quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A economia mundial — agora sem esteroides.

Com habilidade, Sri Mulyani Indrawati, ex-ministra das Finanças da Indonésia e diretora administrativa e de operações do Banco Mundial, apresenta um panorama da atual situação econômica mundial, onde fica implícito que faltou ao Brasil melhor aproveitar o contexto internacional quando a economia ia de vento em popa. Apesar de alguns colegas ainda acreditarem que a economia brasileira voa em ceu de brigadeiro, mesmo em Davos..., a tendência dos últimos números econômicos demonstra, pelo menos, motivos para preocupação. E ainda teremos eleições...            

O crescimento econômico está de volta. Não somente os Estados Unidos, Europa e Japão estão finalmente se expandindo, mas também os países em desenvolvimento estão recuperando forças. Como resultado, o PIB mundial deverá ficar em 3,2% este ano, ante 2,4% de 2013 – o que significa que 2014 pode muito bem ser o ano em que a economia começará a se recuperar.

O fato de as economias dos países desenvolvidos voltarem a ganhar força é uma boa notícia para todos. Mas, para os países em desenvolvimento, que dominaram o crescimento global nos últimos cinco anos, isso levanta uma questão importante: agora, com os países de alta renda juntando-se a eles no contexto do crescimento, os emergentes ainda estão fortes na competição? A resposta simples é não.

Assim como um atleta pode usar esteroides para obter resultados rápidos, evitando os exercícios difíceis que são necessários para desenvolver resistência e garantir a saúde em longo prazo, algumas economias emergentes, para crescer, têm se apoiado em influxos de capital de curto prazo, especulativos, atrasando ou até mesmo evitando as difíceis, mas necessárias reformas econômicas e financeiras. O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, pretende restringir as condições monetárias excepcionalmente generosas, que levam ao crescimento "fácil". Frente a isso, essas economias emergentes terão de mudar sua abordagem, sujeitas a condições mais estreitas e ao risco de perder o terreno que ganharam nos últimos anos.

Com a política monetária restritiva do Federal Reserve tornando-se realidade, o Banco Mundial prevê que os fluxos de capitais para os países em desenvolvimento cairão de 4,6% do seu PIB em 2013 para cerca de 4% em 2016. Mas, se as taxas de juros de longo prazo dos EUA subirem muito rapidamente, ou se mudanças na política não forem bem informadas, ou ainda, se os mercados tornarem-se voláteis, o fluxo de capitais para os países emergentes pode cair 50% ou mais por alguns meses.

Esse cenário tem o potencial para interromper o crescimento dessas economias emergentes que fracassaram em aproveitar os recentes fluxos de capital para fazer reformas. A provável elevação das taxas de juros irá colocar pressão considerável em países com grandes déficits de conta corrente e altos níveis de dívida externa – um resultado de cinco anos de expansão do crédito.

De fato, na metade do ano passado, com a especulação de que o Fed começaria a redução gradual de compras de ativos de longo prazo (o chamado afrouxamento quantitativo, ou quantitative easing), as pressões financeiras foram mais fortes nos mercados suspeitos de possuírem fracos fundamentos. Turquia, Brasil, Indonésia, Índia e África do Sul – apelidados de "os cinco frágeis" – foram particularmente atingidos.

Da mesma forma, algumas moedas de mercados emergentes têm sofrido pressão nos últimos dias, provocada em parte pela desvalorização do peso argentino e sinais de uma desaceleração no crescimento chinês, bem como dúvidas sobre os verdadeiros pontos fortes dessas economias em meio a um mercado geralmente tenso. Como a grande turbulência no verão passado, o atual surto do mercado está afetando principalmente as economias caracterizadas por tensões políticas internas ou desequilíbrios econômicos.

Mas, para a maioria dos países em desenvolvimento, a história não foi tão ruim. Os mercados financeiros de muitas destas nações não sofreram tanta pressão – no ano passado ou agora. Com efeito, mais de três quintos dos países em desenvolvimento – muitos dos quais são fortes agentes econômicos, que se beneficiaram das reformas anteriores à crise (e assim atraíram mais influxos de capital, como investimento estrangeiro direto) – se saíram bem no último ano.

Novamente, retornando à metáfora do atleta: alguns continuaram a exercitar os músculos e a melhorar a resistência – mesmo sob pressão. O México, por exemplo, apresentou no ano passado um projeto de abertura do setor de energia para parceiros estrangeiros – uma reforma politicamente difícil que possivelmente trará benefícios significativos ao país no longo prazo. Sem dúvida, essa iniciativa ajudou o México a evitar unir-se aos cinco frágeis.

O forte crescimento nas economias de alta renda também criará oportunidades para os países em desenvolvimento – por meio da forte demanda de importação e novas fontes de investimento. Enquanto essas oportunidades serão mais difíceis, em comparação à facilidade dos fluxos de capital da época de maiores estímulos do Fed, as recompensas serão muito mais duradouras. Mas, para aproveitá-las, os países, assim como os atletas, devem se esforçar para competir com êxito – por meio de políticas nacionais sólidas que promovam um ambiente de pró-concorrência ideal para negócios, um regime de comércio exterior atraente e um setor financeiro saudável.

Em muitos países, parte do desafio será reconstruir reservas macroeconômicas, esgotadas ao longo dos anos em função do estímulo fiscal e monetário. A redução dos déficits orçamentários e  a transição da política monetária para um plano mais neutro será particularmente difícil em países como os cinco frágeis, onde o crescimento está muito atrasado.

Como no caso de um atleta exausto que precisa recuperar sua força, é muito difícil para um líder político tomar duras medidas de reforma sob pressão. Mas, para as economias emergentes, fazê-lo é fundamental para de restaurar o crescimento, bem como melhorar o bem-estar dos cidadãos. Sobreviver à crise é uma coisa; sair vencedor é algo completamente diferente. 

O texto está disponível no site da VEJA.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Um estadista brasileiro nas ruas de New York.


Nas páginas amarelas de VEJA nesta semana, a inteligência do cientista político Luiz Felipe d’Avila na matéria “Procura-se um estadista”.

O entrevistado afirma que o Brasil precisa de um líder capaz de fazer as reformas institucionais sem as quais estamos condenados à mediocridade.

Para ele, os NOVE maiores estadistas brasileiros foram:
  • José Bonifácio de Andrada e Silva;
  • Joaquim Nabuco;
  • Dom Pedro II;
  • Prudente de Morais;
  • Campos Salles;
  • Rodrigues Alves;
  • Oswaldo Aranha;
  • Ulysses Guimarães;
  • Fernando Henrique Cardoso.

Como qualquer “lista”, evidentemente a do Luiz Felipe não representa a unanimidade (e nem deveria representar), mas é lamentável saber que a maioria dos brasileiros não conhece a maioria dos nove nomes acima.


São importantes nomes da nossa história, por nós pouco lembrados, mas que, por vezes, são reverenciados mesmo em outros países. É o caso de José Bonifácio de Andrada e Silva, que com uma bela estátua localizada no Bryant Park demonstra ao mundo a sua importância na história do Brasil.  

E continuamos aqui, neste ano de eleições presidenciais, ainda na busca de um(a) estadista.            

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Analfabetismo e Dólar: onde o primeiro lugar é um inferno.

Recentes charges nos cearenses O POVO e DIÁRIO DO NORDESTE mostram a visão bem humorada para situações graves e preocupantes, cada uma à sua maneira: o dólar que não para de subir e o analfabetismo brasileiro, quase um campeão mundial. 

Isso pode Arnaldo?



O dilema de Mantega neste início de 2014.

Com o dólar comercial fechando este janeiro de 2014 em R$ 2,412 e o Paul Krugman agora preocupado com a possibilidade de que os problemas turcos se espalhem pelos mercados emergentes do planeta, fevereiro promete fortes emoções. E o Nobel Krugman continua afirmando que “se essa é uma boa descrição de nossa situação, e acredito que seja, agora temos uma economia mundial destinada a viver na gangorra entre bolhas e depressões. E esse não é um pensamento encorajador, no momento em que contemplamos o que parece ser a explosão da bolha dos mercados emergentes”.

Alô Ministro Guido Mantega: pense primeiro na economia brasileiro e, se der tempo, pense na eleição presidencial.


O Brasil pode e deve melhorar. Em tudo.  

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Eleições: números que podem indicar o(a) eleito(a) em 2014.

Uma curiosidade “estatística” eleitoral neste início de 2014: pesquisando no Google alguns nomes atualmente citados como prováveis candidatos à Presidência da República, obtivemos os seguintes resultados:

  1. “Dilma Rousseff” – PT: 5.860.000;
  2. “Eduardo Campos” – PSB: 1.150.000;
  3. “Marina Silva” – PSB: 823.000;
  4. “José Serra” – PSDB: 791.000;
  5. “Luiz Inácio Lula da Silva” – PT: 740.000;
  6. “Aécio Neves” – PSDB: 728.000.


A pesquisa foi realizada com a citação do nome do candidato entre aspas, exatamente como relacionado acima.

O resultado comprova que quem está com o poder na mão, realmente já inicia a “competição” com uma folgada distância dos demais candidatos.

Por outro lado sinaliza em amarelo para quem obteve os menores números no resultado da pesquisa, que devem “divulgar” informações sobre o candidato, visando fazê-lo mais conhecido/pesquisado pelos eleitores.


Voltaremos a escrever sobre o assunto.  

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

The Huffington Post - agora no Brasil.

A partir de ontem temos em português o site da Arianna Huffington – o famoso www.huffingtonpost.com. Trata-se de um excelente jornal digital informando tudo que é realmente notícia no mundo. 

Leitura obrigatória pelo menos uma vez ao dia.  


Seja bem vindo.  

2014: o mundo com mais oferta e demanda.

 Oferta


Demanda

domingo, 12 de janeiro de 2014

Brasil: inflação de 5,91% em 2013.

Nota do BACEN sobre o resultado do IPCA em 2013. Por que o BACEN não cita na nota que a meta de inflação é 4,5% ao ano?

A inflação ao consumidor medida pelo IPCA encerrou 2013 em 5,9% (5,91%), mostrando resistência ligeiramente acima daquela que se antecipava. Essa resistência da inflação, em grande medida, se deveu à depreciação cambial ocorrida nos últimos semestres, a custos originados no mercado de trabalho, além de recentes pressões no setor de transportes

Não obstante a elevação ante os 5,8% (5,84%) observados em 2012, a inflação se posicionou dentro do intervalo de tolerância fixado para o ano, nos termos do Decreto 3.088, de 21 de junho de 1999, que estabelece os parâmetros para o Regime de Metas no Brasil, e da Resolução 3.991, de 30 de junho de 2011, que fixou a meta para a inflação e seu intervalo de tolerância para o ano de 2013. 


As novas caras da Economia.

Li na FOLHA extensa matéria sobre um grupo de 10 jovens economistas brasileiros que estão ofertando uma nova visão de estudo da nossa Economia. Abaixo os colegas em destaque:

GABRIEL ULYSSEA
COORDENADOR DA ÁREA DE MERCADO DE TRABALHO DO IPEA - Graduação em economia na UFRJ, com mestrado na PUC-Rio e doutorado em Chicago.

Estudos sobre a informalidade no mercado de trabalho acompanham o economista Gabriel Ulyssea desde o mestrado, na PUC-Rio. No ano passado, sua tese de doutorado (também sobre o tema) foi premiada pela Anpec (associação que reúne alunos de pós-graduação em economia).
Concluiu os estudos na Universidade de Chicago, orientado pelo Prêmio Nobel James Heckman.
Aos 34 anos, Ulyssea tem uma vivência de governo que o diferencia dos economistas de sua idade. Participou da formulação do Fundeb (fundo que provê recursos para o pagamento de professores do ensino básico), quando o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ainda era secretário de Tarso Genro, então ministro da Educação.
"Foi interessante ver a política sendo feita", diz. "É a maneira mais direta de impactar a realidade. Isso me motiva muito."
Entrou para o Ipea (instituto governamental de pesquisa econômica) e foi trabalhar com Ricardo Paes de Barros, referência nos estudos sobre desigualdade.
Em 2006, escreveu capítulos e ajudou Paes de Barros a organizar o livro "Desigualdade de Renda no Brasil: uma Análise da Queda Recente", reunião dos principais estudiosos do tema no país.
Isso tudo antes dos 27 anos, quando partiu para a Universi- dade de Chicago. Estudou como a informalidade afeta a rotina das empresas.
Constatou que a redução dos impostos na folha de pagamentos pode aumentar a formalização das empresas, mas pouco afeta a vida dos trabalhadores.
"Com o ganho de margem, elas podem contratar mais funcionários informais e há pouco impacto sobre os salários."
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MONICA DE BOLLE
PROFESSORA DA PUC-RIO - 
Graduação e mestrado em economia na PUC-Rio e doutorado na London School of Economics.

Monica Baumgarten de Bolle tem se destacado no debate público no país. Herdou o interesse pela economia do pai, Alfredo Luiz Baumgarten, ex-presidente da Finep, morto em 1990.
Depois do doutorado, foi trabalhar no FMI, no qual desenvolveu na prática seu interesse teórico por crises financeiras.
Estava no Fundo quando a Argentina entrou em default, em 2001. Antevendo os efeitos no Uruguai, pediu que ficasse responsável pelo país, que despertava pouco interesse na época.
Quando estourou a crise uruguaia, de Bolle foi uma das principais responsáveis pela bem-sucedida reestruturação da dívida do país, que serviria mais tarde de modelo para o caso da Grécia.
"Quando começou a crise, pensei: Que maneiro, lá vou eu'."
Seu chefe era Tim Geithner, posteriormente secretário do governo Obama. De volta ao Brasil, passou pelo mercado financeiro e foi trabalhar com Dionísio Carneiro na Galanto. Depois da morte de Carneiro, assumiu a consultoria e dá aulas na PUC-Rio.
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BERNARDO GUIMARÃES
PROFESSOR DA FGV-SP - 
Graduação em engenharia na USP, com mestrado em economia na USP e doutorado em Yale.

O que mais preocupa o economista Bernardo Guimarães, 41, é o Brasil estar entre os piores do mundo para fazer negócios. O mais recente "Doing Business", do Banco Mundial, colocou o país em 116º entre 189 economias.
"A inflação chegar a 6,5% não é uma tragédia. O pior é não termos, há anos, reformas que melhorem o ambiente de negócios", diz. "O que faz diferença em uma economia é produzir e contratar."
Em 2003, escreveu um artigo com Nouriel Roubini sobre países que recebem ajuda do FMI.
Depois de lecionar por seis anos na London Business School, decidiu voltar ao Brasil. Não tem pretensão de trabalhar no governo. "Eu sinto que ajudo mais o país ensinando as pessoas."
Economista de linha ortodoxa, diz que o termo não faz jus a pesquisadores como ele. "Ninguém quer reproduzir o passado, a ortodoxia. Queremos superá-la."
Dedica-se atualmente a pesquisar a relevância das instituições no desenvolvimento e a relação entre as expectativas e o desempenho econômico.
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JOÃO M. PINHO DE MELLO
PROFESSOR DO INSPER - 
Graduação em administração pública na FGV, mestrado na PUC-Rio e doutorado em Stanford.

Estudar eventos que aparentemente nada têm a ver com economia é a rotina de João Manoel Pinho de Mello, 40.
Em seus artigos recentes, há medições sobre os efeitos do Bolsa Família nos índices de criminalidade, do desarmamento nos homicídios e até do tempo de exposição na TV, no horário eleitoral, no sucesso dos candidatos nas eleições.
Sua área de atuação é a economia aplicada às ciências sociais. Atualmente, avalia se reduz a violência o fechamento dos bares às 23h, como manda a lei em algumas cidades do interior paulista.
"Minha área não existia no passado. Todos os economistas estudavam inflação; esse tema sugou a energia de duas gerações. Estudos voltados para assuntos como crime, saúde, economia bancária não existiam."
Em trabalho sobre concorrência, uma de suas especialidades, analisou as consequências da atuação dos bancos públicos no mercado. Constatou que eles tendem a "expulsar" os privados de alguns nichos, o que reduz a competição. "O que indica que a atual ação dos bancos públicos não é muito alvissareira."
Professor e pesquisador, diz ter vontade e trabalhar no governo, "mas depende dos termos". "Se é para aprovar políticas que eu considero fracassadas, não. Mas, se for possível ter um debate inteligente, eu iria", afirma.
Mello se intitula um economista "mainstream" e afirma que não entende muito os heterodoxos. "A imperfeição dos mercados está descrita no mainstream' há 70 anos."
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CARLOS EDUARDO GONÇALVES
PROFESSOR DA USP - 
Graduação em engenharia na USP, com mestrado e doutorado em economia na USP e pós-doutorado na London School of Economics.

Carlos Eduardo Gonçalves, 40, se dedica ao estudo da macroeconomia, mas com "cara de microeconomia", como diz.
O que significa estudar os grandes movimentos econômicos, como taxa de juros e inflação, atento a evidências, causas e consequências.
O objetivo é investigar pensamentos aparentemente consensuais, como se o dólar alto ajuda a indústria ou se economias abertas têm mais investimentos.
Em artigo publicado em 2008 com o economista João Moreira Salles demonstrou que, em 36 economias que adotaram o regime de metas, a inflação e a volatilidade do PIB se reduziram.
O economista prefere a coluna do meio quando o debate ruma para o confronto entre ortodoxos e heterodoxos.
"A ortodoxia do mercado financeiro não entende as falhas de mercado. A inflação baixa nem sempre é boa, na Europa ela é ruim agora. Às vezes o governo tem que intervir na economia", afirma. "Mas não existe tese sem estatística, sem modelo. Não aceito a heterodoxia do blá-blá-blá."
Já escreveu dois livros de economia para não economistas. E prepara um terceiro, em parceria com Bruno Giovannetti, da USP, com verbetes econômicos e financeiros, que deve se chamar "Econopédia".
É autor, com outros economistas, do blog "Economista X".
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ANDRÉ MODENESI
PROFESSOR DA UFRJ - 
Graduação em economia na PUC-Rio e em ciências sociais na UERJ, com mestrado na UFF e doutorado na UFRJ.

A lembrança da hiperinflação e a mudança na realidade provocada pelo Plano Real fizeram André Modenesi, 38, interessar-se pela economia. Com pós-graduação em ciências sociais, seu olhar, porém, foi moldado para a observação das pessoas.
Macroeconomista de orientação heterodoxa, foi influenciado por pesquisadores de John Maynard Keynes, como Fernando Cardim, na UFRJ. Mas isso não quer dizer que rejeite a estatística, contrariando os críticos dessa escola, que dizem que ela é divorciada da matemática.
"A economia não é uma ciência dura' como a física. Mas eu me preocupo em buscar regularidades empíricas", diz. "A diferença é a maneira de olhar."
Durante o doutorado passou um ano estudando com o americano Werner Baer, brasilianista na Universidade de Illinois.
"Fiz uma opção, a falta de conexão com a realidade torna a ortodoxia muito abstrata. Isso me incomoda", afirma. "Em geral os modelos estão precisos, mas a hipótese básica não faz sentido."
Atualmente, estuda os mecanismos de funcionamento do sistema de metas de inflação e quais os custos entre escolher mais juros ou menos inflação. "Não quero que a inflação volte, eu estudo isso há anos. Mas isso não impede que se façam balanços de custos e benefícios da política."
Considera que o modelo adotado no Brasil desde 1999 não tem obtido êxito porque os canais de comunicação do Banco Central com a realidade de empresas e consumidores emperraram no sistema bancário.
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MARCELO FERNANDES
PROFESSOR DA FGV-SP - 
Graduação em economia na UFRJ, com mestrado na FGV, doutorado na Solvay Business School Université Libre de Bruxelles e pós-doutorado no European University Institute.

Como um cientista, Marcelo Fernandes, 41, afirma que busca isolar os problemas econômicos para descrevê-los e analisá-los com rigor. A lente do economista são modelos matemáticos sofisticados.
"Em vez de pensar na pergunta e buscar os dados, encontre os dados e pense em quais perguntas pode fazer", afirma.
Dessa maneira, ele passou seis anos fazendo um estudo teórico que buscava testar a assimetria em uma distribuição, estatística pura. Depois disso, decidiu se reconciliar com dados reais.
É considerado um dos nomes mais promissores da econometria (estatística aplicada à economia) voltada às finanças.
Prepara um estudo, com Walter Novaes, da PUC-Rio, que busca estimar como a interferência do governo afetou as ações de empresas com participação estatal, mesmo minoritária.
Constatou que os papéis com direito a voto (ON), normalmente mais valiosos, perderam vantagem sobre as demais ações. "Houve uma expropriação dos sócios com direito a voto", diz.
De linha ortodoxa, diz que a contraposição com heterodoxos é debate que hoje só se encontra no Brasil.
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FLÁVIO CUNHA
PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DA PENSILVÂNIA - 
Graduação em economia na UFMG, mestrado na FGV e doutorado em Chicago.

O economista Flávio Cunha tem contribuído para pesquisas que mostram que boa parte da defasagem de desenvolvimento cognitivo existente entre jovens de famílias de baixa renda e aqueles com maior poder aquisitivo é gerada ainda na infância.
Publicou importantes estudos sobre esse tema em coautoria com o Prêmio Nobel James Heckman, um dos economistas que Cunha mais admira.
Professor-assistente da Universidade da Pensilvânia, Cunha tem no capital humano seu principal foco de estudo:
"O capital humano de um país determina, em parte, o potencial de crescimento de longo prazo de sua economia", afirma.
"O conhecimento, a experiência, as habilidades, a persona- lidade e até mesmo a saúde física e mental que uma pessoa possui são exemplos de diferen- tes componentes do seu capital humano."
Com base nos resultados de sua pesquisa e de outros economistas que estudam o mesmo tema, Cunha defende uma aten- ção maior das políticas públicas à pré-escola.
Como outros economistas de sua geração, diz que não pensa na divisão de sua área em termos de ortodoxia e heterodoxia.
Vê com otimismo o amplo debate na sociedade brasileira sobre a necessidade de melhorar a qualidade da educação.
Mas se preocupa com o pouco esforço para a coleta de dados necessários para a compreensão do que é necessário para essa empreitada.
Seus planos incluem aumentar sua participação científica no Brasil, já que boa parte do que pesquisa atualmente é baseada em dados dos EUA.
"Gostaria de coletar dados, estudar e implementar programas que venham a melhorar o desenvolvimento de capital humano no Brasil."
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RODRIGO SOARES
PROFESSOR DA FGV-SP - 
Graduação em economia na UFMG, mestrado na PUC-Rio e doutorado em Chicago.

O nível de criminalidade, a qualidade da saúde pública e as tendências demográficas têm forte impacto no desenvolvimento de um país.
A interação entre esses fatores e sua influência na produtividade da mão de obra são alguns dos objetos de estudo de Rodrigo Soares, um dos economistas brasileiros com maior número de pesquisas publicadas.
Atualmente professor da FGV-SP, Soares deu aula anteriormente na Universidade de Maryland e na PUC-Rio, depois de cursar doutorado em Chicago.
Diz ter encontrado um país diferente, melhor, quando voltou dos EUA, em 2005.
"Eu percebi um progresso grande em áreas como saúde e educação, com queda da mortalidade infantil e aumento das matrículas no ensino básico."
Mas acredita que, desde a década passada, o processo de melhorias estancou ou regrediu.
"Acho que a política pública baseada em evidência, em entender o que estava acontecendo, que prevaleceu de meados dos anos 1990 a 2000, foi um pouco deixada de lado."
Soares diz que gostaria de participar de um governo no futuro, embora não tenha isso como ambição ou objetivo.
Para ele, as tentativas de tratar a economia de forma ideológica afetam o debate acadêmico de forma negativa no Brasil.
"Acho que o debate seria mais produtivo se fosse focado em tentar entender políticas boas e ruins, com base em evidências."
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TIAGO BERRIEL
PROFESSOR DA PUC-RIO - 
Graduação e mestrado na PUC-Rio, doutorado em Princeton.

Orientado pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga no mestrado e pelo Nobel de Economia Christopher Sims no doutorado, Tiago Berriel, 33, dedica-se a analisar os efeitos das políticas monetária e fiscal.
Professor da PUC-Rio e responsável pela análise macroeconômica da gestora Pacífico, Berriel diz que sua formação é considerada tão ortodoxa que ele "nem sabe direito o que é o outro lado".
Tem interesse por questões como a independência do BC e os custos da política monetária.
Concluiu há pouco uma pesquisa em coautoria com Eduardo Zilberman sobre os efeitos macroeconômicos do Bolsa Família, avaliando seu impacto sobre a pobreza, a desigualdade de renda e a oferta de mão de obra.
"O Bolsa Família é uma decisão de política fiscal, por isso seus efeitos me interessam."
A recente deterioração das contas do governo o preocupa atualmente. Seu temor é que o mercado passe a apostar que a situação fiscal vai piorar.
Isso pode levar a uma forte desvalorização da moeda, com impacto negativo sobre a inflação, forçando o BC a elevar os juros:
"Essa é uma situação que pode ocorrer mesmo quando o país está com um nível de endividamento razoável, que é o caso do Brasil, mas a boa notícia é que não é difícil de consertar".

Diz que não tem como meta a vida pública, mas gosta do debate de ideias. "No fim, o objetivo das pesquisas é influenciar a formulação de políticas e o debate."

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

FHC em 2014: mudar o rumo.

Fernando Henrique em recente artigo no ESTADÃO e O GLOBO, comenta sobre o ano de 2014.

Ano Novo, esperanças de renovação. Mas como? Só se mudarmos o rumo. A começar pela visão sobre o mundo que ressurgirá da crise de 2007/08. O governo petista, sem o dizer, colocou suas fichas no “declínio do Ocidente”. Da crise surgiria uma nova situação de poder na qual os Brics, o mundo árabe e o que pudesse se assemelhar ao ex-terceiro mundo teriam papel de destaque. A Europa, abatida, faria contraponto aos Estados Unidos minguantes. Não é o que está acontecendo: os americanos saíram à frente, depois de umas quantas estripulias para salvar seu sistema financeiro e afogar o mundo em dólares, e deram uma arrancada forte na produção de energia barata. O mundo árabe, depois da Primavera, continua se estraçalhando entre xiitas, sunitas, militares, seculares, talibãs e o que mais seja; a Rússia passou a ser produtora de matérias-primas. Só a China foi capaz de dar ímpeto à sua economia. Provavelmente as próximas décadas serão de “coexistência competitiva” entre os dois gigantes, Estados Unidos e China, com partes da Europa integradas ao sistema produtivo americano e com as potências emergentes, inclusive nós, o México, a África do Sul e tantas outras, buscando espaços de integração comercial e produtiva para não perderem relevância.

Nessa ótica, é óbvio que a política externa brasileira precisará mudar de foco, abrir-se ao Pacífico, estreitar relações com os Estados Unidos e a Europa, fazer múltiplos acordos comerciais, não temer a concorrência e ajudar o país a se preparar para ela. O Brasil terá de voltar a assumir seu papel na América Latina, hoje diminuído pelo bolivarianismo prevalecente em alguns países e pelo Arco do Pacífico, com o qual devemos nos engajar, pois não deve nem pode ser visto como excludente do Mercosul. Não devemos ficar isolados em nossa região, hesitantes quanto ao bolivarianismo, abraçados às irracionalidades da política argentina, que tomara se reduzam, e pouco preparados face à investida americana no Pacífico.

Para que exportemos mais e para dinamizar nossa produção para o mercado interno, a ênfase dada ao consumo precisará ser equilibrada por maior atenção ao aumento da produtividade, sem redução dos programas sociais e demais iniciativas de integração social. A promoção do aumento da produtividade, no caso, não se restringe ao interior das fábricas, abrange toda a economia e a sociedade. Na fábrica, depende das inovações e do entrosamento com as cadeias produtivas globais, fonte de renovação. Na economia, depende de um ousado programa de ampliação e renovação da infraestrutura e, na sociedade, de maior atenção à qualificação das pessoas (Educação) e às suas condições de saúde, segurança e transporte. Sem dizer que já é hora de abaixar os impostos sem selecionar setores beneficiários e de abrir mais a economia, sem temer a competição.

Isso tudo em um contexto de fortalecimento das instituições e práticas democráticas e de redefinição das relações entre o governo e a sociedade, entre o Estado e o mercado. Será necessário despolitizar as agências reguladoras, robustecê-las, estabilizar os marcos regulatórios, revigorar e estimular as parcerias público-privadas para investimentos fundamentais. Noutros termos, fazer com competência o que o governo petista paralisou nos últimos dez anos e que o atual governo, de Dilma Rousseff, vê-se obrigado a fazer, mas o faz atabalhoadamente, abusando do direito de aprender por ensaios e erros deixando no ar a impressão de amadorismo e a dúvida sobre a estabilidade das regras do jogo. Com isso, não se mobilizam, no setor privado, os investimentos na escala e na velocidade necessárias para o país dar um salto em matéria de infraestrutura e produtividade.

Mordido ainda pelo DNA antiprivatista e estatizante, persiste o governo atual nos erros cometidos na definição do modelo de exploração do pré-sal. A imposição de que a Petrobras seja operadora única e responda por pelo menos 30% da participação acionária em cada consórcio, somada ao poder de veto dado às PPSA nas decisões dos comitês operacionais, afugenta número maior de interessados nos leilões do pré-sal, reduz o potencial de investimento em sua exploração e diminui os recursos que o Estado poderia obter com decantado regime de partilha. É ruim para a Petrobras e péssimo para o país.

Além de insistir em erros palmares, o atual governo faz contorcionismo verbal para negar que concessões sejam modalidades de privatização. É patético. Também para negar a realidade, se desdobra em explicações sobre a inflação, que só não está fora da meta porque os preços públicos estão artificialmente represados, e sobre a solidez das contas públicas, objeto de declarações e contabilidades oficiais às vezes criativas, não raro desencontradas, em geral divorciadas dos fatos.

Tão necessário quanto recuperar o tempo perdido e acertar o passo nas obras de infraestrutura, será desentranhar da máquina pública e, sobretudo, nas empresas estatais (felizmente nem todas cederam à sanha partidária), os nódulos de interesses privados e/ou partidários que dificultam a eficiência e facilitam a corrupção. Não menos necessário será restabelecer o sentido de serviço público nas áreas sociais, de Educação, Saúde e reforma agrária, resguardando-as do uso para fins eleitorais, partidários ou corporativos. Só revalorizando a meritocracia e com obsessão pelo cumprimento de metas o Brasil dará o salto que precisa dar na qualidade dos serviços públicos. Com uma carga tributária de 36% do PIB, recursos não faltam. Falta uma cultura de planejamento, cobrança por desempenho e avaliação de resultados, sem “marketismo”. Ou alguém acredita que mantido o sistema de cooptação, barganhas generalizadas, corrupção, despreparo administrativo e voluntarismo, enfrentaremos com sucesso o desafio?


É preciso redesenhar a rota do país. Dois terços dos entrevistados em recentes pesquisas eleitorais dizem desejar mudanças no governo. Há um grito parado no ar, um sentimento difuso, mas que está presente. Cabe às oposições expressá-lo e dar-lhe consequências políticas. É a esperança que tenho para 2014 e são meus votos para que o ano seja bom.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

domingo, 29 de dezembro de 2013

O governo rendeu-se.

Leio na FOLHA editorial sobre os rumos da política econômica neste final de 2013 e início de 2014. E destaco que, lamentavelmente, o mundo dos políticos é muito diferente do nosso mundo.   

Muito a contragosto, o governo rendeu-se às críticas de que sua política econômica conduziria o país a uma crise grave. 

Premido pelo esvaziamento de seus cofres, rendeu-se ao fato de que não pode continuar a gastar como nos primeiros anos de Dilma Rousseff.

Acuado pelo risco de fracasso das privatizações de serviços públicos, rendeu-se à necessidade de reformular os leilões de concessão.

Rendeu-se ainda à necessidade de dar combate direto à inflação, e a taxa básica de juros voltou a subir. Rendeu-se ao descrédito e malogro de sua política de controlar preços, diretamente ou por meio de desonerações de impostos, embora os desarranjos ainda permaneçam, maquiando e reprimindo artificialmente a inflação.

O esgotamento do arsenal de medidas de estímulo econômico e de intervenção em preços e rendas não resultou em progresso nem segundo os critérios do governo.

A presidente e seus ministros diziam no início de 2011 que a economia cresceria a 6% ao ano; mudaram para 4,5% em 2012. No final do ano passado, acreditavam em expansão de 4% neste 2013. Na média anual, o PIB do triênio não terá avançado mais de 2%.

Seria difícil ter crescido muito mais que isso, sob qualquer governo. No início dos anos Dilma, o país tinha de lidar com os problemas da crise mundial, os excessos do final da gestão Lula, os efeitos de quase meia década de inércia reformista, entre outros obstáculos.

Mas é lamentável que o triênio tenha sido perdido em tentativas pueris de estimular a economia no curto prazo, como se o país estivesse pronto para deslanchar.

Impressionado pelas ruas, pelo descrédito internacional, pelo aumento das taxas de juros no mercado doméstico, o governo cedeu. Até sua estimativa de crescimento é mais modesta para 2014: "melhor que o deste ano", apenas.

Ainda assim, não se percebe atitude positiva do governo. Desistiu de acumular equívocos, mas não deu provas de que vai reformular de modo decisivo sua política. Se por mais não fosse, 2014 é ano de eleição. Convém não fazer marolas, não desagradar nem a comunidade financeira nem o eleitorado.

Seria ingênuo, pois, reivindicar que fizesse logo o ajuste necessário para o país retomar ao menos o caminho da normalidade, tendo, assim, condições de refletir sobre alternativas de desenvolvimento.

Normal seria o governo ao menos controlar sua dívida. Desistir de reprimir preços --arbitrariedade que, por exemplo, avaria a mais importante empresa do país, a Petrobras. Normal seria o realismo tarifário no setor elétrico, nos serviços públicos a conceder; seria a redução de subsídios caríssimos a empresas, por meio do BNDES.


Trata-se de uma proposta muito modesta, nada além de um primeiro e pequeno passo para que o Brasil se habilite a planejar e modificar o seu futuro, nublado por três anos de imediatismos simplórios e, obviamente, ineficazes.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...