Hoje a Folha publica matéria sobre o estado do Para. Pelo menos, desta vez, o assunto é bom para nós.
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A PARAGOMINAS (PA)
O Pará será em cinco anos a nova Minas Gerais brasileira. É quando o Estado deve assumir a liderança da produção nacional de minérios.
Hoje, Minas Gerais produz 40% dos minerais extraídos no país, e o Pará, 20%.
Mas o fluxo de investimentos previstos para os próximos quatro anos deve dar novo impulso à produção no Estado, proporcionando escala sem precedentes à sua indústria mineral.
Dados do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração) indicam que só o Pará vai receber US$ 41 bilhões em novos recursos até 2016.
Desse total, US$ 24 bilhões serão aplicados apenas na exploração mineral, do ferro ao cobre, do níquel ao ouro, da bauxita à cassiterita.
Minerais nobres, como paládio e platina, também fazem parte dessa lista.
DÁDIVA GEOLÓGICA
Geólogos classificam o Pará como "uma dádiva divina". Mas o acaso, que começou há mais de 2 bilhões de anos, fez do Estado a maior região do mundo em variedade mineral. Uma riqueza, porém, que nem o governo do Pará sabe quantificar.
"Há cerca de mil mineradoras atuando no Pará. Conhecemos, no máximo, 50. Há um total desconhecimento sobre o que está acontecendo em termos de exploração no Estado", diz David Leal, secretário de Mineração.
O Estado também reconhece que o Pará pode, pela falta de política, de logística, de fiscalização e de organização da gestão pública, estar sendo saqueado em milhões ou até bilhões de reais.
Sobre o que é controlado, o Estado registrou um salto relevante entre 2010 e 2011. Os royalties gerados na exploração renderam quase R$ 150 milhões a mais em um ano, ao saltarem de R$ 315 milhões para R$ 462 milhões.
A indústria da mineração exportou, só em matéria-prima, US$ 13,7 bilhões em 2011. Cifra que entrou no Brasil e ajudou o país a engordar o saldo da balança comercial.
Só a mineração paraense exportou o equivalente a 44% do superavit total do país, de US$ 29 bilhões em 2011.
E mais projetos para exportação estão a caminho.
A Hydro Brasil, empresa que assumiu a mina de bauxita da Vale, em Paragominas, vai investir US$ 1 bilhão para aumentar de 10 milhões para 15 milhões de toneladas a capacidade de produção da mina. O projeto também vai viabilizar uma nova refinaria de alumina, em Barcarena.
DO ENVIADO A PARAGOMINAS (PA)
Nada se parece com aquele passado obscuro e violento. As calçadas de pedra, a ponte de madeira, as imensas rochas de bauxita postas às margens do belo lago artificial, a infância que brinca ao invés de trabalhar.
O parque linear, que será entregue à população neste mês, deve se transformar num símbolo da mudança que essa cidade paraense, de 100 mil habitantes, vive.
Paragominas já foi a capital do desmatamento. Vista como um "faroeste", a cidade de 47 anos, que surgiu às margens da rodovia Belém-Brasília, converteu-se em "município verde" -um exemplo que virou modelo replicado pelo Estado do Pará.
Vencedora do 9º Prêmio Chico Mendes, para iniciativas ambientais, Paragominas viveu o inferno.
Ali mesmo, às margens da Belém-Brasília, ponto de parada de caminhoneiros, havia de tudo. De prostituição a pistolagem, de trabalho infantil a mendicância.
IPTU E EDUCAÇÃO
A cidade zerou o analfabetismo de adultos ao conceder desconto de 50% do IPTU para quem fosse estudar.
O desmatamento cessou. Quarenta serrarias engoliam 300 quilômetros quadrados de floresta por ano. Hoje, menos de 1,5 quilômetro quadrado é desmatado. Paragominas deixou a lista de desmatadores do governo federal.
A criançada agora se ocupa em projetos sociais, bancados com recursos públicos e da mineração de bauxita. A Hydro já gastou R$ 85 milhões em escolas, em hospitais e no saneamento.
O dinheiro dos royalties rende à cidade cerca de R$ 900 mil por mês.
"Esse dinheiro não entra no custeio da prefeitura. É para investimento. Uma lei determina também que em cinco anos parte do recurso comece a ser gasta no desenvolvimento de outras atividades econômicas que substituirão a mineração", afirma o prefeito de Paragominas, Adnam Demarchki (PSDB).
A exploração ilegal da madeira é passado. Crescem o reflorestamento e a produção de grãos e indústrias, como a fábrica de ração e um frigorífico de pequenos animais.
"A cidade de Paragominas é um caso raro de gestão pública no Brasil", diz Geraldo Brittes, diretor da Hydro. (AB)
DO ENVIADO A PARAGOMINAS (PA)
Grande fornecedor mundial de matéria-prima, o Estado do Pará acredita que as grandes hidrelétricas, como as usinas de Belo Monte e do Complexo Tapajós, podem gerar energia suficiente para sustentar a indústria de transformação do minério.
"O Estado ainda é um mero exportador de matéria-prima e isso internaliza pouca riqueza", diz David Leal, secretário de mineração.
O Pará quer minério de ferro virando aço, bauxita convertendo-se em alumínio, e concentrado de cobre, em cabo de energia.
Em Barcarena, a 80 quilômetro de Belém, um grande complexo industrial já processa minérios, como a bauxita, na Alunorte, ou o caulim, na Imirys Rio Capim.
A Vale tem o projeto da Alpa, uma siderúrgica em Marabá. Parte do minério de ferro que será processado nessa siderúrgica deve sair da Serra Sul, a nova mega mina da Vale em Carajás.
Leal narra uma conversa recente com executivos canadenses que vão retomar a produção de ouro em Serra Pelada. O subproduto da exploração é um concentrado um bocado valioso. Contém paládio e platina e será exportado e processado fora do país.
"Questionei o executivo sobre por que isso não é processado aqui. Se for problema de incentivo, o Pará dá."
Não é por acaso essa oferta. A mineração ainda é uma atividade que melhora a vida de quem está ao lado do projeto, não da população.
O Pará aprovou uma lei que exige o cadastro das mineradoras, além do pagamento de uma taxa. Serão R$ 800 milhões por ano, quase o dobro dos royalties. O dinheiro, diz o governo, vai ajudar o Estado a montar uma política definitiva. (AB)