segunda-feira, 10 de maio de 2010

SEGUNDO RICUPERO CÂMBIO MATA!

Considerando os difíceis momentos pela qual passa o EURO, vamos ler na FOLHA DE S.PAULO a visão e a preocupação do RUBENS RICUPERO no artigo “CÂMBIO MATA”.

O câmbio já está estrangulando o setor de maior tecnologia e valor agregado de nossa indústria (eletrônica, farmacêutica, química, automobilística e maquinaria). Apenas nos três primeiros meses do ano esse setor teve o chocante deficit de US$ 13,6 bilhões, maior do que em todo o ano de 2006 e superior em 42% ao do mesmo período do ano passado.

Os dados do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) servem de necrológio à indústria brasileira, mostrando que o câmbio continua sendo tão mortal como no tempo da advertência de Mário Henrique Simonsen. A tendência está colada à apreciação do real e ao declínio do saldo comercial em geral, que em abril foi o menor em oito anos, tendo caído nada menos que 65% em comparação ao de abril de 2009.

Aliás, parecem estar contados os dias de saldo comercial, uma vez que as importações estão crescendo em ritmo quase duas vezes maior do que as exportações (65% ante 23%).

É bom apertar os cintos para o mergulho na montanha-russa, já que o fim do saldo comercial elimina o único fator que compensava em parte o aumento vertiginoso de todos os demais componentes do deficit em conta-corrente.

Essa é a cara oculta da atual euforia com o crescimento puxado somente pelo consumo do governo e das pessoas, com baixa poupança e pouco investimento. Cada vez se depende mais de recursos de fora para cobrir o buraco, e a desindustrialização precoce entra no segundo estágio de agravamento. No primeiro, as importações substituem os componentes locais, mas o produto continua a ser montado no Brasil; no segundo, importa-se o produto pronto e as indústrias se tornam meras distribuidoras e prestadoras de assistência.

A situação tende a piorar com as elevações de juro que o Banco Central terá de realizar para segurar o superaquecimento do consumo. As previsões de que no fim do ano o dólar se aproxime de R$ 1,60 ou menos vão sacrificar ainda mais os manufaturados. Até agora a valorização dos primários pela demanda da China tem atenuado a deterioração do comércio exterior. É um erro, porém, imaginar que as commodities aguentam qualquer valorização da moeda.

Tenho idade bastante para me lembrar do tempo em que quase todos os produtos primários brasileiros eram gravosos, isto é, seu custo de produção superava, devido ao câmbio, o preço internacional.

Quando as cotações também caem, como sucede no momento com muitos produtos agrícolas, a renda do campo sofre duplo golpe: preço e câmbio.

De onde poderá vir o socorro às contas externas se o panorama negativo se acentuar, como vem acontecendo há anos? Do petróleo?

É o que já ocorre, como mostra Raquel Landim em perceptivo comentário em "O Estado de S. Paulo" (4/5/10).

Nele se aprende que o petróleo passou a ser o principal item das exportações, quase 10% do total! Sem ele, as vendas externas cresceram apenas 16%, agravando o descompasso com o aumento das importações.

Está aí um bom tema para o debate eleitoral. Em vez da discussão pueril sobre qual governo foi melhor, por que não debater como evitar que o Brasil vire uma grande Venezuela, onde 96% das exportações vêm das commodities? Sem mexer no câmbio, como melhorar a competitividade? Com esses juros? Com a infraestrutura em pedaços? Com carga tributária o dobro da da China? Com a redução da semana de trabalho?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A PREOCUPAÇÃO COM O EURO.

Aflito com a situação do euro, nada como recordar de um antigo provérbio espanhol: Quando vires as barbas do vizinho ficar sem pêlos, põe as tuas de molho.

Por isso, lemos com angústia no blog da competente MIRIAM LEITÃO - http://oglobo.globo.com/economia/miriam/, uma preocupante entrevista com o professor de Economia da Universidade Complutense de Madri José Herce. Ele diz que, neste momento, é impensável o pedido de ajuda financeira da Espanha ao FMI e que muitos degraus a separam desse cenário. Para ele, o euro vai continuar sofrendo com a crise, que começou na Grécia, mas desencadeou um problema sistêmico.

A saída de um país da Zona do Euro seria uma má notícia, mas o especialista acha que isso está longe de acontecer. O que está cada vez mais perto é a possibilidade de um ajuste fiscal forte para conter o déficit espanhol que está em 11,2%. Em nome da retomada econômica, ele diz que os espanhóis devem encarar o aperto, aceitando a queda no nível de bem-estar. O pior problema continua relacionado ao mercado de trabalho. "A perspectiva de viver alguns anos convivendo com uma taxa elevada de desemprego é muito perturbadora", diz Herce, também sócio da Analistas Financeiros Internacionais (AFI).

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Qual é a sua avaliação sobre a crise na Europa?
O caso da Grécia desencadeou um problema sistêmico no qual o euro está sendo prejudicado. Ao mesmo tempo, a dívida alemã está servindo de refúgio à fuga dos papéis dos países em pior situação. Não é bom para a Zona do Euro nem para o euro que essa percepção sistêmica dos mercados se prolongue.

Qual o caminho para sair dessa situação?
A essa altura, tendo-se constatado a lentidão e as dúvidas dos responsáveis europeus na resposta à Grécia, as intervenções só podem ser intensivas e contundentes. Não se descarta que o BCE (Banco Central Europeu) acabe comprando dívida grega.

A ajuda financeira à Grécia é suficiente para enfrentar os problemas?
Há um mês, não teria sido necessária uma ajuda tão massiva. Agora, pode ser que os 110 bilhões de euros sejam insuficientes e que sejam necessárias intervenções complementares mais decisivas.

A ajuda à Grécia demorou para sair?
Claro, por isso o custo do resgate à Grécia disparou. Não é tanto por parte do mercado, mas uma defesa por parte de quem quer se livrar de títulos nos quais não confiam.

A sobrevivência do euro está em jogo?
Se todo o dano que o euro tivesse que sofrer se resumisse à situação atual, poderíamos nos dar por satisfeitos. É preciso fazer mais esforços para evitar que os mercados prescindam do euro como moeda de reserva.

O que significaria a quebra de uma país da zona do euro?
Um só país do euro que o abandonasse seria uma má notícia. Creio que estamos longe disso, mas também estou convencido de que o euro seguirá sofrendo algo mais.

Espanha segue o caminho da Grécia? É possível que o país peça ajuda financeira ao FMI?
Hoje, é impensável esse cenário, e a escada de descida até ele tem muitos degraus. Espero que as ações das autoridades espanholas e de todos os agentes evitem que sigamos descendo esses degraus.Para reduzir o déficit, Espanha terá que fazer ajustes.

Na Grécia, a população foi às ruas para protestar. Como seria aí?
Uma parte significativa da população protestará se se planeja a redução dos gastos sociais, dos salários e a alta dos impostos. Mas acho que logo não restará outra alternativa no que se refere a medidas imediatas. Mas acho também que muitos espanhóis entenderão. Hoje, fiz um teste com meus alunos no curso de Macroeconomia e 70% aceitariam essas medidas.

Diante dessa situação de crise, o que é mais difícil para a Espanha?
Os ajustes terão que ser mais convincentes, e a população, o governo e os demais agentes sociais e políticos deverão encontrar um consenso para enfrentá-los, minimizando as consequências, mas aceitando uma redução nas expectativas de bem-estar até que a economia seja mais competitiva e se retome o crescimento econômico. A perspectiva de viver alguns anos convivendo com uma taxa elevada de desemprego é muito perturbadora.

O desemprego na Espanha já atinge mais de 4,5 milhões de pessoas. O que pode ser feito?
Sem dúvida, esse é o pior problema, o resumo das nossas falhas produtivas, competitivas e, sobretudo, do nosso sistema laboral. É preciso reduzir custos trabalhistas para que o emprego aumente a curto prazo e realizar uma grande reforma do mercado de trabalho o quanto antes para que surta efeito a médio e longo prazo.

150ª ATA DO COPOM.

Da 150ª Reunião do COPOM, realizada em 27 e 28/04/2010, destacamos:
18. O Copom entende que os indicadores divulgados desde a última reunião reforçam a percepção de existência de pressões sobre o mercado de fatores, o que aumenta a probabilidade de que desenvolvimentos inflacionários inicialmente localizados venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação. Nesse contexto, aumenta também o risco de repasse de pressões de alta de custos para os preços no atacado e destes para os preços ao consumidor. O Comitê pondera que a materialização desses repasses, bem como a generalização de pressões inicialmente localizadas sobre preços ao consumidor, segue dependendo de forma crítica das expectativas dos agentes econômicos para a inflação e do grau de ociosidade da economia, dentre outros fatores. A propósito, essas e outras variáveis fazem parte do conjunto de informação que é levado em conta no processo de geração das projeções de inflação do Banco Central, que constituem elemento central no julgamento que o Comitê faz sobre o cenário inflacionário prospectivo. Cabe registrar que o comportamento da demanda doméstica tem exercido certa pressão sobre os preços dos itens não comercializáveis, como os serviços, o que, a julgar pela perspectiva de evolução dos principais fatores de sustentação da demanda agregada, tende a se repetir neste e nos próximos trimestres. De qualquer modo, o Comitê reafirma o compromisso de que continuará conduzindo suas ações de forma a assegurar que os ganhos obtidos no combate à inflação em anos recentes sejam permanentes.

25. Nesse contexto, dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias ao cenário prospectivo da economia, para assegurar a convergência da inflação à trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 9,50% a.a., sem viés.

A THE ECONOMIST DESTA SEMANA!

Realmente, escolher o que será a capa de uma revista não deve ser tarefa fácil. No entanto, o pessoal da The Economist, consegue superar-se à cada edição com imagens que mostram o fato mais importante da semana.

A GRÉCIA PODE SER AQUI?

Direto de Fortaleza, do DIÁRIO DO NORDESTE, o humor refinado do genial SINFRÔNIO.

domingo, 2 de maio de 2010

ALEXANDRE SCHWARTSMAN E A IMPORTAÇÃO DO B.

Como leitor do ALEXANDRE SCHWARTSMAN, tanto no seu blog http://maovisivel.blogspot.com/, quando na sua coluna na FOLHA DE S. PAULO, eu já tinha lido o texto abaixo, publicado na FOLHA em 28/04/10.
Porém, como hoje recebi e-mail do nosso grupo de economia política da UnB - via Professor Carlos Pio com o texto, retransmito abaixo para a leitura dos meus ainda (espero) quase dois leitores. ALEXANDRE expõe o assunto de maneira didática um assunto complexo e polêmico, o que facilita o entendimento do paradoxo de que as IMPORTAÇÕES crescem MUITO porque o Brasil importa POUCO.

Importação do B

Em 2010 (até a semana passada) as importações brasileiras aumentaram quase 40% relativamente ao mesmo período de 2009. Na verdade, sempre que a economia brasileira passa por um período de expansão acelerada as importações aumentam por um múltiplo da taxa de crescimento, motivando um dos 17 leitores do meu blog (que espero não serem os mesmos 17 leitores desta Folha) a me perguntar a razão deste comportamento. Refletiria isto uma incapacidade congênita do país, associada às dificuldades da estrutura produtiva de responder ao crescimento da economia? Acredito, porém, que a resposta seja bem mais simples. Pode parecer paradoxal, mas as importações crescem muito porque o Brasil importa pouco.

Caso reste algum leitor depois desta afirmação eu explico.

Imagine duas economias (B e C) idênticas em tudo, exceto seu volume de comércio internacional. Em ambas o PIB vale 100 unidades e a demanda doméstica equivale às mesmas 100 unidades. Só que na economia B as exportações e importações são de 10 unidades, enquanto na economia C atingem, cada uma, 50 unidades.
Suponha agora que a demanda doméstica em ambos os países aumente 5%, de 100 para 105 (por enquanto manteremos o PIB constante). Para equilibrar demanda e oferta, B precisa importar 15 (um aumento de 50%!), enquanto C importará 55, ou seja, apenas 10% a mais. Embora nos dois casos a resposta absoluta das importações à demanda doméstica seja a mesma, o crescimento percentual das importações na economia mais fechada ao comércio internacional é muito maior.
Uma conta simples mostraria que a elasticidade da importação (a reação percentual da importação à demanda doméstica) no país B seria 10 (50% de aumento das importações para 5% de expansão da demanda), enquanto no país C seria apenas 2 (10% contra os mesmos 5%). Assim, um economista pouco atento poderia até concluir (erradamente, como se vê) que a economia B sofreria de sérias “deficiências estruturais” e recomendar um tanto a mais de proteção à indústria local para que possa resistir à “invasão das importações”.
Parece que o argumento depende crucialmente da suposição de um PIB constante, mas é fácil ver que não se trata disso. Imagine, por exemplo, que nos dois países apenas 30% do crescimento da demanda seja atendido por importações (ou seja, 1,5 unidades), enquanto os 70% restantes vêm da produção local. Sob esta suposição, o PIB nos dois países passaria a 103,5, enquanto as importações no país B atingiriam 11,5 (crescimento de 15%) e no país C 51,5 (3% a mais). As respectivas elasticidades seriam 3 (15% de importações contra 5% de demanda) e 0,6 (3% contra 5%), ou seja, ainda seria 5 vezes maior em B do que em C, provavelmente o bastante para “justificar” os pedidos de proteção.
No entanto, acredito que o exemplo simples explorado nos parágrafos seja suficiente para que o escasso leitor se convença do cerne do argumento. Mesmo que uma fração relativamente reduzida do aumento da demanda doméstica seja destinada às importações, no caso de uma economia pouco aberta ao comércio internacional isto se traduzirá num enorme crescimento proporcional das importações, necessário para cobrir a diferença entre a demanda interna e a produção local.
Vale dizer, quanto mais fechada for uma economia, maior é a necessidade de apreciação cambial quando a demanda doméstica cresce a taxas muito superiores às do produto. Com a demanda crescendo a 10% ao ano e meros 11% do PIB em importações, me parece que o comportamento da taxa de câmbio no Brasil faz bastante sentido.

A POLÍTICA DE HOJE!

Diretamente de FORTALEZA, do nosso DIÁRIO DO NORDESTE, o genial SINFRÔNIO, retrata a atual situação política brasileira com a sua sutil ironia.

A CRISE DO EURO OU UM ESTADO DEFICITÁRIO?

Na FOLHA DE S. PAULO de hoje o Professor LUIZ GONZAGA BELLUZZO, comenta sobre os SOLAVANCOS NA EUROLÂNDIA e faz referências a THE ECONOMIST desta semana. Esperamos que a situação na zona do euro seja administrada com competência, pois apenas agora o mundo respira mais aliviado depois da crise financeira de 2008. De qualquer maneira um coisa deve ficar bem clara: nenhum governo pode gastar mais do que tem, pois a conta será cobrada e o resultado, velho conhecido, é prejudicial a todos.
"As bolsas de Valores andam aos solavancos no mundo inteiro. Dançam ao ritmo das expectativas e avaliações dos investidores a respeito da solução da crise grega. Pior ainda, diante das hesitações da liderança europeia, os mercados endurecem o jogo e transmitem o vírus da desconfiança para as demais economias frágeis da eurolândia e da Europa do Leste.
Em meio às expectativas sombrias dos mercados financeiros quanto à solvência dos papéis soberanos da periferia europeia, os prêmios de risco dos infelizes vão às nuvens, e o euro declina diante do dólar.
A edição da revista "The Economist" que chegou às bancas na sexta-feira faz coro à tese do contágio, diante da fragilidade da dupla ibérica -Portugal e Espanha, também encalacrados em deficit externos e fiscais elevados, endividamento público próximo ou superior a 100% do PIB (Produto Interno Bruto) e uma quase insanável deficiência competitiva.
Na impossibilidade de uma desvalorização cambial, o ajustamento "made in Germany" vai requerer, além do corte de gastos, a redução de salários nominais, tanto no setor público como no privado. Isso tudo, dizem os alemães, para restaurar a competitividade dos combalidos compradores de seus produtos e devedores de seus bancos.
Não vai funcionar, sugere a "The Economist". Em manobra de alto risco, os europeus criaram o euro, a moeda comum, sem construir um espaço fiscal comum e, assim, diante da crise financeira de seus membros mais frágeis, ficaram à mercê da boa vontade dos alemães, os grandes beneficiários da moeda única.
Na ausência de um programa de refinanciamento e de transferências confiável, a "saída" mais provável é uma "corrida" contra os bancos gregos, portugueses e espanhóis, naturalmente com reverberações sobre os demais credores europeus, inclusive os alemães.
Até ontem danificados em sua credibilidade por suas próprias façanhas, os "mercados" foram revigorados por formidáveis injeções de dinheiro, uma espetacular "inflação" de passivos monetários dos bancos centrais.
Eles abrigaram em seus balanços a escumalha financeira do "subprime" e adjacências, montaram programas de troca de papéis podres por passivos de sua emissão, ou seja, dinheiro, enquanto os Tesouros emitiam títulos públicos para proteger a riqueza privada em estado periclitante.
No auge da crise, os bancos centrais da cúspide capitalista cumpriram sua missão. Tão logo o pânico cedeu, os senhores da finança, montados na grana, não trepidaram em exigir prêmios de risco mais compensadores para rolar a dívida dos governos da Grécia, da Irlanda, da Itália, da Espanha e de Portugal.
Os governos dos países supracitados, diga-se, são, ao mesmo tempo, vitimas e algozes da farra financeira e de seu triste destino, alvos e beneficiários da orgia de endividamento público e privado promovida pela internacionalização da "exuberância irracional".

OS ESTUDOS DE FERNANDINHO!!!

Nem tudo está perdido, pois o fundo do poço ainda não foi encontrado. Vejamos:
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, - condenado a 120 anos de prisão - quer fazer o curso de gestão financeira à distância da Universidade Católica Dom Bosco.
Beira-Mar está no presídio federal de segurança máxima de Campo Grande. Seu advogado pediu ao juiz responsável por essa penitenciária que ele possa ter acesso à internet por três horas por semana. O curso tem duração de dois anos.
Afinal, é o fim do começo ou o começo do fim?

FHC E O ESTADO.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, em sua coluna dominical publicada em diversos jornais, comenta entre outras coisas que "Sob pretexto de combater o neoliberalismo joga-se no mesmo balaio toda política que não seja de idolatria ao “capitalismo de Estado”, como se essa fosse a melhor maneira de servir ao interesse nacional e popular. Tal atitude revela um horror à forma liberal de capitalismo e à competição. Prefere-se substituir as empresas por repartições públicas e manter por trás delas um partido. No lugar do empresário ou da empresa a quem se poderia responsabilizar por seus atos e erros, coloca-se a burocracia como agente principal do desenvolvimento econômico, tendo o Estado como escudo. Supõe-se que Estado e povo, partido e povo, ou mesmo burocracia e povo, têm interesses coincidentes.

Outra coisa não faziam os partidos totalitários na Europa, os populistas na América Latina e as ditaduras militares. Qualquer neófito sabe que sem Estado organizado não há capitalismo moderno nem sociedade democrática.

Não se trata, portanto, da oposição infeliz e falaciosa de mais mercado e menos Estado nem de seu contrário. Na prática o neoliberalismo nunca prevaleceu no Brasil, nem depois do golpe de 1964, quando a dupla Campos-Bulhões reduziu a ingerência estatal para permitir maior vigor ao mercado."

sábado, 1 de maio de 2010

LUIZ CARLOS E O CRESCIMENTO BRASILEIRO.

Em artigo na FOLHA DE S. PAULO, o economista LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS escreve sobre UM NOVO CICLO ECONÔMICO NO BRASIL.

A MB ASSOCIADOS acaba de publicar um interessante estudo sobre o crescimento brasileiro. A variação do PIB -medida do lado da demanda- nos mostra que o Brasil viveu duas fases distintas nos últimos dez anos: de 2000 a 2005 e de 2006 a 2010. Considerada a década como um todo, o crescimento do PIB pode ser explicado em 70% pelo consumo das famílias, em 20% pelo consumo do governo e em 13% pela formação bruta de capital fixo. Para fechar esse quadro de demanda interna, as importações foram maiores do que as exportações em 3% do PIB. Mas esse mesmo exercício para o período 2006/2010 mostra um quadro bem diferente. O consumo das famílias passa a explicar 85% do crescimento do PIB, com o consumo do governo caindo para 18% e os investimentos representando 16,4%. Para fechar a conta, as exportações líquidas negativas representaram 19,2% do PIB. Nos últimos cinco anos, o consumo interno total -governo mais famílias- ultrapassou o valor do PIB brasileiro. O pouco investimento realizado nestes cinco anos foi todo ele financiado com poupança externa. Em outras palavras, nos últimos cinco anos os brasileiros viveram o papel de cigarras, e não de formigas. Mas o economista Sergio Vale, da MB, construiu uma projeção desses componentes de demanda para os primeiros cinco anos da nova década. Como premissa, considerou um crescimento real de 10% ao ano para o volume de investimentos em capital fixo no Brasil. Além disso, trouxe a participação do consumo das famílias no PIB para o número médio de 70% e reduziu o consumo do governo para 17% do PIB. Nessas hipóteses, o setor externo continuará sendo a variável de ajuste para fazer o consumo caber no PIB. Os números obtidos por Sergio Vale, da MB, apenas quantificam o que alguns analistas vêm advertindo há algum tempo: não é possível continuar com essa farra do boi de consumismo que é a marca mais importante dos últimos cinco anos. Ter o consumo das famílias brasileiras representando 85% do crescimento PIB é uma irresponsabilidade que vai cobrar um preço elevadíssimo em futuro próximo. Mais ainda, ter a soma do consumo do governo e das famílias maior do que o PIB é uma situação insustentável no médio prazo. Daí resulta o ponto mais assustador do exercício da MB: mesmo com uma redução do consumo das famílias e do governo e um aumento mínimo no investimento de capital fixo, a deterioração de nossa conta-corrente pode chegar a níveis perigosos. Uma bela sinuca de bico para o próximo presidente da República. Quero terminar fazendo uma homenagem a meus filhos Marcello e Daniel. Depois de 12 anos no controle acionário da Link Investimentos, período em que ela alcançou a posição de maior corretora de valores independente no Brasil, eles e seus companheiros venderam a empresa para o banco suíço UBS. Acompanhei -como pai e conselheiro- toda a vida da Link, sofrendo juntos quando aloprados do PT resolveram acusá-los de utilização de informações privilegiadas fornecidas por mim -à época eu era ministro do governo FHC-, e agora, nos longos meses em que concretizaram a difícil decisão de vender a empresa. Neste novo Brasil internacionalizado, é muito difícil um grupo brasileiro de médio porte e líder de mercado ficar independente. Acho que tomaram a decisão correta.

AS CONTRADIÇÕES NAS MEDIDAS ECONÔMICAS.

No “O Estado de S.Paulo” de 29/04/10, vamos ler agora “as contradições nas medidas econômicas.

A condução da política econômica exige que as medidas adotadas não estejam em contradição com os objetivos anunciados anteriormente ou com as necessidades da conjuntura. Mas nas últimas semanas multiplicam-se medidas contrárias aos objetivos anunciados semanas atrás.

A contradição mais flagrante é a do uso do Fundo Soberano, criado para aplicações no exterior que, além de reduzir o risco cambial, oferece remuneração maior do que a dos títulos do Tesouro norte-americano. Todavia, uma Medida Provisória autoriza o fundo a participar do programa de capitalização de banco público, desrespeitando a legislação que o criou.

Há um superaquecimento da demanda doméstica que obriga as autoridades monetárias a elevar a taxa Selic. O superaquecimento da demanda é alimentado pelo uso dos cartões de crédito e financiamentos com prazos excessivamente generosos, o que justificaria a regulamentação dos cartões. Parece que o governo pensa em fazer essa regulamentação, pondo fim às taxas exigidas pelos bancos para a emissão dos cartões, o que favorecerá, na verdade, o aumento do seu uso. Não se fala em exigir que o financiamento das vendas a prazo fique claramente definido para que os portadores dos cartões se conscientizem do custo real das vendas a prazo longo "sem juros" e, assim, sejam levados a fazer sua própria poupança para comprar à vista.

Ao mesmo tempo vem a notícia de que os bancos pretendem ampliar seus prazos de financiamento às famílias, conscientes de que se trata de operações altamente rentáveis, num momento em que há consenso praticamente generalizado sobre a necessidade de reduzir o volume de crédito pessoal...

A indústria de autopeças, que se desenvolveu no País protegida por uma tarifa aduaneira elevada, está em crise. De fato, além de ver reduzida sua proteção, há um fortalecimento do real que favorece a importação de componentes.

Os exportadores podem, desde alguns dias atrás, utilizar o sistema de "drawback integrado", que suspende a cobrança de impostos na aquisição de insumos no mercado interno ou no exterior, para produção ou consumo no processo de produção de bens a serem exportados. Trata-se de uma medida adequada, embora fosse melhor ajudar a indústria de autopeças fixando prazo para sua modernização, para evitar fraudes, e levando em conta que ela se implantou no Brasil no quadro de um protecionismo que desapareceu e numa situação cambial bem diferente.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

LULA NA LISTA DA TIME 2010!

Como faz anualmente a TIME publicou hoje a lista das pessoas mais influentes do mundo. E nela consta o perfil do Presidente LULA, assinado pelo cineasta Michael Moore. É uma boa notícia termos um brasileiro na lista, indiferente do juízo de valor que cada um tem sobre o mesmo. Abaixo o texto completo sobre o assunto.

When Brazilians first elected Luiz Inácio Lula da Silva President in 2002, the country's robber barons nervously checked the fuel gauges on their private jets. They had turned Brazil into one of the most inequitable places on earth, and now it looked like payback time. Lula, 64, was a genuine son of Latin America's working class — in fact, a founding member of the Workers' Party — who'd once been jailed for leading a strike.

By the time Lula finally won the presidency, after three failed attempts, he was a familiar figure in Brazilian national life. But what led him to politics in the first place? Was it his personal knowledge of how hard many Brazilians must work just to get by? Being forced to leave school after fifth grade to support his family? Working as a shoeshine boy? Losing part of a finger in a factory accident?

No, it was when, at age 25, he watched his wife Maria die during the eighth month of her pregnancy, along with their child, because they couldn't afford decent medical care.

There's a lesson here for the world's billionaires: let people have good health care, and they'll cause much less trouble for you.

And here's a lesson for the rest of us: the great irony of Lula's presidency — he was elected to a second term in 2006 and will serve through this year — is that even as he tries to propel Brazil into the First World with government social programs like Fome Zero (Zero Starvation), designed to end hunger, and with plans to improve the education available to members of Brazil's working class, the U.S. looks more like the old Third World every day.

What Lula wants for Brazil is what we used to call the American Dream. We in the U.S., by contrast, where the richest 1% now own more financial wealth than the bottom 95% combined, are living in a society that is fast becoming more like Brazil.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

BRASIL: CAMPEÃO!!!

Hoje o COPOM, ao elevar a taxa básica de juros SELIC para 9,5%, tornou o BRASIL campeão mundial nessa modalidade. Afinal, somos o país com a maior taxa de juros reais do mundo (4,5%). De qualquer maneira, o resultado era esperado pelo mercado e necessário neste início de ano eleitoral e com inflação à vista.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A TRISTEZA DE OBAMA!

Leio a instantes no twitter o descontentamento de BARACK OBAMA sobre a reforma da legislação financeira que ele enviou ao Congresso e foi bloqueada pelos republicanos:“RT @BarackObama: I am deeply disappointed that Senate Republicans voted in a block today against allowing a public debate on Wall Street."

Que sucesso é esse negócio de twitter – o mundo agora além de plano é on line.

DÁ PARA REGULAR E SUPERVISIONAR AS FINANÇAS?

Há dias não posto um artigo do Professor da FGV LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA. Diretamente da Folha de S. Paulo de hoje, BRESSER-PEREIRA escreve sobre “REGULAR E SUPERVISIONAR AS FINANÇAS.” Para uma boa leitura, análise e reflexão.

Em Nova York, os dois temas que continuam a dominar a discussão de economistas e financistas são o "grande demais para quebrar" ("too big to fail") e a necessária regulação e supervisão dos bancos. Em outras palavras, pergunta-se, de um lado, como impedir que os grandes bancos comerciais façam operações arriscadas porque sabem que, na última hora, serão socorridos, e, de outro, como regulá-los e supervisioná-los melhor. Essa dupla preocupação dominou a Conferência Minsky, organizada pelo Levy Institute e patrocinada pela Fundação Ford. Participaram dela um equilibrado número de financistas, representantes do governo (inclusive três diretores do banco central americano) e professores de economia.

Na conferência, poucos se mostraram seguros quanto à solidez da recuperação econômica depois da crise.

Boa parte dos que intervieram nos debates se mostrou convencida de que a crise poderá voltar a qualquer momento, principalmente porque, apesar do empenho do presidente Barack Obama, o governo não foi ainda capaz de re-regular o sistema financeiro desregulado durante os 30 Anos Neoliberais (1979-2008). Há também uma grande insatisfação com a teoria econômica ortodoxa ou convencional, que, evidentemente, contribuiu para a crise ao pressupor um mercado financeiro eficiente, autorregulado.

Em relação ao problema do "grande demais para quebrar", a solução apresentada por Paul Volcker -ex-presidente do Fed e hoje assessor especial de Obama- de proibir os bancos de realizarem operações de tesouraria (uma espécie de volta à separação dos bancos comerciais dos bancos de investimento) dividiu as opiniões. Volcker argumentou que a medida é necessária para impedir que os bancos participem de operações financeiras arriscadas demais. Entretanto, muitos consideraram a proposta pouco realista; incompatível com a necessária rentabilidade dos bancos comerciais. Melhor será regulá-los e supervisioná-los mais cerradamente, já que são entidades quase públicas que criam crédito e, portanto, dinheiro.

Embora a principal causa da crise tenha sido a desregulação do sistema financeiro promovida no início dos 30 Anos Neoliberais, houve também grande falha de supervisão, já que muitas operações com securitização e derivativos não eram apenas excessivamente arriscadas; elas violavam a regulação ainda existente, implicando fraude. Esse fato, assinalado por diversos participantes, foi mais uma vez confirmado no dia seguinte ao término da conferência, quando os jornais publicaram que a SEC acusou de fraude e iniciou ação civil contra o banco Goldman Sachs, porque este teria participado, com o fundo hedge Paulson & Co., da securitização e empacotamento de hipotecas que sabiam ser de baixa qualidade. Eles as venderam para clientes e outros bancos mal informados para, em seguida, o próprio banco e o fundo hedge apostarem contra esses mesmos títulos e, assim, obterem enorme ganho à custa dos que compraram os títulos empacotados. Nessa fraude, o fundo ganhou US$ 1 bilhão, enquanto Goldman Sachs ganhava quase a mesma quantia.

Antes da crise, muitas operações desse tipo passaram sem supervisão, não por falta de regulação, mas porque se supunha que os mercados eficientes tudo regulavam. A crise global ainda custará muito ao mundo, mas, pelo menos, convenceu a todos quão importante é a regulação e a supervisão e quão enganadora é a teoria econômica neoclássica dos mercados autorregulados.

TAXA DE JUROS EM 2010!

Amanhã e quarta-feira teremos reunião do COPOM e tudo evidencia que devido o temor do retorno do dragão inflacionário a taxa básica Selic, que está hoje em 8,75%, seja alterada para até 9,75%. Nesse momento eleitoral essa sinalização por parte do BACEN é positiva, necessária e acreditamos que a racionalidade mais uma vez vença a política eleitoral.

domingo, 25 de abril de 2010

JOHN MAYNARD KEYNES.

De um recente artigo de Marcelo de Paiva Abreu no ESTADÃO:

Lydia Lopokova, mulher de John Maynard Keynes, tinha razão quando dizia, com seu delicioso sotaque russo, objeto de chacota no círculo de Bloomsbury: "Maynard is more than an economist."
Na verdade, ele continua sendo em pleno século XXI um economista genial, com seus inúmeros admiradores e críticos nos quatro cantos do mundo!!!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

ECONOMIA BRASILEIRA E IMPORTAÇÕES.

Para os meus quase dois (milhões de) fiéis e devotados leitores/dia, hoje, 23/04/10, na FOLHA DE S. PAULO, o economista e engenheiro LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS escreve sobre a evolução da "ECONOMIA BRASILEIRA E IMPORTAÇÕES" e sua preocupação com o deficit em conta-corrente. Afinal, os dados do BACEN mostram que o país teve deficit de US$ 12,145 bilhões nas transações com o exterior (contas correntes) no primeiro trimestre do ano, o pior desempenho para o período desde 1947.
Ao longo dos últimos anos tenho acompanhado com muito entusiasmo a evolução da economia brasileira
Afinal, depois de muito tempo podia sentir que caminhávamos finalmente na direção de uma economia de mercado eficiente e moderna. Acordei para essa nova realidade - ou como gosto de chamar, para esse novo metabolismo econômico - em 2005, ao incorporar os elevados saldos comerciais dos anos anteriores à minha análise dos anos que viriam. Com uma nova dinâmica de preços e quantidades - devido principalmente ao crescimento da economia chinesa -, as exportações de produtos primários criavam condições para que o Brasil pudesse superar três décadas de fragilidade em suas contas externas.
Convencido de que o fenômeno China poderia ser projetado pelo menos para a década seguinte, passei a trabalhar com um cenário mais agressivo de abertura da economia brasileira. Minha vivência com empresas e empresários tinha me ensinado que a razão mais forte para o baixo coeficiente de importações no Brasil era o medo do futuro da taxa de câmbio.
Presenciei em várias ocasiões - dentro e fora do governo - os prejuízos daqueles que, acreditando na estabilidade da moeda brasileira, haviam incorporado produtos importados às suas cadeias produtivas e de distribuição. Sempre surpreendidos por uma desvalorização de grandes proporções, os que usavam fornecedores externos acabavam voltando atrás a cada frustração e depois de grandes perdas.
A partir de 2005, portanto, não tive mais dúvidas de que em um cenário de moeda nacional forte e com baixa volatilidade o movimento de integração produtiva com o exterior iria crescer de forma continuada.
As estatísticas do comércio exterior brasileiro nos primeiros três meses de 2010 mostram que eu tinha razão nas minhas projeções. Cinco anos depois do início dessa nova fase do real, as importações de componentes e de bens finais estão literalmente explodindo.
Uma das medidas usadas para quantificar a abertura da economia é a diferença física entre o valor das exportações e das importações. Até 2005, essa diferença era positiva, ou seja, o comércio exterior do Brasil representava uma fonte de demanda para a economia. A partir de 2005, de maneira ainda muito tímida, a quantidade importada passou a crescer mais rápido que a exportada. Em outras palavras, o comércio exterior brasileiro passava a ser uma fonte de oferta interna de bens e não de demanda, em termos líquidos.
Esse número veio crescendo de forma gradual, porém contínua, ao longo do tempo. Pouco antes da crise do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, as importações líquidas chegaram a subtrair três pontos percentuais do PIB, o que é um número muito grande. Com a crise bancária americana, a tendência foi temporariamente estancada, mas já em meados de 2009 as importações voltaram a crescer rapidamente.
Agora, conhecidos os números do primeiro trimestre, podemos ver que o processo de abertura continua com vigor. A diferença entre compras e vendas ao exterior já é de quatro pontos do PIB, e deve continuar a crescer. O próximo governo vai ter de olhar para esse movimento com atenção. Como tudo em economia, o aumento do coeficiente de importações tem aspectos bons e ruins. Do lado positivo há o aumento do consumo com menor pressão inflacionária. Mas o crescente déficit em conta-corrente deixará o país mais exposto aos humores do capital financeiro.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O DRAGÃO DA INFLAÇÃO!

Todo cuidado é pouco com o dragão da inflação. Por isso, diretamente de FORTALEZA, do DIÁRIO DO NORDESTE, mestre SINFRÔNIO em genial charge. Diante disso, é recomendável ler na FOLHA ON LINE o alerta de hoje da MOODY’S.

O conjunto de incentivos monetários e fiscais do ano passado não apenas tirou o Brasil da recessão, como colocou a economia num ritmo superaquecido, o que leva o Banco Central a um impasse no esforço de controlar a inflação, disse a Moody's em relatório desta quinta-feira.

Segundo a instituição, mesmo com o ritmo de crescimento desacelerando nos próximos trimestres, o PIB brasileiro deve ter uma expansão de cerca de 6 por cento em 2010, num ritmo acima do potencial.

"Nessas circunstâncias, a inflação poderia chegar à casa dos 6 por cento no meio do ano, ainda abaixo mas muito perto do teto da meta de 6,5 por cento para o ano", diz trecho do relatório assinado pelo economista sênior para América Latina da Moody's Economy.com, Alfredo Coutiño.

Para evitar essa deterioração no cenário de preços, o economista sugere um aperto na política monetária já a partir deste mês, por meio de um aumento de 0,75 ponto percentual da Selic, hoje em 8,75 por cento ao ano.

O movimento, dirigido para conter a demanda superaquecida, principal motor da inflação alta segundo a Moody's, o juro deveria continuar subindo nos próximos meses, até chegar à casa de 10 a 11 por cento no final do ano.

O teor do documento está em linha com o alerta feito na véspera pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) que, ao elevar a previsão de crescimento do Brasil em 2010 de 4,7 para 5,5 por cento, sugeriu que a política monetária mude de muito expansiva para mais neutra.

Espera-se que o Banco Central do Brasil eleve a taxa de juro pela primeira vez em quase dois anos na próxima semana, embora os analistas não tenham consenso sobre o tamanho da alta --0,50 ou 0,75 ponto.

Mas tentar segurar a inflação apenas elevando o juro embute um risco, alertou a agência de classificação de risco, por incentivar a entrada de capital externo no país, levando à valorização do real, que por sua vez facilita as importações, o que pressiona o balanço de pagamentos e pode novamente pressionar a inflação.

"O jeito de o Banco Central resolver esse aparente dilema seria acelerar a acumulação de reservas internacionais, combinando isso com mecanismo de esterilização monetária", conclui a Moody's.

BRAZIL AND THE IMF.

Transcript of a Press Briefing on the International Monetary Fund’s Global Financial Stability Report - April 20, 2010 - Washington, DC.

QUESTION: Good morning. Would you identify Brazil as a hotspot regarding the capital flows, and would you recommend some kind of capital controls in Brazil, especially now that the central bank is poised to raise the interest rate?

MR. VINALS: Well, in the analysis that we have provided in the report, when we talk about hotspots, we talk about places where we see significant overvaluation in asset prices or residential real estate, equities, bonds, etc. The case of Brazil does not stand out in our report as one case where these problems are very large.

We think that there is some degree of slightly higher-than-average or historical average or equilibrium values for equity prices, but this is not something which is very far from these averages. The Brazilian authorities have already introduced some measures in terms of controls on capital inflows, so we do not have anything further to recommend to the authorities in this regard.

sábado, 17 de abril de 2010

A NOTÍCIA COM HUMOR É OUTRA COISA!

Mesmo diante de notícias tão sérias e graves, a TIME mantém o bom humor para o nosso início de uma fantástica semana.

UM NOVO MERCADO É POSSÍVEL.

Que bom poder ler na VEJA desta semana uma matéria que fala de uma visão ainda mais liberal para a Economia.

Há dois anos, uma crise inaudita eclodiu nos Estados Unidos e arruinou as finanças de países inteiros. Críticos de esquerda regozijaram-se pelo abalo de um dos pilares do capitalismo, o livre mercado, e culparam a cobiça desenfreada de banqueiros pelo crash. Já os economistas do mainstream, representantes do consenso capitalista que administra os países mais maduros do planeta, reconheceram que houve falhas, como a ausência de um sistema regulatório mais eficiente para controlar fraudes e a especulação predatória. Apesar da vala mental que separa essas duas visões de interpretar o mesmo fenômeno, ambas convergiram na prescrição do remédio destinado a combater a recessão mundial. Recomendaram, em doses distintas, a ampliação da presença do governo, pelas vias do aumento dos gastos públicos, e também o acirramento da regulação financeira. Entretanto, há quem pense de forma diferente. Trata-se dos economistas da Escola Austríaca, uma corrente coesa de ultraliberais que exonera os propagandeados vícios do capitalismo dessa história. Segundo eles, foram na verdade as intervenções do governo que proporcionaram a crise. Mais do que isso, acreditam que o remédio que tem sido usado pelos governos mundiais, sobretudo o despejo de somas maciças de recursos estatais, é inadequado e trará mais problemas no futuro.

Na semana passada, o Instituto Ludwig von Mises, que congrega adeptos dessa corrente, realizou em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o I Seminário de Economia Austríaca do Brasil. Em dois dias, foram debatidos os acontecimentos recentes da economia mundial, assim como o receituário heterodoxo e radical desses pensadores. Embora centenária e influente no passado, essa escola esteve, nos últimos anos, à margem do pensamento dominante. No século XX, os seus dois teóricos mais proeminentes foram Ludwig von Mises (1881-1973) e o ganhador do Nobel Friedrich von Hayek (1899-1992). Ambos tiveram papel notável na exposição das fragilidades intrínsecas do planejamento econômico e na condenação do socialismo, num momento em que boa parte daintelligentsia mundial via com fascínio o avanço soviético. Os escritos de Mises e Hayek acabaram por inspirar as reformas liberais que começaram nos anos 80. Agora seus seguidores propõem uma recuperação dessas ideias para oferecer uma alternativa em relação ao novo consenso que se forma no mundo pós-crise.

"A crise que vivemos hoje teve início com políticas do governo que levaram à formação de uma bolha especulativa no mercado imobiliário", sentencia o historiador Thomas Woods, autor do best-seller Meltdown, sobre o recente crash. Para Woods e seus colegas, isso pode ser comprovado por causa do papel que tiveram as empresas de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac. Embora privadas, elas tinham um status privilegiado, porque dispunham de uma linha de crédito especial do governo para estimular a venda de casas a pessoas de baixa renda. Juntas, detinham 75% das hipotecas dos americanos. A política de estimular a venda de casas para quem não possuía a menor condição de assumir os compromissos de um financiamento imobiliário foi potencializada pelos juros extremamente baixos. Quando Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve estava no comando, a taxa básica permaneceu abaixo da inflação por mais de dois anos. A facilidade de adquirir um imóvel incendiou a demanda e os preços subiram rapidamente. Entre 1998 e 2006, as casas americanas ficaram 150% mais caras. Mais tarde veio a onda de calotes, e os preços desabaram. Para os austríacos, tanto os subsídios como os juros baixos demais foram erros que só podem ser atribuídos ao governo. "Os preços estavam fora da realidade. Criou-se uma prosperidade artificial e insustentável", diz o economista americano Mark Thornton, especialista em bolhas financeiras. O setor imobiliário foi ao chão e arrastou consigo o mercado financeiro. "Não fossem as investidas do governo, nada disso teria tomado as atuais proporções. Por isso dizemos que essa crise é do intervencionismo, e não do liberalismo", conclui Woods.

Contrariados com o avanço da mão estatal, os austríacos veem riscos adiante para a economia mundial. Para eles, os pacotes de auxílio do governo para recuperar a economia repetirão os erros do passado. Avaliam que a nacionalização de empresas quebradas (como ocorreu com a Fannie Mae e a Freddie Mac), o socorro aos bancos e o aumento do endividamento prolongarão a agonia, apesar do efeito de alívio momentâneo. "De onde sairá o dinheiro para arcar com tudo isso? Não existem muitos caminhos além do aumento de impostos e da impressão de mais moeda", diz Lew Rockwell, fundador do Instituto Mises. "Não se pode aceitar um liberalismo pela metade. É inadmissível entregar ao estado o controle da economia. Os interesses de um governo são sempre políticos. Quando esses interesses interferem nos caminhos do mercado, desencadeiam crises", afirma Rockwell. Durante os dois dias de seminários em Porto Alegre, tradicional sede de encontros de esquerda, como o Fórum Social Mundial (cujo lema é "Um outro mundo é possível"), os ultraliberais austríacos alardearam a ideia de que um novo mercado é possível.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...