A cada dezembro é a mesma coisa: o dia precisa ter 36 horas para conseguirmos realizar toda a nossa programação. Hoje estou viajando da selva para o litoral, mas na madrugada de segunda já estarei de retorno. Para não deixar órfãos os meus quase dois (milhões) fiéis leitores, abaixo um artigo publicado na Folha de S. Paulo, onde o colega FERNANDO SAMPAIO, da LCA Consultores, analisa o resultado do PIB brasileiro no 3º trimestre deste ano.
A informação que, compreensivelmente, deverá constar nas manchetes é um tanto frustrante: o PIB brasileiro, ao crescer 1,3% na passagem do 2º para o 3º trimestre, avançou menos do que, em média, projetavam bancos, consultorias e demais analistas econômicos (2%). Mas o vasto conjunto de informações divulgado ontem pelo IBGE sugere que a avaliação geral, positiva, sobre a trajetória recente e as perspectivas da atividade econômica no Brasil não sofreu abalo.
O IBGE trouxe a público não apenas os resultados no PIB no período julho-setembro mas também os números revistos dos trimestres precedentes, desde o início de 2007. Esses números mudaram, até bastante: a queda do PIB na passagem de 2008 para 2009 foi menor do que se estimou inicialmente (a contração acumulada entre outubro de 2008 e março de 2009 passou de 4,3% para 3,8%), e a retomada no 2º trimestre se deu a um ritmo mais moderado do que apontava o primeiro cálculo (o crescimento sobre o 1º trimestre foi revisto de 1,9% para 1,1%).
A história que os novos números contam, porém, é essencialmente a mesma: a guinada recessiva da economia brasileira, em seguida ao travamento global do crédito, foi muito forte (em especial porque a indústria brasileira, confiando na tese da "marolinha", carregava estoques altos e, por isso, efetuou o corte de produção mais drástico da sua história). Mas essa guinada foi também breve: já no 2º trimestre a economia voltava a crescer, graças sobretudo ao fato de que, pela primeira vez em décadas, a política econômica tinha margem de manobra para estimular a demanda interna num contexto de contração da liquidez global; e ao fato de que no Brasil a demanda interna tem peso particularmente alto (as exportações de bens não chegam a 13% do PIB, metade da média mundial).
No 3º trimestre, a retomada prosseguiu, a um ritmo, conforme se esperava, ligeiramente superior ao do 2º. A perspectiva para o fechamento do ano permanece a de uma variação do PIB próxima de zero, e, para 2010, uma alta da ordem de 5% (ou mais) continua a ser a expectativa predominante.
Cabe, aqui, uma advertência sobre o contraste entre o ritmo do PIB apurado pelo IBGE, com alta mais moderada do que se avaliava no 2º e 3º trimestres, e o ritmo da demanda interna, tão dinâmico quanto se estimava. Esse contraste está ligado a um aspecto técnico da medição do PIB, que é a variação de estoques. Embora as informações sobre estoques sejam muito imperfeitas, não resta dúvida de que, desde o final de 2008, suas flutuações na indústria brasileira têm sido muito fortes.
E essas movimentações têm tido um peso extraordinário nos números do PIB. Para ter uma ideia: embora a variação de estoques tenha peso de apenas 1,2% na composição do PIB, se excluíssemos a queda dos estoques do cálculo do PIB, a alta deste no 3º trimestre saltaria de 1,3% para 2,3%.
Um comentário final: os novos números do IBGE indicam que a retomada do investimento teve início já no 2º trimestre e se acelerou no 3º, sinalizando menor risco, à frente, de gargalos de oferta a pressionar a inflação.
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