domingo, 4 de agosto de 2013

Fraudes e incompetência atrasam Educação.

Este editorial publicado pelo O GLOBO na sexta-feira passada merece ser lido com muita atenção, pois é lugar comum reclamar que falta dinheiro para a Educação. Na realidade, falta é caráter. 

Da gestão Fernando Henrique Cardoso, passando pela Era Lula, até Dilma Rousseff são, grosso modo, quase duas décadas em que a Educação é um assunto prioritário do Executivo federal. Pode-se entender que, com acerto, o tema passou a ser uma preocupação de Estado.

É possível enxergar uma linha lógica em todo este tempo, com períodos de maior ênfase no avanço quantitativo - quando, no governo FH, buscou-se a universalização da matrícula no ciclo fundamental, e, a partir de Lula, principalmente no segundo governo, o duro e essencial trabalho na melhoria da qualidade do ensino público básico. Matriculado o maior número possível de crianças, a sequência natural seria mesmo aprimorar a transmissão de conhecimentos.

Não há qualquer dúvida sobre a estratégia. Os resultados é que indicam a extrema dificuldade no enfrentamento da má qualidade do ensino. Avança-se, mas fica a impressão de que poderia ser menos difícil. A recente divulgação de Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), pelo Pnud (ONU), mostrou que mesmo cidades com os melhores indicadores não conseguiram bom rendimento na Prova Brasil (avaliação do ensino básico), nas disciplinas-chave de Matemática e Português. O aprofundamento no assunto reforça o diagnóstico de que não é apenas com mais dinheiro que a Educação dará o salto de que a sociedade necessita. Se fosse assim, a solução definitiva estaria no lado financeiro/fiscal.

Estudo de técnicos da Secretaria do Tesouro - não referendado pela secretaria e execrado, é claro, por prefeitos e o MEC - concluiu que pelo menos 40% dos gastos municipais com educação são desperdiçados, por corrupção e/ou ineficácia da própria máquina pública. Se fosse a metade (20%), já seria escandaloso, motivo para um esforço de emergência no governo para entender o que se passa e tapar os vazamentos.

O trabalho dos analistas Janete Duarte, Sérgio Ricardo de Brito, Plínio Portela e Luís Felipe Vital, além da professora da USP Fabiana Rocha, ganha respaldo de auditorias da Controladoria Geral da União (CGU), as quais detectaram fraudes e mau uso do dinheiro do Fundeb em 73,7% de 180 municípios auditados, em 2011 e 2012.

Isso significa desestabilizar a estrutura de financiamento do ensino público básico. Há erros decorrentes de incompetência administrativa, desvio de dinheiro para outros tipos de gastos, em detrimento, por exemplo, da remuneração de professores, e corrupção, roubo.

O conserto do sistema educacional público requer uma junta multidisciplinar - do promotor, procurador e policial a especialistas em gestão pública e treinamento pedagógico do professorado. Não é nada simples, mas tem de ser enfrentado. Desconfie-se, portanto, toda vez que se disser que basta dobrar os gastos com Educação para 10% do PIB.

Espantoso é que auditorias como esta se repitam diante de uma impassível burocracia. 

Mantega e a inflação.

Leio nas páginas amarelas de VEJA, Guido Mantega, o ministro da Fazenda falando que ”A pior coisa que existe para o Brasil é a inflação”. E continua “O governo jamais deixará a inflação sair do controle, mesmo que isso signifique reduzir a taxa de crescimento”.


Que os anjos digam AMÉM.

FHC: Cartas na mesa.

Mais um brilhante texto do presidente Fernando Henrique, hoje, no Estadão e no blog do Augusto Nunes na VEJA. 

Saí do Brasil depois que as manifestações populares provocaram um tsunami na avaliação dos principais dirigentes políticos. Na Europa o noticiário repercute a recidiva da crise egípcia, a volta da incerteza na Tunísia, a continuidade trágica da guerra civil síria, os atentados sem fim no Paquistão e no Afeganistão, enfim, uma rotina de tragédias preanunciadas que, vistas de longe, parecem “coisas do Terceiro Mundo”. Enquanto isso, a China vai encolhendo sua economia, os EUA confiam na recuperação e a Europa se contorce em ajustes sem fim. Do Brasil ecoam apenas os passos do papa, por vezes tocando o solo lamacento dos ermos para onde o levaram em sua pregação.

De nossas aflições financeiras os mercados externos só eventualmente tratam, mas delas sempre se cuidam, retirando suas aplicações ao primeiro sinal de alarme. Do desabamento político poucas referências há. Embora nenhuma crise de legitimidade tenha sido o gatilho do torvelinho popular, este terminou por mostrar que existe algo parecido com ela. Se de nossa política a mídia ocidental cuidasse, talvez visse que nem só na África e no Oriente Médio há um desencontro entre o poder e o povo. Há algo que não está funcionando direito na política, mesmo nas partes mais longínquas do Ocidente, como a América do Sul. Há um elo nesse desarranjo: as sociedades urbanas de massas, agora hiperconectadas pela internet, sentem-se mal representadas pelos que as comandam. Isso vale tanto para nós como para a Itália, a Espanha, a Grécia ou Portugal, assim como valeu para a Islândia ou pode vir a valer para outras regiões onde, além da crise de legitimidade política, choques culturais e religiosos acrescentem outra crise à de identidade.

Em nosso caso, como nos demais países ocidentais, o fator geral mais evidente que condiciona e possibilita o surgimento do mal-estar político deriva da grande crise financeira de 2007/8. Mas seria enganoso pensar que basta retomar o ritmo do crescimento da economia e tudo se arranja. É melhor ter cautela e reconhecer que, uma vez visto o rei nu, sua magia se desfaz ou engana menos incautos. As novas formas de sociabilidade criadas pelos meios diretos de informação e comunicação estão a requerer revisão profunda no modo de fazer política e nas instituições em que o poder se exerce. A desconfiança nos partidos e nos políticos é generalizada, embora não atinja o mesmo grau em todos os países, nem as instituições desabem ou sejam incapazes de se aprimorar. Até agora os efeitos construtivos da pressão popular sobre as instituições ─ salvo na Islândia ─ estão por se ver. Mas basta haver eleições para que os governos (de esquerda, de direita ou o que mais sejam) caiam, como cairia o nosso se as eleições fossem em breve.

A questão é complexa e há responsáveis políticos, em maior ou menor grau. Para começar, o governo Lula zombou da crise, era uma “marolinha”, e seguiu funcionando, fagueiro, como se nada precisasse ser feito para ajustar o rumo. Houve, portanto, uma avaliação errada da conjuntura. Mas houve outras barbeiragens. O lulopetismo, arrogante, colocou a lanterna na popa do barco e, rumando para o passado, retomou as políticas dos tempos militares geiselianos como se avançasse intrépido para o futuro. Tome subsídios para pobres e ricos, mais para estes que para aqueles, mais sem razão ao ajudar os ricos mais que os pobres. Perceberam tarde que o cobertor era curto, faltaria dinheiro. Se há problemas, tome maquiagem: o Tesouro se endivida, pega emprestado dinheiro no mercado, repassa-o ao BNDES, que fornece os mesmos recursos aos empresários amigos do rei. Toma-se dinheiro a, digamos, 10% e se concede a 5%. Quem paga a farra: eu, você, os contribuintes todos e os consumidores, pois algo dessa mágica desemboca em inflação.

A maquiagem fiscal já não engana: mesmo o governo dizendo que sua dívida líquida não aumenta, quem sabe ler balanços vê que a dívida bruta aumenta e os que investem ou emprestam, nacionais ou estrangeiros, aprenderam muito bem a ler as contas. Deixam de acreditar no governo. Mais ainda quando observam sua ginástica para fingir que é austero e mantém o superávit primário.

Não é só. Em vez de preparar o Brasil para um futuro mais eficiente e decente, com regras claras e competitivas que incentivassem a produtividade, o “modelo” retrocedeu ao clientelismo, ao protecionismo governamental e à ingerência crescente do poder político na vida das pessoas e das empresas. E não apenas graças a características pessoais da presidenta: a visão petista descrê da sociedade civil, atrela-a ao governo e ao partido, e transforma o Estado na mola exclusiva da economia. Pior e inevitável, a corrupção, independentemente dos desejos de quem esteja no ápice, vem junto. Tal sistema não é novo, foi coroado lá atrás, ainda no primeiro mandato de Lula, quando se armou o mensalão. Também neste caso há responsáveis políticos e nem todos estão na lista dos condenados pelo Supremo.

Com ou sem consciência de seus erros, o petismo é responsável por muito do que aí está. Não por acaso seu líder supremo, depois de longo silêncio, ao falar foi claro: identificou-se com as instituições que as ruas criticam e, como Macunaíma, aconselhou a presidenta a fazer oposição a si mesma, como se governo não fosse…

Se as oposições pretenderem sobreviver ao cataclismo, a hora é agora. O Brasil quer e precisa mudar. Chegou o momento de as vozes oposicionistas se comprometerem com um novo estilo de política e de assim procederem. Escutando e interpretando o significado do protesto popular. Sendo diretas e sinceras. Basta de corrupção e de falsas manias de grandeza. Enfrentemos o essencial da vida cotidiana, dos transportes à saúde, à educação e à segurança, não para prometer o milagre da solução imediata, mas a transparência das contas, das dificuldades e dos propósitos.

E não nos enganemos mais: ou nos capacitamos para participar e concorrer num mundo global áspero e em crise ou nos condenaremos à irrelevância.

IDHM 2013 - Ceará.

Enquanto isto, lá no nosso Ceará, o humor de Sinfrônio não nos deixa esquecer os problemas do dia a dia.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A mensagem de Francisco.

Leio no Estadão um excelente editorial sobre a recente visita do Papa. 

A passagem do papa Francisco pelo Brasil gerou grande entusiasmo entre os devotos católicos, graças à sua inequívoca cobrança por renovação da Igreja.

Em razão de sua linguagem coloquial e direta e de sua genuína disposição de se aproximar das pessoas comuns, conseguiu deixar também mensagens importantes para os brasileiros em geral.

A visita pode ser considerada como o início prático de seu pontificado, e nela ficou clara a determinação de Francisco de sacudir a Igreja e reaproximá-la dos pobres. Ele defendeu a mudança das “estruturas caducas” da instituição que dirige, para fazer com que o trabalho eclesial tenha por objetivo não mais a “Igreja como organização” e, sim, “o povo de Deus na sua totalidade”.

Francisco condenou a interpretação ideológica da mensagem evangélica, o que chamou de “reducionismo socializante”. Foi uma referência à Teologia da Libertação, que faz uma leitura marxista das palavras de Jesus Cristo e as caracteriza como uma denúncia contra as injustiças sociais.

Mas a crítica do papa também disse respeito à leitura do Evangelho de acordo com o “liberalismo de mercado” ou como uma mera forma de autoconhecimento - e, portanto, sem sentido missionário.

O papa criticou ainda o “restauracionismo”, isto é, o movimento que defende o recurso à absoluta disciplina doutrinária para restabelecer os pilares da Igreja. Para ele, trata-se de uma regressão.

Na outra ponta, Francisco atacou a ideia de transformar a Igreja numa empresa ou numa ONG, de acordo com uma certa “teologia da prosperidade”, em que a fé é recompensada por ganhos pessoais.

Assim, para Francisco, ao católico não basta ater-se à doutrina ou sonhar com a utopia do fim das desigualdades. É preciso arregaçar as mangas e ser um “discípulo missionário”, que represente o “Deus que sai ao encontro de seu povo”. No caso dos bispos, disse o papa, é preciso que sejam “homens que amem a pobreza” e que “não tenham psicologia de príncipes”.

Francisco, que já está sendo chamado de “o papa do povo”, pediu que a Igreja deixe a acomodação e “saia às ruas”, e que os fiéis sejam “cristãos de verdade, não cristãos de fachada”.

A humildade como princípio e a disposição ao diálogo também nortearam os discursos do papa dirigidos às autoridades seculares. Depois de criticar “pessoas que, em vez de procurar o bem comum, procuram o próprio benefício”, ele defendeu que a formulação de políticas públicas seja baseada em valores éticos. Pediu ainda que os líderes políticos atuem somente após refletir sobre as consequências das decisões que tomam, de modo a “chegar ao centro dos males da sociedade”- Trata-se, em suas palavras, da imposição de “um vínculo moral com uma responsabilidade social e profundamente solidária”.

Numa mensagem direta tanto aos governantes como aos eleitores brasileiros, Francisco disse que “é impossível imaginar um futuro para a sociedade sem uma vigorosa contribuição das energias morais”, de modo a evitar que a democracia fique “fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos”.

Para isso, segundo o papa, é preciso estabelecer o diálogo, que é a única solução “entre a indiferença egoísta e o protesto violento” - referindo-se tanto à apatia política como a seu extremo oposto, isto é, a violência como forma de manifestação, algo que diversas capitais do País vêm enfrentando há semanas. “Ou se aposta na cultura do encontro ou todos perdem”, disse Francisco.

Aos jovens a quem se dirigiu na Jornada Mundial da Juventude, o papa pediu que fossem “revolucionários”, isto é, que “se rebelem contra essa cultura do provisório”, assumindo responsabilidades sem se deixar levar “pelas modas e conveniências do momento”.


Tal convocação não diz respeito somente às convicções cristãs, mas à necessidade de que os jovens brasileiros, nas palavras do papa, “não sejam covardes”, que superem o desgosto com a política, que não se rendam ao estereótipo de que são imaturos e que assumam o papel de “protagonistas da História”.

domingo, 14 de julho de 2013

France: 14 Juillet.


Nossa homenagem à França neste especial 14 de Julho. 

País rico é país sem corrupção.


Sinfrônio, no cearense Diário do Nordeste, escancara a cara do Brasil.  

Washington não combina com Brasília.

O brasileiro Alain Belda, de 70 anos, foi entre 1999 a 2009 diretor mundial da Alcoa, o colosso americano de alumínio com 120.000 funcionários, que faturava então US$ 30 bilhões e atuava em mais de 30 países. Durante esse período, Belda precisou ir a Washington umas quatro vezes.  

Enquanto isso no Brasil, num governo que mantem 39 ministérios onde a maioria da população talvez conheça o nome de apenas um ou dois, no máximo, Ministros, o empresário precisa visitar Brasília umas quatro vezes ao ano.

País rico é país sem miséria e sem burocracia.

Luciano Coutinho fala sobre a economia brasileira.

Leio na Folha entrevista concedida pelo Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e sua análise sobre a cotação do dólar e outros pontos da economia brasileira. 

Folha - O dólar não deve voltar a ficar abaixo de R$ 2,10?
Luciano Coutinho - Não volta ao patamar do começo do ano. Fizemos um teste de estresse com o câmbio fechando o ano a R$ 2,30 e é perfeitamente palatável para a estrutura empresarial brasileira absorver o impacto. Não estou projetando esse câmbio, foi apenas um teste de estresse. É diferente do que ocorreu [no início da crise global] em 2008, quando houve pesadas perdas provocadas pelos derivativos de câmbio. Qual é o desafio paralelo a isso? Administrar os efeitos do câmbio na inflação. É imperioso manter a inflação sob controle. É uma orientação de governo.

O setor empresarial critica a taxa de retorno do programa de concessão. Isso pode afetar os leilões e pôr em risco o crescimento do país?
Não creio, porque o governo ajustou vários fatores. O que tenho verificado nas consultas ao banco é que teremos muitos interessados. É preciso diferenciar o que se diz em público para conseguir melhorias adicionais e o que observamos no diálogo individual com as empresas.

Após os protestos, Estados e municípios seguraram reajuste de tarifas. Isso vai afetar o interesse dos investidores?
Pelo que entendi, as tarifas de pedágio serão compensadas, protegendo os investidores. Logo, não vai criar efeitos negativos sobre as expectativas. O meu sonho é que a taxa de investimento chegue perto de 19% do PIB neste ano e dê um salto adicional em 2014.

O BC subiu os juros. O senhor vê necessidade de um ajuste fiscal mais rigoroso para ajudar a controlar a inflação?
A gestão macroeconômica precisa avaliar o andamento da economia. Ainda não sabemos qual será o impacto dessa transição, que pode afetar o crescimento negativamente. A calibragem fiscal não é algo trivial. Tem que ser muito cuidadosa. A orientação da presidente é manter a inflação sob controle.

O sr. teme que um arrocho forte derrube o crescimento?
O que estou dizendo é que precisamos considerar o que já aconteceu na esfera privada. Se houver uma redução do gasto privado, vai ter impacto. É claro que a política fiscal deve ajudar a política monetária e trabalhar coordenadamente. O mercado exige, às vezes até por cacoete, que se tomem certas iniciativas.

É preciso calibrar inflação e crescimento na política fiscal?
Sim.

Mas a credibilidade do governo na área fiscal foi muito questionada após a contabilidade criativa. Isso não prejudica a calibragem?
Eu olho para os resultados. A trajetória de dívida do Brasil é invejável. Acredito que há uma cobrança desfocada da realidade do Brasil.

domingo, 7 de julho de 2013

A Copa de Lula.


Demétrio Magnoli, no GLOBO de 04.07.2013, comenta sobre a paixão brasileira. Cada coisa no seu lugar. Gostar de futebol e torcer pelo Brasil é muito diferente de utilizar o dinheiro público na construção de elefantes brancos, ao invés de investir na educação, saúde e segurança. Afinal, você já pensou em quem ganha muito dinheiro com a Copa no Brasil?     

Todos podem protestar em todos os lugares - exceto nas imediações das sagradas arenas da Copa das Confederações. Essa foi a mensagem enviada pelas autoridades na "semana quente" das manifestações populares. Sem intervenção policial, manifestantes cercaram palácios e interromperam vias expressas. Em São Paulo, o eixo sensível da Avenida Paulista, onde se concentram os hospitais, foi liberado para os protestos. Contudo, nas cidades-sede do evento, batalhões de choque delimitaram um "perímetro de segurança nacional" e atacaram manifestantes pacíficos que tentavam ultrapassá-lo. A regra do protesto ilimitado excluiu os "territórios internacionais" sob controle efetivo da Fifa. Nunca, numa democracia, um governo nacional se curvou tão completamente a uma potência externa desarmada.

A bolha policial de isolamento dos estádios estendeu-se por dois a três quilômetros. Não se tratava de assegurar o acesso de torcedores às arenas, mas de impedir que as marcas dos protestos ficassem impressas sobre as marcas da Fifa e das empresas patrocinadoras. "A condição prévia para a Copa é a cessão temporária da soberania nacional à Fifa, que assume funções de governo interventor por meio do seu Comitê Local." Nesse espaço, dois anos atrás, Adriano Lucchesi e eu definimos a Copa do Mundo de 2014 como uma "festa macabra" justificada pela "lógica perversa do neopatriotismo".

Não fomos os únicos, nem os primeiros. O jornalista Juca Kfouri deplorou o triunfo dos bons companheiros Lula da Silva e Ricardo Teixeira na hora da escolha do Brasil como sede do megaevento de negócios travestido de competição esportiva. O ex-jogador Romário honrou seu mandato parlamentar denunciando sistematicamente a farra de desvio de dinheiro público, que ainda faz seu curso. "A Fifa é o verdadeiro presidente do Brasil hoje", explicou com a precisão e simplicidade de que carecem tantos doutos cientistas políticos. Mas a rapinagem dos piratas ficou longe da mira dos partidos de oposição, que preferiram ocupar assentos periféricos na nave da Copa, compartilhando dos brindes erguidos em convescotes de autoridades, empresários e cartolas. Alguém aí está surpreso com a aversão dos manifestantes ao conjunto de nossa elite política?

3 x 0. No domingo, encerrou-se o ensaio geral para o que será a Copa mais cara da história. A festa macabra custará, no mínimo, R$ 28 bilhões, quase quatro vezes mais que a realizada na África do Sul em 2010 (R$ 7,3 bilhões) e perto de três vezes mais que as Copas na Alemanha em 2006 (R$ 10,7 bilhões) e no Japão/Coreia em 2002 (R$ 10,1 bilhões). "Com o dinheiro gasto para construir o Mané Garrincha poderiam ter sido construídas 150 mil casas populares", calculou Romário. Ele tem razão: a arena de Brasília, a mais cara de todos os tempos, custou R$ 1,7 bilhão.

Obedecendo a uma compulsão automatizada, o ministro Gilberto Carvalho apontou um dedo acusador para a imprensa, que "teve um papel no moralismo, no sentido despolitizado" das manifestações populares. No mundo ideal desse senhor "politizado", uma imprensa chapa-branca monopolista, financiada pelas empresas estatais, desempenharia a função de explicar aos saqueados que o saque é parte da ordem natural das coisas. "Sem a imprensa, não somos nada", concluiu Jérôme Valcke, o zagueiro de várzea da Fifa, que também gostaria de ter um "controle social da mídia".

Um séquito de analistas especializados na arte da empulhação dedica-se, agora, a criticar os cartazes dos manifestantes que contrapõem a Copa à "saúde" e à "educação". No seu pronunciamento desesperado do fim da "semana quente", Dilma Rousseff recorreu aos sofismas desses analistas para exercitar o ilusionismo. Os recursos queimados na fogueira das arenas "padrão Fifa", disse a presidente, são "fruto de financiamento", não dinheiro do Orçamento. Mas ela não disse que a fonte dos financiamentos concedidos pelo BNDES são títulos de dívida pública emitidos pelo Tesouro, nem que a a diferença entre os juros reais pagos pelo Tesouro e os juros subsidiados cobrados pelo BNDES é coberta pelos impostos de todos os brasileiros, da geração atual e da próxima.

A "verdade técnica" da presidente não passa de um véu destinado a esconder o significado financeiro da festa macabra promovida pela Fifa e pelo governo brasileiro. No seu conjunto, a operação Copa 2014 é uma vasta transferência de renda da população para a Fifa, as empresas patrocinadoras do megaevento e as empreiteiras contratadas nas obras civis. Uma CPI da Copa revelaria as minúcias da rapinagem, destruindo no caminho governantes em todos os níveis que se engajaram na edificação de elefantes brancos com recursos públicos. É com a finalidade de evitá-la a qualquer custo que uma corrente de parlamentares resolveu aderir à ideia de uma CPI da CBF. Sob a pressão das ruas, cogita-se a hipótese de entregar os escalpos de José Maria Marin e Ricardo Teixeira numa bandeja de prata para salvar a reputação das autoridades políticas cujas assinaturas estão impressas nas leis e contratos da Copa.

"O Brasil nos pediu para sediar a Copa do Mundo. Nós não impusemos a Copa do Mundo ao Brasil." Joseph Blatter, o poderoso chefão da "família Fifa", não mente quando repete seu mantra preferido. O "Brasil", na frase, significa "Lula da Silva". A Copa mais cara da história é a síntese perfeita do legado político do presidente honorífico. À entrada do Mineirão, no jogo entre México e Japão, funcionários a serviço da Fifa arrancaram das mãos de dois torcedores cartazes onde estavam escritas as palavras proibidas "escola" e "saúde". Os batalhões de choque em postura de batalha no perímetro de "segurança nacional" da Copa e os agentes da censura política em ação nos portões das arenas protegem mais que a imagem da Fifa e das marcas associadas. Eles protegem, sobretudo, a imagem de Lula, o regente da festa macabra.

Delfim Netto na Folha de S. Paulo: A voz da rua não é a voz de Deus nem a voz da lógica.

Folha - Por que as pessoas foram às ruas?
Delfim Netto - É uma emergência. Alguns fenômenos vão ocorrendo aos poucos e, de repente, a acumulação provoca uma mudança qualitativa. São Paulo é um inferno, mas aos poucos as pessoas se convenceram de que a solução é impossível, porque não tem recursos. De repente, aparece recurso para fazer estádio. O povo é muito sábio. Recurso não é dinheiro, mas cimento e ferro. O povo concluiu o seguinte: o cimento e o ferro que construíram o estádio são o cimento e o ferro que não construíram o metrô.

Mas há recursos para fazer mais metrô?
Claro que não. O problema é que as prioridades do governo não eram as que a sociedade desejava. A primeira reação do governo foi de susto e produziu uma esquizofrenia hiperativa. De repente, o Congresso aprova projetos parados há dez anos em quatro horas. Mas aprovou sonhos, ideias. Ou seja, nada será cumprido. Teremos de devolver racionalidade ao sistema.

Qual vai ser o resultado dessa esquizofrenia hiperativa?
Provavelmente vamos ter uma reforma política. O cerne da questão é se o financiamento de campanha deve ser público ou privado. Numa sociedade decente, quem pertence a um partido tem que colocar seu dinheiro para eleger seu deputado. No Brasil, como não há controle, vai haver duplo financiamento. Não há nada mais conservador do que eleição financiada por governo, porque tende a reforçar a maioria do governo.

Por que não será possível cumprir as leis que foram aprovadas após os protestos?
Só é possível distribuir o que já foi produzido,ou tem que tomar emprestado. Chegamos ao limite. Estamos praticamente em pleno emprego e não podemos mais elevar o deficit em conta-corrente.
A voz da rua tem que ser educada a entender que pode escolher prioridades, mas que a soma das prioridades não pode ser maior do que o PIB.
Como queremos uma sociedade com liberdade individual, relativa igualdade e eficiência produtiva, é preciso escolher um mecanismo para atingir esses objetivos, que não são inteiramente conciliáveis. Esse mecanismo é o mercado e a urna. Se a urna exagera, o mercado vem corrigir. Se o mercado exagera, a urna corrige.
A educação é fundamental para que o eleitor saiba que vai ser atendido dentro de limitações. É fundamental para salvar não só a economia, mas a democracia.

Mas educar leva tempo, e a insatisfação das pessoas é imediata.
É uma questão de liderança política para convencer as pessoas de que leva tempo para as prioridades serem corrigidas.

O senhor vê na presidente Dilma essa liderança?
Não tenho dúvida. A presidente é uma mulher muito competente e séria, com desejo enorme de acertar.
Ela também vai escolher prioridades novas e entender que é preciso acelerar as concessões. Ela vai entender que, quando atende as condições do mercado, não está numa queda de braço.

Após as manifestações, os governos congelaram pedágios e tarifas. Isso vai atrapalhar os leilões de concessão?
Muito. Pioraram demais as condições de segurança jurídica das concessões. O prejuízo que o Brasil teve é imenso e contraditório com tudo o que queremos.
É por isso que eu digo: a voz da rua não é a voz de Deus. Também não é a voz da lógica. É um sinal amarelo para que façamos as as coisas corretamente.

O BC vem sinalizando que vai subir mais os juros. O senhor concorda?
O Banco Central já provou que sabe mais que o setor financeiro. Na minha opinião, Tombini [Alexandre Tombini, presidente do BC] cansou de ter esperança de que a política fiscal ajudasse no combate à inflação. O BC vai subir os juros até alcançar a meta, dentro de um horizonte de tempo de 15 ou 20 meses.

O senhor defende um ajuste fiscal rigoroso?
Tivemos truques demais. Destruímos coisas importantes. O transparente é esquecer os truques e anunciar um programa para um equilíbrio fiscal em quatro ou cinco anos.

A presidente tem credibilidade. Quando ela decide, enfrenta furacão. O sujeito que pensa que vai viajar de ônibus grátis tem que entender que vai pagar mais no feijão.

Economia é ciência?

MARCELO MITERHOF, economista do BNDES, responde abaixo, diretamente do UOL. 

Não há resposta certeira à pergunta do título. Contudo, sua discussão é proveitosa para entender a natureza da economia.

A constatação inicial é que os economistas tratam seu estudo de formas distintas. Pérsio Arida, em texto clássico, caracteriza a ortodoxia como uma tentativa de replicar a metodologia da física, o que faria o conhecimento econômico progredir por uma fronteira bem delimitada. A heterodoxia não aceita tal noção.

Questões teóricas perduram por séculos sem solução: a moeda é endógena ou exógena? A poupança precede o investimento ou não?

A equiparação à física é precária. Uma ciência dura ou natural se caracteriza por descrever com objetividade e distanciamento os fenômenos que analisa, obtendo leis (regularidades) e explicações que permitem fazer boas previsões.

O problema de caracterizar a economia como uma ciência dura é menos por sua conhecida capacidade de fazer previsões ruins. Isso poderia significar somente que seu estágio de desenvolvimento é inicial.

Mais relevante, a economia tem uma face prescritiva inexistente na física, indicando ao governo como agir. Comparação melhor é com a engenharia, que prescreve métodos de construção ou fabricação.

Porém é mais fácil julgar o trabalho de um engenheiro: se uma construção sua cai, sem dúvida ele errou. No caso dos economistas, um péssimo ministro da Fazenda pode virar um rico consultor. É que as prescrições econômicas têm uma dose de ideologia (crença) e interesse. É por isso que costumam ser avaliadas.

Por exemplo, uma grande preocupação com a inflação e o rigor fiscal atende à crença de que esses seriam requisitos da confiança dos investidores. No entanto, é também um jeito de fazer com que o principal interesse dos mais pobres (ganhar mais) seja deslocado para o longo prazo, enquanto é imediata a busca de inflação baixa, que preserva a riqueza de quem já tem renda alta.

Por outro lado, o foco na elevação dos salários reais revela a crença na demanda como motor da economia, mas também o interesse na distribuição de renda.

A ideologia também explica por que, ao contrário da física, a teoria econômica e suas recomendações pouco mudam. Ideologias são articulações de ideias que se caracterizam pela fixidez. Há quase 300 anos a maioria dos economistas sugere flexibilização do mercado de trabalho, austeridade fiscal etc.

É bom lembrar que, antes de ser um campo de estudo, a economia é um sistema: um conjunto de coisas que se relacionam obedecendo a certas regras.

O ser humano criou vários sistemas interessantes. O xadrez é complexo, mas fechado e dado. O carro é um sistema complexo e que muda. Só que as mudanças são planejadas e controladas por uma montadora.

A economia é o mais incrível: complexo, aberto e descentralizado, formado pela interação de um sistema produtivo e um monetário.

No capitalismo, a moeda sem lastro foi uma novidade decisiva para o sistema econômico, que fez a demanda --por produtos, inovações e investimentos-- passar a ser o motor principal do desenvolvimento produtivo, livrando a humanidade de ter que previamente acumular excedentes (poupança).

O dinamismo também trouxe mais volatilidade, o que exigiu o sistema evoluir. Por exemplo, crises bancárias levaram ao monopólio da emissão de moeda pelo Estado, que também criou o banco central para tentar evitar que problemas de liquidez derrubem o sistema econômico. Esses processos continuam a ocorrer: a crise do euro sugere a unificação fiscal de seus países.

Quer dizer, se a economia evolui pouco como teoria, o mesmo não vale para o sistema econômico. O seu estudo é útil, pois permite entender suas possibilidades, seus limites e riscos e como ele pode ser manejado para atender aos interesses que defendemos. Para tanto, uma boa dose de pragmatismo é saudável.

Nesse sentido, não gosto da abordagem ortodoxa pois se refere a um sistema pré-capitalista, em que a presença da moeda não muda as características de uma economia de escambo, e se baseia em idealização do sistema econômico pouco afeita à contraposição com a realidade.

Porém, dado o viés ideológico, é difícil mudar o entendimento econômico de alguém. Convém ao menos ter claro que a economia não é uma ciência dura. Tal equiparação é frequentemente uma forma de tomar como necessárias prescrições que são apenas crenças e defesa de interesses.

domingo, 30 de junho de 2013

Gustavo Franco: E o real foi para as ruas...

Leio no ESTADÃO o mestre Gustavo Franco e a relação ruas x R$.

O real se tornou a moeda nacional há 19 anos, quando a inflação beirava 50% mensais, mas não havia ninguém nas ruas. Durante os 15 anos anteriores, quando a inflação acumulou 20.759.903.275.651% (vinte trilhões e troco), o brasileiro produziu grandes manifestações em raras ocasiões: para pedir eleições diretas, e depois para derrubar o primeiro presidente que elegeu nesse formato. A hiperinflação, a maior desgraça econômica que o País já viveu (exceto pela escravidão), não chegou a produzir mais que episódios isolados, seu efeito mais marcante e paradoxal foi o torpor.

Como foi possível que uma monstruosidade econômica desta grandeza não pusesse o País submerso em protestos e passeatas?

Talvez nunca seja possível responder com precisão. A hiperinflação foi um fenômeno gigantesco e incompreensível, inclusive por que faltava clareza quanto ao autor. Não havia uma causa, pois se dizia que a inflação de hoje era a de ontem, portanto, de "natureza inercial", e não tínhamos responsável. Contra quem protestar?

Na verdade, a própria inflação era o protesto, pois a experiência de quem viveu aqueles dias sombrios era sempre a do repasse, ou de "correr atrás" para recuperar poder de compra que se derretia. O custo de vida se elevava 1% ou 2% ao dia, era preciso passar adiante os aumentos, pois era um Tsunami, uma reação em cadeia, um conflito distributivo que nos impunha um comportamento nefasto, pois buscava-se "correr à frente" do processo, e assim nos tornávamos cúmplices do vício, ainda que em legítima defesa.

Conforme observou Elias Canetti, numa passagem famosa do livro Massa e Poder, a hiperinflação pode ser tomada como "um sabá de desvalorização no qual homens e unidade monetária confundem-se da maneira mais estranha. Um representa o outro; o homem sente-se tão mal quanto o dinheiro, que segue cada vez pior; juntos, todos se encontram à mercê desse dinheiro ruim e, juntos, sentem-se igualmente desprovidos de valor".

A hiperinflação era, portanto, um fenômeno depressivo, um exercício cotidiano de queimar a própria bandeira, uma destruição de valores de forma ampla, o suicídio de um símbolo nacional, uma ferida ética. O sentimento de culpa talvez explique, em parte ao menos, o desinteresse na busca de responsáveis. A vilania jamais era associada aos líderes políticos que ordenaram a gastança, as pirâmides e estádios, as transposições, as emendas orçamentárias e a generosidade nos bancos oficiais. Nenhum desses farsantes jamais defendeu a inflação diretamente: apenas atacavam quem queria combater a inflação a sério, os miseráveis neoliberais ortodoxos a serviço do FMI e da globalização.

A imprensa jamais conseguiu produzir um rosto, um vilão, quando muito um ministro que naufragou com um plano de estabilização, e o Ministério Público nunca conseguiu processar ninguém por produzir inflação. Nenhuma CPI funcionou com esses termos de referência. Foi o crime perfeito.

Pois agora, passados 19 anos, ao invés de festejar a monotonia da estabilidade, a ocasião serve para o registro que muitos desses personagens estão de volta. Parece novamente recomposta a mesma coalizão inflacionária da "Nova República", movida pelo "tudo pelo social", ou pela promessa de inclusão social, ou de conquistas, a qualquer custo, e também por projetos megalomaníacos e pela descrença em limites fiscais, tudo isso resultando em um "hiperinflacionamento de desejos" no orçamento ou nos bancos oficiais, bem além das possibilidades dadas pela disposição da sociedade em pagar impostos.

Esta é a matriz da hiperinflação, cujo desenrolar invariavelmente compreende a descoberta da capacidade de administrar "politicamente" a realização de desejos incorporando seletivamente grupos beneficiados na coalizão governista numa espécie de clientelismo de massa. Em seguida, para que o processo ganhe escala, é preciso capturar o Banco Central, a fim de adquirir o controle sobre o crédito e sobre a fabricação de papel pintado, mágica que pode ser compartilhada com os Estados, cada qual com o seu banco emissor e sem limites quanto à capacidade de se endividar.

Agora, todavia, esses canais monetários e creditícios estão bloqueados, embora com alguns vazamentos. A inconsistência entre o inflacionismo da política fiscal e as barreiras institucionais à inflação, notadamente na forma das metas de inflação e dos impedimentos ao endividamento dos Estados (Lei de Responsabilidade Fiscal e outros acordos de reestruturação de dívidas), nunca foi tão aguda, parecendo configurar um quadro de inflação reprimida. O sistema político se vê pressionado a fazer escolhas, as tensões vão se multiplicando, e também o intervencionismo, pois o Estado tenciona ser maior que a Sociedade.

Diante dessas limitações, o governo precisa racionar a realização dos desejos que inflou, e para tanto parece ter criado uma espécie de feira de favorecimentos e seletividades, fiscais e regulatórias, guiadas por idiossincrasias, amizades, preferências e por clientelismo. A Casa prevalece sobre a Rua, como diria Roberto da Matta, não há impessoalidade nos atos da administração, tudo tem o seu destinatário, aos amigos tudo, aos outros a horizontalidade do mercado e a hostilidade dos reguladores. Instala-se o primado da malandragem, o investimento em lobby toma o lugar daqueles que se destinam à produção e à competitividade, o país do futebol se torna propriedade dos cartolas e a Rua se levanta.

Soa familiar? Não é parecido com as reclamações que se ouve nas ruas?

É surpreendente e alvissareiro que a sociedade exiba uma capacidade antes inexistente de perceber a vilania dos velhos mecanismos de socialização dos custos de estádios de futebol ou do apoio aos "campeões nacionais". A imprensa não tem dificuldade em identificar os enredos e beneficiários, bem como as fórmulas de ocultação e os truques contábeis e manipulações. A irritação se torna cotidiana e crescente. Ninguém quer pagar as contas que não lhe pertencem, as escolhas do governo são equivocadas e provocam indignação: se há dinheiro para o Itaquerão e para o trem-bala, como as escolas, hospitais e ônibus podem ser tão ruins?

O "sistema político" tem muitos defeitos, mas o problema aqui tem muito mais que ver com a liderança e há uma eleição logo à frente. No mundo plano da globalização e das redes sociais, seria normal que a aversão a esse pseudo-capitalismo de quadrilhas trouxesse para o centro da política o desejo de horizontalidade, transparência, responsabilidade fiscal, probidade, meritocracia e impessoalidade nas regras do jogo econômico. Era disso que se tratava o Plano Real, sobretudo no seu capítulo sobre reformas. Mas o que estamos vendo nos últimos anos é muito diferente. É compreensível a irritação dessa maioria silenciosa com a epidemia de "seletividade", privilégio e compadrio, que se sabe serem o berço da corrupção. Surpreendente mesmo não é o protesto e seus temas, mas o timing e a faísca que o determinou.


A política econômica de Armínio Fraga para os dias de hoje.

Armínio Fraga no GLOBO, diz o que ele mudaria na atual política econômica se estivesse no poder.


Muita coisa, mas nem estou, nem sou candidato a nada... Escrevi com colegas recentemente um artigo, na verdade dois artigos, que vocês publicaram, argumentando que o Brasil vivia uma certa encruzilhada. O primeiro artigo sugeria que poderíamos estar caminhando em direção a um modelo que deu errado, parecido com o da década de 70, com pouco foco em produtividade, modelo mais fechado, bancos públicos tendo papel grande demais, pouca capacidade de mobilizar investimento em infraestrutura e outras questões como essas. Sem prejuízo de muita coisa boa que aconteceu no combate à pobreza, na melhoria da distribuição de renda, isso tudo é essencial e obviamente tem que continuar. Agora de fato me parece que o Brasil tende a ir nessa direção que deu errado no passado. Rever esse modelo me parece essencial. Esse modelo que comentei no início da conversa, onde Brasília passa a ser um destino de peregrinação de empresários, pleiteando subsídios, proteções, crédito barato, é um modelo muito ruim, inclusive do ponto de vista distributivo. É um modelo pró empresa e não pró mercado. Melhor reduzir o Custo Brasil e deixar os empresários competirem entre si. A política recente de combustíveis e automóveis, discutida recentemente em coluna da Miriam Leitão, carece de mudanças: o Brasil subsidia carbono e automóvel, quando o mundo inteiro parece querer diminuir a sua pegada e ter menos carros andando nas ruas, focar mais em transporte público, menos poluente e “engarrafante”. Quando o governo segura o preço do petróleo como segurou durante muito tempo com o objetivo de afetar o índice de inflação, se vê o Brasil indo em direção contrária da que seria correta. O foco do governo Fernando Henrique Cardoso em saúde e educação é atual e correto tanto do ponto de vista de justiça social quanto de crescimento. Tudo que está acontecendo no mundo da infraestrutura, a meu ver, requer muita atenção e vejo bastante espaço para melhorias. Faço questão de registrar aqui que o próprio governo tem dado sinais de que quer caminhar nessa direção e espero que as incertezas com relação aos investimentos na infraestrutura não atrapalhem demais a retomada do investimento, que já está muito atrasada.

sábado, 29 de junho de 2013

O sinal e o ruído - por que tantas previsões falham e outras não.


Neste final de semana minha agenda é com o livro do Nate Silver “O Sinal e o Ruído - Por que Tantas Previsões Falham e Outras não.” Conforme li na EXAME trata-se de um dos melhores livros de economia lançado nos Estados Unidos em 2012 e agora aqui no Brasil. Recomendo a todos os colegas economistas que também utilizam a estatística em seus trabalhos.    

Cita a EXAME que “o tema do livro ganha peso quando se lembra das previsões de Nate Silver, estatístico do New York Times, para as eleições norte-americanas. “Não é um livro só de economia, e sim um livro sobre a ciência e arte de fazer previsões”, segundo Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados emergentes do Nomura.


Silver investiga como se pode distinguir sinais verdadeiros em um universo de dados confusos. Para Silver, o excesso de confiança é, geralmente, o motivo da ruína de muitas previsões – e elas poderiam melhorar com um aperfeiçoamento da incerteza.”

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...