Hoje, na FOLHA DE S. PAULO, a análise de MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE, economista, professora da PUC-RJ e diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, sobre a atual situação econômica e política.
A saída de Antonio Palocci altera os rumos da política monetária? A julgar pela reação dos mercados e pela última decisão de juros, não. Segundo os analistas, desde que eclodiu a crise política com as revelações sobre a evolução do patrimônio do ex-ministro, a sua provável queda já estava "no preço".
Além disso, o Banco Central já sinalizara, tanto no relatório de inflação quanto na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, que as incertezas externas e internas exigiam ritmo mais cauteloso de aperto monetário, embora, possivelmente, mais prolongado.
O julgamento do Copom sobre a exacerbação da incerteza é justificado. O desastre japonês afetou cadeias de produção, a crise fiscal europeia se agravou e a economia americana tropeçou nos dois últimos meses.
A inflação brasileira, que desacelerou em maio e deve continuar branda nos próximos dois ou três meses, também respalda o gradualismo do Banco Central.
No curto prazo, portanto, a saída de Palocci não repercute nos cenários de inflação e juros, e tampouco na percepção do mercado sobre a atuação do Banco Central. Entretanto, tudo se complica no médio prazo.
A desaceleração constatada no primeiro trimestre deste ano, e que deve se intensificar no segundo, ainda é desequilibrada, afetando mais a indústria do que o setor de serviços, o algoz da inflação brasileira.
Os salários, que crescem acima da produtividade industrial, ganharão novo impulso com os dissídios do terceiro trimestre e com o aumento do salário mínimo no ano que vem.
E a suavização do crescimento mundial, que reverteu a alta das commodities, pode ser apenas temporária.
Já era pouco provável que a convergência da inflação para o centro da meta em 2012 fosse alcançada.
Agora, com um governo que ficou sem o seu principal articulador político e com um Banco Central que perdeu um importante aliado contra a visão de que é possível crescer um pouco mais tolerando alguma inflação adicional, o quadro macroeconômico ficou ainda mais nebuloso.
Se a presidente Dilma não conseguir recuperar a tração política, a execução dos cortes orçamentários e a manutenção de um regime de maior austeridade ficarão comprometidas.
Se a inflação voltar a acelerar no fim do ano, necessitando de ajuste mais intenso da política monetária e de freio maior na atividade, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não poderá contar com o auxílio do ex-ministro Palocci.
Apesar do episódio lamentável que resultou na sua queda, o ex-chefe da Casa Civil fará falta. Sobretudo ao Banco Central.
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