quinta-feira, 17 de junho de 2010

MARTIN WOLF E A ECONOMIA HOJE.

Por problemas operacionais da física humana estamos mais ausentes deste democrático espaço. Porém, espero que a situação retorne ao padrão habitual e possamos manter a atualização e a divulgação do que ocorre no mundo da economia.
Para não esquecer, vide abaixo Martin Wolf no VALOR ECONÔMICO de 16/06/2010:

SEMINÁRIO EM SP - FGV

Final de semana passada participei na FGV SP de um seminário sobre economia conduzido pelo competente professor MÁRIO RUBENS DE MELLO NETO.
Como ele é um defensor ilimitado da indústria brasileira, acredito que tenha lido com prazer o artigo de DELFIM NETTO publicado na FOLHA e disponibilizado abaixo para os meus e-leitores.

É HORA DA INDÚSTRIA!

ANTONIO DELFIM NETTO, em sua coluna desta semana na FOLHA DE S. PAULO, escreveu que “É hora da indústria”.

A partir dos anos 50, construímos uma estrutura industrial muito sofisticada para o nosso padrão de desenvolvimento.

A indústria de bens de capital foi fundamental para o rápido crescimento dos anos 50/80. Sem ela, teríamos tido muita dificuldade para expandir a matriz energética e construir Itaipu e Tucuruí.

Nosso desenvolvimento foi feito por empresas (nacionais e estrangeiras) que tomaram o risco de aqui se instalar na esperança de que o rápido crescimento de 1950/80 (7,4% ao ano) prosseguiria. Mas não foi assim. Um fenomenal aumento do petróleo levou à falência todas (sem exceção) as economias emergentes que dependiam de sua importação.

Quando a elevação da inflação nos EUA levou ao ajuste Volker, em 1979, as taxas de juros reais atingiram níveis impensáveis, o que ajudou a desintegrar as finanças públicas daqueles países.

O caso brasileiro é exemplar: em 1980, nossa produção de petróleo atendia 20% do consumo. A situação ficou tão desesperadora que se chegou a imprimir na Casa da Moeda um "cartão de racionamento" de combustíveis. Felizmente, um ataque de lucidez de última hora impediu o seu uso.

Pois bem. Após a tragédia, aquelas indústrias amargaram 30 anos de vacas magras, com um crescimento médio do PIB de 2,4% de 1981 a 2009. Algumas sucumbiram. Outras resistiram e continuaram a produzir no "estado da arte", mas prejudicadas pela falta de demanda.

No período, a carga tributária passou de 24% para 36% do PIB, e o investimento público caiu de 4% para 1,5%. O setor privado ajustou-se aos programas de equilíbrio monetário e fiscal, suportando uma taxa de juro real estratosférica e uma taxa de câmbio real sobrevalorizada.

A partir do segundo mandato de Lula, abriu-se uma janela: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) recuperou o papel do "Estado indutor" e reacendeu o "espírito animal" do nosso empresariado. Se soubermos usar o "bônus" do pré-sal, poderemos rodar a uma taxa de 5% a 6% nos próximos anos sem desequilíbrio interno ou externo.

Agora é hora de voltar a usar a capacidade produtiva da indústria de bens de capital instalada no Brasil e não se deixar iludir por mirabolantes financiamentos chineses.

Não se deve, por exemplo, levar em conta apenas o preço na compra de uma turbina. Produzida no Brasil, ela gera substanciais externalidades que não podem ser apropriadas privadamente.

Se não entendermos isso, as indústrias que têm fábricas no Brasil e na China e, logo, a mesma tecnologia, por que permanecerão aqui? E como sobreviverá a indústria nacional?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

DIA DE SELIC!!!

DIRETAMENTE DA FOLHA DE S. PAULO - O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) anunciou o segundo aumento consecutivo da taxa básica de juros, que passou de 9,50% para 10,25% ao ano. A decisão foi unânime.

"Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias ao cenário prospectivo da economia, para assegurar a convergência da inflação à trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,25% a.a., sem viés", afirma nota divulgada após a reunião.

A alta de 0,75 ponto percentual era uma aposta praticamente unânime no mercado financeiro. Em abril, o BC já havia elevado a Selic de 8,75% para 9,50% a.a., dando início a um novo ciclo de alta dos juros, o primeiro desde 2008.

O BC volta a se reunir agora nos dias 20 e 21 de julho, para quando é esperada uma nova alta de 0,75 ponto, de acordo com as apostas da maioria dos economistas.

NOTÍCIAS DA FLORESTA!!!

Por questões x, y, e z, estou devendo aos meus quase dois fiéis e dedicados leitores (que espero não tenham abandonado esta página), a devida atualização deste blog. Mesmo ciente que colegas como Reinaldo Azevedo, de tempos em tempos dão uma parada nos posts, realmente trata-se de um espaço totalmente democrático e que somente por questões inadiáveis, tenho que manter ausência deste local.
De qualquer maneira, continuamos aqui pela floresta amazônica, agora com Copa do Mundo e Eleições 2010 dominando os noticiários, mas sempre que possível, com uma passagem por aqui. Também sinto falta da leitura dos blogs de excepcionais colegas, o que pretendo fazer o mais breve possível.
Neste final de semana estarei em São Paulo - que espero não ver sol, apenas frio, e para iniciar bem os próximos dias, nada como rir com SINFRÔNIO, lá da nossa Fortaleza, nas páginas do DIÁRIO DO NORDESTE.

A ANÁLISE DO PIB 2010.1

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 47, economista-chefe do Grupo Santander Brasil, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, também escreveu na FOLHA sobre o PIB brasileiro. Para quem deseja a leitura completa vide abaixo. Outros textos do autor estão no excelente www.maovisivel.blogspot.com.

Os números do PIB divulgados ontem são impressionantes sob qualquer ótica. Descontada a sazonalidade do período, o crescimento anualizado sobre o trimestre anterior atingiu quase 11,5%. Mesmo se usarmos a média dos últimos dois trimestres (10,4% ao ano) ou dos últimos três trimestres (10% ao ano), é inevitável concluir que o país cresce a um ritmo fortíssimo. E, note-se, nesse critério de avaliação, a velocidade de crescimento não resulta da fraca base de comparação do começo de 2009; é mesmo extraordinário.

Obviamente, ninguém com mais de cinco neurônios acha ruim que a economia cresça vigorosamente. A questão é saber se esse ritmo de expansão é sustentável, isto é, se pode ser mantido por longo período, ou se, pelo contrário, ocasionará desequilíbrios graves que, mais à frente, cobrarão preço elevado em termo de redução do crescimento futuro. A alternativa correta é a segunda.

Pudemos manter essa taxa de crescimento por algum tempo, da mesma forma que uma caixa de água pode receber mais líquido que sua capacidade de vazão desde que esteja suficiente vazia no começo. Contudo, assim como a caixa se encherá, levando ao fatal transbordamento à medida que o espaço vago for preenchido, também os desequilíbrios surgirão quando a capacidade ociosa se esgotar. O desafio é elevar o crescimento sustentável, ou, nos termos do nosso exemplo, a capacidade de vazão.

Embora não falte quem sugira que basta um ato de vontade, tanto a teoria econômica como a experiência de inúmeros países indicam que o crescimento de longo prazo depende essencialmente de quatro fatores.

Em primeiro lugar, a demografia, por exemplo, o tamanho da força de trabalho relativamente à população total. Quanto maior essa relação, tanto mais rápido deverá ser o crescimento.

Em segundo lugar, a qualificação dessa força de trabalho, tipicamente medida pelos anos de educação, devidamente ponderados pela qualidade dessa educação, como aferida em exames internacionais. Provavelmente relacionado à educação, mas afetado também por outras variáveis, há também o crescimento da produtividade da economia, geralmente associada ao ambiente de negócios, a arranjos institucionais (como direitos de propriedade bem definidos) e à abertura comercial, entre outros.

Esses três fatores têm em comum o fato de serem pouco passíveis de alteração por políticas governamentais, exceto em prazos muito longos (basta pensar que é necessária uma geração para alterar substancialmente a qualificação da força de trabalho). O que pode ser afetado num prazo mais curto é apenas o quarto fator: o volume de investimento.

Há desenvolvimentos positivos: o ritmo de expansão do investimento tem se acelerado, atingindo mais de 30% ao ano na média dos três últimos trimestres. No entanto, mesmo depois desse crescimento vertiginoso, a formação de capital representava apenas 18% do PIB no primeiro trimestre de 2010, insuficiente para fazer o estoque de capital aumentar o bastante para acomodar uma expansão do produto superior a 4%, 4,5% ao ano.

Estimamos que, para manter o crescimento na faixa de 5% a 5,5% ao ano, o investimento deveria atingir valor em torno de 22% do PIB, ainda bem superior ao observado.

Note-se, ademais, que a poupança bruta tem girado ao redor de 15% do PIB, apesar da crença de alguns de que o investimento geraria sua própria poupança. Isso reflete em larga medida o nível elevado do gasto público, ainda na casa de 20% do PIB (ante, por exemplo, 13% do PIB em nossos pares latino-americanos).

Vale dizer, não basta querer aumentar a taxa de investimento; é imperativo que o país eleve também sua poupança, de preferência por meio da redução do consumo público. Na ausência desse ajuste, será a poupança externa, mais uma vez, que financiará o crescimento, gostem disso ou não nossos keynesianos de quermesse.

CONTROVÉRSIA.

Em dia de divulgação de PIB, vale o prazer da leitura do texto sempre inteligente de ANTONIO DELFIM NETTO, publicado na FOLHA DE S. PAULO.

Levantamento feito pelas competentes jornalistas Ângela Bittencourt e Lucinda Pinto ("Valor Econômico", 4/6) com 31 importantes analistas do sistema financeiro revelou que, para o Copom de hoje, 9 entre cada 10 estimavam um aumento de 0,75% da taxa Selic. O outro esperava 1%!

Tal unanimidade se devia provavelmente à estimativa do crescimento entre 2,5% e 3% do PIB do primeiro trimestre de 2010 contra o último de 2009, que afinal se confirmou em 2,7%.

É verdade que teremos uma safra 2009/10 melhor que a anterior e com aumento da produtividade, que a produção industrial está chegando ao "pico" alcançado antes da crise, que foram feitos investimentos que estão maturando e que existe uma escassez de mão de obra especializada, mas sem resultar em aumento dos salários reais acima da produtividade.

Apesar dos gargalos da infraestrutura, parece claro que podemos crescer entre 5% e 6% sem maiores pressões inflacionárias.

A dificuldade do Banco Central é que as pressões inflacionárias são sorrateiras e a credibilidade da política de metas depende do seu sucesso. No último quinquênio, a "meta" foi de 4,5% ao ano, e a inflação realizada, de 4,7%, o que certamente é um sucesso.

Os Bancos Centrais são normalmente conservadores. Tendem a subestimar o famoso "PIB potencial" e a superestimar a taxa neutra de desemprego e a taxa de juro real de equilíbrio para garantir sua credibilidade.

No Brasil, o caso é grave: depois de longas lutas e derrotas, o Banco Central concede que o tal PIB potencial talvez esteja entre 4,5% e 5%, mas garante que a taxa de juro real de equilíbrio está entre 7% e 8%, tão teratológica quanto sua estimativa de que a taxa de desemprego mínima para domesticar o mercado de trabalho deva ser de 7% a 8%.

O último "Boletim Focus" (4/6) mostra que o mercado financeiro espera uma taxa de inflação de 4,8% e uma taxa de crescimento de 4,5% para 2011, depois da elevação do juro esperada para 2010.

Qual é a taxa de juro real esperada pelos analistas acima?

Os mais comedidos (16% deles) esperam a Selic de 11,50% no final de 2010 e, portanto, uma taxa de juro real de 6,4%; os que esperam a Selic entre 11,51% e 12% (39% dos informantes), 6,6%; de 12,01% a 12,50% (32% dos informantes), 7,10%; e de 12,51% a 13,00% (13% dos informantes), 7,6%. Estão todos bem domesticados pela credibilidade dos modelitos do Banco Central!

Mas há controvérsia. O setor privado brasileiro há de ser muito produtivo para gestar um robusto crescimento pagando a maior taxa real de juros do universo e suportar a supervalorização do real dela decorrente.

domingo, 30 de maio de 2010

CARTA AOS PRESIDENCIÁVEIS - TROSTER

Conheci Roberto Luis Troster em São Paulo, quando o mesmo era o economista-chefe da FEBRABAN. Trata-se de profissional de extrema competência e que publicou no VALOR de 25/05/10, que recebi através do professor Carlos Pio, carta aberta aos atuais candidatos à Presidência. Pela inteligência, questionamentos, inquietações e didática da mesma, tenho que publicá-lo no meu blog. Além do que, como estive ausente deste espaço por alguns dias, o texto resume também o que pensamos neste ano tão importante para o BRASIL.

Prezados Dilma, Marina e José. Saudações!

É oportuno que se conheça o perfil das pessoas que ajudarão a fazer com que o Brasil ocupe o destino que ambiciona.

Os três têm credenciais para ocupar o cargo que postulam, vontade de fazer acontecer e aparentam consenso sobre as linhas mestras da condução econômica: câmbio flexível, responsabilidade fiscal e o regime de metas de inflação. Entretanto, os pormenores de suas propostas são desconhecidos, gerando incertezas desnecessárias.

Escrevo para pedir-lhes que atenuem as inseguranças que pairam sobre o que esperar. Com mais clareza, o sistema financeiro nacional poderá canalizar mais recursos para o desenvolvimento a que se propõe. Apesar de ser sólido, ter abrangência nacional e competitividade internacional, ele depende de alguns quesitos para funcionar bem e tem alguns entraves que deverão ser removidos na próxima presidência. Nesse sentido, é oportuno o detalhamento solicitado. Dez pontos precisam ser esclarecidos: a) o regime de metas, b) a margem financeira, c) a inclusão bancária, d) o crédito estatal, e) o quadro institucional, f) o câmbio, g) o tratamento ao capital estrangeiro, h) a tributação no mercado financeiro, i) a gestão fiscal e a j) a equipe econômica.

O regime de metas de inflação cumpre um papel importante estabilizando preços e coordenando expectativas. Apesar de alguns senões sobre a sintonia fina, é uma unanimidade que tem sido bem aplicado no Brasil. Será mantido como está ou haverá mudanças? Em caso afirmativo, quais? A composição do Copom continuará sendo apenas a diretoria do Banco Central (BC)? A meta de 4,5% será mantida, aumentada ou diminuída? Será fixada uma meta de longo prazo? Enfim, qual é a proposta?

A margem financeira (spread) do Brasil é uma das mais altas do mundo com consequências perversas no desenvolvimento do país. Apesar dos discursos, neste governo, ela aumentou para a pessoa jurídica e para a pessoa física só diminuiu nas modalidades de aquisição de bens e crédito pessoal. Há distorções que podem e devem ser corrigidas. Algo tem que ser feito, pois margens tão elevadas tornam inviável uma expansão sustentável do crédito. O endividamento das pessoas e empresas não pode crescer indefinidamente a taxas superiores a sua capacidade de pagamento. Serão adotadas medidas para reduzir a margem? Em caso afirmativo, quais?

A inclusão financeira promove a inserção econômica e social, a formalidade e a cidadania. Duas condições são necessárias para isso: o acesso e a utilização de produtos e serviços bancários. Enquanto o acesso é abrangente, sua utilização é baixa e incompatível com a sofisticação do sistema. Há propostas para aumentar a inclusão das classes de rendas mais baixas? Quais são?

O crédito estatal cumpriu um papel na superação da crise, todavia, a experiência mostra que é um bom remédio a curto prazo mas, em doses exageradas e quando aplicado por muito tempo, traz mais malefícios que benefícios. Qual será o papel dos bancos públicos em seu governo? Fala-se numa fusão da Caixa com o Banco do Brasil? Ou dos bancos de desenvolvimento, BNDES, BASA e BNB? A participação do crédito estatal no total do crédito deve manter-se no atual patamar? Subirá? Será reduzida? Qual será a orientação a ser dada aos bancos públicos?

O quadro institucional do mercado financeiro tem quase meio século e é obsoleto, com superposição de atribuições entre órgãos reguladores e supervisores. Há intenção de modernizá-lo? Será dada independência formal ao Banco Central? À semelhança de outros países, será criada uma agência para a proteção do pequeno tomador? Haverá uma fusão de instituições reguladoras? Haverá um novo desenho funcional para o setor?

O tratamento dado ao câmbio é fundamental para uma economia sólida, mesmo com o compromisso de flutuação livre, há algumas definições em aberto. Haverá alguma política para amortizar a volatilidade? Permitir-se-á uma convertibilidade maior? Contas em divisas dentro do país serão autorizadas?

O capital estrangeiro é importante para financiar o déficit em contas correntes, aumentar o investimento interno, trazer novas tecnologias e abrir novos mercados no exterior. Tem também um componente com distorções nos movimentos especulativos. Pode-se esperar continuidade no tratamento? Ou haverá mudanças? Em caso afirmativo, quais?

A tributação no mercado financeiro é uma colcha de retalhos, fruto de medidas emergenciais ao longo de décadas. Apresenta defeitos como incidir mais no pequeno tomador de crédito que no grande e distorcer preços de ativos. Haverá alguma correção? Uma nova estrutura de impostos para o setor está sendo elaborada?

O comprometimento com a responsabilidade fiscal é consenso entre os três, entretanto, como cada um dos candidatos pretende definir responsabilidade fiscal é a questão. Qual será a meta de superávit primário? Será criada a meta de déficit nominal zero? Pode-se esperar uma redução de gastos do governo? De quanto e aonde? O uso de outras fontes de financiamento, como as PPP, para investimentos em infra-estrutura será utilizado? Haverá mais transparência fiscal?

A última interrogação é a composição da equipe econômica que cada candidato a presidente coordenará. É oportuno conhecer o perfil das pessoas que ajudarão a fazer com que o Brasil ocupe o destino que ambiciona. Há alguns nomes já?

É fato, há questões mais importantes num programa de governo, tais como educação, a saúde e a qualidade de vida. Todavia, as solicitações acima são mais urgentes. O sistema financeiro é uma ponte entre o presente e o futuro, e quanto mais transparentes forem os horizontes, mais incentivos terá para direcionar investimentos. O novo governo começa só no ano que vem, entretanto, sua construção já está em andamento.

Finalizando, espero que o (a) melhor para o Brasil vença as eleições e faça acontecer. Agradeço seus posicionamentos e desejo um bom dia aos três.

A THE ECONOMIST DESTA SEMANA!

Mais uma vez a THE ECONOMIST vem com uma capa que representa muito bem a situação da ECONOMIA no mundo de hoje.

domingo, 23 de maio de 2010

A MENSAGEM DE ARMÍNIO FRAGA

Hoje na FOLHA DE S. PAULO, o presidente do Banco Central entre 1999 e 2002, sócio da Gávea Investimentos, economista Armínio Fraga, 52, afirma que, se o próximo governo não enfrentar uma reforma na Previdência, permitirá criar a base para uma nova crise no futuro. Fraga defende a imposição de limite ao endividamento do governo e diz que o Brasil, hoje, é obrigado a desacelerar o crescimento porque, além de investir pouco, deixou de cuidar da educação. Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - O Brasil levou 40 anos para voltar a crescer ao ritmo do Milagre Econômico [de 1968 a 1973]. Agora, temos que desacelerar para não gerar inflação. O que faltou?
Armínio Fraga - Investir mais e educar melhor. Não há país bem-sucedido que não tenha feito esforço importante na educação ou que tenha se desenvolvido só com recursos naturais.
Está claro onde temos que trabalhar para que a economia sustente um ritmo maior de expansão, principalmente em infraestrutura.

Há investimentos estrangeiros previstos no Brasil em energia, mineração, recursos naturais. A tendência é duradoura ou apenas moda?
Os estrangeiros estão entusiasmados porque temos passado pelas crises melhor do que o nosso histórico. Tem oportunidade na China, na Índia, no Leste Europeu. Mas somos o mais ocidental dos emergentes, é mais fácil. Às vezes o entusiasmo é excessivo. Não sou pessimista, mas não podemos relaxar. Caminhamos para um deficit em conta-corrente maior, os juros são altos.

Quando fala de juros, o sr. vê como resultado da estrutura de dívida e gasto público, e não da atuação do BC, não é?
Exatamente, o juro que o BC controla sobe por questões estruturais. No longo prazo, o trabalho do BC tem ajudado a reduzir a taxa porque reduz a incerteza sobre o país. Temos uma história ruim, pressões fiscais. Isso vai exigir um esforço de natureza estrutural.

Os dois candidatos à presidência mais bem colocados nas pesquisas criticam ou já criticaram a política monetária. O que podemos esperar?
Não vejo nenhum político conectado com a realidade disposto a se arriscar deixando a inflação subir. As pessoas sabem que inflação corrói o dinheiro, e os pobres perdem mais.

O sr. vê ameaça à atuação do BC no futuro?
Fala-se em aventura nessa área, em função de declarações dos candidatos. Mas se referem a circunstâncias extremas, e não ao dia a dia do BC. O BC não tem independência formal, mas temos autonomia operacional. Eu aposto que isso continuará.

Que pergunta o sr. faria ao futuro presidente?
É uma pergunta antipática, que cabe a todas as lideranças do mundo: "Qual é sua visão de um futuro fiscal tranquilo para o país?".

Qual é o problema mais urgente a ser resolvido, na área macroeconômica?
O crescimento do gasto público.

E qual reforma institucional relativa à área econômica deve ser tocada no início do próximo governo?
Reforçar a Lei de Responsabilidade Fiscal, impondo limite à dívida pública federal, e incorporar a discussão da previdência.

No caso da previdência, o sr. acha que algo mudou?
Não, com tendência de piorar, se o fim do fator previdenciário não for vetado. É um tema difícil para um político, e não só no Brasil. O presidente Fernando Henrique avançou, mas pouco porque a oposição fez críticas agressivas. O envelhecimento da população dos principais países é uma questão gravíssima e não vem sendo discutida de forma razoável.

A previdência pode gerar crises no futuro?
Pode, sim. Lá fora já se vê reação. Os governos da Alemanha e da França já discutem isso. A Europa levou uma sacudida de confiança nunca imaginada, mas vai reagir positivamente.

A crise da zona do euro pode ser debelada antes que extrapole para outras regiões?
Há riscos para nossa economia porque a Europa é o maior mercado de nossas exportações. Temos deficit em conta-corrente, e isso pode dificultar o financiamento.

Com gastos do governo em alta, o BC está sobrecarregado no controle da inflação?
O acompanhamento do BC é um trabalho minucioso. Chegou a hora de dar uma segurada, e por isso subiram os juros para 9,5%. O anúncio do corte de gastos pelo governo é positivo porque alivia a inflação.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O BRASIL MERECE MUITO MAIS!!!

Em tempos de eleição presidencial, uma reflexão com PAULO RABELLO DE CASTRO, com o sugestivo nome: “O BRASIL MERECE MUITO MAIS”, na FOLHA DE S. PAULO de 19/05/10. E nós, que andamos nas ruas e estradas deste Brasil, lugares onde nossos governantes desconhecem (afinal, para que querem aviões...), sabemos quanto falta para que o BRASIL seja realmente um país desenvolvido. E a educação onde fica? E a saúde? E o saneamento básico? E a ausência de respeito ao cidadão como sustentáculo desse ESTADO que aí está para SERVIR e não para ser utilizado como instrumento patrimonial de quem está na cadeira principal? Espero que nesta eleição de 2010 vença o ou a melhor candidato (a), contanto que realmente possamos dizer que o país do futuro é HOJE e que ele pode ser MAIS.
Tenho sido questionado por muita gente sobre qual o candidato ou candidata "mais adequado" a suceder o presidente Lula. Com quem converso, simpatias à parte, dúvidas persistem sobre o perfil das propostas de cada um. Afinal, ainda falam como pré-candidatos, embora com importante currículo de bons serviços prestados ao país. A dúvida dos eleitores reflete bem mais do que desconhecer a plataforma dos candidatos. O eleitor desconfia de que coisas importantes estão por acontecer. Saímos da "era Lula" para algo novo, com equipe que trará sua marca própria ao governo. Que marca será essa? O Brasil cresceu na foto internacional e suas oportunidades econômicas se multiplicaram. E se o candidato vitorioso puser todo esse imenso potencial a perder, por excesso de voluntarismo ou falta de criatividade? O risco é enorme e os custos aumentaram porque agora "temos mais a ganhar ou perder...". Em magnífico artigo ("O Brasil merece mais"), publicado anteontem nesta Folha, Abram Szajman, presidente da Fecomercio SP, coloca os pingos nos is, com coragem e lucidez. "O voto - lembra ele - não deve ser um prêmio, mas uma tarefa... pois o regime democrático não oferece, com a vitória eleitoral, um cheque em branco para o ganhador, de quem se espera o cumprimento de compromissos assumidos com o eleitorado". Perfeito. Mas Szajman nos alerta para o fato de que o debate amplo dos programas de governo acaba ficando em segundo plano, e o eleitorado, embrulhado por mensagens vazias e jingles eleitorais. Desta vez, o risco é maior por causa do que está em jogo nesta década 2011-2020. A Fecomercio SP vem colaborando para mapear esses riscos da transformação do Brasil, que envelhece rapidamente, que ficou mais alfabetizado, porém não mais escolarizado diante dos países emergentes (que dirá frente aos desenvolvidos!) e que tem como desafio maior mudar o modelo de "alto consumo e endividamento" para um de crescimento com "alto investimento e sustentabilidade". Como? A sociedade civil não quer mais esperar pelos candidatos. Passamos, nós mesmos, a desenhar esse futuro, a muitas mãos, num movimento espontâneo que surge com o nome de "Brasil Eficiente" e vem recebendo adesões de federações de comércio, indústria e de trabalhadores, do terceiro setor e de associações profissionais. A mensagem é simples: o país quer buscar máxima eficiência em todos os campos, inclusive dos governos, por que não? Os candidatos serão convidados a debater uma espécie de decálogo do Brasil Eficiente. Os compromissos: 1) exigir dos governos o equilíbrio fiscal e eficiência nos gastos que a lei dos mercados impõe às empresas e aos cidadãos. 2) aumentar o investimento de 18% para 25% do PIB, dobrando a renda pessoal em dez anos. 3) trazer a carga tributária para 30% do PIB até 2020, com simplificação radical dos impostos e da burocracia. 4) manter o gasto corrente sob estrita vigilância, com mais recursos para a infraestrutura, inovação e investimentos sociais. 5) mais poupança de longo prazo e reinversão dos lucros, democratizando o capital acionário e imobiliário. 6) estimular a formalização do emprego. 7) unificar a regras previdenciárias e equilibrar os benefícios sociais com a renda tributada aos que trabalham. 8) concentrar a ênfase educacional no ensino fundamental de qualidade. 9) limitar a dívida pública, melhorar sua composição e, com isso, baixar os juros na corrente produtiva. 10) colocar o longo prazo na política, seja pelo ambiente, por uma Previdência com lastro e pelas alianças continentais do país.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

DEMOGRAFIA - A AMEAÇA INVISÍVEL!

Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, uma entrevista com o economista Fabio Giambiagi, um incansável defensor de mudanças nas regras da Previdência Social no Brasil. Seu mais novo livro, "Demografia - A Ameaça Invisível", escrito em parceria com Paulo Tafner, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), joga luz sobre o envelhecimento da população no Brasil e os desafios que isso impõe à sustentabilidade das contas públicas. A obra defende, entre outras coisas, que benefícios assistenciais sejam diferenciados dos previdenciários e que o salário mínimo deixe de indexar os pagamentos da Previdência -mudanças impopulares e que requerem alterações constitucionais. Giambiagi, ex-professor da UFRJ e da PUC-Rio, ex-membro do Ipea e hoje chefe do Departamento de Risco de Mercado do BNDES, é autor de mais de dez livros sobre economia.

FOLHA - "Demografia - A Ameaça Invisível" pressupõe a existência de uma bomba demográfica que vai estourar, deixando a conta para as futuras gerações. Qual o risco?

FÁBIO GIAMBIAGI - A essência do problema é essa progressiva mudança demográfica. No ano 2000, o número de pessoas com 60 anos ou mais era de 14 milhões de pessoas, enquanto o número de jovens, entre zero e 14 anos, era de 51 milhões. O perfil apontado pelo IBGE para 2050 é que a população jovem irá diminuir em termos absolutos de 51 para 28 milhões de pessoas. Já a população idosa de 60 anos ou mais vai aumentar de 14 para 64 milhões. Em 2050 teremos mais de três vezes o número de idosos, em termos absolutos, por população economicamente ativa do que hoje. Esse é o desafio. E é uma característica universal. O envelhecimento demográfico é algo que se repete em todos os países. No caso brasileiro ele é, de certa forma, mais acentuado, pois os outros países já estão no meio desse processo, ao passo que, no Brasil, ele está apenas se iniciando.

FOLHA - Mesmo assim, parece não haver um reconhecimento do problema, que exigiria reforma no sistema previdenciário. Qual a razão dessa inação?

GIAMBIAGI - Há um paralelo natural que se pode estabelecer entre a questão demográfica e a questão ambiental. Em ambos os casos, lidamos com um fenômeno de longo prazo, em que o país e o mundo são praticamente os mesmos de um dia para o outro. Mas são dramaticamente diferentes quando se coloca a questão em uma perspectiva de 50 anos. O segundo paralelo é que os custos de se dar uma guinada no leme, de mudar o rumo do país, são de curto prazo e muito evidentes. Ao passo que os benefícios são de longo prazo e, em geral, pouco palpáveis. Mas o custo da inação hoje vai aparecer lá na frente. Há uma frase do Al Gore (ex-vice-presidente dos EUA) no documentário "Uma Verdade Inconveniente (sobre o aquecimento global)": "Um dia nossos filhos olharão para nós e dirão: "Mas onde é que vocês estavam quando isso estava acontecendo? Será que ninguém percebeu o que estava ocorrendo bem na frente de todos?" Isso vale para a questão ambiental e para a demográfica.

FOLHA - Os grandes números de um país, e isso também vale para a Previdência, são calculados como proporção de seu PIB (Produto Interno Bruto). Se o Brasil crescer mais rapidamente daqui em diante, esses problemas não estarão atenuados? GIAMBIAGI - O crescimento atenua tudo, obviamente. Se o país crescer 2,5% como crescemos durante duas décadas no passado, vai ser muito difícil equacionar o problema demográfico. Por outro lado, se o crescimento for de 5% ao ano, será, evidentemente, mais fácil. Mas não há garantias de que o país estará em condições de crescer 5% ao ano nos próximos 30 anos. A resposta a isso vamos saber daqui a 30 anos. A questão é que, com uma reforma na Previdência, haveria maiores condições de termos mais espaço no gasto público para um aumento do investimento estatal, que é um ingrediente fundamental para alavancar o crescimento futuro. Mas, se a população idosa crescer 4% ao ano, que é a estimativa para os próximos 15, 20 anos, e a economia crescer também 4% ao ano, ficam elas por elas. E o tamanho da conta vai ser similar ao atual. Se a economia crescer menos, como o número de idosos vai crescer em torno de 4%, a conta vai aumentar. Hoje, na verdade, há toda uma tendência de que a economia cresça mais de 4%. Mas estamos longe de ter segurança de que esse cenário será mantido por 20 ou 30 anos, especialmente em um contexto em que vamos mudar a composição da população economicamente ativa.

FOLHA - O sr. já escreveu outras obras sobre esse tema e publica textos em vários jornais. Mas parece que ninguém lhe dá ouvidos...

GIAMBIAGI - Já tenho 18 anos, com alguma intermitência, de participação nos debates ligados ao tema. Nos debates por aí, as pessoas entendem a natureza da questão. Podem não gostar do assunto, mas, em geral, concluem que há uma questão a ser enfrentada.

O maior elogio que eu já recebi foi, curiosamente, de um sindicalista da CUT. Depois de apresentar essas ideias, no Fórum da Previdência em 2007, um representante da CUT comentou, a respeito do que deveria ser feito para equacionar o problema: "Estou impressionado com a crueldade do professor Giambiagi. Mas o que me deixou mais preocupado é que ele foi convincente". Pensei: "Consegui o que queria".

domingo, 16 de maio de 2010

HOMEM DO ANO 2010!

Festa no The Waldorf Astoria próxima quinta-feira, 20/05/10, para homenagear HENRIQUE MEIRELLES, presidente do BACEN, com o título de “Personalidade do Ano de 2010”. O evento é organizado anualmente pela Brazilian-American Chamber of Commerce (Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos) e, nestes tempos de crise, o homenageado fez por merecer.
PARABÉNS Meirelles!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

SCHWARTSMAN E A GRÉCIA.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN - http://maovisivel.blogspot.com/, também hoje na FOLHA DE S. PAULO, com o artigo Timeo Danaos et dona ferentes, frase da "Eneida", de Virgílio, que significa "Eu temo os gregos, mesmo que tragam presentes", escreve sobre o assunto que vem dominando a economia mundial:

É impossível não falar da atual crise grega (europeia), seja para discutir suas causas, seja para, como pretendo hoje, pensar nas suas possíveis consequências, em particular para a economia brasileira. Será que, como em 2008, a crise externa pode descarrilar a retomada do crescimento vista nos últimos cinco trimestres? Para responder a essa pergunta, temos antes que saber quais são seus potenciais canais de transmissão para o Brasil.

O primeiro é o fenômeno conhecido como "fuga para a qualidade". Em que pese o epicentro da crise de crédito de 2008 ter sido a economia dos EUA, tanto naquela época como agora observamos que investidores, num cenário de turbulência, preferem manter seus recursos sob a forma de ativos americanos. Não se trata apenas da percepção que eles embutem um baixo risco de não pagamento; também o mercado desses papéis é muito líquido, o que permite a investidores montar e desmontar rapidamente suas posições, sem os custos proibitivos que costumam aparecer em tempos de crise em mercados menos profundos.

Não por acaso, portanto, na semana passada, todas as principais moedas flutuantes (exceto o iene) se desvalorizaram ante o dólar, assim como o real. Isto é, uma das formas de transmissão da crise é o fortalecimento global do dólar, que implica, é claro, o enfraquecimento do real.

Além desse efeito, é possível mapear outro, relacionado ao primeiro, mas que atua de forma indireta. Como expliquei no artigo de 31 de março ("Síndrome da China"), há uma clara relação negativa entre o valor do dólar e o preço das commodities: o fortalecimento do primeiro costuma ter repercussões negativas para as últimas. Por outro lado, o real tende a andar em linha com as commodities, de modo que o dólar mais forte traz uma razão adicional para a desvalorização do real (bem como das demais moedas-commodities).

Resta saber se o presumível aprofundamento da crise teria, como em 2008, efeitos nefastos sobre a atividade econômica, provavelmente por uma depressão adicional do crédito.

É uma possibilidade, mas hoje acredito ser muito difícil a repetição, mesmo em escala menor, dos eventos do último trimestre daquele ano.

Estima-se que as perdas associadas à crise de crédito tenham atingido cerca de US$ 1,8 trilhão e possam chegar, ao final do processo, a US$ 2,5 trilhões. Ao mesmo tempo, havia forte incerteza sobre a distribuição das perdas naquele momento, pois tanto os títulos lastreados em hipotecas como os derivativos a eles associados eram transacionados em mercados de balcão, o que manteve todas as instituições financeiras na defensiva por não saberem exatamente a saúde das suas contrapartes, levando à paralisia nos fluxos interbancários e no crédito em geral e, portanto, ao colapso do comércio mundial e da atividade econômica.

Em contraste, pelo menos no caso da Grécia, falamos de valores consideravelmente menores e de um conhecimento bem mais claro da exposição de cada instituição, vale dizer, sem a mesma incerteza quanto às contrapartes. Daí meu ceticismo quanto à reprise do episódio Lehman Brothers e da parada súbita de fluxos financeiros que se seguiu.

Por fim, ao contrário daquele período, não parece haver uma exposição das empresas brasileiras aos derivativos cambiais que exacerbaram a desvalorização da moeda e, também por conta da incerteza, travaram a concessão de crédito no país. Assim, o impacto mais provável da crise parece ser no sentido de enfraquecimento do real, mas sem a queda abrupta de atividade sofrida há um ano e meio.

DELFIM NETTO E O FMI!

Conforme ANTONIO DELFIM NETTO, na FOLHA DE S. PAULO de hoje, “O FMI melhorou.” Será que ele tem razão?

É fato conhecido que, no Brasil, o mais importante para a aceitação de uma "teoria" é que ela seja exposta em inglês.

Sua conformação com nossa realidade e nossa história é, em geral, um acidente de menor importância. Que tais construções são mais "modismo" do que "ciência" nunca foi tão visível como no comportamento recente dos economistas do FMI. Estes costumavam impor sua ideologia como "ciência" a todos os países que lhe pediam ajuda. A geografia, a história e a organização política de cada um deles não lhes interessavam.

Eram todos elementos pertencentes a um mesmo conjunto abstrato de países supostamente controlados por um mesmo modelo de equilíbrio, que respondia a uma ciência econômica universal. Esta, em lugar de ser parte de um todo social, era o próprio todo.

Nem mesmo a distinção entre países "desenvolvidos" e "em desenvolvimento" fazia sentido. Numa espécie de ataque de marxismo tardio, para o FMI todos estavam condenados a percorrer o mesmo caminho. Ele era, apenas, o guia que indicava o caminho "ótimo"!

Foi preciso uma crise internacional, que ainda não terminou, mas já dizimou a economia de muitos países e produziu um desemprego e um empobrecimento fantásticos, para que o "modismo" vendido como "ciência" mostrasse a sua verdadeira cara.

Uma coisa é certa: o FMI não produziu a crise, mas suas "crenças" foram importantes fatores coadjuvantes na insensatez que levou os Estados a reduzirem a regulação do sistema financeiro. Regulação criada nos anos 30 do século passado para coibir a repetição da patifaria que produziu a crise de 1929.

Os fatos mostraram que a crença no "mercado" financeiro perfeito, que ao autorregular-se obedecia ao imperativo categórico kantiano, é uma farsa. Os agentes de tal mercado, quando não duramente regulados pelo Estado, têm uma irresistível propensão à velhacaria. Sempre voltam ao local do crime...

Para mostrar a mudança de atitude do FMI e a recuperação de certo "espírito científico" temos: 1º) a dúvida sistemática; 2º) o cuidado e a humildade com as afirmações apodícticas e, acima de tudo, 3º) a busca incessante de refutar empiricamente suas crenças.

E basta esta frase: "Embora existam algumas evidências sugerindo que uma continuada sobrevalorização da taxa de câmbio prejudique o crescimento e que uma desvalorização o estimule, elas são ainda insuficientes" ("Regional Economic Outlook - Western Hemisphere", maio de 2010, pág. 52). Bingo! Essa é a dúvida que temos de eliminar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O PROFETA NOURIEL ROUBINI!

Acompanhar com atenção o que fala o Professor NOURIEL ROUBINI é sempre conhecer o que pensa um dos primeiros a alertar para a crise de 2008. Abaixo trecho de sua entrevista a DER SPIEGEL.

Spiegel: Você ganhou o apelido “Doutor Fatalidade”, é claro, porque estava prevendo a crise financeira em um momento em que muitos outros economistas estavam cheios de otimismo. Você ainda se encontra pessimista quanto ao futuro da economia global?

Roubini: Antes de mais nada, eu não sou um pessimista profissional. Eu nem sempre sou negativo em relação ao futuro. O que desejo é avaliar a situação corretamente. Mas quando eu olho para o quadro econômico mundial neste momento, ainda vejo muitas nuvens negras no horizonte.

Spiegel: Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a atividade econômica está aumentando novamente, e há previsões de crescimento de 4% para este ano. Isso não seria um motivo para otimismo?

Roubini: Eu sou um indivíduo realista. Eu só consigo enxergar alguns poucos pontos claros em alguns países como China, Índia e Brasil. Mas, e quanto ao resto? A recuperação econômica dos Estados Unidos tem sido anêmica, o Japão parece estar em coma e a Europa está em apuros. O continente europeu é vulnerável a uma recaída recessiva. Mesmo antes da crise grega, o panorama era bem moderado, mas agora o crescimento econômico na zona do euro é de quase zero.

Spiegel: O que você pensa a respeito dos perigos representados pela Grécia?

Roubini: Atualmente os mercados estão bastante preocupados com a Grécia, mas isso é apenas a ponta do iceberg. Cada vez mais, os vigilantes dos mercados de títulos têm despertado para países como Reino Unido e Irlanda. Até mesmo os Estados Unidos e o Japão enfrentam problemas devido aos seus enormes déficits orçamentários. Talvez não neste ano, mas mais cedo ou mais tarde. Nos Estados Unidos, Estados como Califórnia, Nevada, Arizona, Nova York e Flórida têm imensos problemas fiscais. Os déficits orçamentários cada vez maiores e as enormes dívidas governamentais são de fato o que mais me preocupa.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...