domingo, 9 de outubro de 2011

O fim da ilusão dos Brics.

MARCELO COUTINHO, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Iuperj, escreveU este artigo especialmente para O GLOBO.

Em 1499, Américo Vespúcio passou próximo à costa norte da América do Sul, a caminho das Índias Ocidentais, como então era chamado o continente americano. Só anos depois, quando o navegador florentino regressava de uma viagem ao Brasil, concluiu que não podíamos ser um prolongamento da Ásia. 

Mesmo após tal descoberta, o termo Índias Ocidentais continuou a ser utilizado pela Companhia Holandesa, entre outras. Responsável pela ocupação do Nordeste brasileiro no século XVII, essa empresa desenvolveu uma organização mais capitalista no comércio internacional, cuja origem antiga remonta às redes fenícias de cidades mercantes, centenas de anos antes de Cristo.

Os Países Baixos apenas iniciariam a transição do mercantilismo para os mercados modernos. Estes se globalizaram, se desglobalizaram e se globalizaram novamente. Mas nunca estiveram tão perto de ver a Ásia predominar. Estamos entrando na Era do Dragão. E talvez em um neomercantilismo.

Países como China e Índia se distanciaram muito daquelas antigas fontes de bens primários e bugingangas. A Chíndia exporta também em massa produtos e serviços de alta qualidade. Não há nenhum outro país ou região comparável. O acrônimo Bric equivale à confusão criada com as Índias Ocidentais na geografia comercial.

O Brasil voltou a ser confundido com a Ásia. Ninguém acredita que somos a costa oriental do Sudeste Asiático como na época de Vespúcio, mas de alguma forma nos igualamos a partir de uma invenção do sistema financeiro. Sonhamos em ser um dos grandes emergentes que dominarão a economia no mundo. É o nosso excepcionalismo.

Quanto mais cedo despertarmos, melhor. Em comum com a Chíndia, o Brasil tem apenas o tamanho. Nos últimos três anos, crescemos em média 1/3 do que cresceram as potências orientais. Por outro lado, quando o Ocidente entrou em recessão em 2008, acompanhamos a queda, ainda que numa intensidade menor (-0,6%). O mesmo ambiente de forte desaceleração parece acontecer agora no fim de 2011.

Em matéria de dinamismo econômico, o Brasil é um país dividido. Seus setores industriais mais avançados seguem padrões ocidentais de derretimento. Já os setores tradicionais ligados às commodities ancoram-se na demanda do Oriente. O resultado é um crescimento intermediário entre os dois grupos, porém mais próximo dos baixos níveis dos países já desenvolvidos.

A pauta do que exportamos se concentra nos itens básicos. Somos menos diversificados do que éramos há dez anos. A substituição dos EUA pela China não trouxe vantagens. A indústria nacional desenvolveu dependência estrutural das importações, de modo que mudanças abruptas no câmbio não ajudam, mesmo quanto ocorre desvalorização.

O peso do Brasil no comércio é residual e vem caindo. O Brasil responde por 1% do fluxo comercial global, ou seja, bem menos do que há 50 anos, e um décimo hoje da Chíndia, com seus 2,5 bilhões de pessoas. Por sua vez, a importância brasileira no PIB do mundo em PPP representará em 2011 só 1/6 da participação chinesa e 40% da indiana. O mero ranqueamento que nos coloca entre as maiores economias gera, como se percebe, falsas impressões.

Se o critério utilizado para o acrônimo da Goldman Sachs é político, a situação fica ainda mais complicada. China e Índia têm armas nucleares, a primeira é autoritária e a segunda tem indicadores sociais piores que os do Maranhão. A China não apoia nosso assento fixo na ONU. A Índia encontrou sozinha aprovação dos EUA. As visões na OMC tampouco coincidem. Isso tudo sem falar da Rússia.

O fim da ilusão chamada Bric não deve estimular, todavia, comportamentos orientalófobos. O novo protecionismo pune os consumidores sem gerar compensações à altura em empregos locais. Mal ou bem, os asiáticos são agora atores imprescindíveis. Constatar que não somos a extensão deles é o início para nos inserirmos conscientes das novas rotas do comércio, da nossa menor importância relativa e dos desequilíbrios na condição de global players. Não somos China nem Índia ocidentais.

Steve Jobs na Time.


Ele está em todas as capas das revistas semanais pelo mundo. Ele fez por merecer.

Círio 2011 - Belém-PA.

Quem conhece o Círio de Nazaré em Belém do Pará, não esquece nunca.

Por isso, o ESTADÃO cita que: "Nunca vi coisa igual no mundo. Já estive em Fátima, em Portugal, e em Lourdes, na França, acompanhando peregrinações católicas. Também conheço a peregrinação muçulmana à Meca, mas nada se iguala ao mar de gente que encontrei no Círio de Nazaré. A fé do povo paraense contagia e emociona qualquer um", declarou o empresário catarinense Romeu Tadeshi, de 67 anos. Ele estava no meio da multidão, distribuindo água aos peregrinos.

O ex-governador de São Paulo, José Serra, que veio a Belém pela segunda vez para acompanhar o Círio a convite do governador paraense Simão Jatene, disse que estava "muito emocionado". Para ele, não há nada parecido. "É um grande ato de fé, que à distância a gente não tem ideia de como é. Milhões de pessoas na rua que se organizam sem precisar de muita organização", resumiu o político. 

Este blog na Troppo.

Hoje, no O LIBERAL, na coluna Troppo da Rejane Barros, notícias deste blog.

Nobel de Economia 2011.

Amanhã é dia do anúncio do Nobel de Economia 2011.

A day before the announcement of the prestigious 10 million kronor ($1.5 million) award, Americans Robert Barro and Paul Romer stand out as favorites for the prize for their research on growth, leading experts say.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O exemplo de Jobs.


Editorial da FOLHA de hoje não poderia deixar de comentar sobre Steve Jobs:

No início do século passado, e provavelmente até a depressão econômica dos anos 1930, figuras como Andrew Carnegie (1835-1919), Thomas Edison (1847-1931) ou Henry Ford (1863-1947) simbolizaram, para o público norte-americano e mundial, o poder quase mítico da inovação e da riqueza.

Houve tempo em que o prestígio desse gênero de industriais e visionários, alçados da pobreza à opulência, rivalizava com o de artistas ou ídolos do esporte -e, a despeito de visões polêmicas do ponto de vista político, sua energia pessoal, suas ações filantrópicas e sua capacidade de mudar materialmente a face do mundo constituíam fonte de inspiração.

A revolução dos computadores pessoais, iniciada por inovadores como Bill Gates, da Microsoft, e o recém-falecido Steve Jobs, da Apple, parece ter enviado a um passado distante o mundo fumarento, ruidoso e cheio de graxa das antigas instalações industriais.

A modernidade criada nos laboratórios do Vale do Silício, na Califórnia, recobre-se de uma superfície lisa, colorida, silenciosa e lúdica -e ninguém como Steve Jobs soube torná-la atraente e ágil para o uso do consumidor.

Ao mesmo tempo, os novos milionários da informática parecem recuperar um pouco a aura dos industriais do passado. Depois de um período de relativo anonimato corporativo, na segunda metade do século 20, reviveu-se com Jobs e outros gurus tecnológicos a ideia do empresário criador, do rapaz que ascende da oficina doméstica para a direção de gigantescas e bilionárias organizações.

Certa informalidade juvenil acrescentou apelo contemporâneo a esses novos magnatas -que, como seus predecessores de cartola, frequentemente esposaram causas beneméritas nos campos da educação e da cultura.

Tornaram-se, sem dúvida, símbolos da flexibilidade do sistema capitalista para absorver e potencializar a criatividade individual; é em grande parte por sua liderança na pesquisa tecnológica e científica, com efeito, que os Estados Unidos ainda mantêm a primazia econômica que as potências emergentes lhe querem arrebatar.

Resta saber, a esse propósito, que condições o ambiente no Brasil oferece ao surgimento do tipo de criador, misto de empresário e cientista, que Steve Jobs simbolizou. As homenagens que lhe são prestadas, por ocasião de sua morte, comprovam o quanto é necessária e inspiradora sua contribuição.

Brasil em momento importante.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, engenheiro e economista, economista-chefe da Quest Investimentos foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações no governo FHC. Escreveu hoje na FOLHA DE S. PAULO.

O mundo vive hoje um desses momentos especiais em que mudanças estruturais -principalmente na economia- estão forjando o futuro de muitas sociedades. Para alguns países, os próximos anos serão marcados por dificuldades, principalmente devido a ajustes que precisarão ser realizados em um ambiente de baixo crescimento econômico. Para outros -e o Brasil está nesse grupo-, o futuro poderá ser muito favorável, pois serão reconhecidos como espaços de crescimento e mudanças sociais favoráveis, atraindo investimentos internacionais por um longo período de tempo.

Para mim, esse cenário positivo para os países emergentes é hoje o mais provável, embora ainda existam riscos de uma crise internacional de grandes proporções. Se os governos europeus e dos Estados Unidos não tomarem as medidas necessárias para enfrentar a combinação de uma crise fiscal profunda em um ambiente de pressões financeiras sobre o sistema bancário, vamos cair -todos- em um abismo profundo. Nos dois últimos dias apareceram sinais de que, pelo menos na Europa, os políticos entenderam esse risco e resolveram tomar medidas para fortalecer a estrutura de capital de seus bancos.
                                                                                                                                     
Mas, nos Estados Unidos, a verdadeira guerra civil do Partido Republicano para tirar o presidente Obama da Casa Branca ainda pode levar a maior economia do mundo a uma recaída recessiva. E, para não cair no abismo que citei acima, será preciso que Europa e Estados Unidos ajam em conjunto na direção correta.

Mas o principal objetivo desta minha coluna é explorar um pouco o futuro de nosso país no cenário de uma estabilização da crise financeira no mundo desenvolvido ao longo dos próximos meses.

Com os mercados libertos dos riscos de um buraco negro sugando toda a humanidade -imagem magnífica da capa da última edição da revista "The Economist"-, os investidores voltarão a se envolver com coisas mais sérias do que especular ou se defender do caos. E o mundo que eles devem encontrar nessa volta a tempos mais normais estará profundamente dividido entre nações emergentes e nações desenvolvidas. Nas primeiras, o processo de absorção de milhões de novos consumidores e o crescimento da renda de uma nova classe média, criada ao longo da primeira década do século, serão retomados certamente. No mundo rico, os ajustes fiscais que terão de ser feitos e, principalmente, um sistema bancário zumbi e sem funcionalidade vão cristalizar um crescimento econômico medíocre e, em alguns países, uma recessão do tipo japonês.

Como a vida continua e as empresas precisam aumentar seus investimentos, a atração de economias como a brasileira será irresistível. Não podemos esquecer que a terapia para manter a economia do mundo desenvolvido em funcionamento exigirá juros muito baixos por um longo período de tempo. Com isso, o chamado custo de oportunidade para investir em regiões vistas de fora como de maior risco ficará baixo, aumentando a atratividade desses investimentos.

Mas a política econômica que o Brasil deve adotar para maximizar esse extraordinário potencial de crescimento precisa estar calibrada para esse novo ciclo. Para que ele ocorra, seus líderes terão de entender o que está se passando e tomar as medidas necessárias para maximizar os ganhos possíveis.

O Brasil tem hoje limites muito nítidos para continuar crescendo a taxas superiores a 4%. As pressões inflacionárias que estão latentes nos índices de preços dos últimos meses são indicadores claros de que estamos num momento delicado. Se adicionarmos ainda, ao longo de 2012, um novo fluxo de investimentos por conta dos desequilíbrios que citei, vamos certamente cruzar uma fronteira perigosa no campo da inflação.

E o que me preocupa são dois comportamentos do governo nas últimas semanas: o primeiro, a tomada de medidas administrativas para enfrentar uma depressão econômica no mundo que pode não vir; e, o segundo, seu despreparo intelectual para administrar um sucesso que pode acontecer.

É a USP na linha de frente da educação.


Direto do site do UOL:

Em tempos de rápida expansão econômica e alta demanda por profissionais, as universidades da América Latina ainda usam técnicas de ensino inadequadas, são mal geridas e com baixa produção científica, segundo artigo desta semana da revista britânica "The Economist".

A grande exceção, de acordo com a revista britânica, é a USP (Universidade de São Paulo), que se destaca em determinados campos de pesquisa e consegue atrair financiamento privado.

A "Economist" cita a divulgação, nesta semana, do primeiro ranking de universidades latino-americanas da consultoria Quacquarelli Symonds, no qual a USP aparece em primeiro lugar.

Menciona, ainda, o reconhecido ranking global Times Higher Education, no qual a USP, em 178º lugar, é a única latino-americana entre as 200 primeiras.

Para a revista, a ascenção da USP em tais listas é consequência do crescente financiamento privado, da colaboração com outras instituições internacionais e o reconhecimento de qualidade.

A Economist lembra que USP está se tornando referência mundial em medicina tropical, parasitologia e biocombustíveis. 

Ouvido pela revista, o especialista em educação do Banco Mundial, Jamil Salmi, diz que tais rankings ajudam a quebrar o tradicional isolamento da academia latino-americana.

Ele cita ainda que o isolamento atinge os alunos, já que "os bons estudantes são recrutados para ensinar em suas próprias universidades, ao invés de serem encorajados a sair e expandir seus horizontes", diz.

O artigo levanta a questão do financiamento exclusivamente estatal das universidades públicas, onde "os estudantes não pagam nada, os funcionários não podem ser demitidos e o currículo é antiquado e politizado".

Para a Economist, nenhum país da região encontrou qualquer fórmula satisfatória para financiar suas universidades públicas, citando os atuais protestos enfrentados pelo governo do Chile, onde tais instituições são pagas.

A expansão indiscriminada de vagas na Venezuela, com "instituições despreparadas", onde "300 alunos (estudam) em salas que deveriam ser para 15", é criticada pela revista.

O semanário diz também que a demanda por cursos universitários fez explodir o número de instituições privadas de baixa qualidade.

Citado pela revista, o consultor mexicano Francisco Marmolejo diz que isso acaba criando um sistema "onde centenas de milhares de estudantes conseguem um diploma totalmente inútil".

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Previsões do FMI 2011 e 2012.


Latin America and the Caribbean is expected to expand by 4½ percent in 2011 and to moderate to about 4 percent in 2012. Although the slowdown in advanced economies is projected to have only a moderate effect in most countries, large risks to the outlook loom, the IMF said.

In its Regional Economic Outlook for the region, issued on October 5 in Lima, Peru, the IMF said countries in the region continue to benefit from double tailwinds of easy external financing conditions and still-high commodity prices, although these factors are projected to be less stimulative than before.

So far in 2011, economic activity has moderated from the high levels reached in 2010, but remains above potential in much of the region. Growth has been driven by strong domestic demand, with the commodity-exporting countries of South America leading the way.

More recently, fears of a global slowdown are starting to weigh in on the region’s financial markets, with equities, currencies, and commodities taking a hit.

“We still have as our baseline a situation in which both global liquidity and commodity prices will remain, as we have called them, the double tailwinds for the region,” said Nicolás Eyzaguirre, Director of the IMF’s Western Hemisphere Department. “However, these will be somewhat weaker than in the recent past,” he added. Also, with the fluid situation in the markets, the report notes that downside risks are potentially severe.

Profissão Economista.


No portal da FEA – USP, a definição da “Profissão Economista”.

O Economista é o profissional que estuda fatos históricos, dados e estatísticas a fim de detectar tendências na atividade econômica, níveis de confiança na economia e atitudes do consumidor.

Essas informações são acessadas por meio de avançados métodos de análise estatística, matemática e programação, e também por meio de análises históricas, e dão base para recomendações de como encontrar maneiras para melhorar a eficiência de um sistema ou obter vantagens de tendências assim que se estabelecem.

Ele ajuda a construir, a ampliar e a preservar o patrimônio de pessoas, empresas e governos e desenvolve planos para a solução de problemas financeiros, econômicos e administrativos nos diversos setores da atividade econômica.

Há registro de economistas ou pensadores do que se convém chamar economia ou ciências econômicas desde a Antigüidade, como Aristóteles, em sua obra "Política", ou o indiano Chanakya, primeiro-ministro na Índia entre os séculos IV e III a.C. Porém, o britânico Adam Smith (1723-1790), autor de "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações", é considerado o pai da economia moderna.

A profissão de economista foi regulamentada no Brasil em 1951, com o Lei n° 1.411. Para ser economista, é necessária a formação superior em bacharel em Ciências Econômicas, bem como ser registrado em um dos Conselhos Regionais de Economia.

A universidade latino-americana


“A universidade latino-americana” é tema de editorial do ESTADÃO nesta data.


As universidades brasileiras - principalmente as públicas e as confessionais - estão entre as melhores instituições de ensino superior da América Latina. A primeira edição do ranking latino-americano foi elaborada por uma empresa britânica de consultoria educacional, a Quacquarelli Symonds (QS), e divulgado pelo site Top Universities.

Realizado com base numa metodologia semelhante à que tem sido utilizada nas avaliações das melhores universidades do mundo, o estudo comparou o desempenho de 200 instituições da região e incluiu 8 universidades brasileiras entre as 20 melhores. A campeã foi a USP, que se destaca em todos os indicadores, tais como proporção de professores com doutorado, produtividade de pesquisa do corpo docente, número de matrículas, reputação acadêmica, reputação entre empregadores, número de publicações por professor, citações em estudos científicos e impacto das pesquisas na internet e investimento em tecnologia.

Além da USP em 1.º lugar, estão na lista das 20 melhores a Unicamp, em 3.º lugar; a Universidade Federal de Minas Gerais, em 10.º lugar; a Universidade de Brasília, em 11.º; a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 14.º; a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 15.º; a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, em 16.º; e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 19.º.
Por causa dos investimentos que o Chile tem feito nas últimas décadas em educação, não causou surpresa o desempenho das instituições chilenas - 3 delas estão entre as 20 melhores do ranking da QS e uma - a Pontifícia Universidad Católica - ficou em segundo lugar, com uma diferença muito pequena da primeira. A USP obteve 100 pontos e a instituição chilena, 99,6. Entre as demais instituições que integram a lista das 20 melhores, destacam-se a Universidad Nacional Autónoma de México, uma das mais antigas da América Latina, a Universidad Nacional de Colombia e cinco universidades argentinas, das quais a mais importante é a Universidade de Buenos Aires, que ficou em 8.º lugar.

Na lista das cem melhores universidades, 31 são brasileiras. No critério de número de trabalhos publicados por professor, as universidades brasileiras ocupam 15 das primeiras 20 colocações. As líderes são a USP, a Unicamp e a Unifesp, as três situadas no Estado de São Paulo, cujo governo mantém - com recursos do ICMs - uma das principais agências de fomento do país, a Fapesp. Esse é um dos fatores que levaram a Unicamp a ser a universidade que tem registrado maior número de patentes de inovação tecnológica, perdendo apenas para a Petrobrás. "A fórmula do sucesso é o equilíbrio entre ensino e pesquisa. Temos o mesmo número de alunos de graduação e de pós-graduação, num total de 30 mil", diz o coordenador-geral da instituição, Edgar De Decca.

Para o editor do site Top Universities, Danny Birne, o excelente desempenho das universidades brasileiras no ranking das 200 instituições latino-americanas de ensino superior se deve à prioridade que foi dada à pesquisa acadêmica e científica nos últimos anos, por meio do aumento do número de bolsas de estudo e financiamento de projetos, por parte das agências públicas de fomento e das que são mantidas pela iniciativa privada. Ele também destaca o alto número de docentes com doutorado e o aumento do número de matrículas nas universidades brasileiras, que pulou de 2 milhões para 6 milhões, na última década. Para o editor do Top Universities e para o coordenador de pesquisas da QS, Ben Sowter, os investimentos feitos pelas universidades públicas e confessionais brasileiras ainda estão em fase de maturação e, quando começarem a produzir dividendos, serão "o motor que ajudará o País a alcançar seu potencial de crescimento econômico".

Comparadas com as principais universidades europeias e americanas, as universidades latino-americanas ainda se encontram muito atrás - a USP, a mais bem classificada, ocupa o 169.º lugar, na pesquisa da QS. As universidades brasileiras estão melhorando, mas ainda têm de percorrer um longo caminho para ascenderem ao topo do ranking mundial.

Previsões para o PIB de 2011 e 2012.


No VALOR ECONÔMICO de hoje, o comentário de Carlos Langoni sobre o PIB de 2011 e 2012.

A força do mercado interno deve garantir ao Brasil um crescimento de 3,5% a 4% neste ano e no ano que vem, acredita o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, que vê um quadro de estagnação nos países desenvolvidos nos próximos anos, mas não de recessão profunda. Langoni não aposta num cenário externo tão adverso quanto o BC brasileiro, que trabalha com uma piora muito forte da economia global, a ponto de ter iniciado um ciclo de corte dos juros mesmo com a inflação acumulada em 12 meses acima do teto da meta, de 6,5%.

"A decisão do BC foi ousada e arriscada. Eu não teria cortado os juros em agosto. Esperaria até o fim do ano para ver também se a política fiscal será bem implementada", disse ontem Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele participou de um painel de discussões sobre risco sistêmico no Simpósio Econômico Global (GES, na sigla em inglês), na cidade de Kiel, na Alemanha. Promovido pelo Kiel Institute for the World Economy, o evento, que termina hoje, tem a FGV como um de seus parceiros.

Para Langoni, o quadro externo com que o BC trabalha depende de uma desaceleração mais forte da China, o que derrubaria os preços das commodities, ajudando a controlar a inflação no Brasil, e de uma crise no sistema bancário, com corte do crédito externo, medida que também teria um impacto desinflacionário. Langoni, contudo, não acredita num tombo muito forte das commodities, por considerar possível que a China continue a crescer na casa de 9%.

O economista tampouco aposta numa crise bancária de grandes proporções. Depois do que ocorreu em 2008, quando os EUA deixaram o Lehman Brothers quebrar, nenhum banco central vai cometer um erro semelhante, afirmou Langoni. O Banco Central Europeu tenderia a agir para evitar o colapso de bancos da zona do euro, e eventualmente os Tesouros dos países também atuariam para impedir um problema bancário de grandes proporções.

É por ter esse cenário em mente que Langoni aposta num default ordenado da Grécia. Para ele, os europeus vão primeiro ampliar o poder de fogo da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), para impedir o contágio para outros países, garantindo liquidez para títulos da Itália e da Espanha. Isso abre espaço para um default ordenado da Grécia, que terá de reduzir fortemente o seu endividamento, afirmou Langoni.

Esse quadro é compatível com um longo período de baixo crescimento nos países desenvolvidos, acredita ele, algo como cinco anos ou até mesmo uma década. "Mas não deverá haver uma recessão profunda", disse ele, o que explica a diferença de sua visão em relação ao do BC.

Apesar das críticas ao corte dos juros em agosto, Langoni não avalia que o regime de metas de inflação foi abandonado. Para ele, se o cenário externo não piorar de fato como o BC espera, ou se o aperto fiscal prometido pelo governo brasileiro não se concretizar, a autoridade monetária brasileira interromperá o ciclo de queda dos juros. Langoni aposta em mais dois cortes de 0,5 ponto percentual, o que levaria a Selic a 11% no fim do ano. "Não acho que o BC vai cortar os juros de modo irresponsável. Lula percebeu, e Dilma [Rousseff] logo perceberá, que a popularidade depende de inflação baixa", afirmou. "Os programas sociais não teriam a mesma força com taxas de inflação elevadas. Forças políticas e econômicas vão levar o BC a manter postura conservadora."

Sem apostar numa ruptura no cenário externo e acreditando na força do mercado de trabalho e no investimento, Langoni sente-se confortável para projetar um crescimento na casa de 3,5% a 4% em 2011 e 2012. Ele lembra que, no ano que vem, haverá um reajuste significativo do salário mínimo, de 14%, o que pode inclusive dificultar a queda da inflação.

No seminário do GES, Langoni defendeu o modelo de crescimento brasileiro, baseado em crescimento com distribuição de renda, algo que, segundo ele, não ocorre na China. Em 2012, o GES ocorrerá no Brasil, no Rio de Janeiro. A FGV foi convidada pelo Kiel Institute para ser a anfitriã e organizadora do seminário no país. O diretor-executivo da FGV Projetos, Cesar Cunha Campos, disse que o GES no Rio deverá ter um pouco mais de ênfase em mercados emergentes, com mais participantes da América Latina, China e Índia. O evento deverá ocorrer em outubro ou novembro do ano que vem.

América Latina e as novas veias abertas.


“América Latina e as novas veias abertas” é o título do artigo de César Felício, publicado no VALOR ECONÔMICO de hoje e que merece a nossa reflexão.


"Nenhum assassinato foi registrado ontem". Quando uma frase dessa é usada em uma manchete de jornal, a exemplo do que fez o mexicano "El Diário" na edição de 3 de agosto deste ano, pode se ter um termômetro da dimensão do problema de segurança em Ciudad Juarez, na fronteira do México com o Texas (Estados Unidos). A notícia de jornal comentava que o marcante 2 de agosto era o oitavo dia não consecutivo deste ano em que não aconteceram homicídios e que até o fechamento da edição já se contabilizava 28 horas sem um assassinato, o maior intervalo desde as 41 horas sem mortes violentas de 29 de outubro de 2009.

O exemplo mexicano é o que está em voga, mas a prática de cortar a cabeça de desafetos está longe de ser um produto típico daquele país. As estatísticas mostram que, para o Brasil ficar igual ao México, vai precisar reduzir da faixa de 25 para 21 o índice de homicídios dolosos por 100 mil habitantes. Neste começo de século, o mal da América Latina não é a corrupção, a fraqueza das instituições, a desigualdade social, deficiências na educação e crescimento urbano desordenado, mas a síntese disto tudo, traduzida em um caldo de cultura que fomenta o narcotráfico.

O retrato da impotência foi traçado no mês passado, em um Congresso de especialistas do México, Colômbia, Brasil, Argentina, Uruguai, Espanha e Estados Unidos em Vicente López, cidade da parte mais abastada da periferia de Buenos Aires. Do encontro ficou a certeza de que a frase de Marx no início do 18 Brumário é indesmentível: Um raio não cai de um céu azul. A violência na América Latina explodiu porque as condições para tal estavam dadas.

Há uma guerra contra os cartéis no México e esta é uma explicação apenas parcial para que em Ciudad Juarez a taxa de homicídios tenha aumentado de 17 para 170 mortes por 100 mil habitantes desde a posse do presidente Felipe Calderón, em 2006. Colabora para o desastre a população ter passado de 260 mil habitantes para 1,3 milhão de moradores nos últimos cinquenta anos, ao passo que o emprego industrial está virtualmente estagnado desde 1988. Mas a variável política é uma das razões da ofensiva.

O fim dos regimes autocráticos e o enfraquecimento da insurgência armada gerou uma espécie de anomia, como efeito paralelo da democratização. Neste novo modelo, em que há competição pelo poder de cima a baixo, o controle institucional na base desta pirâmide é pouco ou nenhum e as campanhas eleitorais por vezes tomam a forma de um leilão de compra e venda de votos. Os grupos criminosos percebem a debilidade do Estado e estabelecem suas pontes, quando não tentam assumir a própria gestão.

E o principal vértice da ofensiva se dá nos próprios aparelhos de controle. Não é uma casualidade o fato deste setembro ter sido marcado pela condenação por um tribunal norte-americano do ex-czar das drogas na Bolívia, o general René Sanabria, e pela prisão de um tenente coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro acusado de mandar matar a juíza Patricia Acioli, que investigava homens de seu batalhão por envolvimento com milícias.

"A experiência da América Latina demonstra que só no momento em que o crime organizado entra no espaço político ocorre uma reação, e é em geral ineficaz, porque de enfoque apenas repressivo. Foi assim na Colômbia, quando líderes de cartéis chegaram ao Congresso, é o que acontece no México e já começa a ocorrer do mesmo modo no Brasil", disse o sociólogo Hugo Acero, que foi secretário de Segurança em Bogotá nos anos 90.

O modelo latino-americano de delinquência organizada vai assumindo os contornos de máfia, no sentido de não se focar em uma única atividade criminosa e de ter no controle territorial um de seus fundamentos. Talvez por isso floresça mesmo com as mudanças que aconteceram no narcotráfico, captadas no último relatório mundial sobre drogas produzido pela ONU e disponível na internet.

Lá se explica que o faturamento do mercado global de cocaína caiu de US$ 170 bilhões para US$ 85 bilhões entre 1995 e 2009. A razão fundamental para a queda foi a diminuição do consumo nos Estados Unidos, que aspira 37% do pó do planeta. Aumentou a repressão às vendas em solo americano e no principal fornecedor, a Colômbia, onde a área de cultivo caiu de 163 mil hectares em 2000 para 62 mil hectares no ano passado.

A queda nos Estados Unidos fez com que o negócio de drogas, muito menor, passasse a disputar com mais afinco mercados até então menos atrativos, como o Cone Sul da América Latina e a Europa. As novas rotas de tráfico estimularam o crescimento do cultivo no Peru e na Bolívia, ainda que esta expansão não tenha sido suficiente para compensar a diminuição da produção colombiana. Para se adaptar à nova realidade, surgiram estratégias de competição em um mercado como o brasileiro, de menor poder aquisitivo que o americano, com a diminuição do teor da pureza ou subprodutos como o crack e oxi.

Se nestes últimos 15 anos os índices de homicídio dobraram em países como o México, triplicaram em nações como Honduras e chegaram ao zênite nas metrópoles brasileiras, é porque o narcotráfico não é a única moeda de troca que move a engrenagem de assassínios. O sistema se enraíza no roubo de cargas, no tráfico de pessoas, no contrabando e se nutre pela corrupção. Não é à toa, que, dos 26 países das Américas e Caribe avaliados pela Transparência Internacional em seu relatório do ano passado, os cinco países com menor índice de percepção de corrupção são também os que tem menor taxa de homicídios: Estados Unidos, Canadá, Uruguai, Chile e Barbados

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

STEVE JOBS: 1955 - 2011



Steven P. Jobs, the visionary co-founder and former chief executive of Apple, has died at 56.
Apple said in a press release that it was “deeply saddened” to announced that Mr. Jobs had passed away on Wednesday.
“Steve’s brilliance, passion and energy were the source of countless innovations that enrich and improve all of our lives,” the company said. “The world is immeasurably better because of Steve.
Mr. Jobs stepped down from the chief executive role in late August, saying he could no longer fulfill his duties, and became chairman. He underwent surgery for pancreatic cancer in 2004, and received a liver transplant in 2009.
Rarely has a major company and industry been so dominated by a single individual, and so successful. His influence went far beyond the iconic personal computers that were Apple’s principal product for its first 20 years. In the last decade, Apple has redefined the music business through the iPod, the cellphone business through the iPhone and the entertainment and media world through the iPad. Again and again, Mr. Jobs gambled that he knew what the customer would want, and again and again he was right.
The early years of Apple long ago passed into legend: the two young hippie-ish founders, Mr. Jobs and Steve Wozniak; the introduction of the first Macintosh computer in 1984, which stretched the boundaries of what these devices could do; Mr. Jobs’s abrupt exit the next year in a power struggle. But it was his return to Apple in 1996 that started a winning streak that raised the company from the near dead to its current position. This summer, Apple briefly exceeded Exxon Mobil as the most valuable United States company.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dilma Rousseff, no comando do BC.


Outro editorial do “O Estado de S. Paulo” nesta data sobre “Dilma Rousseff, no comando do BC”.

A presidente Dilma Rousseff assumiu oficialmente o comando do Banco Central (BC) e a política de juros é agora decidida no Palácio do Planalto. O plano do governo para 2012 é baixar a taxa básica para 9%, porque "ainda há margem de manobra" para novos cortes, segundo informou ao Estado o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. A conversa, com participação de dois outros membros do primeiro escalão do Executivo, foi bastante clara para eliminar qualquer dúvida: há um plano traçado no Palácio do Planalto e a decisão final caberá à presidente

Ressalvas quanto ao ritmo dos cortes - determinado com "prudência", segundo o secretário - em nada alteram o dado principal. A autonomia de fato do BC, adotada nos anos 90 e mantida nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é uma experiência encerrada, embora ninguém, na administração federal, o admita de forma explícita. Não há outra forma de entender as declarações do secretário-geral nem os pronunciamentos da presidente Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, desde a última semana de agosto.

Esses pronunciamentos foram logo seguidos pelo anúncio da redução dos juros, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A aparente dissidência - a decisão foi tomada por 5 votos contra 2 - até poderia ser interpretada como sinal de permanência da autonomia de fato. Em pouco tempo as palavras do ministro e da presidente confirmaram a interpretação oposta. Eles continuaram falando sobre os cortes de juros como se apontassem o caminho ao BC. E, na sexta-feira, a presidente foi absolutamente explícita - mais do que pretendia, provavelmente - ao defender a redução da taxa básica como resposta ao agravamento da crise internacional. "Desta vez", disse ela, "o Brasil não pode errar na avaliação do quadro externo." Não seria "admissível", acrescentou, deixar de levar em conta o risco de recessão e de deflação no resto do mundo. Não é o tom de quem apenas manifesta um desejo, mas de quem transformou o Banco Central em mais um instrumento da política econômica do governo.

Ontem, o ministro da Fazenda voltou a falar sobre as medidas possíveis diante de uma piora do cenário global e mencionou novos cortes de juros e redução do depósito compulsório dos bancos. Usou o pronome "nós", ignorando qualquer separação relevante entre o BC e o comando do Executivo.

Além de comandar a redução dos juros, a presidente da República decidiu também, segundo todas as evidências, afrouxar o regime de metas de inflação. Sem usar essas palavras, o BC admite o fato num relatório trimestral divulgado na semana passada. Pelas projeções publicadas, a inflação acumulada em 12 meses só voltará ao centro do alvo (4,5%) no terceiro trimestre de 2013 - mas essa hipótese, a mais otimista, só aparece num dos três cenários apresentados.

O afrouxamento do combate à inflação será adotado num período de eleições municipais, com salários em alta e sem garantia, além de meras promessas, de efetiva austeridade fiscal. Ao mesmo tempo, o Executivo embarca em políticas protecionistas muito mal disfarçadas, com o pretexto de tornar mais competitivos certos setores da indústria nacional. Medidas efetivas para promover esse aumento de competitividade permanecem na esfera das promessas e de planos muito mal esboçados.

Bons argumentos a favor de uma política monetária mais branda poderiam surgir em breve, com o provável agravamento da crise no mundo rico. O primeiro passo poderia ser a redução do depósito compulsório, para ampliação do crédito. Vendas de dólares, como em 2008, poderiam ser um complemento, em caso de escassez de financiamentos em moeda estrangeira. O BC tomou medidas como essas no início da grande crise, há três anos, e foi muito mais eficiente, na ação imediata, do que o Ministério da Fazenda - ao contrário da versão cultivada no Palácio do Planalto. Mas o governo preferiu agir às pressas, impondo ao BC uma ação arriscada, alimentando a expectativa de inflação e desmontando a credibilidade do regime de metas e da autoridade monetária. Esse retrocesso pode sair muito caro para o País.

A desvalorização do real e a nova política de câmbio.


Editorial do “O Estado de S. Paulo” de hoje sobre “a desvalorização do real e a nova política de câmbio”.  

Nas últimas semanas ocorreu uma modificação importante no fluxo cambial, que passou a depender muito mais do saldo comercial do que do saldo financeiro, uma vez que as entradas de recursos financeiros estão menores do que as saídas.
Com a crise que atravessam os países do Primeiro Mundo, as captações de recursos externos tornaram-se muito mais difíceis no 3.º trimestre do ano. Levando em consideração o montante das captações (emissões de bônus, empréstimos sindicalizados, pré-pagamentos das exportações e operações do Tesouro Nacional), verifica-se que, de US$ 16,3 bilhões, no 2.º trimestre, elas caíram para US$ 5,2 bilhões, no 3.º trimestre - o valor mais baixo registrado desde o 1.º trimestre de 2009.
Isso não pode ser atribuído à queda da liquidez nos Estados Unidos, pois o Fed (o banco central americano) ofereceu grande liquidez por meio da recompra dos papéis do Tesouro norte-americano.
Sem dúvida, os bancos europeus é que tiveram dificuldades para emprestar, por causa da situação apertada em que vivem, a exigir reforço de capital. O que esse forte recuo das captações parece indicar é uma aversão ao risco em relação ao Brasil, levando em conta que o endividamento do País se mostra muito elevado, na medida em que foi bastante rápido.
É importante considerar que, em termos internacionais, os empréstimos externos têm um prazo médio pequeno (menos de 7 anos) e que os investimentos estrangeiros, que continuam importantes, estão dando origem a grandes remessas de lucros e dividendos neste período em que as matrizes das empresas estrangeiras precisam de recursos vultosos.
As medidas tomadas pelo governo brasileiro afastaram as operações com títulos de renda fixa, que representavam um mecanismo regular de entrada de capitais externos.
A perspectiva de uma queda do preço das commodities - que permitiram que o Brasil aumentasse sensivelmente suas exportações - alimenta, agora, entre os bancos, certa prudência, que poderá levar o governo a rever algumas medidas adotadas na área cambial.
De fato, a desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar (além da própria valorização da moeda norte-americana) reflete mais a evolução do balanço de pagamentos do que os efeitos das medidas tomadas pelo governo.
No mercado internacional, a visão prospectiva da situação da economia brasileira é de uma taxa de crescimento menor e uma inflação mais elevada, o que alimenta a aversão ao risco.

Metas inflacionárias.


Antonio Delfim Netto, professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, escreveu hoje no VALOR sobre “Metas inflacionárias”.

Para tornar a política econômica mais eficaz e útil, é preciso ter presente que somos constrangidos pelos limites impostos por uma Constituição legitimamente construída em 1988 e que pretende: 1) ser republicana, onde todos, inclusive o poder incumbente, devem obedecê-la; 2) ser democrática, onde o poder é escolhido livremente (e dispensado!) pelo sufrágio universal; e 3) ter como seu objetivo último uma relativa e crescente "justiça social", que deve manifestar-se no aumento contínuo da igualdade de oportunidade para os cidadãos. Em outras palavras, é necessário entender a economia como imersa na sociedade e sujeita às suas prioridades.
A igualdade de oportunidade é objetivo fácil de ser enunciado, mas esconde enormes problemas conceituais e práticos. De qualquer forma, deve começar com a chance de todo cidadão ganhar a vida com o seu esforço. De todos os desperdícios de recursos naturais de uma sociedade, nenhum é mais injusto, mais prejudicial à integração social e à autoestima do cidadão, do que negar-lhe a oportunidade de viver honestamente e sustentar a família com o resultado de seu trabalho.
É por isso que a construção de uma sociedade mais "justa" começa pela maximização do nível de emprego disponível. Obviamente, não se trata do emprego de todos ao mesmo tempo. Nossa organização econômica tem íncita um dinamismo próprio, estimulado pela mudança das preferências dos consumidores e pelo desenvolvimento tecnológico, que exige permanente adaptação da estrutura produtiva: algumas atividades entram em declínio e cedem recursos (mão de obra inclusive) para outras, que atendem melhor à "nova e mutante" estrutura da demanda. O processo não é instantâneo, nem isento de custos e riscos.
Nunca há equilíbrio: simplesmente a passagem de uma situação, às vezes "pensada" como equilíbrio, para outra, que também não será de "equilíbrio", ainda que possamos "pensá-la" como tal. Esse "tempo de acomodação" gera um desemprego friccional que a sociedade "justa" tem que socorrer, com as políticas sociais do Estado.
É dessa concepção do mundo que nasceu a divergência entre duas "escolas" de pensamento econômico, diante da evidente existência e persistência do desemprego: 1) de um lado, os que acreditam que, no longo prazo, o desinibido funcionamento dos mercados produzirá, por si mesmo, sem a intervenção externa do Estado, um ajustamento, a despeito de não se saber bem o que é "longo prazo" e de reconhecer que o processo pode ter armadilhas e defasagens temporais com relação ao emprego; e 2) do outro, os que não acreditam que o sistema de mercado seja capaz de produzir, por si, a redução do desemprego, em geral gerado por deficiência da demanda agregada, para levar à plena utilização da capacidade produtiva.
A economia, se for alguma coisa, é uma ciência social. Tenta entender um universo mutante, onde todas as "constantes" são "variáveis" e, não importa qual a potência da metodologia usada para torturar o passado para que ele revele o futuro, este continua opaco. Como não é possível construir experimentos críticos capazes de discriminar entre as duas visões, é claro que ambas envolvem larga dose de ideologia. É fato conhecido que nas ciências sociais as preferências não reveladas de pesquisadores, que se supõem "neutros", influenciam os seus resultados.
A despeito dessa divergência (no tempo, cada lado já trocou da posição de ortodoxo para heterodoxo, de acordo com o "espírito do mundo"), o conhecimento de como funciona a organização econômica da sociedade e de como se comportam seus agentes - e de como reagem à ação do governo e dos efeitos não intencionais que ela acaba produzindo- tem crescido de maneira importante e revelado equívocos e exageros de ambas as partes.
A evolução da economia, desde a crise de 2007, e as tentativas de superar a crise financeira que atingiu o setor produtivo, consolidaram a ideia que o sistema de economia de mercado, deixado a si mesmo e, pior, contaminado por inovações financeiras que têm papel duvidoso para o desenvolvimento econômico, não tem nenhuma condição de se autocorrigir.
Por outro lado, as políticas econômicas sugeridas pelos que não acreditam na autocorreção do mercado mostraram sérias limitações. A conclusão é que, apesar das evidências mostrarem que na atual conjuntura esperar um autoajuste do mercado é absurdo, isso não autoriza liberdades com a política econômica.
As políticas fiscal, monetária e cambial do governo parecem estar na direção correta. São condicionadas a um cenário mundial em clara deterioração e tentam antecipar o que pode ocorrer com a taxa de crescimento econômico e logo em seguida, também, sobre o nível de emprego. Não há abandono da política de metas inflacionárias, quando se altera o peso dado ao desvio entre a inflação corrente e sua meta, relativamente ao desvio entre o PIB e o PIB potencial (seja lá o que isso for) para fixar a taxa de juros.
Ninguém subscreveria hoje esta barbaridade autoritária que, até 2007, era o limite intransponível da "ciência" monetária: "A sociedade pode, às vezes, melhorar seu bem-estar nomeando um banqueiro central que não compartilha (sic) seus objetivos sociais e que, em seu lugar, aumente o "peso" da estabilização monetária relativamente à estabilidade do emprego" (Rogoff, K.S., 1985).

Soros e as vacilações da eurolândia.


Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO o texto “Soros e as vacilações da eurolândia”. 

Em artigo publicado no "Financial Times" de sexta-feira, 29 de setembro, George Soros recomenda que autoridades da eurolândia se entendam a respeito da criação do Tesouro Comum. Enquanto esse acordo não for celebrado, diz o financista, três providências devem ser tomadas: 1) os bancos seriam colocados sob a direção do Banco Central Europeu (BCE) em troca de garantias temporárias e permanente capitalização; 2) o BCE obrigaria os bancos a manter as linhas de crédito e os empréstimos existentes; 3) o BCE permitiria o refinanciamento temporário a baixo custo de países como Espanha e Itália. Soros conclui: "Essas medidas acalmariam os mercados e dariam tempo para a Europa desenvolver um estratégia de crescimento, sem a qual o problema da dívida não pode ser resolvido".
George Soros pensa o impensável, diz o que está interditado no debate sobre as causas e as curas da doença europeia. Ousa revelar o que deveria ser óbvio para qualquer cidadão medianamente informado: a crise da dívida soberana europeia é, sobretudo, uma crise grave do sistema bancário europeu, com reverberação nos bancos americanos.
No auge da crise de 2008, os bancos centrais da cúspide capitalista cumpriram seu dever e impediram que o crash financeiro degenerasse numa Grande Depressão. Tão logo o pânico deflagrado pela quebra do Lehman Brothers cedeu, saíram das sombras os estoques de dívida soberana acumulados na Europa durante o período de subavaliação dos riscos. Vitimas e protagonistas da farra financeira, os governos da eurolândia fecharam os olhos para a orgia de endividamento privado (depois público) promovida pelos (saltim)bancos da desregulamentação financeira. Estimulada e celebrada por muitos, a desregulamentação abriu caminho para a "invasão" do risco sistêmico nas engrenagens da finança capitalista.
Vou citar o insuspeito e temerário Alan Greenspan: "O risco sistêmico é quase exclusivamente um fenômeno das instituições financeiras. A inadimplência de grandes instituições pode desmantelar o sistema financeiro e com ele o resto da economia, devido às múltiplas e intrincadas relações entre a finança e a atividade econômica... Os riscos gerados por empresas não financeiras - independentemente de seu tamanho - ficam restritos aos seus credores, fornecedores e clientes. Raramente têm impacto mais amplo."
O sistema de crédito moderno tem a função de ampliar e antecipar no tempo a capacidade de investimento e de consumo das empresas, das famílias e dos governos. Ele opera como uma central privada de administração monetária e de alocação da riqueza líquida coletiva. Nessa função, os bancos (e, hoje, os demais intermediários financeiros que se abastecem nos mercados monetários) são provedores da rede informacional do mercado: definem as normas de acesso à liquidez, ao crédito e administram o sistema de pagamentos.
Gestores privados da forma geral da riqueza, os bancos, em princípio, deveriam regular o estado da liquidez e do crédito de acordo com a evolução dos balanços inter-relacionados de empresas, famílias, dos governos e das próprias instituições financeiras. Mas, a crise recente demonstrou que essa pretensão é irrealizável em um ambiente em que prevalecem a concorrência e a busca desaçaimada por resultados entre as instituições financeiras privadas. No período que antecedeu à crise - na esteira da integração global dos mercados financeiros - a "centralização privada" da moeda e do crédito nas instituições "grandes demais para falir" alastrou o processo competitivo de geração e distribuição de ativos com precificação enigmática em moedas distintas.
Quando a roda da fortuna girou em falso, com colapso de preços e ampla flutuação das moedas, foi inevitável o recurso à "centralização estatal", única forma de contornar a destruição do crédito e da moeda, ou seja, da rede informacional da economia monetária da produção. A ruptura nas articulações do sistema de provimento de liquidez, de gestão da riqueza e de pagamentos acarretou a quase paralisia do metabolismo econômico.
Os bancos centrais, portanto, estão condenados a cumprir a missão de reverter a deterioração generalizada dos balanços. Esses desequilíbrios financeiros e patrimoniais revelam-se ainda mais severos e difíceis de "digerir" na posteridade de um ciclo de crédito apoiado na valorização fictícia de ativos.
A emergência da crise da dívida soberana a partir do colapso do endividamento privado exige uma intervenção não convencional das autoridades monetárias. Só elas são capazes de ampliar os seus balanços para absorver o choque entre credores e devedores. Deixados à sua própria sorte, os bancos privados não podem explicitar a desvalorização que contamina seus ativos e os devedores não suportam a insistência dos "mercados" em manter o valor nominal das dívidas.
As recomendações de Soros serão certamente desqualificadas como radicais pelos tíbios e vacilantes. Mas, elas vão à raiz dos problemas que afligem a economia europeia. Na Europa, a encrenca é sistêmica: o crédito está travado porque os bancos desconfiam de tudo e de todos, inclusive deles mesmos. A rede de pagamentos e de provimento de liquidez formada pelo sistema bancário europeu está à beira da hecatombe. Esse colapso da confiança não pode ser superado sem a centralização das decisões na autoridade monetária encarregada de zelar pela higidez das relações interbancárias e, portanto, pela "normalidade" das operações de crédito. Na ausência de um programa de refinanciamento e de transferências confiável, a "saída" mais provável é o default desorganizado da Grécia, a derrocada do valor dos títulos soberanos e a insolvência de grandes instituições financeiras europeias - não só as gregas, portuguesas e espanholas - mas também francesas e alemãs.

EUA desistem do livre comércio.


Jagdish Bhagwati, professor de economia e direito na Universidade de Columbia e membro sênior de Economia Internacional no Council on Foreign Relations, escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO, sobre “EUA desistem do livre comércio”.

A indiferença e a apatia que vemos em Washington - tanto do Congresso como do presidente Barack Obama -, em relação à Rodada Doha de negociações comerciais mundiais e o alarme e a preocupação de estadistas de outros países diante da paralisia nas negociações, assinala o fim da era pós-1945 de liderança americana no livre comércio multilateral.
Sinais de nervosismo fora dos EUA estão claros a todos há quase um ano. A chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro-ministro britânico David Cameron ficaram tão preocupados que se aliaram aos presidentes da Turquia, Abdullah Gül, e da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, para, em novembro de 2010, nomear Peter Sutherland e eu como copresidentes de um Grupo de Alto Nível de Especialistas em Comércio. Nós realizamos um painel em Davos com esses líderes em janeiro de 2011, onde, por ocasião do nosso Relatório Preliminar, demos pleno apoio à conclusão da Rodada Doha. Mas não houve resposta dos EUA.
Em setembro, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, e o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo lembraram os líderes do G-20 que em novembro de 2009, em sua primeira reunião em Londres, eles tinham manifestado "o compromisso de concluir a rodada em 2010. E, há duas semanas, a ONU reuniu-se novamente para abordar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
O que precisamos hoje é que os maiores estadistas do mundo abandonem sua cautela e timidez e unam-se para empurrar o presidente Barack Obama na direção de uma conclusão bem sucedida para a Rodada Doha. Ainda não é tarde demais.
O Objetivo 8 diz respeito a instrumentos como comércio e ajuda, e o ODM 8A compromete os países membros da ONU a aprofundar o desenvolvimento de um sistema financeiro aberto, baseado em regras, previsível e não discriminatório
Mas, embora praticamente todos os países hoje tenham adotado os Acordos de Livre Comércio preferenciais, o recente líder nessa proliferação são os EUA. Lá, o Congresso e o presidente têm, aparentemente, bastante tempo para discutir ALCs bilaterais com a Coreia do Sul, a Colômbia e o Panamá, bem como a Parceria TransPacífica Regional (PTR), mas nenhum para negociar a não discriminatória Rodada de Doha, que está definhando, em seu décimo ano de negociações.
De fato, é notável que embora o discurso de Obama sobre o Estado da União, em janeiro de 2010, mencione Doha, seu discurso de janeiro de 2011 não se referiu a Doha. O lamentável recuo de Obama é resultado de muitos fatores e falácias. Essas foram destacadas em uma "Carta Aberta a Obama", que organizei e divulguei, com as assinaturas dos 50 mais influentes especialistas atuais em comércio em todo o mundo, pedindo uma mudança na política em relação a Doha.
O presidente dos EUA é cativo dos sindicatos de trabalhadores do país, que compram a falsa narrativa de que o comércio com os países pobres aumenta as fileiras de pobres nos EUA. Na verdade, porém, há uma abundância de evidências em suporte à narrativa oposta, de que a rápida e profunda mudança tecnológica poupadora de mão de obra é o que está exercendo pressão sobre os salários, e que as importações de bens intensivos em mão de obra barata que os trabalhadores americanos consomem estão, na verdade, compensando aquela tensão.
Os lobistas em Washington acreditam em especialistas em comércio, como Fred Bergsten, para quem o ganho proporcionado por Doha, em sua forma atual, é de meros US$ 7 bilhões por ano. Isso ignora as perdas bem maiores que uma Rodada de Doha inconclusa implicaria, por exemplo, minando a credibilidade da Organização Mundial do Comércio como principal fiador de um comércio baseado em regras e deixando a liberalização do comércio inteiramente no âmbito de liberalização discriminatória de acordos bilaterais preferenciais. Mais uma vez, alguém precisa dizer a Obama que importações também criam empregos e que sua ênfase apenas na promoção de exportações dos EUA são má teoria econômica.
 Acima de tudo, Obama é mal assessorado em comércio por seus colegas de alto nível. A secretária de Estado, Hillary Clinton, por exemplo, opôs-se à liberalização do comércio quando concorreu contra Obama à presidência e defendeu uma "pausa" nas negociações de livre comércio. Ela também interpretou erroneamente o grande economista Paul Samuelson, rotulando-o de protecionista, quando ele não disse nada do tipo. Ela nunca se retratou.
Da mesma forma, agora que Warren Buffett é considerado como o conselheiro econômico mais confiável de Obama, vale a pena recordar que em 2003 ele produziu a surpreendente prescrição segundo a qual a melhor maneira de reduzir o déficit comercial dos EUA era não permitir importações em montante superior ao que poderia financiar com sua receita de exportações. Um Samuelson, entre irônico e alarmado, chamou minha atenção para essa ideia maluca. Embora a prescrição de Buffett - impostos mais elevados para os americanos ricos - seja inteiramente desejável, será que Obama perceberá que um gênio numa área pode ser um idiota em outra?
O que precisamos hoje é que os maiores estadistas do mundo abandonem sua cautela e timidez e unam-se para empurrar Obama na direção de uma conclusão bem sucedida para a Rodada Doha. Somente isso se constituiria em contrapeso às forças que o levam à direção errada. Ainda não é tarde demais. 

Amazônia, energia elétrica e sustentabilidade.


Hoje, no VALOR ECONÔMICO, Joaquim Francisco de Carvalho e Ildo Luís Sauer escrevem sobre “Amazônia, energia elétrica e sustentabilidade”.

Imagens colhidas de satélites meteorológicos mostram que o clima da Amazônia exerce forte influência sobre os regimes hidrológicos e pluviométricos de toda a América do Sul, e garante a estabilidade climática, fluvial e pluviométrica - portanto, a sustentabilidade da agricultura - de todo o Brasil.
Assim, a Amazônia vale pela importância de seus próprios ecossistemas. Enquanto não se acumularem e testarem suficientes conhecimentos científicos e técnicos sobre os intrincados ecossistemas regionais, a Amazônia deve ser mantida em sua integridade, evitando-se, principalmente, a pecuária extensiva, a ampliação de monoculturas de exportação (soja, milho etc.), a exploração madeireira e a implantação de novos projetos de mineração.
Apesar da polêmica desencadeada pelas organizações ambientalistas, a alternativa mais interessante para se desenvolver a Amazônia, mantendo a sua integridade, seria a de aproveitar o potencial dos recursos naturais renováveis da região, com projetos de turismo ecológico, extrativismo e geração de energia elétrica. Além de serem excelentes geradores de empregos e uniformizarem a distribuição de renda na região, o turismo ecológico e o extrativismo dependem da integridade do ecossistema.
Quanto è geração de energia elétrica, a Amazônia tem um dos maiores potenciais do mundo e, mediante políticas inteligentes e rigorosamente aplicadas, as empresas públicas e o empresariado do setor de geração elétrica deverão se transformar nas maiores defensoras do ecossistema amazônico. Alterações causadas por desmatamentos para abrir terrenos para plantações de soja e milho, criação de gado, projetos de exploração mineral e outros comprometerão o potencial hidrelétrico, inviabilizando as próprias usinas.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o potencial hidrelétrico brasileiro é de 268 GW, dos quais apenas 30% estão em aproveitamento. A região amazônica detém 65% do potencial não aproveitado.
Admitamos que, por motivos de caráter social e ambiental, os planos de expansão do sistema elétrico sejam reformulados, para se limitar em 80% o potencial hidrelétrico a aproveitar na Amazônia - e que as hidrelétricas a serem implantadas naquela região alaguem 0,2 km2 /MW. O que é uma hipótese conservadora, pois a maioria dos aproveitamentos existentes em outras regiões e em construção, na própria Amazônia, apresenta uma relação bem menor entre área inundada e potência instalada. Neste caso o aproveitamento do potencial hidrelétrico amazônico ocuparia cerca de 0,4% da área da região, ou seja, menos do que os grandes projetos agrícolas ou de pecuária.
Mesmo assim o Brasil poderá adicionar uma capacidade hidrelétrica de 148,7 GW aos 79,3 GW já instalados. Somando-se a isto os 17 GW das pequenas hidrelétricas, teremos uma capacidade hidrelétrica total de 245 GW.
No entanto, as ONGs ambientalistas optam por uma posição fundamentalista, baseada no dogma de que a Amazônia é intocável. É certo que os ecossistemas amazônicos são delicados, mas isso não significa que ficarão estacionados em sua condição primordial, se é que se possa falar em condição primordial de sistemas que se vêm alterando desde a origem, como todos os ecossistemas terrestres.
Com ou sem hidrelétricas, os povos indígenas (que fazem parte do ecossistema amazônico) vão continuar com as derrubadas e queimadas de matas, tradicionais em sua agricultura. E ainda há as mineradoras, o agronegócio e os pecuaristas, sobre os quais as ONGs ambientalistas ficam silenciosas, preferindo vociferar contra o aproveitamento do potencial hidrelétrico, que poderá dar ao Brasil um sistema elétrico limpo e sustentável.
A interligação do sistema hidrelétrico com o sistema eólico permitiria que parte da energia gerada pelas centrais eólicas ficasse "armazenada", na forma de água acumulada nos reservatórios hidrelétricos - de maneira semelhante às malhas termo-eólicas de alguns países europeus, nas quais a energia dos parques eólicos permite que se economize gás natural ou óleo combustível. Segundo o Centro de Pesquisas em Energia Elétrica da Eletrobras, o potencial eólico brasileiro (com turbinas em torres de 50 metros) é de 143 GW. Note-se que, com torres mais altas, o potencial é maior.
O sistema hidroeólico poderia operar em sinergia com usinas termelétricas a biomassa, pois a frota automotiva brasileira é em grande parte alimentada com etanol, forçando a produção do bagaço de cana em escala suficiente para alimentar termelétricas de pequeno e médio porte, totalizando, em conjunto, uma capacidade da ordem de 15 GW, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Assim, aproveitando apenas fontes primárias limpas e renováveis, o sistema interligado hidroeólicobiotérmico teria uma capacidade conjunta de 403 GW, podendo gerar 1.589 GW por hora firmes por ano, admitindo-se, conservadoramente, que o fator de capacidade do sistema integrado será igual à média ponderada dos fatores de capacidade de cada sistema isoladamente, que é 0,45.
Por outro lado, de acordo com o IBGE, a população brasileira deverá se estabilizar em 215 milhões de habitantes, por volta do ano 2040, de modo que o sistema integrado hidroeólicobiotérmico teria um potencial suficiente para oferecer à população 7.390 kWh por habitante por ano, equiparando o Brasil a países de alto nível de qualidade de vida, tais como a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha.
A reserva de segurança do sistema hidroeólicobiotérmico seria constituída pelas termelétricas a gás já existentes nas diversas regiões do país. Portanto, ao contrário de alguns países europeus e do Japão que, em médio prazo, não têm melhor alternativa, o Brasil não precisa correr o risco de gerar em centrais nucleares a energia elétrica de que precisa ou precisará.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...