quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dez anos de novos Bric para o mundo.


Jim O"Neill é presidente do Goldman Sachs Asset Management e escreveu este artigo para o VALOR ECONÔMICO..

Há dez anos publiquei relatório intitulado "O Mundo Precisa de Melhores Brics Econômicos" (brics soa como "tijolos" em inglês), quando lancei pela primeira vez o acrônimo que usei para descrever o provável alto crescimento que Brasil, Rússia, Índia e China alcançariam. Está claro agora que a expansão desses quatro países foi ainda mais forte. Os Bric tornaram-se um nome familiar tanto na esfera cultural como de negócios, além de ter resultado na criação de um grupo político.

O décimo aniversário coincide com preocupações terríveis quanto à economia mundial, especialmente para os países mais desenvolvidos. Continuo otimista de que à medida que os quatro gigantes emergentes, e mais alguns, continuarem se expandindo em tamanho e riqueza, sua prosperidade não apenas fortalecerá seu papel no mundo, mas também dará a chance de um futuro melhor às economias que atualmente se deparam com mais desafios pela frente. A ascensão em andamento dos Bric será boa para esses países e para o resto de nós. Além disso, seu crescimento ao longo dos últimos dez anos sugere que, enfim, poderemos ver algumas melhoras consideráveis que deem mais eficiência à formulação mundial de políticas e a suas instituições.

Meu estudo de 2001 tinha três mensagens principais.

Primeira, mostrei que se Brasil, Rússia, Índia e China continuassem com seus altos índices de crescimento, passariam a representar uma parte muito maior da economia mundial em 2010. No cenário mais otimista que contemplei, indiquei que sua participação combinada do Produto Interno Bruto (PIB) mundial subiria de aproximadamente 8% para, talvez, 14%. No fim deste ano, provavelmente a porcentagem girará em torno a 20%, com o PIB tendo aumentado de cerca de US$ 3 trilhões para provavelmente pouco mais de US$ 13 trilhões. Isso representa cerca de um terço do aumento total do PIB nominal mundial dos últimos dez anos.

O crescimento real dos Bric, em torno a 8%, ajudou a levar a média mundial para 3,5%, apesar dos imensos problemas vistos em 2001-2002, 2008 e, é claro, desde então. Se não tivesse sido pelos Bric, o crescimento mundial teria ficado mais próximo à decepcionante média de 1,6% verificada no chamado mundo desenvolvido. Como muitas vezes comento, o aumento combinado, de US$ 10 trilhões, na prática, criou o equivalente a seis ou sete vezes o que era o Reino Unido em 2001 ou, de fato, o equivalente a toda uma economia dos Estados Unidos.

Ao olharmos para o futuro, nos próximos dez anos, os quatro países provavelmente verão desaceleração em seus índices de crescimento, mas sua participação no PIB mundial quase certamente aumentará. A China parece encaminhada a crescer de 7% a 8%, já que terá de enfrentar vários desafios, mas a Índia pode ter aceleração e por fim atingir taxas de crescimento no estilo chinês, especialmente se persistir em seu recém-descoberto zelo por reformas, como a importante decisão de dar boas vindas ao controle majoritário estrangeiro em empresas do setor de varejo. Em poucos anos, o PIB nominal combinado dos quatro países superará tanto o dos Estados Unidos como o da Europa.

Com base em seu provável crescimento, a segunda parte de meu relatório de 2001 argumentava que os Bric precisavam assumir papel mais central na formulação mundial de políticas econômicas. Eles continuaram excluídos por muitos anos, o que os levou a promover seus encontros políticos conjuntos anuais. Na verdade, foi necessária uma crise total como a de 2008, para os países avançados finalmente perceberem a importância central dos Bric para a economia mundial moderna, sendo que a decisão de colocar o G-20 no centro da formulação política global foi basicamente uma iniciativa para incluir os Bric. Em 2001, argumentei que cada um dos Bric deveria juntar-se aos EUA, Japão, região do euro e talvez Canadá e Reino Unido para formar algum novo "G", talvez um G-9 ou um novo G-7, se Reino Unido e Canadá ficassem excluídos.

A terceira ideia no relatório de 2001 indicava que, tendo em vista sua moeda comum, França, Itália e Alemanha deveriam abandonar sua representação nacional nos órgãos mundiais e no G-7, permitindo uma governança global muito mais eficiente. Que melhor forma de demonstrar seu verdadeiro compromisso com a União Monetária Europeia (UME) do que um passo tão firme de verdadeira liderança? Nos anos subsequentes, como percebemos recentemente, tal liderança firme da UME não marcou presença. Quem sabe, a escala da crise que se desdobra atualmente leve os líderes europeus a dar passos mais ousados.

Enquanto isso, à medida que os países do Bric continuem a ver sua sorte melhorar, proporcionarão mais e mais oportunidades para que o resto de nós aprimore seus padrões de vida e prosperidade. De fato, para que o mundo continue crescendo frente aos desafios que se apresentam a muitas economias desenvolvidas, precisamos da argamassa econômica dos Bric, algo que, por sorte, eles têm de sobra.

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