sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

GUSTAVO FRANCO E A ECONOMIA 2009

Para este final de semana de viagem, uma entrevista com Gustavo Franco, diretamente do Blog da Miriam Leitão, que merece a devida reflexão e sinaliza para a manutenção dos pés no chão, neste próximo ano totalmente eleitoral. Ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco chama de "gastança pró-cíclica de intuito eleitoral" as medidas do governo para incentivar a economia. Ontem, o ministro Guido Mantega anunciou uma injeção de mais R$ 80 bilhões. Para Franco, o governo está superaquecendo o país e isso vai forçar um aumento da taxa de juros no ano que vem.
Nesta entrevista ao blog, o hoje sócio da Rio Bravo Investimentos afirma que as previsões de um crescimento próximo de zero do PIB em 2009 significam um ritmo muito forte da economia no quatro trimestre, forte a ponto de ser insustentável em 2010. O mercado começa a revisar as perspectivas de crescimento da economia para uma taxa ligeiramente negativa. O que isso significa para a economia? Gustavo Franco - Acho que o resultado está dentro das margens de previsão: os analistas esperavam um crescimento levemente positivo ou negativo para o ano fechado, ou seja, algo próximo de zero, o que é um excelente resultado, por paradoxal que pareça. É preciso lembrar que este crescimento é média de quatro trimestres de 2008, contra média de quatro trimestres de 2009, e que o “peso” da crise é muito grande. Terminar em zero significa que os três últimos trimestres de 2009 serão muito fortes, como têm sido, fortes a ponto de se dizer que é um ritmo insustentável para um ou dois trimestres adiante de 2010. O PIB do terceiro trimestre pode piorar o cenário da economia em 2010? O que está fazendo piorar a perspectiva para o próximo ano é a insistência injustificada em medidas de incentivo enganosamente descritas como “anti-cíclicas”. Já ultrapassamos este assunto, o que temos agora, em bom português, é uma gastança pró-cíclica de intuito eleitoral, cujo impacto será o de superaquecer a economia e forçar a taxa de juros para cima. O dado do PIB em si pouco alterou, então, a perspectiva de aumento de juros no próximo ano? O anúncio alterou muito pouco a expectativa de que os juros vão subir. Quanto mais gasto, mais juro. Tentar demonstrar, na prática, que a teoria econômica não funciona, ou que o Brasil é diferente, fazendo a nação de cobaia, não vai nos levar a lugar algum, exceto a um passado de planos heterodoxos de triste memória. Com esse PIB, você teme que o governo se sinta compelido a injetar ainda mais recursos na economia? Seria péssimo, principalmente porque nos retira de um caminho virtuoso e sustentável de política macroeconômica. Não há cabimento em imaginar que se possa levar muito adiante um processo de “substituição” do gasto privado pelo público, ou seja, reduzir o gasto privado via juros e aumentar o gasto público para compensar. Esta substituição perversa pode ser uma herança maldita, esta sim, verdadeiramente maldita, que este governo estará deixando para o próximo.

PIB 2009 QUASE ZERO?

A cada dezembro é a mesma coisa: o dia precisa ter 36 horas para conseguirmos realizar toda a nossa programação. Hoje estou viajando da selva para o litoral, mas na madrugada de segunda já estarei de retorno. Para não deixar órfãos os meus quase dois (milhões) fiéis leitores, abaixo um artigo publicado na Folha de S. Paulo, onde o colega FERNANDO SAMPAIO, da LCA Consultores, analisa o resultado do PIB brasileiro no 3º trimestre deste ano. A informação que, compreensivelmente, deverá constar nas manchetes é um tanto frustrante: o PIB brasileiro, ao crescer 1,3% na passagem do 2º para o 3º trimestre, avançou menos do que, em média, projetavam bancos, consultorias e demais analistas econômicos (2%). Mas o vasto conjunto de informações divulgado ontem pelo IBGE sugere que a avaliação geral, positiva, sobre a trajetória recente e as perspectivas da atividade econômica no Brasil não sofreu abalo. O IBGE trouxe a público não apenas os resultados no PIB no período julho-setembro mas também os números revistos dos trimestres precedentes, desde o início de 2007. Esses números mudaram, até bastante: a queda do PIB na passagem de 2008 para 2009 foi menor do que se estimou inicialmente (a contração acumulada entre outubro de 2008 e março de 2009 passou de 4,3% para 3,8%), e a retomada no 2º trimestre se deu a um ritmo mais moderado do que apontava o primeiro cálculo (o crescimento sobre o 1º trimestre foi revisto de 1,9% para 1,1%). A história que os novos números contam, porém, é essencialmente a mesma: a guinada recessiva da economia brasileira, em seguida ao travamento global do crédito, foi muito forte (em especial porque a indústria brasileira, confiando na tese da "marolinha", carregava estoques altos e, por isso, efetuou o corte de produção mais drástico da sua história). Mas essa guinada foi também breve: já no 2º trimestre a economia voltava a crescer, graças sobretudo ao fato de que, pela primeira vez em décadas, a política econômica tinha margem de manobra para estimular a demanda interna num contexto de contração da liquidez global; e ao fato de que no Brasil a demanda interna tem peso particularmente alto (as exportações de bens não chegam a 13% do PIB, metade da média mundial). No 3º trimestre, a retomada prosseguiu, a um ritmo, conforme se esperava, ligeiramente superior ao do 2º. A perspectiva para o fechamento do ano permanece a de uma variação do PIB próxima de zero, e, para 2010, uma alta da ordem de 5% (ou mais) continua a ser a expectativa predominante. Cabe, aqui, uma advertência sobre o contraste entre o ritmo do PIB apurado pelo IBGE, com alta mais moderada do que se avaliava no 2º e 3º trimestres, e o ritmo da demanda interna, tão dinâmico quanto se estimava. Esse contraste está ligado a um aspecto técnico da medição do PIB, que é a variação de estoques. Embora as informações sobre estoques sejam muito imperfeitas, não resta dúvida de que, desde o final de 2008, suas flutuações na indústria brasileira têm sido muito fortes. E essas movimentações têm tido um peso extraordinário nos números do PIB. Para ter uma ideia: embora a variação de estoques tenha peso de apenas 1,2% na composição do PIB, se excluíssemos a queda dos estoques do cálculo do PIB, a alta deste no 3º trimestre saltaria de 1,3% para 2,3%. Um comentário final: os novos números do IBGE indicam que a retomada do investimento teve início já no 2º trimestre e se acelerou no 3º, sinalizando menor risco, à frente, de gargalos de oferta a pressionar a inflação.

A SITUAÇAO DO CÂMBIO

Direto da FOLHA DE S. PAULO, ERNESTO LOZARDO, professor de economia da EAESP-FGV, e autor de "Globalização: A Certeza Imprevisível das Nações" analisa a situação do câmbio. HÁ UMA discussão em torno da valorização do real que tem dificultado o entendimento das pessoas pouco familiarizadas com essa realidade. As premissas sobre a política cambial do passado ainda têm reflexos nas discussões do presente. No passado, o Brasil não adotava políticas monetária e fiscal que assegurassem o crescimento e a estabilidade dos preços. Isso porque o país não tinha orçamentos monetário e fiscal consistentes. Daquela época, guardamos a seguinte ideia-força de Mário Henrique Simonsen: "A inflação mutila, mas o câmbio mata". Nos dias atuais, há quem afirme: "A atual valorização do câmbio é um problema real e pode prejudicar a economia" (Paul Krugman). Encontramos, também, alarmistas, para quem, por conta da alta do real, haverá desindustrialização. Isso já é demais. Desde os tempos de Simonsen até os dias atuais, muita loucura foi feita em relação à política cambial. Nem por isso o setor exportador foi aniquilado. O foco da política econômica deve ser a competitividade da economia brasileira. Nesse sentido, precisa-se das reformas fiscais e de política de estímulo às exportações. A valorização do câmbio resulta de vários fatores. Ela está atrelada à política monetária, especificamente à taxa de juros. Quanto mais elevados os juros, mais o real se aprecia, e, de forma oposta, quanto menores os juros, mais competitivo o real fica. Os elevados juros resultam do alto gasto corrente do governo federal. Para financiar esse gasto, o governo precisa arredar mais recursos por meio de tributos. De modo que a grande carga tributária sobre a produção e sobre a renda do trabalhador reduz o lucro das empresas, o poder aquisitivo da sociedade e o nível de poupança. Para os bancos, esse risco está incorporado no elevado custo dos empréstimos. A redução efetiva dos juros e, portanto, da valorização da moeda nacional dependerá de ações concretas dos representantes do Congresso, impondo reduções nos gastos correntes do governo, nos programas assistenciais e nas correções graduais no deficit da Previdência. Uma das aberrações na política de exportações é o fato de o país exportar impostos. Independentemente do fato de a moeda estar valorizada, prejudicando a competitividade e a lucratividade do exportador, é inconcebível tributar a exportação. A Fiesp propõe eliminar os tributos que incidem sobre os produtos exportados, modificando os mecanismos de compensações. A indústria brasileira paga em média 22,9% de impostos indiretos sobre o faturamento líquido. Desse total, 5,8% das receitas líquidas com exportações são créditos irrecuperáveis: o governo federal não paga ao exportador. Isso é crime. Mesmo assim, a entidade sugere que o calote do governo federal se transforme em moeda de troca no pagamento de qualquer tributo federal. É mais uma ginástica tributária do setor privado para lhe fazer justiça e amenizar a atual perda de receita. Essa alternativa não visa à competitividade do setor, mas, no momento, ela é necessária. A inexistência de reformas fiscal e previdenciária tem dado margem a todo tipo de proposta, negando o saber de que a política cambial é parte da política macroeconômica. A política cambial não é a política industrial e muito menos a política de crescimento sustentável. Manter um câmbio competitivo dependerá das reformas apontadas que tornem o Brasil globalmente competitivo, estruturalmente equilibrado e receptivo ao capital, aumentem expressivamente a poupança pública e privada e fomentem o surgimento de ampla sociedade de consumo.

domingo, 6 de dezembro de 2009

FECAP - A MINHA I.E.S.

Cursei Economia em São Paulo na FECAP, uma escola fundada em 1902. Hoje leio na FOLHA que o CENTRO UNIVERSITÁRIO FECAP foi avaliado pelo MEC como "o melhor centro universitário privado do BRASIL". Anúncio da própria FECAP informa que "95% dos nossos alunos estão empregados."
Que boa notícia aqui na floresta para iniciar uma semana que terminará na praia.
PARABÉNS a todos que fazem a FECAP e tenho orgulho de ter sido aluno dessa Instituição de Ensino Superior.

BRASILEIROS 2009 NA ÉPOCA

Como ocorre a cada ano, ÉPOCA divulga a sua lista dos 100 brasileiros mais influentes do ano. Com todo o respeito, listas dividem opiniões, mas a deste ano de 2009 realmente está quase uma tragédia... Pensando melhor, SE dos quase 200.000.000 de brasileiros os "nossos" 100 mais influentes são esses, então este é o BRASIL que temos. Que pena, pois acredito que poderia ser melhor.

sábado, 5 de dezembro de 2009

INTERVENÇÃO NO CÂMBIO?

É cada um puxando brasa para a sua sardinha... É como entendo a atuação da FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO - FIESP ao preparar um documento solicitando ao governo uma intervenção no câmbio para chegar a um valor entre R$ 2,00 e R$ 2,20, o que, segundo ela, garantiria competitividade às exportações brasileira. MENOS FIESP, MENOS. Reavaliem a economia brasileira de forma macro e vejam que NÃO é o câmbio a causa raiz das nossas deficiências empresariais.

DAN BROWN MOVIMENTA A ECONOMIA BRASILEIRA

Como é bom LER no ESTADÃO que temos leitores no Brasil. Indiferente de gostar OU não do que eles estão lendo, é o tipo de notícia que gosto de divulgar.
A Editora Sextante conseguiu vender 100.000 exemplares de O SÍMBOLO PERDIDO, o novo livro do DAN BROWN em...
15 dias.
Que maravilha.

BRASIL E CHILE - DIFERENÇAS

Tenho uma boa impressão econômica e social do Chile e confirmei isso quando de minha visita a Santiago. Na VEJA desta semana, um breve resumo da diferença entre NÓS e ELES. Por que será que no BRASIL tudo é tão difícil de resolver?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

E SE KRUGMAN ESTIVER CERTO?

Leio agora a pouco na FOLHA DE S. PAULO: Os pesados fluxos de recursos para o Brasil ameaçam o país de haver uma bolha financeira semelhante às que atingiram México, o sudeste asiático e o leste europeu, afirmou nesta terça-feira o prêmio Nobel de Economia 2008, Paul Krugman, professor da Universidade Princeton e colunista do "The News York Times", que participou de evento em São Paulo.

Em entrevista a jornalistas, Krugman disse que a superação da crise internacional pelo Brasil foi "uma história feliz", mas a sobrevalorização do real, a falta de infraestrutura e o baixo nível de educação da população brasileira são entraves importantes para que o país se torne uma "superpotência econômica".

"Dizer que o Brasil é uma boa história não é o mesmo que dizer que se tornará uma superpotência econômica no ano que vem, e é isso que os mercados estão dizendo", declarou Krugman.

O economista afirmou que o cenário econômico brasileiro "não é de apocalipse, não é a Argentina, mas não é saudável".

Krugman brincou ao dizer que uma das vantagens do Brasil em relação ao restante do mundo "é o fato de que vocês odeiam banqueiros".

"Nos Estados Unidos, se alguém fala em ajudar o Goldman Sachs, o cidadão médio fica preocupado, acha que é importante. Aqui, politicamente, não faz sentido."

O prêmio Nobel elogiou o sistema bancário brasileiro, menos exposto a empréstimos de alto risco, como os que vitimaram a economia americana no ano passado, em especial no mercado imobiliário.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

E SE CELSO FURTADO FALASSE DA CRISE DE 2008?

Espero que o meu colega Erik Figueiredo http://hazardm.blogspot.com/ não fique aborrecido comigo pela citação de seu conterrâneo, o sempre lembrado CELSO FURTADO, autor da frase "Só um economista imagina que um problema de economia é estritamente econômico".

DEZEMBRO COM DELFIM NETTO

Para iniciar o melhor mês do ano, vamos lendo o colega ANTONIO DELFIM NETTO, direto do VALOR, com o sugestivo artigo Para salvar a teoria econômica.

Creio que pelo menos alguns economistas que dominam brilhantemente as “modelagens” matemáticas (se forem um pouco menos cínicos do que o prêmio Nobel Robert Lucas) devem repetir para si mesmos a pergunta que a rainha Elizabeth II fez aos professores da famosa London School of Economics em novembro de 2008: “Como foi possível que, depois de mais de um século de estudos, os senhores foram incapazes de prever a crise que colocou em risco a economia mundial?O fracasso da macroeconomia em matéria de “previsão” é fato passado em julgado. E (com razão ou não) muitos acadêmicos garantem que “prever” não é obrigação dos economistas e não é a finalidade da teoria econômica “científica”, o que não parece fora de propósito. O fato curioso é que eles mesmos, quando assumem o papel de “analistas” no mercado financeiro (a serviço de bancos, fundos e “tutti quanti”), não fazem outra coisa a não ser “prever”, para induzir “cientificamente” os compradores de seus papéis. Aquela atitude defensiva, entretanto, não poupa a teoria econômica. De um “cientifismo equivocado” que lhe deu imensa visibilidade e prestígio, há pouco mais de uma década, ela hoje é vista com desconfiança, quando não desmoralizada.

O sentimento de frustração é geral. Todas as tribos que constituem a confederação dos economistas sentem esse rebaixamento da opinião pública com relação às suas aspirações de sugerir políticas capazes de manter a economia num estado de equilíbrio dinâmico interno e externo. Em resposta à sua incômoda pergunta, a rainha recebeu duas cartas. Uma assinada por um grupo de economistas “neoclássicos”, encabeçada pelo professor Tim Besley, da British Academy. Outra de economistas relativamente fora do “mainstream”, encabeçada pela professora Sheila Dow, da University of Stirling.

A primeira é um relato das conclusões de um fórum realizado em 17/6/2009 na British Academy (especialmente para responder à perplexidade da rainha). Dele participaram homens de negócios, especialistas do mercado financeiro (da City), reguladores, professores de economia e membros do governo. Ela desfila uma longa lista de dificuldades e justificativas. Em resumo diz a carta:

1) muitos economistas previram a possibilidade da crise, mas não o momento de sua eclosão. O BIS, entretanto, chamou sistematicamente a atenção dos governos e do mercado para tal risco;

2) apesar da imensidão de analistas (apenas um banco inglês que hoje é do governo tinha um time de 4.000!), os riscos eram considerados isoladamente usando “as melhores mentes matemáticas nacionais e estrangeiras”, mas ignorando uma visão global;

3) apesar dos avisos, a maioria estava convencida de que “os bancos sabiam o que estavam fazendo”. Estavam crentes que o “mercado” mudara. Banqueiros e economistas estavam encantados por ele. Os modelos pareciam prever os pequenos riscos no curto prazo, mas poucos economistas estavam equipados para dizer o que aconteceria se as coisas dessem erradas como deram;

4) havia um consenso que seria melhor lidar com as “bolhas” depois que houvessem ocorrido do que explodi-las preventivamente. Como a inflação permanecia baixa, a taxa de juros foi mantida muito baixa por muito tempo, estimulando a ação dos agentes.

Prometendo um novo Fórum da Academia no futuro, a primeira carta termina dizendo: “Tudo isso, combinado com uma psicologia de rebanho e o mantra dos gurus financeiros e governamentais, conduziu a uma receita perigosa. Pequenos riscos individuais podem ter sido estimados corretamente, mas os riscos (não percebidos) do sistema global eram imensos.”

A segunda carta ratifica essas críticas, mas sugere que “a preferência pelas técnicas matemáticas com relação à substância do mundo real desviou os economistas da análise do todo”. Termina dizendo que o que fez falta foi “uma sabedoria profissional informada por seguros conhecimentos de psicologia, das estruturas institucionais e dos precedentes históricos”.

A mesma discussão se processa no mundo inteiro. Não se trata, entretanto, de abolir a matemática. Pelo contrário, ela é indispensável, mas deve ser combinada com a história, a geografia, a psicologia etc., com inteligência, moderação e respeito à realidade. Esta não é a primeira vez que o desencanto com as promessas da ciência econômica acontece. Já em março de 1892, W. Cunnigham, num artigo publicado no “Economic Journal”, dizia que “se existe uma coisa que mais do que qualquer outra tem imposto sofrimento à economia política (o velho, sério e modesto nome da atual teoria econômica) é o fato que o público formou uma opinião exagerada do que ela pode realmente fazer e, portanto, desapontou-se porque ela não foi capaz de satisfazer tais expectativas”.

A despeito disso é mais do que evidente que o conhecimento econômico é fundamental para uma administração pública que deseje estimular o crescimento com alguma Justiça social e equilibrios interno e externo, e que ignorá-lo tem custos sociais imensos. O exemplo mais claro é a obediência às identidades da Contabilidade Nacional que governos mais sanguíneos tentam frequente e inutilmente violar e pagam caro por isso.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O BRASIL NA FOREIGN POLICY 2009

Final de ano chegando, amanhã já estamos em DEZEMBRO/2009, e começam as famosas listas anuais. Diretamente da revista FOREIGN POLICY - edição de dezembro, os 100 principais intelectuais do mundo, vários deles nossos colegas de ECONOMIA. Encabeçada pelo BEN BERNANKE - CHAIRMAN, FEDERAL RESERVE - WASHINGTON - for staving off a new Great Depression, a lista registra a presença de um brasileiro, o presidente FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, conforme abaixo.

11. Fernando Henrique Cardoso - for calling the war on drugs what it is: a disaster.

Cardoso has never been afraid to ask tough questions. As president of Brazil, he shook the country's huge but lethargic market back to life with tough fiscal policy and pioneering social programs. So it was no surprise this year when, together with fellow Latin American ex-presidents César Gaviria and Ernesto Zedillo, Cardoso took on a new challenge: the U.S.- led war on drugs. "Prohibitionist policies based on eradication, interdiction and criminalization of consumption simply haven't worked," they wrote in the Wall Street Journal.

Cardoso's broadside, laid out in full in a report last February, reinvigorated a moribund debate over the legalization of drugs. He pushed to rebrand the problem as one of global health, rather than mere criminality. And his timing couldn't have been better: Barack Obama once called the drug war an "utter failure," and he seems to prefer treating users to locking them up. The man who called himself Brazil's "accidental" president may have just done more for his country and his region than many of its more deliberate leaders.

Reading list: Alliance: The Inside Story of How Roosevelt, Stalin and Churchill Won One War and Began Another, by Jonathan Fenby; Prisoner of the State, by Zhao Ziyang; Grown up Digital, by Don Tapscott.

Wants to visit: Iran, where I never have been. It is fascinating from a sociological point of view (secularization vs. fundamentalism), from a political point of view (an autocracy with elections), and from the point of view of global affairs, as Iran plays a crucial role in the Middle East.

Gadgets: Twitter and BlackBerry.

domingo, 29 de novembro de 2009

PROJEÇÕES 2009/2010 BRASIL

Relatório de projeções macroeconômicas do grupo SANTANDER registra para 2009 um PIB ZERO, enquanto para 2010 projeta um crescimento de 4,8%.
A conferir.

ECONOMIA, GOVERNO E MERCADO

Alguns colegas gostam de lembrar a este blogueiro que, como defensor do livre mercado, hoje devo reconhecer que o governo salvou o capitalismo.
DISCORDO.
A "mão invisível" de ADAM SMITH - de 1776, continua "invisível" e funcionando. No entanto, é necessário que exista, de fato, governo e que ele mantenha as instituições básicas da economia, além de garantir o direito dos cidadãos. O que o governo NÃO deve fazer é praticar política econômica com finalidade eleitoral.

BRASIL DE PRIMEIRO MUNDO?

Quando leio hoje no jornal O LIBERAL, de Belém do Pará, que um estudo da nossa FGV informa que no PARÁ "95% DAS CASAS NÃO SÃO LIGADAS À REDE DE ESGOTO", ou quando vejo a mensagem do Mestre SINFRÔNIO, lá da nossa Fortaleza, no DIÁRIO DO NORDESTE sobre o "apagão carioca", eu fico a perguntar: AFINAL, que país é este para sediar Copa e Olimpíada? Quando teremos um BRASIL de primeiro mundo? Por que não podemos ser realmente um país com educação e qualidade de vida?

JOSÉ SERRA E O PÓS LULA

Este post vai para o meu colega Vitor Wilher http://www.vitorwilher.com, quando li a pouco na Folha de S. Paulo, na coluna do Gaspari: Felizmente acaba de sair o livro "Retrato de Grupo", comemorativo do 40º aniversário do Cebrap, o centro de pesquisas criado em torno de Fernando Henrique Cardoso. Nele há uma boa entrevista de Serra, dada em julho do ano passado. Ele reclama dos juros caros, do dólar barato, dos gastos do governo e resume uma vaga plataforma econômica:
"Temos de pensar o seguinte: o Brasil deve ter hoje 190 milhões de habitantes, perto disso; daqui a dez anos, teremos dezenas de milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho. O modelo primário exportador, para onde o país está caminhando, não é capaz de gerar empregos com o dinamismo que a oferta de trabalho exige. Ele não vai gerar desenvolvimento sustentado (e sustentável), e o país está caminhando para isso. Então é um grande desafio reinventar o desenvolvimento, como se dizia na linguagem da Cepal, hacia dentro [para dentro], junto com hacia fuera [para fora], porque voltar o desenvolvimento só hacia fuera, que é o que está acontecendo, não vai dar conta dos problemas principais do país".

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

AOS FUMANTES OU NÃO...

Segundo o epidemiologista THOMAS FRIEDEN, o TABACO é a maior causa EVITÁVEL de MORTE no mundo. Neste ano, mais de 5.000.000 de pessoas morrerão por causa do cigarro, um total superior ao que mata a aids, a tuberculose e a malária somadas.
Diante disso, pense bem antes de acender um cigarro, exceto em alguns momentos especiais...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

SOB A LUPA DO ECONOMISTA

Que o blog http://colunas.epoca.globo.com/sobalupadoeconomista/ dos colegas Carlos Eduardo Gonçalves e Mauro Rodrigues, Professores de Economia da USP, hospedado na revista ÉPOCA é daqueles que é um prazer de leitura, isso é fato. Autores do livro SOB A LUPA DO ECONOMISTA, texto que une o útil ao agradável na Economia de maneira divertida, quando da sua leitura observei que o título de um dos textos (e tem cada um melhor do que o outro) "MAIS COMÉRCIO, MENOS PAÍSES", contrariava o que eles tão bem esclareciam no corpo do texto. Pensei até que fosse um tipo de “pegadinha”. Ao comentar o fato na página dos autores, recebi hoje a seguinte postagem:

João,

Não tem nenhuma pegadinha não. Nós erramos mesmo o título do texto. Você está completamente certo; deveria ser “mais comércio, mais países”. Inacreditável como estas coisas passam, mesmo depois de repetidas revisões. Agradeço muito por ter chamado nossa atenção para esse problema. Pediremos à editora faça a correção para eventuais re-impressões.

Grande abraço,

Mauro.

Como é bom tratar com pessoas inteligentes, educadas e sábias. PARABÉNS e que vendam MUITOS livros. Vocês merecem. Afinal, um livro com prefácio do HERÓDOTO BARBEIRO e comentários de MAILSON DA NÓBREGA, GIULIANO GUANDALINI, SÉRGIO LAMUCCI, do sempre lúcido ALEXANDRE SCHWARTSMAN e do Professor SAMUEL PESSOA da nossa FGV RJ, merece ser lido sem contra indicações.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

SHAKESPEARE E A ECONOMIA

Por essa eu não esperava: SHAKESPEARE na nossa ECONOMIA. Que o colega GUSTAVO FRANCO está sempre com novidades no prelo, tudo bem. Porém, um livro com o título SHAKESPEARE E A ECONOMIA foi a boa surpresa neste início de semana. Se SHAKESPEARE já era um gênio por toda a sua obra, agora com economia deve permanecer mesmo no OLIMPO ao lado de outros DEUSES.

Livro analisa a economia a partir da vida e obra de William Shakespeare:

E segundo a FOLHA DE S. PAULO, Economia não é a primeira coisa que vem à cabeça quando se pensa em Shakespeare, mas um novo lançamento está mostrando que a vida e a obra do grande bardo podem servir de suporte para pensarmos sobre a economia e a origem do capitalismo.

"Shakespeare e a Economia" traz dois ensaios de abordagens distintas, porém que se complementam. O primeiro é um texto de 1931 de Henry W. Farlan que analisa os primórdios da economia como ciência a partir das peças do dramaturgo, abordando conceitos como os valores de troca. Revelando que mesmo que o dramaturgo não pensasse a economia como os pensadores modernos, muitos conceitos embrionários já estavam presentes em suas peças.

A obra entrelaça também o aspecto empresarial de Shakespeare com o ensaio do economista Gustavo Franco, que mostra que o dramaturgo não era apenas um bom artista, mas também um empresário de sucesso. Franco também aborda a economia do teatro, a linguagem, as companhias teatrais, sua organização e seus resultados financeiros, além de surpreender o leitor com cálculos que mostram como Shakespeare era dono de uma fortuna considerável.

CÂMBIO ALTO É A SOLUÇÃO?

Recebo dos meus colegas de Economia Politica, um artigo do Márcio G. P. Garcia, PhD por Stanford e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, publicado no VALOR ECONOMICO e divulgo com os meus quase dois leitores. (www.econ.puc-rio.br/mgarcia)

Afirmou o ministro da Fazenda: "... com um câmbio a R$ 2,60, venceríamos todos. Venceríamos os chineses, a indústria coreana" (O Globo, 18/11/2009, página 21). O tom transcendente em que tal frase foi proferida, em um encontro de industriais, parecia conferir ao câmbio alto (depreciado) status semelhante ao da paz entre os homens ou ao do fim da fome; ninguém poderia ser contra tal objetivo. O câmbio depreciado é mesmo tão bom para a economia brasileira?

Isoladamente, o câmbio depreciado parece ótimo, pois amplia as exportações, a produção, o emprego e os lucros dos exportadores (ainda que esse aumento seja sempre esquecido quando empresários defendem o câmbio alto). O problema é que nada em economia, como na vida, ocorre isoladamente. Há sempre uma miríade de relações de causa e efeito entre variáveis econômicas que podem gerar, e frequentemente geram, resultados indesejáveis a partir de ações bem intencionadas.

Em primeiro lugar, cabe indagar como o governo poderia empurrar a taxa de câmbio para cima. A forma tradicional de desvalorizar a taxa de câmbio é o governo, normalmente via Banco Central (BC), comprar dólares até que o preço da moeda (a taxa de câmbio) suba ao nível pretendido. A contrapartida da compra de dólares pelo BC, que leva à depreciação da taxa de câmbio, é o aumento da base monetária e a diminuição da taxa de juros. Mas, a sistemática de metas para inflação, usada no Brasil, requer que se mantenha a taxa de juros em níveis próximos à meta Selic fixada pelo Copom, sob o risco de elevar a inflação. Assim, para impedir a queda da taxa Selic, com consequente aumento da inflação, o BC esteriliza o aumento da base monetária, via operações contracionistas de mercado aberto (venda de títulos públicos). A esterilização torna a compra de dólares pelo BC muito menos eficiente em desvalorizar o câmbio. Por isso, países que controlam a taxa de câmbio normalmente praticam, ao menos parcialmente, intervenções não-esterilizadas.

O problema é que a prática frequente de intervenções não-esterilizadas não é compatível com nosso regime de política monetária. Será que queremos abrir mão do regime de metas para inflação para voltarmos a um regime de câmbio administrado? Se a proposta for essa é necessário haver ampla discussão, informada por debates técnicos que esclareçam ao público os possíveis efeitos de tal mudança, sobretudo quanto à inflação futura. O que não se pode fazer é escamotear o abandono do sistema de metas de inflação caso se decida por intervenções não-esterilizadas.

Mas, por que a depreciação do câmbio poderia provocar inflação? A resposta pode ser vista por dois ângulos diferentes, mas umbilicalmente interligados: o dos preços e o das quantidades. É intuitivo o efeito que tem a depreciação do câmbio sobre os preços dos bens importados, majorando os preços internos. Menos intuitivo, mas igualmente importante, é o fato de que o câmbio depreciado torna os bens que exportamos, cujos preços são fixados em moeda estrangeira, mais caros em reais. Assim, tais bens também ficam mais caros internamente, como é o caso da carne, do açúcar, da soja e muitos outros.

A ótica das quantidades provê visão alternativa complementar. A depreciação cambial aumenta as exportações e diminui as importações. Ou seja, aumenta o PIB. Isto é desejável, mas até certo ponto. Caso o aumento das exportações leve o PIB para acima da capacidade produtiva da economia, o PIB potencial, a inflação se acelerará. Naturalmente, o PIB potencial também cresce. Mas, o crescimento do PIB potencial depende da taxa de investimento da economia, que, no Brasil, é muito baixa. Além disso, como tem salientado Affonso Celso Pastore, há uma relação muito alta entre importações e investimento. Nos períodos de câmbio apreciado ocorre muita importação de máquinas e equipamentos, fundamentais para a difusão de inovações tecnológicas com impactos positivos sobre a produtividade.

Mas a China não mantém uma taxa de câmbio artificialmente depreciada e é o país que mais cresce no mundo, sem inflação? Por que não podemos fazer o mesmo? Há, certamente, muitas diferenças entre a economia chinesa e a brasileira. Mas, a diferença mais relevante, no que tange à possibilidade de intervir na taxa de câmbio, aumentando as exportações e o crescimento do PIB, sem causar muita inflação, parece ser a elevadíssima taxa de poupança da economia chinesa. Como a taxa de poupança da China é mais do que o dobro da do Brasil, nosso espaço de manobra é muito mais reduzido. Basta olhar o que ocorreu com a Argentina, que tentou fazer política monetária com objetivo de manter o câmbio alto. Voltou a ter sério problema inflacionário, mascarado por estatísticas oficiais manipuladas nas quais ninguém acredita.

O aumento da taxa de poupança da economia brasileira é fundamental, não para podermos interferir no câmbio flutuante, mas para permitir maiores taxas de investimento e crescimento econômico. Para aumentar essa taxa, a maior contribuição que a política econômica poderia dar seria a de reduzir o forte crescimento do dispêndio público. A diminuição do crescimento do gasto público também ajudaria a depreciar a taxa real de câmbio. Infelizmente, desde 2005, o governo deixou de lado qualquer pretensão de controlar seus gastos e abraçou insensato programa de expansão dos gastos públicos de custeio, não havendo mais esperança que tal rumo seja mudado até 2011.

Mas nossos "policy-makers" permanecem sob forte pressão para "resolver" a questão cambial. Algumas medidas, como o IOF sobre entradas de capitais, estão sendo implementadas. Tais medidas não devem ter efeitos substanciais sobre a taxa de câmbio, embora tenham efeitos nocivos sobre o custo de capital das empresas, prejudicando o investimento produtivo. Medidas de liberalização cambial são boas "per se", mas tampouco é claro que, se adotadas, causem significativa depreciação.

A pressão sobre o BC para desvalorizar o câmbio se parece com a do paciente que questiona seu médico: "Dr., sei que estou gordo, tenho vida sedentária, muito estresse, fumo e bebo. Não quero mudar isso. Mas quero um jeito de manter boa saúde." O final desse filme é conhecido. Mudança de médico. Aí é que mora o perigo!

ENTREVISTA COM DELFIM NETTO

A leitura de grandes biografias e entrevistas com pessoas inteligentes estão sempre na minha tela. Por isso, é com satisfação que leio na FOLHA DE S. PAULO de hoje uma entrevista com o Mestre ANTONIO DELFIM NETTO, uma aula de economia, política e ciência.

FOLHA - Em um recente artigo, o senhor tratou o aparelhamento do Estado brasileiro como um defeito comum a todos os governos, não apenas àqueles com DNA sindical, como o atual. O aparelhamento, então, não tem credo ou ideologia?
ANTONIO DELFIM NETTO - Continuo com a convicção de que sindicato mais política é igual à corrupção. Essa fórmula, descoberta no século passado pelo sociólogo alemão Robert Michels, continua válida. Eu só quis dizer que cada governo aparelha a seu modo, por motivos diferentes. Veja o caso de Brasília. Na primeira leva, a cidade recebeu mineiros. Depois vieram maranhenses, alagoanos e paulistas. Agora, sindicalistas. O grande drama desse problema é que ninguém sai, só entra. É isso. Se fizermos uma análise geológica de Brasília, fatiagráfica, notaremos camadas que se superpõem. E qual é a regra do jogo? É a nova camada respeitar cuidadosamente os benefícios recebidos pela que está sendo substituída.

FOLHA - Qual é o efeito desse acúmulo?
DELFIM NETTO - Isso está levando o Estado a uma situação de quase insolvência fiscal. Está armado aí um enrosco da maior gravidade. O problema mais grave é da sustentação do sistema da seguridade social e da Previdência. Não é possível carregar um país onde o salário médio do aposentado do Judiciário é mais de 30 vezes o salário do trabalhador aposentado no INSS. No Legislativo, é 20 vezes; no Executivo, 12 a 14. Uma casta se instalou em Brasília e, com as camadas de aparelhamento, aprofundou essa divergência. Não há controle sobre o serviço público.

FOLHA - Qual é a evidência de que essa situação é insustentável?
DELFIM NETTO - É simples. O Brasil vai ficar velho antes de ficar rico. A população brasileira vai começar a diminuir em 2035 ou 2040. Temos a mais rápida redução da taxa de fertilidade no Ocidente. A situação pode parecer confortável hoje, mas, olhando dez anos à frente, o quadro muda. Há, também sob o ponto de vista da análise demográfica, o risco do câmbio real fora da posição. Se perdurar, essa disfunção vai alterar a estrutura produtiva.
O Brasil, daqui a dez anos, vai ter 250 milhões de habitantes. Vai ter que dar emprego razoável para 140 milhões de pessoas. Se essa gente não receber oportunidades de emprego com remuneração razoável, não tem solução. Esses empregos não virão da agricultura. Só a indústria e os serviços podem dar conta disso. E o câmbio errado destrói esses setores.

FOLHA - Como o governo lida com essas questões?
DELFIM NETTO - Só agora o governo está se mexendo para resolver o problema do câmbio. Mas ainda há aqueles que acham, sem evidência empírica, que não se pode atuar para consertá-lo. Uma imbecilidade. Quanto aos gastos públicos, o comportamento tanto do Executivo como do Congresso é apavorante. Estudo feito pelo competente economista José Roberto Afonso, ligado ao PSDB, aponta que os projetos malucos em tramitação no Congresso, além das maluquices do Executivo, representam uma despesa pública adicional de mais de R$ 100 bilhões por ano.

FOLHA - Mas não é natural aumentar gasto público na crise? Não é disso que se trata a política anticíclica?
DELFIM NETTO - No mundo inteiro a política anticíclica termina quando a demanda privada volta ao nível anterior. Aqui ela continua carregando o custeio depois de terminado o ciclo. No Brasil, política anticíclica nunca é anticíclica.

FOLHA - Mas e o sucesso do país no enfrentamento à crise?
DELFIM NETTO - O país se recuperou mesmo tendo políticas fiscais e monetárias erradas. O diferencial foi o bate-caixa do Lula. O presidente liderou o país ao pedir aos brasileiros que continuassem a consumir. Nenhum economista ousaria fazer isso. Seria considerado um louco heterodoxo. Além disso, o Brasil havia melhorado muito. Na verdade, a Constituição de 1988, apesar de seus exageros, de ter inventado gastos que não cabiam no PIB, criou uma estrutura institucional que está sendo seguida. O Brasil é o país com melhor situação institucional entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China). Somos uma democracia constituída.

FOLHA - E o risco de autoritarismo popular apontado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
DELFIM - O Fernando é um sujeito extremamente inteligente, esperto, e não consegue viver sem um alto protagonismo público. É um provocador enorme. Ele se diverte com esse negócio. As pessoas imaginam que ele está empenhado num estudo sociológico. Que nada. Ele está empenhado numa diversão. E, quando o sujeito responde agressivamente ao Fernando, ele está cumprindo a missão que o Fernando impôs a ele. Esse alerta que ele fez não ajuda em nada.

FOLHA - Por que não ajuda?
DELFIM - Se fosse ele o presidente, teria aceitado o terceiro mandato e destruído a democracia. Essa foi a inteligência do Lula. Resistir a um terceiro mandato a despeito de tudo o que fizeram para que ele aceitasse. Isso faz uma diferença.
Outra injustiça do Fernando é ignorar que o Lula teve um papel decisivo na rápida superação da crise. Nenhum intelectual, nenhuma pessoa que pretenda ter um conhecimento maior de economia teria assumido o risco que o Lula assumiu. Todos pediram para encolher, para pisar no freio. Os banqueiros privados foram os primeiros. O Lula pôs todo o seu patrimônio em risco dizendo: consuma, o desemprego só virá se você não consumir.

FOLHA - Qual é o potencial de transferência de votos do presidente Lula?
DELFIM - A ministra Dilma é uma administradora competente. Quem duvidar disso vai se decepcionar. Mas a transferência de votos não é segura. Tivemos uma prova empírica disso com a última derrota eleitoral da Marta [Suplicy] em São Paulo (nas eleições municipais de 2008). O Lula passeou de mãos dadas com ela duas vezes na cidade, na zona leste. Na segunda vez, trouxe cinco governadores com ele. E qual foi o resultado? Muito pequeno. Talvez no Nordeste você tenha um efeito maior, mas, na verdade, onde conta, do rio Grande para baixo, o poder de transferência parece não valer tanto.

FOLHA - Como o sr. avalia a cautela do governador Serra em se atirar na disputa?
DELFIM - O Serra é sem dúvida um grande administrador, tem ideias próprias que são bastante razoáveis e está fazendo um bom governo. É um competidor muito forte e está se cuidando. Seu problema é que o PSDB não se decidiu. Tem o Aécio nesse processo, que não é só um candidato "redoutable" [temível], mas um agente político eficiente, um centrifugador. Enquanto o PSDB não se decidir, os dois agirão com cuidado.

FOLHA - O que está em jogo nas eleições do ano que vem?
DELFIM - Acho que todos têm que entender, inclusive a Dilma, que o próximo governo não será uma continuação do Lula. O próximo governo terá de enfrentar os problemas do século 21, que embute uma mudança radical na estrutura produtiva. Principalmente na maneira como vamos fornecer energia para o desenvolvimento.

FOLHA - Há 50 anos o sr. publicou "O Problema do Café no Brasil". Como seria recebido hoje um trabalho econômico com a mesma abordagem histórica?
DELFIM - Não seria aceito em lugar nenhum. Hoje estamos controlados por uma matemática bastarda. Há um domínio do brilhantismo, da técnica manipuladora sobre o realismo. Naquele tempo eu usava a matemática de forma moderada. Não havia, como há hoje, nenhum axioma que viola a realidade. Não redigi o artigo com lemas, pois a economia trata de dilemas. A matemática é que trata de lemas.

FOLHA - Como essa visão matemática afeta a análise econômica?
DELFIM - Em novembro de 2008, a rainha [Elizabeth 2ª, do Reino Unido] chegou à London School of Economics e disse: "A única coisa que eu quero saber é o seguinte: há um século os senhores estão aqui estudando. Como é que não previram essa crise?". Vários grupos de professores, então, prepararam respostas a ela. Os neoclássicos detectaram problemas de cálculos, erros em fórmulas. Já aqueles de orientação mais keynesiana disseram simplesmente que os economistas haviam abandonado a economia. Substituíram-na por uma matemática exagerada. Esqueceram a história, esqueceram a filosofia, esqueceram a psicologia, a geografia. É isso mesmo.

FOLHA - O sr. teve um problema de saúde recente. Teve mais sorte com médicos do que com economistas?
DELFIM - Nunca tinha entrado num hospital, nunca tinha feito uma operação. Aos 81 anos, costumo dizer, tive minha primeira experiência. Fiquei dois meses baleado, mas estou bem, estou voltando a trabalhar. Aprendi a respeitar os médicos muito mais do que respeitava. O médico é muito menos ortodoxo do que um economista formado na visão única.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...