domingo, 17 de novembro de 2013

Carta de Fortaleza - biografias.

Os biógrafos reunidos no 1º Festival de Biografias, em Fortaleza, vêm a público manifestar apoio irrestrito à Ação Direta de Inconstitucionalidade dos artigos 20 e 21 da Lei 10.406/2002 (Código Civil), ajuizada no Supremo Tribunal Federal pela Associação Nacional dos Editores de Livros, e ao projeto de lei 393/2011, de autoria do deputado federal Newton Lima. As duas bem-vindas iniciativas pretendem abolir a censura prévia imposta a biografias e demais manifestações culturais, acadêmicas e jornalísticas.

A necessidade de autorização prévia converteu-se no Brasil em constrangimento e impedimento à produção não apenas de biografias, mas de qualquer trabalho de não ficção que trate de política, artes, esportes e outros aspectos da vida nacional.

Esse instrumento de censura os artigos 20 e 21 do Código Civil já retirou de circulação ou ergueu obstáculos à difusão de livros, filmes, canções, teses acadêmicas, programas de televisão e obras diversas. São atingidos historiadores, documentaristas, ensaístas e pesquisadores de modo geral, além do jornalismo e, sobretudo, a sociedade brasileira.

A legislação em vigor transformou nosso país na única grande democracia do planeta a consagrar a censura prévia, em evidente afronta aos princípios de liberdade de expressão e direito à informação conquistados com a Constituição Cidadã de 1988.

Alguém já disse que, antes de virar a página da história, é preciso lê-la. Para ler, pesquisar e narrar, a liberdade é imprescindível.

Nós, que vivemos sob a censura imposta pela ditadura instaurada em 1964, recusamo-nos a aceitar agora formas de cerceamento da livre manifestação de ideias e relatos históricos. O conhecimento da própria história é um direito dos brasileiros.

Confiamos no espírito democrático e republicano dos congressistas do Brasil e dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Fortaleza, 17 de novembro de 2013.

Fernando Morais
Guilherme Fiuza
Humberto Werneck
João Máximo
Josélia Aguiar
Lira Neto
Lucas Figueiredo
Luiz Fernando Vianna
Mário Magalhães
Paulo César de Araújo
Regina Zappa
Ruy Castro

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A equipe econômica de Aécio Neves?

Segundo o VALOR ECONÔMICO já existe um grupo de economistas bem próximo ao pré-candidato Aécio Neves. Vide abaixo. 

Melhorar o ambiente de negócios, simplificar tributos, reverter políticas consideradas intervencionistas, abrir mais o país à competição internacional, retomar as privatizações e rever a política de desonerações tributárias. Estas são algumas das ideias defendidas por um grupo de economistas e acadêmicos que têm se reunido com o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à Presidência da República.

O grupo alerta que não se deve esperar, no curto prazo, diminuição da carga tributária nem expansão do PIB em ritmo mais acelerado. O primeiro ano da próxima gestão será marcado por dificuldades. O senador quer apresentar, já em dezembro, um primeiro pacote de ideias sobre temas que considera relevantes e urgentes para o país.


Entre os conselheiros de Aécio estão Armínio Fraga, Edmar Bacha, Gustavo Franco e Elena Landau, todos ex-integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso. Participam também das conversas Samuel Pessoa e Mansueto Almeida. "A preocupação não é tanto garantir um crescimento mais acelerado em 2015 e 2016, e, sim, adotar medidas que garantam um melhor desempenho da economia depois disso", admitiu Almeida.

domingo, 10 de novembro de 2013

O perigo mora nos números da economia brasileira.

Gostaria de saber o que pensam a respeito de alguns dos principais indicadores da economia brasileira, os nossos quase candidatos à Presidência da República em 2014.

- Inflação: da meta de 4,5% ao ano para 5,84% (IPCA em 12 meses);

- Um dólar em novembro de 2012 equivalia a R$ 2,03 e hoje está em R$ 2,31;

- Déficit público no período de janeiro a setembro/2012 de R$ 85,6 bilhões e hoje em 132,2 bilhões;

- Déficit externo para o mesmo período de US$ 34,1 bilhões para US$ 60,4 bilhões.


Afinal, vamos resolver os problemas acima ou vamos ficar discutindo o sexo dos anjos?

O que esperar de 2014?

Para quem está em São Paulo, recomendo o seminário abaixo:

O Brasil entra em 2014 com a economia desaquecida e com a credibilidade da política econômica desgastada.  Confirmadas as expectativas de que as pressões inflacionárias e os desequilíbrios fiscais não serão corrigidos antes das eleições de novembro, resta saber em quanto a confiança necessária para a realização de investimentos continuará abalada.

É importante avaliar agora o potencial do programa de concessões em infraestrutura, que em 2014 apresentará importantes oportunidades de investimentos ao setor privado. Se as incertezas econômicas e políticas não chegarem ao ponto de comprometer a resposta do setor privado, os projetos de infraestrutura poderão elevar a taxa de investimentos e melhorar as expectativas sobre o desempenho da economia brasileira.

Participe deste Seminário, que reúne renomados economistas, para melhor dimensionar os desafios que estarão diante da sua empresa no ano que vem.

Pelo quarto ano, o crescimento do PIB ficará abaixo dos 3%?

O consumo das famílias se manterá aquecido?

O ajuste econômico mais forte ficará para 2015?

Qual será o impacto do programa de concessões em infraestrutura?

Haverá mudança na política do FED com fortes repercussões no Brasil?

Conferencistas:
Delfim Netto - Ex-deputado federal, foi ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento



Gesner Oliveira - Sócio da GO Associados, ex-presidente da Sabesp, ex-presidente do CADE, professor de Economia da FGV-SP, PhD em Economia pela Universidade de Berkeley



Armando Castelar - Coordenador de Pesquisa Econômica Aplicada do IBRE/FGV-RJ e professor do Instituto de Economia da UFRJ. Foi professor de pós-graduação da PUC-Rio e da EPGE da FGV-RJ. Ph.D. em Economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley


Roberto Castello Branco - Diretor de Relações com Investidores da Vale. Doutor em Economia pela Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV e Post-Doctoral Fellow in Economics, pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Participe deste Seminário, que reúne renomados economistas, para melhor dimensionar os desafios que estarão diante da sua empresa no ano que vem.

Email de contato:
Local:  Renaissance São Paulo Hotel.

Entrevista no VALOR com DELFIM NETTO.

Recentemente no VALOR ECONÔMICO, li uma entrevista com Delfim Netto, a qual compartilho com os meus ainda dois fiéis leitores os trechos abaixo:

Valor: Os dados de setembro mostraram uma forte deterioração das contas públicas. O que pode acontecer daqui por diante?
Delfim Netto: Estamos caminhando para um déficit fiscal de 3% do PIB este ano e de 4% do PIB em 2014. Esse é o déficit nominal, que não passava de 2,5% do PIB. Acho que a estimativa do Banco Central para a dívida bruta não tem viés e poderia ser aceita pelo Fundo Monetário Internacional. Hoje, a dívida como proporção do PIB não seria uma coisa trágica, mas a perspectiva é preocupante.

Valor: Por quê?
Delfim: Em condições normais, o ano terminaria com 2,5% do PIB de déficit nominal e 60% do PIB de dívida bruta. Hoje, acho que a probabilidade é de chegarmos a 3%, ou um pouco acima de 3%, do PIB de déficit nominal. E veja o que está acontecendo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Está no Congresso a proposta de mudança retroativa do indexador da dívida dos Estados e municípios.

Valor: Mas não é o próprio Executivo que está patrocinando essa mudança, abrindo caminho para um novo ciclo de endividamento dos Estados e municípios?
Delfim: Rever a taxa de juros daqui para frente não tem problema, mas estimular o endividamento, mesmo que para o investimento, quando estamos perto do pleno emprego, só vai estimular a inflação. O que está perturbando hoje são duas coisas. Primeiro, a perspectiva de aumento da dívida bruta retira do governo a capacidade de enfrentar uma política anticíclica, se ele tiver necessidade. Numa situação perto do pleno emprego, isso pressiona os juros e aumenta o gasto com juros como proporção do PIB. E aí aparece uma de duas coisas: ou um déficit em conta corrente, ou inflação, que é o que está visivelmente ocorrendo.

Os economistas de Roberto Campos.

"Na minha juventude e nos anos maduros os economistas com quem mais convivi foram Eugênio Gudin, o pioneiro e o mais sábio; Octávio Gouveia de Bulhões, o mais criativo; Mário Henrique Simonsen, o de melhor instrumentação técnica; Delfim Netto, o de maior intuição política. Eu fui apenas o mais teimoso. Deles aprendi lições e com eles partilhei frustrações".


Esse é Roberto de Oliveira Campos, mencionando grandes colegas economistas, os quais merecem respeito e admiração, indiferente de suas posições políticas.    

A Lanterna na Popa.


Morava em São Paulo quando li algumas passagens do excelente “A Lanterna na Popa” de Roberto Campos. Na época, por algum motivo que não recordo agora, não comprei o exemplar. Em 2004, após a sua morte, o livro saiu em dois volumes, uma robusta 4ª edição revista e aumentada, com 1.460 páginas.

Desde então, tentei por várias vezes comprar esta autobiografia e ler com vagar, mas algumas editoras preferem publicar alguns lixos e deixar fora do catálogo um texto tão primoroso quanto o do Roberto Campos.   


Numa época em que meus artistas favoritos Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil "et al." preferem censurar biografias, finalmente eu consigo comprar e ler a (auto)biografia de um economista, também dos meus favoritos. 

E neste 2013, com eleição presidencial em 2014, que falta faz ao BRASIL uma lanterna na popa.

domingo, 3 de novembro de 2013

Grupo de Estudos sobre Conjuntura Econômica.

É um prazer divulgar o Grupo de Estudos sobre Conjuntura Econômica (GECE), com sede na Universidade Federal Fluminense. 

O link é o que está ai em embaixo:

Conforme o colega Vítor Wilher, "o grupo nasceu sob inspiração do Núcleo de Estudos em Política Monetária (o NEPOM), coordenado pelo nosso amigo Claudio Shikida, lá no IBMEC-BH, www.nepom.wordpress.com. Acho bacana a iniciativa e vejo com bons olhos a difusão da mesma".

"O grupo já publicou inúmeros posts, textos, artigos, resenhas, cartas e um relatório trimestral, titulado "Monitor de Política Monetária". Ademais, já recebemos dois convidados externos à nossa faculdade: Julio Hegedus e Monica de Bolle. Mais dois estão programados para as próximas semanas: Marcelo Mello e Armando Castelar". 

Sem complacência.

Fernando Henrique, para iniciar a semana, no ESTADÃO e no GLOBO. 

As notícias da semana que terminou não foram auspiciosas, nem no plano internacional nem no local. Uma decisão da Corte Suprema da Argentina, sob forte pressão do governo, sancionou uma lei que regula a concessão de meios de comunicação. Em tese, nada de extraordinário haveria em fazê-lo. No caso, entretanto, trata-se de medida tomada especificamente contra o grupo que controla o jornal “El Clarín”, ferrenho adversário do kirchnerismo. Cerceou um grupo de comunicação opositor ao governo sob pretexto de assegurar pluralidade nas normas de concessão. Há, contudo, tratamento privilegiado para o Estado e para as empresas amigas do governo.

Da Venezuela, vem-nos uma patuscada incrível: as cidades do país apareceram cobertas de cartazes contra a “trilogia do mal”, ou seja, os principais líderes opositores, aos quais se debitam as falências do governo! Seria por causa deles que há desabastecimento, falta de energia e crise de divisas, além da inflação. Tudo para incitar ódio popular aos adversários políticos do governo, apresentando-os como inimigos do povo.

O lamentável é que os governos democráticos da região assistem a tudo isso como se fosse normal e como se as eleições majoritárias, ainda que com acusações de fraudes, fossem suficientes para dar o passaporte democrático a regimes que são coveiros das liberdades.

No Brasil, também há sinais preocupantes. Às manifestações espontâneas de junho se têm seguido demonstrações de violência, desconectadas dos anseios populares, que paralisam a vida de milhões de pessoas nas grandes cidades. A estas se somam às vezes atos violentos da própria polícia. Com isso, deixa-se de ressaltar que nem toda ação coercitiva da polícia ultrapassa as regras da democracia. Pelo contrário, se nas democracias não houver autoridade legítima que coíba os abusos, estes minam a crença do povo na eficácia do regime e preparam o terreno para aventuras demagógicas de tipo autoritário.

Temos assistido ao encolhimento do Estado diante da fúria de vândalos, aos quais aderem agora facções do crime organizado. Por isso, é de lamentar que o secretário-geral da Presidência se lamurie pedindo mais “diálogo” com os black blocs, como se eles ecoassem as reivindicações populares. Não: eles expressam explosões de violência anárquica desconectadas de valores democráticos, uma espécie de magma de direita, ao estilo dos movimentos que existiram no passado no Japão e na Alemanha pós-nazista.

Esses atos vandálicos dão vazão de modo irracional ao mal-estar que se encontra disseminado, principalmente nas grandes cidades, como produto da insensatez da ocupação do espaço urbano com pouca ou nenhuma infraestrutura e baixa qualidade de vida para uma aglomeração de pessoas em rápido crescimento. O acesso caótico aos transportes, o abastecimento de água deficiente e a rede de serviços (educação, saúde e segurança) insuficiente não atendem às crescentes demandas da população. Sem mencionar que a corrupção escancarada irrita o povo. Não é de estranhar que, conectados aos meios de comunicação, que tudo informam, os cidadãos queiram dispor de serviços de países avançados ou de padrão Fifa, como dizem. Sendo assim, mesmo que a situação de emprego e salário não seja ruim, a qualidade de vida é insatisfatória. Quando, ainda por cima, a propaganda do governo apresenta um mundo de conto da Carochinha, e o cotidiano é outro, muito mais pesado, explicam-se as manifestações, mas não se justificam os vandalismos.

Menos ainda quando o crime organizado se aproveita desse clima para esparramar terror e coagir as autoridades a não fazer o que deve ser feito. Estas precisam assumir suas responsabilidades e atuar construtivamente. É necessário dialogar com as manifestações espontâneas, conectadas pela internet, e dar respostas às questões de fundo que dão motivos aos protestos. A percepção de onde o calo aperta pode sair do diálogo, mas as soluções dependem da seriedade, da competência técnica, do apoio político e da visão dos agentes públicos.

Os governos petistas puseram em marcha uma estratégia de alto rendimento econômico e político imediato, mas com pernas curtas e efeitos colaterais negativos a prazo mais longo. O futuro chegou, na esteira da falta de investimento em infraestrutura, do estímulo à compra de carros, do incentivo ao consumo de gasolina, em detrimento do etanol, e do gasto das famílias via crédito fácil, empurrado pela Caixa Econômica Federal. Os reflexos aparecem nas grandes cidades pelo país afora: congestionamentos, transporte público deficiente, aumento do nível de poluição atmosférica etc.

De repente caiu a ficha do governo: tudo pela infraestrutura, na base da improvisação e da irresponsabilidade fiscal. Primeiro, o governo federal subtraiu receitas de estados e municípios para cobrir de incentivos a produção e compra de carros. Depois, em vista do “caos urbano” e da proximidade das eleições, afagou governadores e prefeitos, permitindo-lhes a contratação de novos empréstimos, sobretudo para gastos em infraestrutura. A mão que os afaga é a mesma que apedreja a Lei de Responsabilidade Fiscal, ferida gravemente pela destruição de uma de suas cláusulas pétreas: a vedação ao refinanciamento de dívidas dentro do setor público. Mais uma medida, esta especialmente funesta, que alegra o presente e compromete o futuro.


Não haverá solução isolada e pontual para os problemas que o país atravessa e as grandes cidades sentem mais do que quaisquer outras. Os problemas estão interconectados, assim como as manifestações e demandas. Não basta melhor infraestrutura se o crime organizado continua a campear, nem ter mais hospitais e escolas se a qualidade da Saúde e da Educação não melhora. As soluções terão de ser iluminadas por uma visão nova do que queremos para o Brasil. Precisamos propor um futuro não apenas materialmente mais rico, mas mais decente e de melhor qualidade humana. Quem sabe assim possamos devolver aos jovens e a todos nós causas dignas de serem aceitas, que sirvam como antídoto aos impulsos vândalos e à complacência com eles.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Dívida/PIB.

Hoje, na FOLHA, Delfim Netto.

Pesquisas empíricas recentes mostram que os efeitos das "incertezas" sobre o comportamento da economia são mais graves do que se supunha. Alteram, inclusive, a natureza e a qualidade da resposta dos agentes às políticas fiscal e monetária.

Os fatos sugerem que a reação aos desequilíbrios fiscal e monetário tem que ser muito mais pronta, energética e agressiva quanto maior forem as incertezas que os cercam.

Por um lado, em condições normais de pressão e temperatura, elas são parte inerente da economia de mercado, uma vez que as flutuações são ínsitas ao seu funcionamento e, frequentemente, são acentuadas pela ciclotimia dos próprios agentes econômicos, que tendem a um comportamento imitativo: a um eventual excesso de "otimismo" segue-se, sempre, um excesso de pessimismo. Por outro, as "incertezas" são maiores ou menores na justa medida em que há uma "confiança" recíproca maior ou menor entre o poder incumbente e os agentes econômicos.

Estamos terminando 2013 com um importante grau de incerteza, mas com os seguintes resultados (que, se não são brilhantes, não são desastrosos diante das dificuldades da economia mundial): 1) crescimento do PIB em torno de 2,7%; 2) taxa de inflação ligeiramente abaixo de 6%; 3) robusto deficit em conta-corrente da ordem de 3,6% e uma relação dívida bruta/PIB parecida com 60% do PIB. Há, entretanto, desconforto com alguns controles de preços (inflação reprimida) e com a relação dívida/PIB, não só pelo seu tamanho, mas pelas perspectivas de seu crescimento, apesar de ela ser, basicamente, em reais.

Num prazo mais curto, dois eventos preocupantes a ameaçam: 1) a aprovação, por expressiva maioria na Câmara dos Deputados, da negociação das dívidas de Estados e municípios, que, além de violar seguramente o "espírito" (e talvez a letra) da Lei de Responsabilidade Fiscal --o instrumento fundamental da nossa estabilidade--, estimula o aumento do endividamento dos entes federados; 2) a aprovação, no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias, de dispositivo que, implicitamente, dá início à concretização do "Orçamento impositivo". Sem uma regulamentação adequada de como se fará a estimativa da receita do Orçamento, ele terminará em tragédia.

São fatos como esses, contra os quais não se vê um sério engajamento do Executivo para mostrar à sociedade suas consequências no longo prazo, que têm chamado a atenção das desastradas agências de rating, do FMI, da OCDE e do Banco Internacional de Compensações (BIS), e podem levar a um rebaixamento da nossa classificação soberana. Isso poderá ter consequências dramáticas, sobretudo se coincidir com a redução dos estímulos monetários nos EUA.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Robert Shiller - Nobel de Economia: entrevista NYT/FOLHA.

Recente entrevista com o Nobel Robert Shiller, aqui publicada pela FOLHA.

Robert Shiller, professor da Universidade Yale, foi informado na semana passada de que receberia o Prêmio Memorial Nobel de Ciência Econômica, em companhia de Lars Peter Hansen e Eugene Fama, da Universidade de Chicago. O comitê do Nobel descreveu Shiller como fundador do campo das finanças comportamentais e como inovador na incorporação da psicologia à Economia e citou suas análises pioneiras sobre bolhas especulativas nos mercados de ações e imóveis.

Ele também é parte do grupo de eminentes economistas que escrevem a coluna "Economic View" para o caderno dominical de negócios do "New York Times", tendo contribuído com 60 colunas de 2007 para cá. Como editor da coluna, conversei com ele muitas vezes sobre seu trabalho, e na quarta-feira passada Shiller me ligou do aeroporto, onde estava embarcando para uma palestra no banco central holandês em Amsterdã. Eis uma versão condensada e editada de nossa conversa.
*
P. Bob, parabéns! Que honra.
R. Obrigado!

P. E agora, fico imaginando em que você estará pensando como tema para sua próxima coluna.
R. Ha. Bem, certamente terei algo a dizer. Não sei, por enquanto. Você sabe que preciso escrever um discurso para a cerimônia do Nobel, e o prazo para isso é o dia 10 de dezembro. E tenho responsabilidades letivas pesadas. A pressão será grande!

P. É, parece que esse negócio do Nobel é muito difícil. Ninguém ia querer um prêmio desses.
R. Verdade, verdade. Mas é maravilhoso. Agora estarei mais e mais envolvido com o ensino. Vou preparar um novo curso online para a Coursera em janeiro, chamado "Mercados Financeiros". Fui informado de que 50 mil pessoas já se inscreveram para ele, e acho que isso é realmente importante. É uma missão para mim. Também vou lecionar o curso de introdução à Economia para os calouros de Yale, no semestre que vem, e terei 300 ou 400 alunos nessa classe. De alguma forma, conversar com os estudantes jovens ajuda a nos reconduzir à realidade. Ou pelo menos deveria.

P. Você agora terá de resumir a sua obra e sua pesquisa de uma vida inteira em algumas poucas sentenças. Sei que é pedir demais. Mas gostaria de tentar?
R. Bem. Trabalho com isso há muito tempo. Você está interessado em temas? Um deles é algo que aprendi com meu pai: o apreço pela invenção. Eu sempre quis desenvolver novos instrumentos. O primeiro trabalho que publiquei era sobre um "estimador" - era um procedimento estatístico, uma espécie de invenção. Meu pai conseguiu uma patente e abriu uma empresa; não foi um sucesso, mas talvez eu tenha algo dele em mim.

P. Ao longo de sua carreira, você trabalhou muito com métodos de mensuração - vasculhar dados e decidir o que pode ser mensurado, e como. Você foi um dos criadores dos índices Case-Shiller, que medem preços de imóveis. E seu trabalho é conhecido, entre o pessoal das finanças, pelo que eles chamam de "Razão P/L de Shiller" - uma maneira de utilizar dados sobre preços e lucros a fim de determinar se o mercado de ações está supervalorizado. Você colabora com a Fundação Cowles de Pesquisa Econômica há 31 anos, e ela é uma instituição que trabalha muito com a coleta de dados. Por que essas mensurações são importantes?
R. Nosso fundador, Alfred Cowles, era um administrador de investimentos que se desiludiu e se tornou cético. A administração de fundos era uma profissão que envolvia muita falsidade - pessoas que diziam ser capazes de obter retornos superiores à média do mercado quando na verdade não o eram. Ele suspeitava de que seus colegas em Wall Street estivessem simplesmente mentido, que não tivessem capacidade de prever o mercado. Queria dispor de pesquisas econômicas verdadeiras, pesquisas genuínas. E coletava dados.
Tenho a mesma natureza cética. Quando era criança, meu professor na escola dominical se queixou aos meus pais que eu tinha uma atitude negativa. Não acreditava em nada do que aquele cara dizia.

P. Bem, você fez isso em companhia de muitas outras coisas - trabalhou no campo teórico e com dados. Combinou diversos campos.
R. Sim, parte considerável do meu melhor trabalho teórico surgiu depois de eu me envolver com projetos de coleta de dados, porque dessa forma você se torna consciente de outra realidade.

P. E em companhia de Richard Thaler, da Universidade de Chicago, outro dos colaboradores da coluna Economic View, você foi uma das pessoas que introduziu a psicologia na teoria dos mercados. Como isso aconteceu?
R. Bem, me casei com uma psicóloga [Virginia Shiller, psicóloga com consultório em New Haven e instrutora clínica no Centro de Estudo da Criança em Yale], o que certamente influenciou! Também descobri que existiam certas lacunas na teoria do mercado eficiente, que era a ortodoxia no mundo das finanças, e elas simplesmente não faziam qualquer sentido.
Os economistas que desenvolveram essa teoria diziam que todas as pessoas que participavam dos mercados estavam fazendo cálculos, cálculos sobre valor presente dos ativos. Isso é loucura, porque você sabe que 90% da população nem mesmo sabe que esse conceito existe. Não estão fazendo cálculo algum. E a isso os economistas respondiam que, bem, não é que todo mundo esteja fazendo todos os cálculos, mas o mercado está se comportando de maneira eficiente porque as pessoas recebem conselhos de especialistas e de administradores de fundos.
Isso também está evidentemente errado. Na realidade, algumas pessoas talvez estejam agindo assim. Mas nem todas, ou nem mesmo uma maioria delas. A coisa se torna ritual - temos um dado modelo em que as pessoas acreditam porque outras pessoas acreditam nele, e assim por diante.

P. Como a "exuberância irracional", título de um de seus livros, afeta o mercado de ações, e como ela se enquadra à teoria do mercado eficiente?
R. Bem, a teoria do mercado eficiente é uma meia-verdade. A meia-verdade é que não é fácil ganhar muito dinheiro muito rápido, e que você pode passar anos perdendo dinheiro, mesmo que seja uma pessoa muito inteligente.
Onde a teoria erra é em afirmar que você deve presumir que não há interesse em tentar superar o mercado - ou que a política econômica deveria ser orientada sob a suposição de que não existem bolhas de mercado.

P. Portanto, bolhas existem.
R. Sim, elas acontecem o tempo todo. A maior parte da ação no mercado de capitais, em termos agregados, consiste de bolhas. Isso não se aplica a ações individuais, mas se aplica ao mercado como um todo.

P. Em suas colunas, você já escreveu muito sobre bolhas no mercado imobiliário - como a que estourou alguns anos atrás e conduziu à crise financeira da qual ainda estamos nos recuperando. Você constatou que os preços dos imóveis em geral se movem mais devagar que os das ações. Por que isso acontece?
R. Isso vem se provando verdade até agora, ao menos. Um motivo é que os imóveis são no geral um mercado de amadores; não é fácil para as pessoas agir rapidamente. Mas os profissionais estão chegando, e isso pode mudar.

P. Eugene Fama é muitas vezes mencionado como fundador da teoria do mercado eficiente e, como estivemos discutindo, você é um crítico dessa teoria. Não me surpreende que Fama tenha ganho o Nobel ou que você tenha ganho o Nobel. Mas é estranho que o tenham feito juntos.

R. Bem, Gene e eu temos muito em comum. Mais do que você poderia imaginar. Ele recolhe dados e os divulga, e eu os utiliza o tempo todo, e uso muitas de suas teorias. Nem todas elas, claro. Mas ele é um ótimo sujeito. É como ter um excelente amigo que acredita firmemente em uma religião diferente da sua. Você pode aprender muito com ele, mesmo que não ore em sua igreja. 

FGV e USP: elas formam os melhores.

Matéria no VALOR ECONÔMICO aponta que duas instituições de ensino brasileiras estão no ranking das 150 universidades que formam os melhores funcionários, segundo estudo com recrutadores de 20 países. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) está na 93ª posição e a Universidade de São Paulo (USP), no 113º lugar.

A FGV e a USP ocupam posições similares às do ano passado, e são as mais bem colocadas na América Latina. Apenas duas outras instituições da região entram na lista: as mexicanas Tecnológico de Monterrey, na 120ª posição, e a Universidade Nacional Autónoma de México, em 126º lugar.

A Universidade de Oxford, do Reino Unido, é a instituição de ensino preferida por recrutadores. A americana Harvard e a Universidade de Cambridge, também do Reino Unido, completam o pódio. Esta é a terceira edição do estudo anual "Global Employability Survey", realizado pela consultoria francesa em educação Emerging em parceria com o instituto de pesquisa alemão Trendence e publicado hoje no jornal "The New York Times". Foram ouvidos mais de cinco mil recrutadores de 20 países, entre eles o Brasil.

A pesquisa também procurou saber como a universidade de formação afeta as chances de um candidato no processo seletivo. No Brasil, 31% dos recrutadores dizem que a universidade é o principal critério na hora de selecionar um candidato recém-formado, enquanto 51% consideram esse apenas um dos fatores importantes. Para eles, aspectos como experiência profissional têm o mesmo peso.

Ainda assim, os recrutadores brasileiros são os que mais valorizam a reputação e imagem da instituição onde o candidato estudou durante o recrutamento  – 32% selecionaram esse critério como base da busca por profissionais. Em seguida, 25% avaliam a qualidade dos professores e pesquisadores da universidade e 21% se baseiam na experiência que já tiveram com outros alunos da mesma instituição. Esse último critério é o que lidera na média global.


Os recrutadores também selecionaram quais países produzem os melhores profissionais recém-saídos da universidade. Os Estados Unidos lideram, seguidos do Reino Unido e da Alemanha. O Brasil ficou na 17ª posição, na frente apenas da Malásia, México e Turquia.

domingo, 27 de outubro de 2013

Sobral - Ceará é nota 10 em educação.


Parabéns à minha cidade de SOBRAL, lá no interior cearense, um exemplo bem-sucedido de reforma educacional. Na EXAME, excelente matéria sobre EDUCAÇÃO mostra o quanto o Brasil ainda é atrasado no assunto. Portanto, isso deve ser, obrigatoriamente, item a ser discutido em 2014 pelos nossos candidatos (as) à Presidência da República.    

Nobel de Economia.


As universidades com mais prêmios Nobel de Economia:

  • Chicago: 12
  • Califórnia – Berkeley: 5
  • Harvard: 5
  • Princeton: 5
  • Columbia: 4
  • MIT: 4
  • Cambridge: 4

Rodrigo Constantino e Alan Greespan - novos livros em 2013.

Dois novos lançamentos para iniciar a corrida para o fim de 2013: Alan Greenspan e o colega blogueiro Rodrigo Constantino.


A crítica precisa do FMI.

Recente editorial do ESTADÃO e a análise da economia brasileira com base em relatório do FMI.

A piora da imagem econômica do Brasil, até há pouco tempo um país bem visto e até na moda, é confirmada por mais um relatório desfavorável, desta vez publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). No dia anterior, terça-feira, um amplo e bem fundamentado estudo crítico havia sido apresentado em Brasília pelo secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OGDE), Angel Gurría. Os dois estudos apontam a deterioração das contas públicas, a resistência da inflação, o baixo nível de investimentos, o mau estado da infraestrutura, a redução do crescimento econômico potencial e a perda do poder de competição.

Mas há uma diferença política na história da produção e da divulgação dos dois documentos. O governo brasileiro contestou e conseguiu atrasar a divulgação do trabalho do FMI. A missão esteve no Brasil em maio, as informações foram atualizadas em julho e o material só foi posto no portal da instituição nessa quarta-feira.

A avaliação menos positiva da situação brasileira, com ênfase na inflação alta, nas restrições da oferta e nas incertezas políticas, já havia ficado evidente na assembleia anual, no começo do mês, quando saiu o Panorama Econômico Mundial, a principal publicação periódica do Fundo. O relatório apresentado nessa quarta-feira faz parte de outra rotina - a revisão ampla, geralmente anual, das condições e perspectivas econômicas da maior parte dos 188 países-membros.

Segundo o FMI, o Brasil poderá crescer em média 3,5% ao ano, até 2018, sem desajustes, se forem executados os programas de investimento anunciados pelo governo e houver ganhos de produtividade. Sem isso, o potencial ficará mais próximo de 3%. Esse conceito indica a possibilidade de expansão econômica sem acumulação de pressões inflacionárias e outros desarranjos.

Mas as projeções do FMI para a inflação brasileira já são pouco favoráveis e apontam a permanência de taxas próximas de 5,75% neste ano e em 2014 e só depois uma convergência gradual para a meta (4,5%). A lentidão da melhora refletirá a demora entre os novos investimentos e a expansão da capacidade produtiva, o continuado aperto no mercado de trabalho, algum efeito da depreciação cambial e um aparente aumento da inércia inflacionária (associada à indexação de aluguéis, salários e outros preços).

A referência à capacidade de oferta remete indiretamente ao excesso de demanda, especialmente de consumo, uma consequência do alto nível de emprego, do aumento da renda familiar, da expansão do crédito e, naturalmente, da despesa pública. A pressão do consumo é indicada também pelo encarecimento dos "não comercializáveis", como os serviços, segundo o relatório. Os preços são afetados pelo lado dos custos, um problema exemplificado pelos aumentos salariais superiores aos ganhos de produtividade.

O documento aponta de forma inequívoca a piora das contas públicas e chama a atenção para os meios usados pelo governo para fechar seu balanço, como os descontos de valores investidos e o recurso a receitas extraordinárias. Os autores poderiam ter ido mais longe na descrição da internacionalmente famosa contabilidade criativa, mas foram diplomáticos ao citar os arranjos especiais.

Recomendaram, no entanto, o cumprimento efetivo da meta de cerca de 3% do PIB, nos próximos anos, sem o uso de ajustes contábeis e de "operações extraordinárias", para obter uma firme redução do endividamento bruto do setor público. Ao examinar o aumento da dívida, os autores do relatório o relacionam às transferências do Tesouro ao BNDES e a outras instituições públicas.


A ênfase na dívida bruta é uma das diferenças entre a análise do FMI e o discurso governamental brasileiro. As contas do FMI continuam mostrando, no caso do Brasil, um endividamento - cerca de 68% do PIB - bem maior que o da média dos emergentes, em torno de 35%. O governo insiste em gastar mais tempo na discussão desse tema do que na melhora de suas contas em evidente deterioração.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...