terça-feira, 7 de abril de 2009

BRASIL: POUPANÇA DAS FAMÍLIAS, PIB E PAC

NADA contra o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. TUDO contra um PAC meramente eleitoral. Recentemente, com fogos de artíficio e artifícios econômicos e políticos, o governo lançou um pacote para construção de 1.000.000 de casas. Prazo para conclusão: não informado. É por essas situações inseguras que não podemos adotar um comportamento de avestruz e fingirmos que a crise inexiste no BRASIL e que, caso tenha, existe um Pai (que não é o do Céu, ainda…) a nos proteger.   É preocupante o que hoje li na coluna do colega blogueiro VINÍCIUS TORRES FREIRE, da Folha de S. Paulo:  Neste ano, a poupança ficou no vermelho em janeiro e em março. No ano, a "captação líquida" está negativa em R$ 582 milhões (para um saldo total de R$ 274,7 bilhões). É o primeiro trimestre de captação líquida média no vermelho desde junho de 2006. Não deve ser por acaso.” E não é mesmo. Uma das primeiras explicações para o crescimento do PIB é que o mesmo cresce devido o aumento da poupança das famílias, que posteriormente serão convertidos em equipamentos de capital. Logo, como essa poupança hoje está sendo retirada pelas pessoas, em continuando esse resgate, o PIB de 2009 realmente tenderá a quase zero. Ou não, dependendo do PAC... Até Caetano Veloso já deve pensar assim...      

domingo, 5 de abril de 2009

LULA NO G-20 FOI UM SUCESSO MUNDIAL

Direto do excelente colega blogueiro e cartunista André Mangabeira http://blogdomangabeira.zip.net/, realmente a reunião do G-20 foi um SUCESSO para ELLE. 
Que esse SUCESSO também seja completo na condução da crise aqui mesmo neste BRASIL.

sábado, 4 de abril de 2009

O QUE MUDA COM A SAÍDA DE MEIRELLES DO BACEN?

Uma nota triste que li nesta semana foi a de Suely Caldas, também da Folha, republicada pelo colega blogueiro Reinaldo Azevedo: A saída de Meirelles do Banco Central.
Meirelles escolheu o pior e mais impróprio momento para revelar-se: a inflação disparando, juros futuros em alta, superávit externo em queda e o ministro Guido Mantega impondo a criação de um fundo soberano. Por ter explicitado várias vezes resistência à idéia desse fundo - pelo menos enquanto o Brasil não começar a reduzir sua enorme dívida -, o presidente do BC passou para o mercado uma mensagem ruim, uma espécie de rendição nos embates com o Ministério da Fazenda, nada bom para o futuro da economia. Afinal, se o BC é o principal fiador de uma política econômica que reduziu a inflação e os juros e expandiu a produção e o emprego, uma escolha errada de substituto pode pôr em risco esse êxito. Seria um petista? Alguém sem nenhuma familiaridade e experiência no trato com o mercado? Abriu-se uma estrada longa para especulações. 
Nota deste blog: Por mais que critiquem Meirelles e os juros altos do BACEN, nestes seis e muitos anos de Lula, a situação está satisfatória graças ao trabalho dele e de sua equipe. Lamentavelmente, mais uma vez a ambição política supera um sério trabalho econômico.      

G20 EM LONDRES - CÚPULA DE EGOS

Essa é para concluir o assunto G20 em Londres. Já falaram tanta coisa sobre essa reunião, de Lula a Obama, de Michelle a Rainha Elizabeth II, mas este foi o melhor título que li sobre o encontro: Cúpula de egos, por RUBENS RICUPERO, como sempre, na nossa Folha de S. Paulo: A última vez em que se anunciou que nova ordem mundial estava emergindo foi em dezembro de 1990, quando Bush pai pediu emprestada a expressão a Gorbatchov. Ambos são hoje simpáticos aposentados, depois que o primeiro fracassou na reeleição e o último acabou destruindo o comunismo que pretendia restaurar. 
Oxalá o precedente não traga má sorte a Gordon Brown. Autêntico herói que não se poupou para garantir o êxito da cúpula do G20 poderá terminar como Churchill, vencedor da guerra, mas rejeitado pelos eleitores britânicos. Lutando contra a maré conservadora, Brown demonstrou que nem um escocês austero, filho de pastor presbiteriano, consegue resistir à hipérbole quando se trata de exagerar o êxito de uma reunião para impressionar o eleitorado.
Mas, se o encontro de Londres está longe de se comparar ao nascimento da nova ordem da ONU e do FMI, merece ser visto como contribuição útil, embora não espetacular, para restabelecer a confiança. Retomando os três critérios que sugeri ontem nesta Folha, vou invertê-los da cabeça para baixo por ordem de importância dos resultados. 
De longe a ação mais concreta e nova consistiu no aumento dos recursos do FMI para US$ 750 bilhões, mais que o Fundo pedira, e a decisão de emitir US$ 250 bilhões em Direitos Especiais de Saque. Na mesma linha destacam-se os US$ 250 bilhões para financiar o comércio. Nada disso é imediato; levará meses, talvez um ano, para que esse dinheiro entre de fato e comece a ser desembolsado. Não obstante, não há dúvida de que os países necessitados se sentirão mais tranquilos. O México não esperou para se candidatar a US$ 47 bilhões da Linha de Crédito Flexível. 
No critério da regulamentação, a parte conceitual do comunicado vai na boa direção: todos, entidades cinzentas como os fundos de hedge e instrumentos financeiros tóxicos, serão disciplinados, e os padrões internacionais para evitar risco excessivo ou contágio passarão por reforço. Mas os americanos lograram resistir à ideia de transnacionalizar as regras. Os EUA gostam de globalização só quando se trata de abrir fronteiras para as transnacionais, o capital e o comércio. Na hora de regular e fiscalizar, preferem a soberania. O primeiro critério, o de substanciais estímulos adicionais, pecou pela ausência. Figura apenas como veleidade de fazer mais, caso necessário. Os europeus e os que dependem da demanda alheia para crescer não se emocionaram. 
Um sucesso de relações públicas, para não usar palavra mais feia, foi convencer a imprensa de que era pertinente fazer o êxito da cúpula depender de tema periférico, sem relação direta com as causas da crise: os paraísos fiscais, preocupação dos fiscos alemão e francês. Aqui, como na questão da regulação, tudo dependerá da qualidade e do rigor das regras internacionais a serem definidas nos próximos meses. Afinal, antes da crise já existiam os padrões de Basileia, que se revelaram frouxos e complacentes. No caso do protecionismo e da conclusão da Rodada Doha, ouvimos a mesma canção com letra um pouco modificada.
Quanto ao mais, Obama saiu-se bem na modéstia de pretender ter vindo para escutar, Brown teve sua "finest hour" e todos os atores voltaram para casa convencidos de que o sucesso se deveu a eles. Que mais desejar de uma Cúpula de Egos?  RUBENS RICUPERO, 72, é diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco).  

DELFIM PREOCUPADO? VAMOS ENTENDER O PORQUE.

Em sua última coluna na Folha de São Paulo, o Economista ANTONIO DELFIM NETTO, já chama atenção para o título de seu texto: PREOCUPAÇÕES.

Houve uma dramática queda do crescimento do PIB entre o terceiro e o quarto trimestres de 2008, e os sinais no primeiro de 2009 são dúbios. O que será o crescimento deste ano, entretanto, não pode ser "previsto". Depende do vigor e da inteligência das políticas fiscal e monetária e de como reagirá a elas o setor privado. 
Há, certamente, muito a fazer napolítica monetária, onde o Banco Central só agora começou a usar a sua musculatura para restabelecer o fluxo do crédito interbancário. O governo tem dado ênfase aos únicos instrumentos de que dispõe para ativar a economia: 1º) acelerar os seus investimentos e 2º) tentar cooptar o setor privado com alguns estímulos creditícios e fiscais para fazerem o mesmo. Ambos, sempre submetidos à responsabilidade fiscal. 
Por seus sacerdotes, os "Deuses do Mercado" têm manifestado sérias dúvidas sobre tal política. Em relação à menos importante tarefa do Banco Central (a redução da taxa Selic), manifestam com a gravidade de quem se pensa portador de uma verdade "científica", a preocupação que ela possa vir a acelerar a desvalorização cambial e, assim, comprometer a meta inflacionária de 4,5%. Há mil razões para discutir em que condições tal "ciência" deve ser levada a sério, mas apenas uma basta para pô-la em dúvida: a tremenda queda da demanda interna, que só será recuperada lentamente. Essa recuperação depende menos da taxa de juros Selic do que das ações do Banco Central para regularizar o fluxo interbancário. 
Em relação à política fiscal, boa parte das preocupações dos sacerdotes é que a provável redução do superávit primário venha a comprometer a queda monotônica da relação dívida/PIB, fator de alguma importância para a redução da taxa de juros. Hoje ela anda em torno de 37%, contra 52% em 2003. Mesmo que o PIB caia 1% (possível, mas dependente do que fizermos nos próximos nove meses), se a taxa de juros real anual cair para 6% (o que já deveria ter acontecido há alguns anos!), um superávit primário em torno de 3% do PIB será suficiente para estabilizá-la.
Nas condições atuais, até os "Deuses" a aprovarão, porque em 2009 praticamente todos os países verão sua relação dívida/PIB elevar-se.
Os investimentos do governo registraram uma aceleração: de 0,4% em 2003 para 1% em 2008 - de um PIB que cresceu 26% no período (4,7% real ao ano). É claro, entretanto, que, sem cooptar o setor privado, eles não terão potência suficiente para sustentar o crescimento. Isso sugere a urgência de acelerar e estimular todas as formas de concessão das obras de infraestrutura
Nota: Como já postei anteriormente discordo do autor sobre seu conceito de "previsões econômicas". Aqui ele logo no início do texto já faz sua crítica. E conclui com o pensamento no PAC...

VERÍSSIMO TAMBÉM É ECONOMIA.

Essa eu li em 02/04/09 e fiquei curioso, pois o autor desta crônica “Respeitável",  Luis Fernando Veríssimo, não faz parte da minha lista de preferidos. Porém, vindo dele, claro que tinha que ter uma crítica ao capitalismo... De qualquer maneira, sempre sou favorável a "ouvir ambas as partes"...

Hyman Minsky morreu em 1996 mas está sendo muito lembrado, e citado, agora. Era um economista e acadêmico americano que destoava da ortodoxia neo-clássica dominante de Milton Friedman e seus discípulos e combateu a desregulação do mercado que desmantelou o capitalismo auto-controlado montado pelos keynesianos depois da Grande Depressão - e acabou dando no atual desastre. Minsky previu o que ia acontecer mas na época do pensamento único e indiscutível ninguém lhe deu muita atenção. Agora o profeta está recebendo as honras devidas. Num trecho de um dos seus livros sobre a instabilidade da economia americana reproduzido recentemente pela revista "The Nation", Minsky escreveu que "o fracasso de políticas desde a metade dos anos 60 tem relação com a banalidade da análise econômica ortodoxa. Apenas uma análise crítica do capitalismo pode ser guia para uma política capitalista bem sucedida". Quer dizer, a análise acritica ou invariavelmente a favor ameaça o capitalismo mais do que qualquer pregação de esquerda. Minsky estava escrevendo para a grande imprensa americana e, sem saber, para a grande imprensa brasileira.

RICOS X POBRES: SEMPRE A MESMA COISA

Enquanto no Brasil os 10% mais ricos detem 75% da riqueza, lá no Clube do G20 não é muito é diferente: nada mais nada menos do que 90% do PIB mundial estavam em Londres.

Análise feita pela Miriam Leitão afirma que do grupo do G8, que inclui a Rússia entre as nações mais ricas, praticamente todos já estão em recessão ou tiveram PIB negativo no 4º trimestre de 2008. São eles: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Itália e Rússia.

Além deles estão reunidos os países que fazem parte da União Europeia e também o grupo de 11 nações emergentes, que inclui Brasil, Argentina, México, China, Índia, Austrália, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul e Turquia.

Nota: e o que acontece com os quase 200 países que possuem APENAS 25% da riqueza?

O DÓLAR AINDA É MOEDA FORTE?

Clóvis Rossi é um dos jornalistas mais respeitados no meio e em seu texto de 27/03/09 na Folha de S. Paulo, traz mais uma preocupação para os tempos atuais. Para os meus quase dois leitores, o título do texto é bastante sugestivo "Aquelas notas verdes". E como gostamos dela...

LONDRES - Editorial desta Folha demonstrava faz pouco a fortaleza do dólar, apesar de toda a crise, apesar de todo o colossal déficit externo norte-americano. Um número bastava: o mundo comprou no ano passado US$ 815 bilhões em títulos norte-americanos. Significa, grosso modo, transferir para os EUA três quartas partes de tudo o que o Brasil produz por ano de bens e serviços. Mas as coisas começam a ficar esquisitas. Primeiro foi o premiê chinês, Wen Jiabao, a desconfiar publicamente da solvência dos EUA. Depois foi outro líder chinês, o presidente de seu Banco Central, a sugerir a troca do dólar pelos Direitos Especiais de Saque (moeda contábil do FMI) como moeda de reserva do planeta.  Ontem, foi a vez de Andrei Denisov, vice-ministro russo de Exteriores, a endossar a proposta chinesa. Denisov foi além: propôs uma conferência internacional para estudar a adoção da nova moeda, o que, de quebra, já mina a cúpula do G20 marcada para dia 2 em Londres. A cúpula destina-se a tentar estabilizar a economia, numa ponta, e a reformular a arquitetura financeira global, na outra. Se um dos participantes de certo peso já pensa em nova conferência em torno do mesmo assunto, para que servirá então a de Londres?  Observe-se que os dois países que lançaram a proposta sobre o dólar são Brics (Brasil, Rússia, Índia e China, supostas futuras potências mundiais). Como têm atuado coordenadamente no âmbito do G20, o Brasil será fatalmente chamado a manifestar-se, ainda mais que é um dos maiores detentores de papéis norte-americanos. É possível que o tema morra por aí. Mas, se os planos Obama/Geithner não conseguirem endireitar a coisa, prepare-se para um choque sobre aquelas notinhas verdes que parecem (ou pareciam) as únicas coisas no planeta em que se podia confiar para sempre

Em tempo: Atualizando a nota acima, o presidente Lula já propôs ao seu colega chinês Hu Jintao a utilização de suas respectivas moedas, real e yuan no comércio.(Não acredito na "quebra" do dólar, apesar do estado atual da economia norte-americana). A confirmar. 

quinta-feira, 2 de abril de 2009

OS MAIS RICOS DO MUNDO - RESULTADOS?

Do blog do Joemir Beting, um comentário sobre a reunião de hoje do G-20, em Londres:

Os países ricos vão ficar 4,3% menos ricos em 2009. Vulgo recessão em bloco dos 30 países mais desenvolvidos economicamente, politicamente, socialmente. E os 30 maiores países emergentes? Também estão em marcha à ré? Não! Estão em desaceleração, como que rodando em terceira ou segunda marcha e não mais em quinta ou sexta. O Brasil estaria ou já teria passado da quinta para a segunda. A crise é dos ricos - diria o presidente Lula. Eles produziram a bolha e explodiram a bolha. Os países emergentes - sem contar os submergentes, os que ainda não emergiram - acabaram atingidos, em maior ou menos escala, pelos estilhaços da bolha financeira nos flancos da economia real de cada um. O dado curioso é que os emergentes perderam os dedos, enquanto os opulentos perderam os dedos, as mãos e os braços. . Nesta crise, os emergentes passaram a ter uma fatia maior no bolo da economia mundial, recalculado na semana passada, a dólar de hoje, em US$ 62 tri. O planeta China, por exemplo, já é a terceira maior economia do mundo e ensaia ganhar a medalha de prata, já em 2011 ou 2012. É do Banco Central da China comunista a maior reserva internacional do capitalismo. Ou, se preferem: os EUA, primeira potência, desfilam dívida externa de US$ 4,4 tri. E o seu maior credor, brandindo cobrança de US$ 786 bi, é justamente o Tesouro Nacional da China. Pois o acordo global do G-20, afinal, tem apenas um defeito: entra hoje em órbita, com pelo menos 20 anos de atraso. Mas quais são os parceiros do G-20? Os do G-8 e os do G-12. No G-8, os 7 países ricos,m dando carona à Rússia do poder nuclear. No G-12, os emergentes de maior afluência no mercado globalizado. Anote aí: no G-8, pela ordem de tamanho do PIB, EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia. No G-12, China, Brasil, Índia, Coréia do Sul, México, Austrália, Turquia, Indonésia, Arábia Saudita, África do Sul e Argentina. Na soma de 2008, o PIB conjunto do G-20 foi de exatos US$ 45 tri., sendo US$ 31,5 tri do G-8 e US$ 10,5 tri do G-12.

A MELHOR REVISTA DO MUNDO

Existem revistas e revistas, pois gostos são muito pessoais. Porém, a cada semana a The Economist consegue ser e manter o padrão de melhor revista do mundo.
Jornalismo sério, desde a a primeira edição lá pelos ideos de 1843, a revista tinha como objetivo "a defesa do livre-comércio, do internacionalismo e da mínima interferência do governo, especialmente nos negócios de mercado", princípios que mantém até hoje.
O livre mercado ainda é a melhor saída. Quem sobreviver a crise, confirmará. É fato que a economia mundial está em crise, sem sequer conhecermos seu tamanho real. Fato mais seguro é que depois dessa crise teremos outra e outra. O capitalismo é criativo e consegue adaptar-se e criar riquezas, melhorando a vida de muitos. Uma saída socialista, realmente não é a melhor saída. Ainda bem camarada KARL MARX.

DO INTERIOR DO BRASIL AO MUNDO

Como cearense, lá mesmo do interior do quente Ceará , agora morando também num interior, só que bem na quente selva amazônica, indiferente as divergências que mantenho com o partido do Presidente Lula, fico feliz em ver como existe NO BRASIL a possibilidade real de uma pessoa ser destinada a NADA e, de repente, está LÁ, no CENTRO dos maiores do MUNDO. Nessa, valeu LULA. E, não esqueçendo de pedir para que GOD SAVE THE QUEEN.
No entanto, sei que apesar dos inúmeros sorrisos na foto, o jogo é pesado e sem amizades. Afinal, cada qual quer manter seu poder e nada de liberar $$$ para o colega.

domingo, 29 de março de 2009

PREVISÕES: ACERTOS E ERROS

Esta está no site/blog do KANITZ http://brasil.melhores.com.br/ e, de verdade, gostaria de saber a opinião dos meus colegas econometristas blogueiros. Então vamos lá:

"Previsões são meros exercícios de vontade, cujo resultado depende da disposição psicológica mais ou menos otimista dos seus autores. Não existe nenhum mecanismo de 'previsor antecedente' [de um ano] aceitável. Na melhor das hipóteses, pode-se estimar precariamente o crescimento do PIB num trimestre quando SE ESTÁ NA METADE dele". (Delfim Netto, na Folha de São Paulo, de 25 de Março de 2009.)

Então por que continuamos a publicar estas previsões de economistas neo-clássicos, monetaristas e keynesianos, se o melhor economista deste país afirma que são meros exercícios de vontade? Atenção jornalistas econômicos e professores de jornalismo: esta frase do Delfim diz muita coisa e precisa ser lembrada.

Vai ser um verdadeiro "choque": o crescimento anual do primeiro trimestre de 2009 será muito próximo de zero, mas isso não nos permite saber o que serão os próximos nove meses. Logo, não podemos saber qual será o crescimento do ano.

Portanto leitores de O Brasil Que Dá Certo: não se assustem nem se desesperem.

Segundo Delfim, publicar na manchete de um jornal a previsão de queda no crescimento do PIB não é informação, e sim barulho. Falou de Delfim Netto, o economista-chefe deste país

Nota deste blog: Eu não concordo integralmente com o texto acima.

DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM"

A mística do mercado é o título do artigo publicado por PAUL KRUGMAN no "NEW YORK TIMES" e aqui no Brasil na FOLHA DE S.PAULO. Nada como um Nobel para facilitar e apontar como esta a crise atualmente, apesar de não necessariamente todo Nobel esteja correto em seu entendimento econômico. Nem mesmo um KRUGMAN...

Na segunda-feira, Lawrence Summers, o chefe do Conselho Econômico Nacional, respondeu às críticas ao plano do governo Obama para subsidiar a compra privada de ativos tóxicos. "Não conheço nenhum economista que não acredite que mercados de capitais funcionando melhor, nos quais os ativos possam ser negociados, não sejam uma boa ideia." Deixe de lado por um momento a questão de se um mercado em que os compradores têm de ser subornados para participar pode realmente ser descrito como "funcionando melhor". Mesmo assim, Summers precisa sair mais. Alguns economistas reconsideraram sua opinião favorável sobre os mercados de capitais e a negociação de ativos à luz da crise atual. Mas ficou cada vez mais claro nos últimos dias que autoridades graduadas do governo Obama ainda estão presas à mística do mercado. Elas ainda acreditam na magia do mercado financeiro e na proeza dos magos que a executam. A mística do mercado nem sempre dirigiu a política financeira. A América saiu da Grande Depressão com um sistema bancário rigidamente regulamentado, que fez das finanças um negócio sóbrio e até aborrecido. Os bancos atraíam os depositantes fornecendo localizações convenientes de agências e talvez uma ou duas torradeiras de brinde; usavam o dinheiro assim captado para fazer empréstimos, e era isso. E o sistema financeiro não era apenas aborrecido. Também era, pelos padrões de hoje, pequeno. Mesmo durante os "anos go-go", o mercado altista da década de 1960, finanças e seguros juntos representavam menos de 4% do PIB. A relativa desimportância das finanças se refletia na lista de ações que formavam a Média Industrial Dow Jones, que até 1982 não continha uma única companhia financeira. Tudo parece primitivo pelos padrões de hoje. Mas aquele sistema financeiro aborrecido e primitivo serviu a uma economia que duplicou os índices de padrão de vida no período de uma geração. Depois de 1980, é claro, surgiu um sistema financeiro muito diferente. Na era Reagan, de mentalidade desregulamentadora, a banca à moda antiga foi cada vez mais substituída pela especulação em grande escala. O novo sistema era muito maior que o antigo regime: à véspera da crise atual, finanças e seguros representavam 8% do PIB, mais que o dobro de sua participação nos anos 60. No início do ano passado, o Dow Jones incluía cinco companhias financeiras - entre elas gigantes como AIG, Citigroup e Bank of America. E as finanças tornaram-se nada aborrecidas. Atraíram muitas de nossas mentes mais agudas e fizeram algumas pessoas imensamente ricas. Sob o novo mundo glamouroso das finanças estava o processo de securitização. Os empréstimos não ficavam mais com o credor. Em vez disso, eram vendidos para outros, que cortavam em fatias, picavam e faziam purê das dívidas individuais para sintetizar novos ativos. Hipotecas "subprime", dívidas de cartão de crédito, empréstimos para carros - tudo entrava na processadora do sistema financeiro.Do outro lado, supostamente, saíam doces investimentos AAA. E os magos financeiros foram generosamente recompensados pela condução desse processo. Mas os magos eram fraudes, quer eles soubessem disso quer não, e sua magia veio a ser nada mais que uma coleção de truques baratos. Acima de tudo, a promessa chave da securitização - que tornaria o sistema financeiro mais robusto ao espalhar mais os riscos - veio a ser uma mentira. Os bancos usaram a securitização para aumentar seu risco, e não para reduzi-lo. Nesse processo tornaram a economia mais, e não menos, vulnerável aos distúrbios financeiros. Mais cedo ou mais tarde as coisas tinham de dar errado, e acabaram dando. O Bear Stearns faliu; o Lehman faliu; mas principalmente a securitização faliu. O que nos traz de volta à abordagem do governo Obama para a crise financeira. Grande parte da discussão sobre o plano de ativos tóxicos se concentrou nos detalhes e na aritmética, e com razão. Além disso, no entanto, o que é marcante é a visão manifestada tanto no conteúdo do plano financeiro como em declarações de autoridades do governo. Na essência, o governo parece acreditar que quando os investidores se acalmarem a securitização e os negócios financeiros poderão retomar de onde pararam um ou dois anos atrás. Para ser justo, as autoridades estão pedindo mais regulamentação. Na verdade, na quinta-feira Tim Geithner, o secretário do Tesouro, explicou planos para aumentar a regulamentação que teriam sido considerados radicais pouco tempo atrás. Mas a visão subjacente permanece a de um sistema financeiro mais ou menos igual ao que havia dois anos atrás, embora um pouco mais controlado por novas regras. Como você pode adivinhar, eu não compartilho essa visão. Não acho que isso seja apenas um pânico financeiro; eu acredito que representa o fracasso de todo um modelo de banca, de um setor financeiro que cresceu demais e causou mais dano que bem. Não acho que o governo Obama seja capaz de trazer a securitização de volta à vida, e não acredito que deva tentar isso.

REVISTA ÉPOCA - EDIÇÃO DE 30/03/2009

Excelentes matérias a ÉPOCA nos oferece nesta semana sobre a crise. Material bem escrito e que deixa o leitor entendendo realmente o que fazer ou não com o seu $$$ dinheiro. Interessante a citação dos 15 nomes de pessoas que têm poder para definir os rumos da economia global. Claro que, dentre eles, o de nosso Presidente Lula. Vide abaixo a relação completa:
Barack Obama - Wen Jiabao - Gordon Brown - Nicolas Sarkozy - Timothy Geithner - Ben Bernanke - Jean-Claude Trichet - Lawrence Summers - Pascal Lamy - Mahmoud Ahmadinejad - Luiz Inácio Lula da Silva - Warren Buffett - Nouriel Roubini - Martin Wolf - Oprah Winfrey.

POLÍTICA BRASILEIRA - ELEIÇÕES 2010

Este blog propõe a partir de hoje uma campanha para que o eleitor conheça TODA a BIOGRAFIA do(a) seu/sua candidato(a) a Presidente da República. Leitor voraz de biografias, entendo que quanto maior for o conhecimento que o eleitor tiver da pessoa em quem esta depositando o seu voto de confiança por tempos mais prósperos, maior será a possibilidade de se fazer a melhor escolha para o país.

quinta-feira, 26 de março de 2009

CRISE 2009 - BOAS NOTÍCIAS. E AINDA ESTAMOS EM MARÇO...

Um pouco de otimismo ajuda, mesmo no meio de um tsunami. De hoje, no site da EXAME, que bom ler a notícia abaixo e torcer para que realmente seja verdade suas previsões...
Após meses de notícias negativas e retração econômica, o banco britânico Barclays acredita que a atividade está próxima do "ponto de inflexão". No relatório trimestral sobre mercados emergentes intitulado "O fim da queda livre", o banco diz que a velocidade da retração econômica vem diminuindo e o fluxo de surpresas negativas que pesaram sobre o mercado está perdendo força. Apesar de ser provável que o ajuste à nova realidade continue nos próximos meses, o Barclays enxerga sinais ainda "incipientes" de que a atividade econômica caiu numa velocidade menor no primeiro trimestre. Além disso, o banco prevê que o consumo tenha expansão nos Estados Unidos entre abril e junho. A China também tem dados sinais mais animadores, já que o governo se mostrou comprometido com a batalha contra a desaceleração econômica. O pacote de investimentos em infraestrutura tentará compensar a queda nas exportações e do mercado imobiliário. O banco também acredita que os diversos pacotes de estímulo econômico divulgados por governos de todos os continentes comecem a fazer efeito no segundo semestre, ajudando na retomada da produção industrial global ainda neste ano. Para aqueles que acreditam que é hora de investir agressivamente na bolsa devido à melhora do cenário, o Barclays avisa: "Esperamos que a recuperação da economia global seja relativamente débil na maioria dos países". Mesmo nesse cenário, há a possibilidade de ganhos nos mercados financeiros - já que hoje está precificado um cenário de depressão ou ao menos de uma recessão muito longa. No entanto, a baixa velocidade da recuperação deve limitar os ganhos de curto prazo. Para o Barclays, a recuperação será lenta devido ao sincronismo da crise em diversas partes do mundo e à provável demora na retomada do crédito aos mesmos níveis pré-crise, principalmente nos países mais alavancados. Além disso, é muito provável que em breve as políticas expancionistas adotadas nas principais economias do mundo gerem inflação e obriguem os bancos centrais a adotar uma posição mais cautelosa. Segundo o Barclays, a atividade econômica na América Latina "está caindo como em qualquer outra economia". A produção industrial deve ter queda de 2,3% neste ano, o pior resultado desde 1983. Mas a boa notícia é que os bancos centrais da região ainda têm muito espaço para baixar os juros. No Brasil, os juros também podem cair muito ainda sem o temor de aumento da inflação ou de uma grande desvalorização do real. Após o corte de 2,5 pontos percentuais acumulado neste ano, ainda haveria espaço para reduzir a Selic dos atuais 11,25% ao ano para 8,75%. Caso a atividade econômica continue a gerar surpresas negativas, um corte adicional para 8,25% ou 8% não estaria descartado. O Barclays está entre os bancos mais pessimistas sobre 2009 e acredita que o PIB cairá 1,9%. A correção no consumo interno já foi até mais forte que a da própria produção, mas ainda deve haver novos ajustes nos próximos meses devido ao aumento do desemprego e às restrições de crédito. Além disso, o investimento deve continuar em queda. Mas quando a economia dará sinais de recuperação? Para o Barclays, o PIB brasileiro só voltará a crescer com algum vigor no quarto trimestre.

quarta-feira, 25 de março de 2009

BLOG NOVO NA REDE - LEIA E FIQUE FELIZ

Apesar de ser um brasileiro que procura ter os pés no chão e não se ufana com Copa do Mundo e casas populares a R$ 50,00/mês, nestes tempos de tantas notícias ruins, devemos a iniciativa do brilhante STEPHEN KANITZ pela criação de seu blog http://brasil.melhores.com.br/, que, por incrível que parece, somente traz notícias boas. (Sim, elas existem, apesar de nós, Economistas e Auditores, nem sempre encontrá-las).

Parece até conto da carochinha, mas Kanitz é um excepcional criador de ótimos textos na VEJA e agora, no blog, continua a demonstrar todo o seu conhecimento.

Boas vindas ao novo colega e sucesso neste mundo virtual, mas também, REAL.

domingo, 22 de março de 2009

LULA NA NEWSWEEK - EDIÇÃO DE 30/03/2009

Lula, nosso Presidente, mais uma vez está nas páginas e também na capa da última edição da revista NEWSWEEK. Entrevistado pelo famoso jornalista Fareed Zakaria, "Lula quer lutar” é título da entrevista. Segundo o jornalista, depois de ser uma marca da esquerda brasileira, “Lula enveredou para o liberalismo de livre mercado e ajudou a transformar seu país no maior sucesso econômico da América Latina”. Na entrevista, Lula fala sobre o encontro com Obama e sobre as perspectivas da economia brasileira, mas também é questionado sobre seu posicionamento em relação à “democracia”(?) venezuelana. (Nota deste blogueiro: Faltou mencionar o agradecimento de Lula à herança maldita de FHC...)

Lula Wants to Fight Invigorated by the crisis, Brazil's president says he's praying for Obama. From the magazine issue dated Mar 30, 2009

Once a leftist firebrand, brazil's president Luiz Inácio Lula da Silva turned to free-market liberalism and helped make his country Latin America's biggest economic success. Earlier this month he became the first Latin leader to visit President Barack Obama at the White House, and in April he'll head to London for the G20 summit on the global financial crisis. He met with NEWSWEEK's Fareed Zakaria in New York. Excerpts:

Zakaria:Your meeting with President Obama went longer than expected. What did you talk about?

Da Silva: We talked a lot about the economic crisis. We also decided to create a working group between the U.S. and Brazil to participate in the G20 summit meeting. I told Obama that I'm praying more for him than I pray for myself, because he has much more delicate problems than I. He left a huge impression on me, and he has everything it takes to build a new image for the U.S. with relation to the rest of the world.

You got on pretty well with President Bush. How are they different?

Look, I did have a good relationship with President Bush, it's true. But there are political problems, cultural problems, energy-grid problems, and I hope that President Obama will be the next step forward. I believe that Obama doesn't have to be so concerned with the Iraq War. This will permit him to explore the possibility of building peace policies where there is no war, which is Latin America and Africa.

You are probably the most popular leader in the world, with an 80 percent approval rating. Why?

Brazil is a country that has rich people, as you have in New York City. But we also have poor people, like in Bangladesh. So we tried to prove it was possible to develop economic growth while simultaneously improving income distribution. In six years we have lifted 20 million people out of poverty and into the middle class, brought electricity into 10 million households and increased the minimum wage every year. All without hurting anyone, without insulting anyone, without picking fights. The poor person in Brazil is now less poor. And this is everything we want.

There are people who credit high oil, gas and agriculture prices. Can you manage with prices going down rather than up?

The recent discovery of oil is very important, because part of the oil we find will help resolve the problem of poverty and the problem of education. Brazil does not want to become an exporter of crude oil. We want to be a country that exports oil byproducts—more gasoline, high-quality oil. The investments were calculated at the price of $35 per barrel. Now, at $40, we still have enough margin.

Critics say that during this period of high commodity prices, you did not position Brazil to move economically up to the next level.

This doesn't make sense. When I became president of Brazil, the public debt was 55 percent of GDP. Today it is 35 percent. Inflation was 12 percent, and today it's 4.5 percent. We have economic stability. Our exports have quadrupled. The fact is that the growth of the Brazilian economy is the highest it has been in 30 years.

Will Brazil's economy grow this year?

I'm convinced we'll reach the end of the year with a positive growth rate. But we did not foresee that the crisis would have either the size or the depth that it has today in the U.S. Now we need new political decisions that depend on the rich countries' governments. How are we going to reestablish credit, reestablish the American consumer and the European consumer? Now we have to prove we are worthy. I was even getting a little bit disappointed in political life. I've already had my sixth year of my term, and you start getting tired. But this crisis is almost like something—a provocative thing for us, to wake us up. It's giving me enthusiasm. I want to fight. The more crises, the more investment you have to make. So we're investing today in what we never invested in for the last 30 years, in railroads, highways, waterways, dams, bridges, airports, ports, housing projects, basic sanitation. We have to be bold, because in Brazil we have many things to do that in other countries were already done many years ago.

Last December you had a meeting of the 33 countries of the Americas except the United States. Why?

It seemed that the United States was pointedly excluded.We have never had such a meeting among only the Latin American and Caribbean countries. So it was necessary to have this meeting without super economic powers, a meeting of countries that face the same problems.

You've said you hope this crisis will change the politics of the world, to give countries like Brazil and India and China a greater say. What specifically—what power do you want that you don't have now for Brazil?

We want to have much more influence in world politics. For example, we want that the multilateral financial institutions not be open only to the Americans and Europeans—institutions like the IMF and World Bank. We want more continents to participate in the Security Council. Brazil should have a seat, and the African continent should have one or two.

You are regarded as a great symbol of democracy in the Americas. And yet some people say you have been quiet as Hugo Chávez has destroyed democracy in Venezuela. Why not speak out?

If Brazil wants a greater role in the world, wouldn't that be one part, to stand for certain values?Well, maybe we cannot agree with Venezuelan democracy, but no one can say that there is no democracy in Venezuela. He has been through five, six elections. I've only had two.

He has gangs out on the street. This is not real democracy.

Look, we have to respect the local cultures, the political traditions of each country. Given that I have 84 percent support in the public-opinion polls, I could propose an amendment to the Constitution for a third term. I don't believe in that. But Chávez wanted to stay … I believe that changing the president is important for the strengthening of democracy itself. URL: http://www.newsweek.com/id/190352

DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM" - II

Em 18/03/2009, ANTONIO DELFIM NETTO, escreveu em sua coluna na Folha de S. Paulo, o texto abaixo, com o título "Dura realidade."

O BRASIL só muito recentemente havia se reconciliado com o verdadeiro crescimento, que, para os países emergentes, é aquele que o faz convergir e superar a média do crescimento mundial. Depois de 20 anos de taxas de crescimento inferiores à do mundo, o terceiro trimestre de 2006 mostrou importante mudança: voltamos a crescer mais do que ele. Entre 1950 e 1985, o Brasil cresceu, por ano, 2,2% acima do mundo; entre 1986 e 2006, cresceu, em média, 0,7% por ano abaixo do mundo. A tabela mostra o crescimento trimestral em 2008 comparado a cada trimestre de 2007: Trata-se de verdadeiro colapso, que nem os mais pessimistas ousavam prever. Esse enorme desastre "na margem" é relativizado quando se verifica que, na média, nosso crescimento de 2008 foi muito superior ao do mundo (cerca de 1,6%) e praticamente igual ao dos países emergentes (5%). É claro que há mil razões para explicar o fato, mas é ainda mais claro que nem a soma de 999 delas chega a ter a importância da "morte súbita" do crédito interbancário no Brasil. Por que um país que tem um sistema bancário hígido, com alavancagem razoável e controlada e economia relativamente fechada, assistiu à queda do seu recém-redescoberto desenvolvimento? A resposta desagradável é uma só: o Banco Central, perdido no labirinto de seus modelos, demorou a entender o que se passava após a barbeiragem do Tesouro americano e do Fed na desastrada operação Lehman Brothers, em setembro. Quando entendeu, agiu na direção certa, mas com atraso e tibieza. Há fatos fora de nosso controle, como a queda de demanda das exportações e a evolução das relações de troca (preços de exportação/ preços de importação), que cobrarão seu preço sobre nosso desenvolvimento. Mas as preocupações do nosso sistema bancário em relação ao capital subordinado e ao seu "funding" externo deveriam (e poderiam!) ter sido reduzidas pelo BC ainda em setembro. Em vez disso, perdemos meses construindo a perversa teoria de que banco "grande" é melhor do que "pequeno" e que o pior dos bancos "públicos" é melhor do que o melhor dos "privados", o que compromete ainda mais a restauração do crédito interbancário. Se continuarmos "filosofando", o Brasil poderá encolher em 2009. Felizmente temos os próximos nove meses para trabalhar duro e com inteligência para evitar a tragédia.

Uma pergunta deste colega aqui na floresta ao grande Mestre Delfim: e os gastos do governo brasileiro não comprometem o que estavamos vendo hoje? (Ficamos aguardando resposta).

DA SÉRIE "TEXTO DE QUEM ESCREVE BEM"

Tenho sempre o prazer de compartilhar textos bons que leio para os meus quase dois leitores. Sei que eles também lêem muitas coisas boas, mas por vezes, podem passar ser ter lido algo que li e que registra uma base teórica que nos faz pensar. Com vocês, neste nublado domingo, otimista texto de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66 anos, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Algumas certezas... muitas dúvidas

A CRISE econômica completa seis meses de uma nova e mais deletéria fase, iniciada com a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro do ano passado. Vou dividir com o leitor da Folha algumas certezas -e muitas dúvidas- que tenho em relação a ela. Começo com as minhas certezas:

1) existe no mundo hoje um elevado nível de capacidade ociosa em quase todos os setores produtivos, principalmente o setor industrial;

2) essa situação de excesso de capacidade produtiva foi criada de uma forma brusca, inesperada mesmo, e gerou nos últimos meses um acúmulo de estoques brutal. O ajuste da produção, que se seguiu, está em fase avançada, mas ainda não terminou;

3) o consumidor americano vai continuar a reduzir seu consumo e aumentar sua poupança. Não será um processo contínuo, mas esse é o pano de fundo. Por isso, esse cenário de fraqueza estrutural global deve permanecer, pelo menos, até a passagem de 2010 para 2011;

4) por isso ainda há um desequilíbrio muito grande nos preços de produtos primários e intermediários importantes, o que garante a continuidade por mais tempo da redução generalizada de preços que já atinge a maioria das economias;

5) terminados esses ajustes de quantidade e preço, a elevada ociosidade do sistema produtivo na grande maioria das economias vai garantir, por um período longo, talvez dois anos, um ambiente benigno de inflação;

6) essa situação de "sobra de recursos" também atinge o mercado de trabalho global; esse é outro fator importante para garantir um quadro de inflação muito baixa, apesar dos déficits fiscais elevados e da expansão monetária quase explosiva nos países desenvolvidos;

7) o comércio internacional levará tempo para se recuperar e ainda exercerá influência negativa no crescimento econômico global por algum período;

8) a política monetária é a principal ferramenta contracíclica nas mãos do governo brasileiro.

No campo das certezas menos certas, eu incluiria as seguintes:

1) o pior da crise financeira pode ter passado, ao menos no que se refere às rupturas inesperadas dos últimos meses. As ações agressivas de alguns dos maiores bancos centrais estão diminuindo o risco de um colapso total do sistema financeiro global. A decisão histórica do Fed de comprar volumes maciços de títulos de longo prazo, inclusive os papéis emitidos pelo Tesouro americano, pode ajudar a consolidar essa percepção;

2) mas a oferta de crédito - bancário e via securitização de recebíveis - ainda vai ficar deprimida por muito tempo. Nesse sentido, o sucesso no leilão de compra de ativos gerados por novas operações de crédito securitizado, a ser realizado pelo Fed na próxima semana - o chamado Talf -, será fundamental para possibilitar um aumento da confiança na estabilização da maior economia do mundo;

3) a economia chinesa pode ter encontrado um novo patamar, estabilizando a demanda de certas commodities e criando um piso, ainda que temporário, para a atividade econômica em locais mais diretamente influenciados por essa dinâmica, inclusive o Brasil. Por isso os próximos números da produção industrial chinesa são aguardados com grande ansiedade;

4) a economia brasileira poderá voltar a crescer, mesmo que modestamente, ao redor de 3% ao ano, na virada de 2009 para 2010. (E que possamos confirmar essa previsão meu caro Luiz Carlos...)

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...