quarta-feira, 8 de abril de 2009

DÁ SÉRIE TEXTO DE QUEM É DA NOSSA ÁREA

Direto da Folha de S. Paulo de hoje, 08/04/2009, PAULO RABELLO DE CASTRO, eswcreve sobre "O placar da sorte de Lula". 

Ao fazer um balanço da "sorte" no seu governo, em recente seminário sobre os 15 anos do Real, realizado na Fecomercio, o ex-presidente FHC chegou a uma proporção de 6 anos difíceis enfrentados por ele, contra 2 anos favoráveis. Tinha, portanto, um déficit de sorte, por um placar de 6 a 2. Lembrou os anos de 1995 (prejudicado pela quebra do México), 1997 e 1998 (quebras de países da Ásia e da Rússia), 1999 (crise cambial no Brasil), 2001 (crise de energia no Brasil e quebra da Argentina) e 2002 (transição eleitoral aqui e recessão lá fora). Na contabilidade do ex-presidente, a sorte só lhe sorriu mesmo em 1996 e em 2000. Arrematou, então, dizendo que "com Lula se deu o inverso".
De fato, em matéria de sorte, não há quem possa disputar com o atual presidente. Mas faltou dizer, na ocasião, que Lula não maltrata a sorte que lhe bate à porta. Este ano de 2009 é apenas o segundo -após o difícil 2003 - em que Lula administra adversidades alheias ao seu controle direto. E, por enquanto, vai muito bem, obrigado, apesar de o cenário de 2009 estar apontando para um crescimento zero, nada de espantar ante o excelente crescimento da economia em 2008.
No plano externo, a "sorte" de novo lhe sorri, quando as nações de olhos azuis lhe brindam com uma das cadeiras de honra, quase de mãos dadas com a rainha, na foto oficial da reunião do G20, em Londres.
O prognóstico, ainda inconcluso, de Fernando Henrique sobre a gestão Lula - seria de 6 anos de sorte, contra 2 anos difíceis - ainda depende de como será 2010. A materialização desse placar envolve vários aspectos importantes.
O Brasil enfrenta esta enorme crise com caixa, até para fazer uma "fezinha" emprestando recursos ao FMI (vejam só...). É a primeira crise que vem com ajuste dos juros internacionais para baixo, portanto abrindo uma chance de ouro para quedas significativas dos juros altos no Brasil. Esses dois fatos, por si, são suficientes para fazer de 2010 um ano de franca recuperação.
Nossos economistas, entretanto, projetam para o Brasil um crescimento fraco em 2010. A explicação parece estar escondida na precária estrutura do crédito às atividades produtivas. No período 2003-2008, o crédito às empresas cresceu menos do que o concedido às pessoas físicas. O crédito consignado para o consumo foi a grande alavanca da popularidade de Lula. A capacidade de investimento das empresas brasileiras também não evoluiu com vigor por conta da avalanche tributária, que tem abocanhado pelo menos metade de cada real adicional do ganho nas atividades produtivas.
Como mostrou pesquisa da Fecomercio nesta Folha, no domingo, o "spread" bancário chegaria a R$ 134 bilhões, uma sangria profunda sobre a capacidade de investir e crescer. E os contribuintes pagaram pela rolagem da dívida pública outros R$ 160 bilhões em 2008.
Esses são, enfim, os freios a uma vigorosa recuperação do Brasil em 2010. A reforma do setor financeiro, envolvendo redução do recolhimento compulsório e tributos bancários, precisa ser enfrentada. E no campo dos outros impostos e encargos trabalhistas chega a ser vergonhosa a omissão de parlamentares e governo, por nem discutirem a reforma da hora. A responsabilidade do Congresso, inerte e tartamudo, soma-se à falta de criatividade do Executivo em dar mais passos, avançando na crise, como tem feito a China, por exemplo, que não descansou um minuto na capitalização de suas oportunidades abertas pela tormenta mundial.
Só por causa disso, a "sorte" de Lula não corre o risco de ser um 7 a 1 a seu favor.


PAULO RABELLO DE CASTRO, 59, doutor em economia pela Universidade de Chicago (Estados Unidos), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio SP.  paulo@rcconsultores.com.br

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