de seu PIB para 2010 na ordem de 8% e para 2011 espera-se um número próximo a 5%.

No entanto, nem tudo são flores. Após 17 anos que o Plano Real venceu o dragão da inflação, o mesmo volta sorrateiramente a exalar enxofre pelas suas grandes narinas e, por incrível que pareça, essa ameaça a meta de inflação estipulada pelo Banco Central em 4,5% com uma margem de 2,5% para mais ou para menos, é de certa maneira aceita por determinados acadêmicos e membros do próprio governo. Agrava-se essa situação uma vez que a inflação causa prejuízo maior as classes de menor renda do que as de maior poder aquisitivo.

Um bom teste para a força política de Dilma Rousseff no Legislativo foi a aprovação do salário mínimo em R$ 545,00, o que sempre é um fator de preocupação devido o aumento em cascata que acarreta, mas que teria causado maior prejuízo se o valor aprovado fosse os R$ 600,00 defendidos pela oposição e até por alguns aliados do Palácio do Planalto.

Outra tensão está no valor da taxa de câmbio, atualmente cotada em média por R$ 1,6750 por US$ 1.00. Recentemente o Banco Central divulgou que o déficit em transações correntes ficou em US$ 5,4 bilhões, US$ 2 bilhoes mais negativo do que dezembro, um claro sinal da deterioração das contas externas. Com isso, o déficit acumulado em 12 meses fechou em US$ 49,1 bilhões, valor abaixo em relação ao número de dezembro de US$ -47,5 bilhoes. Como porcentagem do PIB, o déficit em transações correntes também voltou a aumentar, passando de 2,28% para 2,35%, mas ainda abaixo do registrado em novembro de 2010, que foi de 2,41%.

Por outro lado, pelo 24º mês consecutivo, houve superávit no balanço de pagamentos: em janeiro, foi de US$ 8,5 bilhoes, o mais alto desde outubro do ano passado, US$ 8,8 bilhoes, quando o processo de capitalização da Petrobras atraiu muitos recursos estrangeiros. Essa contabilização é bastante criticada por vários economistas, uma vez que suspeita tratar-se de uma artificial manobra contabil. Apesar de o Brasil continuar a ser um mercado promissor para investimentos, com o valor de US$ 15,3 bilhões ingressado em dezembro, estranhamente apenas US$ 2,9 bilhões ingressaram em investimentos diretos no país durante o mes de janeiro. Portanto, é o momento de reavaliar todas as situacoes possiveis visando antecipar eventuais serios problemas economicos para o Brasil.

The Economist.

Uma excelente notícia que foi publicada no GUARDIAN, informa que a revista "Economist" no Reino Unido cresceu 7,7% no segundo semestre de 2010 ante os primeiros seis meses do ano e atingiu a marca média de 210 mil exemplares semanais, um recorde nos 167 anos de história da publicação.

A circulação global atingiu 1,47 milhão, crescimento de 3,7% ante 2009. A editora da revista, Yvonne Ossman, disse que a atração de novos leitores gerou o bom resultado.

Isso é bom demais para quem gosta de ler no papel...

Testando as crencas.

MARIO MESQUITA, 44, doutor em economia pela Universidade de Oxford, escreveu hoje na FOLHA DE S.PAULO o texto abaixo, onde defende o regime de metas para a inflação.

O presidente do banco central chileno, que não é tido no meio como sendo especialmente conservador, declarou na semana passada que "controlar a inflação é a melhor contribuição que a política monetária pode dar para assegurar o progresso econômico sustentado". Entender e aceitar esse conceito é essencial para crer no regime de metas para a inflação, um dos pilares da política econômica brasileira, que o governo afirma enfaticamente querer preservar.

A crença do governo nesse conceito foi testada de tempos em tempos desde a implantação do regime de metas em 1999 - pela última ocasião, severamente, no final de 2008, quando a economia foi atingida pela crise internacional.

As convicções da nova administração acerca do regime de metas e do papel da política monetária podem vir a ser testadas em um futuro não muito distante, diante de uma conjuntura econômica que pode se mostrar sensivelmente adversa, com uma combinação de inflação alta e atividade econômica fraca. Recapitulando: nos últimos meses, a política monetária retomou o processo de ajuste interrompido em meados de 2010, acompanhada das chamadas medidas macroprudenciais, e a política fiscal adquiriu um aspecto menos expansionista - embora a política de crédito do setor público continue atuando na mesma direção.

Esse conjunto de iniciativas visa desaquecer a economia, de forma a, em um primeiro momento, conter as pressões inflacionárias e, posteriormente, trazer a inflação de volta para a meta de 4,5% - o que, ainda que as autoridades não tenham sido explícitas a esse respeito, deve ocorrer apenas em 2012.

Sabemos que o crescimento da economia foi exuberante em 2010, mas, a julgar por indicadores de alta frequência, como o índice de atividade econômica do Banco Central (o chamado IBC-Br), em ritmo sensivelmente mais fraco em seu final do que em seu início. Esse indicador, que agrega informações de diversos setores da economia, sugere que o processo de desaquecimento já estivesse em curso.

Ainda que a intensidade do desaquecimento necessária para promover a convergência da inflação para a meta permaneça uma questão em aberto, cabe reconhecer que, quanto maior for a deterioração das expectativas inflacionárias, mais intensa terá de ser a desaceleração e mais custoso será trazer a inflação de volta para a meta - embora a alternativa, tentar conviver com taxas de inflação permanentemente mais altas, seja claramente indesejável. Para complicar o cenário, a inflação corrente, medida em 12 meses, seguirá aumentando por vários meses, podendo até romper o teto do intervalo de tolerância do regime de metas por certo tempo.

Isso pode influenciar as expectativas, que também tendem a sofrer o efeito da perspectiva de aumento do salário mínimo superior a 12% no início de 2012, percentual que o elevaria para mais de R$ 610.

Seria especialmente oportuno, portanto, se todas as autoridades responsáveis abandonassem o discurso ambíguo e as tentativas de relativizar o problema inflacionário, aceitando que a política econômica deve, neste momento, adotar uma atitude contracionista, que deve levar a um crescimento mais próximo de 3% do que de 5%, de forma a ajudar a conter a piora das expectativas de inflação.

O risco é que um momento de desaquecimento mais pronunciado leve o governo a fraquejar em sua convicção e reverter parte das políticas de reequilíbrio macroeconômico antes que o sucesso do tratamento, isto é, a retomada do controle sobre o processo inflacionário, esteja assegurado.

Esse risco existe, a despeito das evidências de que em nossa experiência econômica surtos de inflação tendem a ser mais persistentes que momentos de estagnação - tendência que deve estar se acentuando, visto que o grau de indexação da economia parece ter aumentado.

Os médicos costumam falar que interromper um tratamento antes da hora pode ter efeitos muito perniciosos, em parte porque a doença pode se tornar mais resistente à terapia, de forma que garantir uma recuperação passa a exigir doses mais intensas de medicamentos.

Essa é uma lição que vale também para a política econômica.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os pilares de areia do Ocidente.

Há dois séculos, a chegada de Napoleão ao Egito anunciava o advento do Oriente Médio moderno. Agora, quase 90 anos após o desaparecimento do Império Otomano, 50 anos após o fim do colonialismo, e oito anos após o começo da Guerra do Iraque, os protestos revolucionários no Cairo indicam que mais uma mudança pode estar em curso.

Os três pilares sobre os quais a influência ocidental no Oriente Médio foi construída - uma sólida presença militar, laços comerciais e uma série de países dependentes do dólar - estão desmoronando. Consequentemente, o Oriente Médio que despontará nas semanas e meses adiante poderá tornar-se muito mais difícil de ser influenciado pelo Ocidente.

O primeiro pilar - presença militar- remonta à ocupação francesa e britânica de partes do Império Otomano depois da I Guerra Mundial, e foi reforçado pelos vínculos militares da era da Guerra Fria forjados pelos Estados Unidos e União Soviética. Em 1955, o Ocidente até chegou a ser sólido o bastante para arregimentar um elenco formado por Turquia, Iraque, Irã e Paquistão, numa espécie de Otan asiática ocidental conhecida como Pacto de Bagdá.

A Guerra do Yom Kippur em 1973 foi uma ilustração clara da influência militar soviética e ocidental. O exército egípcio disparou foguetes tchecoslovacos de 130 mm, enquanto os MIGs sírios combatiam os Skyhawks israelenses sobre as Colinas do Golan. Mas a influência americana e soviética não foi confinada ao campo de batalha, à medida que os dois países fizeram a sua presença ser sentida até o mais alto escalão da cadeia de comando. Mais recentemente, as instalações militares no Golfo Persa protegeram o fornecimento de petróleo da aliança da Guerra Fria e dissuadiram tanto o Iraque do partido Ba"ath como o Irã do aiatolá Ruhollah Khomeini de se apoderarem dos valiosos poços petrolíferos ou de estrangularem as rotas de exportação.

Mas esse pilar militar tem sido sistematicamente corroído. Um sinal precoce foi o fracasso da "Operação Eagle Claw" para resgatar os reféns dos Estados Unidos no Irã em 1980. Outra fissura apareceu com o atentado do Hizbollah contra o quartel dos fuzileiros navais dos EUA em Beirute, que precipitou uma retirada abrupta dos Estados Unidos do Líbano. Desde a invasão do Iraque em 2003, as forças dos Estados Unidos se retiraram da Arábia Saudita e descobriram que seu poderio militar convencional não se traduz necessariamente em impacto na cena real.

O segundo pilar do papel do Ocidente no Oriente Médio - os laços comerciais - também foi enfraquecido. A América costumava ser o parceiro comercial essencial para os países do Golfo, mas isso agora mudou. Em 2009, a Arábia Saudita exportava 57% do seu petróleo para o Extremo Oriente e apenas 14% para os EUA. Em resposta a essa mudança fundamental, o rei Abdullah tem perseguido uma política "voltada para o Oriente" desde 2005, resultando em comércio exterior em valor superior a US$ 60 bilhões.

Esse deslocamento rumo ao Leste fez a China tornar-se uma parceira comercial maior do que os EUA, tanto para o Catar como para os estados árabes. Além disso, quase um quarto do comércio exterior do Catar é feito com a China, na comparação com pouco mais de 5% com os EUA. Da mesma forma, 37% do comércio dos EUA é feito com China, Índia e Coreia do Sul. Para muitos países do Oriente Médio, os interesses da China agora são tão importantes quanto os dos EUA.

Finalmente, os EUA não contam mais com uma série de clientes relativamente estáveis na região. Os EUA acreditaram que as formidáveis quantias de ajuda que distribuiu para Egito, Israel e Jordânia garantiam a estabilidade e a cooperação em assuntos de interesse americano. Isso funcionou por três décadas, mas agora o vínculo está enfraquecendo.

O ritmo da queda da influência ocidental parece ter acelerado ao longo da década passada. Os sauditas deixaram claro em 2003 que não poderiam mais abrigar as instalações militares dos EUA. Tanto no seu primeiro como no segundo mandato como premiê de Israel, Binyamin Netanyahu se recusou a seguir o roteiro dos EUA na questão do processo de paz palestino-israelense. E, apesar de abrigar uma enorme base militar dos EUA, o Catar mantém laços próximos com Síria e Irã.

A isso agora é preciso acrescentar a revolta no Egito. Hosni Mubarak era o eixo principal da política do Ocidente; ele era intransigente com inimigos potenciais dos EUA; era possível confiar plenamente nele para comparecer em conversações de paz com os israelenses; e ele podia ser usado para acrescentar peso à posição americana na questão do Irã. Agora a aliança Egito-EUA está sendo ameaçada e, com ela, a política americana para todo o Oriente Médio.

À medida que desmoronam os três pilares da política do Ocidente para o Oriente Médio, um novo Oriente Médio está se delineando, impulsionado por ventos comerciais e devendo lealdade a mais de uma potência. Sua arquitetura geopolítica está sendo moldada pelas revoluções norte-africanas, a autoafirmação turca, a intransigência iraniana e o colapso do Iraque. O Ocidente não achará o terreno estratégico resultante fácil de navegar.

Daniel Korski é pesquisador sênior de políticas públicas no European Council on Foreign Relations

Ben Judah é pesquisador de políticas públicas no European Council on Foreign Relations. Copyright: Project Syndicate, 2011.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...