Direto do FINANCIAL TIMES, um interessante artigo com o título UM ANO HUMILHANTE PARA OS ECONOMISTAS BRIGUENTOS. Precisamos mesmo refletir bastante sobre isso.
Na última segunda-feira (12), o Prêmio Nobel anual de Economia foi concedido pela primeira vez para uma mulher, a americana Elinor Ostrom, compartilhando a glória com o também americano Oliver Williamson (não é tecnicamente um Nobel de fato, mas não vamos entrar neste assunto) e, com ele, uma base proeminente de credibilidade a partir da qual pregar ao mundo. Dado o estado da disciplina, o Nobel realmente deveria ser concedido?
Sendo um economista, eu vou presumir que a resposta seja sim, sem sentir a necessidade de provar. Mas poderia ser de ajuda acompanhar o prêmio com um rebaixamento judicioso da certeza espúria com que os economistas fazem seus pronunciamentos.
Como é compulsório citar John Maynard Keynes pelo menos uma vez em qualquer discussão como esta, vamos logo com isso. Os economistas, disse Keynes, deveriam buscar ser considerados no mesmo patamar que dentistas - pessoas humildes realizando discretamente seu trabalho. Mas não tem sido bem assim.
Nos últimos meses, os cidadãos da econoblogosfera têm assistido com crescente divertimento, ou alarme, um bate-boca entre Paul Krugman (oficialmente conhecido como "o ganhador do Nobel, Paul Krugman"), de Princeton e do "The New York Times", e John Cochrane, da Universidade de Chicago. Cada um é um agente representativo de duas escolas. A primeira, uma abordagem mais keynesiana com uma análise macroeconômica mais abrangente, tende ao ceticismo em relação à eficiência dos mercados e está atualmente pedindo por gastos do governo para ajudar a tirar o mundo da recessão. A segunda, cujas conclusões macroeconômicas estão enraizadas mais proximamente da microeconomia, deposita uma maior confiança nos mercados e é cética em relação a uma política fiscal ativa.
Falando de modo geral, eles são conhecidos respectivamente como economistas "água salgada" e "água doce", devido à preponderância dos primeiros nas academias costeiras americanas - Harvard, Princeton, Berkeley - e os últimos nas universidades próximas dos Grandes Lagos - Chicago, Minnesota, Carnegie-Mellon.
O ataque inicial do prof. Krugman acusou a escola de Chicago de refletir "uma Era das Trevas da macroeconomia, na qual conhecimento arduamente obtido foi esquecido". O contra-ataque do prof. Cochrane comparou o prof. Krugman a um cientista que nega que o HIV causa a Aids ou que considera o aquecimento global um mito.
Curiosamente, o "ex-favorito" para o prêmio Nobel Eugene Fama, de Chicago, é um dos mais novos dentre o pessoal de água doce. Seu trabalho ajudou a popularizar a "hipótese da eficiência do mercado", que, falando de modo geral, defende que os preços dos ativos nos mercados financeiros refletem toda a informação disponível. Essa tese está sob intenso ataque em consequência da crise financeira, e um Nobel para o prof. Fama sem dúvida incitaria ainda mais a controvérsia e transformaria a disputa com o prof. Krugman em uma batalha de laureados.
A abundância de sarcasmo na economia me surpreendeu quando cheguei à matéria via o estudo de história. Os historiadores discordam, de forma frequentemente violenta, mas poucos declarariam que a abordagem de seus oponentes é incontestavelmente errada, ou buscariam se reunir em grupos de acadêmicos de mentalidade semelhante.
As comparações do prof. Cochrane do prof. Krugman a um cientista dissidente são significativas, mas enganadoras. A física e a biologia desenvolveram grandes corpos de conhecimento estabelecido que não é seriamente contestado. Ainda há, é claro, controvérsias acirradas. Mas ninguém está genuinamente tentando derrubar as leis do movimento de Newton.
A economia não tem esperança de decidir de forma definitiva grande parte da matéria, certamente não a esta altura. A matéria é confusamente complexa, assim como relativamente jovem, e grande parte dos dados é incompleto e não confiável.
Insistir que a economia é uma ciência "hard" parece alimentar a virulência do desacordo, já que os oponentes podem ser retratados não apenas como equivocados, mas como ilegítimos. Para constar, eu estou no lado água salgada no que se refere à teoria econômica e as atuais recomendações de políticas. Mas estou disposto a aceitar que possa estar errado.
Não é de desrespeito que a economia precisa: é de uma dose de humildade. E qualquer um que disser o contrário é um idiota.
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