domingo, 21 de agosto de 2011

O capitalismo está condenado?


NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas (Universidade de Nova York) e coautor do livro "Crisis Economics", hoje na FOLHA DE S. PAULO. 

A imensa instabilidade e a correção acentuada nos preços das ações que vêm varrendo os mercados mundiais sinalizam que as economias mais avançadas estão à beira de uma recessão de duplo mergulho. 
Uma crise econômica e financeira causada pela dívida excessiva do setor privado resultou em endividamento pesado do setor público, em razão das medidas tomadas para impedir uma Grande Depressão 2.0. 
Mas a recuperação subsequente vem sendo anêmica e fica abaixo dos padrões usuais na maioria das economias avançadas, em consequência do doloroso processo de redução das dívidas privadas. 
Agora, uma combinação entre preços elevados para petróleo e commodities, tumultos no Oriente Médio, o terremoto/tsunami no Japão, as crises da zona do euro e os problemas fiscais dos Estados Unidos (que acabam de ter seus títulos de dívida rebaixados) resultou em alta acentuada na aversão a riscos. 
Economicamente, os EUA, a zona do euro, o Reino Unido e o Japão funcionam em marcha lenta. 
Mesmo os mercados emergentes de crescimento rápido e as economias avançadas cujo foco são exportações que dependem desses mercados (Alemanha e Austrália) estão vivendo severa desaceleração. 
Até o ano passado, as autoridades econômicas sempre se provaram capazes de tirar um coelho da cartola e reflacionar os preços dos ativos, deflagrando uma recuperação econômica. 
Estímulo fiscal, taxas de juros próximas de zero, duas rodadas de "relaxamento quantitativo", esforços de contenção das más dívidas e trilhões de dólares em resgates e injeções de liquidez para bancos e instituições financeiras: as autoridades já tentaram tudo isso, mas agora os coelhos parecem ter acabado. 
A política fiscal no momento causa arrasto para o crescimento econômico tanto na zona do euro como no Reino Unido. 
Mesmo nos Estados Unidos, os governos estaduais e locais, e agora o governo federal, cortam gastos e reduzem transferências. Em breve, estarão elevando impostos. 
Outra rodada de resgates aos bancos é politicamente inaceitável e economicamente inviável. 
A maioria dos governos, especialmente na Europa, está em situação tão precária que não é possível bancar resgates. O grau de risco de seus títulos vem até alimentando preocupações sobre a saúde dos bancos europeus, que detêm o maior volume desses papéis hoje precários. 
E a política monetária tampouco pode ajudar. O relaxamento quantitativo fica limitado pela inflação acima da meta na zona do euro e no Reino Unido. O Federal Reserve provavelmente iniciará uma terceira rodada de relaxamento quantitativo (QE3), mas ela virá tarde demais e em montante insuficiente. 
Os US$ 600 bilhões do QE2, em 2010, e mais US$ 1 trilhão em cortes de impostos e transferências de renda aos cidadãos mal produziram crescimento anualizado de 3% durante apenas um trimestre. 
Em seguida, o crescimento caiu para menos de 1% no primeiro semestre de 2011. O QE3 será muito menor e fará menos para reflacionar os preços dos ativos e restaurar o crescimento. 
Depreciação cambial não é uma alternativa viável para todas as economias avançadas: todas elas precisam de moedas mais fracas e de melhores balanças comerciais a fim de restaurar o crescimento, mas não é possível que todas as obtenham ao mesmo tempo. 
Por isso, depender das taxas de câmbio para influenciar a balança comercial é um jogo em que a vantagem de alguns resultará em desvantagem para outros. 
Portanto, temos guerras cambiais no horizonte -Japão e Suíça já travam as primeiras batalhas para enfraquecer suas taxas de câmbio. 
Com o tempo, as economias avançadas terão de investir em capital humano, capacitação profissional e redes de segurança social, a fim de elevar a produtividade e permitir que os trabalhadores concorram, sejam flexíveis e prosperem. 
A alternativa -como vimos nos anos 1930- será estagnação infinda, depressão, guerras cambiais e de comércio, controles de capital, crise financeira, bancarrotas nacionais e imensa instabilidade social e política. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VEJA entrevista o Nobel EDWARD PRESCOTT.


Hoje na VEJA, entrevista com o Nobel EDWARD PRESCOTT.

Os Estados Unidos correm o risco de enfrentar uma “década perdida” se reformas urgentes não forem colocadas em andamento. O alerta é do economista e matemático norte-americano Edward Prescott, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2004 e conselheiro do banco central dos EUA (Fed).
Prescott defende que o presidente americano, Barack Obama, diminua gastos e impostos, além de relaxar a regulação nos mercados. Ele também argumentou que a Casa Branca tem de eliminar o que classifica como subsídios “ineficientes”, como aqueles concedidos aos produtores americanos de etanol feito de milho. “O etanol brasileiro é muito mais barato”, afirma.
O conselheiro do Fed declarou apoio às medidas tomadas pela instituição no combate à inflação, mas criticou a política de resgatar antecipadamente títulos do Tesouro americano com o objetivo de injetar liquidez na economia – prática que ficou conhecida como “afrouxamento quantitativo” (QE, do inglês quantitative easing) “Eram somente subsídios disfarçados”, afirma.
O economista rechaça a visão de que esse afrouxamento teria colaborado para valorizar as moedas nos países emergentes. Na avaliação dele, a apreciação ocorreu em função do crescimento rápido dessas economias. Edward Prescott visita o Brasil nesta semana. Ele conversou com o site de VEJA no evento “Economia global: riscos e oportunidades”, realizado pelo Principal Financial Group.

O senhor tem se destacado como um crítico contumaz das escolhas realizadas pelo governo Barack Obama. Por que?
Tenho sido crítico assim porque tenho uma convicção: o que acontece num determinado país depende muito mais do que seus governantes fazem do que de fatores externos. Só algumas partes do mundo estão muito mal atualmente. Canadá, México, América Latina, o norte da Europa, a China e a Índia vão muito bem. Os Estados Unidos foram tão bem por tanto tempo que as pessoas enjoaram e quiseram mudanças (risos). Por isso, houve uma grande guinada na composição dos legisladores no Congresso, particularmente no Senado. Nos últimos dois anos, a economia americana vai muito mal por absoluta culpa de nossos governantes. Corremos o risco de enfrentar uma “década perdida” de crescimento, como aconteceu no Japão nos anos 90, se reformas urgentes não forem feitas.

A administração Obama poderia fazer mais para estimular o crescimento e não correr o risco de perder uma década?
Já seria bom se o presidente fizesse menos, isto é, parasse de bloquear o crescimento. Os gastos da administração Obama, por exemplo, são assustadores e têm de ser contidos. Precisamos de menos regulação nos mercados, mais competição e menos subsídios a ineficiências. Os subsídios aos produtores de etanol de milho são um exemplo. Eles mantiveram por muito tempo o álcool brasileiro de fora do jogo no mercado americano. E o etanol brasileiro, produzido de cana-de-açúcar, é muito mais barato. Subsídios são ruins. O Japão e a Itália fizeram o mesmo e perderam uma década. Precisamos discutir já as reformas necessárias e chegar a um consenso sobre como implementá-las.

Há um problema diante desta tarefa: o antagonismo político piorou muito nos EUA. O acordo de último minuto sobre o aumento do teto da dívida foi um claro exemplo disso. Considerando esse ambiente, como facilitar o consenso para adoção de reformas?
Esse antagonismo não é novidade. Nos Estados Unidos, sempre existiram dois grupos: um que quer aumentar os gastos públicos e ter mais distribuição de renda; e outro que quer cortar despesas e impostos. A divisão só ganhou mais publicidade desta vez. Houve debates como esse nas presidências de Nixon, Carter, Reagan e Clinton. A questão é o que vai acontecer com os gastos e os impostos. Os tributos no país já estão em um nível muito alto historicamente. Veja Singapura. O governo deles gasta um quarto menos com o sistema de saúde, o que é muito melhor. O presidente Obama está tentando implantar nos EUA um estado de bem-estar social, mas  já ficou demonstrado, pelo exemplo da Europa, que isso não funciona.
De qualquer forma, respondendo a sua pergunta, a execução das reformas dependerá muito das próximas eleições, sobretudo no Senado. É possível que ocorram mudanças. Os congressistas e a Casa Branca têm de encontrar um jeito de sair dessa situação. Contudo, coisas boas podem acontecer mesmo antes da implementação das reformas porque são as expectativas que determinam as decisões das pessoas.

O BC americano manteve as taxas de juros perto de zero por muito tempo e, na semana passada, decidiu estender esses baixos valores até 2013. Essa ferramenta aparentemente não está tendo o efeito esperado para estimular a economia. Como o senhor avalia a atuação do Fed na crise?
As autoridades do Fed determinam o nível de preços da economia e eles têm feito um bom trabalho. Tivemos uma inflação de aproximadamente 2% em doze meses, que está estável em relação à meta. Sou contrário, no entanto, a essa estratégia de se comprometer por tanto tempo com taxas de juros baixas. Não podemos nos esquecer de que o quadro inflacionário simplesmente pode mudar. A credibilidade do governo e dos bancos centrais depende de uma inflação previsivelmente baixa. E também da capacidade de lidar com crises. Quando todos ficam com medo, os empréstimos congelam, como em setembro de 2008. Naquela época, o Fed acertou em promover uma grande liquidez e evitou uma crise muito maior, que poderia ter acabado com a economia real, como a crise 1929.

Como o senhor avalia os resultados da estratégia de antecipar o pagamento de títulos do Tesouro para injetar liquidez na economia?
Esse afrouxamento monetário foi só uma forma de conceder subsídios disfarçados. Não foi uma estratégia boa. Aconteceu por razões políticas. Ao menos, não prejudicou os Estados Unidos em nada.

Mas prejudicaram o resto do mundo, não? A política monetária frouxa dos EUA não acabou colaborando para a valorização das moedas nos países emergentes?
Eu entendo que o real, assim como outras moedas de emergentes, valorizou-se muito em relação ao dólar. Entretanto, se o Brasil está em trajetória vertiginosa de crescimento, a moeda vai se valorizar de qualquer forma. Já aconteceu no Canadá, na Austrália. Não tem nada a ver com a política monetária americana.

Qual é a probabilidade de uma nova rodada de afrouxamento monetário?
Improvável. O governo tem tentado diminuir a dívida. Não soube de nenhuma estratégia para um novo QE.

Nas últimas semanas, tem havido uma onda de aversão ao risco nos mercados globais por conta da quebra de expectativas em relação à Europa e aos Estados Unidos. O senhor veio ao Brasil, não somente para falar dos riscos, mas também de oportunidades. Quais seriam?
As bolsas estão voláteis, mas historicamente elas registram muito mais ganhos no longo prazo que títulos de dívida ou poupança. Os mercados estão muito abaixo de seu valor fundamental – por isso as chances de que subam são maiores. No curto prazo, é imprevisível. É claro que há riscos. Contudo, no longo prazo, é esse o lugar para estar.

Dilma na The Economist desta semana.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Professora Eliana Cardoso - parabéns!


A Professora Eliana Cardoso é homenageada pelo CORECON-SP com Comenda Ministro Mário Henrique Simonsen, comemorativa aos 60 anos de criação da profissão de Economista. 

A comenda tem por finalidade agraciar personalidades da categoria, que tenham se destacado por suas atividades no ramo das Ciências Econômicas e prestado relevantes serviços à Economia e à sociedade.

A comenda será entregue oficialmente no dia 19 de agosto, às 19h00, durante Sessão Solene que se realizará na Câmara Municipal de São Paulo, em celebração ao Dia do Economista.

Capitalismo condenado?


O inteligente Carlos Alberto Sardenberg, hoje no O GLOBO, escreve sobre “CAPITALISMO CONDENADO?”

O pensamento de esquerda, em baixa desde a queda do Muro de Berlim, ganhou alento com a falência do banco Lehman Brothers, o epicentro do colapso financeiro de 2008. Quem sabe a quebra de uma poderosa instituição de Wall Street fosse para o capitalismo o mesmo símbolo que a derrubada dos primeiros tijolos do Muro foi para o socialismo.

Passaram-se os meses, e o mundo, capitalista, não acabou. A crise não foi brincadeira, mas já no segundo semestre de 2009 apareciam os sinais de recuperação. Na virada de 2010 para 2011, parecia uma festa. Forte crescimento no mundo emergente, boa retomada nos EUA e na Alemanha. Aí, a história virou de novo.

A crise não acabara e se manifestava de outras maneiras ainda mais complicadas. Nesse clima aparece na imprensa internacional o artigo de Nouriel Roubini, "O capitalismo está condenado?", e ainda por cima com o destaque para esta observação: Marx estava certo quando disse que "a globalização, a louca intermediação financeira e a redistribuição de riqueza do trabalho para o capital poderiam levar o capitalismo à autodestruição". (Essa era a chamada, por exemplo, na revista eletrônica Slate.)

O economista Roubini não é socialista, muito menos marxista. É um teórico e intérprete do capitalismo, que traz a fama de ter previsto o colapso de 2008. Ora, se ele está dizendo que o sistema está "condenado", a coisa é séria.

A esquerda se animou de novo, os conservadores se assustaram. O que viria por aí? - perguntaram-se todos.
O começo do artigo acentua a inquietação. Roubini descreve uma crise que não tem saída. Resumindo, o sentido do texto é o seguinte: há diversos problemas gravíssimos, para os quais as soluções são inviáveis ou por razões econômicas ou políticas.

O ambiente social já mostra esse beco sem saída. As manifestações populares que pipocam por toda parte, diz Roubini, são movidas "pelas mesmas tensões e temas: crescente desigualdade, pobreza, desemprego e desesperança" - fantasmas que assombram o mundo.

Que fazer? Já se vê um novo mundo?
Não, Roubini não entrega isso. Para começar, a citação de Marx é relativizada. O pensador alemão não estava propriamente certo na previsão de fim do capitalismo, mas "parecia estar parcialmente certo". E, ainda assim, vem outra ressalva: "Sua visão de que o socialismo poderia ser melhor provou-se equivocada."

Em seguida, Roubini dá o tiro final nas esperanças da esquerda. A questão central hoje, diz ele, é "encontrar o correto equilíbrio entre mercado e a provisão dos bens públicos", para que as economias de mercado operem "como deveriam e como podem".

Para ele, tanto o modelo anglo-saxão - "laissez-faire e economia vudu" - quanto o europeu continental - "estado do bem-estar sustentado por déficits" - estão quebrados.

O economista sugere o caminho alternativo - e aqui a coisa não é decepcionante apenas para a esquerda. Vem uma relação de políticas em torno das quais há consensos, se excluída a extrema direita, e que vêm sendo tentadas por toda parte.

Reparem as propostas:
. estímulo fiscal (gasto público ou isenção de impostos) para investimentos produtivos em infraestrutura, de modo a gerar empregos;
. taxação progressiva, os mais ricos pagando mais impostos;
. estímulo fiscal de curto prazo e ajuste fiscal (corte de gastos e aumento de impostos) de médio e longo prazo;
. autoridades monetárias garantindo empréstimos de última instância para evitar corridas contra bancos;
. redução da dívida para famílias e outros agentes econômicos insolventes;
. estrita supervisão e regulamentação do sistema financeiro;
. desmantelar oligopólios e os bancos "muito-grandes-para-quebrar";
. países ricos precisam investir em capital humano, conhecimento e redes de segurança social.

Reparem: não tem nenhuma proposta para fechamento do comércio internacional, manipulação de moedas, avanço do Estado na economia, controle dos capitais privados, nacionalismos, etc.
Ao contrário, as sugestões cabem perfeitamente no pensamento clássico. Claro, a direita americana não aceita qualquer aumento de imposto, nem mais gasto público.

Mas é exceção. O governo conservador eleva impostos na Inglaterra, assim como na Alemanha. Não que sejam políticas unânimes e de fácil implementação. Sempre haverá o debate sobre quem deve pagar mais impostos e onde o governo gastará mais. Além disso, a coisa é localizada. Propor aumento de impostos faz sentido no México, onde a carga tributária é baixa. Já no Brasil...

O título original do artigo de Roubini diz "Is Capitalism Doomed?" - palavra esta que pode ser traduzida por "condenado", como fizemos, ou por "amaldiçoado". "Condenado" sugere que está acabado. Já um sistema pode ser "amaldiçoado" e continuar vivo. Deve ser isso. Maldito capitalismo, mas ainda não se inventou nada melhor.

Previsões econômicas.


O Estado de S. Paulo entrevistou hoje a economista Monica Baumgarten de Bolle, da Galanto Consultoria conforme abaixo:


Apesar do agravamento do cenário internacional, Monica Baumgarten de Bolle, economista-chefe da Galanto Consultoria, não acredita em desaceleração profunda da economia brasileira neste ano.


Como vê a queda do IBC-BR?
Está em linha com os últimos dados da atividade no Brasil, que já têm vindo muito ruins. Não há desaceleração forte das vendas no varejo, mas já tem alguma. Além disso, o último mês foi marcado pelo agravamento do quadro internacional. Acho que o recuo do IBC-Br é um reflexo de todas essas coisas, mas não acho que aponte para desaceleração mais grave, como em 2008. Agora a desaceleração é decorrência das medidas mais restritivas, da aceleração da inflação e do quadro global mais conturbado.


Diante disso, você refaz sua previsão para o PIB de 2011?
Não, porque meus cenários estavam sempre entre 3,5% e 4%. O IBC-Br continua perfeitamente condizente com esse cenário.


O recuo já era esperado?
Eu já esperava crescimento mais baixo por causa das medidas do governo. Por outro lado, meu cenário para a política mundial sempre foi pior do que as pessoas trabalhavam porque esse problema que o mundo está enfrentando, particularmente as economias avançadas, é um problema de dívidas elevadas, muito difícil de resolver. O que está acontecendo é mais preocupante do que imaginávamos. Nesse contexto, não conseguia ver como o Brasil ia crescer 4,5% ou até 5%, que era a projeção do próprio governo no início do ano.

As melhores universidades do mundo.

A universidade Jiao Tong de Shangai, na China, divulgou uma lista com as 500 melhores universidades do mundo. O ranking é feito desde 2003 e leva em conta seis indicadores, entre eles o número de professores e alunos que ganharam prêmios Nobel e outros prêmios em ciências e economia, menções a seus pesquisadores e artigos publicados em jornais científicos. Abaixo as 10 melhores do mundo. Do Brasil, a USP obtém a melhor colocação entre o 102º e 0 150º  


1Harvard UniversityEstados Unidos1100.0
2Stanford UniversityEstados Unidos272.6
3Massachusetts Institute of Technology (MIT)Estados Unidos372.0
4University of California, BerkeleyEstados Unidos471.9
5University of CambridgeReino Unido170.0
6California Institute of TechnologyEstados Unidos564.7
7Princeton UniversityEstados Unidos661.2
8Columbia UniversityEstados Unidos760.4
9University of ChicagoEstados Unidos857.5
10University of OxfordReino Unido256.4

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

7.000.000.000

Até o final deste ano seremos sete bilhões de habitantes neste planeta selvagem. Considerando que em favelas cariocas, subúrbios europeus, tribos africanas ou megalópoles asiáticas, há evidência empírica de alta correlação entre maior escolaridade e menor número de filhos, precisamos estudar somente até determinada hora da noite, senão ficará difícil chegarmos aos 7.000.000.001.  

EUA e a crise.


ANTONIO DELFIM NETTO, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre os  EUA e a crise.



Acabam de ser publicadas as estimativas corrigidas do crescimento real do PIB dos EUA (medido a preços constantes de 2005) e que dão uma visão mais realista do que aconteceu à economia americana nos últimos quatro anos (2º trim. 2011/2º trim. 2008).


Ela apenas retornou ao nível em que se encontrava no 2º trimestre de 2007! Há quatro anos o PIB está estagnado. Como a população cresceu, isso significa que o PIB per capita diminuiu. Considerando que em condições normais de pressão e temperatura o PIB real americano cresce à taxa de 2% ao ano, a flutuação dos últimos quatro anos representa qualquer coisa entre 10% e 15% de um PIB anual (mais ou menos um PIB anual do Brasil) que potencialmente deixou de ser produzido pela disfuncionalidade do sistema financeiro.



As consequências sobre o endividamento interno foram importantes. De um lado, pela redução da receita e, de outro, pelo aumento das despesas com o desemprego. Paralelamente, aumentou a desigualdade na distribuição de renda, o que acentuou o mal-estar da sociedade com relação ao presidente Obama.


É cada vez mais evidente que as políticas monetária e fiscal foram incapazes de cooptar a confiança do setor privado, de forma que seus efeitos sobre a recuperação do consumo e ampliação dos investimentos têm sido pífios.


Basta dizer que as empresas não financeiras têm em caixa qualquer coisa como US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões aplicados em papéis do Tesouro americano. Por que não investem? Porque continuam a desconfiar do presidente Obama e não têm certeza de que encontrarão demanda no futuro.



Enquanto isso, o crescimento do consumo é inibido por um desemprego total ou parcial de mais de 25 milhões de pessoas, que continuam assustadas com o comportamento do mercado de trabalho, especialmente na construção civil.


Deveria ser claro que o problema só poderá ser resolvido com um aumento da demanda privada que até agora não tem respondido aos imensos estímulos monetários e fiscais.



A resposta não é "mais do mesmo", mas entender por que não funcionou. Em nossa opinião, porque: 1º) o comportamento de Obama foi hostil com o setor real da economia no início de sua administração; 2º) ele foi submisso e leniente em relação ao setor financeiro, que precisava mesmo ser preservado, mas não os seus agentes mais conspícuos e 3º) gastou o enorme patrimônio político do "we can" com programas necessários, mas discutíveis, em lugar de utilizá-lo cooptando e dando confiança ao setor privado para reduzir o desemprego.


O problema dos EUA não é econômico: é a falta de confiança da sociedade na ação do Executivo e do Legislativo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Taxa de juros.


Neste agitado mundo econômico, a FOLHA DE S. PAULO de hoje traz breve matéria sobre um seminário na Fundação Getúlio Vargas, onde economistas desenvolvimentistas discutiram juros e recomendaram cautela para baixá-los.


Contumazes defensores da redução dos juros, economistas chamados "desenvolvimentistas" dizem que o governo pode aproveitar a crise econômica internacional para baixar taxas, mas que não deve fazê-lo imediatamente.


O professor Yoshiaki Nakano argumenta que ainda há pressões inflacionárias e, por isso, não se pode cortar logo os juros. "Mas [a crise] pode ser uma boa oportunidade", diz.


Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, é preciso agir com cautela, mas acredita que o corte será feito. Não agora, mas em breve.
"Se tiver outra rodada de incentivos nos EUA, haverá nova pressão no câmbio. Como o governo [brasileiro] vai manter uma taxa de juros como essa?", questiona Belluzzo, para quem isso provocaria pressão ainda maior de valorização do real.


Já o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira disse que o governo "não parece que vai resolver isso", referindo-se à valorização do real. "Estão empurrando o problema com a barriga", diz.

Um ajuste fiscal convencional.


Também recebo do Professor Carlos Pio, artigo do FABIO GIAMBIAGI, publicado no O GLOBO de hoje, sobre UM AJUSTE FISCAL CONVENCIONAL.


Divulgados os dados fiscais do primeiro semestre, é uma ocasião propícia para fazer uma análise do ajuste em curso, para avaliar até que ponto ele segue os cânones do que se pretendia implementar por ocasião do anúncio dos cortes em fevereiro ou se, pelo contrário, a realidade está se configurando distinta em relação aos planos oficiais.


Os dados sugerem que a sábia sentença de Churchill, de que "jamais se deve colocar um princípio em pedestal tão alto que não se possa abaixá-lo um pouco para se adaptar às circunstâncias", mais uma vez terá mostrado a sua validade. Recapitulemos o cenário existente no começo do ano: na ocasião, alegava-se que seria necessário um ajustamento fiscal, mas que ele seria diferente dos ajustes praticados em outras ocasiões, por governos associados a uma orientação supostamente mais liberal, uma vez que o investimento não seria cortado.


Havia quatro coisas que causavam certa espécie em tal conjunto de informações. A primeira era o erro de diagnóstico: até as pedras da rua sabem que antes de 1999 não havia ajuste fiscal e os dados da União, no site da STN, no item "Balanço orçamentário", provam que o investimento da União na média dos 4 anos 1999/2002 foi de 0,83% do PIB, contra uma média de 0,74% do PIB nos 4 anos 1995/1998. O mesmo critério, aliás, devido ao colapso do investimento em 2003, mostra que nos primeiros quatro anos do Governo Lula tal variável diminuiu para 0,64% do PIB. Em outras palavras, quem "arrochou" o investimento em relação ao governo anterior foi o Governo Lula I, e não o Governo FHC II.


A segunda causa de perplexidade acerca da racionalidade da retórica pró-ajuste adotada no começo de 2011 era o pano de fundo político. Discursos em defesa de "colocar ordem na casa" são habituais em começo de governo, quando a antiga oposição assume o poder, mas são pouco frequentes na presença de governos de continuidade, como é o caso da administração atual em relação à anterior.


A terceira causa de inadequação lógica na formulação do ajuste era o contexto em que isso se dava. Quadros de ajuste são defensáveis, mesmo se o governo é de continuidade, quando há um fenômeno novo em pauta. Às vezes um governo promete algo e depois se vê em dificuldades para cumprir as promessas, porque o quadro muda. Acontece nas melhores famílias. Nesse caso, basta explicar, pois o cidadão em geral entende que a viabilidade das propostas depende das condições de contexto. Ocorre que o quadro que estávamos vivenciando no começo de 2011 não diferia daquele que era viável imaginar por ocasião da campanha eleitoral de 2010. Cada um pode ter as preferências políticas que quiser, mas precisamos todos respeitar a lógica. Sendo o contexto de 2011, em que se tomaram as medidas, previsível à luz do cenário de dificuldades imaginado por dez entre dez analistas em 2010, de duas uma: ou as promessas de campanha eram viáveis - e nesse caso o ajuste seria desnecessário - ou o ajuste seria necessário, e nesse caso prometeu-se ao eleitorado ano passado um produto que não poderia ser entregue. Diga-se, a bem da verdade, que a mesma crítica cabe também à oposição, com sua proposta de aumentar o salário mínimo para R$600.


A quarta causa de desconforto é em relação ao futuro. O ajuste foi apresentado como uma forma de preservar a saúde fiscal do país para poder acelerar o ritmo de gasto em investimento no futuro. Ora, ou o aumento já contratado do gasto corrente para 2012, devido ao salto do salário mínimo em janeiro do ano que vem, vai fazer do aumento do investimento futuro mais uma promessa inexequível, ou, para que o investimento depois aumente, haverá na virada da esquina uma piora do resultado primário. Nesse caso, porém, o ajuste de 2011 acabaria daqui a cinco meses...


O fato, quando se olha para os números, é que no primeiro semestre as despesas de investimento caíram 5% em termos reais, e as despesas correntes aumentaram 5%, também em termos reais, usando o IPCA como deflator. Não houve corte algum do gasto agregado, que aumentou 4% reais. Estamos diante de um ajuste convencional: mais carga tributária na veia - a receita aumentou 13% reais! - e redução do investimento. Em outros tempos, dir-se-ia, trata-se de um ajuste "nos moldes do FMI"...

Não basta cortar os juros.


Recebo do Professor Carlos Pio, editorial do ESTADÃO de hoje sobre o fato de que NÃO BASTA CORTAR OS JUROS.


Não é tão fácil baixar os juros, teria dito a presidente Dilma Rousseff, na semana passada, numa reação às pressões de empresários, sindicalistas e políticos empenhados em conseguir um afrouxamento da política monetária. Com o agravamento da crise internacional, a campanha se intensificou, reforçada pela voz de alguns analistas. Baixar o custo do dinheiro - este é o argumento - ajudará a manter saudável a economia brasileira, se o mundo rico entrar em nova recessão. Também no governo há quem defenda esse ponto de vista. O recuo da inflação nos últimos dois meses também é lembrado para justificar essa medida. Mas a presidente da República tem-se mostrado cautelosa e empenhada em avançar no esforço para consolidar as contas públicas. Não basta cortar os juros sem cuidar do lado fiscal.


Não há nenhum coro, no entanto, a favor de um tratamento prudente do gasto público. Empresários e seus porta-vozes tocam no assunto de vez em quando, sem muita insistência. Tampouco há notícia de alguma campanha contra subsídios custeados pelo Tesouro. Nem mesmo tem havido protestos contra a concessão de favores a grupos selecionados para ser campeões.


O silêncio é ainda mais profundo nos meios sindicais e políticos, quando se trata de combater o uso imprudente ou mesmo criminoso do dinheiro público. Alguma voz se levanta, ocasionalmente, mas ninguém se dispõe a combater com seriedade e empenho as emendas de interesse pessoal ou paroquial e as propostas de aumento de gastos. Há no Congresso pelo menos 19 dessas propostas em diferentes etapas de tramitação. Quase todas tratam da remuneração de servidores, propondo reajustes, enquadramento funcional, instituição de gratificações, criação de pisos, etc.


Uma das mais perigosas - já aprovada na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados - proporciona um ajuste de 56% ao pessoal do Judiciário. Um projeto desse tipo tem repercussões diretas e indiretas, porque desencadeia reivindicações em todos os níveis da administração.


Ao mesmo tempo, o Executivo se empenha em conseguir a prorrogação, mais uma vez, da Desvinculação de Receitas da União (DRU). Esse dispositivo tinha um alcance muito maior em sua forma original. Com o tempo, a desvinculação foi limitada, mas o governo ainda tem interesse em mantê-la.


Quanto menos as verbas forem amarradas a determinadas aplicações e transferências, mais o governo poderá usá-las de acordo com as prioridades do momento. Em tese, é mais fácil conferir racionalidade a um orçamento mais flexível. Há muito tempo se reconhece a rigidez do orçamento como um grave problema para a administração fiscal no Brasil. Mas o Executivo terá dificuldade para conseguir a nova prorrogação da DRU. Sua base parlamentar, tão ampla quando fisiológica, tem pouco ou nenhum interesse na racionalização orçamentária.


A presidente e sua equipe econômica terão muita dificuldade para montar para 2012 um orçamento adequado a uma situação de crise internacional. Os problemas já são consideráveis, mesmo sem novos compromissos com gastos improdutivos. Benefícios concedidos ao funcionalismo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda afetam as contas, porque alguns dos ajustes foram planejados para vigorar gradualmente. Neste ano, mesmo sem novos aumentos, a folha salarial supera a de 2010. A elevação continuará em 2012.


Sem a garantia de uma efetiva contenção de gastos, a redução de juros será arriscada. Basear essa decisão nos últimos dados da inflação pode ser muito precipitado, porque a demanda continua vigorosa, como se vê pela expansão do comércio interno e também das importações. O gasto público é um componente importante dessa demanda. O corte de R$ 50 bilhões alardeado pelo governo pouco representa, na prática, em termos de estabilização econômica. A presidente Dilma Rousseff parece conhecer o roteiro mais seguro, mas terá dificuldade para segui-lo, por causa da baixa qualidade de seu apoio parlamentar. O BC cometerá um erro perigoso, se cortar os juros antes de assegurado um avanço na área fiscal.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ideias sombrias by Krugman.


Paul Krugman, no ESTADÃO, e suas ideias sombrias. 

Ser um economista hoje em dia  e basicamente da linha de Keynes via John Kicks que concluiu quando o Lehman faliu que estávamos numa armadilha de liquidez clássica com tudo o que isso implicava – é uma experiência agridoce, muito mais amarga do que doce.

A boa notícia é que o nosso modelo subjacente tem tido um bom desempenho. As taxas de juro se mantiveram baixas apesar dos empréstimos do governo; o “crowding out” (redução dos investimentos privados) tem estado completamente ausente; grandes aumentos da base monetária não provocaram grandes altas inflacionárias.

A má notícia é que os responsáveis pelas políticas no país falharam completamente e parecem determinados a não aprender as lições da experiência, histórica,  ou o que vivenciamos nos últimos anos. Como diz Joe Stiglitz,
Quando a recessão começou falou-se muito e sensatamente que tínhamos aprendido as lições tanto da Grande Depressão como do longo marasmo da economia do Japão. Agora sabemos que não aprendemos uma coisa. Nosso estímulo foi fraco demais, muito rápido e não foi bem planejado. Os bancos não foram obrigados a voltar a emprestar. Nossos líderes tentaram ocultar as fragilidades da economia – talvez por receio de que, se fossem muito honestos a respeito delas, a confiança já frágil da sociedade seria totalmente corroída. Mas agora perdemos essa aposta.  Hoje, a dimensão do problema está tão aparente que  uma nova confiança surgiu:  de que as coisas vão ficar ainda piores, sejam quais forem as medidas adotadas. E uma longa depressão parece ser o cenário mais otimista.

Robert Reich, conversando com pessoas do governo, diz que foi deliberado o foco nas questões erradas, sabendo que eram erradas.
Assim, em vez de lutar por um plano de empregos corajoso, a Casa Branca aparentemente decidiu que era politicamente mais sensato continuar lutando na questão do déficit. A ideia era manter a sociedade concentrada no drama do déficit – convencer as pessoas de que suas dificuldades econômicas atuais tem a ver com o déficit era uma forma de criticar a paralisia de Washington em resolver a situação e então  clamar vitória no caso de qualquer resultado que surgisse do processo de negociação para resolver o problema.  Eles esperam que tudo isso desviasse a atenção do público do fracasso do presidente em fazer alguma coisa para acabar com o alto nível de desemprego e a anemia econômica.

E na Europa, diz Kantoos Economics,  a meta de inflação baixa tornou-se um ícone sagrado mesmo que todas as evidências –incluindo a experiência com o padrão ouro – digam que isso será fatal.
Eu sinceramente espero ter lido os jornais errados e não ter entendido todos esses economistas e comentaristas europeus esbravejando a respeito (ou melhor: que eu estou errado). Mas quando tento ouvir alguma coisa, o que ouço é apenas silêncio – ou então Axel Weber criticando rispidamente Olivier Blanchard. Enquanto isso, os estrategistas políticos e presidentes de bancos centrais europeus estão destruindo um dos mais fascinantes projetos da história da humanidade, a unidade e amizade entre os países da Europa. Isso vai além da depressão. Muito além.

Ainda estou tentando ver o sentido deste fracasso intelectual global. Mas os resultados não estão em questão: estamos fazendo um total imbróglio de um problema passível de solução, com consequências que vão nos assombrar nas próximas décadas.

sábado, 13 de agosto de 2011

Hoje é o dia do Economista.



Parabéns a todos os colegas economistas pela comemoração do nosso dia. Também hoje comemoramos os 60 anos da lei que regulamentou a profissão e estabeleceu a criação dos Conselhos de Economia, o federal e os regionais. Ser economista é uma satisfação pessoal pela oportunidade que temos de melhor conhecer como funciona e caminha a humanidade, além de nos fazer formadores de opinião e defensores de ideias sempre visando o bem-estar da sociedade. Neste ano, na imagem do brilhante e genial MÁRIO HENRIQUE SIMONSEN, a minha homenagem a todos os colegas que fazem da economia a sua história de vida.  

A crise que foi feita refém.


PAUL KRUGMAN, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre A CRISE QUE FOI FEITA REFÉM.


A turbulência dos mercados assustou você? Você tem razão em estar com medo. Está claro que a crise econômica que começou em 2008 não acabou, de maneira alguma.


Mas há outra emoção que você deveria sentir: raiva. Pois estamos vendo o que acontece quando pessoas influentes exploram uma crise, em vez de tentar solucioná-la.


Há mais de um ano e meio, temos uma conversa pública que vem sendo dominada por preocupações com o Orçamento e, na maior parte do tempo, ignora o desemprego.


A necessidade supostamente urgente de reduzir deficits vem dominando o discurso a tal ponto que na segunda-feira, em meio a um pânico nos mercados, Obama dedicou a maior parte de suas observações ao deficit, em lugar de tratar do perigo imediato de recessão renovada.


O que tornou isso tão bizarro foi o fato de os mercados estarem assinalando, com a maior clareza possível, que nosso maior problema é o desemprego, e não o deficit.


Imediatamente após um rebaixamento da classificação de crédito dos EUA, algo que supostamente deveria assustar os investidores em títulos do governo, o que aconteceu de fato foi que esses juros mergulharam para níveis baixos recordes.


O que o mercado estava dizendo -quase gritando- era "não estamos preocupados com o deficit, mas com a economia fraca!". Isso porque uma economia fraca significa tanto juros baixos quanto ausência de oportunidades econômicas. 


Como foi que o discurso de Washington passou a ser dominado pela questão errada?


Os republicanos exerceram um papel nisso. Mas nosso discurso não teria se desviado tanto do que interessa se outras pessoas influentes não estivessem ansiosas por mudar de assunto, afastando o discurso da questão dos empregos, mesmo diante de um desemprego de 9%.


Procure a página de opinião de qualquer jornal importante e você provavelmente encontrará algum autoproclamado centrista declarando que não há soluções de curto prazo para essas dificuldades. Quando encontrar, saiba que pessoas desse tipo são a razão principal pela qual estamos em situação tão difícil.


Neste momento, a economia precisa desesperadamente de uma solução de curto prazo. Quando você está sangrando, você quer um médico que enfaixe a ferida, não um que faça sermão sobre a importância de um estilo de vida saudável.


Quando milhões de pessoas jovens, capacitadas e dispostas estão desempregadas e o potencial econômico está sendo desperdiçado no valor de quase US$ 1 trilhão por ano, queremos responsáveis políticos que trabalhem para garantir uma recuperação rápida, e não pessoas que façam sermões sobre a necessidade de sustentabilidade fiscal.


O que envolveria uma resposta real a nossos problemas? Para começar, envolveria mais gastos governamentais, e não menos. Envolveria iniciativas agressivas para reduzir a dívida das famílias. E envolveria um esforço total para fazer a economia avançar outra vez. Claro que os suspeitos de sempre tacharão essas ideias de irresponsáveis. Mas você sabe o que é realmente irresponsável? É sequestrar a discussão sobre a crise, deixando que a economia continue a sangrar.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As contas americanas conferem?

Na FOLHA DE S. PAULO, esclarecedora entrevista com o economista Carlos Pinkusfeld Bastos, da UFRJ, especialista em contas americanas.

Folha - Como analisa a turbulência dos últimos dias?

Carlos Pinkusfeld - Sempre olhei com maior cuidado a situação da Europa que a dos EUA. Como disse Alan Greenspan, ex-presidente do BC americano: ninguém dá calote na própria moeda porque pode imprimi-la. Na Europa, os países precisam se endividar numa moeda que não é a sua, e não há uma autoridade fiscal central garantindo aumento de gastos na recessão.

O problema de confiança nos EUA teve causa política? Certamente. O Partido Republicano levou ao extremo o impasse do teto da dívida. O presidente negociou muito e só conseguiu algo na margem: que o corte orçamentário não recaia sobre Medicaid (programa de saúde para pobres) ou Previdência. Só o Medicare (para idosos) deve ser afetado. Nem Ronald Reagan (1981-89) mexeu nesses programas.

Reagan subiu gastos.

Ele baixou impostos no início, mas voltou atrás. Para reduzir a carga dos mais ricos, aumentou a contribuição previdenciária. Dizem que a dívida americana é quase 100% do PIB, mas a dívida real foi de 56% em 2010, menor que a da Alemanha (87%). Há diferença porque uma reforma de 1983 fez com que a receita da Previdência fosse maior do que a despesa e esse excesso fosse guardado em títulos do governo. Há uma enorme quantidade de títulos que não está na mão do público e não exerce pressão sobre juros, confiança etc.

Não há problema de dívida?

Nem de dívida nem de deficit fiscal, no curto prazo. Os EUA têm dois problemas. O primeiro é político, que é a radicalização de uma direita que há tempos fala em reduzir o tamanho do Estado. A estratégia para isso é a "starve the beast" [mate a besta de fome] -você corta impostos para que surja um buraco nas contas e depois ataca gastos sociais. Os EUA têm carga tributária de 30% do PIB, contra 38% na média dos países ricos. Há espaço para resolver questões estruturais pelo lado do gasto. Mas há uma particularidade que prejudicou a eficiência de políticas contra a crise. Ao contrário do governo federal, os Estados quase não subiram gastos desde 2008: 28 deles impõem limites ao aumento de despesas. O deficit sobe quando a economia desacelera. Aumentou desde 2008 e não há nada puxando o crescimento. A combinação de deficit elevado e falsa percepção de fracasso da política expansionista leva água ao moinho dos falcões fiscais.

Qual é o segundo problema?

O que mais cresce nos EUA são as transferências pessoais, que chegam a 70% do gasto federal. Não é a Previdência, são os gastos com saúde. O custo por pessoa é o maior do mundo. São gastos pouco flexíveis. A reforma original de Obama, que incluía um plano público para concorrer com os privados, iria aumentar as despesas de imediato. Em longo prazo, se servisse para conter a trajetória de gastos, o problema fiscal americano estaria solucionado.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...