domingo, 2 de junho de 2013

Um plano Dilma.

Editorial de hoje da FOLHA DE S. PAULO mostra como a presidente Dilma pode preparar a economia para retomar o crescimento.

A decepção com o crescimento da economia brasileira no início deste ano evidenciou o impasse da política econômica do governo Dilma Rousseff. Ao final de três anos de mandato, o PIB não terá crescido mais que 2% ao ano, metade do que o Planalto por tanto tempo apontou ser o mínimo aceitável.

O Brasil poderia ter crescido os mesmos 2% destes anos sob Dilma, e ainda assim seu governo teria triunfado caso desvencilhasse o país dos excessos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A economia estaria agora mais preparada para retomar o crescimento.

Até aqui os problemas se acumularam, contudo. Havia assuntos urgentes: custos de produção em alta, famílias endividadas, consumo demasiado aquecido. Na ânsia de estimular o crescimento, o governo criou novos estorvos. Passou a gastar mais, a incentivar o crédito, a alimentar mais inflação.

Frustradas as investidas, o governo recorreu a iniciativas fortuitas e atrabiliárias. Tentou controlar preços e lucros por meio de pressões políticas. Reduziu impostos de modo desorganizado. Distorceu estatísticas fiscais e acuou o Banco Central. Custos altos e insegurança deprimiram investimentos.

Perdeu-se tempo e mais tempo vai se perder com o rescaldo dessa agitação sem sentido aparente.

Como primeira tarefa, o governo deve renunciar à insensatez de tentar estimular a economia com gastos públicos enquanto o BC se dedica à missão contrária de desincentivar crédito e consumo, necessária para debelar a inflação.

O controle da alta de custos será mais rápido e menos custoso se o governo poupar mais. O compromisso não pode ser provisório nem improvisado: é preciso declarar que se cumprirá a meta fiscal na íntegra e sem truques até 2015.

Tal compromisso será ainda mais crível se o governo baixar o centro da meta de inflação para 2014 ou 2015, ainda que apenas de 4,5% ao ano para 4,25%. As expectativas estão deterioradas demais.

Tão cedo o setor público não deve recuperar sua capacidade operacional e financeira de investir. O governo deve, portanto, concentrar energias em conceder à iniciativa privada, mais rapidamente, as obras de infraestrutura. Mais que recuperar o exasperante atraso nas concessões de aeroportos e estradas já prometidas, é preciso esquadrinhar o país em busca de oportunidades para privatização.

O ânimo econômico pode ser revivido, além disso, se o Planalto se dedicar a remover empecilhos burocráticos à atividade. São reformas que não custam nada -- além de trabalho e discernimento. É uma oportunidade para a presidente restaurar a fama de gerente.

Mais que gerente, porém, a presidente Dilma precisa liderar um grande esforço político de mudança, para remover outro empecilho quase feudal à operação eficiente da economia. Trata-se da cobrança de impostos interestaduais, vale dizer, da reforma do ICMS, que naufraga a olhos vistos no Congresso.

É certo que Dilma Rousseff terá de negociar com governadores de escasso espírito público, mas presidentes da República devem conduzir pessoalmente as transformações importantes, em vez de atulhar sua agenda cotidiana com a engenharia de usinas hidrelétricas ou décimos de percentual da taxa de retorno em editais de licitação de projetos de infraestrutura.

A Petrobras é a maior investidora do país, responsável por liderar o único grande novo projeto econômico nacional em quase 30 anos, o do pré-sal. Mas a empresa continua encalacrada por controles de preços, investimentos politizados e um programa de reserva de mercado para insumos nacionais que atrasa e encarece sua operação. É fundamental dar-lhe mais desenvoltura e agilidade.

Este roteiro pode ser complementado pela revisão da política comercial do país. O Brasil vai sendo aos poucos escanteado nos acordos internacionais. Corre o risco de ficar à margem das redes transnacionais de produção. Os países mais avançados ou dinâmicos contornam a falência da Organização Mundial do Comércio (OMC), enquanto o Brasil se enreda nas negociações infrutíferas do Mercosul e dos Brics.

Trata-se, enfim, de estipular e fazer cumprir um rol de metas mínimo, não tanto um plano ambicioso de reformas. Um programa factível de remoção de obstáculos mais imediatos, de restauração da racionalidade econômica elementar, da recuperação da confiança nas possibilidades da economia.


Uma verdadeira faxina, preliminar e possível, que entregaria uma casa mais arrumada para o próximo governo, com Dilma Rousseff ou outro presidente.

sábado, 1 de junho de 2013

Brasil rico é um Brasil sem inflação.

Nesta parte de um artigo do Gustavo Franco, o poder da palavra certa escrita de maneira inteligente. Desconheço a data em que ele escreveu este artigo, mas continua tão atual, como somente assim são os autores que ficam na história.     

Na economia, o charlatanismo é mais flagrante por que há interesses envolvidos. Seria, de fato, extraordinário que a inflação brasileira fosse “puramente inercial”, há muita gente que acredita nisso, tal como os que acreditam que foram abduzidos por discos voadores. Uma pesquisa de 1992 indica que cerca de 2% da população americana genuinamente acredita ter sido abduzida por alienígenas, ou seja, cerca de 3,7 milhões de terráqueos, só nos EUA.

É tão absurdo como pensar que uma das maiores inflações que a humanidade conheceu, e que acumulou 20,7 trilhões por cento em 15 anos, teria acontecido por nenhuma razão, por que a inflação de hoje é a de ontem, e se “apagarmos” o “ontem”, ela desaparece, como por mágica.

O fato é que a crença na “inflação inercial” atua como uma poderosa influência no sentido de barrar os esforços para moralizar as contas públicas brasileiras, onde, com efeito, as maiores atrocidades acontecem. Há um enorme público para essa ladainha da “inércia”, ou para o efeito sem causa, pois ela serve para preservar a irresponsabilidade fiscal, mãe da corrupção e outras criaturas aparentadas, e os interesses a elas relacionados.


Keynes é nosso.

Localizei em meus arquivos este artigo do Gustavo Franco, o qual compartilho com os meus quase, ainda, espero, dois fiéis leitores. 

Há muita gente celebrando o fim do capitalismo, ou do neoliberalismo, os termos são usados como sinônimos.

Mas é verdade também que todos os celebrantes estão com muito medo, por causa de ao menos uma de três razões: não têm idéia do que está se passando, não sabem o que vem "depois" e, como as pessoas comuns, têm dúvidas sobre suas poupanças, sua aposentadoria, essas coisas materiais que afetam até mesmo os grandes poetas.

Embora a atmosfera esteja carregada demais para vaticínios, parece razoável supor que o capitalismo não vá acabar. E mais: como disse recentemente Paul Samuelson, a economia de mercado tem cerca de mil anos de serviços prestados, ao passo que os experimentos sob os auspícios de Marx, Lênin, Stálin, Fidel, Chávez são nada menos do que trágicos. Tal como a democracia, o capitalismo tem muitos defeitos, mas bate a concorrência por ampla margem.

Vale lembrar que as crises financeiras existem desde sempre, e que invariavelmente são combatidas por intervenções salvadoras dos governos, que terminam fazendo o sistema mais robusto. John Maynard Keynes, tão lembrado recentemente, foi um dos heróis na vitória sobre uma grande crise e estava muito longe de ser hostil ao que hoje se chama de neoliberalismo.

Muito ao contrário, desprezava os heterodoxos e dizia que a luta de classes sempre o encontraria ao lado da burguesia educada.

Na verdade, para os que acreditam em mercados e no capitalismo, o pragmatismo se chama Keynes. É dele que as pessoas falam quando é preciso inovar e produzir uma "resposta criadora" diante de uma urgência grave e inesperada. Podiam invocar também Schumpeter, a quem pertence esta linguagem, mas dá no mesmo. Ambos eram homens do sistema, e não "rebeldes".

O fato é que, na presença de crises bancárias, sempre há intervenção governamental, e não é preciso ir longe para atestar: aqui mesmo, durante uma época que se dizia haver um "interlúdio neoliberal", entre 1995 e 1998, o Banco Central do Brasil fez cerca de 80 intervenções em bancos, metade no contexto de regimes especiais, o resto no contexto de mudanças de controle acionário com variado grau de incentivo ou empurrão.

Graças a estas intervenções não tivemos crise bancária na ocasião, e chegamos a este momento com o sistema em excelentes condições.


Fica-se com a impressão de que "intervenções do Estado no domínio econômico" têm mais chances de funcionar quando feitas por gente que acredita em mercados e que vê a intervenção como exceção, não como regra.

Debelar a inflação é a escolha correta.


Editorial do carioca O GLOBO em 31.05.2013.

É feliz a coincidência da divulgação do PIB trimestral com uma reunião do Copom de definição da taxa de juros básica (Selic). Isso pelo fato de a economia se encontrar em delicado momento, com riscos, como registrou o jornal inglês "Financial Times", de ficar prisioneira no pior dos mundos, numa "estagflação", mistura de baixo crescimento com inflação em alta. A coincidência permitiu ao Banco Central - a julgar pela decisão unânime de seus diretores, reunidos no Conselho de Política Monetária - sinalizar que isso não acontecerá, se depender dele. A elevação da Selic em 0,5 ponto percentual, para 8%, foi a melhor alternativa que poderiam escolher, independentemente de um PIB trimestral fraco, divulgado pelo IBGE na mesma quarta-feira.

A importância da decisão do Copom é grande, pois pode ajudar a melhorar as expectativas de formadores de preços e investidores, embaralhadas nos últimos tempos por erros do próprio governo, cometidos, entre outros, em atos cujo resultado foi elevar a insegurança regulatória diante do futuro. Um exemplo, a intervenção no setor elétrico. Outro ruído nas expectativas, e em elevados decibéis, foi causado pela perigosa sinalização (ou má interpretação) de que o governo Dilma é leniente com a inflação, em nome da ilusória suposição "desenvolvimentista" de que preços em alta poderiam ajudar no crescimento. Quando é o contrário.

Certo ou errado, Dilma concluirá o mandato, ano que vem, sem ter mantido a inflação na meta dos 4,5%, até mesmo incluído no currículo o estouro do limite superior do alvo, 6,5%, em alguns meses. Especulou-se, inclusive, que haveria uma nova meta, informal, acima dos 5%, próxima dos 6%. Se confirmado, seria algo inflamável num país ainda com vários mecanismos de indexação e persistente memória da era da superinflação. Ao primeiro sinal de que o passado pode voltar, a sociedade aciona sistemas de defesa que levam à mais inflação, no mínimo ao seu enrijecimento. Elevar os juros no dia em que se sabe que a economia, no primeiro trimestre, continuou a gerar um "pibinho" é forte e bem-vinda mensagem do BC. Afinal, por trás do insuficiente 0,6% de expansão de janeiro a março, em relação ao último trimestre de 2012, identificam-se efeitos da própria inflação elevada, na faixa dos 6,5%.

O comportamento do setor de serviços, uma desaceleração de 0,7% para 0,5%, é sugestivo, pois a inflação do segmento roda na faixa dos 8%, bem acima da média de 6,5%. Não é por acaso. A evolução do consumo das famílias praticamente estagnou (alta de apenas 0,1%), e a relação do resultado com a alta de preços também é óbvia, além de ser uma reafirmação do esgotamento do modelo de crescimento.

Boa notícia é a ampliação, acima do consumo, dos investimentos (4,6%), única alternativa viável de retomada da expansão em bases equilibradas. Mas, para isso, o BC precisará ser coerente com a decisão que tomou quarta-feira.

PIB, um fracasso anunciado.

Pessimista editorial do ESTADÃO em 31.05.2013.

Mais que um tropeço, o fraco desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre, com expansão de 0,6% em relação aos três meses anteriores, é um péssimo prenúncio. Se o ritmo for mantido, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentará apenas 2,4% neste ano, menos que nos primeiros 12 meses do governo da presidente Dilma Rousseff.

A cúpula federal havia decidido, segundo informou o Estado na terça-feira, batalhar por um crescimento de pelo menos 2,7%,"igual ao de 2011 - algo parecido com uma questão de honra. Pelos números divulgados na quarta-feira, a luta por esse objetivo será mais dura do que devem ter imaginado, poucos dias atrás, os formuladores da política econômica. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, referiu-se ao ritmo atual de atividade como equivalente a 2,2% ao ano, ao comentar os novos números das contas nacionais.

Pelo menos o investimento cresceu vigorosamente e isso aponta maior capacidade de produção nos próximos tempos, podem argumentar as autoridades. O volume de recursos destinado à compra de máquinas e equipamentos, à construção civil e a obras de infraestrutura foi 4,6% maior que o do trimestre final de 2012. Isso é consequência, segundo o ministro da Fazenda, dos estímulos proporcionados pela política oficial Mas o aumento indicado pelos novos números nem sequer compensou a forte retração do ano anterior.

O total investido ficou 3% acima do contabilizado um ano antes, mas a comparação entre períodos de 12 meses ainda acusa uma redução de 2,8%. Além disso, o País investiu no primeiro trimestre apenas 18,4% do PIB. Nos primeiros três meses do ano passado essa taxa havia ficado em 18,7%. Qualquer das duas taxas é muito inferior àquela fixada pelo governo como objetivo para os próximos anos, algo em torno de 24%.

Vários países emergentes, incluídos alguns latino-americanos, investem a cada ano pelo menos o equivalente a 25% do PIB. Na Ásia são encontradas taxas acima de 30%. Além disso, o Brasil tornou-se mais dependente do capital externo para investir, porque a poupança interna caiu de 15,7% do PIB no primeiro trimestre de 2012 para 14,1% um ano depois. Todos conhecem a explicação: o governo continua gastando em custeio mais do que deve e dificultando a formação da poupança nacional.

O ministro procurou também enfeitar os números muito ruins do amplo setor industrial. A queda de 0,3% em relação ao trimestre final de 2012, afirmou, resultou basicamente do recuo de 2,1% da mineração. A indústria de transformação, acrescentou, produziu mais que nos três meses anteriores. As duas afirmações são verdadeiras, mas o trabalho de maquiagem foi inútil De fato, o produto da indústria de transformação cresceu, mas apenas 0,3%, e ainda foi 1,4% inferior ao de um ano antes.

Um dia antes a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) havia divulgado suas novas projeções para o ano: o crescimento do PIB foi revisto de 3% para 2,5%; o da indústria de transformação, de 2,4% para 1,9%; o da construção civil, de 3,3% para 1,9%; o dos serviços, de 3% para 2,7%; e o da agropecuária, de 3,4% para 3,7%.

A fraqueza da economia brasileira é visível de longe. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), formada por economias desenvolvidas e algumas emergentes com histórico de boas políticas, cortou para 2,9% em 2013 e 3,5% em 2014 o crescimento estimado para o Brasil. As projeções feitas no fim de 2012 eram de 4% e 4,1%.

Não há novos estímulos na agenda, disse o ministro Mantega. É uma boa notícia, diante do fracasso previsível das medidas já adotadas, um conjunto de incentivos improvisados. Beneficiaram alguns setores, pouco ajudaram o conjunto da produção e agravaram a situação das contas públicas. Sem mais estímulos desse tipo, o governo terá uma oportunidade para agir mais seriamente, controlando seus gastos, contribuindo para o combate à inflação e cuidando com mais eficiência dos problemas de competitividade. Mas é preciso ser muito otimista para apostar nessa mudança.

A inflação brasileira e suas jabuticabas .

Antônio Corrêa de Lacerda, no Estadão de 31.05.2013. 

A inflação resistindo próxima do teto de 6,5% da meta anual não é uma situação confortável para a Nação. É preciso persistir no combate à elevação geral dos preços como um valor em si. A carestia afeta a todos, mas especialmente os mais pobres.

Para um diagnóstico mais abrangente, primeiro é necessário destacar que a inflação brasileira, inegavelmente elevada e que deve ser repudiada, está muito próxima da inflação média dos países em desenvolvimento, que é de 5,8%.no acumulado dos últimos 12 meses. Há, mesmo entre os Brics, países com inflação próxima à brasileira, como é o caso da África do Sul, com 5,9%, e de outros em situação ainda mais grave, como a índia, com 12%. Argentina e Venezuela têm indicadores oficiais mais elevados e fortemente questionados quanto à sua fidelidade.

A questão é por que países em desenvolvimento têm tido inflação média equivalente quase ao triplo da dos países desenvolvidos. Trata-se de uma questão estrutural. Esses países vêm experimentando mudanças expressivas do padrão populacional, com urbanização, elevação da renda e alterações de costumes. Isso tem aumentado a demanda por alimentos e por serviços, dois itens comuns de pressão de preços em vários países. A demanda por esses itens tem crescido mais rapidamente do que sua oferta, abrindo espaço para elevação de preços.

Isso não pode ser entendido como um álibi para a inflação brasileira, mas um alerta. Ao mesmo tempo que temos de tomar medidas para combater a inflação, é preciso sair da armadilha de considerar a elevação das taxas de juros como remédio único para a enfermidade, seja qual for o diagnóstico de sua origem. No caso brasileiro, temos o impacto das questões já citadas e comuns à maioria dos países em desenvolvimento, assim, temos peculiaridades próprias que precisam ser enfrentadas. São como nossas jabuticabas, fruto originariamente brasileiro: pouco presente ou praticamente ausente em outras paragens.

A primeira é a ainda elevada indexação ou o reajuste automático e regular dos preços baseados em indicadores da inflação passada. É o caso de preços administrados, como medicamentos, tarifas públicas como pedágios, energia, telefonia, água e esgoto e aluguéis. Grande parte deles indexadas a indicadores como o índice Geral de Preços (IGP) e sua variante, o IGP-M, ambos calculados pela Fundação Getúlio Vargas - cuja composição tem pouco a ver com a estrutura de custos dos setores.

Além disso, também influenciado por esse fator e pela cultura inflacionária,vivemos uma espécie de indexação informal de preços de serviços, especialmente os pessoais, que, por sua natureza, são pouco concorrenciais.

Um outro aspecto peculiar nosso está na indexação do mercado financeiro. Grande parte da dívida do governo é pós-fixada pela Selic, a taxa definida pelo Comitê de Política Monetária, redefinida a cada 45 dias, com grande repercussão midiática. Gomo grande parte dos títulos das dívidas oferece liquidez imediata e correção automática pela taxa de juros, há uma certa torcida pela subida da inflação.

Obviamente trata-se de um processo que, longe de ser neutro, provoca transferências bilionárias de renda. Daí a resistência e mitificação que envolve tudo o que se refere ao tema. Muitas vezes, intensificar as expectativas de inflação futura representa um verdadeiro prêmio, na forma de elevação dos juros, favorecendo os portadores de títulos da dívida pública pós-fixada.


É preciso desarmar o consenso pró-inflação. O enfrentamento do problema implica ações conjugadas que vão além dos juros e da ampliação da capacidade de oferta da economia. O problema hoje não reside tanto no setor industrial, que ainda opera com um nível de ociosidade média da ordem de 15%. Mas no macrossetor serviços o quadro é diferente. É preciso ampliar a competitividade, incentivando a formação de novos prestadores, e gerar maior concorrência, diminuindo o poder de elevação dos preços.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Economia do Papa Francisco: "o dinheiro deve servir e não governar".


Senhores Embaixadores, 

Com alegria acolho-os por ocasião da apresentação das Cartas, que os credenciam como Embaixadores extraordinários e plenipotenciários de seus respectivos Países junto à Santa Sé: Kyrgystão, Antígua e Barbuda, Grão Ducado de Luxemburgo e Botswana.

As cordiais palavras que me dirigiram, as quais agradeço com vivo apreço, testemunham que os Chefes de Estado de seus Países desejam desenvolver as relações de estima e de colaboração com a Santa Sé. Ficaria agradecido se os senhores lhes transmitissem os meus sentimentos de gratidão e de respeito, acompanhados das minhas orações pelas suas pessoas e seus compatriotas.

Senhores Embaixadores, a humanidade vive neste momento como um retorno à própria história, considerando os progressos registrados nos vários âmbitos. Devemos louvar os resultados positivos, que concorrem para um autêntico bem-estar da humanidade, como por exemplo, no campo da saúde, da educação e da comunicação.

No entanto, devemos reconhecer também que a maior parte dos homens e das mulheres do nosso tempo continuam a viver numa precariedade quotidiana com consequências funestas. Aumentam algumas patologias, com suas consequências psicológicas; o medo e o desespero arrebatam os corações de numerosas pessoas, mesmo nos Países considerados ricos; a alegria de viver começa a diminuir; a indecência e a violência estão em aumento; a pobreza se torna mais evidente. Deve-se lutar para viver e, muitas vezes, viver com pouca dignidade.

Uma das causas desta situação, na minha opinião, consiste na relação que temos com o dinheiro, ao aceitar o seu domínio sobre nós e sobre nossas sociedades. Assim, a crise financeira, pela qual estamos atravessando, faz-nos esquecer da sua origem primordial, arraigada numa profunda crise antropológica: a negação da primazia do homem! Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (Cf. Ex 32,15-34) defronta-se com uma nova e impiedosa imagem do feiticismo do dinheiro e da ditadura da economia sem fisionomia e nem objetivo realmente humano.

A crise mundial, que envolve as finanças e a economia, parece colocar em luz as suas deformações e, sobretudo, a grave falta da sua perspectiva antropológica, que reduz o homem a uma única exigência: o consumismo. E, ainda pior, o ser humano, hoje, é considerado como um bem de consumo, que se pode usar e, depois, jogar fora. Este desvio se verifica, em nível individual e social, e é favorecido! Em tal contexto, a solidariedade, tesouro dos pobres, é, muitas vezes, considerada contraproducente, contrária à racionalidade financeira e econômica.

Enquanto a renda de uma minoria aumenta, de maneira exponencial, aquela da maioria enfraquece. Este desequilíbrio deriva de ideologias, que promovem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira, negando assim o direito de controle por parte dos Estados, que também devem prover o bem comum. Instaura-se, assim, uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, unilateralmente e sem recurso possível, suas leis e suas regras. O endividamento e o crédito, outrossim, distanciam os Países e a sua economia real e os cidadãos do seu poder de aquisição real. Além do mais, pode-se acrescentar a tudo isso uma corrupção tentadora e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. O desejo de poder e de posse tornou-se ilimitado.

Atrás desta atitude oculta-se a rejeição da ética, a rejeição de Deus. Como a solidariedade, também a ética incomoda; ela é considerada contraproducente; como muito humana, porque relativiza o dinheiro e o poder; como uma ameaça, porque rejeita a manipulação e a submissão da pessoa.

A ética conduz a Deus, que se aliena das categorias do mercado. Deus é considerado, pelos financeiros, economistas e políticos, como incontrolável ou até perigoso, porque induz o homem à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de escravidão. A ética – uma ética naturalmente não ideológica – permite, na minha opinião, criar um equilíbrio e uma ordem social mais humanos.

Neste sentido, encorajo os peritos financeiros e os governantes dos seus Países a refletirem sobre as palavras de São João Crisóstomo: «Não compartilhar com os pobres os próprios bens é roubar deles e tirar-lhes a vida. Os bens que possuímos não são nossos, mas deles» (Homilia sobre Lázaro, 1, 6 : PG 48, 992D).

Prezados Embaixadores, seria de bom augúrio fazer uma reforma financeira, que seja ética e que comporte, por sua vez, uma reforma econômica salutar para todos. No entanto, ela requereria uma corajosa mudança de atitude dos dirigentes políticos. Exorto-lhes, pois, a enfrentar este desafio com determinação e perspicácia, levando em conta, naturalmente, a peculiaridade dos seus contextos. O dinheiro deve servir e não governar!

O Papa ama todos, ricos e pobres; mas o Papa tem o dever, em nome de Cristo, de recordar ao rico que deve ajudar o pobre, respeitá-lo, promovê-lo. O papa exorta à solidariedade desinteressada e a um retorno da ética para o bem do homem, na sua realidade financeira e econômica.

A Igreja, por sua vez, trabalha sempre para o desenvolvimento integral de cada pessoa. Neste sentido, ela recorda que o bem comum não deveria ser um simples acréscimo, um simples esquema conceitual de qualidade inferior, inserido nos programas políticos.

A Igreja encoraja os governantes a estarem, realmente, a serviço do bem comum das suas populações. Ela exorta os dirigentes das realidades financeiras a levarem em consideração a ética e a solidariedade. E por que não se dirigirem a Deus para inspirar seus desígnios? Assim, poder-se-ia criar uma nova mentalidade política e econômica, a fim de contribuir para transformar a dicotomia absoluta entre a esfera econômica e a social em uma sã convivência.
Enfim, saúdo com afeto, através dos senhores, os Pastores e os fiéis das comunidades católicas presentes em seus Países. Exorto-os a continuar o seu corajoso e alegre testemunho de fé e de amor fraterno ensinados por Cristo.

Não tenham medo de oferecer a sua contribuição para o desenvolvimento dos seus Países, mediante iniciativas e atitudes inspirados nas Sagradas Escrituras! E, no momento em que inauguram a sua missão, faço-lhes, Senhores Embaixadores, as minhas melhores felicitações, assegurando a colaboração da Cúria Romana para o cumprimento da sua função.

Enfim, invoco, com prazer, sobre os senhores e seus familiares, como também sobre seus colaboradores, a abundância das Bênçãos divinas.

Palácio Apostólico do Vaticano em 16 de maio de 2013.

The Economist.


domingo, 12 de maio de 2013

Ignácio Rangel.


Ignácio Rangel foi um grande economista brasileiro, porém desconhecido e pouco estudado em nossas aulas de Economia. MARCELO MITERHOF, economista do BNDES, escreveu este artigo na FOLHA, o qual compartilho para conhecimento dos meus, ainda espero, dois fiéis leitores. 

Antecipo as homenagens pelo centenário de Ignácio Rangel, que será em fevereiro de 2014. Faço isso porque nas últimas semanas distintos temas tratados neste espaço fazem lembrar dele, em especial sua capacidade de aliar uma criatividade aguda para elaborar conceitos com um senso de realidade raro entre economistas.

Uso textos como "O papel da inflação", publicado na Folha de 30/07/1990, indicação do economista Thiago Mitidieri, com quem discuti sobre Rangel.

Nos anos 30, Rangel entendia que a industrialização precisaria vir junto com a reforma agrária. Mais tarde, reconheceu que no Brasil a industrialização, se não fosse um projeto de lideranças dos proprietários rurais, teria sido natimorta.

No entanto, isso não ocorreria sem graves problemas. A mecanização do campo sob uma estrutura fundiária concentrada jogaria muitas pessoas nas cidades, sem que houvesse ocupação suficiente na indústria e nos serviços para absorvê-las, o que favoreceu a repressão salarial, travando o adensamento do mercado interno, o motor da industrialização brasileira.

Avançar na industrialização -- dos bens leves para os de consumo duráveis e daí para a indústria pesada -- era o jeito de continuar criando perspectivas. Porém os avanços ocorriam por saltos na estrutura produtiva em ciclos mais ou menos decenais, prósperos na primeira metade e recessivos na outra.

Não era tarefa fácil. Havia capacidade ociosa, por conta das grandes economias técnicas de escalas, e também estrangulamentos produtivos, fruto de desequilíbrios próprios de uma mudança estrutural e de restrições de divisas externas.

A inflação tinha até os anos 60 um comportamento inesperado, se intensificando na recessão. Os baixos ganhos salariais faziam a demanda agregada no Brasil ser estruturalmente deprimida, pois dependente do investimento.

Para Rangel, a inflação tinha outra fonte de aceleração: uma estrutura de mercado cartelizada, que elevava seus lucros espremendo tanto os consumidores finais quanto os produtores, em especial nos bens agrícolas. Como a procura de alimentos é pouco elástica, o aumento de seus preços fazia cair o consumo de outros bens pelos assalariados, aprofundando a recessão.

Mas a inflação era útil. Ao penalizar a liquidez, incentivava imobilizações - tanto pela antecipação da compra de bens duráveis pelos mais ricos quanto em investimentos incrementais -- quando um ciclo de mudança estrutural dava sinais de excesso de capacidade.

Essa imobilização especulativa mitigava a recessão e permitia alinhar as condições institucionais e o planejamento dos investimentos que fariam parte da nova fase de expansão industrial.

Rangel não vituperava contra a inflação, mas tampouco aderiu a ela, sabendo que seu papel foi circunstancial. A retomada do desenvolvimento viria pela realização de aperfeiçoamentos institucionais que o novo status de nação industrial exigia. Para isso, o capital financeiro precisava se integrar ao industrial, o que permitiria melhor coordenar os investimentos, algo que o país ainda está longe de ter.

Também estava claro que a capacidade de expandir a infraestrutura por meio de empresas públicas tinha se esgotado. Rangel tinha apontado nos anos 60 que esse modelo era útil, mas esbarraria na limitação de endividamento da União, o que ficou patente no início dos anos 80. Então, era preciso regenerar os sistemas de garantias, o que envolvia mudar o direito das concessões e realizar privatizações.

Hoje, a infraestrutura no Brasil se expande por meio do "project finance", em que sociedades de propósitos específicos, com controle privado, financiam os projetos com base na receita esperada. Nisso, a ideia de Rangel vingou.

Rangel não se furtava a mudar de posição, mas sem trocar uma crença idealizada no desenvolvimentismo e na cooperação por outra igualmente idealizada no liberalismo e na competição. Ele se manteve de esquerda e heterodoxo.

Isso não o impediu de transigir em questões concretas, defendendo que a industrialização, para se viabilizar, precisou da elite agrária e que a inflação não era um mal absoluto. Quando o projeto industrial mostrou sinais de esgotamento, defendeu as privatizações, antes de elas virarem uma efetiva bandeira liberal.

É possível discordar de Rangel em vários pontos, mas, houvesse mais economistas como ele, a economia avançaria bem mais, tanto como teoria quanto na política.

A lei da demanda.


SAMUEL PESSÔA , doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, escreveu neste domingo na FOLHA sobre a lei da demanda sobre escolhas morais.

Em geral, a elevação do preço de um bem reduz a quantidade consumida desse bem. Esse princípio geral é conhecido por lei da demanda.

É possível que haja exceções. A mais famosa é a demanda de alimentos baratos de elevado valor calórico e baixo conteúdo proteico.

Pode ser o caso de arroz na China de hoje; batatas na Irlanda ou pão na Inglaterra, ambos no século 19; farinha de mandioca no sertão nordestino na segunda metade do século passado etc.

Nesses casos, a maior parcela do orçamento familiar é comprometida com o consumo do alimento barato com elevado conteúdo energético e baixo conteúdo proteico.

Devido às necessidades calóricas mínimas diárias, a elevação do preço do alimento rico em calorias reduz muito a renda disponível para aquisição de alimentos de maior qualidade. A demanda pelo alimento mais barato (apesar de este ter ficado mais caro) sobe, dado que a família não tem renda suficiente para adquirir proteína.

Os bens que não obedecem à lei de demanda são chamados de bens de Giffen. O debate brasileiro em torno de escolhas morais sobre diversos assuntos aparentemente está povoado de bens de Giffen.

É comum lermos que a redução da maioridade penal elevará a criminalidade entre jovens, que a descriminalização do aborto reduzirá o número de abortos, que a liberalização das drogas reduzirá o consumo de drogas e que a criminalização da prostituição elevará a prática do comércio sexual.

Em todos esses casos, o preço de um bem subiu (ou desceu) e o consumo, segundo alguns analistas, elevou-se (ou reduziu-se).

Tenho dificuldade de imaginar que a elevação do custo ao menor que cometer crimes eleve a quantidade de crimes praticados pelo menor infrator ou que a elevação do custo do comércio sexual aumente seu consumo.

É igualmente difícil racionalizar que a redução do custo de cometer aborto ou de consumir droga reduza o número de abortos ou o uso de drogas.

Nada impede que as alterações legais elencadas tenham outras consequências e que estas possam ser empregadas como argumentos contrários ou favoráveis à alteração legal.

É possível que a descriminalização do aborto reduza o número de mulheres mortas em função de procedimentos médicos inadequados.

Também é possível que a legalização do consumo e do comércio de drogas reduza a violência e o número de homicídios ou que a criminalização da prostituição aumente a criminalidade.

Finalmente, é perfeitamente possível e justo defender posições favoráveis ou contrárias a esta ou aquela instituição, independentemente de suas consequências.

É possível ser favorável à legalização do comércio e consumo de drogas em função do princípio de liberdade de escolha individual.

Analogamente, é possível ser favorável à redução da maioridade penal em função do princípio da responsabilização individual.

Novamente independentemente do impacto da redução da maioridade penal sobre a criminalidade.

O mesmo princípio de liberdade de escolha individual aplica-se à manutenção da prostituição como atividade lícita.

O que não parece muito útil nem produtivo é enxergarmos bem de Giffen em toda parte. Confunde e dificulta o avanço do debate.

Os bens de Giffen são mais raros do que imaginamos. Até hoje os economistas têm dúvidas se a batata na grande fome na Irlanda no século 19 poderia ser de fato considerada bem de Giffen!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Economia brasileira não volta a ter expansão de 7%. Alguma dúvida?


Leio na FOLHA entrevista com o economista Dani Rodrik, professor de política econômica internacional da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas em economia do desenvolvimento.

Segundo Rodrik, o ambiente global benéfico -- alto crescimento da China, elevados preços das commodities, países avançados em expansão -- não vai se repetir. "É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4% no Brasil", disse à Folha Rodrik, que participou de seminário da revista "Carta Capital".

Folha - O Brasil cresceu 0,9% em 2012 e há uma percepção de que o modelo de crescimento baseado em consumo se esgotou. O que o sr. acha?
Dani Rodrik - Dois anos atrás, todo mundo dizia que o Brasil estava vivendo um novo milagre econômico. Eu achava que era um enorme exagero. Agora, as pessoas estão tirando conclusões apressadas em cima de apenas um ano de crescimento.
O Brasil não vai mais crescer 7%, como no milagre econômico antes da crise da dívida ou mesmo em 2010 [7,5%]. É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4%. Se o contexto global ajudar, 5% será uma taxa razoável.

O sr diz que, a partir de agora, alto crescimento no mundo será exceção. Como se situa o Brasil nesse cenário? As condições que permitiram crescimento de 7% a 8% não vão se repetir. Antes, tínhamos os estágios iniciais da industrialização --ao tirar mão de obra da zona rural ou do setor informal e levar para as indústrias, tínhamos ganhos de 400% na produtividade. Agora, não teremos grandes ganhos sem mais investimentos em educação e tecnologia. Com as mudanças tecnológicas, a indústria é muito mais intensiva em capital e não absorve tanta mão de obra. E o Brasil, na realidade, já atingiu o pico de industrialização e está agora se desindustrializando. Mas isso é verdade para a maioria dos países. É inevitável. A discussão agora é a velocidade da desindustrialização, se está mais rápida do que deveria. A indústria não mais será o motor do crescimento. Serviços e outras áreas irão gerar ganhos de produtividade.

O sr. ficou decepcionado com a decisão dos Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] de criar um banco de desenvolvimento... Essa é uma noção dos anos 50, de que é preciso ter financiamento de infraestrutura. Frequentemente, o que emperra o desenvolvimento não é a falta de financiamento, mas sim instituições frágeis, excesso de regulação, falta de política industrial e moedas sobrevalorizadas. Financiamento é apenas um dos fatores. Não me parece o foco apropriado para os Brics. Faltam ideias novas de como consertar a globalização e criar uma nova relação entre emergentes e ricos.

O sr. diz que os Brics precisam parar de se comportar como "suplicantes". Qual é a mensagem que o Brasil deveria passar nos foros mundiais? Gostaria de ver o Brasil abordar o sistema internacional não como um país em desenvolvimento dizendo que é pobre e precisa de ajuda. Em vez disso, o Brasil precisa se posicionar como formador de políticas, que também tem grandes responsabilidades. Em áreas como mudança climática, por exemplo, não haverá redução de emissões se os emergentes não assumirem responsabilidade.

O que o sr. espera de Roberto Azevêdo à frente da Organização Mundial do Comércio? A agenda da OMC precisa mudar. A Rodada Doha morreu e as pessoas deveriam simplesmente declarar isso. O real desafio para a OMC é estabelecer uma nova narrativa, que não se restrinja a: "você reduz suas tarifas e em troca nós abrimos nossos mercados". No momento, o maior problema não é a falta de abertura comercial.
E o Brasil precisa mudar sua atitude. O Brasil ocasionalmente precisa proteger sua indústria, mas tem de entender que os países ricos passam por uma situação muito difícil e também precisam proteger a sua indústria. O Brasil, apesar de todas as elevações de tarifas recentes, não pode ser chamado de economia fechada. Aliás, acho que a atual estrutura de tarifas no Brasil é até positiva.

Por quê? Porque, na margem, está dando uma proteção temporária para algumas indústrias que estão sendo dizimadas pela valorização da moeda. Vivemos no mundo possível, não no mundo doutrinário.

Qual é a importância de ter um brasileiro liderando a OMC? O Brasil pode levar para a OMC uma abordagem pragmática, não doutrinária, que é uma evolução da proposta radical de livre mercado --é assim a política econômica do Brasil atualmente. Então ter um brasileiro no comando da OMC é muito positivo.

O sr. classifica os países de mercantilistas ou liberais. Em que faixa se situa o Brasil?
O Brasil é uma boa mistura -- usa regras liberais em seu sistema financeiro, políticas monetária e cambial, mas é mais mercantilista no que se refere às políticas industriais, proteção por tarifas, regras de conteúdo local e uso do BNDES. Talvez precise de menos liberalismo no fronte macroeconômico e mais no fronte comercial.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...