terça-feira, 6 de setembro de 2011

Desemprego deve cair ainda mais em 2011.


JOÃO SABÓIA,  professor titular do Instituto de Economia da UFRJ, escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE S. PAULO.

Há muitos anos o mercado de trabalho no Brasil não mostrava indicadores tão favoráveis. O país passa por uma situação nova, levando alguns a afirmar que estaríamos vivendo praticamente a situação de "pleno emprego".

Vejamos: a taxa de desemprego vem caindo desde 2004. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, em julho deste ano atingiu 6%, menor valor para o mês desde o início da série.

O emprego com carteira assinada não para de crescer, com mais de 1,4 milhão de empregos gerados em 2011 até julho, conforme o Caged.

O rendimento médio dos trabalhadores mantém-se em alta, com aumento de 4% nos últimos 12 meses. A combinação de crescimento do emprego e dos salários representou um aumento de 6% na massa total de rendimentos nas seis regiões metropolitanas cobertas pela PME do IBGE.

É verdade que tem havido alguns sinais desaquecimento da economia. Os dados divulgados pelo IBGE (sobre o PIB) são sintomáticos, sobretudo no setor industrial.

De qualquer forma, não deve ser esquecido que o terceiro trimestre é aquele em que a economia costuma se encontrar no auge.

Por outro lado, o pagamento do 13° salário e as festas natalinas favorecem o mercado de trabalho nos últimos meses ano. Portanto, não será surpresa se em dezembro a taxa de desemprego cair para algo próximo a 5%, como ocorrido em 2010.

Finalmente, cabe lembrar que o próximo ano começará com um vigoroso reajuste para o salário mínimo, que deverá atingir cerca de R$ 620.

Dentro dessa conjuntura, as perspectivas para novos aumentos reais nos rendimentos dos trabalhadores parecem positivas e devem favorecer as negociações salariais até o final do ano. Eventualmente os trabalhadores da indústria poderão encontrar mais dificuldades para obter ganhos mais favoráveis por conta da desaceleração.

As dúvidas ficam para 2012, na dependência do que vai ocorrer com a economia.

Um viva para o Copom.


Antonio Delfim Netto, professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, escreve hoje no VALOR ECONÔMICO, sua forte defesa na redução da taxa de juros: um viva para o Copom.
A indignada e quase raivosa reação de alguns analistas, que se supõem portadores da "verdadeira" ciência monetária, à recente decisão do Copom, de baixar 50 pontos na Selic, revela que, para eles, a sacrossanta "independência" do Banco Central só é reconhecida quando esse decide de acordo com os conselhos que eles, paciente, gratuita e patrioticamente, lhe dão todos os dias, através da mídia escrita, radiofônica e televisiva.
Qualquer desvio só pode ser atribuído e explicado pela "pecaminosa" intervenção do governo que teria jogado a toalha: abandonou a "meta de inflação" e colocou em seu lugar a "meta de crescimento do PIB", não importa a que "custo inflacionário"...
Trata-se, obviamente, de uma acusação irresponsável, injusta e arrogante. Irresponsável, porque colhida furtivamente de "fontes preservadas", que podem não passar de pura e conveniente imaginação, desmentida, aliás, pelos votos divergentes. Injusta, porque pela primeira vez, em quase duas décadas, o Banco Central mostrou que é, efetivamente, um órgão de Estado com menor influência do setor financeiro privado. Arrogante, porque supõe que nenhuma outra visão e interpretação alternativa da realidade diferente da sua possa existir.
O mundo está literalmente vindo abaixo e sugere-se que o Copom deveria repetir o dramático erro de 2008: "Esperar para ver"! Vacilamos quando podíamos ter reduzido a taxa de juro real. Tínhamos um pouco menos de musculatura do que agora, mas poderíamos ter assegurado uma redução muito menor e uma recuperação mais rápida do financiamento do "circuito econômico". Na minha opinião (que é apenas uma opinião impressionista), poderíamos ter crescido qualquer coisa como 2% ou 3% em 2009, em lugar de registrar queda do PIB de 0,6% e, ao mesmo tempo, ter reduzido dramaticamente a taxa de juros real.
As medidas fiscais e monetárias tomadas recentemente pelo governo (nas quais, aliás, tais analistas não acreditavam) estão reduzindo a taxa de crescimento a uma velocidade maior do que se esperava. Com o crescimento do PIB dessazonalizado de 0,8%, do segundo trimestre sobre o primeiro, e a enorme redução da expansão da indústria, é muito pouco provável que o PIB do ano cresça fora do intervalo de 3% (se o crescimento nos terceiro e quarto trimestres for zero) a 3,6% (na hipótese pouco provável de que cresçam também 0,8%).
Mas afinal o que se espera, ainda, das taxas de juros? Que controlem a inflação ou derrubem mais o crescimento? Todos os bancos centrais (mesmo os que não têm isso nos seus estatutos) olham para o nível de atividade e sabem que a política monetária tem efeitos com defasagens variáveis. Devem olhar não apenas a taxa de inflação futura, mas também para o ritmo de crescimento futuro. E devem ser realistas quanto às condições físicas objetivas que levam ao altíssimo custo social de tentar corrigir desajustes estruturais (como é o caso do ajuste qualitativo entre a oferta e a demanda no mercado de trabalho) reduzindo o crescimento do PIB à custa do aumento da taxa de juros real, com o que se destrói, colateralmente, o equilíbrio fiscal.
Os números externos pioram a cada dia. Na última semana de agosto: 1) no teatro de Jackson Hole, o Fed, o BCE e o Banco da Inglaterra mostraram as suas perplexidades. O mundo tomou conhecimento da receita acaciana de Bernanke: "Farei o que tenho que fazer", sem especificar do que se trata. Remeteu a incerteza para 21 e 22 de setembro, na nova reunião do Fomc; 2) as perspectivas de crescimento mundial caíram para 2,5% (com viés de baixa, contra 3,9% em 2010); 3) o crescimento dos EUA foi reduzido a 1,4% (contra 3%); 4) a Eurolândia, com a redução do crescimento da Alemanha, talvez para 2%; e 5) a China estima crescer 8,7% (contra 10,3% em 2010).
É hora do Brasil pôr as suas barbas de molho: 1) reforçar, como está fazendo, o equilíbrio fiscal de longo prazo e aprovar as medidas que estão no Congresso com o mesmo objetivo; 2) manter sob controle as despesas de custeio e melhorar a qualidade do financiamento da dívida interna; e 3) adotar medidas microeconômicas para corrigir os desequilíbrios do mercado de trabalho, o que, obviamente, não pode ser feito com manobra da taxa de juros.
Isso possibilitará ao Banco Central, diante do complicado quadro interno e externo, prosseguir, com cuidado, mas persistência, a necessária redução da nossa taxa de juros real, abrindo espaço para o investimento público.

Viva o Povo Brasileiro!


Nossa homenagem ao Povo Brasileiro neste 7 de Setembro de 2011. 

Brasília, 6 de setembro de 2011.
Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Amanhã é 7 de setembro. O significado desta data não precisa ser explicado a nenhum de nós. Mas necessita, a cada dia, ser renovado por todo brasileiro e por toda brasileira.
189 anos atrás, quando o Brasil se libertou, o mundo passava por grandes mudanças políticas, sociais e econômicas. Hoje, também vivemos um momento de transformação. O mundo enfrenta os desafios de uma grave crise econômica e cobra respostas novas para seus problemas.
Apesar de ter a mesma raiz, a crise atual é mais complexa que aquela de 2008, da qual nós nos saímos muito bem.
Os países ricos se preparam para um longo período de estagnação ou até de recessão. Mas a crise não nos ameaça fortemente, porque o Brasil mudou para melhor.
Nosso Brasil, por ter sido, nos últimos anos, um país que se transformou, que soube fortalecer e ampliar as oportunidades de trabalho, seu mercado interno e o poder de consumo de sua gente, está plenamente preparado para enfrentar mais este desafio.
Aqui, o emprego e a renda batem recordes históricos. Nossas reservas internacionais estão mais sólidas do que nunca. O crédito continua crescendo e a inflação está sob controle. Os juros voltaram a baixar e a estabilidade da economia está garantida. Ou seja, por mérito exclusivo do povo brasileiro, o nosso país tem melhorado, enquanto boa parte do mundo desenvolvido, infelizmente, piora. Mesmo assim, estaremos bem atentos para evitar qualquer efeito mais grave da crise internacional.
Estar atento não significa ficar com medo ou ficar paralisado. Ao contrário, vamos continuar trabalhando, consumindo, abrindo e ampliando empresas, plantando e colhendo os frutos da nossa agricultura. Vamos prosseguir, a todo vapor, com nossos investimentos em infraestrutura e com nossos programas sociais.  Esta é uma decisão do Governo e a vontade do povo brasileiro.
Queridas amigas e queridos amigos,
Nossa situação é, de fato, privilegiada em relação a muitos países do mundo. Mas ainda estamos aquém do que podemos e do que necessitamos.
O Brasil tem muito espaço para crescer - e o povo brasileiro tem motivos de sobra para ter esperança em um futuro ainda melhor.
Precisamos crescer não só em termos de economia e de mercado. Não só em consumo de bens, mas, igualmente, na melhoria da qualidade e do acesso aos serviços públicos.
Fortalecer a economia e, ao mesmo tempo, ampliar o acesso de todos os brasileiros a uma melhor educação, a uma melhor saúde e a uma melhor segurança são as armas mais decisivas contra qualquer tipo de crise.
No caso da atual crise internacional, nossa principal arma é ampliar e defender nosso mercado interno que já é um dos mais vigorosos do mundo. Por isso, quero deixar bem claro que o meu governo não irá permitir ataques às nossas indústrias e aos nossos empregos. Não vai permitir, jamais, que artigos estrangeiros venham concorrer, de forma desleal, com os nossos produtos.
Meus amigos e minhas amigas,
A saúde, a educação e a segurança têm que deixar de ser motivo de insônia dos brasileiros para ser motivo de um novo despertar desta Nação.
O círculo virtuoso que precisamos implantar no nosso país é o da qualidade dos nossos serviços públicos, pois já implantamos o grande círculo virtuoso do crescimento com inclusão social e distribuição de renda. Esta é - e sempre será - uma das preocupações centrais do meu governo.
Sei que não é uma tarefa fácil, inclusive porque, na complexidade da vida em sociedade, cada conquista faz surgir um novo desafio. Por exemplo, vivemos a melhor época do emprego da história do Brasil. Mas o que também acontece? Temos setores com vagas não preenchidas por falta de mão de obra qualificada.
Por isso, estamos ampliando o grande esforço que o Brasil fez no governo Lula, e, até 2014, vamos criar mais quatro novas universidades; mais 47 extensões universitárias; e mais 208 novas escolas de educação profissional e tecnológica.
Vamos reforçar o ProUni - que atingiu, no mês passado, a marca de 912 mil estudantes beneficiados - e vamos também mandar 75 mil estudantes, com bolsas pagas pelo governo federal, para estudar em excelentes universidades no exterior.
Tão logo seja aprovado pelo Congresso Nacional, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - o Pronatec - vai começar a capacitar para o trabalho 8  milhões de brasileiros nos próximos quatro anos. Ele vai beneficiar estudantes do ensino médio, vai ajudar trabalhadores desempregados a recomeçarem a vida profissional e vai abrir as portas do mercado de trabalho para milhares de brasileiros que deixem o Bolsa Família.
Minhas amigas e meus amigos,
A saúde tem sido o grande desafio de todos os governos do mundo. Dá para contar nos dedos os países ricos que oferecem saúde gratuita e de qualidade. O Brasil pode conseguir isso, em poucos anos, com o esforço dos governos e da sociedade.
Ainda temos sérios problemas na saúde, mas já somos, por exemplo, o campeão mundial na distribuição de remédios gratuitos. Estamos aumentando a prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama e do colo de útero. Lançamos o Rede Cegonha, que começa a garantir melhor pré-natal, atenção no parto e cuidado às crianças até os 24 meses de vida. Estamos ampliando o número de UPAs e de Unidades Básicas de Saúde.
Um ponto vital une a questão da saúde e a da segurança - o combate às drogas. Como já tive oportunidade de dizer, precisamos enfrentar as drogas, em especial o crack, com muita autoridade contra os traficantes e muito apoio para quem é vítima do vício.
Este trabalho já começou e vamos ampliá-lo ainda mais. Em uma ponta, estamos implantando o sistema mais amplo e permanente de controle das nossas fronteiras, para evitar a entrada de drogas e de armas vindas de outros países.
Na outra ponta, vamos lançar, dentro de alguns dias, uma grande rede de cuidados em saúde mental, crack, álcool e outras drogas. Esta rede será composta pelas comunidades terapêuticas, pelas unidades de acolhimento, pelas enfermarias especializadas e pelos consultórios de rua, que vão garantir ao cidadão e à sua família alternativas de atenção e cuidado, 24 horas por dia, em todo o Brasil.
Meus amigos e minhas amigas,
Fico feliz, como Presidenta e como brasileira, de poder anunciar e comentar com vocês assuntos desta importância, na véspera do Sete de Setembro. São provas de um país que luta, sem parar, para superar os seus problemas, para ser cada vez mais independente.
Um país, por exemplo, que tem, de um lado, um plano da dimensão do Brasil Sem Miséria, que está retirando 16 milhões de brasileiros da pobreza extrema. E de outro, o Brasil Maior, um programa de defesa e incentivo à indústria nacional. Um país que tem programas como o Super Simples, e o Crescer, que reduzem impostos, burocracia, ampliam o crédito e garantem aposentadoria e outros benefícios, para milhões de micro e pequenas empresas e empreendedores individuais. Programas que ajudam a realizar o sonho de milhões de brasileiros de ter seu próprio negócio. Em suma, o sonho de ser independente.
Um país que equilibra grandes e pequenos projetos. Que tem, por exemplo, um dos maiores programas de infraestrutura do mundo, o PAC, e um dos maiores programas de habitação popular, o Minha Casa Minha Vida.
Um país abençoado de riquezas, como o Pré-Sal, e capaz de transformar estas riquezas em bem estar para o seu povo. Um país que tem rumo e sabe da grandeza do seu destino. Um país que, com o malfeito, não se acumplicia jamais. E que tem na defesa da moralidade, no combate à corrupção, uma ação permanente e inquebrantável.
Um país que vem surpreendendo o mundo com seu progresso, mas que sabe que precisa avançar ainda mais. Sabe que precisa melhorar mais, não para mostrar ao mundo que temos valor, mas, para mostrar a nós mesmos que o maior valor que podemos alcançar é o de garantir a qualidade de vida dos 190 milhões de brasileiros.
Viva o Sete Setembro! Viva o Brasil! Viva o Povo Brasileiro!

O regime de metas para inflação agoniza

Gustavo Loyola, doutor em economia pela EPGE/FGV, foi presidente do Banco Central e é sócio-diretor da Tendências Consultoria Integrada, em São Paulo, escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO que “o regime de metas para inflação agoniza”.



Com a surpreendente decisão de reduzir os juros em meio ponto percentual, o Banco Central subverteu alguns princípios basilares do regime de metas para inflação. Esse regime, como se sabe, implica que o BC, embora possuindo autonomia operacional em relação aos agentes políticos, tenha “discricionariedade limitada” na política monetária. A limitação na discricionariedade do BC vem não apenas da própria meta numérica — que deve ser observada pelo BC, embora não seja por ele fixada — como também da transparência de que deve se revestir a execução da política monetária. Por isso a importância da “ritualística” das reuniões pré-agendadas do Copom, da divulgação periódica das atas dessas reuniões e dos relatórios de inflação, do comparecimento regular dos dirigentes do BC ao Congresso, etc. No regime de metas, domina o pressuposto básico de que as expectativas são importantes e que cabe ao BC coordená-las, utilizando meios de comunicação transparentes.



Ora, na decisão da semana passada, quase nada disso foi observado. O BC surpreendeu o mercado, de forma mais ou menos gratuita. Não se configurava uma situação excepcional em que o BC pode (e em algumas vezes deve) surpreender ou se contrapor às expectativas de mercado. Ao contrário, as expectativas sobre a decisão do BC estavam “ancoradas” na manutenção dos juros, o que se alinhava com toda a comunicação anterior, formal ou informal, do BC com os agentes econômicos. Nada indicava que o Copom tivesse como cenário básico um choque desinflacionário vindo do exterior que demandasse o imediato afrouxamento monetário no Brasil.



Longe disso. Não apenas os números, efetivos e projetados, da inflação doméstica continuavam muito fora da meta, como também a tônica das manifestações do BC levava a crer que sua visão do balanço de riscos colocava ainda peso maior no risco inflacionário, a exigir, portanto, uma política monetária relativamente mais apertada. Vale ressaltar, a propósito, que a recente decisão do Copom foi a primeira vez, no regime de metas, que o Comitê reverteu o sinal do movimento dos juros de uma reunião para outra, sem um período transicional mínimo.



A desobediência à ritualística mínima é sinal de que tal regime não mais será observado na prática



De forma inusitada, aliás, quem fez um esforço de coordenar as expectativas foi a própria presidente da República que, na véspera da reunião do Copom, admitiu a possibilidade de redução das taxas de juros, a partir do aumento da meta fiscal para 2011.



Lastimavelmente, a manifestação da presidente, antecipando o corte das taxas, acabou por lançar dúvidas sobre a autonomia operacional do BC, pressuposto fundamental para o funcionamento do regime de metas para a inflação.



Portanto, a derrubada dos juros acabou por ter consequências muito além de seus efeitos sobre a inflação e as expectativas. A desobediência à ritualística mínima do regime de metas inflacionárias pode ser entendida como sinal de que tal regime não mais será observado na prática, já que o BC teria adquirido “discricionariedade ilimitada” ou, na hipótese pior, teria deixado de ser operacionalmente autônomo na execução da política monetária. Em ambas as situações, as consequências da decisão do Copom sobre a funcionalidade do regime de metas no futuro são graves, mesmo se “ex-post” a avaliação prospectiva do cenário macroeconômico pelo BC vier a se mostrar correta.



Adicionalmente, não sendo bastante o atropelamento das expectativas pelo BC, o cenário com o qual a instituição justifica o corte da taxa de juros se mostra muito pouco provável, embora, evidentemente, não se possa atribuir a ele uma probabilidade igual a zero.



O longo comunicado divulgado pelo BC após a reunião do Copom menciona como razão principal para sua decisão a “substancial deterioração” do cenário internacional que manifesta viés desinflacionário “no horizonte relevante”. Essa piora do ambiente externo, na visão do BC, intensificará o processo em curso de moderação de atividade doméstica, o que melhora o balanço de riscos para inflação, ajudado ainda pela revisão do cenário da política fiscal. Assim, o corte de juros seria uma forma de mitigar tempestivamente os efeitos de um ambiente global mais restritivo.



Ocorre que esse não é o cenário mais provável. Embora se possa esperar crescimento muito modesto das economias desenvolvidas em 2012, tal cenário não deve provocar efeitos desinflacionários relevantes sobre o Brasil, onde a demanda doméstica sustenta a atividade econômica. Além disso, a moderação na atividade hoje observada ainda é muito leve para trazer a inflação de volta a um patamar compatível com a meta de 4,5% em 2012. Por sua vez, com relação à “revisão do cenário fiscal”, a proposta de orçamento para 2012, divulgada no mesmo dia da decisão do Copom, deveria levar o BC a ser mais conservador na política monetária e não o contrário, pois prevê queda relevante do superávit primário em relação ao ano anterior (2,5% contra 2,9%).



Pelas razões acima apontadas, o regime de metas para inflação encontra-se num momento crítico no Brasil. È uma triste constatação, principalmente porque, da chamada “tríade” da estabilidade macroeconômica resta pouco: o câmbio é cada vez menos flutuante e a política fiscal, cada vez menos superavitária.

Guerra cambial e comércio.

RUBENS RICUPERO, hoje na FOLHA DE S. PAULO, escreve sobre o assunto do momento: “Guerra cambial e comércio”.



Numa recessão mundial prolongada, o pior risco para o Brasil parece ser o do câmbio e das importações, mais que o da falta de recursos financeiros externos.



Com reservas suficientes, oportunidades de investimento atrativas e sem os problemas de endividamento dos anos 1930 e 1980, as condições para enfrentar uma nova crise de contração são razoavelmente melhores que no passado.



De maneira geral, quase todos os indicadores internos são superiores aos históricos: crescimento e inflação moderados, deficit e endividamento inferiores à média mundial, consumo e crédito em expansão, geração de empregos formais, aumento da massa salarial, redução da pobreza e da desigualdade.



Mesmo o contexto internacional não é uniformemente negativo. Um dos paradoxos atuais é vivermos um momento bipolar na economia em pleno auge da globalização, que deveria unificar as reações dos mercados em escala planetária.



Nos 30 e até nos 80, China, Índia, Ásia, contavam pouco (exceto o Japão) como destino de nossas exportações. A conversão da China no primeiro mercado brasileiro é mutação sugestiva de que somos um dos maiores beneficiários da emergência asiática.



Qual é, então, o perigo no quadro de agravamento da crise mundial? É deixar que o principal motor da economia nessa emergência, a capacidade de expansão do mercado doméstico, ser ocupada por importações favorecidas pela moeda apreciada. A coincidência do aumento do consumo com a estagnação da indústria nacional demonstra que a expansão já está sendo capturada pelas importações.



Recente pesquisa coordenada pela nossa mais atualizada e experiente especialista em Organização Mundial de Comércio (OMC), Vera Thorstensen, professora da FGV, comprova que o real apresenta desalinhamento de 30% para mais. Enquanto isso, o dólar dos EUA está com subvalorização de 10% para menos, e a moeda chinesa vale entre 20 e 30% menos que deveria.



Em consequência, o câmbio anula as tarifas negociadas pelo Brasil na OMC. Vai além: atua como subsídio indireto e estímulo às importações, sobretudo chinesas. É conversa fiada nessas condições falar em negociar acordos, bilaterais ou de qualquer natureza.



Negociar o quê, se as tarifas cuja redução constitui boa parte das negociações já estão sendo eliminadas pelo câmbio?

O Brasil conseguiu que a OMC examine a relação entre câmbio e comércio. Até agora aceitou-se apenas encomendar estudos. São mínimas as chances de obter remédio efetivo em tempo hábil.



Na Rodada Uruguai, apesar de um grupo de negociação especial, não se logrou mais que uma declaração genérica sobre a falta de coerência entre o sistema comercial, de um lado, e o sistema monetário e financeiro, do outro. Para nós não se trata de ameaça hipotética e futura. A invasão de importações favorecidas pelo desalinhamento do câmbio salta aos olhos.



Na falta de quadro legal internacional, temos de achar instrumentos nacionais para neutralizar com urgência efeitos comerciais da anarquia cambial. Não para erigir barreiras novas, mas para manter as mínimas indispensáveis.

domingo, 4 de setembro de 2011

O desabafo de um economista após o Copom.


Eduardo Campos, em matéria no Valor Econômico, relata o desabafo de um colega sobre a última decisão do Comitê de Política Monetária. Cada uma que faça a sua análise e entenda como deve ser. Mistérios políticos e complexos econômicos.

Nesta semana, como já é de notório saber, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) surpreendeu a todos com uma redução de meio ponto percentual na taxa básica de juros. A Selic caiu de 12,50% para 12%, contrariando a previsão dos economistas, que apontavam para estabilidade do juro, e até mesmo de parcela do mercado, que vinha embutindo na curva futura a chance de corte, mas de 0,25 ponto percentual.
De fato, nunca na história o BC fez tal guinada de rumo, saindo de alta em uma reunião para queda na seguinte. Os economistas não compraram a explicação dada pelo BC para tal ação extrema. A piora de cenário externo pegando inflação ainda não parece fato, bem como o aceno de maior austeridade do governo.

Abaixo a íntegra de uma carta enviada à redação pelo economista Henrique de La Rocque, atualmente gestor da Brasif Gestão, mas com passagem pelo banco BVA, mesa de operações da Petros e gestor de renda fixa da Meta Asset:

O Fim da Credibilidade
"Trabalho no mercado há aproximadamente quinze anos, a maioria deles focado no mercado de juros. Reuniões do Copom sempre foram um evento importantíssimo na minha vida. Minha esposa, às quartas-feiras, sempre pergunta: hoje tem reunião do Copom ou podemos marcar algo à noite?
Peguei os governos de FHC e Lula e os bancos centrais de Armínio Fraga e Henrique Meirelles. Sempre fui um defensor assíduo do BC e, muitas vezes, fui taxado até de inocente por acreditar na independência do mesmo. Não tenho dúvidas de que vi muito mais acertos do que erros, daí vem meu respeito e admiração aos dois comandantes acima citados.
A decisão tomada pelo Copom na noite de ontem veio como um banho de água fria nessa minha crença. Antes de mais nada quero deixar claro que, apesar de julgar muito difícil, o BC pode até sair como vitorioso nessa história, caso a crise realmente venha a piorar muito e, de fato, tornar essa queda nos juros correta. Mas, pelos dados e pelo cenário que temos hoje, a queda foi, no mínimo, sem juízo! Além disso, quero deixar claro também que não mais trabalho com o mercado de juros e não tinha nenhuma aposta para esse Copom. O desabafo aqui é imparcial, apenas filosófico.
O cenário mundial mudou nos últimos 45 dias, quando o BC ainda estava subindo os juros? Sim, claro. A piora da crise europeia e o rebaixamento dos EUA trouxeram à tona o risco real de um mundo de crescimento baixo (não acredito em recessão) por 3 ou 4 anos. O Fed disse (como nunca tinha feito antes) que os juros ficarão perto de zero até 2013 e os títulos da dívida americana estão e ficarão em mínimas históricas por muito tempo.
Mas, e o Brasil nessa história? Sofreremos com a crise com certeza. Entretanto, a função do Banco Central é trabalhar para que a meta de inflação seja cumprida (ou será que isso já ficou para trás?). Não sou especialista em inflação, mas todos os dados que temos à disposição nos mostram que teremos uma inflação muito perto da banda superior da meta em 2011 e uma séria ameaça a essa banda em 2012. Todos sabemos das pressões que teremos na inflação no fim do ano, principalmente com o forte reajuste do salário mínimo. Os principais índices de ações já devolveram mais de metade das fortes quedas que tivemos em agosto. As commodities também.
Nos dias anteriores à reunião, tivemos o anúncio do aumento do superávit fiscal (na prática, nada demais) e um discurso onde a presidente Dilma pediu juros menores. Além disso, os contratos futuros de juros entraram em uma queda vertiginosa. Todos ficamos nos perguntando o que estaria acontecendo, qual o motivo da queda, dado que qualquer análise fria e correta (seja por parte de operadores ou economistas) mostrava que a queda de juros por parte do Copom era praticamente descartável.
O parágrafo acima me faz perder a credibilidade no BC: a decisão foi claramente política! Descobrimos que, pelo menos esse Banco Central, mudou de função: a meta agora é de crescimento, não mais de inflação, e que quem estabelece essa meta são a Fazenda e o Planalto.
Sinceramente espero que o mercado olhe para essa decisão de uma forma menos crítica e preocupada que a minha, e que continue vendo com muitos bons olhos o Brasil. E que todo o bom trabalho que temos feito no governo, inclusive de limpeza na corrupção, não seja desperdiçado. E mais, que a credibilidade lentamente conquistada na última década não se vá em uma reunião."

Por que não me ufano do meu país.


Tenho vários colegas orgulhosos que o Brasil vai sediar a Copa do Mundo, as Olimpíadas, está conseguindo ser o “motor” do desenvolvimento dos países de primeiro mundo,  etc etc etc. Eu, brasileiro, fico muito triste em ver absurdas e abusadas situações repetidas sem um fim. Sempre surge um problema pior do que o outro. Toda semana as revistas trazem um novo escândalo. E temos ainda que conviver com uma famigerada violência urbana e rural, que desrespeita direitos humanos mínimos. E o povo? Saúde e infraestrutura básicas distantes milhares de anos desses e-leitores. Até na minha pequena IBIAPINA-CE, policiais federais estiveram semana passada prendendo uma quadrilha de corruptos. Coisa para lá de R$ 30.000.000,00. Isso para um interior cearense paupérrimo. É o fim. Até quando? Hoje, na FOLHA DE PAULO, a colunista Danuza Leão consegue escrever com mais de 20% de entendimento, o que na verdade é o Brasil real. O país tem tudo para dar certo. É uma pena que as coisas continuem como em 1500... Fernando Henrique Cardoso, em seu dominical artigo, confessa que "às vezes me dá vontade de ser mais cronista do que articulista." Ele tem lá a sua razão. O Brasil não faz o mínimo de esforço para discutir e resolver seriamente coisas sérias. Isso relembra determinadas empresas que agendam uma reunião para discutir o problema na próxima. Lembro apenas que o tempo não tem volta. E como em economia, isso tem um preço que será cobrado na próxima fatura.     

A classe política nunca foi flor que se cheirasse (fora as exceções etc.), mas a cada nova eleição ela consegue ficar pior. Fico pensando nesses deputados que absolveram Jaqueline Roriz; o que é que eles dizem a seus filhos? Como se explicam? 

É bem verdade que, sendo o voto secreto, eles podem sempre mentir e dizer que votaram pela cassação, mas será que cola? Mas ainda tem pior: o vergonhoso secretário de Transportes do Rio, Julio Lopes, que depois da tragédia com o bondinho de Santa Teresa tentou botar a culpa no pobre do condutor que tinha morrido; é de uma falta de caráter revoltante. 

Depois dessa tragédia, que deixou cinco mortos e mais de 50 feridos, qualquer secretário de Governo (sério) teria a obrigação de se demitir; se não o fizesse, o governador teria a obrigação de demiti-lo. Mas como o governador é Sergio Cabral, ele continua no cargo; quando questionado, três vezes, se iria demitir o "secretário", ele simplesmente não respondeu. Quanto tempo falta para acabar esse governo que o Rio não merece? 

Se fosse na Argentina ou no Chile, o povo iria para a rua; no Brasil _no Rio_, o máximo que acontece é uma passeatinha muito frouxa, diante do mar _isso se estiver fazendo sol, para pegar uma praia depois. 

Aqui, as coisas não acabam em pizza, mas em samba. O governo é o que é, e a oposição, ninguém sabe, ninguém viu. Enquanto isso, os escândalos se sucedem, e a presidente já deixou claro que não vai continuar a faxina _"faxina é para acabar com a pobreza", diz ela. Sem corrupção, presidente, o país teria dinheiro para a saúde, a educação, as estradas etc., e isso me lembra do que dizia o saudoso ministro Mario Henrique Simonsen: "fica mais barato pagar a comissão e não fazer a obra". 

Tremo em pensar na Copa do Mundo; no preço que vão custar as reformas, nas licitações que não vão haver, devido à urgência _tiveram todo o tempo do mundo e deixaram tudo para a última hora. Aliás, tanto faz. Alguém acredita que alguma licitação no Brasil é séria? Estamos cansados de saber que é tudo combinado antes, viva a criatividade brasileira. 

Mas o ministro do Turismo, amiguinho de Sarney, continua firme e forte no seu posto. Aliás, é só olhar para saber que ele é o homem certo para o lugar certo. 

Mais do que pelo dinheiro que vai ser afanado, tremo em pensar que um estádio pode cair, como caem as pontes pelo Brasil afora, por ter sido malfeito, por terem misturado areia com o cimento, para o lucro ser maior. Houve um tempo em que a corrupção era mais personalizada, para usar a palavra da moda; hoje, qualquer escândalo é seguido por "formação de quadrilha". Que se trate de Fernandinho Beira-Mar, ou dos mais importantes ministros do governo _desse governo e do outro, o último_, a corrupção agora é coisa de quadrilha. 

E prefiro não fazer as contas de quanto tempo falta para as eleições majoritárias, para não pensar nas caras dos governantes rindo muito e voando, de Estado em Estado, nos jatinhos dos empresários, para ver os jogos do Brasil. E, a cada vez que nossa seleção ganhar, considerar e fazer cara de que a vitória é um pouco deles. 

Cansei, mas vou continuar votando; é o que posso fazer

sábado, 3 de setembro de 2011

O humor no mundo real.


Sinfrônio, direto de Fortaleza, no Diário do Nordeste, mostra a realidade através do humor sempre inteligente. 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

XIX Congresso Brasileiro de Economia.

Em sua 19ª edição, o Congresso Brasileiro de Economia já se consagrou como o principal encontro do segmento econômico no país. Realizado nos anos ímpares, desde 1975, o evento reúne profissionais da área, empresários, autoridades, estudantes de Economia e representantes dos principais segmentos da sociedade para o debate de temas fundamentais para o desenvolvimento sustentável do país, com o objetivo de apresentar análises, alternativas e perspectivas de solução para importantes questões que influenciam no bem-estar de toda a sociedade. Com o tema “Desenvolvimento: inovação, tecnologia e sustentabilidade”, além de promover o intercâmbio de experiências e a divulgação de novas possibilidades relacionadas ao desenvolvimento sustentável, o CBE 2011 será também palco das comemorações do 60 anos de regulamentação da profissão do Economista no Brasil. A escolha da cidade de Bonito-MS, lugar de natureza viva e exuberante, para a realização desses dois eventos de grande importância para os economistas do país, além de reforçar a ideia de que o desenvolvimento baseado em ações de sustentabilidade é possível, necessário e viável, será também um presente da natureza a todos os participantes

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

TOP BLOG 2011 - A votação continua!!!

Neste 1º de setembro o meu OBRIGADO aos meus quase dois (milhões de) leitores e eleitores que foram na página deste blog e registraram o seu voto. É uma honra ter sido selecionado e ter a oportunidade de participar com excelentes colegas blogueiros, de quem sou leitor habitual, do prêmio TOPBLOG 2011. 

A votação continua e conto com você, estimado e-leitor.  

Direto ao ponto a postagem de MIRIAM LEITÃO sobre o resultado da reunião de ontem do Copom:

O Banco Central foi atropelado pela coalizão dos ministérios da área econômica, BNDES, e conselheiros externos da presidente e reduziu os juros sem haver condições técnicas para isso. Toda a análise dos dados mostra que a inflação ainda está alta e há várias pressões inflacionárias pela frente. Nos últimos dias, o Ministério da Fazenda encabeçou uma pressão explícita sobre o Banco Central para que ele reduzisse os juros já. Ao fim, o BC cedeu e reduziu meio ponto percentual.
É claro que os juros estão altos, todos sabem disso, mas o país escolheu o pior dos mundos: tirar a autonomia do BC, reduzir juros na marra com a inflação acima do teto da meta, fingir que está fazendo ajuste fiscal e aceitar mais inflação.
O BC começou hoje à noite um esforço para tentar desfazer a avaliação negativa conversando com formadores de opinião, mas adianta pouco. Os sinais de intervenção foram claros demais.

Taxa de juros.


Ontem neste blog um dos meus quase dois (milhões de) fiéis leitores leu o nosso entendimento que a taxa Selic seria mantida em 12,50% ao ano. Contrariando essa informação, em discordância com a maioria dos analistas e até com o voto contrário de dois membros do Copom, a taxa foi reduzida para 12% ao ano, o que entendemos não foi uma boa prática econômica. O  correto seria manter a taxa de juros em 12,50” ao ano, em que pese a eventual pressão política existente por trás da medida adotada.

Leia abaixo a íntegra da nota do Copom, sobre a redução de 0,5% na taxa Selic:
"O Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 12,00% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela manutenção da taxa Selic em 12,50% a.a. Reavaliando o cenário internacional, o Copom considera que houve substancial deterioração, consubstanciada, por exemplo, em reduções generalizadas e de grande magnitude nas projeções de crescimento para os principais blocos econômicos. O Comitê entende que aumentaram as chances de que restrições às quais hoje estão expostas diversas economias maduras se prolonguem por um período de tempo maior do que o antecipado. Nota ainda que, nessas economias, parece limitado o espaço para utilização de política monetária e prevalece um cenário de restrição fiscal. Dessa forma, o Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante.
Para o Copom, a transmissão dos desenvolvimentos externos para a economia brasileira pode se materializar por intermédio de diversos canais, entre outros, redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de crédito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empresários. O Comitê entende que a complexidade que cerca o ambiente internacional contribuirá para intensificar e acelerar o processo em curso de moderação da atividade doméstica, que já se manifesta, por exemplo, no recuo das projeções para o crescimento da economia brasileira. Dessa forma, no horizonte relevante, o balanço de riscos para a inflação se torna mais favorável. A propósito, também aponta nessa direção a revisão do cenário para a política fiscal.
Nesse contexto, o Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012.
O Comitê irá monitorar atentamente a evolução do ambiente macroeconômico e os desdobramentos do cenário internacional para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.
Brasília, 31 de agosto de 2011" 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O 1º Fórum Insper de Políticas Públicas


O 1º Fórum Insper de Políticas Públicas, que acontecerá no campus da instituição no dia 05.09, irá reunir pesquisadores renomados da América Latina e Estados Unidos para debater uma série de temas organizados em três eixos centrais – criminalidade, educação e política monetária e fiscal.  Realizado pelo Centro de Políticas Públicas (CPP) da instituição, o Fórum contará com a presença do Prof. Ernesto Schargrodsky, reitor da Universidad Torcuato di Tella, Argentina, na abertura do primeiro painel. 

O pesquisador irá proferir a palestra Crime na América Latina: Grande Problema, Pouco Conhecimento, Políticas Pobres? Em seguida, cederá espaço para mesa-redonda de aprofundamento do tema mediada pelos pesquisadores Leandro Piquet Carneiro (Professor do Instituto de Relações Internacionais - USP), Denis Mizne (Diretor da Fundação Lemann e fundador do Instituto Sou da Paz) e Regina Madalozzo (Professora do Insper).

No segundo painel, o Prof. Flavio Cunha, da Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, abordará o tema Informação e Desenvolvimento do Capital Humano.  Flavio é PhD pela Universidade de Chicago e foi orientado por James Heckman (Prêmio Nobel de Economia, em 2000), com quem realizou e continua realizando uma série de pesquisas que tratam da importância de políticas públicas direcionadas à primeira infância para o pleno desenvolvimento humano.

O pesquisador irá proferir palestra sobre essas políticas e, em seguida, cederá espaço para mesa-redonda mediada pelos pesquisadores José Francisco Soares (Membro do Conselho de Governança do Movimento Todos pela Educação), Fernando Veloso (Instituto Brasileiro de Economia – FGV/Rio) e Naercio Menezes Filho (Professor do Insper).

Já no terceiro painel, Eric Leeper, da Universidade de Indiana, Estados Unidos, irá  explorar o tema Ajuste Fiscal e Inflação e, em seguida, cederá espaço para mesa-redonda de aprofundamento da questão mediada por Samuel Pessoa (Pesquisador Associado da FGV-Rio e Sócio da Tendências Consultoria Integradas), Marcos Lisboa (Vice-Presidente do Itaú Unibanco) e Marcelo Moura (Professor do Insper).

Ex-membro do Federal Reserve - Fed (Banco Central dos EUA) e assessor  do Sveriges Riksbank (Banco Central da Suécia), Leeper é Professor de Economia da Universidade de Indiana, Professor Visitante da Universidade Monash, Pesquisador Associado do National Bureau of Economic Research (NBER) e editor das revistas European Economic Review e Berkeley Journal of Macroeconomics. Entrevistas e resumo dos seus artigos estão disponíveis em http://php.indiana.edu/~eleeper/#Interviews).    

A plateia poderá participar com perguntas durante toda a programação. O Fórum de Políticas Públicas é uma atividade gratuita do Insper aberta a todos os interessados.

Data: 05.09 (segunda-feira)
Horário: 9h às 16h15
Local: Campus Vila Olímpia – Rua Quatá, 300, São Paulo-SP.
Outras informações: http://blog.insper.edu.br/cpp/

Entrevista com o economista William Handorf.


Entrevista no ESTADÃO com o Professor da Universidade George Washington, o economista americano William Handorf foi testemunha privilegiada do processo que, em 2008, culminou no estouro da bolha imobiliária americana. Era diretor do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) entre 2001 e 2006. Na função que exercia, não votava nas decisões de política monetária (taxa de juros). Mas participava do dia a dia da instituição.
Especialista justamente em finanças do setor imobiliário, Handorf conta que, pouco antes de deixar o Fed, provocou os colegas. Para ele, estava claro que a instituição falhava na supervisão do sistema financeiro. Durante uma exposição, afirmou: "Acredito que estamos entrando em uma nova fase que mostrará falhas na supervisão. Digam-me se - e por que - estou errado." Segundo ele, a reação foi de incredulidade.
Handorf avalia que a economia americana só vai recuperar a vitalidade, na melhor das hipóteses, em 2013. Até lá, afirmou, a taxa de desemprego continuará elevada (hoje está na casa dos 10%). "É uma recessão longa e severa." Ele conversou com o Estado após dar palestra num evento da Fecomércio em São Paulo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O sr. acredita que o Federal Reserve adotará mais uma rodada do chamado afrouxamento quantitativo (QE3)? Se adotar, terá efeito positivo na economia?
Se vão adotar ou não, é uma questão que cabe ao Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed. Se eles deveriam fazer ou não, minha resposta é a seguinte: a probabilidade de que funcione é muito pequena. As taxas de juros nos EUA já estão muito baixas.

O Fed acertou ao informar publicamente, em sua última reunião de política monetária, que a taxa de juros vai ficar baixa ao menos até 2013?
Se eu fosse um integrante do Fed com direito a voto, teria sido mais um a discordar (dos dez diretores do Fed que votaram, três foram contrários). Não há dúvida de que o Fed tem de manter os juros baixos, pois o mandato do BC americano não é apenas para manter a inflação baixa. Deve também dar atenção ao crescimento. É algo que faz o Fed ser diferente de muitos bancos centrais. Mas, apesar disso, não se pode brincar com a inflação. É uma experiência, aliás, que vocês brasileiros conhecem bem. Leva um tempo muito longo para a inflação e as expectativas baixarem.

Cresceu a probabilidade de uma nova recessão nos EUA?
Sim. No ano passado, a probabilidade de uma recessão era de 5%. Diria que, nos últimos seis meses, essa chance cresceu para 20%. O cenário eleitoral contribuiu para essa elevação.

Como assim?
Já de olho na eleição, o Congresso e o Executivo demoraram para encontrar um acordo sobre o aumento do teto da dívida. O gatilho para esse assunto - o rebaixamento da nota de classificação de risco pela agência Standard & Poor’s - foi apenas simbólico. Mas indica, de qualquer maneira, que temos problemas no país. Goste-se ou não dessas agências, é uma opinião respeitada no mercado.

O sr. disse, em sua apresentação, que a questão do emprego é a chave para a economia americana hoje. Por quê?
Cerca de 8 milhões de americanos perderam seus empregos durante a recessão. Alguns empregos têm sido criados tanto no setor público quanto no privado, mas em quantidade insuficiente. O problema é que os EUA precisam criar entre 1 milhão e 2 milhões de empregos por ano apenas para dar conta da imigração e dos jovens que entram no mercado. Ou seja, enquanto todos esses empregos não forem criados, com salários minimamente razoáveis, será difícil imaginar uma recuperação.

Quando o sr. imagina que o cenário para o emprego nos EUA apresentará melhora?
Provavelmente não antes de 2013, talvez só em 2014. É uma recessão longa e muito severa. Não é uma recessão que se resolverá facilmente, pois há algo que continua machucando a economia: o setor imobiliário, que demanda enorme contingente de mão de obra.

O sr. foi diretor do Fed.
Fui diretor. Não votava nas decisões do Fomc.

Trabalhou na época em que Alan Greenspan era o presidente.
Sim, em parte. Fui diretor entre 2001 e 2006 (Greenspan deixou o cargo justamente em fevereiro daquele ano).

Como avalia o trabalho dele? Naquela época, ele era uma espécie de deus do mercado.
Greenspan não era uma espécie de deus. Era um deus. Concordo com a maneira como Greenspan comandou a política monetária, mas ele falhou na supervisão do sistema. Ele não reconheceu o alto risco dos empréstimos hipotecários. Se fosse eleger as cinco causas principais da crise, colocaria em primeiro lugar o papel do Fed. Certa vez, minha mulher me viu chegar em casa chateado após uma reunião em que havia falado sobre o alto risco daqueles empréstimos e as consequências para o mercado. A percepção era de que tudo estava bem. No fim de meu período no Fed, fiz uma colocação, não era um discurso formal, em que disse: "O Fed tem uma longa história de falhas em política monetária e na política de supervisão. Acredito que estamos entrando em uma nova fase que mostrará falhas na supervisão. Digam-me se - e por que - estou errado."

E qual foi a reação?
Foi de incredulidade. Como um diretor do Fed poderia dizer aquilo? O homem a quem fiz a pergunta ficou indignado.

Quando os EUA voltarão a crescer de acordo com o potencial?
Os EUA precisam crescer de 3% a 4% ao ano para criar os empregos necessários. Ficaria surpreso se isso acontecesse antes de um ano e meio ou dois.

E o Brasil nesse cenário?
Não gostaria de falar sobre o Brasil. Meu foco de análise são os Estados Unidos. O que se pode dizer, genericamente, é que o Brasil tem uma classe média emergente muito grande, que vai gerar demanda doméstica.

Entendendo economia brasileira com Gustavo Franco.


Ao alerta de GUSTAVO FRANCO, hoje no ESTADÃO, deve ser dada uma boa atenção.
A situação fiscal do Brasil é hoje muito semelhante à da Grécia, avalia o ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco. A diferença, segundo ele, é que, por ter a mais alta taxa básica de juros do mundo, o Brasil tem maior facilidade para rolar sua dívida que a média dos países que formam o chamado grupo dos PIIGS - Portugal, Itália, Irlanda, Espanha e Grécia. Franco se baseia em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em 2007, a Grécia possuía um nível de dívida com vencimento de curto prazo de 13% do Produto Interno Bruto (PIB), proporção inferior aos números do Brasil, que chegavam a 17,7%. Mesmo em 2011, o Brasil ainda possui uma dívida de curto prazo equivalente a 16,9% do PIB, nível superior ao da Grécia, de 16,6%.
A maior diferença entre Brasil e Grécia, segundo o FMI, residia no déficit nominal, que em 2007 correspondia a 6,7% do PIB grego - e neste ano aumentou para 7,4%, enquanto o déficit nominal brasileiro, que era de 2,7% do PIB em 2007, caiu para 2,4% neste ano. Somados o déficit nominal e a dívida a vencer no curto prazo, que correspondem à necessidade de financiamento do setor público, em 2007 o endividamento da Grécia era de 19,7% do PIB e o do Brasil alcançava 20,4%. Em 2011, a situação se inverteu, com a dívida grega aumentando para 24% do PIB e a do Brasil caindo para 19,3%.
"No decorrer do tempo, nos acostumamos a ignorar essa história da rolagem da dívida porque é algo meio automático. A gente não presta atenção, não vê que isso é um problema. Basta olhar o que a Grécia está passando nos dias de hoje para ver que, às vezes, a rolagem da dívida pode se tornar todo o problema", afirmou Franco. "A dívida é déficit acumulado. São as nossas irresponsabilidades acumuladas no passado e que não vão desaparecer."
Na avaliação de Franco, o endividamento de curto prazo é uma das explicações para que o Brasil mantenha uma taxa de juros tão elevada, bem acima da média mundial. "Os juros opressivamente altos que temos no Brasil têm a ver com esse custo de um sistema de rolagem de dívida que faz com que nós, brasileiros, carreguemos um montante de dívida do governo que não gostaríamos de carregar em condições normais", disse.
De acordo com o Franco, isso ficou claro em 2009 e 2010, quando o BC não pôde reduzir a Selic além dos 8,75% ao ano para impedir uma corrida dos recursos aplicados em títulos públicos para a caderneta de poupança e para a Bolsa de Valores. "Vimos os perigos de o dinheiro fugir para a caderneta de poupança e aí ele entraria num circuito meio viciado de crédito subsidiado e fundings regulatórios subsidiados", afirmou. "Veríamos o dinheiro saindo do financiamento dos títulos públicos e indo para a bolsa e outras aplicações. Provavelmente o Brasil não conseguiria rolar 17% do PIB todo ano se não tivesse uma taxa de juros muito alta."
Franco explica que, para reduzir os juros, a situação fiscal do País deveria estar em condições muito melhores. "Aqui começamos a ver a importância dessa jabuticaba, os juros altos, que não entendemos bem", disse. O economista considera que os juros altos são o preço que o Brasil paga por não ter uma política de austeridade fiscal. "A dívida de hoje são os impostos de amanhã. A menos que usemos truques e bruxarias, os juros que pagamos hoje são o preço de não baixarmos os impostos e as despesas, empurrando o problema para as mãos daqueles que estão ausentes na discussão política: nossas futuras gerações", afirmou.
Segundo o ex-presidente do BC, a situação é agravada pelo fato de o Brasil não possuir, politicamente, uma maturidade para apresentar um orçamento claro e realista a respeito das receitas e despesas. "Se tivéssemos um orçamento realista, a avaliação seria feita corretamente, considerando o quanto custa ter aspirações em matéria de gastos superiores ao que a sociedade quer pagar de impostos."
Para Franco, a questão sobre o endividamento e a taxa de juros se assemelha à antiga correção monetária, que está para a inflação assim como o BNDES está para a taxa de juros. "É a falsa solução. Não resolve o problema. Na hiperinflação, a gente não podia fazer mais e melhor que a correção monetária para eliminar o problema da inflação e neutralizá-la completamente, assim como o BNDES nunca será do tamanho da economia para resolver o problema sozinho. A correção monetária, tal como o BNDES, é seletiva. E essa seletividade também tem lá seus defeitos."
Na opinião de Franco, a crise internacional, que evidencia uma exaustão fiscal em diversos países, pode contribuir para que esse debate seja feito no País. "Não se criou ainda o impulso político para arrumar as contas fiscais, movimento que deve abrir a janela para reduzir os juros", afirmou. "Talvez o próprio contexto internacional, onde a exaustão fiscal parece ser um bom título para o problema internacional, nos arraste para uma execução fiscal mais madura e organizada."

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...