Os excelentes técnicos do Banco Central, sob o comando do presidente Alexandre Tombini necessitam demonstrar com eficácia a membros do próprio governo os riscos da inflação ultrapassar a meta estipulada de 4,5% ao ano. A sociedade brasileira possui mecanismos de adaptar-se a uma espiral inflacionária, uma vez ter convivido com essa excrescência por longo tempo. Diante disso, um aumento aqui, outro ali, automaticamente gera-se uma acomodação da população e daí em diante para chegar a uma prejudicial hiperinflação é somente uma questão de tempo.
O assunto inflação deve ser tratado com rigor e com o total apoio da presidente Dilma. Desde a sua posse, por diversas vezes a presidente manifestou a sua posição de combater a inflação a qualquer custo. No entanto, efetivamente na prática não se observa uma postura inflexível perante o perigo do retorno da inflação. Quem foi atingido pelos Planos Cruzado, Cruzeiro, Collor dentre tantos outros, conhece a dificuldade que era conviver com taxas de hiperinflação e teme com a possibilidade do retorno do dragão inflacionário.
A complexidade de manter sob controle a economia brasileira diante de inúmeros e graves problemas não é tarefa simples. Porém, não é com o afrouxamento no combate a uma taxa de inflação superior a meta que o país torna-se seguro. Pelo contrário, a demonstração de fraqueza nesta área aumenta o risco de uma instabilidade econômica que trará seus reflexos sobre toda a sociedade, até na esfera política.
Mesmo diante da crise de 2008 que ainda continua com seus reflexos em diversos países, não é, por exemplo, porque contabilizamos mais de US$ 300 milhões em reserva e a taxa de desemprego encontra-se em 6% - quase atingindo o nível de pleno emprego, que a área econômica do governo pode sentir-se confortável e segura que nada poderá prejudicar o Brasil.
É desconcertante que vejamos o governo interferir na saída do competente Roger Agnelli da Vale, continuar sem observar com austeridade a Lei de Responsabilidade Fiscal, buscar controlar a cotação do dólar e até mesmo não admitir como positivo o aumento na taxa básica de juros aprovada pelo Copom. Indicadores do mercado e do próprio governo projetam um aumento do PIB no primeiro trimestre deste ano entre 0,9% a 1,5%. O perigo é que a desaceleração que deveria frear a inflação não aconteceu, o que faz também com que seja estimada em quase 7% a taxa de inflação acumulada nos últimos 12 meses.
Isso demonstra que as medidas macroprudenciais do governo não estão em sintonia com a economia de mercado, ou seja, com o mundo real. Supor que por termos reservas nunca antes acumuladas neste país é fator seguro contra riscos econômicos é primário. Que aconteceria se os investimentos diretos estrangeiros deixassem de ingressar no país – somente em abril US$ 5,5 bilhões -, e o governo por pressão política optasse por manter baixa a taxa básica de juros? Os sólidos fundamentos da economia brasileira não estão assim tão fortes para que ocorrências dessa natureza não causem prejuízo ao país.
Recém eleita presidente, com uma base de apoio parlamentar elevada (mas que na hora de uma votação complexa transforma-se em geléia) e com amplo apoio popular, é o momento certo para o governo realizar reformas. Nesse caso, reformas que transformem este Brasil burocrático, ineficiente nos gastos, arrecadador voraz, indeciso economicamente, com um baixo nível educacional, sem investimentos em infraestrutura básica. O Brasil precisa ter um perfil que busque colocar o estado em funções básicas, que não possam ser preenchidas pela iniciativa privada, visando ser, de fato, uma potência econômica e não um mero ator coadjuvante ao acreditar poder sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas sem cair no ridículo.
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