Uma ótima notícia hoje na Folha de S. Paulo:
FGV entra para lista dos 'núcleos globais do pensamento'.
Dias antes da cúpula dos Brics, os núcleos de
reflexão ("think tanks") de Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul se reuniram em Nova Déli, na Índia, para tratar de temas que os
líderes discutiriam depois.
Entre os tópicos estavam o banco de
desenvolvimento conjunto, o comércio em moedas locais, a coordenação em
política externa e a inovação tecnológica.
Pelo Brasil, estava lá a FGV (Fundação
Getúlio Vargas). O conceito é novo tanto aqui como nos outros Brics, mas os
"thinks tanks" dos emergentes começam a ombrear seus modelos
centenários dos Estados Unidos e da Europa.
Na nova edição do ranking dos 30 principais
no mundo, feito pela Universidade da Pensilvânia (UPenn), a FGV surgiu em 27º.
A Rússia emplacou dois centros, a China um -a Academia Chinesa de Ciências
Sociais.
O ranking é levantado ao longo de oito meses,
das indicações ao resultado, num processo que envolve 1.500 especialistas do
mundo todo.
James McGann, diretor do Programa de Think
Tanks e Sociedades Civis da UPenn, afirma que a presença do Brasil "está
diretamente relacionada à sua ascensão no mundo". A comunidade
internacional está mais atenta aos emergentes "por causa das mudanças no
poder global".
Carlos Ivan Simonsen Leal, presidente da FGV,
diz que "o mundo resolveu olhar para outros países e, em especial, para o
Brasil". Para
Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais que representou a
fundação na Índia, "a capacidade de determinar a agenda da conversa global
já não fica só com as instituições americanas".
Stuenkel diz que "hoje um debate sobre
qualquer desafio global precisa de alguém de instituição brasileira, porque o
país já é um ator importante em todas as áreas".
No ranking, outros centros do país são
lembrados, como Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Para além da maior visibilidade dos
emergentes, McGann vê em seus governos e nas próprias sociedades "maior
apoio a essas organizações de política pública, como forma de incrementar a
projeção de sua influência, regional e global". Lideram a lista
Brookings (EUA), Chatham House (Reino Unido), Carnegie (EUA) e Council on
Foreign Relations (EUA).
Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de
Políticas Sociais da FGV, acredita que "a fundação funciona como uma
janela do mundo para o país", que "as pessoas que querem conhecê-lo
usam a fundação para conversar com o país".
Na avaliação de Simonsen Leal, uma das mudanças
que levaram à classificação surpreendente foi que a instituição "resolveu
colocar sua mensagem como os demais 'think tanks': não tem só a linguagem
acadêmica, mas traduz essa linguagem para as pessoas".
A maior diversidade ocorreu sobretudo na
última década, diz Neri. "A fundação sempre foi muito ligada à visão
empresarial, mais 'business', que ainda é o lado preponderante, mas tem
participado do desenho de políticas educacionais, sociais."
E se internacionalizou, por exemplo, abrindo
cátedras para um chinês e um indiano, por ano.
Stuenkel diz que no ambiente acadêmico
brasileiro, em que os pesquisadores ainda "se isolam bastante", a FGV
se diferencia por "não se ver apenas como universidade, mas também como
'think tank', tomando como parte de sua missão ser um ator visível no debate
público".
Além de políticas sociais e relações
internacionais, outra área que cresceu foi a de tecnologia da informação.
"É a inserção da fundação na economia do
século 21", diz Cláudio Vilar Furtado, coordenador do GVCepe (Centro de
Estudos em Private Equity e Venture Capital).
Diz que em toda a instituição aumentou a
produção de "bens públicos, bens de conhecimento". E que "no
GVCepe as nossas publicações correm mundo, somos sempre procurados aqui e
referidos por quem quer informação a respeito das start-ups de base tecnológica
no Brasil, a respeito da indústria de venture capital".
Para McGann, "em termos de
evolução" a FGV se compara à líder Brooking e à Rand, sexta na lista. Os
dois think tanks também surgiram com escolas de graduação, ligadas à pesquisa e
à análise que realizavam, algo que a Rand mantém até hoje "e é de
primeira".