sexta-feira, 27 de maio de 2011

Brasil e China ou Brasil x China?

Leio no blog RADAR ECONÔMICO interessante notícia:

Luiz Fernando de Paula*, colaborador do Radar Econômico, chama atenção para editorial publicado ontem (quarta-feira, 24) no jornal “Financial Times”, que pode ter passado despercebido por muitos brasileiros porque no mesmo dia o diário abordou também os problemas envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

O editorial, coluna que expressa a opinião do jornal, diz que o problema entre Brasil e China se agravou por conta da manipulação do câmbio e por barreiras comerciais, duas práticas do governo chinês que atrapalham o País.

Escreve Luiz Fernando de Paula:

“Editorial de ontem da jornal britânico “Financial Times” analisa a complexa relação econômica entre Brasil e China e merece atenção.

Por um lado, há forte complementaridade entre as duas economias: a China é grande importadora de commodities e exportadora de capitais; Brasil é grande exportador de commodities e importador de capitais externos.

Contudo, nem tudo são rosas: a participação de commodities no total das exportações brasileiras mais que dobrou nos últimos dez anos, alcançando quase a metade da pauta de exportações do país, ao mesmo tempo que a participação de manufaturados vem caindo.

O problema tem se agravado em relação a China por dois fatores: a política massiva de intervenção cambial chinesa para manter seu câmbio mais ou menos estável; as barreiras existentes no mercado chinês que dificultam exportações brasileiras, inclusive nas competitivas exportações agrícolas.

Não é para menos que, das 144 investigações anti-dumping que o Brasil lançou no fim de 2010, 50 são contra a China. Enfim, são questões importantes a serem avaliadas na complexa geopolítica Brasil-China.”

Leia o editorial no site do “Financial Times”

* Luiz Fernando de Paula é professor de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisador do CNPq e presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB). É autor, entre outros, do livro “Financial Liberalization and Economic Performance: Brazil at the crossroads” (Routledge, 2011). Blog da Associação Keynesiana Brasileira (AKB): http://associacaokeynesiana.wordpress.com

Origens da crise, falsas e reais by Krugman.

No ESTADÃO, em 23/05/2011, leio Paul Krugman escrevendo sobre “origens da crise, falsas e reais”.

Nestes últimos dias não dediquei muito tempo a tratar das origens da crise financeira; neste exato momento a questão mais abrasadora é o que vem em seguida. Mas a história é um campo de batalha e os costumeiros suspeitos estão se esforçando para reescrever essa história em seu próprio interesse.

Na verdade, para muitas pessoas isso já foi feito: já existe uma ortodoxia de direita no sentido de que Fannie e Freddie é que causaram a bolha imobiliária e sua explosão. Tudo foi culpa do governo!

E de onde partiu essa ideia? Bem, como se verificou, boa parte das alegações tiveram por base publicações de Edward Pinto da AEI, que afirma que Fannie e Freddie detinham uma grande porcentagem das “hipotecas subprime e outras de alto risco” – uma afirmação que, às vezes em discussões casuais, é transformada numa acusação, de que F&F detinham uma grande fração das hipotecas suprime.

Portanto é bom que Mike Konczal nos lembre que a definição de Edward Pinto de hipotecas “do tipo subprime” foi algo que ele criou – e o que acabou se verificando é que as suas supostas categorias de alto risco não tinham, absolutamente, tanto risco e que na verdade elas se assemelhavam mais a uma hipoteca tradicional do que uma verdadeira real suprime.

O documento do qual tirei o diagrama acima, de David Min, deixa claro que os empréstimos feitos por Fannie-Freddie comportavam muito menos risco do que aqueles originados no setor privado – e em particular que os títulos lastreados em hipotecas emitidos por instituições privadas que, essencialmente, não eram regulamentados, implicavam muito mais risco do que qualquer coisa que o governo estava promovendo.

Em resumo, a afirmação de que “o governo é que fez isso” está baseada em dados totalmente errôneos e é difícil ler esta história sem acreditar que esses dados foram deliberadamente arquitetados de modo a nos confundir.

FIM DO RESPEITO A VIDA?

Duas lideranças no estado do Pará que lutavam contra a devastação da floresta amazônica foram mortas em emboscada, tendo um deles tido a orelha arrancada. O comentário geral é que foram mortos por denunciar o desmatamento na mata. A Câmara dos Deputados aprovou o Código Florestal que protege os que desmatam a Amazônia e, no mesmo momento, vaiou os dois mortos de Nova Ipixuna-PA. É muito triste e causa vergonha morar num país que convive com esses fatos e não é tomado por uma legítima indignação. Afinal, que país é este? Um mundo sem lei e sem respeito ao homem e ao meio ambiente? Voltamos à idade da pedra lascada? Até quando seremos coniventes com este estado de coisa? E ainda teremos que aceitar um Belo Monte transformar-se numa desgraça ambiental. É o fim do pouco que restava de respeito ao homem e ao planeta aqui nesta região paraense.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Desindexar a economia.

Editorial da FOLHA DE S. PAULO nesta data comenta sobre: DESINDEXAR A ECONOMIA:

Pela primeira vez desde o pico inflacionário do início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o tema da indexação volta com força ao debate da política econômica. A memória inflacionária no Brasil está viva, mais do que se imagina.

A lista dos preços indexados é enorme. Pedágios, escolas, luz, água, esgoto, telefonia, transporte público, aluguel e medicamentos, entre outros, são direta ou indiretamente reajustados de acordo com a inflação passada. Inflação antiga realimenta a futura.

A taxa cheia nos 12 meses encerrados em abril foi de 6,5%. Já os preços dos serviços subiram 8,6%. O grupo aluguel, educação, condomínio, empregados domésticos avançou 9,3%. Desindexar os preços é mais fácil em momentos de inflação baixa. Como nada se fez nos últimos anos, agora é preciso recuperar o tempo perdido, mas sem afrontar contratos nem impor a vontade do governo ao setor privado.

O primeiro passo certamente é controlar a inflação e trazê-la de volta ao centro da meta, 4,5%. É preciso dar garantias de que isso ocorrerá em 2012, pois, do contrário, qualquer esforço de desindexação carecerá de credibilidade. No médio prazo, um compromisso de redução gradual da meta de inflação ajudaria nesse objetivo.

Também é preciso atenção às questões setoriais. Os contratos de concessões públicas deveriam ser corrigidos não de acordo com o IGP (Índice Geral de Preços), mas segundo planilhas de custo e rentabilidade. A dificuldade é que só na renovação das concessões as regras podem ser alteradas, o que demandará muito tempo.

Além disso, o IGP é um mau indexador. Sua composição confere peso de 60% aos preços no atacado, que sofrem impacto direto da taxa de câmbio e da cotação de commodities. Este peso foi definido décadas atrás e não guarda mais correlação com a estrutura atual da economia. Acabar com o IGP é uma ideia a considerar.

Por fim, o ciclo da indexação se fecha com as empresas: o aumento sincronizado de preços importantes, como salários, matérias-primas e logística, acaba por impor uma cultura indesejável de repasse para o consumidor.

Romper tal ciclo demanda, além do esforço de desindexação, uma agenda de desoneração tributária focalizada, melhoria logística e redução de custos, para gerar mais competição e eficiência.

domingo, 22 de maio de 2011

A renovacao capitalista.

O capitalismo de livre mercado melhora o padrao de vida da populacao. Desde que ADAM SMITH publicou em 1776 o seu famoso livro A riqueza das nacoes, a nocao da mao invisivel que dirige a economia continua atual, mesmo com as crises inerentes ao sistema.

É passada a hora de tentar um retorno ao Estado centralizador e determinante do que a sociedade deve fazer. Como escreveu John Stuart Mill em 1848, ”O laissez-faire, em suma, deveria ser a pratica geral. Todo desvio dele, a não ser que um bem maior o exija, representa um certo mal.”

Delírios brasileiros.

Como é possível pensar, imaginar ou sonhar com um trem-bala entre o Rio de Janeiro e Sao Paulo SE uma capital como a nossa Belem do Para tem apenas meros 6% de seus domicilios ligados a rede de esgotos? O resultado eh que em Belem a taxa de internacao por diarreia atinge por ano 500 pessoas de cada grupo de 100.000 habitantes, proporcionalmente 36 maior que a da cidade de Santos em Sao Paulo.
Diante disso, como acreditar que o Brasil tenha condicoes de sediar a Copa do Mundo de 2014, SE foram investidos apenas 7,5% do necessario para preparar os estadios? O Brasil nao tem a cultura do planejamento e existe sempre uma maneira de deixar tudo para o ultimo minuto. E quem vem a ganhar com tudo isso???

Folha entrevista Luiz Carlos Mendonca de Barros.

A competente ELEONORA DE LUCENA, da FOLHA DE S. PAULO entrevista neste domingo o sempre influente economista LUIZ CARLOS MENDONCA DE BARROS.

Ex-ministro tucano, Luiz Carlos Mendonça de Barros, 68, traça diferenças entre Lula e Dilma. Conclui que a atual política econômica está mais à esquerda. Nesta entrevista, fala de inflação e sugere redução no crescimento.

Também advoga a implantação de quarentena para o capital externo. Para Mendonça, as finanças vão ficar menos confiantes no governo se o ministro Antônio Palocci (Casa Civil) cair. Executor de boa parte da privatização nos anos FHC, avalia que o PSDB é hoje um partido mais medíocre.

Folha - Quais são as diferenças ente Dilma e Lula? Luiz Carlos Mendonça de Barros - A economia de Lula era continuidade da de FHC. Quando a inflação ameaçava subir, o BC aumentava juros. Está claro que Dilma mexeu nessa lógica. O pessoal da Unicamp passou a ter papel de formulador de política. O Banco Central de [Henrique] Meirelles tinha uma linha mais liberal, de gente do mercado financeiro. O BC de Dilma é formado por burocratas.

Existe uma visão de que o BC era sempre capturado pelas finanças.

Não era capturado. O BC reproduzia a leitura que o mercado financeiro tem da política econômica.

E agora não mais?

Não. Há diferença de comportamento. É muito difícil para um burocrata ir contra a hierarquia. Com Lula, havia um conflito entre BC e Fazenda. Quem ganhava era o BC. Houve uma inversão. A política econômica é conduzida por [Guido] Mantega. No sistema de metas, está se levando em consideração o custo para o crescimento. E usam outros instrumentos além dos juros, como as medidas macroprudenciais. O mercado financeiro está insatisfeito? Quer acreditar que não mudou nada. Está num período de grandes incertezas.

O mercado está sendo prejudicado?

Não, mas muda a forma de trabalhar. O mercado detesta mudança. O governo Dilma -e daí a importância da questão do Palocci- tem uma irracionalidade. Tem um lado que aparentemente é dominante e que tem uma leitura diferente da de Lula. E o Palocci é um sinal de que a racionalidade anterior não está abandonada.

O sr. acha que ele vai ficar?

Não sei. A Bolsa caiu, o dólar subiu. É porque tem uma insegurança latente. Se Palocci sair, vai ter um efeito importante sobre expectativas. Vai ficar menos confiante na política do governo. É importante mostrar que Dilma tem política diferente.

É mais à esquerda?

O pensamento econômico do governo Dilma é mais à esquerda do que na época de Lula. Tem uma ideia de intervenção mais forte do Estado.

Com Lula havia um certo conflito. A macroeconomia era bem ortodoxa, mas o Estado intervinha. Com Dilma aumentou essa contradição. Ela é mais ideológica. Não percebeu a herança maldita de Lula. O crescimento do consumo foi forte e não foi acompanhado pelo investimento produtivo. Entraremos num período em que a inflação vai cair porque tem deflação nas commodities. O país pode se desamarrar do sistema de metas de inflação? Não, porque é preciso uma referência. Sou a favor de um sistema de metas que leve o custo da convergência da inflação em consideração. Mas fazer isso agora é complicado. Bagunça as expectativas.

É preciso reduzir o crescimento agora?

Não há dúvida. O aspecto mais preocupante é o mercado de trabalho. No início de Lula o desemprego era de 12%. Hoje é de 6%. Isso faz uma diferença brutal.

Com essa concentração de renda, o salário tem que ser sempre o vilão?

Exatamente porque há concentração de renda é que os salários viram problema. Todo o aumento vira consumo. Há uma capacidade limitada de produzir. A alta de consumo em Lula ocorreu com oferta sobrando. Dilma não tem essa folga. Se a economia crescer na mesma velocidade vai pressionar custos, e a inflação vai subir.

E o câmbio?

O Brasil virou um país desejado por todos. Cerca de 80% do dinheiro que chega é para comprar bens. O real é uma moeda confiável. Evidente que tem um componente de juro, mas não é o principal. O governo precisa rever a agenda de problemas. E o que estaria no topo dessa nova agenda?

A inflação, porque vai virar problema político. Se não resolver, vai bater na popularidade. Mas o primeiro item é o excesso de entrada de capital estrangeiro de investimento. Não é especulativo. Portanto não adianta pôr IOF de um ano.

O sr. faria uma quarentena?

Eu faria uma quarentena mesmo. O dinheiro entra, fica seis meses, um ano, e depois é liberado. O dinheiro de investimento permite que se tenha isso. A entrada de capital externo para investimento é boa. Mas, se não tiver uma dosagem, vira coisa ruim via câmbio.

O que o sr. faria diferente?

Tentaria moderar essa entrada de capital. O Brasil tem hoje uma agenda de problemas derivados do sucesso. A inflação é a ponta do iceberg desses desequilíbrios todos. Por exemplo: qual é o problema de privatizar os aeroportos no Brasil? O único problema é o político. Como Lula venceu fazendo da privatização um demônio, Dilma está com dificuldade e não resolve o problema.

O sr. faria diferente a privatização hoje?

Tem erros na privatização. Por que o pedágio em SP é caro? Porque, na época, Mario Covas quis arrecadar. Ganhava quem pagasse mais. Isso é um absurdo. Porque o concessionário cobra do usuário. O Serra ainda insistiu nesse erro no Rodoanel. Agora mudou. O leilão é feito em cima do menor custo de pedágio.

O modelo de privatização do PT então foi melhor do que o do PSDB?

Nesse caso é melhor. O erro do PT foi fixar um pedágio muito menor do que deveria ser. Aí a qualidade do serviço... A privatização terá que ser revista porque ninguém é perfeito.

No caso da telefonia, a tarifa não é muito alta, uma das mais caras do mundo?

Por causa de imposto. A parte que sobra para o concessionário é uma das mais baixas do mundo porque tem concorrência. Basta olhar a propaganda na TV.

Mas não houve a competição prevista. As teles divididas se uniram na Oi, e em SP é quase só Telefônica, não? Isso na telefonia fixa. Porque tem um problema técnico. Não é econômico fazer dois sistemas de cabo numa região. Não se sabia disso na época. Mas o telefone no Brasil é celular. É caro porque metade da tarifa é imposto.

E a crise do PSDB?

O PSDB sofre uma mudança de líderes que não têm a visão estratégica dos que ficaram para trás. É um partido mais medíocre. Tem o azar de ser oposição num momento em que a população está satisfeita. A maior contribuição do Lula foi transformar o PT num partido burguês igual aos outros. O sr. concorda que ex-ministro é valorizado pelo mercado? Precisa ter algum talento. Político é paparicado em qualquer lugar no mundo. Nos EUA há uma forma mais transparente, clara. O lobby é registrado. Deveria ter isso aqui. Palocci não está muito enfraquecido? Prefiro olhar de longe. Eu já passei por isso. A imprensa às vezes é injusta.

sábado, 21 de maio de 2011

A INFLAÇÃO DE MIRIAM LEITÃO.

ÉRICA FRAGA na FOLHA DE S. PAULO de hoje, resenha o novo livro de MIRIAM LEITAO, já divulgado aqui neste blog.

Festa de casamento em meio a desabastecimento de comida. Compra do primeiro carro zero do casal ameaçada por criação de depósito compulsório sobre vendas de automóveis. Já com uma filha pequena, falência da família após confisco da poupança.

Todos esses percalços marcaram a vida da professora Edilene Janjar. Não se trata de obra de ficção. Como milhões de brasileiros, Edilene, do Rio Grande do Sul, e sua família foram vítimas da inflação que dominou a economia brasileira por décadas e das desastrosas tentativas de sucessivos governos para combatê-la.

Em meio a tantos percalços, a professora até teve sorte, conseguiu se reerguer. Outras famílias sofreram perdas irreparáveis. O pai da ex-jogadora de vôlei Ana Moser morreu de depressão anos depois de ir à falência por conta do congelamento arbitrário das aplicações financeiras promovido pelo Plano Collor.

As histórias da desconhecida Edilene e da famosa Ana são narradas no livro "Saga Brasileira, a Longa Luta de um Povo por sua Moeda", de Miriam Leitão, jornalista e colunista de economia do jornal "O Globo".

Com farto material de bastidores e pesquisa, o livro vai dos primeiros surtos de altas de preços no Brasil, ainda no século 19, ao descontrole inflacionário do fim da década de 80 e início dos anos 90.

Atravessa o Plano Real e conta os esforços após o sucesso inicial de debelar a inflação para manter a estabilização da moeda. Os vários casos dos personagens que Miriam usa para ilustrar os fatos fazem a ponte entre história econômica e vida real.

Mesmo para quem viveu as décadas de escalada inflacionária, o livro traz bastidores interessantes. Exemplos, como o diálogo a seguir, mostram a difícil interação entre técnicos e políticos, que prolongou o drama da inflação: "Presidente, não existe nada mais popular do que acabar com a inflação, por isso agora é preciso cortar gastos para manter a inflação baixa", argumentou o economista Persio Arida, em maio de 1986. "Você é muito moço, Persio. Um dia vai entender. O povo quer obras, quer gastos, é isso que o povo quer", disse o presidente José Sarney.

Arida, oriundo do chamado grupo da PUC-Rio, foi um dos mentores do plano que finalmente levou ao início da estabilidade em 1994. Mas havia participado antes -com outros economistas da PUC-Rio- do Plano Cruzado, elaborado durante o governo Sarney.

A impopularidade de Sarney no fim do seu mandato subiu por conta do fracasso do Plano Cruzado e pelo descontrole inflacionário. A população não queria gastos. A obsessão nacional era se livrar da inflação.

O livro mostra, no entanto, que até os governos que fracassaram em derrubá-la deram alguma contribuição para colocar ordem na bagunçada economia brasileira. O fortalecimento do Banco Central, a criação do Tesouro Nacional e o início de abertura da economia são exemplos de passos que ajudaram a construir a estabilidade. Como diz a autora no livro: "Quem hoje se aflige, com razão, pelo muito que falta fazer não tem ideia de como o Brasil já foi".

SAGA BRASILEIRA, A LONGA LUTA DE UM POVO POR SUA MOEDA

AUTOR Miriam Leitão

EDITORA Record QUANTO R$ 49,90 (476 págs.)

AVALIAÇÃO Bom

Bem-vinda mudança de discurso .

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso) e escreveu especialmente para a FOLHA DE S. PAULO o artigo abaixo.

"A inflação brasileira está sendo afetada pelo mercado de trabalho apertado e pelo setor de serviços. Mercados emergentes com as economias aquecidas, como Brasil, Índia e China, correm o risco de ter a inflação provocada pelo aumento dos preços das commodities espalhando-se por outras áreas."

Fiquei surpreso com essas declarações do ministro Mantega ao navegar na internet ontem pela manhã, como faço todos os dias. Como sabe o leitor da Folha, há algum tempo tenho feito essa mesma leitura da inflação brasileira. Finalmente, parece que o ministro da Fazenda deixou de lado seu discurso de que a aceleração da inflação, neste início do governo da presidente Dilma, devia-se apenas a fatores externos, principalmente o aumento dos preços em dólares dos produtos primários.

O fato de reconhecer que as condições do mercado de trabalho e o descompasso entre demanda e oferta no setor de serviços também estão afetando a dinâmica da inflação é um grande e desejável passo do ministro. Parece-me ser crível que essa mudança de posição seja também endossada pela presidente Dilma, o que aumenta o espaço para que a inflação seja combatida como se deve daqui para a frente.

Para ficar ainda mais confiante nessas afirmações, gostaria de ouvir, das vozes mais representativas do Palácio do Planalto, o reconhecimento de que o crescimento da economia vai ter de ser reduzido dos níveis atuais. Mas temo que isso seria exigir demais de um governo do PT.

O Banco Central divulgou nesta semana sua projeção de crescimento do PIB no mês de março passado, o que permitiu aos analistas estimar, para o primeiro trimestre do ano, aumento da ordem de 6,5% e reforçou as apostas de crescimento de 4,5% para 2011.

Esse cenário é totalmente incompatível com a estratégia de trazer a inflação para o centro da meta do Copom ao longo de 2012 com gradualismo e sem matar a galinha dos ovos de ouro do consumo, para usar uma imagem do próprio ministro Mantega.

Para que essa convergência ocorra, será preciso esfriar ainda mais a economia, fazendo com que a demanda e a oferta em mercados importantes se aproximem e reduzam o poder de preços dos agentes econômicos.

Nos próximos dois ou três meses, os índices de inflação serão influenciados pela queda vigorosa dos preços de produtos importantes, como alimentos, álcool e gasolina.

Para junho e julho estão previstas taxas de inflação bastante baixas, negativas até se nada atrapalhar o comportamento da natureza nesse período. Mas, passado esse período de bonança consentida, as taxas de inflação vão voltar a se acelerar e as projeções que o mercado vai construir para 2012 podem deixar o BC -e o Copom- em saia justa.

Aparentemente, toda a equipe do governo -como fez o ministro Mantega- está mais atenta às verdadeiras causas do aumento da inflação e à necessidade de uma ação mais efetiva.

O próprio BC vem emitindo sinais de que pode levar o processo de aumento dos juros mais longe do que havia previsto no começo do ano. O reconhecimento das causas internas da inflação é um passo importante na direção de seu enfrentamento exitoso, mas não é tudo.

O sucesso vai estar associado também às doses dos instrumentos que serão usados para desaquecer a economia, enquanto os investimentos e a mobilização de novos contingentes de trabalhadores maturam. Como tenho dito, não serão as gotinhas de Weleda -nome carinhoso que tenho dado para as chamadas medidas macroprudenciais- que nos farão chegar a 2012 com um quadro mais equilibrado de oferta e de procura nos mercados não afetados por importações.

Será preciso reforçar ainda mais o controle da expansão do crédito ao consumo, pois, em um ambiente de crescimento dos salários e do emprego, ajudado ainda pela megacorreção do salário mínimo do próximo ano, essa pode ser uma alavanca muito poderosa de crescimento.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Qual o tamanho do Estado ideal?

Presentes ontem no 23º Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga divergiram sobre o tamanho do Estado brasileiro.
Fraga, que preside o Conselho de Administração da BM&FBovespa e liderou o BC na gestão de Fernando Henrique Cardoso, disse que a presidente Dilma Rousseff "optou por um governo e um Estado bastante grandes", mas investe "muito pouco".
Segundo Fraga, a taxa de investimento do país, na casa dos 18%, não sustenta um crescimento na faixa de 4% -patamar de expansão do PIB previsto para 2010.
Mercadante rebateu o comentário sobre o tamanho do Estado, dizendo não achar "que a saída seja insistir na tese de um Estado mínimo".
O ministro afirmou, ainda, que o governo FHC "privatizou tudo" e que só restaram BNDES, Petrobras e bancos públicos -instituições, destacou ele, que foram importantes na política anticíclica promovida para o país sair da crise global de 2008 e 2009.
O ministro e o ex-presidente do BC, no entanto, concordaram em pontos como a necessidade de transparência na gestão pública e o avanço em mecanismos de avaliação de desempenho, metas e controles internos.
Armínio Fraga elogiou as ideias lançadas pela presidente Dilma de focar a meritocracia e a melhora da gestão pública.
Afirmou, porém, que é "muito difícil" destituir aliados e indicar servidores pelo mérito, e que falta ao BNDES "um esforço de mais transparência e autoavaliação".

USA: OS MELHORES MBAs.

No GLOBO de hoje, Conheça as instituições de ensino que os executivos americanos escolhem para cursar um MBA:

Cerca de 42 executivos de grandes empresas que fazem parte do ranking "Top 100 CEOs", da revista Fortune, contam com um MBA ou mestrado em finanças ou economia em seus currículos. Mas quais são as escolas de negócios mais populares entre esse grupo? Liderando a lista está a Harvard Business School, seguida pela Columbia Business School, como mostra reportagem publicada no site da revista. Abaixo listamos as instituições de ensino eleitas pelos principais executivos dos Estados Unidos:

1) Harvard Business School- A HBS confirma sua boa reputação com oito dos executivos que fazem parte do ranking, mais do que qualquer outra escola de negócios. Juntos, o time emprega mais de um milhão de pessoas e administra empresas que movimentam cerca de US$ 550 bilhões, como General Electric e J.P. Morgan Chase.

2) Columbia Business School- A Columbia tem apenas quatro executivos do ranking da Fortune, metade do que contabiliza Harvard, mas o número é forte o suficiente para classificá-la em segundo lugar. Não é nenhuma surpresa que três dos quatro CEOs comandem instituições financeiras, já que a escola de negócios tem a reputação de ser uma potência em finanças e um caminho direto para Wall Street.

3) Northwestern Kellogg School of Management -Ocupando a terceira posição, a Kellogg conta com três executivos (de empresas como Target, DuPont e Allstate), empatando com a Johnson Cornell School.

4) Johnson Cornell School - A Cornell também tem três CEOs pesos-pesados do ranking da Fortune. O trio compõe os quadros das seguintes organizações: Kraft Foods, Aetna e Sprint Nextel.

5) Stanford Graduate School of Business -Surpreendentemente, os dois executivos do ranking que cursaram MBAs em Stanford (um da Abbott Laboratories e outro da Time Warner) têm pouco a ver com negócios ligados à área de tecnologia do Vale do Silício.

6) Universidade de Chicago (Booth School) -- A Booth pode comemorar o fato de ter tido como aluno o CEO da terceira empresa do ranking das 100 maiores organizações: John Watson, da Chevron.

7) Universidade do Texas (McCombs School) - A instituição conta com um aluno que está no comando da quarta colocada do ranking da Fortune: James Mulva, da ConocoPhillips.

8) Drexel Univ. LeBow College of Business - Com sede na Filadélfia, a universidade superou sua rival, Wharton, por ter como aluno Michael Williams, CEO da Fannie Mae, quinta colocada na lista.

9) MIT Sloan School of Management -A Sloan tem apenas um executivo presente no ranking da Fortune: Alan Mulally, da Ford.

10) MBAs de ''segunda divisão'' - Embora ajude muito ter um MBA de uma escola de negócio altamente classificada, há um bom número de CEOs na lista que tiraram proveito de seus graus em escolas de segunda linha. Entre eles estão: Ivan Seidenberg (Verizon), que obteve seu MBA pela Pace University, de Nova York; Randall Stephenson (AT&T), que cursou MBA na Universidade de Oklahoma; Michael Fannie Mae (Williams), que cursou a Drexel, na Filadélfia; e John Hammergren (McKesson), que obteve seu MBA na Xavier University, em Cincinnati.

Estatisticamente um dia triste.

Wilton Bussab (1940-2011) - Foi estatisticamente significante

A camiseta que Wilton de Oliveira Bussab adorava usar tinha estampada a frase: "Eu sou estatisticamente significante". Era da ABE (Associação Brasileira de Estatística), que ele ajudou a fundar e que presidiu duas vezes, nos biênios 1986-1988 e 2006-2008.

Tom, como era chamado na família, nasceu em Brotas (SP) e lá viveu até os dez anos. Seu pai teve uma fazenda na cidade, mas decidiu vendê-la e ir com a família para a capital paulista, onde trabalhou com comércio.

Na USP, Wilton se formou em matemática, em 1964. Seguiria na área de estatística, graduação que não existia na universidade quando era aluno. Ele ajudaria a criá-la.

Tornou-se professor da USP, onde concluiu o mestrado em 1971. O doutorado, defendido em 1976, ele fez em Londres, na Inglaterra.

Também deu aulas na FGV. Foi diretor acadêmico da fundação, na qual ficou por mais de 40 anos, e consultor do IBGE para o Censo.

Como lembra o filho Murilo Bussab, diretor-executivo de circulação e marketing do Grupo Folha, o pai vivia no escritório corrigindo provas, lendo ou escrevendo livros (publicou vários) e fazendo programas para cálculos.

Em casa, como enfeite, tinha uma máquina de perfurar cartões usada nos primeiros computadores da USP _os furinhos eram lidos e traduzidos para números.

Wilton, segundo conta a família, era sério, mas sereno; firme em suas posições, mas educado. Apesar de estatístico, escrevia poemas.

Deu aulas até um câncer fazê-lo parar. Morreu na segunda, aos 71. Deixa viúva, dois filhos e quatro netos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Miriam Leitao e o seu novo livro.

Tem livro novo na praca. MIRIAM LEITAO escreve sobre economia, of course, notadamente a nossa sempre lembrada hiperinflacao. Abaixo resenha postada pelo colega PERSIO ARIDA. .

Em seu novo livro, Míriam Leitão recupera, com a leveza e simplicidade do excelente jornalismo que a caracteriza, a longa saga através da qual o Brasil logrou finalmente livrar-se da hiperinflação. Num país como o nosso, que não tem como um de seus pontos altos a memória e a reflexão sobre sua própria história, isso já seria em si um feito digno de nota e admiração. Mas Míriam Leitão foi além ao chamar a atenção para um ator por muitos ignorado: nosso próprio povo. Todos sabemos que inflação não é criada pelos mercados, mas sim o resultado de políticas econômicas equivocadas. O que poucos se dão conta é que, para que a estabilização econômica seja bem sucedida, tem que haver, além de um bom governo, um pacto social de apoio e adesão.

Conto aqui um episódio que ilustrará bem o que quero dizer. Em 1984, dez anos antes do Plano Real e dois anos antes do Plano Cruzado, fiz uma apresentação no MIT, do trabalho que havíamos escrito, André Lara Resende e eu, sugerindo uma reforma monetária para terminar com a inflação no Brasil. Mário Henrique Simonsen e um professor de Harvard, que, mais tarde, seria figura importante no governo americano, eram os debatedores.

Expliquei o melhor que consegui a ideia do que mais tarde foi a URV, no trabalho aparecia como ORTN pró-rata dia, uma moeda virtual de transição. Simonsen, que era um gênio da didática, me ajudou - "o Persio não explica bem suas próprias ideias", disse ele brincando. O professor de Harvard, polemista por vocação, mas excelente economista, terminou por entender, mas vaticinou: uma abordagem originalíssima, mas sem chances de funcionar. Explicou: primeiro, por que as pessoas fariam uma conversão voluntária dos contratos na nova moeda, o que elas ganhariam com isso? Segundo, se a inflação acabar de repente, numa reforma monetária, sem um enorme desemprego, todo mundo vai achar que é fácil acabar com a inflação. Como os políticos gostam de gastar, a tentação de reinflacionar a economia será irresistível.

Não foi o que aconteceu no Plano Real. A primeira tentativa, o Plano Cruzado, falhou, mas conseguiu incrustar no imaginário coletivo a ideia de que a estabilidade monetária era possível. Quando do Plano Real, a população espontaneamente tratou de converter contratos em URV. E depois de lançado o programa, reafirmou, em todas as eleições, que políticos que não levassem a estabilidade a sério não teriam seu voto. Sem o pacto social de apoio, o Plano Real não teria dado certo.

Míriam Leitão conta-nos a história da nossa moeda entremeando conversas de bastidores, depoimentos pessoais, erros e acertos de política econômica. Longe dos muitas vezes aborrecidos textos acadêmicos, o que se lê é uma história viva, fluente. Recomendo vivamente a leitura. Os que experimentaram a hiperinflação poderão saborear episódios que acompanharam de perto; os mais jovens, afortunados por terem escapado do Brasil antigo, poderão se familiarizar com uma história que, em muitos momentos, lhes parecerá surreal.

* PERSIO ARIDA é economista e ex-presidente do Banco Central e do BNDES.

domingo, 15 de maio de 2011

PAUL KRUGMAN E A GRÉCIA.

Parabéns a Mark Weisbrot por dizer o indizível, e defender a saída da Grécia da zona do euro. Concordo com boa parte do que ele diz, mas ainda não estou pronto para aconselhar uma medida como esta, e tenho dois motivos para tanto.
Primeiro: apesar de concordar que a situação vivida pela Argentina seja o melhor parâmetro de comparação, trata-se de um paralelo imperfeito: embora a Argentina tivesse um câmbio supostamente fixo, ainda havia no país notas de pesos em circulação, e por isso a mecânica da saída deste câmbio foi muito mais fácil do que seria uma saída do euro. E a mecânica é de grande importância; pode significar a diferença entre um breve período de choque e um prolongado colapso financeiro.
Segundo: sendo um país relativamente pobre com um histórico de governos instáveis, a Grécia tem muito a ganhar ao desempenhar o papel de boa cidadã dentro do projeto europeu – desde ganhos concretos, como a ajuda dos fundos de coesão, até outros mais difíceis de quantificar – mas nem por isso menos importantes -, como o efeito estabilizador, tanto para a economia quanto para a política, de se fazer parte de uma grande aliança democrática. No longo prazo, a decisão de deixar o euro provocaria para a Grécia um estrago muito maior do que o enfrentado pela Argentina por conta da desvalorização vivida naquele país.
Dito isto, Weisbrot está certo ao apontar que o programa de resgate para a Grécia não está funcionando; não está nem mesmo perto de funcionar. Espera-se no mínimo uma reestruturação da dívida que de fato reduza o fardo do endividamento, em vez de apenas distribuí-lo no tempo. E, quanto mais tempo a situação continuar sem uma solução, menor será a chance de a Grécia conseguir permanecer na zona do euro, mesmo que assim deseje.

Qual o seu economista preferido?

Vide com curiosidade o link http://econjwatch.org/articles/economics-professors-favorite-economic-thinkers-journals-and-blogs-along-with-party-and-policy-views. A indicacao é do MANKIW, que eu li no blog do sempre pesquisador Alexandre Schwartsman. O assunto é muito interessante para a nossa área: os economistas favoritos dos economistas. E que cada qual escolha os de sua preferencia.
Boa leitura! Abaixo um breve resumo.

First-place positions as favorite economist in their respective categories are Adam Smith (by far), John Maynard Keynes followed closely by Milton Friedman, Gary Becker, and Paul Krugman. For journals, the leaders are American Economic Review and Journal of Economic Perspectives. For blogs, the leaders are Greg Mankiw followed closely by Marginal Revolution (Tyler Cowen and Alex Tabarrok).

Como reduzir os juros.

Recebi do professor CARLOS PIO o artigo abaixo publicado no ESTADAO de 12 de maio de 2011, de autoria do competente EDMAR BACHA.

Porta-vozes do atual governo proclamam que a ideia de combater a inflação só com os juros está ultrapassada. A alternativa parece envolver restrição à expansão do crédito, controle dos preços dos combustíveis e desindexação dos preços administrados. Que os juros são elevados demais ninguém discute, mas a alternativa que o governo oferece é pouco convincente.

Em publicação recente (*), defendi que é preciso desenvolver uma agenda específica para trazer os juros brasileiros para níveis civilizados. Apresento, aqui, um sumário daquele diagnóstico e de suas recomendações.

O diagnóstico é que os juros permanecem elevados por causa de nosso passado hiperinflacionário e de superindexação. A moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou no mundo desde o fim da 2.ª Guerra até o Plano Real (exceto pelo Congo!). Apesar disso, o Brasil não se dolarizou. Nossa moeda era ruim, mas era a única que continuava a circular no País. Para conseguir esse feito, nos tempos da alta inflação inventamos as contas remuneradas. Depois que a inflação foi domada, os juros elevados cumpriram esse papel.

Para reduzir os juros, há que começar pelo começo. Um país com nosso passado de hiperinflação e sucessivos calotes do governo não se pode dar ao luxo de ter uma dívida pública tão elevada. Em minhas estimativas, uma redução da dívida do setor público dos atuais 40% para 20% do PIB faria os juros brasileiros caírem à metade.

Enquanto se implementa um controle dos gastos públicos que leve a essa redução da dívida, sugiro que parcela das reservas internacionais seja dada em garantia da dívida interna. Em caso de calote do Tesouro, a dívida interna seria paga em dólares por agentes fiduciários do governo no exterior. Essa garantia permitiria antecipar no tempo parte do efeito sobre os juros da redução da dívida antes sugerida.

O próximo passo seria a definição pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de uma meta de inflação de longo prazo, de 3% ao ano, a ser alcançada até o final da década.

A medida seguinte seria a liberalização das aplicações financeiras no exterior. Atualmente, investimentos no exterior estão restritos a clientes de grande porte e assim mesmo a liquidação financeira tem de ser feita em reais, dentro do País. Propõe-se deixar aberta a porta de saída, para reduzir o prêmio de risco embutido na taxa de juros por causa dos impedimentos que hoje existem para aplicações financeiras em jurisdições que não a brasileira.

Há, então, que desmontar mecanismos montados no passado que limitam o alcance da política monetária. Cerca de 30% dos créditos bancários no País são direcionados, ou seja, são desembolsos do BNDES e créditos habitacionais e para o setor agrícola. O custo e volume desses créditos independem da taxa Selic do Banco Central. Portanto, essa taxa tem de ser mais alta do que seria o caso se ela também afetasse os créditos direcionados. A proposta é, pois, que o Conselho Monetário Nacional passe a condicionar os volumes e os custos dos créditos direcionados aos movimentos da taxa Selic.

Finalmente, cerca de 30% dos bens que compõem o índice da inflação são administrados, ou seja, seus preços respondem à inflação passada, e não às condições presentes da economia. Tais preços referem-se a contratos de longo prazo, como aluguéis residenciais, e portanto têm boas razões para serem indexados. A proposta é que eles passem a ser indexados não pela inflação passada, mas sim pela meta de inflação de longo prazo, de 3% ao ano. Mas a eficácia da mudança das regras para os preços administrados depende de que, antes, sejam adotadas as medidas fiscais e monetárias aqui sugeridas. Se for introduzida de forma isolada, a desindexação dos preços administrados pode desorganizar a atividade econômica.

(*) O artigo referido é Além da tríade: como reduzir os juros, em Edmar Bacha e Monica de Bolle (orgs.), Novos Dilemas de Política Econômica: Ensaios em Homenagem a Dionisio Dias Carneiro. LTC Editora, 2011.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Lição de casa

Há visíveis discordâncias entre os economistas sobre como superar os problemas deixados pela crise de 2007-09.
Ela desempregou, no plano da economia real, aproximadamente 30 milhões de cidadãos, desarticulou ainda mais a precária condição fiscal de um grande número de países, acentuou os imensos desequilíbrios (positivos e negativos) no balanço em conta-corrente de alguns deles e introduziu sérias dúvidas sobre a continuidade do uso do dólar como unidade de conta internacional. Essa confusão não é o fim, mas o começo de um novo conhecimento econômico.
É evidente que o conhecimento só avança quando é contestado pela realidade: a ciência progride sobre suas falhas. O estado de dúvida ampla, geral e irrestrita deve levar à modéstia nas recomendações "normativas" frequentemente extraídas de modelos elegantes, mas de discutível vinculação com a realidade.
Abre-se um vasto campo de conhecimento a ser retrabalhado e explorado.
Não devemos desanimar ou nos enganar com essa visão quase niilista da economia. O conhecimento acumulado nos últimos 200 anos é rico de ensinamentos para a boa governança dos Estados.
O fracasso do "mainstream" da macroeconomia não é o fracasso da economia, mas apenas o de uma de suas "escolas". E, mais importante, não é licença para amadorísticas aventuras experimentais.
Paradoxalmente, nunca foi tão importante como agora conservar o que sobrou da boa e velha lição que fez o sucesso do Estado indutor constitucionalmente controlado:
1º) Realizar uma política fiscal com olhos no longo prazo, com moderados deficits nominais, boa qualidade no financiamento da dívida e controle da relação dívida pública/PIB;
2º) Economizar nos gastos do governo para abrir espaço ao seu investimento;
3º) Suprir com eficiência os bens públicos que o mercado não pode produzir;
4º) Realizar uma política monetária que garanta a estabilidade do valor da moeda e do sistema financeiro e que, com o conforto da política fiscal, leve a taxa de juros real interna a igualar-se à externa;
5º) Criar os incentivos corretos para estimular os agentes econômicos;
6º) Dar liberdade bem regulada aos mercados;
7º) Não tentar violar as identidades da contabilidade nacional.
Mesmo com uma boa lição de casa, a política econômica exige arte para calibrar os instrumentos disponíveis (por exemplo, as políticas fiscal e monetária), para atingir os objetivos: uma inflação parecida com a do resto do mundo e o pleno uso dos capitais humano e físico. Por uma boa razão: as políticas fiscal e monetária não são independentes.
A "arte" é juntar pragmatismo, pertinácia e paciência.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...