domingo, 10 de março de 2013

Brasil sem miséria? E os ratos?

É muito triste, muito triste mesmo para um brasileiro ler a notícia que segue abaixo, diretamente do portal UOL. Como já escrevi antes, ainda não fizemos o dever de casa e já estamos exportando tecnologia social - http://economiaecapitalismo.blogspot.com.br/2013/02/tecnologia-social.html. É lamentável diante do que diariamente observamos na nossa sociedade, mas ainda continuamos sendo um país com miséria. Se país rico é país sem pobreza, o Brasil continua muito distante disso... Até quando teremos que ler este tipo de notícia?      

A comida escassa devido à seca está fazendo piauienses caçarem roedores para complementarem a alimentação. No distrito de Brejinho, no município de Assunção do Piauí (273 km de Teresina), todos os dias no fim da tarde é comum ver moradores saindo para as áreas de grutas para colocarem armadilhas para pegar o "rato-rabudo".
A caça ao animal é artesanal, e a armadilha é feita com pedra e gravetos. "Quando o rabudo passa pela armadilha, a pedra cai em cima e ele morre sufocado. No dia seguinte, a gente vai logo cedo ao local buscar o animal para já ser consumido no almoço", disse o morador de Brejinho Genivaldo Bezerra, 35.
A reportagem do UOL tentou encontrar em alguma residência um rato para consumo, mas os moradores explicaram que como passam muita fome consomem logo o animal. "Como não tenho dinheiro para comprar carne, aqui é caçando, tratando e comendo o rabudo. Ninguém fica com ele na geladeira por muito tempo porque passamos fome e vamos logo comendo", disse Bezerra.

É triste saber que ainda existem pessoas que, devido as necessidades que passam, se submetem a se alimentar de rato. Mas, por conta da pobreza no Nordeste, não é de estranhar que se aventurem numa coisa dessa, porque a fome, sentir fome por diversos dias, dá desespero. Acho que só num caso de desespero para encarar isso."

sábado, 9 de março de 2013

Controlar a inflação.


Editorial da FOLHA DE S. PAULO e análise do resultado da última reunião do Copom.

Após os alertas recentes de seu presidente, o Banco Central deu um sinal claro nesta semana de que deverá voltar a elevar os juros para combater a inflação.
Segundo comunicado oficial, o Comitê de Política Monetária (Copom) "irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
No jargão, significa que a alta de juros é muito provável e pode ocorrer já na próxima reunião, em meados de abril, ou na seguinte.
Verdade que a economia ainda patina, apesar dos sinais de retomada do PIB, para um ritmo próximo a 3% (contra 0,9% em 2012).
A inflação, porém, acelerou - cálculos que desconsideram oscilações de curto prazo apontam para um quadro estrutural preocupante. Nos doze meses encerrados em fevereiro, o IPCA (índice oficial) acumulou alta de 6,33%; em março, deve atingir 6,5% (o máximo aceito acima da meta fixada pelo próprio governo, de 4,5%).
No cômputo geral, a inflação é o fator predominante. Embora o governo deva ganhar margem de manobra com novas desonerações tributárias em itens com peso importante na alta de preços, como a cesta básica, é difícil imaginar que tais iniciativas possam, sozinhas, reverter o processo inflacionário.
O principal empecilho é a credibilidade do BC, arranhada nos últimos dois anos pela impressão de leniência que passou para os agentes econômicos. As numerosas intervenções verbais da Fazenda apenas reforçaram a desconfiança. Uma vez perdida a expectativa de controle dos preços, é muito mais difícil conter a inflação.
O cálculo do BC - e do Planalto - é claro: não fazer nada e deixar a inflação correr solta neste ano pode resultar em um cenário de descontrole para 2014 e complicar a vida da presidente Dilma Rousseff no ano da eleição.
Uma alta moderada dos juros em curto prazo - e, neste cenário, quanto antes ela ocorrer, melhor - reduziria tais riscos. Analistas parecem concordar que a taxa básica (Selic), hoje em 7,25%, subirá pouco mais de um ponto, a partir de abril ou maio, salvo improvável melhora dos índices de inflação.
Ainda que despertada por interesse eleitoral, é bem-vinda a disposição do BC de combater o processo inflacionário. Há, além disso, sinais de que o governo passará a adotar atitude menos aventureira em vários campos - gestão da Petrobras e concessões de infraestrutura, por exemplo.
Maior coerência e mais cuidado na gestão da economia podem reduzir o mau humor do empresariado e, quem sabe, impulsionar os investimentos.

Tripé macroeconômico.


Para reflexão, a dica do Professor Márcio Garcia no VALOR ECONÔMICO.

Em suma, o abandono da agenda de reformas microeconômicas estruturais e, gradativamente, do tripé macroeconômico, vem transformando nossa política econômica num Frankenstein, no qual cada novo pedaço adicionado gera mais dano colateral do que benefício.

Qual a chance de retornarmos ao bom caminho que trilhamos até 2005? Infelizmente, muito pequena. Ao contrário de Lula, treinado no mundo sindical na busca de resultados concretos, a presidente Dilma é herdeira de ampla bagagem ideológica da esquerda pré-queda do Muro de Berlim. Além disso, nossa confortável situação atual, inclusive com quase US$ 400 bilhões de reservas internacionais, é muito distinta do abismo de 2002. A política econômica atual é a da presidente. Não é provável que venha a sofrer grandes modificações.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Qual o papel do governo na economia?


Ronald Reagan em 1981: “O governo não é a solução para os nossos problemas. O governo é o problema”.

Bill Clinton em 1996: “Vamos enfrentar esses desafios não com um governo grande. A era do governo grande acabou”.

Barack Obama em 2013: “Esta noite, eu declaro que, na nação mais rica do mundo, ninguém que trabalha em horário integral deve viver abaixo da linha da pobreza.”   

O Nobel Michael Spence:Um Estado pode se tornar grande demais ou pequeno demais. Entre esses extremos, há um Estado que pode ser coerente em manter a eficiência do mercado e também ser provedor de níveis adequados de seguro social, redistribuição de renda, segurança e serviços públicos.”

O Nobel Edward C. Prescott: “A função do Estado em qualquer país deve ser apenas promover a segurança pública e o respeito aos contratos. É o Estado garantidor do cumprimento dos contratos que permite a criação de um ambiente propício a novos negócios que gerarão benefícios sociais.”

O Nobel Edmund Phelps: “Não há evidência de que países com setores públicos vultosos sejam bons para ajudar na geração de crescimento econômico. Se você exclui a Suécia, a Finlândia e a Noruega, a magia de um Estado grande praticamente desaparece.”   

Li na EXAME as frases acima e Barack Obama lembrou-me da política econômica e social de um certo país e de seu entendimento sobre o papel do governo na economia de uma maneira bastante diferente dos demais. Afinal, Obama está contra o mercado?

Conformismo.


Na FOLHA DE S. PAULO a análise de Delfim Netto sobre o resultado do PIB 2012.

Finalmente, baixou o pano da tragédia penosamente esperada. A taxa de crescimento do PIB em 2012 foi de apenas 0,9%. Todos erramos feio.

A única honrosa exceção foi a competente e corajosa convicção da equipe de análise econômica do Credit Suisse Brasil, que foi duramente criticada na ocasião. Para provar isso, basta lembrar as previsões do setor financeiro expressas no boletim "Focus" da primeira semana de 2012: previsão do PIB: 3,3%; previsão da inflação: 5,31%.

Mesmo depois do desastre anunciado pelo crescimento com ajuste sazonal do PIB de 0,1% entre o primeiro trimestre de 2012 e o último de 2011 e de 0,3% entre o segundo e o primeiro trimestres de 2012, o mercado ainda projetava o seguinte (na primeira semana de julho, segundo o boletim "Focus"): previsão do PIB: 2,01%; previsão da inflação: 4,85%.

É hora de virar a página e aceitar que o acréscimo de 0,9% (estagnação do PIB per capita), com uma taxa de inflação de 5,8%, revelou velhos problemas estruturais e institucionais - alguns dos quais começam a ser atacados pelo governo.

Há, entretanto, um excesso de pessimismo no ar, agora mais estimulado pela lamentável antecipação da campanha eleitoral. Ela introduz um viés político na análise que dificulta o acordo sobre o que se deve fazer para recuperar um crescimento mais robusto sem pressionar a taxa de inflação.

Mas há esperança. Os números sugerem, pela primeira vez nos últimos trimestres, o início de uma recuperação na formação bruta de capital fixo e o fim do ciclo dos estoques acumulados em 2010, o que pode ser uma mudança significativa. Eles também revelam um crescimento lento, firme e consistente do PIB de cada trimestre sobre o anterior (com ajuste sazonal): 4º trimestre 2011: 0,1%; 1º trimestre 2012: 0,1%; 2º trimestre 2012: 0,3%; 3º trimestre 2012: 0,4%; 4º trimestre 2012: 0,6%.

O PIB já está rodando em torno de 2,4% ao ano. Pois bem, se, nos quatro trimestres de 2013, a taxa do trimestre contra o anterior permanecer no intervalo de 0,65% a 1%, o que parece factível diante da orientação mais amigável do governo em relação ao setor privado e recentes medidas facilitadoras do crédito, o crescimento do PIB poderá ficar entre 3% e 4% A nossa saída da crise de 2008, que parecia um V, está mais para um W.

O que surpreende não é essa possibilidade. É o aparente conformismo da sociedade brasileira com o baixo crescimento que vimos registrando desde o Plano Real (1996-2012) o que se vê: crescimento do PIB: 2,95%; taxa de inflação: 6,48%.

Já consumimos quase 1/4 do ano de 2013, mas ele ainda não está escrito nas estrelas: será o que, em cooperação, governo e setor privado souberem e fizerem dele!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Aula de socialismo.


De Susana Freitas, de Brasília, recebo e-mail com o texto abaixo. Claro que não poderia deixar de divulgar para os meus, espero, ainda dois (milhões) de leitores. Boa leitura.  

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que ele nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira.

Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e 'justo. '

O professor então disse, "Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas."

Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam 'justas. ' Isso quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A"...

Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.

Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D".

Ninguém gostou.

Depois da terceira prova, a média geral foi um "F".

As notas não voltaram a patamares mais altos mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram o ano... Para sua total surpresa.

O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque ele foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes.

Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.

"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável."

É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.

Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber.

O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém.

Quando metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.

É impossível multiplicar riqueza dividindo-a.

terça-feira, 5 de março de 2013

Política antieconômica.


Editorial da FOLHA DE S. PAULO comenta a situação econômica americana. 

"Tola, arbitrária." Assim o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, definiu a atitude do Partido Republicano de rejeitar a renegociação da lei que impõe reduções automáticas do deficit do governo até 2021. Os cortes deste ano, de cerca de US$ 85 bilhões, entraram em vigor na semana passada.

O impasse é mais um capítulo de três anos de confrontos entre Obama e a oposição republicana, que desde 2011 controla a Câmara. O conflito indica que nem sempre partidos fortes - poucos e ideologicamente coesos - e um sistema eleitoral propenso a maiorias estáveis garantem governabilidade.

Um aspecto dessa crise é o próprio acirramento ideológico; o confronto se deve também ao método de eleição dos deputados, em pequenos distritos eleitorais.

O Partido Republicano tornou-se mais duro em sua posição de reduzir o governo. E, mesmo com o apoio da maioria da população a Obama, deputados republicanos relutam em aderir à opinião predominante, pois temem perder a indicação do partido ou a eleição em seus distritos. Por outro lado, analistas políticos e mesmo democratas consideram que o presidente carece de habilidade e inclinação para negociar com o Congresso.

Em 2011, o governo esteve à beira da inadimplência, pois a maioria republicana se recusava a aumentar o limite do endividamento federal. Um acordo de última hora resultou na lei que, entre outras determinações, previa a formação de um "supercomitê" bipartidário.

O grupo foi encarregado de estudar maneiras de reduzir o deficit - se com mais impostos, menos gastos ou uma combinação de ambos. Sem acordo, os cortes seriam automáticos. Foi o que ocorreu.

Metade dos cortes incidirá sobre o orçamento de defesa; outra metade, sobre despesas discricionárias. Funcionários federais entrarão em licença não remunerada. De parques federais a agências de proteção do consumidor, do ambiente e de pesquisa, todos terão orçamentos menores.

Tal redução de despesas terá, sim, algum efeito no crescimento americano. As estimativas, porém, variam de uma redução de 0,3 ponto percentual a 1 ponto percentual do PIB, que não deve crescer mais do que em 2012 (2,2%).

Provavelmente não haverá dano econômico crítico, mas a capacidade decisória do sistema político americano fica mais reduzida. Dado o peso dos Estados Unidos no mundo, o torniquete deve diminuir ainda mais as chances de uma recuperação global. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

USP - mais uma vez, a melhor.


Leio no UOL que a USP continua no caminho certo e está entre as melhores do mundo.

A USP ficou, pelo segundo ano consecutivo, entre as 70 universidades com melhor reputação no mundo, segundo um dos principais rankings internacionais universitários.


De acordo com o levantamento do THE (Times Higher Education), a universidade paulista está na faixa entre o 61º e o 70º lugar -- mesmo patamar do ano passado.

A instituição é a única da América do Sul citada no ranking, que contemplou 100 escolas. A com a melhor reputação no mundo é a Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Para elaborar a lista, foram consideradas 16 mil respostas de pesquisadores.

O desempenho da universidade paulista aparece em melhor posição no ranking de reputação (subjetivo) que em outro (objetivo) também feito pelo THE.

No ranking geral, que foi divulgado no fim do ano passado e envolve 13 critérios que são agrupados em cinco áreas --ensino, pesquisa, citações dos trabalhos produzidos por cada instituição, inovação e internacionalização-- a USP aparece em 158º lugar.

Uma boa reputação, assim como uma boa colocação nos rankings com critérios objetivos, pode facilitar a obtenção de dinheiro para pesquisas, atrair estudantes e também professores e pesquisadores capacitados de outros países.

domingo, 3 de março de 2013

III Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia .


Está chegando o grande dia: o III Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia será realizado dia 12 de Abril em Vitória (ES) no auditório da Fucape Business School.

O evento reunirá blogueiros de economia do país inteiro em três painéis temáticos nos quais discutiremos sobre:

  • ·         “Economia Aplicada na Blogosfera”,
  • ·         “Economia, Cerveja e Futebol”
  • ·         “Para Onde Vai a Política Econômica Brasileira?”.


Vamos participar pessoal?

O evento é organizado pelos colegas Cláudio Shikida e Cristiano Costa. 

Parabéns Ricardo Paes de Barros.


Ricardo Paes de Barros, um dos mais importantes formuladores de  políticas públicas contra a desigualdade, é o entrevistado deste domingo na FOLHA. Quando a lucidez e a competência se faz maior que a política. Parabéns Ricardo!  

Folha - Em que medida o fim da pobreza no cadastro reflete a erradicação da pobreza real?
Ricardo Paes de Barros - A pobreza é um negócio dinâmico. É como o desemprego: tem uma entrada a todo o momento e uma saída da pobreza a todo o momento. Não há nenhum país do mundo que possa dizer: "Hoje, eu não tenho nenhum pobre", porque sempre vai ter alguém que acabou de se separar, perder o emprego, ficar doente.

Qual a dimensão histórica do anúncio da semana passada?
Essa é mais uma medida numa sequência e não vai ser a última. Porque a pobreza, extrema pobreza, e várias outras questões sociais, vão perturbar a sociedade brasileira o tempo todo. Se vencermos essa pobreza estrutural, teremos agora que partir para essa pobreza mais volátil.
Acho que o que surpreende no Brasil da última década não é a queda na desigualdade e na pobreza. É o fato de que essa queda aconteceu todo ano.

Uma pessoa que passou a ganhar R$ 72 deixou a miséria?
Ninguém sabe onde exatamente começa a miséria, mas acho que ninguém chutaria muito mais do que R$ 100 e ninguém ia chutar alguma coisa perto de R$ 50. Então R$ 70 não é um número absurdo. Acho que o que importa no Brasil é dizer assim: "Ninguém neste país ganha menos do que R$ 70".
Amanhã, vamos garantir que ninguém ganhe menos do que R$ 80 e, depois de amanhã, vamos garantir que ninguém ganhe menos do que R$ 90. Depois, menos de R$ 100. Porque a gente sabe que miséria é relativa. Imagine um R$ 70 na região metropolitana de São Paulo. É completamente diferente de R$ 70 em Jordão, no Acre.

Essa linha não deveria ser corrigida pela inflação?
Certamente. Você dizer que R$ 70, ontem e hoje, é a mesma coisa não faz sentido. Agora, não indexar [a linha] dá à sociedade controle sobre o Bolsa Família. Se, no limite, você inventasse uma indexação no salário mínimo, na taxa de crescimento do PIB por trabalhador, a sociedade iria estar presa a um programa onde ela perdeu o controle.

Mas não soa falso dizer que em 2009 miséria é R$ 70 e que em 2013 miséria é R$ 70 ainda?
Acho difícil a argumentação de que a pobreza num ano é R$ 70, num outro ano é R$ 70 também e que você não está medindo uma pobreza diferente no outro ano. A questão é encontrar o equilíbrio entre regras de atualização e não congelar o programa.

Até que ponto o Cadastro Único é fiel à realidade?
O final da história é saber o seguinte: programas com base no cadastro estão bem focalizados? As pesquisas demonstram que programas que usam o Cadastro Único acabam beneficiando prioritariamente os pobres.
Em parte o cadastro precisa melhorar, em parte ele é excepcional. Um serviço feito pelo cadastro é dizer quem está dentro e quem está fora. E esse trabalho foi muito bem feito. Se você, dentro do cadastro, escolhesse aleatoriamente um cara para dar o Bolsa Família, você ia acertar com altas chances.

O que explica a contínua queda da miséria no país?
A primeira coisa é entender que só 20%, 25% disso é Bolsa Família. O restante é um conjunto de políticas que o governo fez quase que todo mês, toda semana. Inclusive seria bom que a gente soubesse o impacto desses programas e a gente não sabe.

Qual a diferença do governo tucano para o governo petista ao fazer política social?
Nos governos, o PSDB tinha talvez uma ideia de que a pobreza era uma coisa complexa, multidimensional, e só dar renda para as pessoas não funcionava, ou seja, que precisava de uma política bem sofisticada etc.
Quando entra o presidente Lula, ele entra com uma coisa do tipo: "Pobreza é uma coisa trivial, é ridículo, qualquer R$ 10 na mão do pobre faz uma tremenda diferença, vamos parar com isso, qualquer coisa serve e o que não servir depois a gente muda".
De repente você abre uma frente enorme, que não tem necessariamente uma grande arquitetura lógica. A gente todo dia faz uma política de combate à pobreza, essas políticas vão sendo acumuladas e a pobreza vai caindo.

O governo do PT então não é o único responsável pela queda na pobreza?
Claro. A desigualdade começa a despencar no ano 2000. Quer dizer, três anos antes do governo Lula ela despenca e cai à mesma velocidade que ela cai depois de 2003 [quando o PT chega ao poder]. E muitas dessas ações têm uma defasagem -você faz hoje e o seu impacto é três, quatro anos depois. Acho que a grande vantagem do Brasil é que tanto o governo do PT quanto o governo do PSDB sempre tiveram um comprometimento total [com o combate à pobreza].

Qual deve ser o próximo gargalo a ser atacado para diminuir a desigualdade?
Acho que o grande legado desses dez anos é um conjunto de brasileiros que abandonou uma estratégia de sobrevivência e passou a olhar para frente. É o cara que parou de pensar: "Será que vou ter comida amanhã?" e passou a perguntar para o filho: "Você fez o dever de casa de hoje?".
O grande desafio para a frente é o fortalecimento desses mecanismos de ascensão. Como eu, governo, promovo um ambiente meritocrático que induza o povo a se esforçar e pensar que eles vivem numa sociedade em que o cara que tem talento e botar esforço vai lá para cima?
E não adianta o cara estar muito bem preparado se o ambiente econômico não é um em que você tem grandes talentos, mas não bons postos de trabalho. Tirar o cara lá da superpobreza você faz sem grandes investimentos.
Daqui para frente, se você não tiver investimentos em capital físico, seja público seja privado, não tem política social que vá dar jeito. Acho que o grande desafio está aí.

A análise de FHC: sem disfarce nem miopia.


Fernando Henrique em seu artigo mensal no ESTADÃO e em vários jornais.

As forças governistas, depois de precipitarem a campanha eleitoral, voltaram ao diapasão antigo: comparar os governos petistas com os do PSDB. Chega a ser doentio! Será que não sabem olhar para frente? As conjunturas mudam. O que é possível fazer em uma dada fase muitas vezes não pode ser feito em outra; políticas podem e devem ser aperfeiçoadas. Porém, na lógica infantil prevalecente, em lugar de se perguntar o que mudou no país em cada governo, em que direção e com qual velocidade, fazem-se comparações sem sentido e imagina-se que tudo começou do zero no primeiro dia do governo Lula.

Na cartilha de exaltação aos dez anos do PT no poder, com capa ao estilo realismo socialista e Dilma e Lula retratados como duas faces de uma mesma criatura, a história é reescrita para fazer as estatísticas falarem o que aos donos do poder interessa. Nada de novo sob o sol: é só lembrar dos museus soviéticos que borravam nas fotos os rostos dos ex-companheiros caídos em desgraça… O PSDB não deve entrar nesta armadilha. É melhor olhar para frente e deixar as picuinhas para quem gosta delas.

Quanto ao futuro, o governo está demonstrando miopia estratégica. Depois de quatro anos iniciais de consolidação da herança bendita, a política econômica teve de reagir ao violento impacto da crise de 2007/2008. Foi necessário, sem demora, expandir o gasto público, desonerar setores produtivos, ampliar o crédito através dos bancos públicos, etc. Em situações extraordinárias, medidas extraordinárias. Mas o cachimbo foi entortando a boca: a discricionariedade governamental tornou-se a regra desde então. Com isso, a credibilidade do BC foi posta em xeque, a transparência das contas públicas também. Cresceram as dúvidas sobre a inflação futura e sobre o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.

Não há que exagerar na crítica: por ora, o trem não descarrilou. Mas as balizas que asseguraram crescimento com estabilidade, (câmbio flutuante, metas inflacionárias e responsabilidade fiscal), mesmo ainda em pé, se tornam cada vez mais referências longínquas. A máquina governamental está enguiçada como o próprio governo sente; e sua incapacidade para consertá-la é preocupante. Os expedientes utilizados até agora com o propósito de acelerar o crescimento deram em quase nada (o Pibinho). Na ânsia de acelerar a economia, o governo beijou a cruz e apelou para as concessões (portos, aeroportos, estradas) e mesmo privatizações (de partes da distribuição energética). Mas a viseira ideológica, o hábito de fechar-se em pequenos grupos, a precariedade gerencial não permitem dar efetividade a decisões que ferem o coração de suas crenças arcaicas.

Enquanto a China puxar as exportações de matérias-primas e de alimentos, tudo vai se arranjando. Mesmo assim, a produção industrial torna-se menos competitiva e perde importância relativa no processo produtivo. A balança comercial já deixou de ser folgada, mas com o financiamento estrangeiro as contas vão fechando. No curto prazo, tudo bem. A prazo mais longo, volta a preocupar o fantasma da “vulnerabilidade externa”.

Já se veem no horizonte sinais de retomada na economia mundial. Não me refiro a uma incerta recuperação do emprego e do equilíbrio fiscal, este em alguns países da Europa, aquele nos Estados Unidos. Refiro-me ao que Schumpeter salientava para explicar a natureza do crescimento econômico, uma onda de inovações. Provavelmente serão os Estados Unidos que capitanearão a nova investida capitalista mundial. O gás de xisto e os novos métodos de extração de petróleo tornarão aquele país a grande potência energética. Junto com ele, Canadá, México, Argentina e Brasil podem ter um lugar ao sol. De ser isso verdade, uma nova geopolítica se desenha, com, por um lado, um polo chinês-asiático e outro americano. Isso em um contexto político e cultural que não aceita hegemonias, no qual, portanto, a multiplicidade de polos e subpolos requer uma nova institucionalidade global.

Diante disso, como ficará o Brasil: pendendo para a Alba, de inspiração chavista? À margem da nova aliança atlântica proposta pelos Estados Unidos que, por agora, contempla apenas a América do Norte e a Europa? Iremos fortalecer nossos laços com o mundo árabe longínquo, ou este terminará por se aconchegar na dupla formada pela China e pela Índia, ambos países carentes de energia? E como nos situaremos na dinâmica da nova fase do capitalismo global? Ao que eu saiba, ela continuará dependendo do aumento contínuo de produtividade para assegurar as bases do bem-estar social (que não será decorrência automática disso, mas de políticas adequadas). Como, então, querer acelerar o crescimento utilizando truques e maquiagens, do tipo subsídios tópicos, exceções de impostos setoriais, salvamento de empresas via Hospital BNDES ou Caixa Econômica?

Quando o PSDB fez o Plano Real percebeu as oportunidades que se abriam para o Brasil com a globalização, desde que ajustássemos a economia e iniciássemos políticas de inclusão social. Na época o PT não entendeu do que se tratava. Queria dar o calote da dívida externa e sustentava o inadequado programa Fome Zero que jamais saiu do papel. Foram as bolsas que o PSDB introduziu que salvaram o PT quando este, tardiamente, se deu conta de que era melhor fazer uma política de transferência direta de rendas. Em geral se aferrou à ideia de que a globalização seria uma ideologia – o neoliberalismo – e não a maneira contemporânea de organizar a produção com base em novas tecnologias e novas normas. Não estará o PT repetindo o equívoco, com uma leitura míope do mundo e distorcida do papel do Estado? A resposta cabe ao governo. Ao PSDB cumpre oferecer a sua visão alternativa e um programa contemporâneo que amplie as possibilidades de realização pessoal e coletiva dos brasileiros. Sem esquecer o passado, mas com os olhos no futuro.

sábado, 2 de março de 2013

PIB em xeque.


Editorial de hoje da FOLHA comenta o fraco desempenho do PIB em 2012.

O crescimento do PIB no ano passado, de apenas 0,9%, foi pífio, mas não uma surpresa. Há vários meses já ficara claro que 2012 seria um ano quase perdido e que a retomada seria bem mais lenta que a apregoada pelo governo.

O crescimento derivou dos fatores de sempre: consumo das famílias e gastos do governo. Ambos tiveram alta pouco superior a 3%.

Do lado do consumo, o impulso foi possível por causa do desemprego baixo e dos salários ainda em alta - mas não teve a exuberância do passado. Depois de anos de forte expansão, o crédito mais escasso e o alto endividamento do consumidor já atuam como freios.

O grande vilão foi o investimento, que caiu 4% e deve encerrar o ano abaixo de 18% do PIB.

Sob a ótica setorial, o quadro é o mesmo. Os serviços continuaram a se expandir (1,7%), ao passo que o PIB industrial, que tem forte correlação com a taxa de investimento, mostrou queda de 0,8%.

O ambiente externo ruim contribuiu para o fraco desempenho verificado nesse quesito, mas não há dúvida de que os principais problemas são domésticos. A questão essencial é de custos e competitividade, que continuam a piorar em relação a outros países. Entre 2006 e 2012, a produtividade da indústria cresceu apenas 10%.

A dicotomia entre consumo, emprego e renda bem sustentados, de um lado, e produção em baixa, de outro, persiste e surpreende. Como entender que o emprego se mantenha, num quadro de PIB indigente e aparente desindustrialização?

Uma explicação possível seria a alta dos preços de commodities e a abundância de capitais externos dos últimos anos, que ensejam um fluxo constante de divisas para o país. O Brasil, grande exportador daqueles produtos, teve um ganho estimado em 2% do PIB ao ano.

O resultado, típico de países submetidos a tal experiência, é um surto de liquidez interna. Mal canalizada, ela acaba desaguando em alta de consumo, gastos públicos e bolhas de preços de ativos, como terras e imóveis.

Com muitos recursos em circulação, vicejam por alguns anos o emprego e a renda, acompanhados porém de erosão na capacidade de competir no mercado internacional. Os salários aumentam além da produtividade, em especial no setor de serviços. A indústria, que não tem a mesma liberdade para ajustar preços (pois está submetida à concorrência de importados), fica cada vez mais pressionada.

Com o passar do tempo, porém, o empuxo externo arrefece. Ficam apenas os custos internos mais elevados. O crescimento murcha, e o modelo centrado no consumo entra em xeque. Tal é o quadro atual.

Os frutos fáceis de colher se acabaram. É chegada a hora de trabalhar para restaurar a competitividade e impulsionar o investimento - algo bem mais difícil de alcançar.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...