Claudia Antunes, hoje na FOLHA DE S. PAULO, num texto realmente para discussão neste final de 2011.
Um ótimo contraponto
aos que comemoram a punição exemplar aplicada aos invasores da USP e defendem o
enquadramento dos rebeldes sem causa do campus é o artigo "Universidades
sob ataque", do historiador britânico Keith Thomas, recém-publicado na
"London Review of Books".
O texto vem a calhar porque, por
condenáveis que tenham sido os métodos usados na ocupação da Coordenadoria de
Assistência Social da USP, no ano passado, o episódio virou desculpa para ataques
generalizados à liberdade e à autonomia acadêmicas. Os cursos não técnicos, em
especial, são caricaturados como redutos de radicais e preguiçosos.
Esse conservadorismo não é original.
Thomas, professor e ex-dirigente de Oxford, descreve ofensiva semelhante em seu
país, onde um programa oficial tenta alinhar as universidades às necessidades
imediatas do mercado e trata alunos como consumidores de saber empacotado.
É bom registrar que o historiador não é
contrário à ciência aplicada nem a que se exija mérito de professores e
estudantes. Mas a ênfase na aferição quantitativa, aponta, tem resultado em
calhamaços de trabalhos desnecessários ou concluídos de forma prematura.
Lá como cá, um argumento recorrente é
que a universidade pública deve mostrar resultados rápidos para prestar contas
aos contribuintes que a sustentam. Despreza-se, diz Thomas, a ideia de que o
ensino superior tem um "valor não monetário", dando espaço ao
"pensamento especulativo" essencial à democracia -e que, afinal, fez
o prestígio histórico da academia britânica.
Não se contesta que a universidade
brasileira, como outras instituições nacionais, precisa ser aprimorada. Ruim é
a inspiração em modelos de reforma como a do Reino Unido atual, com sua
juventude desencantada e sua economia quase reduzida às instituições
financeiras da City.
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