terça-feira, 4 de outubro de 2011

EUA desistem do livre comércio.


Jagdish Bhagwati, professor de economia e direito na Universidade de Columbia e membro sênior de Economia Internacional no Council on Foreign Relations, escreveu hoje no VALOR ECONÔMICO, sobre “EUA desistem do livre comércio”.

A indiferença e a apatia que vemos em Washington - tanto do Congresso como do presidente Barack Obama -, em relação à Rodada Doha de negociações comerciais mundiais e o alarme e a preocupação de estadistas de outros países diante da paralisia nas negociações, assinala o fim da era pós-1945 de liderança americana no livre comércio multilateral.
Sinais de nervosismo fora dos EUA estão claros a todos há quase um ano. A chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro-ministro britânico David Cameron ficaram tão preocupados que se aliaram aos presidentes da Turquia, Abdullah Gül, e da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, para, em novembro de 2010, nomear Peter Sutherland e eu como copresidentes de um Grupo de Alto Nível de Especialistas em Comércio. Nós realizamos um painel em Davos com esses líderes em janeiro de 2011, onde, por ocasião do nosso Relatório Preliminar, demos pleno apoio à conclusão da Rodada Doha. Mas não houve resposta dos EUA.
Em setembro, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, e o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo lembraram os líderes do G-20 que em novembro de 2009, em sua primeira reunião em Londres, eles tinham manifestado "o compromisso de concluir a rodada em 2010. E, há duas semanas, a ONU reuniu-se novamente para abordar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
O que precisamos hoje é que os maiores estadistas do mundo abandonem sua cautela e timidez e unam-se para empurrar o presidente Barack Obama na direção de uma conclusão bem sucedida para a Rodada Doha. Ainda não é tarde demais.
O Objetivo 8 diz respeito a instrumentos como comércio e ajuda, e o ODM 8A compromete os países membros da ONU a aprofundar o desenvolvimento de um sistema financeiro aberto, baseado em regras, previsível e não discriminatório
Mas, embora praticamente todos os países hoje tenham adotado os Acordos de Livre Comércio preferenciais, o recente líder nessa proliferação são os EUA. Lá, o Congresso e o presidente têm, aparentemente, bastante tempo para discutir ALCs bilaterais com a Coreia do Sul, a Colômbia e o Panamá, bem como a Parceria TransPacífica Regional (PTR), mas nenhum para negociar a não discriminatória Rodada de Doha, que está definhando, em seu décimo ano de negociações.
De fato, é notável que embora o discurso de Obama sobre o Estado da União, em janeiro de 2010, mencione Doha, seu discurso de janeiro de 2011 não se referiu a Doha. O lamentável recuo de Obama é resultado de muitos fatores e falácias. Essas foram destacadas em uma "Carta Aberta a Obama", que organizei e divulguei, com as assinaturas dos 50 mais influentes especialistas atuais em comércio em todo o mundo, pedindo uma mudança na política em relação a Doha.
O presidente dos EUA é cativo dos sindicatos de trabalhadores do país, que compram a falsa narrativa de que o comércio com os países pobres aumenta as fileiras de pobres nos EUA. Na verdade, porém, há uma abundância de evidências em suporte à narrativa oposta, de que a rápida e profunda mudança tecnológica poupadora de mão de obra é o que está exercendo pressão sobre os salários, e que as importações de bens intensivos em mão de obra barata que os trabalhadores americanos consomem estão, na verdade, compensando aquela tensão.
Os lobistas em Washington acreditam em especialistas em comércio, como Fred Bergsten, para quem o ganho proporcionado por Doha, em sua forma atual, é de meros US$ 7 bilhões por ano. Isso ignora as perdas bem maiores que uma Rodada de Doha inconclusa implicaria, por exemplo, minando a credibilidade da Organização Mundial do Comércio como principal fiador de um comércio baseado em regras e deixando a liberalização do comércio inteiramente no âmbito de liberalização discriminatória de acordos bilaterais preferenciais. Mais uma vez, alguém precisa dizer a Obama que importações também criam empregos e que sua ênfase apenas na promoção de exportações dos EUA são má teoria econômica.
 Acima de tudo, Obama é mal assessorado em comércio por seus colegas de alto nível. A secretária de Estado, Hillary Clinton, por exemplo, opôs-se à liberalização do comércio quando concorreu contra Obama à presidência e defendeu uma "pausa" nas negociações de livre comércio. Ela também interpretou erroneamente o grande economista Paul Samuelson, rotulando-o de protecionista, quando ele não disse nada do tipo. Ela nunca se retratou.
Da mesma forma, agora que Warren Buffett é considerado como o conselheiro econômico mais confiável de Obama, vale a pena recordar que em 2003 ele produziu a surpreendente prescrição segundo a qual a melhor maneira de reduzir o déficit comercial dos EUA era não permitir importações em montante superior ao que poderia financiar com sua receita de exportações. Um Samuelson, entre irônico e alarmado, chamou minha atenção para essa ideia maluca. Embora a prescrição de Buffett - impostos mais elevados para os americanos ricos - seja inteiramente desejável, será que Obama perceberá que um gênio numa área pode ser um idiota em outra?
O que precisamos hoje é que os maiores estadistas do mundo abandonem sua cautela e timidez e unam-se para empurrar Obama na direção de uma conclusão bem sucedida para a Rodada Doha. Somente isso se constituiria em contrapeso às forças que o levam à direção errada. Ainda não é tarde demais. 

Amazônia, energia elétrica e sustentabilidade.


Hoje, no VALOR ECONÔMICO, Joaquim Francisco de Carvalho e Ildo Luís Sauer escrevem sobre “Amazônia, energia elétrica e sustentabilidade”.

Imagens colhidas de satélites meteorológicos mostram que o clima da Amazônia exerce forte influência sobre os regimes hidrológicos e pluviométricos de toda a América do Sul, e garante a estabilidade climática, fluvial e pluviométrica - portanto, a sustentabilidade da agricultura - de todo o Brasil.
Assim, a Amazônia vale pela importância de seus próprios ecossistemas. Enquanto não se acumularem e testarem suficientes conhecimentos científicos e técnicos sobre os intrincados ecossistemas regionais, a Amazônia deve ser mantida em sua integridade, evitando-se, principalmente, a pecuária extensiva, a ampliação de monoculturas de exportação (soja, milho etc.), a exploração madeireira e a implantação de novos projetos de mineração.
Apesar da polêmica desencadeada pelas organizações ambientalistas, a alternativa mais interessante para se desenvolver a Amazônia, mantendo a sua integridade, seria a de aproveitar o potencial dos recursos naturais renováveis da região, com projetos de turismo ecológico, extrativismo e geração de energia elétrica. Além de serem excelentes geradores de empregos e uniformizarem a distribuição de renda na região, o turismo ecológico e o extrativismo dependem da integridade do ecossistema.
Quanto è geração de energia elétrica, a Amazônia tem um dos maiores potenciais do mundo e, mediante políticas inteligentes e rigorosamente aplicadas, as empresas públicas e o empresariado do setor de geração elétrica deverão se transformar nas maiores defensoras do ecossistema amazônico. Alterações causadas por desmatamentos para abrir terrenos para plantações de soja e milho, criação de gado, projetos de exploração mineral e outros comprometerão o potencial hidrelétrico, inviabilizando as próprias usinas.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o potencial hidrelétrico brasileiro é de 268 GW, dos quais apenas 30% estão em aproveitamento. A região amazônica detém 65% do potencial não aproveitado.
Admitamos que, por motivos de caráter social e ambiental, os planos de expansão do sistema elétrico sejam reformulados, para se limitar em 80% o potencial hidrelétrico a aproveitar na Amazônia - e que as hidrelétricas a serem implantadas naquela região alaguem 0,2 km2 /MW. O que é uma hipótese conservadora, pois a maioria dos aproveitamentos existentes em outras regiões e em construção, na própria Amazônia, apresenta uma relação bem menor entre área inundada e potência instalada. Neste caso o aproveitamento do potencial hidrelétrico amazônico ocuparia cerca de 0,4% da área da região, ou seja, menos do que os grandes projetos agrícolas ou de pecuária.
Mesmo assim o Brasil poderá adicionar uma capacidade hidrelétrica de 148,7 GW aos 79,3 GW já instalados. Somando-se a isto os 17 GW das pequenas hidrelétricas, teremos uma capacidade hidrelétrica total de 245 GW.
No entanto, as ONGs ambientalistas optam por uma posição fundamentalista, baseada no dogma de que a Amazônia é intocável. É certo que os ecossistemas amazônicos são delicados, mas isso não significa que ficarão estacionados em sua condição primordial, se é que se possa falar em condição primordial de sistemas que se vêm alterando desde a origem, como todos os ecossistemas terrestres.
Com ou sem hidrelétricas, os povos indígenas (que fazem parte do ecossistema amazônico) vão continuar com as derrubadas e queimadas de matas, tradicionais em sua agricultura. E ainda há as mineradoras, o agronegócio e os pecuaristas, sobre os quais as ONGs ambientalistas ficam silenciosas, preferindo vociferar contra o aproveitamento do potencial hidrelétrico, que poderá dar ao Brasil um sistema elétrico limpo e sustentável.
A interligação do sistema hidrelétrico com o sistema eólico permitiria que parte da energia gerada pelas centrais eólicas ficasse "armazenada", na forma de água acumulada nos reservatórios hidrelétricos - de maneira semelhante às malhas termo-eólicas de alguns países europeus, nas quais a energia dos parques eólicos permite que se economize gás natural ou óleo combustível. Segundo o Centro de Pesquisas em Energia Elétrica da Eletrobras, o potencial eólico brasileiro (com turbinas em torres de 50 metros) é de 143 GW. Note-se que, com torres mais altas, o potencial é maior.
O sistema hidroeólico poderia operar em sinergia com usinas termelétricas a biomassa, pois a frota automotiva brasileira é em grande parte alimentada com etanol, forçando a produção do bagaço de cana em escala suficiente para alimentar termelétricas de pequeno e médio porte, totalizando, em conjunto, uma capacidade da ordem de 15 GW, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Assim, aproveitando apenas fontes primárias limpas e renováveis, o sistema interligado hidroeólicobiotérmico teria uma capacidade conjunta de 403 GW, podendo gerar 1.589 GW por hora firmes por ano, admitindo-se, conservadoramente, que o fator de capacidade do sistema integrado será igual à média ponderada dos fatores de capacidade de cada sistema isoladamente, que é 0,45.
Por outro lado, de acordo com o IBGE, a população brasileira deverá se estabilizar em 215 milhões de habitantes, por volta do ano 2040, de modo que o sistema integrado hidroeólicobiotérmico teria um potencial suficiente para oferecer à população 7.390 kWh por habitante por ano, equiparando o Brasil a países de alto nível de qualidade de vida, tais como a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha.
A reserva de segurança do sistema hidroeólicobiotérmico seria constituída pelas termelétricas a gás já existentes nas diversas regiões do país. Portanto, ao contrário de alguns países europeus e do Japão que, em médio prazo, não têm melhor alternativa, o Brasil não precisa correr o risco de gerar em centrais nucleares a energia elétrica de que precisa ou precisará.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA - 07/09/2011


CARTA DE BONITO/MS
CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA - 07/09/2011
DESENVOLVIMENTO: INOVAÇÃO, TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE

Por ocasião da comemoração dos 60 anos de regulamentação da profissão, os Conselhos de Economia, como instância de representação múltipla da Categoria, visando esclarecer e promover uma reflexão sobre o assunto central do Congresso, vêm manifestar-se à opinião pública a respeito do debate recente sobre desindustrialização no Brasil.

Os critérios e as circunstâncias com base nos quais se caracteriza o que é em geral entendido como desindustrialização são diversos. O processo não é novo na História Econômica, mas, de modo geral, pode ocorrer em países que já alcançaram um alto grau de desenvolvimento. Sua caracterização vai desde a redução do nível e da capacidade de produção em termos absolutos até à perda de participação relativa da atividade industrial na geração de renda. Desindustrialização também pode ser entendida como redução da abrangência e da complementaridade dos setores industriais entre si e com o restante da economia. Assim, a inexistência ou fragmentação das cadeias produtivas pode ser vista como uma limitação ao ciclo da industrialização e como uma restrição à alavancagem do desenvolvimento consistente.

Numa perspectiva de longo prazo, o Brasil não pode continuar com o atual processo de aumento da dependência da importação de produtos industrializados. A atual substituição da produção interna por produtos importados ocorre antes que o país tenha alcançado o domínio dos processos tecnológicos estratégicos para assegurar a sustentabilidade de seu desenvolvimento soberano.

A questão se reveste de mais riscos ainda quando à situação antes descrita se associa uma recomposição das pautas de exportação, dependentes, crescentemente, da demanda internacional por produtos primários e de modesto valor agregado. Como é sabido, estes produtos são mais facilmente substituíveis, têm baixo conteúdo tecnológico e  as cotações são muito mais voláteis. Esta crescente especialização do padrão de exportação é a chamada reprimarização.

Este é, presentemente, um dos grandes desafios da economia brasileira, ainda mais nas circunstâncias em que o binômio câmbio sobrevalorizado e juros elevadíssimos está fortemente associado, e pesadas resistências e interesses internos se opõem à desativação dessa armadilha, cujos efeitos a médio prazo podem ser devastadores para o projeto nacional de desenvolvimento autônomo, continuado e vigoroso, capaz de tornar o Brasil emergente, enfim, no País do presente.

No entanto, o problema da desindustrialização não se restringe à natureza das políticas macroeconômicas. A questão central é a escolha de estratégias de desenvolvimento que impliquem mudanças estruturais efetivas, inclusive quanto ao deslocamento da fronteira de produção. A simples correção do câmbio real e do juro real não impede, necessariamente, o redirecionamento dos investimentos na direção da “linha de menor resistência” que, no caso brasileiro, é na direção da produção de bens intensivos em recursos naturais. 

A correção da gestão macroeconômica deve vir acompanhada de políticas estruturantes de novo padrão de acumulação e alocação de recursos. Os objetivos são impedir o viés na direção da especialização em produtos intensivos em recursos naturais e promover o deslocamento mais equilibrado e abrangente da fronteira de produção. Somente estruturas de produção mais abrangentes, robustas e competitivas permitem a melhora permanente de renda, consumo e distribuição, ou seja, o desenvolvimento econômico no longo prazo.

Nesta perspectiva, cabe considerar que os desafios das medidas macroeconômicas não sejam restritivos à sustentabilidade do desenvolvimento econômico.

Brasil lidera primeiro ranking de universidades latino-americanas.


Leio no UOL que o Brasil lidera primeiro ranking de universidades latino-americanas. Que ótima notícia!!!

O Brasil, com a Universidade de São Paulo (USP) no topo, lidera com folga, à frente de México, Argentina e Chile, o primeiro ranking QS de Universidades latino-americanas, publicado esta terça-feira no site TopUniversities.com.

Impulsionado pelo aumento do investimento público em educação, o Brasil emplacou 65 universidades entre as 200 primeiras da lista, quase o dobro do México (35) e muito mais do que Argentina e Chile (25 cada).

Segundo os autores do estudo, as universidades brasileiras adquiriram oito dos dez primeiros lugares em produtividade de pesquisa e tiveram a maior proporção de acadêmicos com doutorado.

Eles destacaram, ainda, que o número de matrículas universitárias triplicou nos últimos 10 anos no Brasil.

"A economia brasileira já é a sétima do mundo e a Goldman Sachs previu que superará as de Canadá, Itália, França, Reino Unido e Alemanha nos próximos 20 anos", disse Ben Sowter, chefe de pesquisas do ranking QS.

"Enquanto muitos governos de países desenvolvidos cortam os gastos em universidades, os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) estão investindo grandes quantias de dinheiro na construção de universidades de nível internacional", avaliou o diretor da página TopUniversities.com, Danny Birne, para quem o denominador comum é que todos consideram a educação um "elemento chave" para seu desenvolvimento.

"Uma educação superior de nível mundial será central para seu desenvolvimento e o novo ranking QS mostra que os investimentos do Brasil já estão começando a colher frutos", acrescentou, em um comunicado.

A classificação é liderada pela Universidade de São Paulo, seguida da Pontifícia Universidade Católica do Chile, em segundo lugar, e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em terceiro.

Com relação a outros países, a primeira instituição de ensino mexicana, a Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), apareceu em quinto lugar; em sexto está a primeira de 21 instituições colombianas, a Universidade dos Andes; e a primera da Argentina, a Universidade de Buenos Aires, em oitavo.

Nesta primeira edição do ranking regional, o QS se baseou em critérios específicos da América Latina, como a proporção de professores com doutorado, a produtividade de pesquisas per capita e a presença na internet, assim como pesquisas existentes.

Os pesquisadores, no entanto, se questionam se o Brasil poderá chegar a ser a próxima superpotência universitária.

No mais recente ranking QS das melhores universidades do mundo 2011, liderado pela primeira vez pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a USP só alcançou o 169º lugar, sendo a única instituição de ensino latino-americana entre as 200 melhores do mundo.

domingo, 2 de outubro de 2011

Preparem-se: Nobel de Economia em 10.10.2011.


Announcement of the 2011 Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel.
Watch the live webcast from the Royal Swedish Academy of Sciences, Stockholm, Sweden, on Monday 10 October, 1:00 p.m. CET at the earliest.
Following the announcement, an interview will be held with one of the Prize Committee members about the 2011 Prize in Economic Sciences.

Até quando teremos floresta no Pará?


Esta matéria do O GLOBO eu li no blog do Reinaldo Azevedo. Ele conclui que "enquanto o debate sobre o novo Código Florestal sataniza os ditos “ruralistas”, ficamos sabendo que um dos principais agentes do desmatamento no Pará é o governo e sua política de distribuição de terras."
*

Metade da população rural do Pará vive em áreas de reforma agrária
Por João Sorima Neto:
O Pará já tem uma “metrópole” vivendo em assentamentos. Dos 7,5 milhões de habitantes do estado, cerca de 1,3 milhão mora em áreas que foram destinadas à reforma agrária, segundo dados do Incra. Isso significa que os assentados correspondem a 17% da população total e à metade da população rural do estado. Pelo IBGE, uma cidade é considerada metrópole quando o número de seus habitantes ultrapassa um milhão. É como se toda a população de São Luís ou de Goiânia morasse em assentamentos. No Pará, para piorar, essa “metrópole” se expande e avança sobre áreas da Floresta Amazônica que deveriam ser preservadas. “O número é extremamente preocupante. Hoje, não há fiscalização eficaz em todos esses assentamentos, e muitos são irregulares. O desmate avança sem controle”, diz Paulo Amaral, pesquisador da Oscip Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Os números confirmam a preocupação. Levantamento do Imazon mostrou que, em agosto deste ano, o Pará foi o estado que mais desmatou na Amazônia. Foram 119 quilômetros quadrados de vegetação derrubada no estado, metade da área devastada na Amazônia Legal no período. A derrubada de árvores ocorre também nos assentamentos. No Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, sudeste do Pará, o Ibama descobriu recentemente 340 hectares de floresta que viraram pasto. Os fiscais do Ibama viram que as 200 famílias assentadas no início do projeto, em 1997, hoje são 400. “O número de famílias aumentou, seja porque muita gente invadiu o assentamento ou adquiriu terra ilegalmente. E a maioria não vive do agroextrativismo, do uso sustentável da floresta, mas da exploração ilegal de madeira e carvão, além da criação de gado”, diz Marco Vidal, coordenador da operação do Ibama em Nova Ipixuna.
Num dos lotes, o “proprietário” derrubou a mata até a margem de um rio para o gado pastar. Não respeitou sequer a área de preservação legal na beira de rios, para evitar assoreamento. A madeira cortada era para fazer carvão. Apesar de ocupar a terra, o agricultor nem morava ali. Ele disse aos fiscais do Ibama que comprou parte do lote de um assentado em agosto de 2010, por R$ 5 mil, em transação não reconhecida pelo Incra. Esse padrão, segundo o Imazon, repete-se em outros assentamentos do Pará: a madeira vira carvão; a floresta, pasto; o assentado arrenda ou vende a terra a madeireiros e agricultores.
Nos últimos três anos, 2,7 mil hectares de floresta viraram pasto no Praialta-Piranheira, segundo levantamento do Ibama de Marabá. Foi numa estrada para esse assentamento que o casal de extrativistas José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo morreu numa emboscada em maio. “Mesmo sendo o único assentamento agroextrativista do sudeste do Pará, o Praialta-Piranheira repete o mesmo padrão de toda a Amazônia paraense. Perde-se floresta para a pecuária”, diz Vidal.
Semana retrasada, no oeste do Pará, servidores do Incra pediram proteção à Polícia Federal. Eles foram ameaçados por madeireiros e grileiros que intimidam agricultores e assentados da região. Nessa área, está o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, idealizado pela missionária Dorothy Stang, que foi assassinada. O local é constantemente invadido para retirada ilegal de madeira, e moradores ligados aos madeireiros fazem protestos contra a ação do Ibama. “Esse modelo de assentamentos em terras da União não tem referência de sucesso”,  diz Carlos Lamarão, presidente do Instituto de Terras do Pará (Interpa), órgão do governo do estado que também faz doação de terras e já assentou 9.102 famílias no estado.
Estudo do Imazon mostrou que os assentamentos foram responsáveis por pelo menos 15% do desmatamento da Amazônia até 2004. No sul do Pará, onde há atualmente 500 assentamentos, o percentual de devastação da floresta sobe para 50% nesse período. A região, que engloba as cidades de Marabá, São Félix do Xingu, Santana do Araguaia e Tucuruí, tem sido um dos principais eixos de ocupação da Amazônia. A pressão por terras e recursos naturais ali é enorme. O resultado é que novos assentamentos têm sido criados em áreas de floresta nativa, e o desmatamento avança a uma taxa de 3% ao ano, diz o Imazon.
No oeste do estado, a Justiça Federal interditou 99 assentamentos criados pelo Incra, desde 2005, por irregularidades no licenciamento ambiental. Com a decisão, as famílias assentadas não podem receber recursos públicos para legalizar os lotes. Para o juiz Francisco de Assis Garcês Castro, o licenciamento em terras da União deve ser feito pelo Ibama, e não pela Secretaria estadual do Meio Ambiente, como ocorria. Segundo o Ministério Público Federal, que fez a denúncia, a regularização desses assentamentos atende a interesses dos madeireiros: a aprovação de planos de manejo para retirar madeira desses locais é mais simples.
O Incra está colocando à disposição dos trabalhadores rurais vastas porções de terras da Amazônia e sua cobiçada biodiversidade, sem verificar os efeitos que podem ser gerados no meio ambiente”, escreveu o juiz ao conceder a liminar.

sábado, 1 de outubro de 2011

Fator medo fajuto


PAUL KRUGMAN, hoje na FOLHA DE S. PAULO. 

A boa notícia: depois de passar um ano e meio falando sobre deficits, quando deveríamos estar falando de empregos, finalmente voltamos a discutir a questão certa.
A má notícia: os republicanos estão fixados em uma visão sobre o bloqueio à geração de empregos que se encaixa em seus preconceitos e atende a interesses de seus patrocinadores ricos. Mas essa visão não guarda relação com a realidade.
Em qualquer discurso de um pré-candidato presidencial republicano, você ouvirá declarações de que a administração Obama é responsável pelo pouco aumento na oferta de empregos.
Por quê? A resposta, reiterada sempre, é que as empresas têm medo de se expandir e gerar empregos porque temem regulamentos caros e impostos mais altos.
Não há provas que substanciem essa afirmação. Há muitas provas que a desmentem.
O ponto de partida de muitas alegações de que políticas antiempresas estariam prejudicando a economia é a afirmação de que o vagar da recuperação econômica após a recessão é algo sem precedentes. Mas, como documenta artigo de Lawrence Mishel, do Instituto de Política Econômica, isso não é verdade.
Períodos extensos de "recuperação sem empregos" depois de recessões vêm sendo a regra nas duas últimas décadas. Na realidade, o crescimento do emprego no setor privado desde a recessão de 2007-2009 vem sendo melhor do que foi após a recessão de 2001.
Mesmo assim, não há algo de estranho no fato de as empresas estarem auferindo lucros, mas não estarem gastando para ampliar sua capacidade e gerar empregos? Não.
Afinal, por que as empresas deveriam se expandir se não estão utilizando a capacidade que já possuem? O estouro da bolha imobiliária e a dívida das famílias vêm levando os consumidores a gastar menos e deixaram muitas empresas com mais capacidade ociosa.
Os investimentos das empresas sempre reagem ao estado da economia e, considerando quão fraca a economia dos EUA ainda está, não deve surpreender que os investimentos continuem baixos.
Mas os empresários não andam reclamando do ônus de impostos e regulamentos? Sim, mas não mais do que de costume. Mishel observa que a Federação Nacional de Empresas Independentes vem fazendo sondagens com pequenas empresas há quase 40 anos, pedindo que identifiquem seu problema mais importante. Os impostos e regulamentos sempre se destacam na lista de queixas, mas o que chama a atenção agora são as vendas fracas -o que sugere que seja a falta de demanda, e não o medo do governo, o que vem freando as empresas.
Logo, as declarações republicanas sobre o que está atrapalhando a economia são pura fantasia.
Isso também reflete a necessidade política da direita de fazer crer que tudo de ruim que acontece na América é culpa do presidente Barack Obama.
Não importa que bolha imobiliária, explosão da dívida e crise financeira tenham acontecido durante o governo de um presidente conservador; é o democrata que está na Casa Branca agora quem leva a culpa. A verdade é que estamos nesta confusão porque tivemos regulamentação de menos, não demais.

Neoliberais e desenvolvimentistas.


Mansueto Almeida, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no VALOR ECONÔMICO, escreveu sobre “Neoliberais e desenvolvimentistas.”

É comum encontrar nas páginas de jornais e em artigos acadêmicos um embate entre os chamados economistas neoliberais e os desenvolvimentistas. Em linhas gerais, os neoliberais são taxados de "cabeças de planilha", que acreditam ingenuamente em um mercado que se autorregula, na abertura comercial, na liberalização do fluxo de capital e dão importância excessiva aos fundamentos econômicos.

Os desenvolvimentistas seriam aqueles que acreditam no papel regulador do Estado, na proteção do mercado para fomentar a indústria doméstica, defendem a redução da taxa de juros e não veem restrições ao crescimento que não sejam a falta de ação do governo. A preocupação com os fundamentos econômicos é secundária, inclusive com a inflação, pois esse grupo acha irrelevante a discussão se a inflação será, por exemplo, de 6,45% ou 6,75% - a casa decimal pouco importa e, às vezes, nem mesmo o número inteiro.

O debate, quando colocado dessa forma extrema, até faz sentido do ponto de vista acadêmico, mas é pouco construtivo para o debate econômico atual e vários dos economistas que insistem em caracterizar de maneira caricatural seu suposto oponente sabem disso.

Um bom exemplo é o debate em relação à inflação. Em vez da discussão daqueles que defendem uma inflação de 0 a 3% ao ano, neoliberais, e aqueles que não se importam com a inflação, desenvolvimentistas, o debate atual é muito mais sutil e complicado. O que se discute hoje é a velocidade de convergência para a meta de inflação de 4,5% ao ano e as medidas necessárias para que essa convergência ocorra.

Alguns economistas acham que o Banco Central (BC) exagerou no seu cenário catastrófico da economia mundial, outros acham que o cenário do BC é cada vez mais provável e há sim uma chance real de o Brasil reduzir os juros. Mas há um quase consenso que esse esforço de redução do juros só será bem sucedido se acompanhado de maior responsabilidade fiscal e aumento da poupança pública. Essa tese é defendida por economistas que se identificam com as duas correntes.

Outro exemplo é em relação ao crescimento dos gastos sociais. Quando algum economista identificado com a ala neoliberal sugere o controle do crescimento dos gastos sociais como forma de reduzir o crescimento do gasto público, economistas desenvolvimentistas afirmam que seu colega neoliberal está propondo o fim do estado de bem estar social. Novamente, o debate é mais complicado. No Brasil, os gastos sociais crescem quase que continuamente desde a Constituição de 1988, mas é cada vez mais questionável a eficácia distributiva desses gastos e os desenvolvimentistas sabem disso.

Há, por exemplo, claras distorções nos gastos com pensão por morte e com seguro-desemprego, independentemente do debate se o eleitor quer mais ou menos política distributiva. Acho questionável que o eleitor entenda e queira que uma pessoa de 80 anos de idade se case com outra de 20 anos de idade e que esse ou essa jovem usufrua de uma renda vitalícia quando seu parceiro morrer. Da mesma forma, não é comum que os gastos com seguro-desemprego cresçam mesmo quando o desemprego diminui como acontece no Brasil. Racionalizar esses gastos tem adeptos nas duas correntes e, novamente, nenhuma relação com o embate entre neoliberais e desenvolvimentistas.

Em relação à falta de recursos para aumentar os investimentos em infraestrutura, saúde e educação, muitos acham que tudo pode ser "resolvido" com mais carga tributária. Mas aqueles que defendem essa proposta são grupos cuja renda depende mais do seu poder de lobby do que da sua produtividade. O problema é que mais carga tributária, para um país de renda média como o Brasil, fatalmente comprometerá o crescimento da economia. Novamente, neoliberais e desenvolvimentistas se colocam, em geral, contra novos aumentos da carga tributária.

Por fim, a última edição do índice de competitividade global do World Economic Forum mostra, mais uma vez, que os maiores problemas de competitividade do Brasil quando comparado com outros 141 países são: 1) a baixa qualidade da nossa infraestrutura; 2) elevada carga tributária, 3) excesso de regulação; 4) baixa qualidade da educação primária, 5) rigidez no mercado de trabalho; 6) burocracia na abertura de novos negócios, e 7) dívida e spread bancário elevados. Aumentar o investimento em infraestrutura e melhorar a qualidade da educação, por exemplo, não tem absolutamente nenhuma relação com o debate estéril entre desenvolvimentistas e neoliberais.

O que precisamos saber, por exemplo, é como reduzir o spread bancário, aumentar a eficiência do estado na execução de obras públicas, melhorar a eficácia dos gastos sociais, que já são elevados, reduzir as distorções dos gastos com pensão por morte e as regras de concessão do seguro desemprego. No mundo real, o governo é mais pragmático e busca a aprovação do eleitor. Se a elevação da inflação reduzir o índice de aprovação do governo, este voltará a ser mais "neoliberal". Por outro lado, se a ousadia do Banco Central se mostrar correta, o governo será mais desenvolvimentista. É "simples" assim, mas há ainda economistas supostamente maduros que não se cansam de brincar do bem contra o mal ou da batalha estéril entre desenvolvimentistas e neoliberais.

A China terá um acidente?


MOISÉS NAÍM, ontem na FOLHA DE S. PAULO, pergunta: “A China terá um acidente?
A economia do planeta irá para onde for a da China. Caso sofra um acidente econômico importante, os danos serão muito mais vastos e profundos que os da crise europeia atual. Será que na próxima década a China sofrerá um acidente que reduza seu crescimento econômico? Infelizmente, é provável que sim. A economia chinesa é como um carro veloz avançando por uma estrada de terra. Cedo ou tarde, topará com um buraco. Será um choque duro.
O acidente da China pode ser econômico, ecológico, social ou internacional. Para que se torne sério o suficiente para colocar em perigo a performance econômica total do país, terá que transbordar para mais de uma região e tornar-se uma crise política de primeira grandeza.
Um acidente financeiro ou ecológico pode ser justamente o gatilho de uma turbulência política ampla. Um crash da Bolsa que elimine uma parcela grande das economias das pessoas e as leve a sair às ruas, a contaminação da fonte de água de uma metrópole ou uma escaramuça com o Exército indiano em qualquer um dos pontos contestados da fronteira podem não ser, por si sós, suficientes para gerar instabilidade que faça a economia descarrilar.
Mas esses incidentes -ou outros difíceis de prever- podem ser a faísca que acenda uma turbulência política ampla que faça a economia desacelerar. A Primavera Árabe foi desencadeada pela imolação de um vendedor de frutas em uma pequena cidade do interior da Tunísia. O Banco Mundial prevê que, entre 2016 e 2020, a economia chinesa cresça 7% ao ano. É uma previsão muito otimista e que presume que não haverá acidentes. Mas mesmo esse índice mais otimista está 30% abaixo do índice atual e da média da década passada. Também a inflação está virando um problema. Nos últimos dez anos, esteve em menos de 2% ao ano. Agora está em mais de 6%, e os preços sobem, especialmente os dos alimentos.
Durante a era de Mao, a desigualdade era quase inexistente e, fosse qual fosse seu nível, era invisível para o resto da população. Hoje ela se equipara às piores do mundo e é altamente visível. Trabalhadores urbanos podem ganhar três vezes mais que camponeses da zona rural, e o número de chineses que ingressam na fileira dos bilionários do mundo quebra um recorde todos os anos.
A corrupção está por toda parte, e, apesar de algumas prisões de vez em quando -e até mesmo da pena de morte ocasionalmente aplicada a funcionários governamentais acusados de corrupção-, vem sendo largamente tolerada até agora. Uma queda econômica profunda e prolongada fará da corrupção uma fonte importante de revolta social e protestos. O mesmo se aplica aos problemas ecológicos crescentes, que, para muitos chineses, não são abstrações: há limites ao quanto as pessoas toleram receber em suas casas água marrom e malcheirosa para cozinhar ou tomar banho.
É fácil traçar uma lista dos gatilhos potenciais e das situações que os tornariam mais explosivos. O que não é fácil é saber qual deles será a faísca a desencadear uma turbulência que desacelere o crescimento chinês. Ou quando. Ou, ainda, se a China terá sorte e evitará um acidente. E com isso poupe o resto de nós de um acidente.

Previsões econômicas para 2011 e 2012.

Início de mês, último trimestre do ano, tempo ideal para previsões. E lá vem 2012 chegando...
Na revista EXAME as previsões do governo e de mercado para a economia brasileira em 2011 e 2012. Vejam também como o mercado visualiza os dados em cenários otimista e pessimista. Realmente, um 2012 com PIB negativo não é uma boa notícia ... 

Crescimento do PIB:
2011 - Governo: 4% - Mercado: 3,5%
2012 - Governo: 5% - Mercado otimista: 3,7% - Mercado pessimista: (-) 0,7%


Inflação (IPCA):
2011 - Governo: 5,8% - Mercado: 6,5%
2012 - Governo: 4,8% - Mercado otimista: 5,3% - Mercado pessimista: 6,2%


Taxa de juro básica:
2011 - Mercado: 11%
2012 - Mercado otimista: 11,5% - Mercado pessimista: 8,5%


Câmbio:

2011 - Mercado: R$ 1,68
2012 - Mercado otimista: R$ 1,65 - Mercado pessimista: R$ 2,10

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O mundo de Tombini.


Cristiano Romero, no VALOR ECONÔMICO de 28/09/2011 escreveu sobre “O mundo de Tombini.”

Nos últimos dias, motivado pela situação internacional, o mercado passou a apostar que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentaria, em outubro, o ritmo de redução da taxa de juros (Selic) - de 0,5 para um ponto percentual. Ontem, ao prestar depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, não sancionou essas apostas.

Para o dirigente máximo do BC, o cenário não mudou em relação àquele que levou o Copom a diminuir os juros, de forma surpreendente, no fim de agosto. A cena internacional é central na avaliação de Tombini. Ela ocupou metade do tempo de sua exposição no Senado. A outra metade foi dedicada à economia brasileira.

O prognóstico de Tombini é o de que as economias maduras estão entrando num período prolongado de baixo crescimento, com risco de crise soberana (da dívida dos países europeus) e financeira (dos bancos). O reflexo sobre o mundo será desinflacionário, à medida que diminuirá o crescimento das principais economias do planeta.

O quadro pintado por Tombini está em linha com o que pensam muitos economistas e analistas lá fora. O pessimismo aumentou na semana passada durante as reuniões e seminários realizados em Washington, sede dos encontros anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

O presidente do BC mencionou aos senadores a elevação significativa da dívida bruta de países como Grécia (de 105,4% para 165,6% do PIB entre 2007 e 2011), Irlanda (de 24,9% para 109,3%), Portugal (de 68,3% para 106%), Espanha (de 36,1% para 67,4%), Estados Unidos (de 62,3% para 100%) e Reino Unido (de 43,9% para 80,8%). Pior do que isso são as perspectivas para os próximos cinco anos.

Até lá, o endividamento de países como EUA e Japão deve continuar aumentando fortemente - no caso japonês, para incríveis 253,4% do PIB! Tombini explicou que o aumento da dívida dos países ricos afetou a percepção de risco, pelos mercados, dos títulos dessas economias. Grécia, Portugal e Irlanda, por exemplo, estão com risco soberano superior ao do Brasil desde o ano passado.

Itália e Espanha, duas economias fortes da Europa, também já apresentam risco-país maior que o do Brasil. A França, segundo maior PIB europeu, se aproxima rapidamente. Esse aumento de risco impactou a percepção de risco dos bancos, que possuem em seus balanços títulos dos governos. Isso está elevando o custo de captação dos bancos, principalmente no mercado interbancário, e derrubando o valor de suas ações. O risco dos bancos americanos e europeus, mesmo os da Alemanha e do Reino Unido, é atualmente comparável ao do Brasil - os da Itália, França e Espanha já ultrapassaram.

A combinação dos riscos soberano e financeiro está afetando a confiança de empresários e consumidores. A queda das ações e de outros ativos reduz, via efeito riqueza, a confiança dos agentes econômicos. "Já se fala em contração [do PIB] no quarto trimestre na Europa e no primeiro de 2012, nos EUA", observou o presidente do BC.

Os indicadores antecedentes da atividade industrial caminham para o território negativo nos EUA e já o fizeram na Zona do Euro. Nas bolsas de valores, a destruição de riqueza nos últimos quatro meses chegou a quase US$ 10 trilhões, fato que, enfatizou Tombini, também tem efeito "negativo e perverso" sobre o comportamento dos agentes econômicos.

Para completar o quadro aterrador, o presidente do BC lembrou que as economias maduras têm hoje espaço limitado para ampliar os gastos públicos. "Muitas economias terão que reduzir seus déficits ou mesmo gerar superávits primários", observou. Além disso, essas nações esgotaram os instrumentos convencionais de política monetária - as taxas de juros estão próximas de zero e, em alguns casos, são negativas.

Um dado fornecido por Tombini impressiona. Os dois principais bancos centrais do mundo - o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE) - ampliaram seus balanços por meio da compra agressiva de ativos nos últimos cinco anos, uma forma não convencional de expansão da política monetária. No primeiro caso, o total de ativos saltou de US$ 875 bilhões em 2006 para US$ 2,867 trilhões este mês; no segundo, de US$ 1,519 trilhão para US$ 2,856 trilhões.

Quando falou de economia brasileira, Tombini mostrou as defesas do país, defendeu a ideia de que o Brasil está hoje menos vulnerável do que em 2008 e reiterou a aposta de que a inflação começa a declinar no último trimestre do ano e volta à meta de 4,5% no fim de 2012. Aqui, há um problema.

Tombini disse que a inflação média mensal dos últimos cinco meses (setembro incluído) foi de 0,34%, face a 0,77% dos sete meses anteriores. Jogando para 12 meses o 0,34% mensal, o IPCA vai a 4,3%. Ocorre que, no período considerado, a inflação costuma ser mais baixa mesmo. A dessazonalização dos valores mostra, na verdade, um número bem mais alto - 6,9% em 12 meses.

Tombini não falou uma só vez, durante a apresentação, sobre a persistente deterioração das expectativas de inflação e também do repasse da desvalorização do real para os preços (neste caso, provocado por um senador, minimizou-a ao dizer que apenas 5% da perda de valor do real será repassada).

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A armadilha mortal da zona do euro.


PAUL KRUGMAN, direto no UOL.
É possível estar tanto apavorado quanto entediado? É como me sinto a respeito das negociações em andamento sobre como responder à crise econômica da Europa, e suspeito que outros observadores compartilham o sentimento.
Por um lado, a situação da Europa é realmente assustadora: com países que representam um terço da economia da zona do euro atualmente sob ataque especulativo, a própria existência da moeda única está sendo ameaçada –e um colapso do euro poderia infligir um vasto dano ao mundo.
Por outro lado, os autores de políticas europeus parecem decididos a fazer mais do mesmo. Eles provavelmente encontrarão uma forma de fornecer mais crédito para os países em dificuldades, o que pode vir ou não a impedir um desastre iminente. Mas eles parecem não estar prontos para reconhecer um fato crucial –o de que sem políticas fiscais e monetárias mais expansionistas nas economias mais fortes da Europa, todas essas tentativas de resgate fracassarão.
A história até o momento: a introdução do euro em 1999 levou a um vasto boom de empréstimos para as economias periféricas da Europa, porque os investidores acreditavam (equivocadamente) que a moeda comum tornava as dívidas da Grécia ou da Espanha tão seguras quanto a da Alemanha. Diferente do que você costuma ouvir, este boom de empréstimos não estava em grande parte financiando gastanças do governo –a Espanha e a Irlanda apresentavam na verdade superávits orçamentários às vésperas da crise, e apresentavam níveis baixos de endividamento. Em vez disso, o afluxo de dinheiro alimentava principalmente um boom de gastos privados, especialmente em imóveis residenciais.
Mas quando o boom de empréstimos terminou repentinamente, o resultado foi uma crise tanto econômica quanto fiscal. Recessões selvagens derrubaram a receita de impostos, colocando os orçamentos no vermelho; enquanto isso, o custo do resgate aos bancos levou a um aumento repentino da dívida pública. E um resultado foi o colapso da confiança dos investidores nos títulos da dívida dos países periféricos.
E agora? A resposta da Europa tem sido exigir uma dura austeridade fiscal, especialmente cortes profundos em gastos públicos, por parte dos devedores com problemas, fornecendo enquanto isso um financiamento tapa-buraco até o retorno da confiança do investidor privado. Essa estratégica pode funcionar?
Não para a Grécia, que realmente gastou excessivamente durante os anos bons, e deve mais do que plausivelmente pode pagar. Provavelmente não para a Irlanda e Portugal, que por motivos diferentes também têm um fardo pesado de dívida. Mas com um ambiente externo favorável –especialmente uma economia europeia de modo geral forte, com inflação moderada– a Espanha, que ainda possui uma dívida relativamente baixa, e a Itália, que apresenta uma dívida elevada, mas déficits surpreendentemente pequenos, possivelmente poderiam escapar.
Infelizmente, os autores de políticas europeus parecem determinados a negar a esses devedores o ambiente que precisam.
Pense desta forma: a demanda privada nos países devedores caiu com o fim do boom financiado pelo endividamento. Enquanto isso, os gastos do setor público também estão sendo profundamente reduzidos pelos programas de austeridade. Então, de onde viriam os empregos e o crescimento? A resposta é das exportações, principalmente para outros países europeus.
Mas as exportações não podem passar por um boom se os países credores também estão implantando políticas de austeridade, possivelmente levando a Europa como um todo de volta à recessão.
Além disso, os países devedores precisam reduzir preços e custos em relação a países credores como a Alemanha, o que não seria difícil se a Alemanha tivesse 3% ou 4% de inflação, permitindo aos países devedores ganharem terreno, simplesmente ao terem inflação baixa ou zero. Mas o Banco Central Europeu tem uma tendência deflacionária –ele cometeu um erro terrível ao elevar as taxas de juros em 2008, enquanto a crise financeira estava ganhando força, e mostrou que não aprendeu nada ao repetir o erro neste ano.
Como resultado, o mercado agora espera inflação muito baixa na Alemanha –em torno de 1% nos próximos cinco anos– o que implica em deflação significativa nos países devedores. Isso aprofundará suas recessões e aumentará o fardo real de suas dívidas, mais ou menos assegurando que todos os esforços de resgate fracassarão.
E eu não vejo sinal de que todas aquelas elites europeias de políticas estão prontas para repensar seu dogma de empréstimo com dinheiro de confiança e austeridade.
Parte do problema pode ser que essas elites de políticas tenham uma memória histórica seletiva. Elas adoram falar sobre a inflação alemã do início dos anos 20 –uma história que não tem nenhuma relação com nossa situação atual. Mas elas quase nunca falam sobre um exemplo muito mais relevante: as políticas de Heinrich Bruening, o chanceler da Alemanha de 1930 a 1932, cuja insistência em equilibrar o orçamento e preservar o padrão ouro tornou a Grande Depressão ainda pior na Alemanha do que no restante da Europa –preparando o caminho para você sabe o quê.
Agora, eu não espero que algo ruim assim aconteça na Europa do século 21. Mas há um abismo muito grande entre o que o euro precisa para sobreviver e o que os líderes europeus estão dispostos a fazer, ou mesmo falar em fazer. E diante desse abismo, é difícil encontrar razões para otimismo.

IC-PMN volta a subir, depois de três quedas consecutivas


O Índice de Confiança de Pequenos e Médios Negócios (IC-PMN), que reflete as perspectivas dos empresários do setor, voltou a subir no levantamento para o quarto trimestre deste ano, após três quedas consecutivas. O indicador registrou 73,7 pontos, em uma escala de 0 a 100, ante 72,3 pontos apurados na pesquisa para o terceiro trimestre. No entanto, o resultado não supera o alcançado no 4º trimestre de 2010, quando o IC-PMN teve sua maior pontuação, aos 75,5 pontos. Com periodicidade trimestral, o estudo é realizado em parceria entre Insper e Santander e está em sua 12ª edição.

Entre as questões que compõem o IC-PMN, foi registrado crescimento na confiança em relação ao desempenho da economia (72,3 pontos contra 70,5 no terceiro trimestre), expectativas de faturamento (78,4 contra 76,5) e de lucro dos empresários (76,2 contra 74,5). Já as previsões de investimento e de contratações tiveram pouca alteração em relação à última pesquisa.

 “É importante destacar que a interrupção de três quedas consecutivas do IC-PMN sinaliza uma estabilização do nível de confiança do setor, além de retratar o efeito sazonal do último trimestre, afetado essencialmente pelo aquecimento das vendas de Natal. Não podemos falar em recuperação do otimismo antes de avaliar os próximos trimestres”, aponta o professor do Insper José Luiz Rossi Junior. 

“ O  índice demonstra que os empresários estão confiantes no desempenho da economia brasileira no 4º Trimestre e esse otimismo  se  reflete numa evolução positiva, principalmente para os setores de Comércio e Serviços. O setor de Serviços tem um destaque especial, porque o índice de confiança está praticamente igual ao do 4º Trimestre do ano passado, quando a economia brasileira teve um grande desenvolvimento",  diz  César Fischer, Superintendente do Santander Pequenas e Médias Empresas.

Na segmentação por ramo da economia, o Comércio mostrou o crescimento mais significativo em relação ao último levantamento, de 71,3 para 73,2 pontos e o setor de serviços está quase tão confiante quanto no 4º trimestre de 2010 (74,9 e 75,1 respectivamente).

Todas as regiões, com exceção da Norte, apresentaram aumento de confiança em relação ao trimestre anterior. A região Centro-Oeste se destaca em otimismo, seguida pela região norte, mesmo com a queda em relação ao último levantamento.

O estudo para o IC-PMN envolve 1,2 mil empresas das cinco regiões do país. Foram ouvidos empresários de três ramos de atividade (comércio, serviços e indústria) e que faturam até R$ 30 milhões/ano.




3TRI 2011
4TRI 2011
IC-PMN NACIONAL
72,3
73,7
Economia
70,5
72,3
Ramo
75,4
76,7
Faturamento
76,5
78,4
Lucro
74,5
76,2
Empregados
67,1
68,3
Investimento
70,0
70,5

IC-PMN POR REGIÃO
3º Tri/11
4º Tri/11
Centro-Oeste
73,1
77,3
Nordeste
72,2
74,4
Norte
76,8
76,0
Sudeste
72,0
72,9
Sul
71,8
73,1

IC-PMN POR SETOR
3º Tri/11
4º Tri/11
Comércio
71,3
73,2
Indústria
73,5
73,5
Serviços
73,4
74,9

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...