Com a campanha presidencial em andamento e como economia e política são dois assuntos importantes demais, vale a leitura do artigo de Maria Cristina Fernandes no VALOR ECONÔMICO de ontem.
Aécio Neves e Eduardo Campos formaram-se em economia na década da
hiperinflação.
Aécio entrou para o curso de Economia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio aos 19 anos. Transferiu-o para a PUC de Minas onde se
formaria em 1984, aos 24 anos.
Eduardo Campos entrou para o curso de economia da Universidade Federal
de Pernambuco em 1982, aos 16 anos e se formaria quatro anos depois.
Aécio dividiu-se entre a faculdade e o governo do avô, eleito em Minas
em 1982.
No último ano do curso, Campos presidiu o Diretório Acadêmico da
Faculdade de Economia. O brasilianista Werner Baer percorria escolas
brasileiras e oferecia bolsas de pós-graduação na Universidade de Illinois.
Tentado, Eduardo optaria por ficar em Pernambuco para assessorar o avô.
Tivesse aceito, seria colega de outro economista brasileiro formado
naquela atribulada década de 1980, Alexandre Tombini. Depois de concluir
economia na Universidade de Brasília em 1984, Tombini foi levado por Baer no
ano seguinte para Illinois de onde sairia PhD.
Quando os três economistas da mesma geração deixavam a universidade,
Dilma Rousseff, outra economista, assumia a Secretaria de Finanças da
Prefeitura de Porto Alegre.
Daquela atribulada década de 1980 até hoje, dois momentos passaram à
história como aqueles em que o adiamento de medidas econômicas pelo
calendário eleitoral mais impacto tiveram sobre a política e a economia.
Os três economistas que devem se encontrar em 2014 assistiram àqueles
momentos em postos distintos.
A história é conhecida. Em 1986 José Sarney via o Plano Cruzado vazar
por todos os lados com o fracasso do congelamento. Seis dias depois da
eleição que deu ao PMDB de Sarney 22 dos 23 governos estaduais e mais da
metade das cadeiras da Câmara dos Deputados, veio o Plano Cruzado II, que
liberou a inflação represada e afundou os anos finais do sarneísmo.
Aécio foi um dos 260 deputados eleitos na esteira do Plano Cruzado. No
meio do mandato constituinte entraria como fundador no partido que até hoje
tem no combate à inflação seu mais importante ativo eleitoral.
A mesma eleição levaria Miguel Arraes de volta ao governo do Estado e,
com ele, o neto se tornaria chefe de gabinete. A crise aberta com o fracasso
do Plano Cruzado faria sangrar o PMDB. Arraes deixaria o partido em direção
ao PSB levando o neto.
O fracasso do Plano Cruzado II também precipitaria a candidatura de
Leonel Brizola à Presidência na qual Dilma se engajaria, aproximando-se dos
petistas gaúchos no segundo turno com o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva.
Doze anos e muitos planos depois o Brasil mais uma vez via coincidirem
calendário eleitoral e a premência de medidas econômicas impopulares.
Fernando Henrique Cardoso disputou a reeleição em 1998 com sinais
evidentes de deterioração do Real. Seus efeitos só chegariam à população dois
meses depois da reeleição quando o governo se decidiu pela desvalorização da
moeda.
Naquele ano Aécio seria reeleito à Câmara dos Deputados com a maior
votação nominal do país e, neste mandato, chegaria à Presidência da Casa.
Em 1998, depois de passar quatro anos em oposição a FHC e enfrentar o
desgaste da operação capitaneada pelo neto na emissão de precatórios
judiciais, Arraes perderia a reeleição.
Naquela eleição o PT conquistaria o governo gaúcho e convidaria a
então doutoranda em economia na Unicamp, Dilma Rousseff, para a secretaria de
Minas e Energia, cargo que exercia ao conhecer Lula.
Um economista que gere uma das maiores carteiras de investimento do
país e não frequenta a Casa das Garças diz que desde a chegada do PT ao poder
este é o momento que mais se assemelha àqueles vividos em 1986 e 1998.
Não vê como o que chama de desalinhamento de juros, câmbio e salários
possa chegar até o fim deste governo sem cobrar um preço exageradamente alto
em 2015.
Desta vez, a encruzilhada de calendário eleitoral e política monetária
atingem mais definitivamente Aécio e Campos. Os dois contendores de Dilma
distinguiram-se em suas reações ao Copom.
Talvez protegido pelo colchão de segurança de seu partido no mercado,
Aécio classificou de "lamentável" os 0,25% do Copom, associando a
alta à falta de compromisso da presidente com os pilares da economia
estabelecidos no governo tucano.
Um economista foi contratado para encontrar-se semanalmente com Aécio.
Ainda não se conhecem suas ideias de política econômica mas sabe-se que, no
governo, o senador mineiro seria mais próximo dos pais do Real do que o
candidato tucano que o antecedeu, José Serra.
Campos não goza das mesmas referências de seu provável adversário de
2014. Os encontros já havidos entre o governador e economistas da Casa das
Garças foram negados por estes últimos. Talvez por isso precise ser mais
claro sobre o que pensa.
Depois de tergiversar nos últimos tempos sobre o tema, o governador
deu uma sinalização que não o distancia da atual condução ao dizer que um
aumento na taxa básica de juros não seria um desastre.
"A política monetária tem que funcionar na direção de preservar
uma conquista brasileira, que foi a contenção da inflação". A frase é de
Campos, mas poderia ser de Dilma.
Se a política monetária for capaz de segurar a inflação, a presidente
ganha tempo para não colocar a questão fiscal em jogo. Daqui até a eleição de
2014 a curiosidade dos investidores em saber onde e como os gastos públicos
serão cortados aumentará tanto quanto a disposição dos postulantes em não se
pronunciar sobre o tema.
Se o Copom continuar nessa toada os extraordinários 96,5% de reajustes
salariais acima da inflação em 2012 (Dieese) podem não se repetir este ano.
Mais difícil é conter a pressão de gastos públicos atrelados ao salário mínimo.
O contrato social em vigor prevê carga tributária elevada para
financiar a expansão do consumo e dos investimentos, mas apenas o primeiro
quesito foi alcançado. Não se espere que os candidatos economistas respondam
se será possível fazê-lo sem revogar a lei que indexa o salário mínimo.
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sábado, 20 de abril de 2013
Os economistas que disputam 2014.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Inflação: de volta ao passado?
Recentes dois artigos do Luiz Carlos Mendonça de Barros publicados
no VALOR avaliam a situação econômica brasileira, bem como previsões para 2014.
Neste, o foco é a atual inflação vista por ortodoxos e heterodoxos.
É muito
triste para o analista acompanhar o debate atual sobre a política monetária do
Banco Central (BC). Este sentimento nasce principalmente em função da volta da
inflação para o centro das discussões, depois de mais de dez anos de
esquecimento por parte da sociedade. Esta nossa sensação de "déjà vu"
fica reforçada pelo aparecimento de velhos protagonistas de corte heterodoxo -
com suas mesmas ideias e soluções do passado - ao lado de novos economistas
liberais, com os mesmos erros e utopias de seus colegas mais velhos. Ou seja, em
mais de 30 anos, os membros destes dois grupos não esqueceram nada, mas também
não aprenderam nada de novo.
Como escrevi acima, considero
um retrocesso voltar à questão da inflação nos termos que vêm sendo colocados
pela mídia, aqui e no exterior. Em um
extraordinário trabalho a quatro mãos, os presidentes Fernando Henrique Cardoso
e Lula conseguiram convencer a sociedade brasileira que a estabilidade de
preços é uma condição absolutamente necessária para que o crescimento econômico
seja perene. Mais do que isto, que para atingir este objetivo é preciso ter um
Banco Central comprometido com uma meta clara para a inflação e com um mínimo
de independência para persegui-la ao longo do tempo.
Aliás, é bom lembrar que foi
por conta deste compromisso que a economia brasileira cresceu continuadamente
entre 1994 e 2008, apesar das crises que enfrentamos. Nestes 14 anos, a renda
real do brasileiro cresceu mais de 3,5% ao ano e a parcela da sociedade que
vive na economia de mercado passou de 34% para mais de 60%. Um resultado incrível
e que ganhou reconhecimento internacional. Pensava eu que, por isto, estivessem
sepultadas de vez as teorias alternativas que sempre fizeram parte do programa
de ação do Partido dos Trabalhadores e de parte da esquerda brasileira.
Também por isso me surpreendeu
quando a presidenta Dilma começou a deixar de lado este compromisso com o
aparecimento de alguns entraves ao crescimento da economia. Ela não percebeu
que o problema tinha sua origem em questões estruturais não enfrentadas
adequadamente nos anos Lula e no início de seu mandato. No começo, estas
mudanças foram sutis, mais relacionadas a intervenções pontuais do governo.
Mas, a partir da frustração com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no
ano passado, as ações passaram a ser mais abrangentes, enfraquecendo o
arcabouço macroeconômico que havia prevalecido até então.
Nos anos Lula o governo
considerava os mercados como um instrumento de ação do governo na busca da
geração de renda para, a partir daí, alterar a natureza da distribuição dos
frutos do crescimento. De certa forma, o governo Lula utilizou-se da mesma
estratégia que os chineses desenvolveram nos últimos anos para construir uma
nova economia.
Já a presidenta Dilma colocou a
ação do governo como peça central da política econômica, sujeitando a ação
privada a um papel apenas complementar e secundário. Ao fazer isto recolocou o
ideário do PT tradicional - e também do PDT brizolista - novamente no comando
de suas ações. Daí o teor de suas declarações recentes de que não concorda com
a utilização dos juros como instrumento de redução do consumo privado no
combate à aceleração da inflação. E foi mais longe ainda, ao resgatar a antiga
e desgastada imagem do remédio matando o paciente.
Mas vamos também olhar de forma
crítica para o outro lado do espectro ideológico e que procura vender a imagem
de que estamos próximos a um total descontrole da inflação. O gráfico abaixo
mostra, de forma clara, dois momentos distintos dos números do IPCA nos últimos
anos. No primeiro, que corresponde à passagem do ponto A para o B, temos um
período de desinflação em função da valorização do real e da existência de
espaços produtivos ociosos no tecido econômico, como o índice de desemprego de
dois dígitos. Por isto a inflação chega a ficar momentaneamente abaixo do
centro da meta do BC entre 2006 e 2007.
Já entre B e C temos um período
em que pressões inflacionárias por conta da ocorrência de vários choques
externos - câmbio e commodities - em um ambiente de redução rápida dos espaços
ociosos na economia, levam a inflação a mais de 6% ao ano.
Em resumo,
nos últimos anos, mesmo durante o período de um Banco Central ortodoxo e com
liberdade de ação, a inflação no Brasil nunca ficou abaixo dos 5% ao ano por um
período mais longo. Um sinal claro de que não conseguimos sair da armadilha de
um sistema de preços indexados à inflação passada e, portanto, ultrassensível a
choques externos de oferta. Por isto, quando voltamos agora a uma situação
limite e perigosa, temos que buscar uma política de combate a inflação menos
rudimentar do que a proposta pelos dois lados do espectro ideológico que domina
o debate econômico nestes dias.
Não serão
apenas medidas clássicas como a elevação da taxa Selic que vão tirar a dinâmica
de aumento de preços da perigosa trajetória atual. Temos que voltar os olhos ao
Plano Real e buscar na sua agenda um conjunto abrangente de medidas de política
econômica.
terça-feira, 9 de abril de 2013
Os economistas que almoçam com Dilma.
Uma notícia que pode mudar o rumo da política econômica...
Li no VALOR que "a presidente
Dilma Rousseff almoçou ontem, em Brasília, com seus dois principais
conselheiros - o ex-ministro Delfim Netto e o professor Luiz Gonzaga Belluzzo -
e com um novo convidado, o professor Yoshiaki Nakano, da Fundação Getulio
Vargas (FGV) de SP. Nenhum dos três se opõe ao aumento da taxa de juros, agora,
como instrumento de controle da inflação. Sobre a posição da presidente,
Belluzzo comentou: " Ela não tem esse tipo de dogma"."
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Thatcher, o legado da revolucionária liberal.
A FOLHA, sempre com uma fiel análise do Oscar Pilagallo, hoje sobre a Baronesa Thatcher.
Margaret
Thatcher foi um dos poucos políticos contemporâneos a quem se pode aplicar, sem
exagero, o rótulo de revolucionário. O mundo em 22 de novembro de 1990, quando
ela deixou o poder, não era o mesmo de 4 de maio de 1979, data do discurso de
posse como primeira-ministra britânica -- e a transformação se deveu em grande
parte a seu governo.
O nome da
líder dos conservadores britânicos -- posto que assumiu quatro anos antes da
eleição -- estará para sempre ligado ao neoliberalismo que, mais tarde, seria
praticamente hegemônico no Ocidente. Foi ela quem, depois de colocar de joelhos
o poderoso sindicalismo britânico, implantou uma série de políticas que liberou
as forças do mercado.
Ao longo dos
11 anos à frente do governo, Thatcher levou a cabo um ambicioso programa de
privatização, desregulamentou o mercado financeiro, adotou um rígido
monetarismo e desmantelou em grande parte o Estado do bem-estar social
implantado depois da Segunda Guerra.
O ideário de
Thatcher foi seguido em muitos países. No Brasil, o presidente Collor, eleito
em 1989, quando a gestão de Thatcher completava dez anos, adotou seus pontos
ortodoxos, numa orientação que, após o hiato Itamar Franco, seria retomada por
Fernando Henrique Cardoso e mantida por Lula e Dilma.
Do ponto de
vista ideológico, Thatcher foi mais importante que Ronald Reagan, que governou
os EUA na mesma época. Os dois se baseavam na mesma cartilha liberal, mas,
enquanto o presidente americano tinha um enfoque mais pragmático (basicamente,
reduziu o peso do Estado cortando impostos), a premiê britânica estava
empenhada em fundar um capitalismo popular, pulverizando o controle das
estatais e viabilizando o acesso da classe média à casa própria.
O programa
econômico de Thatcher sempre foi atacado pelas esquerdas, obviamente, mas as
críticas não ideológicas só ganhariam maior repercussão nas crises econômicas
mundiais recentes, uma vez que uma de suas causas foi a excessiva
desregulamentação do setor financeiro.
De resto, o
mundo ocidental ainda tem algo da cara que Thatcher lhe deu. No próprio Reino
Unido -- embora os yuppies, símbolos do individualismo que ela tanto incentivou,
tenham perdido prestígio --, o thatcherismo resistiu mesmo sob o governo
trabalhista que o substituiu.
A influência
de Thatcher, no entanto, vai além do campo econômico. Na política internacional,
a vitória do livre mercado sobre a economia de planejamento central ajudou a
minar as bases da União Soviética, que se desmancharia em 1991, um ano depois
da queda de Thatcher.
Na América
Latina, sua influência também não foi pequena -- embora tenha sido involuntária.
Logo depois da vitória militar britânica na reconquista das ilhas Falklands
(Malvinas para os argentinos), em 1982, a desgastada ditadura argentina chegou
ao fim. A influência foi involuntária porque evidentemente ela não estava preocupada
com o destino do regime argentino. Em relação a ditaduras de direita, aliás,
Thatcher apoiou até o fim o general Pinochet, do Chile.
O legado
político de Thatcher é realçado pela marcante trajetória pessoal. Líder
estudantil conservadora, a filha de um quitandeiro tentou uma vaga no
Parlamento em 1950, aos 25 anos, mas só se elegeria em 1959, na terceira
tentativa.
A partir daí,
a carreira decolou: ela foi a primeira mulher a governar um país na Europa e o
político britânico que ocupou por mais tempo o cargo desde o início do século
19, tendo sido reeleita duas vezes, um recorde que só seria igualado pelo
trabalhista Tony Blair.
A firmeza com
que defendia suas ideias lhe valeu o apelido de Dama de Ferro, que ela adotou e
reforçou com um penteado austero. Centralizadora, a governante impunha sua
vontade sobre seus ministros, que dispunham de limitada autonomia.
Após deixar o
poder -- ela foi forçada a renunciar depois de um racha entre conservadores
devido à sua posição contrária à integração europeia --, Thatcher ganhou o
título de baronesa e passou a ser uma das mais requisitadas (e bem remuneradas)
conferencistas do mundo.
No início dos
anos 2000, uma série de pequenos derrames e a morte do marido fizeram com que
ela se afastasse da vida pública.
Margaret Thatcher: 1925 - 2013 - a verdadeira "Dama de Ferro".
Uma mulher inteligente que revolucionou toda uma geração e um belo exemplo para as mulheres de hoje.
Como existem mulheres que realmente marcam a história, Baronesa Thatcher fez muito bem a sua parte.
domingo, 7 de abril de 2013
Capitalismo de Estado ganha mais força no Brasil.
NOURIEL
ROUBINI - ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE
Na FOLHA DE S. PAULO, NOURIEL
ROUBINI, professor de
Economia da Escola Stern de Administração de Empresas, Universidade de Nova
York e presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com), escreve e critica o capitalismo de estado, inclusive no Brasil.
Nas quatro
últimas semanas, visitei Sófia, Kuala Lumpur, Dubai, Londres, Milão, Frankfurt,
Berlim, Paris, Pequim, Tóquio, Istambul e EUA. Os inúmeros desafios que a
economia mundial enfrenta estavam por perto.
Na Europa, o
risco de uma dissolução da zona do euro caiu depois da decisão do Banco Central
Europeu, no terceiro trimestre de 2012, de intervir para sustentar os títulos
de dívida nacional.
Mas os
problemas fundamentais da UE - baixo potencial de crescimento, recessão
continuada, perda de competitividade e endividamento - não foram resolvidos.
Além disso, o
acordo entre os países centrais da zona do euro, o BCE e as nações periféricas
- dolorosa austeridade em troca de apoio financeiro - está se desfazendo porque o
cansaço quanto à austeridade nos países periféricos contrasta com o cansaço de
resgatar dos países centrais, como a Alemanha.
Na China, a
transição de líder aconteceu sem solavancos. Mas o modelo econômico continua,
na definição do ex-premiê Wen Jiabao, "instável, desequilibrado,
descoordenado e insustentável".
Os problemas
da China são muitos: os desequilíbrios regionais; o excesso de poupança e o
baixo consumo; a alta da renda e da desigualdade de renda; e a imensa
degradação ambiental.
Os novos
líderes do país falam convictamente da necessidade de aprofundar as reformas e
reequilibrar a economia, mas continuam cautelosos e conservadores.
Como
resultado, as reformas necessárias para reequilibrar a economia podem não
acontecer com rapidez suficiente para impedir uma aterrissagem dura quando a
contração do investimento chegar, o que deve vir no primeiro trimestre de 2014.
Na China e na
Rússia (e em parte no Brasil e na Índia), o capitalismo de Estado ganhou mais
força, e isso é mau sinal para o crescimento.
No geral,
esses quatro países (o grupo Bric) vêm recebendo elogios exagerados, e outros
emergentes podem se sair melhor na década que vem - Malásia, Filipinas e
Indonésia, na Ásia; Chile, Colômbia e Peru, na América Latina; e Cazaquistão,
Azerbaijão e Polônia, na Europa Oriental e na Ásia Central.
Mais a leste,
o Japão inicia uma nova experiência econômica para conter a deflação, estimular
o crescimento e restaurar a confiança.
O modelo
econômico tem diversos componentes: estímulo monetário agressivo; um estímulo
fiscal neste ano para forçar uma retomada da demanda, seguido por austeridade
fiscal em 2014; reformas estruturais; e novos acordos de livre comércio.
Mas os
desafios são assustadores. Não está claro que a deflação possa ser vencida por
meio de política monetária; um estímulo fiscal excessivo e a postergação das
medidas de austeridade podem tornar a dívida insustentável; e a reforma está
indefinida.
Temos também
o Oriente Médio, que continua a ser um arco de instabilidade da África do Norte
ao Paquistão. A Turquia quer se tornar uma grande potência regional. Mas o país
tem muitos desafios nacionais a enfrentar. O deficit em conta-corrente é alto e
a política monetária parece confusa, já que o estímulo ao crescimento tromba
com o controle da inflação.
Nesse
ambiente mundial frágil, será que os EUA se tornaram um farol de esperança?
Eles experimentam diversas tendências econômicas positivas: o mercado de
habitação se recupera, a exploração de petróleo e gás em campos de xisto
reduzirá os custos da energia; a criação de empregos avança; os custos
trabalhistas crescentes na Ásia estimulam o renascimento da indústria; e as
medidas agressivas de relaxamento quantitativo ajudam tanto a economia real
quanto os mercados financeiros.
Mas ainda há
riscos. O desemprego e a dívida domiciliar continuam altos. O arrasto fiscal
causado pelo aumento de impostos e cortes de gastos prejudicará o crescimento,
e o sistema político é disfuncional, com a polarização entre os partidos
impedindo soluções sobre o deficit fiscal, imigração, política de energia e
outras questões que afetam o crescimento.
A zona do
euro e o Reino Unido continuam afundados em recessão, agravada pelas política
monetária e fiscal dura. Entre as economias emergentes, a China pode enfrentar
uma aterrissagem dura, por volta do final de 2014, se as reformas estruturais
essenciais forem adiadas, e os demais países do grupo Bric precisam deixar para
trás o capitalismo de Estado.
Embora outros
mercados emergentes na Ásia e na América Latina estejam mostrando mais
dinamismo que o grupo Bric, sua força não bastará para virar a maré mundial.
sábado, 6 de abril de 2013
Discutindo pobreza... na Argentina!
Em recente matéria no ESTADÃO, economistas questionam dados de pobreza... na Argentina.
O governo da
presidente Cristina Kirchner sustenta que a proporção de pobres na Argentina
está no nível mais baixo das últimas quatro décadas: apenas 5,4% da população,
ou 2,2 milhões de pobres. Segundo o governo Kirchner, a Argentina não tinha
uma pobreza tão baixa desde 1974, quando o presidente Juan Domingo Perón -
chamado de "o protetor dos trabalhadores" - estava prestes a morrer.
No entanto, os dados
elaborados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos, não são levados
a sério por economistas, sindicatos e entidades universitárias, que
acusam o organismo estatístico de falsificar os números - especialmente os da
inflação - desde janeiro de 2007.
A Universidade
Católica Argentina (UCA) - que elabora há vários anos um índice paralelo -
indicou, porém, em seu novo relatório que a pobreza assola atualmente 26,9%
dos argentinos. Essa proporção quintuplica o número de pobres admitido pela
Casa Rosada. Em vez dos 2,2 milhões de pobres oficiais da presidente Cristina,
o país, segundo a UCA, teria 11 milhões.
O anúncio do índice da
UCA teve ampla repercussão neste ano na Argentina, principalmente, pelo
fortalecimento político e social que a Igreja Católica está tendo no país
graças à recente entronização do cardeal Jorge Bergoglio, um portenho do bairro
de Flores, como o novo papa Francisco.
Enquanto que para o
Indec a pobreza caiu de 6,5% em 2011 para 5,4% em 2012, para a UCA a proporção
subiu de 21,9% para 26,9% no mesmo período. A proporção de indigentes também
apresenta enormes disparidades. Para o governo são 600 mil indigentes em toda
a Argentina, enquanto que para a entidade acadêmica são 2,2 milhões.
Segundo relatório da
UCA, a pobreza estrutural persiste na Argentina, "apesar dos enormes
esforços em matéria de gasto social, pois 20% dos lares recebem algum programa
social".
Para o monsenhor Jorge
Lozano, presidente da Pastoral Social, "existe um estancamento na
situação social". Segundo ele, "se não existe esperança para os
pobres, tampouco existirá esperança para os ricos".
Em
1974, a Argentina era o paraíso da classe média na América Latina. Na época,
contava com menos de 6% de pobres. Mas a sequência de ajustes e crises econômicas
provocaram uma disparada na proporção de pobres, que em 1995 constituíam 20%
da população.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Muita água em Brasília, seca no Nordeste: R$ 2 bilhões resolve?
Enquanto Brasília mostra ao Brasil o elevado debate
sobre questões políticas, o Nordeste continua morrendo de fome e de sede.
Neste momento, cadê o debate para resolver o assunto, em estudo desde o tempo
do Imperador Dom Pedro II?
Sobra investimento para quem tem poder e falta água
para o povo nordestino.
Até quando?
O governo investirá R$ 2 bilhões em ajuda aos 1415
municípios nordestinos. Parece que esta história não é nova. O Brasil melhorou,
mas ainda não merece receber alta médica.
No nosso O POVO de hoje, direto de
Fortaleza, Clayton traduz o nosso forte apelo para a região.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
A economia brasileira na análise de Gustavo Franco no Estadão.
Gustavo Franco, hoje
no ESTADÃO. A conferir:
É claro que dá para
mexer em ambas as coisas (crescimento e inflação) independentemente. Se
houvesse uma relação linear entre crescimento e inflação, precisaríamos de 25
anos de recessão para ter reduzido a inflação de 6.000% para 2% no período de
1994 até 1998. Não tem relação entre uma coisa e outra. E nem necessariamente
as políticas ortodoxas são de sacrifício que implicam em dor e sofrimento para
a economia. É uma pequena armadilha retórica de que os ortodoxos são contra o
crescimento. Todos são pró desenvolvimento. A questão é a receita. Escolher
entre estabilidade e crescimento é um falso problema. É conversa de quem não
entende de economia.
Tudo depende do que
seja determinante para o crescimento. Se o determinante é a sustentabilidade
fiscal do Estado, políticas heterodoxas de aumento do gasto público tendem a
reduzir o crescimento. E é curioso porque foi exatamente isso que ocorreu nos
últimos anos. No governo Dilma, as condições fiscais pioraram e o crescimento
caiu. Houve uma deterioração na confiança empresarial em relação ao equilíbrio
das contas públicas. A conclusão é que a receita supostamente
desenvolvimentista heterodoxa foi um fracasso.
O Brasil precisa
retomar as reformas que parou, precisa ter políticas macroeconômicas
responsáveis, e ter uma agenda de ações para retomar a confiança do setor
privado e aumentar o investimento privado. Ainda que isso possa fazer parte da
retórica governamental, as ações não vão nessa direção. Há percepção de
intervencionismo crescente e de aversão a privatizações, concessões e
investimento quando o setor privado tem o controle do processo. Todas essas
posturas são negativas para o crescimento. O crescimento é provocado pelo
investimento. No Brasil, as pessoas relutam em acreditar numa coisa muito
simples: investimento é acumulação de capital. Portanto, as políticas tem que
ser amistosas ao capital. Se o governo é hostil ao capital, não vai ter investimento,
nem crescimento. É simples assim.
Para termos um
crescimento acelerado, digno de pertencer aos BRICS, precisamos de taxas de
investimento bem maiores. O crescimento amparado apenas pelo consumo, como tem
sido nos últimos tempos, é de fôlego curto. Esse crescimento se exauri a medida
que as famílias vão ficando mais endividados - o que também é perceptível nos
últimos tempos. O crescimento com base no consumo vem perdendo força nos
últimos tempos. E o investimento não vem crescendo, vem caindo há vários
trimestres seguidos. Tecnicamente temos uma recessão no investimento. . Já
temos vários trimestres de crescimento negativo do investimento. É um sinal de
que o setor empresarial está insatisfeito com o governo, e isso não é algo que
você vai capturar com os empresários. Hoje ninguém fala essas coisas porque o
governo é dado a represálias. Por outro lado, as ações falam por si. O
investimento é a melhor e mais simples manifestação de bom humor do mundo
empresarial. E esse pessoal não está satisfeito com o que está vendo.
A inflação tem sido
muito mais camarada do que eu esperaria dados os fundamentos fiscais da
economia. Existe certa rigidez nominal dos preços, que tem impedido a inflação
de ser maior. O melhor instrumento para combater a inflação é a política
fiscal. A redução no gasto público substituiria a elevação dos juros com
vantagem. Seria melhor para a economia que houvesse uma percepção de maior
responsabilidade fiscal, quase que uma mudança de regime em direção a uma
política fiscal sadia, ao invés de uma política anticíclica, keynesiana, e
todos esses nomes que o governo inventou para a gastança. Se isso não ocorrer,
teremos uma solução de qualidade inferior que vai ser a subida dos juros. Já
deveríamos ter aprendido a lição de que é muito melhor combater a inflação
atacando sua causa, que é a política fiscal, do que tentar comprimi-la via
política monetária, que cria efeitos colaterais maiores e piores.
A intensidade do
aperto monetário necessário hoje tem a ver com a dosagem. Não tenho como responder
a esse pergunta com precisão. As autoridades - com razão - não querem retomar
aos patamares de juros do passado, mas também não querem os patamares de
inflação do passado. O problema é que não vai dar jogo com essa política
fiscal.
Ao jogar a responsabilidade
para o Banco Central e achar que a política fiscal não muda, estamos jogando
fora o bebê junto com a água do banho. Deveríamos nos concentrar na política
fiscal e não no que o BC vai fazer. O problema está no ministério da Fazenda,
na Presidência da República. É aí que a inflação está sendo criada.
O aperto fiscal é o
que vai tornar sustentável a taxa de juros baixa. É que vai fazer as pessoas
acreditarem que as contas do governo fecham. Hoje só alguém muito sonhador e
chapa branca acredita que o aumento do gasto público tem um impacto relevante
sobre o investimento. Não tem porque o dinheiro do governo é pouco. É muito
mais importante o setor privado crescer de forma sadia do que o setor público
investir diretamente, o que, aliás, não consegue porque não tem capacidade
administrativa.
O governo tem que
deixar o investimento não do setor privado convictamente. Quando o governo faz
coisas em acredita, tudo funciona melhor. Quando não acredita, faz mal feito e
pela metade. E talvez esse seja um drama do qual a não conseguimos sair. É
preciso fazer políticas amistosas para o capital, e, se o governo não consegue
fazer por uma questão de fígado, então nunca vai dar certo. Não vamos ter
crescimento nessa administração. Será preciso eleger um governo mais amistoso
ao capital para ter acumulação de capital e investimento no Brasil."
terça-feira, 2 de abril de 2013
Coreia - tão perto, tão longe: socialista x capitalista? A escolha é sua.
Dois
países e dois modelos políticos e econômicos com resultados contrastantes:
|
Coreia do Norte
|
Coreia do Sul
|
População
|
24.600.000
|
49.800.000
|
PIB em dólares
|
40 bilhões
|
1,1 trilhão
|
PIB per capita em dólares
|
1.800
|
32.400
|
Acesso a saneamento básico - % da população
|
59%
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100%
|
Exportações em bilhões
|
4,7
|
548
|
Fonte: Exame.
Se
ainda existe dúvida onde está a luz, vide a imagem abaixo:
segunda-feira, 1 de abril de 2013
O homem não é racional?
SAMY
DANA, Ph.D em business, professor da FGV e coordenador do
núcleo de cultura e criatividade GV Cult, publicou na FOLHA uma análise do
gasto por impulso, onde mostra que não somos racionais como nos livros de
economia.
No
último dia 20, o Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) anunciou uma elevação de
6,65% no nível de inadimplência em fevereiro de 2013, em comparação com o mesmo
período de 2012.
Podem
explicar isso o incessante incentivo do governo ao consumo (ainda que a
poupança clame por socorro), o crédito fácil oferecido a taxas de juros exorbitantes
e a famigerada inflação.
Por
falar nela, no dia 28, o Banco Central anunciou a projeção do IPCA para 2013:
5,7%, valor bem acima dos 4,5% esperados em 2012.
A
conjuntura em que o consumidor se encontra é bastante desfavorável. Por que, então, o brasileiro, ciente de sua
impossibilidade de sanar dívidas, não para de comprar?
Há muitos fatores envolvidos no consumo que os livros
clássicos de economia não explicam. O homem que vive neles é perfeitamente
racional. Mas a realidade mostra que fatores psicológicos são, muitas vezes, os
mais relevantes nas decisões financeiras.
Estudiosos buscam entender essas motivações subjetivas. As
explicações mais comuns estão relacionadas às emoções e influência exercida
pela sociedade.
Em
pesquisa recente do SPC e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas,
foram levantadas as causas que levam homens e mulheres a comprar por impulso:
principalmente estresse, ansiedade e vida profissional.
Entre
as mulheres, o estímulo ao consumo se vincula à baixa autoestima, em 49% dos
casos, e à tensão pré-menstrual, em 32%. Já para os homens, as principais
causas são ansiedade (45%) e problemas no trabalho (38%).
Não é fácil controlar impulsos. Gastar mais do que se pode
não há de sanar nenhuma dor. Mas é o que a pesquisa mostra que estamos fazendo.
Conhecer e controlar o seu comportamento de consumo,
especialmente em momentos emocionais vulneráveis, parece ser a chave da
questão.
Desafios para a política monetária.
Carlos Thadeu de Freitas Gomes, chefe da divisão econômica da
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e Marianne
Lorena Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo (CNC), escreveram neste texto para o Valor Econômico, os
desafios para a política monetária, onde destacam que é fundamental ancorar as
expectativas inflacionárias dentro do regime de metas .
Durante muito tempo, acreditou-se que o sistema
de metas de inflação não só era o conjunto de regras de política monetária mais
eficaz para manter a inflação sob controle, como também era capaz de promover a
estabilidade macroeconômica como um todo, suavizando os ciclos econômicos. De
fato, desde sua adoção e consolidação por boa parte dos bancos centrais pelo
mundo, na década de 1990, experimentou-se um longo período de crescimento
moderado e estabilidade de preços.
O sistema de metas de inflação foi introduzido
pela primeira vez pelo Banco Central da Nova Zelândia, em 1988. Ele consiste em
um conjunto de regras que visa criar uma âncora de política monetária baseada
nas expectativas dos agentes. Ao se comprometer exclusivamente com uma meta
para a inflação e ajustar a taxa de juros para o alcance dessa meta, a política
monetária atua diretamente sobre as expectativas, e a demanda agregada converge
para o pleno emprego no longo prazo. A transparência na comunicação e a
credibilidade da autoridade monetária são premissas essenciais para esse
modelo.
No entanto, no período de "grande moderação" que
precedeu a crise financeira mais aguda desde a grande depressão, o sistema não
foi capaz de impedir desequilíbrios macroeconômicos relacionados ao
endividamento excessivo de famílias, empresas e governos, além da
sobrealavancagem do sistema financeiro, que culminaram no colapso do mercado de
crédito nos países desenvolvidos.
O arcabouço de regras rígidas do sistema de
metas de inflação também não fornecia instrumentos para tratar das
consequências dessa crise. Os canais tradicionais de política monetária
deixaram de funcionar, a taxa de juros foi rapidamente trazida para patamares
próximos de zero e outros instrumentos foram criados para prover expansão
monetária - as políticas de "quantitative easing" (QE).
Adicionalmente, para lidar com os efeitos das políticas monetárias
quantitativas e de taxa de juros reais negativas, foi necessária a adoção de
políticas macroprudenciais por países com diferenciais de juros e de
crescimento, como o Brasil, que foram afetados com forte influxo de capitais e
valorização de ativos.
Países com elevado patamar de endividamento também tiveram que
adotar políticas macroprudenciais - por meio de instrumentos regulatórios -
para lidar com desequilíbrios financeiros. Nesse contexto, sem essas medidas, a
política monetária tradicional pode estimular desequilíbrios nos fluxos de
capitais, no mercado de crédito e no preço de ativos e moedas.
A política monetária teve que se adaptar em tempos de crise. Com o risco iminente de uma prolongada recessão e a
manutenção de taxas de desemprego em patamares muito elevados, as metas para
inflação foram colocadas de lado. A crise atual de endividamento público
engessa a política fiscal e coloca a política monetária ainda mais em evidência,
colocando-a a serviço, inclusive, da própria redução da dívida, por meio da
repressão financeira. Os bancos centrais da zona do euro e dos Estados
Unidos saíram na frente e sinalizaram que aceitam uma taxa de inflação maior,
para não comprometer a recuperação econômica.
O presidente do Banco Central do Canadá, Mark Carney, sugeriu,
recentemente, a adoção de metas para o Produto Interno Bruto (PIB) nominal em
substituição às metas de inflação. Outras propostas incluem a mudança para uma
meta de nível de preços que absorva choques positivos e represente um custo
menor para o nível de atividade.
No Brasil, a política monetária também foi
flexibilizada para combater os efeitos adversos da liquidez excessiva
proveniente da expansão monetária sem precedentes dos países centrais. Para
conter os efeitos do forte influxo de capitais sobre os preços dos ativos, o
mercado de crédito e o câmbio, uma política monetária tradicional anticíclica,
ao aumentar o diferencial de juros, poderia agravar o problema.
Contudo, apesar de o uso de políticas macroprudenciais - tais como
requerimentos de capitais, barreiras aos fluxos de capitais, intervenções no
mercado de câmbio, entre outros - ter tido sucesso ao evitar a fragilidade
financeira e reduzir volatilidades nocivas, não conseguiu impedir os efeitos
dos choques externos sobre preços e atividade.
Embora o PIB tenha crescido apenas 0,9% em 2012,
a taxa de desemprego atingiu patamares historicamente baixos. Ou seja, mesmo
com a atividade mais fraca, a inflação de salários não deixou de ser uma
preocupação. O aumento no custo de produção de um bem devido à elevação dos
salários acaba sendo, ao menos em parte, repassado para os preços,
realimentando o processo inflacionário.
Há uma dinâmica favorável no país, principalmente no que diz
respeito ao consumo das famílias, apoiada no espaço que ainda existe para a
ampliação do crédito e no bônus fiscal gerado pelo desaperto monetário. Se isso
é bom por um lado, por outro, pode implicar taxa de inflação mais elevada à
frente. Adicionalmente, é preciso lembrar que alguns reajustes de preços estão
sendo postergados. No curto prazo, esses adiamentos seguram a inflação mas, no
médio prazo, têm efeito contrário. A elevada
inércia inflacionária remanescente no país e a vulnerabilidade externa latente
aumenta o custo de uma inflação mais alta.
Logo, é fundamental ancorar as expectativas
inflacionárias dentro do regime de metas, mesmo que isso, temporariamente,
afete a recuperação da atividade econômica, permitindo a sua sustentabilidade
no longo prazo. A flexibilização da política monetária teve a sua importância
num contexto de grandes desequilíbrios externos e atividade fraca. Agora, mesmo
que seja reconhecida a necessidade de repensá-la à luz dos episódios recentes,
a política monetária precisa retornar a sua função mais importante, que é
estabilizar as expectativas inflacionárias.
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