domingo, 12 de setembro de 2010

Maria da Conceição Tavares na FSP.

Independentemente da concordância ou não com as ideias da colega MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES, a pluralidade deste blog permite que a entrevista dela à FOLHA DE S. PAULO seja publicada na íntegra, para que possamos analisar e estudar como não é fácil entender a economia.

A ascensão da China, com uma demanda por produtos primários que vai durar décadas, mudou a divisão internacional do trabalho e tornou datada a dicotomia entre industrialização e produção de commodities que marcou a trajetória brasileira desde os anos 1930.

Quem afirma é a economista Maria da Conceição Tavares, veterana expoente do desenvolvimentismo, que durante o século 20 propôs a ação do Estado para a industrialização, a fim de superar a desvantagem nas relações de troca no antigo sistema sob hegemonia econômica dos EUA --que, ao também produzirem matérias-primas, forçavam a baixa de seus preços.

"Não tem centro e periferia como antes. Há países de desenvolvimento intermediário, entre os quais estamos", afirma Conceição.

Ela deu entrevista à Folha às vésperas de ser homenageada amanhã, no Rio, no lançamento do livro "O Papel do BNDE na Industrialização do Brasil", fruto de pesquisa que coordenou para o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

O novo cenário não quer dizer, afirma, que o país deva descuidar do parque industrial. Ela se preocupa com a avalanche de importações e defende o papel do BNDES no apoio a grandes empresas nacionais.

Petista, Conceição aposta que Dilma Rousseff mudará a orientação ortodoxa do BC, caso eleita, e diz que o tucano José Serra, colega do tempo da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) com quem há 40 anos escreveu um artigo marco, "Além da Estagnação", é conservador na área social.

FOLHA - Um dos problemas recorrentes do período de industrialização abordado no livro é o déficit no balanço de pagamentos. Hoje essa preocupação surge de novo. Os riscos são os mesmos?

MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES - Não, naquela altura o problema era basicamente a rigidez da pauta de exportações, que não é o caso agora. A gente só tinha produtos primários e o único período em que houve aumento de preços das matérias-primas foi durante a Guerra da Coreia (1950-1953).

Além disso, o processo de substituição de importações não poupava divisas, pelo contrário, era para substituir importações por produtos internos. Ao fazer isso, ampliava o mercado interno e ampliava a demanda [por bens de capital importados para aumentar a produção]. Hoje em dia você tem uma indústria montada. O problema é o câmbio.

FOLHA - Mas há toda a preocupação com a primarização da pauta de exportações brasileiras.

CONCEIÇÃO - Isso não tem nenhum cabimento, porque a primarização da pauta de exportações de hoje não se parece nada com a de então. Ao contrário daquela época, quando havia relações de troca desfavoráveis, as relações são favoráveis. Quem demanda produtos primários é a China e a Ásia inteira, que crescem muito mais do que o resto do mundo. Naquela época, os EUA eram nossos concorrentes.

FOLHA - O candidato José Serra fala muito do risco de desindustrialização no Brasil. A sra. acha que existe esse risco?

CONCEIÇÃO - Desindustrialização houve no governo deles, do Fernando Henrique, com uma política de câmbio completamente irresponsável, uma taxa de juros alta, que começou a afrouxar a partir do segundo mandato.

O problema de agora é que, com a crise mundial, o dólar desvalorizou e todas as moedas valorizaram, exceto a moeda chinesa, que está amarrada ao dólar e controlada, com controle de capitais. O resto foi para o diabo.

Agora é um problema de valorização e isso não afeta as exportações. Isso afeta as importações, que estão disparando. A gente não sabe se estão disparando como reação apenas ao câmbio ou à recuperação da economia. Eu acho que são os dois. A indústria sofreu um abalo em 2009, e neste ano recuperou com muita força. Agora está desacelerando. Tem que estar sempre avaliando. Se você deixar entrar à galega acaba desindustrializando.

FOLHA - E o que pode ser feito?

CONCEIÇÃO - O próprio ministro da Fazenda já avisou que tem que controlar essa taxa de câmbio, não pode deixar rolar.

FOLHA - Mas o câmbio não tem relação com os juros do Banco Central, que atraem capital de fora?

CONCEIÇÃO - Tem, mas não só. Porque a valorização deu em todos os países, mesmo os que praticam taxas de juros negativas, que é o caso do Japão. É a situação particular do dólar agora que está fazendo isso.

A situação, portanto, não se parece nada com a do período entre 1950 e 1980. Não tem crise no balanço de pagamentos no sentido clássico. E muito menos dívida externa. Conseguimos passar essa crise sem problemas na dívida externa, com reservas, coisa que nunca aconteceu em nenhuma crise internacional desde o século 19. Agora, tem que ter uma política industrial mais clara, uma política cambial obviamente controlada, que não se resolva apenas com os juros.

FOLHA - Outra discussão que tem uma analogia com o período atual é a ideia de criar um mercado de capitais privado, bancos de investimentos privados que financiem investimentos de longo prazo, o que foi tentado pelo Roberto Campos no primeiro governo da ditadura.

CONCEIÇÃO - A ideia do mercado de capitais estava lá na reforma administrativa Bulhões-Campos. O problema é que ele veio com a ideia dos bancos de investimentos, que não funcionaram.

FOLHA - Mas essa discussão volta agora, não?

CONCEIÇÃO - A dos bancos de investimentos, não. O problema é que nem os bancos nem os mercados de capitais não estão financiando desenvolvimento em longo prazo.

FOLHA - E é possível que isso, que nunca aconteceu, aconteça agora?

CONCEIÇÃO - Eu não acredito muito. Porque na verdade o mercado de capitais serve basicamente em toda parte não é para financiar desenvolvimento, é para transformar patrimônio. Mas enfim, essa é uma ideia antiga, continuam a fazer esforço. O financiamento na verdade depende mais do crédito de longo prazo, e aí é que se tem que arrumar um jeito de que haja um crédito em longo prazo que não dependa apenas do BNDES e da Caixa Econômica, que carregam nas costas.

FOLHA - Como avalia às críticas feitas ao perfil dos empréstimos do BNDES, para grandes grupos?

CONCEIÇÃO - A imprensa conservadora, que nunca gostou do BNDES, vem com esse papo de que a capitalização [do banco] vai para a dívida pública, o que não é verdade. Formalmente vai para a dívida fiscal, mas na verdade não é assim em longo prazo. Porque você empresta, mas eles retornam. E o retorno do investimento é sempre positivo. O BNDES não está emprestando a ninguém com retorno negativo.

FOLHA - Mas até o Carlos Lessa [ex-presidente do BNDES] afirma que o banco deveria ser mais exigente sobre investimentos no Brasil ao fazer empréstimos a grandes empresas.

CONCEIÇÃO - Lessa nesse particular discrepa do [Luciano] Coutinho, que tem a visão do que ocorreu na Ásia, no Japão, na Coreia, do "pick the winner" [escolha o vencedor], que tem que escolher as empresas vencedoras para que elas sejam competitivas lá fora, para que elas se internacionalizem com poder de mercado. Essa é a única diferença, porque o Lessa é desenvolvimentista, o Coutinho também. Só tem desenvolvimentista agora. Liberal, só tem a charanga.

FOLHA - A Dilma e o Serra também são desenvolvimentistas.

CONCEIÇÃO - Do ponto de vista da operação fiscal, o Serra é ortodoxo, e isso é ruim. Ele quer acelerar a contração do gasto público. No fundo, ele não leva a sério as políticas de bem-estar social, a universalização da educação, da saúde, que tornaram o Orçamento mais pesado. Se cortar, não se pode fazer nada de política universal, tem que ficar só com política para pobre.

Mas não há dúvida de que o Serra também é desenvolvimentista do ponto de vista industrial. O problema dele são os programas sociais, o aumento da Previdência, do salário mínimo, todas as medidas de alcance social mais profundo que o Lula tomou. Nas políticas compensatórias, eu não creio que ele voltaria atrás, que ninguém é maluco. A universalização é que é o problema, as políticas sociais de longo alcance. O gasto com educação, saúde, Previdência.

FOLHA - No segundo governo Vargas [1951-1954], quando começa o Plano de Reaparelhamento Econômico, o ministério lembra o do primeiro governo Lula, com empresários e monetaristas no comando da política econômica. Como interpretar essa coincidência?

CONCEIÇÃO - Por sorte, depois do interregno monetarista do [Eugenio] Gudin [ministro da Fazenda de Café Filho, entre 1954 e 1955], veio o JK, que era desenvolvimentista. O [Horacio] Lafer [ministro da Fazenda de Vargas] queria fazer presidente do BNDE o Gudin, e não conseguiu, porque o Vargas não dormia de touca. O que ele fez é foi compor uma parte da diretoria do banco com pessoal que veio da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos [1951-1953], entre os quais o Roberto Campos e o Glycon de Paiva, que ficaram como diretores, e colocou o homem dele, que era o gaúcho Ari Frederico Torres, como superintendente.

O problema é que o homem dele não entendia muito de economia, e por aí não foi. Mas havia os diretores que eram da Assessoria Econômica do Vargas. Então a assessoria do banco era composta metade de conservadores e metade de nacionalistas.

No que diz respeito a Lula, graças a Deus caiu o ministro da Fazenda [Antônio Palocci] e entrou o [Guido] Mantega, que é desenvolvimentista. O problema foi o Banco Central. O Banco Central é problema sempre, porque a estrutura do BC foi montada de tal maneira que os que não pensam da mesma maneira não têm futuro.

Um dos meninos mais brilhantes da atual Fazenda é o Nelson Barbosa [secretário de Acompanhamento Econômico]. Ele é um keynesiano um pouco ortodoxo. Ele é originariamente do BC, fez concurso e passou. O [Luiz Eduardo] Melin [chefe de gabinete da Fazenda] também é do BC. Mas eles não podem fazer nada, porque começam uma carreira e tem em cima a diretoria que é toda conservadora.

Tem é que fazer com o BC o mesmo que foi feito no BNDES pelo Vargas, uma diretoria mista, metade conservadora, para agradar os banqueiros e eles não encherem muito o saco, senão eles enchem mesmo, e outra metade para ajudar o desenvolvimento, fazer uma política monetária menos estúpida.

Quer dizer, o conservador no governo Lula foi só a política monetária. E não foi pouca porcaria, eu concordo. Briguei para burro.

FOLHA - Mas isso num governo Dilma pode mudar?

CONCEIÇÃO - Com certeza vai mudar. É só esperar e ver. Mas não é mole, porque o pessoal mais desenvolvimentista tem muito pouca prática de mercado. Tem que ter os que têm prática de mercado, porque senão você não consegue operar o banco. Houve sempre uma tensão muita grande entre a Fazenda e o BC [no segundo mandato de Lula], que nunca foi o caso na história do Brasil, em que sempre Fazenda e BC eram conservadores e Planejamento, Indústria e Comércio eram desenvolvimentistas. Mas isso não é mais assim.

FOLHA - Mas é melhor ter a tensão?

CONCEIÇÃO - Por mim não, mas, como eu estou dizendo, não tem economista progressista com domínio de BC, com exceção desses dois que eu mencionei, que foram do BC. Foram meus alunos, trabalharam comigo, conhecem teoria monetária. A esquerda tem mania de não gostar de política monetária. A única monetarista de esquerda era eu, mas é óbvio que eu não posso ser presidente do BC com 80 anos e com esse temperamento que eu tenho. Tem também o [Luiz Gonzaga] Beluzzo, o próprio Luciano Coutinho.

FOLHA - Então hoje, ao contrário da década de 90, começa a haver um predomínio do pensamento desenvolvimentista?

CONCEIÇÃO - No Brasil sim, mas não no mundo. Olha para a Europa. A Europa está num reacionarismo conservador que é uma desgraça, está pior que os EUA. Nos EUA, até os conservadores viraram keynesianos por causa da crise. Na Europa, os caras estão fiscalistas ao extremo, estão arrebentando com a Europa, tem uma tendência japonesa [de estagnação] acentuada.

FOLHA - Essa conjuntura internacional, em que a China é o grande demandante, favorece o Brasil?

CONCEIÇÃO - É favorável. Quem é hoje o grande centro manufatureiro no mundo? É a Ásia, ninguém compete em produtos manufaturados com eles, mesmo com a taxa de câmbio melhor. Então aqui tem que ter um certo controle das importações, mesmo disfarçado. Mas como, por outro lado, eles são realmente os maiores demandantes de matérias-primas, hoje, sobretudo para a América do Sul Brasil, Argentina, Chile, isso faz uma diferença cavalar.
FOLHA - E dumping [venda abaixo do valor] de produtos chineses?
CONCEIÇÃO - A China não está tendo o sucesso que está por causa de dumping, é por causa da política inteira. Se houver dumping é feito pelas multinacionais que lá estão, porque, ao contrário do Japão, a China não fez restrições a que na área exportadora entrassem as multinacionais.

Você não pode deixar de levar em conta que mudou a divisão internacional do trabalho. Paradoxalmente, não vejo muita gente mencionar isso. Houve uma mudança radical da divisão internacional do trabalho, na qual nós estamos bem colocados porque a gente exporta para todo mundo. E, em particular, no que diz respeito a matérias-primas, exportamos mais para a China do que para a Europa, por exemplo. Nunca exportamos matérias-primas para os EUA.

FOLHA - Mas a China também pode competir com os produtos industriais brasileiros em terceiros mercados.

CONCEIÇÃO - Ela pode competir com quem ela quiser. Claro que temos que nos precaver. Por que a tendência hoje entre países em desenvolvimento é de acordos bilaterais, quando sempre fomos multilateralistas? É porque o comércio multilateral está de pernas para o ar. A crise americana arrebentou com o sistema todo, com o sistema monetário, o sistema de comércio internacional.

Estamos num período de transição, no qual acho que o Brasil tem chance. Ter uma disponibilidade de recursos naturais como nós temos, que vai da água ao petróleo, não é qualquer país que tem. Isso ajuda, ao contrário de antes. Não estamos baseados no café, mas numa pauta totalmente diversificada. E a coisa do pré-sal vai ajudar.

FOLHA - Quando teve o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, com o Geisel (1975-1979), ele tentou dar um salto qualitativo tecnológico.

CONCEIÇÃO - Tentou, e nós começamos a exportação de manufaturas para valer.

FOLHA - Mas o Brasil ainda tem dificuldade de desenvolvimento tecnológico, por exemplo em computadores.

CONCEIÇÃO - Tem menos do que tinha na época. No Geisel, ainda estávamos começando e a área de computadores fracassou. O projeto Cobra foi um desastre. Aí só avançamos na área bancária, temos a mais desenvolvida em matéria de computação do mundo. Estamos com tecnologia avançada em aviões, em perfuração de petróleo, o que não é pouca porcaria.

FOLHA - Mas em relação à competição chinesa em informática, máquinas?

CONCEIÇÃO - O que tem que entender é que a China é um híbrido. Não pode ser considerada mais um país em desenvolvimento, mas tem uma área subdesenvolvida, com uma população gigantesca, no campo. A China ainda tem que caminhar para dentro, desenvolver o mercado interno. Mas ela tem um solo esgotado. Ao contrário da mudança de centro [capitalista] da Inglaterra, que não tinha produtos primários, para os EUA, que tinham, o que levou ao fim do modelo primário-exportador na América Latina, a China vai ter décadas ainda importando produtos primários, tanto na parte alimentar quanto na de minério e petróleo. Para nós está bom.

FOLHA - Mas quando se fala do risco de desindustrialização...

CONCEIÇÃO - É por causa das importações e do câmbio. O resto quem fala está fazendo blá-blá-blá, porque toda a indústria está aí ainda.

FOLHA - Mas um argumento é que a indústria é que dá emprego de qualidade para os jovens, e não o setor primário.

CONCEIÇÃO - Não é verdade. Os empregos de qualidade costumam ser no setor terciário, nos bancos e nos serviços de utilidade pública. Pelo lado do emprego eu não estaria preocupada. Estamos com problema de desemprego estrutural, mas devido à pobreza. Com uma política de combate à pobreza e com uma política de educação você repõe as bases de um país desenvolvido. Desta vez, acho que a maldição do [Celso] Furtado, que era desenvolvimento junto com subdesenvolvimento, pode terminar.

Na indústria, a parte de capital estrangeiro em geral não faz desenvolvimento tecnólogico, traz da matriz, o que é um problema. Mas, como a divisão internacional do trabalho está mudando, também há a tendência de adaptar produtos a cada mercado em que as empresas estão instaladas.

Quanto à indústria nacional, o Ministério de Ciência e Tecnologia e a Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] continuam fazendo o que podem para fazer semeadura de tecnologia, sobretudo na pequena e na média empresas. O BNDES faz também para a grande empresa, até porque ninguém acredita que seja possível competir lá fora sem isso. Se não tivéssemos tido avanço tecnológico em aços especiais, claro que a Gerdau não estaria com filiais até nos EUA.

Eu tenho trabalhado na questão da internacionalização do capital, e tenho a impressão que por esse lado não estamos tão mal. O nosso problema é fechar a brecha entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento nosso, que é menos problema do que para a China e para a Índia.

São situações muito díspares. Não tem centro e periferia como antes. Tem países de desenvolvimento intermediário, entre os quais estamos. A Rússia sim desmantelou a indústria toda. Só exporta gás e petróleo. Isso é que é uma situação ruim. Está lá no Bric [Brasil, Rússia, Índia e China] um pouco fora de propósito.

A discussão agricultura versus indústria é datada, do pós-Segunda Guerra. Ninguém vai fazer uma opção por um outro. Precisa de agricultura familiar, de agrobusiness, da indústria de transformação.

Agora, estou de acordo que, na indústria eletroeletrônica, por causa da Zona Franca de Manaus, montamos uma fábrica de montagem e não avançou ainda. Mas vai avançar, não tem dúvida. Até porque o BNDES tem política setorial, como na farmacêutica e na química.

FOLHA - E a acusação de que o governo Lula escolhe as empresas beneficiadas?

CONCEIÇÃO - Política industrial só horizontal não vai para lugar nenhum. Tem que continuar as horizontais, mas tem que fazer as setoriais. Se não escolher setores e empresas, não avança. Não estamos num mundo de concorrência perfeita. Estamos num mundo monopolista. Se não tiver grande empresa aqui, não vamos para lugar nenhum.

FOLHA - O período do livro é caracterizado como a "modernização conservadora" do Brasil. O Brasil ainda vive esse fenômeno ou pode acertar contas nesse ponto?

CONCEIÇÃO - A parte da modernização conservadora que diz respeito ao grande capital, bancário, industrial, uma parte das construturas, vive. Grande capital é grande capital, está pouco se lixando para ideologia. É conservador no sentido de que não teve uma democratização da propriedade.

FOLHA - Não teve reforma agrária.

CONCEIÇÃO - Tem que terminar, com a pequena produção agrícola independente, e a pequena e a média empresas com tecnologia e apoio. Essa ideia do cartão BNDES, que aliás foi o Lessa que inventou, com o qual se pode pedir R$ 1 milhão para fazer uma padaria, montar uma pequena empresa. O Lessa botou o BNDES outra vez no espírito de ser um banco de desenvolvimento. No governo de Fernando Henrique, era só um banco da privataria. Só não foi ameaçado porque tem a indústria que demanda recursos.

FOLHA - A senhora está otimista, então?

CONCEIÇÃO - Pela primeira vez na história do Brasil não há uma crise da dívida externa. Em segundo lugar, voltamos a usar o BNDES, desde o começo do governo Lula, para promover o desenvolvimento. A coisa social mudou também radicalmente. Consolidou-se a inflação baixa, não precisa ter taxa de juros lá em cima para que ela caia. Está estabilizada.
Isso muda tudo, porque a inflação é uma praga para os salários. O pessoal da esquerda não levava isso em conta, o que era uma asneira. Com inflação, nenhuma política salarial resolve. Lembra que tinha indexação dos salários e a inflação corria na frente.

Estamos numa situação bem melhor do que nunca estivemos desde a década de 30. E também com estabilidade política, por mais que façam esse banzé. Se você afirmou a democracia, se está afirmando as políticas sociais, se está continuando a política industrial, eu estou otimista, pela primeira vez, para dizer a verdade, porque em geral sou pessimista. Espero não me equivocar, mas, também, se me equivocar não vou estar viva para ver.

FOLHA - E como a sra. vê a situação dos EUA?

CONCEIÇÃO - Estou com os keynesianos de lá, como o [Paul] Krugman. Acho que fizeram pouco e mal feito. Mas isso não é culpa do presidente. Ele tem um Congresso desvairadamente conservador.

Isso sim me preocupa [no Brasil]. O pessoal só presta atenção na eleição para a Presidência, mas é importante ver o Congresso. Vamos ver se dá um Senado um pouco melhor, mas de qualquer maneira a capacidade de negociação continua. Nisso o velho [economista ortodoxo Otavio Gouveia de] Bulhões [1906-1990], meu mestre antigo, tinha razão, que o Executivo é mais forte, mas para fazer reformas tem que passar pelo Congresso.

Algumas coisas, como reforma tributária e política, dependem do Congresso, e em geral os congressistas não querem mudar o status quo. São reformas que eu vejo que são importantes, e que o Congresso provalmente vai continuar no chove não molha. Vamos ver se a gente consegue.

FOLHA - Mas a reforma tributária deve reduzir a carga como proporção do PIB ou a natureza dos impostos?

CONCEIÇÃO - Como vai mudar a carga sobre o PIB, com as demandas de política pública que você precisa fazer? Não, tem que mudar a carga mal distribuída e a estrutura dos tributos, que é muito complexa, muito atrapalhada. Continua aquela briga entre os Estados sobre o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias].

Hoje o Lula já sacou que precisa fazer aliança nos dois sentidos, com o PMDB para uns fins e com os partidos minoritários da esquerda para o outro. Acho que não está tão difícil como já esteve.

FOLHA - Mas a sra. acha que, qualquer que seja o sucessor do Lula, vai ter o jogo de cintura dele?

CONCEIÇÃO - Qualquer que seja é problema seu. Eu acho que já está decidido. Mas pode ser de novo que eu esteja otimista demais. O fato é que, com Dilma ou Serra, haverá o mesmo problema no Congresso, essas duas reformas serão difíceis. Depende de quem eles botarem para ser o negociador com o Congresso.

Evidente que a capacidade do Lula ninguém vai ter mais neste país, porque o único com capacidade semelhante foi o Vargas. Acabou mal, coitado, o que não é o caso do Lula, que negociou durante oito anos e está terminando muito bem. Isso também é uma novidade. Você já viu algum presidente que veio do povo como esse, apesar de todos os percalços e denúncias, ter conseguido isso? Além do fato de hoje o Brasil estar no cenário internacional graças a ele.

São coisas que, para mim, marcam uma mudança e uma transição. Estou convencida de que estamos numa transição e que efetivamente, ganhe quem ganhe, não vão arrebentar com o Brasil, embora eu prefira a Dilma porque conheço o caráter progressista dela e o Serra ficou mais conservador.

ISTO É O BRASIL!!!

UM em cada CINCO brasileiros se enquadra na categoria de analfabeto funcional.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Brasil de amanhã.

O Brasil vivencia hoje uma intensa campanha eleitoral, momento esse no qual os candidatos deveriam debater os inúmeros problemas que existem no país. Na realidade o que existe é uma tremenda troca de acusações entre governo e oposição sobre questões que não traz solução as graves dificuldades que o país possui. O presidente da república, ao invés de ser um magistrado, empenha-se na campanha como se ele próprio fosse candidato a sua segunda reeleição. É um período de verdadeiras baixarias, onde quem perde é a própria sociedade.

Apesar de o Brasil continuar neste ano de 2010 com sua economia em ritmo de crescimento, onde o Banco Central já prevê para este ano um crescimento asiático de 7,34%, os pilares da economia necessitam de maior atenção do poder público que, atualmente, no alto de uma popularidade presidencial de quase 80%, dedica-se tão somente a fazer da campanha eleitoral um palco para batalhas.

É bastante claro que num período eleitoral, com o Brasil em crescimento econômico semelhante ao tempo do “Milagre Econômico” nos anos 70 e com um presidente popular, a situação econômica para 2011 não seja divulgada como deveria. Na realidade, o sucessor do presidente receberá um país com sérios desequilíbrios econômicos, onde “terá que decidir entre aumentar a carga tributária e cortar os reajustes do salário mínimo”, medidas totalmente impopulares e que o atual governo não pensa em realizar, apesar da necessidade detectada em estudos dos economistas Samuel Pessoa, da FGV, e Mansueto de Almeida, do IPEA.

A economia brasileira conseguiu, com sucesso, receber os estragos causados pela crise de setembro/2008, sendo um dos últimos países a entrar e dos primeiros a sair. Para isso foram utilizadas várias medidas, como o forte estímulo ao crédito, porém deixaram de fora outras situações que não devem ser relegadas a um segundo plano. O governo não deve esquecer a situação fiscal que ocorreu recentemente em diversos países da Europa e deixar ao sucessor um explosivo déficit nas contas públicas. É inquietante saber que a área econômica do governo tinha até 2012 para equilibrar as receitas com as despesas e agora, no auge da campanha eleitoral, esse prazo passou para 2014.

O país tem tudo para crescer sustentável nos próximos anos. Afinal, o Brasil sediará em 2014 as Olimpíadas e em 2016 a Copa do Mundo, situações onde muitos projetos demandarão valores elevados em investimentos. No entanto, o que se observa nos últimos meses é um retorno a um projeto governamental de uma economia estatizante. Esse filme já foi visto por aqui e o resultado foi dos piores possíveis. É necessário que no Brasil o livre mercado continue atuando fortemente, pois como citou recentemente o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, “nosso crescimento ainda está um pouco abaixo do potencial e excessivamente dependente do consumo.” Se o atual governo não fizer bem a sua parte, mantendo as políticas macroeconômicas herdadas do governo anterior e que beneficiaram em grande parte o atual presidente, o futuro morador do Palácio do Planalto terá que enfrentar muito trabalho pela frente, com contrariedade para toda a população.

domingo, 5 de setembro de 2010

A ECONOMIA BRASILEIRA PRÉ 2011.

Nesta época de eleição, para quem ainda está indeciso, gostei desta entrevista à Folha, do economista RICARDO HAUSMANN, diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard e um dos mais respeitados especialistas em teoria do desenvolvimento econômico.

FOLHA - Houve avanços desde que o sr. escreveu sobre as barreiras ao crescimento no Brasil em 2008?

RICARDO HAUSMANN - Talvez você se lembre que [no estudo] eu era otimista sobre muitos aspectos estruturais do Brasil. O Brasil tem um setor privado muito forte, tem muito potencial de crescimento do investimento em muitas áreas promissoras.
Mas, nos anos de boom antes da crise de 2008, o Brasil era um dos países que cresciam às menores taxas na América Latina.
Minha avaliação era a de que isso se devia a uma taxa baixa de poupança doméstica, que exigia taxas de juros ridiculamente altas para evitar que a economia tivesse um aquecimento excessivo.
Aí veio a crise e o governo respondeu com políticas anticíclicas. Aumentou significativamente a oferta de crédito via BNDES e Banco do Brasil em um momento em que havia uma parada cardíaca financeira.
Diria que, de forma geral, a crise foi bem administrada. Mas o principal problema com muitos países, e o Brasil é um exemplo, é que, quando as coisas começam a parecer bem, eles se tornam arrogantes. Passam a acreditar num mundo de fantasia.

O que o sr. quer dizer com mundo de fantasia?

Só porque o Brasil teve por um trimestre uma taxa de crescimento acima de 7%, o Brasil agora é a nova China e o Lula é um gênio das finanças, e todos os problemas anteriores não existem mais porque o Brasil é um país diferente.
Há toda uma narrativa que tem sido criada por conta de alguns bons trimestres no Brasil que pode levar a políticas macroeconômicas muito inconvenientes. Essa narrativa é particularmente conveniente na época de eleições.
A primeira coisa que já está acontecendo é que a Selic [taxa de juros básica da economia] está subindo. Se você quisesse que a Selic aumentasse menos, a ideia seria compensar com políticas fiscais e de empréstimo pelo setor público mais estritas.
Porque, de certa forma, o Brasil é um país esquizofrênico. Você tem uma política fiscal em que o BNDES tem o pé no acelerador e o Banco Central tem o pé no freio.
Essas combinações são particularmente perigosas porque deixam a Selic muito alta em um período em que as taxas de juros globais estão muito baixas.
Isso leva os investidores a pegar dinheiro emprestado em dólares, em ienes ou em euros para colocar dinheiro no Brasil, o que gera uma forte apreciação da taxa de juros e a possibilidade de desindustrialização.

Alguns defensores da atuação recente do BNDES citam países da Ásia que atingiram altas taxas de crescimento sustentado por meio de políticas industriais. O que o sr. acha desse paralelo?

Não tenho problemas com políticas que complementam o setor financeiro, viabilizando a disponibilidade de crédito para investimentos em áreas difíceis da economia.
Não sou, de forma alguma, crítico em relação à contribuição potencial do BNDES para o desenvolvimento do país. Mas é uma organização que foi desenvolvida na época da inflação alta para proteger a economia das taxas de juros reais muito altas.
A inflação não é mais um problema no Brasil.
Seria possível que o BNDES mantivesse o foco de sua política em empréstimos para investimentos municipais, investimentos de longo prazo, apoiando pequenas e médias empresas, mas a uma taxa de juros que refletisse a Selic e não a uma taxa de juros que é muito inferior à Selic, que cria a distorção de gerar demanda excessiva pelos fundos que o BNDES tem de gerenciar.

O sr. vê o crescente deficit em conta-corrente do Brasil, em tempos recentes, como um problema?

A deterioração do deficit em conta-corrente indica que a expansão do gasto no Brasil é mais rápida do que a expansão da produção.
O efeito disso é apreciar a taxa de câmbio, desestimulando as atividades exportadoras, para liberar recursos produtivos para atender a esse boom temporário do consumo. Todas as indicações são de que as condições fiscais e a política financeira do setor público são excessivamente expansionistas. Isso vai causar prejuízo para as perspectivas de crescimento de longo prazo do Brasil.

A economia brasileira ainda é bastante fechada ao comércio exterior. Isso limita o crescimento de longo prazo?

Acho que o Brasil tem os produtos com os quais poderia ter uma presença muito maior no comércio internacional. Vocês são gigantes em agricultura, em mineração. Têm uma presença marcante na produção de aeronaves. Há uma atividade industrial vasta que poderia gerar uma presença muito maior. Mas a administração macro no Brasil tem sempre conspirado contra o potencial de longo prazo.

E isso continua acontecendo?

Na minha opinião, está piorando. Quando o Lula foi eleito, em 2002, houve uma crise econômica e ele foi muito cuidadoso ao dar confiança ao setor privado.
Agora, eles começaram a pensar que sabem mais e estão menos dispostos a serem cuidadosos. Estão se tornando mais ideológicos.
Do ponto de vista econômico, as políticas são insustentáveis como as adotadas na diplomacia.
Agora que o Brasil é grande, pode ir para a cama com o Ahmadinejad [Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã] no Irã ou hospedar o Zelaya [Manuel Zelaya, ex-presidente de Honduras deposto em junho de 2009] na sua embaixada em Honduras etc.
É uma atitude de que agora o país é independente, um poder diferente, e, portanto, pode confrontar o senso comum. Esse tipo de arrogância na política externa tem sido desastrosa.
E esse tipo de arrogância tem o perigo de ser igualmente desastrosa para a administração macroeconômica.

As pesquisas de intenção de voto mostram grandes chances de vitória da candidata do presidente Lula. O sr. acha que isso levará a uma continuação dessas políticas que o sr. critica?

Todo mundo sabe que o presidente Lula tem sido superpopular e ele construiu um capital político enorme. Mas esse capital político enorme não se traduziu em nenhuma reforma significativa durante seu segundo mandato [2007-2010].
Ele não tem nada a mostrar em termos de ter resolvido problemas antigos relacionados à baixa taxa de poupança, ao sistema de previdência, à infraestrutura, a ter uma estrutura tributária mais normal e funcional.
Apesar do seu enorme capital político, ele não foi capaz de fazer nenhuma reforma significativa como as feitas pelo antecessor dele.
E, recentemente, ele tem se movido na direção contrária. A grande sorte do presidente Lula foi ter tido um ótimo antecessor [FHC]. Mas o próximo presidente do Brasil não terá a mesma sorte.

ESCOLA ECONÔMICA: NEOLIBERAL.

Na ÉPOCA desta semana, uma excelente entrevista com o colega GUSTAVO FRANCO, que está lançando “CARTAS A UM JOVEM ECONOMISTA”, texto de leitura obrigatória para economistas ou admiradores da Economia. Na entrevista, já temos uma aula de economia, numa linguagem direta e exata.

ÉPOCA – Em seu novo livro, o senhor diz que a economia é um assunto complexo e que, muita vezes, os economistas a complicam ainda mais. Por quê?

Gustavo Franco – O problema é a comunicação. Primeiro, porque você precisa do vocabulário próprio do saber especializado. É como os médicos. Eles têm um idioma próprio que permite concentrar muita substância em poucas palavras. Segundo, porque é um assunto realmente difícil. E muitos profissionais têm o pudor de não usar analogias do tipo “o país é como se fosse uma família, que tem um orçamento doméstico”. Isso não tem nada a ver. O pudor em usar a simplificação em excesso faz o profissional ser cuidadoso na forma de se expressar – e acho que isso é correto. Agora, é curioso que as pessoas admitam isso do médico, do dentista, mas não do economista, porque é um assunto que todo mundo acha que entende.

ÉPOCA – Em um aspecto as pessoas são tolerantes com os economistas, mas não admitem nos médicos: os erros. Por que os economistas erram tanto?

Franco – Os médicos também erram muito. O tipo de realidade com a qual o economista lida é diferente. Compare, por exemplo, um economista com um físico que quer fazer a previsão do tempo. Ele não é nem capaz de dizer se amanhã vai chover. Não é que as leis da física não funcionem. É que os sistemas que ele examina, com os instrumentos de computação e tecnologia de que dispõe, não lhe permitem previsões. Na economia, é a mesma coisa. A gente erra igualzinho a qualquer outro profissional que se empenhe em prever o futuro.

ÉPOCA – O senhor diz que, se pudesse escolher um lema para a profissão, escolheria “Não há almoço grátis”, de Milton Friedman. O que há de tão importante nisso?

Franco – Ele combina uma tonalidade mundana com algo com o qual cada um de nós está envolvido o tempo todo. Em nosso cotidiano, há dez situações que acontecem durante o dia em que você pode verificar que não há almoço grátis. Tem de fazer escolhas. Tem de escolher entre ficar com o dinheiro e comprar alguma coisa, entre comprar uma bicicleta ou um casaco. São situações em que você não pode escolher as duas coisas. Senão, seria moleza, não teria graça.

ÉPOCA – O senhor fala também sobre as patrulhas que existiam no ensino da economia no país quando era estudante, nos anos 70 e 80. Isso ainda existe hoje?

Franco – Quando eu era estudante, existia mais nitidez em relação às escolas de pensamento, principalmente no campo doutrinário. Hoje, não. Desapareceu aquela situação que havia antes da queda do Muro de Berlim, em que você tinha o economista de esquerda e o chamado economista burguês. Hoje, ainda se tenta manter viva essa lenda criando a noção de que há a Escola Neoliberal e os outros. Acho que isso não existe mais. As diferenças são mais questões de embalagem, nuances. No Brasil, se você analisar a atuação do Banco Central no governo Lula, não vai achar uma diferença relevante do que era o Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso. Mesmo assim, você sempre vai ter economistas marxistas. É um tipo de pensamento econômico que só sobrevive como curiosidade e só deve ser olhado como medicina alternativa. Não vai ajudá-lo a pensar sobre o mundo atual.

ÉPOCA – O senhor diz que, no Brasil, havia um patrulhamento e um grande preconceito na academia contra os economistas internacionais que enfatizavam o papel da matemática. Isso também se diluiu hoje?

Franco – Existem dois tipos de patrulha. A mais badalada, que é a ideológica, é menos importante. A mais importante é a patrulha dos amadores. É qualquer pessoa que, quando está diante de um economista, duvida que ele saiba qualquer coisa sobre economia que quem não é economista já não tenha descoberto, com base na experiência do dia a dia. Muita gente acredita que não é necessário ser um economista profissional, que qualquer pessoa pode entender a economia – e não é assim. Na medicina, se o sujeito for se meter a médico sem se formar, ele pode ir em cana. Na economia, o tempo todo surge um monte de entendidos que falam bobagem.

ÉPOCA – Qual é o maior desafio da economia brasileira para o próximo presidente?

Franco – É o crescimento, sem dúvida. Nosso crescimento ainda está um pouco abaixo do potencial e excessivamente dependente do consumo. Está destinado, portanto, a ser baixo. Esse é o grande desafio, a elevação do investimento. Vai haver diferenças de opinião sobre a melhor forma de fazer isso, e espero que a campanha eleitoral ajude a esclarecer a população.

ÉPOCA – O senhor tem sido um crítico duro dos gastos públicos no atual governo. Isso deve ser uma das prioridades do novo presidente?

Franco – Sem dúvida. Hoje, ao contrário do que acontecia na época da inflação elevada, o governo tem de lidar com uma espécie de avaliação da solidez e da consistência da política econômica pelo mercado, em tempo real. Quando o governo erra, as coisas começam a pesar quase imediatamente. No Brasil, na época do Delfim (Netto, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento), o governo podia fazer bobagem durante anos. Não tinha mercado, não tinha liberdade de imprensa. Era um mundo diferente. Agora, com a globalização, a movimentação de capitais serve como um plebiscito contínuo. Isso acaba levando o governo a fazer as coisas certas. Posso até afirmar que algumas coisas feitas pelo presidente Lula não foram feitas por convicção, mas por causa desse entorno.

NOTÍCIAS DA FLORESTA AMAZÔNICA!!!

Aos meus dois leitores – que ainda espero estejam comigo, continuo no estaleiro, porém com otimismo para retornar em breve as minhas atividades.

Da coluna do CLAUDIO DE MOURA CASTRO na VEJA, um frase do EINSTEIN, para iniciarmos mais uma semana: “APENAS DUAS COISAS SÃO INFINITAS, O UNIVERSO E A ESTUPIDEZ HUMANA.”

E a seguinte, que li quando da visita em São Paulo à exposição do KEITH HARING: “I LIVE EVERYDAY AS IF IT WERE MY LAST. I LOVE LIFE.”

De qualquer maneira ficar distante do que vem ocorrendo no Brasil durante uns dias - principalmente neste período eleitoral - é um bálsamo, uma vez que o que me contam causa-me aborrecimento.

sábado, 21 de agosto de 2010

SERÁ QUE ELE TEM RAZÃO?

Enquanto isso, na América o Nobel Paul Krugman continua sua crítica ao trabalho do Ben Bernanke, o atual presidente do Federal Reserve – Fed. Em dois recentes artigos ele comenta:

  • The lights are going out all over America — literally. Colorado Springs has made headlines with its desperate attempt to save money by turning off a third of its streetlights, but similar things are either happening or being contemplated across the nation, from Philadelphia to Fresno.
  • And while the Fed sits there in its self-inflicted paralysis, millions of Americans are losing their jobs, their homes and their hopes for the future.

ELEIÇÕES 2010!

Da sempre lúcida Míriam Leitão: "A Inglaterra acabou de passar por uma eleição cheia de paixões em que o governo trabalhista perdeu por pouco, mas não se viu lá nada do que aqui está sendo apresentado aos brasileiros com naturalidade, como parte da disputa política. Crime é crime. Luta política é um embate de propostas, estilos e visões. O perigoso é essa mistura. Como a História já cansou de demonstrar, democracia não significa apenas eleições periódicas. A manipulação da vontade do eleitor, o uso de meios ilícitos, o abuso do governante ameaçam a liberdade, tanto quanto um ato institucional."

E você e-leitor, o que acha?

FGV - FÓRUM DE ECONOMIA.

Programa imperdível na nossa FGV: de 30.08.2010 a 31.08.2010 acontece o 7º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas. O fórum é coordenado pela Escola de Economia de São Paulo da FGV em parceria com FIESP, IEDI e DIEESE. Local: Fundação Getulio Vargas Rua Itapeva, nº 432 - Salão Nobre, 4º andar Tema: Qual a Estratégia de Crescimento com Estabilidade do Novo Governo?

II RSPO LATIN AMERICA CONFERENCE 2010 - BELÉM-PA.

Conference in Belém (PA) will bring together experts from different countries to discuss the sustainable growth of palm oil production in the world.

The II RSPO Latin America Conference - Roundtable on Sustainable Palm Oil takes place in Brazil precisely in the biodiversity year. Joining the goal of the meeting to the moment worldwide, the organizers of the conference – scheduled for August 24-27, at Estação das Docas in Belém (PA) - will promote actions to reduce carbon emissions related to the event. These actions will be performed by Ver te Verde, a company whose purpose, among others, is the reduction in greenhouse gases and the environmental preservation and restoration.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

BRASIL: 2,92% x 2,9% DO PIB MUNDIAL.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS 75, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio, escreveu na FOLHA DE S. PAULO:

O Fundo Monetário Internacional prevê que, em 2010, o Brasil terá 2,9% de participação na produção de riqueza mundial, vale dizer, 2,9% do PIB (Produto Interno Bruto) do globo, mesmo considerando crescimento previsto, neste ano, de 7,1%, contra 4,6% do planeta.

Todos os economistas mais conscientes do país sabem que este crescimento de 7,1% não é sustentável por falta de infraestrutura e que será menor em 2011.

O governo tem aplicado pouco mais de 1% do PIB em investimentos e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), apesar das disponibilidades financeiras, ficou muito aquém do planejado e previsto, amarrando o desenvolvimento nacional.

O próprio aquecimento do mercado preocupa, pois a inflação pode retornar, sendo o aumento de juros a única arma de que dispõe o governo federal, visto que o peso da máquina estatal cresceu assustadoramente na era Lula. Foram contratados, entre administração direta e indireta, mais de 350 mil servidores públicos, concursados ou não.

Só para se ter ideia do peso burocrático, pouco mais dos 900 mil servidores aposentados da União geram um deficit na Previdência de R$ 47 bilhões, enquanto 27 milhões de aposentados do setor privado geram apenas R$ 3 bilhões!

Por outro lado, no ano de 2010, nas transações correntes, o deficit será de quase US$ 50 bilhões, o que vale dizer: com a queda do saldo previsto da balança comercial, o saldo negativo do balanço de pagamentos será, talvez, o maior da história brasileira.

Acrescente-se que, nas exportações, voltamos aos mesmos índices de produtos de valor agregado da década de 80, ou seja, exportamos em torno de 45% de produtos industrializados contra mais de 50% na década de 90. E começamos a importar de tudo por conta do real supervalorizado.

Estou convencido de que o governo federal nunca desejou uma reforma tributária, pois, detendo 70% do bolo tributário, e quase 60%, após as transferências para Estados e municípios, não pretende correr o risco de perder tal participação na arrecadação global.

O certo é que o quadro para o futuro não é brilhante, havendo pontos de estrangulamento notórios, não passíveis de análise neste curto artigo, o que levará, qualquer que seja o futuro presidente, a ter que colocar a casa em ordem.

O mais curioso, todavia, é que, em 2002, último ano do governo Fernando Henrique, a participação do Brasil no PIB global era de 2,92%, vale dizer, 0,2% a mais do que no último ano do governo Lula.

Isso significa que, apesar de o Brasil ter crescido, o mundo cresceu mais. De rigor, Fernando Henrique entregou o governo ao presidente Lula com uma participação no PIB global maior do que a que Lula entregará a seu sucessor.

É de se lembrar que, em 2000, a China tinha uma participação no PIB global de 7%, e a Índia, de 4%.

Os indianos pularão, em 2010, para 5% e a China para 13%, enquanto o Brasil regredirá para 2,9%.

Em outras palavras, nada obstante o aumento do PIB per capita, o Brasil cresceu apenas pelo "efeito maré" da economia mundial, que, apesar da monumental crise de 2008 e 2009 e da crise europeia de 2010, se comportou melhor que a economia brasileira.

Roberto Campos, ao prefaciar meu livro "Desenvolvimento Econômico e Segurança Nacional -Teoria do Limite Crítico", disse que a melhor forma de "evitar-se a fatalidade é conhecer os fatos". Infelizmente, o mundo da fantasia raramente se coaduna com a realidade do mundo.

domingo, 8 de agosto de 2010

LANÇAMENTO DE LIVRO.

Lançamento da semana: POLÍTICA MONETÁRIA: IDEIAS, EXPERIÊNCIAS E EVOLUÇÃO - Editora FGV.
Escrita por JOSÉ JÚLIO SENNA, um dos mais importantes economistas brasileiros, em linguagem dirigida não apenas a especialistas, mas também a leigos interessados em tema tão relevante, esta é uma obra de referência fundamental sobre política monetária. O livro trata da evolução da política de administração da moeda desde a Antiguidade até os dias atuais. São examinadas as principais teorias surgidas ao longo de todo esse tempo, bem como experiências importantes, algumas desastrosas, outras de sucesso, vividas no Brasil e em outros países.

sábado, 7 de agosto de 2010

TONY JUDT - LUTO!

The death was announced in a statement from New York University, where he had taught for many years. In September 2008, he learned that he had amyotrophic lateral sclerosis, known as Lou Gehrig’s disease. In a matter of months the disease left him paralyzed and able to breathe only with mechanical assistance, but he continued to lecture and write.

“In effect,” he wrote in an essay published in January in The New York Review of Books, “A.L.S. constitutes progressive imprisonment without parole.”

Mr. Judt (pronounced Jutt), who was British by birth and education but who taught at American universities for most of his career, began as a specialist in postwar French intellectual history, and for much of his life he embodied the idea of the French-style engaged intellectual.

An impassioned left-wing Zionist as a teenager, he shed his faith in agrarian socialism and Marxism early on and became, as he put it, a “universalist social democrat” with a deep suspicion of left-wing ideologues, identity politics and the emerging role of the United States as the world’s sole superpower.

A complete obituary will soon appear on nytimes.com. A column about Mr. Judt’s race to complete his work appears in Saturday’s Irish Independent.

ELEIÇÕES 2010 - O DIA SEGUINTE!

Não é nada fácil a vida de candidato (a) à Presidente da República. Na verdade, todos precisam de uma dose de SIGMUND FREUD. Diante disso, SINFRÔNIO, em total sintonia com o momento, nos brinda com a charge acima, diretamente de FORTALEZA, no jornal DIÁRIO DO NORDESTE.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

USA: WELCOME TO THE RECOVERY

Timothy F. Geithner, the secretary of the Treasury: There is good news to report in the USA:

• Exports are booming because American companies are very competitive and lead the world in many high-tech industries.

• Private job growth has returned — not as fast as we would like, but at an earlier stage of this recovery than in the last two recoveries. Manufacturing has generated 136,000 new jobs in the past six months.

• Businesses have repaired their balance sheets and are now in a strong financial position to reinvest and grow.

• American families are saving more, paying down their debt and borrowing more responsibly. This has been a necessary adjustment because the borrow-and-spend path we were on wasn’t sustainable.

• The auto industry is coming back, and the Big Three — Chrysler, Ford and General Motors — are now leaner, generating profits despite lower annual sales.

• Major banks, forced by the stress tests to raise capital and open their books, are stronger and more competitive. Now, as businesses expand again, our banks are better positioned to finance growth.

• The government’s investment in banks has already earned more than $20 billion in profits for taxpayers, and the TARP program will be out of business earlier than expected — and costing nearly a quarter of a trillion dollars less than projected last year.

And as the president said last week, no one should bet against the American worker, American business and American ingenuity.

We suffered a terrible blow, but we are coming back.

AULA DE ECONOMIA COM DELFIM.

De excepcional inteligência e didatismo, Antônio Delfim Netto, 82 anos, um dos economistas mais ouvidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi entrevistado pelo ESTADÃO. Tenham certeza que a leitura de trechos da entrevista é uma aula de ECONOMIA. Boa leitura.

Quais são os principais desafios da economia no próximo governo?

O Brasil está hoje em uma situação muito melhor que no passado recente. Por que a partir de 2003 a coisa mudou? Porque o mundo entrou em expansão. O Brasil ligou seu plugue ao mundo e, de repente, um país que tinha problemas permanentes de financiamento de contas correntes se transformou em credor do FMI. A expansão brasileira não tem nada de especial. E isso medimos pela proporção da exportação em relação ao mundo, que continua perto de 1%. O Brasil nunca fez esforço exportador e continua com uma política cambial devastadora. O País sempre teve dois problemas que abortavam o crescimento: energia e déficit em contas correntes. A oferta de energia está crescendo 4,5% a 5% ao ano, suficiente para uma nação que precisa crescer entre 5% e 6% ao ano. Já o déficit em conta corrente está se restabelecendo e nós estamos levando isso na flauta. Estamos brincando, fingindo que não tem importância. Tem, sim. A história mostra que déficit em conta corrente produz surpresas. Hoje temos US$ 250 bilhões de reservas. Mas isso é muito relativo. Uma boa parte desaparece em pouco tempo se as condições se desintegram.

Por que o senhor está preocupado com o déficit em conta corrente?

Estamos fazendo um déficit gigantesco, com enormes prejuízos para a sofisticação do nosso processo industrial. Nós temos, hoje, 10 ou 15 exemplos concretos de empresas brasileiras e estrangeiras que têm indústria no Brasil e na China. Dentro da fábrica, a produtividade brasileira é igual à produtividade chinesa e a qualidade é um pouco melhor. Portanto, a competição com a China não tem nada a ver com setor privado. Tem a ver com o governo, que é ineficiente, gastador, não dá suporte adequado, não produz a infraestrutura. Nós temos um problema de burocracia gigantesco, mas ninguém vai resolver fazendo revolução. São medidas na margem, todos os dias. O Brasil está apropriado por uma burocracia sindical que vive nas tetas do governo. Esse déficit em conta corrente, seguramente, é em boa parte por causa do câmbio de R$ 1,78. Não vamos ter ilusão. Taxa de câmbio competitiva é fundamental para o crescimento econômico.

O senhor é favorável à intervenção no câmbio?

A valorização do câmbio é produzida por uma política monetária que mantém a taxa de juro real interna muito superior à externa. Os juros estão fora do lugar, o que põe o câmbio fora do lugar. O importante neste caso é que você tem de escolher. O BC tem de ser autônomo operacionalmente, mas independência é uma tolice. É bom trabalhar com o sistema de metas da inflação? É. Mas como o BC obtém credibilidade? Aumentando a taxa de juros real de equilíbrio e reduzindo o PIB potencial, para conseguir a meta de inflação. É por isso que o papel do BC é discutível. Você tem que discutir os parâmetros que ele usa.

Está na hora de o BC interromper a alta dos juros?

Está visível que a inflação era um surto. O pior é que o BC vai achar que foi ele que reduziu a inflação. Não foi. Ele levou um susto com a inflação caindo antes do que esperava e reduziu o aumento de juros. O sistema financeiro adquiriu um tal poder que quem produz parafuso não vale nada. Quem vale é quem tem um papel no computador. O grande drama é que levamos longe demais essa distorção cambial. O País não está sofrendo da doença holandesa. Hoje vendemos mais geladeira que antes, logo não há desindustrialização. Só que quando você olha para dentro da geladeira, o valor adicionado nacional era 80%, hoje é 30%.

O senhor disse que o governo é gastador. O Brasil precisa de ajuste fiscal?

Não precisa de revolução nem de choque de gestão. Tudo isso é conversa mole para boi dormir. O governo precisa de um programa de 10 anos em que as despesas de custeio e transferência cresçam menos que o PIB, conduzindo a diferença para o investimento. O Estado está apropriado pelo funcionalismo. A Previdência é um problema que vai ter de ser enfrentado, não só pelo aspecto financeiro mas também pela justiça. Você extrai do trabalhador para entregar ao funcionário. Basta ver o ataque ao Tesouro feito nas últimas semanas. Deu um ataque de loucura no Congresso e houve um conluio entre o Legislativo e o Judiciário para destruir as finanças do País. E isso tudo feito com alegria, samba, foguete dentro de um Congresso absolutamente irresponsável.

Um dos pontos de restrição ao crescimento é a baixa taxa de poupança. Como resolver isso?

Um dos parâmetros usados é que você precisa de 25% de investimento para produzir 5% a 6% de crescimento. Primeiro, esse parâmetro não é estável. Segundo, depende da qualidade dos investimentos. A poupança vem depois do investimento. No caso brasileiro, isso é visível. É claro que no curto prazo tem uma pressão inflacionária. É isso mesmo. Para isso temos controles. Mas também é claro que isso é um fator preocupante. Quanto maior for a taxa de poupança, melhor. Quem destruiu isso foi o setor público. Hoje a carga tributária é 35% e o governo investe 1%. O setor privado poupa: representa pouco mais de 60% do PIB e poupa 15%. Quem não poupa é o governo.

Como o senhor avalia a atuação do BNDES no governo Lula?

Passamos por momento de dificuldade e o BNDES agiu corretamente. Podemos discutir um ou outro investimento do banco, que não faz sentido, mas é uma questão menor. Vamos supor que o BNDES não tivesse agido: o PIB cairia 3% e a arrecadação também. O BNDES é um mecanismo de financiamento importante, mas o Brasil precisa de outros. Imaginar que o BNDES pode escolher os melhores investimentos sem nenhum viés é um equívoco. Agora, negar o papel do banco é ridículo. A única coisa justa é: houve sim um subsídio, que tem de ser apurado e colocado no orçamento. Evidentemente o Tesouro não deve continuar fazendo aportes do BNDES. Isso foi um incidente.

Sem reforço do Tesouro no caixa do BNDES, como o Brasil vai financiar a usina de Belo Monte, as obras do PAC, os estádios da Copa do Mundo?

Você tem aí uma soma de investimentos que eu não estou convencido que caiba no PIB. São maiores que o Brasil. É verdade que isso é feito ao longo do tempo, que depende do ritmo de crescimento do País e dos mecanismos de financiamento. Mas você não vai ter todos esses investimentos sem financiamento privado. Quem faz investimento é o setor privado. O governo, o melhor que faz é discurso. Provavelmente não vamos realizar todos esses investimentos: vamos fazer o pedaço de um, vai faltar a perna do outro. E provavelmente a maioria deles não vai ter nenhuma taxa de retorno.

Qual deve ser o papel de um economista hoje?

Alguns economistas não têm o mínimo de humildade. O nosso papel – Adam Smith (o mais importante teórico do liberalismo econômico) já dizia – é quem sabe ajudar o governo a fazer uma sociedade que cresça robustamente e seja mais justa. Mas não determinar o que a sociedade quer. Isso quem determina é a urna. Cada vez que você exagera no economicismo, a urna vem e tem põe fora. Cada vez que você exagera no populismo, a urna vem e te põe fora. É por isso que os países progridem. Ou você acha que o Chávez (o presidente da Venezuela) vai continuar errando a vida inteira? Ou ele vai para um poste ou vai pedir asilo em Cuba. O capitalismo é um processo. É por isso que sai dessa crise um novo capitalismo. O homem precisa disso e tem novas exigências. Resolveu entender agora, por exemplo, que abusou da natureza. Nos anos 70 ninguém pensava nisso. Pelo contrário. Eu lutava para importar poluição. Queriam acabar com a indústria de aço na Europa. Nós dizíamos: podem vir para o Brasil. Não acredito que a China possa continuar com essa expansão. Por uma razão simples. Para continuar a expansão, precisa importar outra terra. Os chineses compraram a África e estão tentando comprar o Brasil. Isso é uma grave miopia do governo brasileiro – permitir que um Estado soberano compre terras, minérios, recursos naturais em outro Estado soberano. Essas empresas chinesas são o próprio Estado chinês.

O senhor acha que o Brasil está a caminho de se transformar em um país desenvolvido?

O Brasil está caminhando e tem tudo para crescer 5% a 6% ao ano. Nós não temos competência para impedir esse crescimento. É claro que muitas coisas precisam ser feitas, como eliminar a burocracia. É óbvio que quem tem que ser consertado é o governo. Mas é uma idiotice dizer que precisa de governo fraco. Sem um Estado indutor, não há crescimento. Com um mínimo de inteligência, o Brasil é seguramente um país que já tem os recursos para, em 2030, ter um nível de vida equivalente ao da Europa Ocidental de hoje

domingo, 1 de agosto de 2010

MANIPULAÇÃO DO CÂMBIO?

Recentemente recebi o artigo abaixo, escrito por CELSO MING, com um assunto que merece a nossa reflexão antes de eventual desastre na nossa atual política econômica, o que espera-se não ocorrer, independente de quem vencer a eleição. Isso é possível?

O Tesouro dos Estados Unidos desistiu no dia 8 de julho de declarar a China como país que manipula sua moeda, o yuan. Se tivesse feito essa declaração oficial, o Congresso americano estaria liberado para impor represálias comerciais à China.

Não há nenhum critério objetivo que defina o que seja manipulação em câmbio. O que há são intervenções do governo ou do banco central no câmbio de maneira a obter determinada cotação ou uma certa estabilidade entre as cotações das moedas.

Logo depois da Segunda Grande Guerra, até 1972, os Estados Unidos participaram do sistema de Bretton Woods, que manteve fixas as cotações do dólar entre as principais moedas. E, nem por isso, foram considerados manipuladores da cotação do dólar. Durante a crise da Ásia, em 1998, ao contrário do que vêm repetindo as atuais autoridades econômicas americanas, o então secretário do Tesouro, Robert Rubin, louvava a estabilidade cambial administrada pela China numa paisagem de enorme turbulência.

A base teórica que define o que possam ser as políticas na área do câmbio é o chamado trilema de Mundell-Fleming (referência aos economistas Robert Mundell e Marcus Fleming). Um trilema é a situação em que alguém tem de escolher entre três opções que se excluem uma à outra ou permitem manter apenas duas tendo necessariamente que excluir a terceira.

O trilema em questão diz o seguinte: nenhum governo consegue ao mesmo tempo garantir livre fluxo de capitais, controlar o volume de moeda na economia (taxa de juros) e controlar o câmbio.

Cada uma dessas três opções apresenta inegáveis vantagens na condução de uma economia. O livre fluxo de capitais, por exemplo, facilita o financiamento dos pagamentos externos e o investimento. A administração dos juros (política monetária) garante o controle sobre a inflação. E o câmbio fixo, além de evitar a especulação com moedas, dá estabilidade aos negócios e aos contratos de longo prazo.

O problema é que não é possível ficar com as três opções. Se o banco central quer manter fixa a cotação da moeda, terá de comprar os dólares que excederem a oferta desejável e vendê-los quando faltarem no mercado. E quando compra e vende moeda estrangeira, o banco central injeta ou retira moeda nacional no/do mercado. Ou seja, não consegue manter fixos os juros, que são o preço do dinheiro, e, assim, a inflação fica sem ancoragem.

O Brasil, por exemplo, mantém relativamente livre o fluxo de capitais, controla os juros, mas tem de aceitar que a cotação do dólar flutue (no caso, flutuação suja) no mercado. E é o que também acontece com os Estados Unidos.

A China fez outra escolha. Mantém o câmbio fixo em relação ao dólar, tem um bom domínio sobre a política monetária e sobre os juros, mas teve de adotar rígido controle sobre os fluxos de capital. Os dirigentes americanos e alguns analistas econômicos de peso, como Paul Krugman, poderiam argumentar que o mix de políticas escolhido pela China diante do trilema não é o que mais convém no momento ao jogo dos Estados Unidos, embora possa ter sido conveniente durante a crise da Ásia, como ficou dito. Mas estão equivocados quando dizem que essa escolha seja manipulação do câmbio.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...