Economia não é uma ciência "fechada". E que assim seja. E que possamos aprender com todos eles. Vide abaixo o mesmo tema econômico em visões diferentes. E todos com a sua verdade.
Crise coloca em confronto ganhadores do Nobel
Joellen Perry no The Wall Street Journal, de Lindau, Alemanha em 22/08/2008.
Algumas das mais brilhantes mentes econômicas do mundo concordam que a atual crise financeira expôs grandes falhas do sistema, mas discordam sobre o papel que as autoridades devem ter para prevenir uma repetição.
Ontem, numa reunião anual de laureados com o Prêmio Nobel nesta pequena ilha medieval num lago ao sul da Alemanha, três ganhadores do Nobel de Economia e um do da Paz lamentaram o excesso de risco assumido, a gestão deficiente e a complexidade impenetrável que estavam no coração da atual turbulência do sistema financeiro.
Muitas das críticas dos prêmios Nobel se centraram na idéia de que a atividade bancária deixou de cumprir seu propósito fundamental. Numa corrida pelo lucro, "o que se perdeu é a idéia de que um banqueiro tem alguma responsabilidade para proteger o interesse do cliente", disse Daniel McFadden, que ganhou o Nobel de Ciências Econômicas em 2000 com uma pesquisa sobre a modelagem dos processos de tomada de decisão das pessoas físicas.
Embora um mercado no qual as hipotecas dos mutuários da casa própria são agrupadas e transformadas em títulos vendidos aos bancos possa ser eficiente, McFadden diz que "a maneira mais eficiente de organizar a atividade econômica pode também acabar sendo a mais falha. O Congresso precisa considerar os custos da volatilidade e instabilidade".
Mas uma onda de regulamentação pode ter conseqüências funestas, advertiu Myron Scholes, que ganhou o Nobel de Economia em 1997 por causa de um método para avaliar derivativos, que são instrumentos financeiros cuja cotação muda com base no valor de ativos relacionados. Assinalando as funções básicas do sistema financeiro - entre elas financiar projetos de grande escala, facilitar a poupança e estabelecer preços para ativos -, Scholes atribuiu décadas de crescimento econômico a inovações que permitiram aos bancos "executar essas funções de maneira mais eficiente".
Scholes, que também foi um dos fundadores do Long-Term Capital Management, um fundo de hedge americano que quebrou durante a crise financeira asiática e russa do fim dos anos 90, afirmou: "Às vezes, o custo da regulamentação pode ser bem maior que seus benefícios." Um exemplo, disse, são as regras contábeis da Lei Sarbanes-Oxley, dos Estados Unidos, adotadas depois do colapso da Enron Corp. no início da década. As regras foram criticadas por reduzir a atratividade dos EUA como base para investimento.
Joseph Stiglitz, um professor de economia da Universidade Columbia, em Nova York, que ganhou o Nobel em 2001, sugeriu que a inovação descontrolada causou ela mesma a turbulência atual. Notando que a avaliação de risco mais importante dos donos de casas é a probabilidade de que possam preservar as casas em meio à volatilidade do mercado, ele disse: "Esses são os problemas para os quais [os mercados financeiros] deveriam ter criado produtos. Mas eles criaram riscos, e agora estamos agüentando as conseqüências dessa chamada inovação."
Houve algumas áreas em que eles estiveram de acordo. Os parâmetros que medem quanto capital os bancos devem ter - chamados de Basiléia II, em referência à cidade suíça na qual foram desenvolvidos - se concentram demais em gestão diária de risco e não o suficiente em administração de crises. "O que acontece na maior parte do tempo não é importante", disse Scholes, observando que o atual tumulto financeiro ocorre pouco depois do estouro da bolha das pontocom e da crise financeira asiática dos anos 90. "Temos de aprender como administrar os choques quando eles ocorrem."
Uma idéia que talvez possa impedir uma repetição da crise é a criação de uma comissão que aprovaria produtos financeiros antes de seu lançamento, da mesma maneira que agências de vigilância sanitária como a Administração de Alimentos e Remédios dos EUA avaliam drogas antes de elas serem colocadas no mercado. "Podemos precisar de uma administração de instrumentos financeiros que teste quão robustos os instrumentos financeiros são, e aprove apenas os usos que não provocam danos", disse McFadden. Mas ajustar um sistema fundamentalmente falho pode não ser o suficiente, disse Muhammad Yunus, cujo sucesso em pequenos empréstimos a pessoas pobres demais para obter crédito comum rendeu a ele e a seu Grameen Bank, de Bangladesh, um Nobel da Paz em 2006.
"Nosso banco é sub sub sub subprime", disse Yunus, acrescentando que seu modelo não exige garantia, não oferece seguro e não tem advogados. Resultado: "Nossa taxa de pagamento [da dívida] é muito alta. Uns 98% ou 99%."
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