LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, hoje na FOLHA DE S. PAULO, encerrando o ano útil de 2011. Argentina, nada a imitar. O Brasil está no caminho certo.
Os fatos são suficientemente fortes para
mostrar que olhar para a Argentina com inveja não faz o menor sentido
A mídia brasileira e a mundial deram
grande destaque ao fato de que o Brasil tomou, em 2011, o lugar da Inglaterra
como a sexta maior economia do mundo.
Isso estava previsto para ocorrer
somente em 2013, mas a crise europeia e o elevado crescimento brasileiro no ano
passado fizeram com que ocorresse agora.
Nos próximos anos -entre 2013 e 2014-
será a vez da poderosa França ser ultrapassada pelo Brasil nessa competição
entre nações emergentes e países desenvolvidos que já dura uma década.
Com a Europa entrando em um período
longo -talvez mais de cinco anos- de ajustes estruturais e o Brasil surfando um
crescimento continuado, talvez até a poderosa Alemanha fique para trás antes
que a década atual termine.
Mas, nesta minha última coluna do ano,
quero chamar a atenção do leitor para as economias emergentes perdedoras e que,
por erros próprios, estão fora dessa arrancada de crescimento.
Entender por que países como a Argentina
estão caminhando na direção oposta da do Brasil é uma forma de fortalecer o
caminho que estamos trilhando desde que FHC assumiu o poder em 1995.
Até porque temos entre economistas
brasileiros, muitos deles ligados ao governo, os que insistem em apresentar a
política econômica peronista da família Kirchner como modelo a ser seguido.
Em 1980, entre as 20 maiores economias
do mundo, a Argentina ocupava a 10ª posição e o Brasil, a 16ª. Vinte anos
depois essas posições tinham se invertido, com o Brasil na 10ª posição e a
Argentina na 16ª. Em 2010, o Brasil já era a 7ª economia no mundo e a Argentina
estava fora da lista das 20 maiores. Um desastre completo nestes 30 anos.
Nas projeções do FMI para 2015, o Brasil
já será a 5ª economia do mundo, ultrapassando a França, e a Argentina estará
relegada à 27ª posição. Que fracasso...
Certamente o leitor vai concordar comigo
que os fatos são suficientemente fortes para mostrar que olhar para a Argentina
com inveja não faz o menor sentido. Pelo contrário, é fugir das ideias básicas
que sustentam o modelo de política econômica no nosso vizinho como o diabo foge
da cruz. E quais são os pontos de divergência entre a maneira brasileira de
administrar a economia e a argentina?
Para mim a questão principal do modelo
argentino é a constante intervenção do governo, sempre na busca de resultados
econômicos e políticos de curto prazo, nas regras fundamentais de funcionamento
dos mercados. Com isso não existe um futuro para as decisões empresariais fora
das relações especiais com o governo. Cito a seguir alguns dos pontos centrais
do modo argentino de gerir uma economia de mercado e que são resultantes da
intervenção do governo.
A repressão financeira, que destruiu o
mercado de crédito privado e de capitais, fez com que não exista oferta de
recursos acima do prazo de um ano na economia e, mesmo assim, a taxas de juros
nominais negativas. A Bolsa de Buenos Aires é uma piada quando comparada com a
BMF/Bovespa.
A política de juros menores do que a
inflação destruiu o sistema interno de poupança e provocou a exportação para o
exterior das economias dos argentinos. Outro resultado perverso da constante
intervenção do governo na economia privada é a falta de confiança dos agentes
econômicos nas regras de funcionamento de vários mercados e que, por única
decisão do governo, podem ser alteradas a qualquer instante.
Como resumo, podemos dizer que o sucesso
brasileiro dos últimos anos vem de certa sabedoria - política e técnica- de
equilibrar liberdade de mercado com uma intervenção limitada do governo. Já na
Argentina a mão pesada -quase fascista- do peronismo destruiu as forças vivas
que se desenvolvem em uma economia de mercado e criou um corpo deformado de
monopólio de poder do Estado.
Manter esse equilíbrio no Brasil,
respeitando as novas demandas por liberdade e racionalidade dos mercados na
medida em que nossa economia se desenvolve, será a grande responsabilidade do
governo Dilma nos próximos anos. Já a Argentina parece que não tem mais jeito.
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