Em homenagem ao nome deste blog, registro uma frase que li recentemente
num livro do professor Claude Jessua: “O capitalismo triunfou, e não se imagina
agora que tipo de sistema rival lhe possa ser oposto."
segunda-feira, 19 de março de 2012
Insper - evento em 22.03.2012.
O Insper – Instituição de Ensino e Pesquisa sem
fins lucrativos – promove no dia 22 de março, em seu campus, Seminário
“Fundraising – Melhores Práticas”. O objetivo desse seminário gratuito é o de
disseminar para diferentes Institutos, Fundações e ONGs Brasileiras as melhores
práticas de Governança e perenidade, contribuindo para o desenvolvimento da
sociedade, por meio do fortalecimento dessas Instituições de cunho social.
Como
Keynote speaker, o Insper receberá o especialista em captação de recursos,
Howard Stevenson, para debater as melhores práticas nesta área. Professor da
Harvard Bussiness Administration e membro do Conselho Deliberativo do Insper,
ele traz ao Brasil os conceitos de seu mais novo livro – “Getting to Giving:
Fundraising the Entrepreneurial Way”.
Participantes:
Claudio Lottenberg – Presidente do Hospital
Israelita Albert Einstein e Professor Titular do curso de Ciências Políticas do
MBA em Saúde do Insper. Foi membro do Conselho Nacional de Assistência
Social e do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; ex
Secretário Municipal de Saúde do município de São Paulo. Conselheiro da
Fundação Nacional da Qualidade – FNQ, no triênio 2007-2010 e Membro do Board do
Pan-American Ophtalmological Foundation.
Alvaro de Sousa – Presidente do Conselho
da GOL - Linhas Aéreas Inteligentes e do Conselho Diretor do WWF - Worldwide
Wildlife Fund no Brasil. É também Conselheiro das seguintes empresas e
entidades: WWF International Board of Trustees, Fundo Brasileiro para a
Biodiversidade (FUNBIO), Duratex S/A, CSU-CardSystem e Santos Futebol Clube,
além de Coordenador do Comitê de Auditoria e Conselho Fiscal da AMBEV. É também
Diretor da AdS – Gestão, Consultoria e Investimentos Ltda.
Marcelo Barbosa -
Sócio fundador do Escritório, Conselheiro da Fundação Estudar e Diretor
Estatutário do Insper. É bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Master of Laws pela Columbia
University School of Law.
Mediador:
Claudio Haddad - Presidente do Insper
Instituto de Ensino e Pesquisa (entidade sem fins lucrativos). Membro do
Conselho de Administração da BM&FBovespa, da Ideal Invest S.A., do
Instituto Unibanco e do Hospital Israelita Albert Einstein. Presidente do
Conselho do Brazil Harvard Office, do David Rockfeller Center for Latin
American Studies. Sócio e Diretor Superintendente do Banco Garantia (83-98).
Diretor do Banco Central do Brasil (80-82).
Fundraising – Melhores Práticas
Data: 22/03/2012 (quinta-feira)
Horário: das 9h00 às 12h00
Local: Auditório Steffi e Max Perlman - Campus
Insper
Rua Quatá, 300 -
Vila Olímpia - São Paulo/SP
Estacionamento: Rua Uberabinha, s/nº
Estacionamento: Rua Uberabinha, s/nº
PROGRAMAÇÃO
9h00 – 9h30
|
Welcome Coffee
|
9h30 - 11h00
|
Palestra: Getting to Giving:
Fundraising the Entrepreneurial Way (Howard Stevensen)
|
11h00 - 12h00
|
Mesa redonda:
Captando recursos para uma ONG Internacional (Alvaro de Sousa); Hospital
Albert Einstein um case de sucesso (Claudio Lottemberg); Formação e
Administração de Endowment (Marcelo Barbosa)
|
domingo, 18 de março de 2012
Ilan Goldfajn entrevistado na Folha.
Na Folha de hoje, entrevista com Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central.
Na entrevista, Goldfajn diz que problemas como a baixa competitividade da
indústria nacional e a falta de mão de obra qualificada em vários setores são
tão ou mais importantes para o futuro do país do que o nível dos juros.
sábado, 17 de março de 2012
Poupar ou viajar?
A
revista EXAME destaca que entre os países do BRIC, o Brasil é o que tem a menor
taxa de poupança doméstica. Isso significa que depende mais de capitais externos
para financiar seus investimentos. E cita que enquanto a China registra a taxa
de poupança doméstica (% do PIB) de 53,8%, a Índia de 35,4%, a Rússia de 28,2%,
o Brasil tem apenas 17,3%.
Enquanto isso, os aeroportos das maiores cidades do mundo estão recebendo diariamente mais e mais brasileiros. Em
2011 os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 21,2 bilhões. Com isso,
as despesas de brasileiros lá fora cresceram 29,2% em relação ao ano de 2010, que totalizou US$ 16,42 bilhões e bateram novo recorde da série histórica do Banco Central,
que começa em 1947. O recorde anterior havia sido registrado justamente em
2010.
Acredito que precisamos fazer um estágio no Japão...
Bradesco 2012.
Conforme
ranking da Brand Finance, publicado na revista The Banker, o brasileiro
BRADESCO, com US$ 15.692 bilhões, é a 9ª marca de banco mais valiosa do mundo. A 1ª posição ficou com o britânico, o nosso
conhecido HSBC, com o valor de US$ 27.597 bilhões.
sexta-feira, 16 de março de 2012
A reputação da USP.
Editorial da Folha de hoje comenta uma boa
notícia sobre a USP.
A classificação da USP entre as 70
universidades com melhor reputação no mundo evoca a metáfora um tanto gasta do
copo cheio (ou vazio) pela metade. É uma boa notícia, por certo, ainda que não
mereça ser brindada com entusiasmo.
A USP é a única instituição da América Latina
entre as cem da lista das mais reputadas compilada pelo grupo THE (Times Higher
Education).
No ano passado, nem aparecia na relação. Fica longe de fazer feio, de toda
maneira, uma universidade que se encontra no mesmo patamar de centros como a
Universidade Humboldt (Berlim) e o King's College (Londres).
Galgar 30 posições de um ano para o outro,
por outro lado, constitui um salto que não pode ser explicado por repentino
avanço de qualidade. É provável que fatores externos, como a crescente
visibilidade do Brasil -sexta maior economia, a caminho de tornar-se a quinta-
no cenário mundial, estejam por trás da arrancada.
Tampouco se descartam mudanças na consulta do
THE como explicação para o desempenho da USP. Quase 18 mil pesquisadores de
todo o mundo -31% mais que na versão anterior- foram convidados a indicar as 15
instituições de pesquisa mais prestigiosas. Parece plausível que a amostra
inclua número relativamente menor de cientistas da esfera anglo-saxã e europeia
de pesquisa, o que aumentaria a chance de menções a universidades mais
periféricas.
Tais hipóteses não desmerecem a colocação da
USP, é claro. Afinal, duas outras nações do festejado grupo dos Brics -Rússia e
Índia- desapareceram da lista de cem melhores. Só a China segue na relação, com
duas universidades entre as 40 melhores: a Tsinghua (30º lugar) e a de Pequim
(38º).
Deslocamentos assim abruptos dão testemunho,
ainda, da precariedade intrínseca a essas classificações. Basta variar os
critérios -como quantidade de artigos científicos publicados ou número de
patentes e prêmios Nobel- e o peso atribuído a eles para chegar a listas
díspares entre si. O próprio THE traz a USP na 178ª posição num ranking mais
geral, que agrega 12 quesitos ao de reputação.
Tais classificações devem ser tomadas, em
conjunto, apenas como guia para traçar um programa de reforma contínua daquela
que é a melhor universidade do Brasil.
quinta-feira, 15 de março de 2012
A taxa de juro real: o Banco Central e o mercado.
Cristiane Alkmin J. Schmidt é doutora em Economia pela EPGE/FGV, ex-secretária-adjunta da Seae/MF e professora da FGV. Este artigo foi publicado no Valor Econômico.
O Banco Central (BC) sonda as instituições sobre temas que julga relevantes. O tópico da vez é a taxa de juros real neutra do país, que para o BC pode ser até menor do que 4%, pois, para dezembro de 2012, mesmo com uma inflação esperada em 5,27%, a Selic indicada é 9%. A mediana do mercado, porém, considera que ela seja de 5,5%.
A discussão é pertinente e tempestiva, pois o Brasil, ainda que tenha apresentado mudanças estruturais, está com uma dinâmica peculiar: preços relativos estranhos, custo de vida acima do de economias com renda per capita o dobro da brasileira, muito fluxo de capital entrando no país, inflação acima da meta e crescimento abaixo do potencial. Por isso deve-se questionar qual é o juro real que permite à economia crescer sem criar pressão inflacionária.
Pesquisa feita em 2010 aponta que a mediana da taxa neutra era de 6,75%. Há consenso (88%), assim, de que ela decresceu. Mas mesmo que ela siga sendo uma das mais altas do mundo e que haja o desejo (da sociedade, não só do governo) em diminuí-la, a redução da taxa Selic se sustenta no médio prazo?
Antes de responder, pois, vale tocar em dois pontos. Primeiro que, sem choques na economia, se o Banco Central entende que a taxa neutra é mais baixa do que aquela verdadeira (não observável), a demanda agregada é estimulada, que pressiona a inflação. Segundo, uma forma de inferir como ditas taxas divergem é comparar as taxas de inflação efetiva e esperada com relação à sua meta.
Isso posto, até 2004, esses desvios foram elevados, indicando que o BC estava subestimando a taxa neutra ou que a economia estava sofrendo choques. Em março de 2003, por exemplo, o IPCA foi de 17%, a meta de 4%, e a diferença, assim, de 13 pontos percentuais. De fato, além da crise na Argentina, o evento de 11 de setembro e o racionamento de energia, em 2001, após as eleições em 2002, o Brasil passou por um período conturbado, com real desvalorizado, que pressionou ainda mais a inflação nos períodos subsequentes.
Com respeito ao período após 2004, os desvios não foram grandes ou persistentes. A partir de março de 2010, porém, eles sugerem alguma preocupação. Pode ser que revertam, como ocorreu entre junho de 2004 e abril de 2006, mas já são 23 meses consecutivos de desvios positivos e a expectativa é de que sigam assim por pelo menos mais 24 meses (Focus). Não se pode rejeitar, portanto, a hipótese de que o juro real neutro esteja acima daquele que o BC entende que é.
Tome-se, por exemplo, o ano de 2011. Como o IPCA foi de 6,5% e a média Selic de 11,62%, a taxa de juros real implícita foi de 4,81%, valor abaixo da mediana de mercado (5,5%). Não por menos o desvio entre o IPCA e a meta (4,5%) ficou positivo todo o ano de 2011. Em janeiro de 2012, com a inflação em 6,22% e a média-Selic em 10,69%, a taxa de juros real implícita ficou ainda menor, em 4,21%. Finalmente para o ano de 2012, com a inflação projetada em 5,25% e média-meta-Selic ao redor de 9,5%, a taxa real deverá ser de 4%, também abaixo do consenso do mercado.
Em suma, o juro real efetivo (induzido pelo BC ao impor a meta-Selic) parece não estar condizente nem com o que o mercado estima como sendo o neutro, nem com o verdadeiro. Ou seja, esta taxa hoje não parece estar condizente com os fundamentos da economia brasileira.
De certo, os fatos falam por si. Para crescer precisa-se de investimento (a taxa é de 19,3%), que, por sua vez, precisa-se de poupança, que tem sido baixa (17,2%). Adiciona-se o fato de que há 6 trimestres a produtividade não cresce (Ibre/FGV, Valor, 5/3/12) e de que o Brasil parece estar passando pelo "Lewis turning point" (o ponto em que o mercado de trabalho saturado passa a pressionar os salários). Assim, por mais que o produto esteja crescendo abaixo do seu potencial (argumento para reduzir a Selic), o desemprego está baixo (o que pressiona o custo das empresas) e a inflação, mesmo decrescente desde outubro de 2011, está há dois anos acima da meta e pode ficar assim por pelo menos mais um. A inflação de serviços, que representa 25% do IPCA, está acima de 9% e não parece que dará trégua. E com o governo evitando a valorização do real e impondo barreiras à importação, a inflação dos bens comercializáveis pode deixar de ajudar a arrefecer o IPCA.
Impor juro real baixo como o governo vem fazendo e dizendo que continuará a fazer, é, portanto, discutível. Enquanto o BC sustenta que haverá convergência da inflação para a meta, o mercado não enxerga este cenário nem para 2013.
Para dar mais transparência, o BC poderia aumentar a meta de inflação ou, talvez, alterar a sua estratégia com relação à Selic. Diminui-la hoje (até 6%!) para conter o fluxo externo de capitais e estimular o PIB pode significar ter que aumentá-la mais ainda no futuro para frear a inflação.
A realidade é que há dúvidas quanto à meta de inflação que o BC de fato persegue e também sobre o juro real que ele julga ser o neutro. Mesmo considerando os complexos desafios que o BC tem passado, há questionamentos quanto à redução da taxa de juro real, que, como parece ser insustentável, acaba sendo uma estratégia não crível no médio prazo.
quarta-feira, 14 de março de 2012
Mises, sempre atual.
Se
caem as importações, as exportações também caem. Os cidadãos que foram impedidos
de comprar mercadorias importadas, de pagar dívidas a estrangeiros e de viajar
ao exterior não vão entesourar o dinheiro não gasto, aumentando os seus
encaixes. Irão aumentar as suas compras de bens de consumo ou de produção, provocando,
assim, maior tendência de aumento dos preços domésticos. E quanto mais os
preços internos aumentam, mais difícil exportar.
Ludwig
von Mises em “Ação Humana – Um Tratado de Economia" – página 905.
Microcrédito.
Antonio Delfim Netto, hoje na Folha de S. Paulo.
Talvez um dos fatos importantes a respeito da
sociedade brasileira seja a afirmação de "identidade" de um enorme
contingente populacional que gosta de imaginar-se como "classe
média".
Isso, obviamente, não é acidente nem produto
espontâneo. É consequência de um processo civilizatório recente em que as
políticas sociais sujeitas a algumas condicionalidades foram mais bem focadas.
Paralelamente, houve uma "inclusão"
desses cidadãos na economia de "mercado" devido ao forte aumento das
oportunidades de emprego e ao acesso ao crédito.
Uma das características mais marcantes desses
novos cidadãos é a "internalização" de que o fator mais importante
para "subir na vida" é a conquista da educação para si e para seus
filhos, ainda que lhes custe enormes sacrifícios.
Só não percebe essa ascensão social quem
sofre de miopia. É tal ascensão que vai continuar a permitir a construção de um
mercado interno capaz de garantir o mínimo de economicidade e
"incluir" o Brasil, de forma adequada e relativamente segura, na
globalização avassaladora que fragmentou o processo produtivo.
Esses fatos são visíveis na recente pesquisa
feita pela Fondapol (Fondation pour l'Innovation Politique), em meados de 2011,
com jovens de 25 países, em que se perguntou: 1º) Você acha seu futuro
promissor ("prometteur")?; 2º) Você acha o futuro do seu país
promissor?
À primeira pergunta 87% dos jovens
brasileiros responderam afirmativamente, e à segunda, 72%. Isso contrasta com
os EUA, onde à primeira pergunta 81% responderam afirmativamente, mas à
segunda, apenas 37%. O curioso é que na China a coisa se inverte: 73% creem que
têm futuro promissor, mas 82% creem no futuro promissor do seu país.
O governo decidiu estimular o Banco do Brasil
-agora proprietário do Banco Postal- e a Caixa Econômica Federal -que controla
as "lotéricas"- a expandirem cuidadosa e seguramente o microcrédito,
com taxas de juros mais acessíveis e menor burocracia, o que deve aumentar a
"inclusão" social.
É importante dizer que, para fazê-lo, não se
cogita subsídio do Tesouro ou violação das garantias exigidas pelo Banco
Central, mas, sim, redução da distância entre os bancos e o tomador de crédito,
diminuindo o evidente constrangimento dos mais pobres de acessarem os bancos.
Isso vai ser feito aproveitando a
"imagem" e a reputação secular do BB e da CEF -que, para os mais
simples, significam segurança absoluta. A economia de escala deve tornar os
seus "spreads" mais atrativos do que os dos bancos privados que só
agora começam a "descobrir" os potenciais novos clientes e vão ter
que disputá-los.
terça-feira, 13 de março de 2012
USP é universidade que mais forma doutores no mundo.
Agência FAPESP – A Universidade de São Paulo
(USP) é a universidade que mais forma doutores mundialmente. A constatação é do
Ranking Acadêmico de Universidades do Mundo (ARWU, na sigla em inglês) por
indicadores, elaborado pelo Centro de Universidades de Classe Mundial (CWCU) e
pelo Instituto de Educação Superior da Universidade Jiao Tong, em Xangai, na
China, que aponta a universidade paulista como a primeira colocada em número de
doutorados defendidos entre 682 instituições globais.
O ranking também indica a USP como a terceira
colocada em verba anual para pesquisa, entre 637 universidades, além de a
quinta em número de artigos científicos publicados, entre 1.181 instituições em
todo o mundo, e a 21ª em porcentagem de professores com doutorado em um
universo de 286 universidades.
Na avaliação de Vahan Agopyan, pró-reitor de
Pós-Graduação da USP e membro do Conselho Superior da FAPESP, a liderança
mundial na formação de doutores, apontada pelo levantamento global, deve-se à
tradição da pós-graduação da USP no Brasil.
Em 1965, quando foram definidas as novas
diretrizes da pós-graduação no país, baseadas no trabalho de Newton Sucupira
(1920-2007) – responsável pela criação do Conselho Federal de Educação,
atualmente Conselho Nacional de Educação – a USP já possuía um número muito
expressivo de docentes com doutorado, e se destacou como a universidade que
viria a suprir a demanda do país por mestres e doutores.
“Nas décadas de 1970 e 1980, praticamente
metade dos doutorados no Brasil eram realizados na USP, e hoje mais de 20% dos
pós-graduandos no país também obtém o título de doutor aqui. Isso permitiu que
a universidade se tornasse um grande centro mundial de pós-graduação, agora
confirmado por esse ranking internacional”, disse Agopyan à Agência FAPESP.
Nos últimos dez anos tem diminuído o número
de mestrandos e de doutorandos na USP. Em 2011, pela primeira vez o número de
doutorandos na universidade, que celebrou em agosto a concessão de 100 mil
títulos de pós-graduação, foi maior que o de mestrandos.
“É um reflexo do aumento no número de
programas de mestrado oferecidos em todo o país. Em função disso, os
pós-graduandos estão preferindo realizar mestrado em sua própria região e
procuram a USP para fazer doutorado ou alguma outra atividade mais especial”,
avaliou Agopyan.
Por outro lado, o número de estudantes de
pós-graduação da USP tem se mantido estável nos últimos anos. Atualmente, a universidade
conta com cerca de 23 mil alunos de pós-graduação stricto-sensu e titulou 2.192
doutores e 3.376 mestres em 2011 – números que oscilaram pouco nos últimos 15
anos.
“Nós já somos grandes e estamos trabalhando
no máximo da nossa capacidade há vários anos. Cada um dos nossos docentes tem,
em média, mais de cinco orientandos, que é um número elevadíssimo”, afirmou
Agopyan.
Segundo o pró-reitor, esse fenômeno também é
comum às principais universidades no mundo, como as norte-americanas, europeias
e chinesas listadas no ranking, cujo número de pós-graduandos também está
bastante estável e seus programas de pós-graduação operam no limite de suas
capacidades.
Um dos fatores atribuídos por Agopyan para a
USP continuar liderando a formação de doutores é a atuação da universidade em
todas as áreas do conhecimento, sendo que as universidades no exterior
normalmente têm algumas áreas de especialidade. “Somos uma instituição
pluridisciplinar”, destacou.
Na avaliação de Agopyan, o desafio agora é
ser não apenas a maior, mas a melhor em formação de doutores no mundo. Para
isso, a USP tem buscado padrões internacionais de qualidade, por meio da
promoção da mobilidade de seus docentes e alunos para outros países, da
avaliação e do apoio aos seus programas de pós-graduação. “Não queremos apenas
quantidade, mas sim qualidade”, afirmou.
A FAPESP desembolsou R$ 277,3 milhões em 2010
com Bolsas no país, dentro de seu Programa de Bolsas. Desse total, por vínculo
institucional do pesquisador responsável pelo projeto ou do bolsista, a USP
recebeu R$ 132,7 milhões (ou 47,87%). Em 2010, a FAPESP concedeu 1.362
bolsas de Doutorado e Doutorado Direto.
Além da USP, o ranking elaborado pela CWCU
apontou a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) como a 38ª colocada em
número de doutorados defendidos, a 138ª em número de artigos publicados e a 62ª
em percentual de professores com doutorado.
Por sua vez, a Universidade Estadual Paulista
(Unesp) obteve a 55ª posição em doutorados concedidos, a 150ª colocação em
número de artigos publicados e o 31º lugar em percentual de professores com
título de doutor.
Um outro ranking divulgado em janeiro, o Web
of the World Universities, conhecido como Webometrics, que mede a visibilidade
das universidades nos principais mecanismos de busca da internet, apontou a USP
como a 20ª colocada e a primeira da América Latina, seguida na região pela
Universidade Nacional Autônoma do México, a Universidade Federal do Rio Grande
do Sul e a Unesp. A Unicamp obteve a 9ª colocação entre as universidades
latino-americanas.
Outras universidades brasileiras que figuram
entre as dez mais bem colocadas no ranking latino americano são a Universidade
Federal de Santa Catarina, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a
Universidade de Brasília e a Universidade Federal do Paraná.
The Brazilian Economy.
A revista The Brazilian Economy — versão
eletrônica em inglês da Conjuntura Econômica — comemora seus três anos de
circulação com uma novidade. Agora, ela também pode ser baixada gratuitamente
direto do iPad. Esse é o primeiro aplicativo oficial da FGV na Apple Store, que
pode ser acessado através do link: http://itunes.apple.com/br/app/the-brazilian-economy/id499233709?l=en&ls....
Desde que entrou no ar até hoje, a revista
The Brazilian Economy ajuda a internacionalizar o nome da FGV/IBRE, já que se
encontra disponível em sites como o da Câmara de Comércio e Indústria
Brasil-China, da Câmara de Comércio Brasil-Índia; da Câmara de Comércio
Brasil-Nova York; da Câmara de Comércio Brasil-Flórida e do site da George
Washington University, além de ser distribuída para todos os membros da Câmara Brasil-Austrália.
Em breve, os leitores também poderão conferir
a revista Conjuntura Econômica no iPad. O processo de inclusão na nova
ferramenta está em fase final de conclusão. O desenvolvimento desse projeto,
coordenado pela Superintendência de Comunicação do IBRE, teve apoio do Núcleo
de Administração do Portal e de Infraestrutura Tecnológica (NAPI).
Deixem o cinto para lá.
Do blog de Paul Krugman, a consciência de um liberal, aqui no Brasil publicado pela Estadão.
Algumas pessoas me pediram uma explicação rápida e fácil para a diferença entre um governo e uma família – basicamente, o problema que haveria em dizer que, quando as coisas vão mal, o governo deve apertar o cinto. Estou trabalhando numa resposta. Mas, quem sabe, possamos usar a Grécia como uma rápida ilustração do problema.
Afinal, poderíamos encarar a Grécia como uma família que gastou demais, endividou-se e, agora, seus membros vêem-se obrigados a fazer tudo aquilo que as famílias fazem quando se descobrem em tal posição: cortar os gastos com aquilo que não é essencial, adiar despesas grandes como o atendimento médico e coisas do gênero, largar seus empregos e reduzir a própria renda – ei, espere aí.
É este o ponto, é claro. Quando uma família aperta o cinto, ela não acaba com os empregos que a sustentam. Quando um governo aperta o cinto diante de uma economia deprimida, muitas pessoas são privadas de seus postos de trabalho; e isto traz efeitos negativos até sob o ponto de vista estritamente fiscal e míope do governo, pois uma economia em retração significa uma arrecadação menor.
Ora, alguém poderia dizer que cortar gastos governamentais não significa realmente eliminar postos de trabalho – alguém que tenha passado os últimos anos numa caverna ou num centro de estudos estratégicos de viés conservador, alheio às informações a respeito de como a austeridade tem funcionado na prática. Pois o resultado das políticas de austeridade na Europa são o máximo que conseguiremos em termos de testes macroeconômicos e, sem exceção, os grandes cortes nos gastos governamentais foram seguidos por declínios acentuados no PIB.
Assim, é melhor deixar o cinto para lá; trata-se de uma péssima metáfora.
segunda-feira, 12 de março de 2012
O PIB de 2011 e depois.
David Kupfer é professor e pesquisador licenciado do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (GIC-IE/UFRJ) e assessor da presidência do BNDES. Escreveu este artigo no VALOR ECONÔMICO. As opiniões expressas são do autor e não necessariamente refletem posições do banco.
Já
se disse que toda unanimidade é burra mas no caso do crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) em 2011, dez entre dez analistas econômicos concordaram que
a taxa de 2,7%, recém-divulgada pelo IBGE, embora muito abaixo das previsões
vigentes ao final de 2010, foi satisfatória para um ano que, ao fim e ao cabo,
revelou-se bastante conturbado, cheio de nuvens negras no cenário internacional
e de reviravoltas na política econômica interna. Em comparação com os
trimestres anteriores na série com ajuste sazonal, após apresentar uma evolução
negativa de 0,1% no terceiro trimestre do ano passado, a informação de que o
crescimento do PIB no quarto trimestre foi ligeiramente positivo, nada mais do
que 0,3%, serviu para afastar o temor de que a economia brasileira pudesse
estar entrando em rota de recessão.
Ao
contrário, a sensação dominante é de que o país superou um miniciclo
contracionista e que nos próximos trimestres os números deverão exibir
comportamento melhor, levando a economia a sua marcha habitual, como expresso
na manutenção pela maioria de expectativas de crescimento para este ano em
torno dos 3,5%.
A
observação do PIB pela ótica da demanda ajuda a dar substância a esse quadro. O
crescimento de 4,1% apresentado pelo consumo das famílias em 2011, em parte
devido ao crescimento da massa salarial (4,8% em termos reais, segundo o IBGE),
em parte devido a evolução favorável do crédito, sugere que o polo dinâmico da
economia brasileira na última década está preservado. Em paralelo, embora a
taxa de investimento como proporção do PIB não tenha conseguido avançar em
relação a 2010 (19,3% ante 19,5%), a formação bruta de capital expandiu-se em
4,7%, um resultado positivo, em particular, quando se observa a expansão do uso
de máquinas e equipamentos, que foi de 6% no ano.
No
entanto, se visível, e mesmo justificável, para o conjunto da economia, essa
sensação de relativo conforto não se aplica igualmente a todos os setores componentes
do PIB. Passando-se para a ótica da oferta, especialmente a evolução da
indústria tem provocado preocupações generalizadas. O recuo da indústria geral,
que foi de 0,5% em relação ao terceiro trimestre de 2011 e, especialmente, a
forte retração da indústria de transformação, cujo desempenho foi de -2,5% em
relação ao trimestre anterior e de -3,1% em relação ao quarto trimestre de
2010, indicam tendências negativas de evolução do produto industrial que não
podem ser compreendidas nem muito menos atribuídas somente às questões de
conjuntura.
Esse
desbalanceamento entre demanda e oferta é revelado pela evolução das
importações de bens e serviços, que cresceram 9,7% em 2011. Levando-se em conta
a variação total do PIB, está-se diante de uma elasticidade-renda na qual para
cada ponto percentual de crescimento do PIB, as importações crescem 3,6%. A
partir dessa relação estrutural, pode-se imaginar qual seria a taxa de expansão
das importações se a economia estivesse em franco crescimento: mantida essa elasticidade,
um hipotético crescimento de 5% do PIB implicaria expansão de 18% das
importações. Trata-se de um montante que evidentemente exerceria pesado impacto
sobre a conta corrente que já vem se mostrando deficitária há alguns anos.
Esse
aumento na propensão a importar da economia, que vem se verificando de forma
contínua nos anos recentes, sinaliza que é inegável que a indústria brasileira
vem percorrendo uma trajetória de perda de competitividade. Parte desse fato
está realmente na questão cambial. Como está claro desde que a poeira da grande
crise financeira de 2008 assentou e tornou possível enxergar a nova arquitetura
da economia mundial, a taxa de câmbio competitiva de hoje é mais desvalorizada
do que a de antes. Quer dizer, mantidas as demais condições de formação de
custos, diante de moedas de referência mais desvalorizadas, preservar a
competitividade efetiva da moeda exigiria desvalorizá-la em alguma proporção,
exatamente o contrário do que ocorreu com o real.
No
entanto, outra parte igualmente importante do problema não está no mundo dos
preços e custos e sim no mundo das quantidades. Com a redução do ritmo de
crescimento das economias líderes, e o consequente aumento da capacidade ociosa
da indústria mundial, ocorreu inegável acirramento na disputa pelos mercados
nacionais em expansão e o Brasil, positivamente, está nesse grupo.
Metaforicamente, nesse novo quadro a produção made in Brazil teria que correr
mais rápido para conseguir permanecer no mesmo lugar.
A
economia brasileira enfrentou 2011 dando sinais de que o mix macroeconômico
que, ao longo de quase 20 anos, vem propiciando alguma estabilidade às custas
de algum crescimento, pode ser reformulado e que o país pode enfim começar a se
beneficiar de juros consistentemente menores e de taxas de câmbio senão
competitivas, pelo menos não tão nocivas à atividade industrial.
Mas
o novo quadro competitivo internacional sugere que o sucesso na mudança do mix
macroeconômico não será suficiente. Políticas competentes de desenvolvimento
industrial que defendam a produção nacional - o que não necessariamente
significa defender os produtores nacionais - e assegurem o crescente conteúdo
tecnológico dessa produção - o que não necessariamente se resume a garantir
qualquer conteúdo local - são imprescindíveis.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Juros de um dígito.
Editorial da FOLHA de hoje comenta a redução
da taxa básica de juros (Selic).
Há algumas semanas, quando a valorização do
real voltou a se acelerar, o governo reagiu aumentando a tributação sobre
entradas de capitais e comprando dólares.
Ao perceber o fôlego limitado das medidas, o
mercado financeiro avaliou que o BC (Banco Central) poderia acelerar os cortes
de juros. Com isso, o BC reduziria mais depressa a distância entre a taxa
básica brasileira (Selic) e as taxas baixíssimas praticadas nos países ricos.
Esse é um fator importante de atração de dólares ao Brasil, pois investidores
no exterior podem lucrar com a diferença.
A confirmação de que o PIB brasileiro
continuou com desempenho fraco no trimestre final de 2011, somada à forte queda
da produção industrial de dezembro para janeiro, reforçou a impressão de que o
corte da taxa básica poderia ir além do meio ponto percentual das decisões
anteriores.
O BC, ao optar por reduzir os juros de
referência de 10,5% para 9,75% ao ano, ratificou a expectativa de que remaria
com mais força contra a apreciação do real e a favor do aquecimento da
economia.
Comparando a Selic com a inflação esperada
para os próximos meses, constata-se que o juro real caiu para a faixa de 4,3%
ao ano.
Segundo levantamento do BC, os analistas de
mercado estimam que o juro "neutro", aquele que não pressiona nem
alivia a inflação, está na faixa de 5% a 5,5% ao ano. Com o juro real abaixo
disso, o banco estaria pisando fundo no acelerador, podendo incorrer em exagero
indutor de inflação.
O comportamento recente da inflação, mais
comedido, e a possibilidade de reverter os cortes de juros à frente limitam
esse risco. Mas há outro, que também cabe assinalar: que a redução de juros se
revele insuficiente para reanimar a indústria combalida.
O PIB industrial caiu, no quarto trimestre,
pela terceira vez seguida. E o segmento da indústria de transformação vem tendo
desempenho muito pior do que os demais, menos expostos à concorrência dos
importados (como construção civil ou produção e distribuição de energia
elétrica, gás e água).
O PIB da indústria de transformação caiu
significativos 4% no segundo semestre de 2011. Cortes de juros não vão
solucionar as dificuldades do setor. Faltam medidas estruturais para
reforçar a competitividade.
Ainda mais urgente é a eliminação de
distorções, como a "guerra dos portos": alguns Estados, ao conceder
descontos na cobrança de ICMS, barateiam e atraem importações que entrariam por
outros portos. Com isso, prejudicam a competitividade do produto nacional e
destroem empregos aqui.
quarta-feira, 7 de março de 2012
A Selic de 9,75% e o meu cartão de crédito.
Enquanto o Bacen reduz nesta data a taxa básica de juros (Selic) para 9,75% ao ano, o meu extrato mensal da fatura do cartão de crédito registra
taxas conforme abaixo:
- Pagamento parcial: 12,89% ao mês;
- Saques: 14,89% ao mês;
- Compras parceladas com juros: 5,99% ao mês;
- Parcelamento da fatura: 9,89% ao mês;
- Pagamento em atraso: 15,89% ao mês;
- Custo Efetivo Total (no período): 368,29% ao ano.
Afinal, quando as reduções da taxa de juros irão chegar ao conhecimento da administradora do meu cartão de crédito? Pelo que tenho acompanhado, esse tempo está demorando demais... Reclamações sobre este assunto deverão ser direcionadas ao Frederico, leitor fiel deste espaço.
MÁRIO HENRIQUE SIMONSEN.
Formado
em engenharia civil, com especialização em economia, Mário Henrique Simonsen
foi considerado um dos homens mais inteligentes de sua geração. Durante quase
cinqüenta anos, manteve sempre o mesmo ritual: depois do almoço, dedicava 50
minutos do seu dia para estudar matemática, uma de suas maiores paixões.
O
gosto pelos números marcou a sua vida. Aos 21 anos, começou a dar aulas de
Matemática Pura e Aplicada, ao mesmo tempo em que entrou para o mercado
financeiro, fundando uma distribuidora de valores, tendo como parceiro o
banqueiro Júlio Bozano.
A
carreira política de Mário Henrique Simonsen começou em 1964, ano marcado na
história do país pelo golpe que derrubou o presidente João Goulart. Nesta
época, passou a colaborar com o então ministro do Planejamento, Roberto Campos.
Com pouco tempo na atividade, Simonsen ganhou a antipatia das centrais
sindicais, ao apresentar um novo cálculo salarial, pelo qual os vencimentos dos
trabalhadores deveriam ser baseados na média dos dois anos anteriores, o que
reduziu o poder aquisitivo dos empregados.
Em
1974, Simonsen atingiu o ápice de sua carreira política, ao assumir o
Ministério da Fazenda. Sua gestão foi marcada pela racionalidade econômica e
contenção de gastos. Quando o general João Figueiredo assumiu a Presidência da
República, Simonsen trocou o Ministério da Fazenda pela Secretaria do
Planejamento. Ao deixar a vida pública, em 1979, Mário Henrique Simonsen voltou
a fazer o que mais gostava: dar aulas. Contratado pela Fundação Getúlio Vargas,
Simonsen nunca deixou de dar palpites em relação à política econômica do país.
Até
poucos meses antes de sua morte, todos os ministros da Fazenda o consultavam
com freqüência, antes de tomar qualquer decisão. O seu primeiro contato com a
FGV, no entanto, não aconteceu somente quando Simonsen deixou a vida pública.
Na década de 60, ajudou na criação da Escola de Pós-Graduação da entidade, numa
época em que os cursos de especialização no Brasil eram uma raridade.
Especialista
em música clássica, Mário Henrique Simonsen também foi considerado um excelente
barítono. Quando viaja para o exterior, visitava as principais salas de
espetáculos de cada país. Também colaborou com diversas publicações
brasileiras, escrevendo artigos sobre música clássica.
Em
1994, após realizar um exame de rotina, foi informado pelos médicos que tinha
um tumor no pulmão que havia se espalhado pela cabeça. A partir do diagnóstico,
começou a enfrentar uma rotina de internamentos, mas jamais perdeu o humor.
Após ficar quase três meses internado no Centro de Tratamento Intensivo do
Hospital Samaritano, Mário Henrique Simonsen morreu de insuficiência
respiratória no dia 9 de fevereiro de 1997, dez dias antes de completar 62
anos.
Fonte: UOL Educação.
O PIB da ineficiência.
Editorial do ESTADÃO comenta o resultado do PIB de 2011: 2,7%.
Baixo crescimento, alta inflação e piora das contas externas
marcaram a economia brasileira em 2011. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu
apenas 2,7%, segundo o cálculo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). A inflação chegou a 6,5% e bateu no teto da
meta. Foi impulsionada não só pela alta dos preços internacionais de petróleo,
metais e produtos agrícolas, mas também por uma forte demanda de consumo. Além
disso, pioraram as transações com o exterior. A receita de exportações de bens
e serviços elevou-se 4,5%, enquanto a despesa com importações subiu 9,7%. Mais
uma vez o setor externo deu uma contribuição negativa para o PIB, subtraindo
0,7% do crescimento. Essa tendência, observada há alguns anos, deve acentuar-se
neste ano, a julgar pela evolução do comércio exterior brasileiro no primeiro
bimestre e pelas projeções tanto oficiais quanto do setor privado.
Se
dependesse apenas da demanda interna, a economia brasileira teria crescido
3,4%, de acordo com os dados do IBGE. Mas a indústria foi incapaz de atender ao
apetite dos consumidores, por causa dos custos elevados e da valorização do
real. Com o real valorizado, os produtos nacionais ficam mais caros, quando seu
preço é convertido em dólares ou euros. Além disso, o dólar barato estimulou as
viagens ao exterior, bem como as remessas de lucros e dividendos, e também
esses fatores pesaram nas contas.
Houve
um claro descompasso na economia brasileira. O consumo das famílias cresceu
4,1%, impulsionado pela expansão do emprego, pelo aumento de 4,8% da massa de
salários reais e por empréstimos pessoais 18,3% maiores que os do ano anterior.
Enquanto isso, a produção industrial avançou apenas 1,6% - deslocada pela
competição estrangeira - e a de serviços, 2,7%. A inflação teria certamente
superado a marca de 6,5%, se a importação não tivesse coberto uma parcela
considerável da demanda dos consumidores.
O
governo aponta como dado positivo a expansão de 4,7% no investimento em
máquinas, equipamentos, construções e obras públicas. O crescimento do PIB,
segundo o discurso otimista, foi puxado pela aplicação de recursos no
fortalecimento da capacidade produtiva e, portanto, o Brasil está no caminho
certo. No entanto, o investimento, equivalente a 19,3% do PIB segundo as contas
do IBGE, continua longe do necessário para um crescimento econômico igual ou
superior a 5% ao ano sem pressões inflacionárias e sem grave desequilíbrio
externo.
Esse
nível mínimo de investimento, segundo cálculos correntes entre profissionais
independentes e economistas do governo, deve corresponder a uns 24% do PIB. Mas
a diferença entre o valor investido nos últimos anos e o mínimo desejável não é
o único problema, quando se trata do objetivo de ampliar e modernizar a
capacidade produtiva. A poupança interna ficou em 17,2% do PIB, no ano passado.
A diferença entre o valor poupado e o investido foi coberta com recursos
externos.
Em
princípio, não há problema na captação de poupança estrangeira para investir.
Mas a distância entre a poupança atual e a necessária para um crescimento sem
risco de grandes desajustes também é muito ampla. Isso se deve principalmente à
propensão do governo para a gastança. Essa propensão limita a capacidade de
poupança do setor público e, ao mesmo tempo, dificulta qualquer revisão séria
do sistema tributário. Impostos excessivos e mal concebidos encarecem a compra
de máquinas e equipamentos e acabam limitando também o investimento privado.
A
baixa taxa de poupança, especialmente do setor público, dificulta a redução do
juro real no Brasil e também isso impõe restrições importantes às políticas de
reforço produtivo das empresas. Essa constatação foi confirmada há poucos dias
por um estudo de economistas do Fundo Monetário Internacional. Em suma: os
dados da economia brasileira em 2011 apontam para algo mais grave que problemas
conjunturais. Refletem deficiências associadas a um padrão de governo
ineficiente e perdulário. O País pode voltar a crescer mais que em 2011, mas
dentro de limites estreitos, enquanto aquele padrão persistir.
Mudanças na política monetária?
MARIO MESQUITA, doutor em economia pela
Universidade de Oxford, escreveu este artigo na FOLHA DE S. PAULO.
Reportagens recentes sugerem que uma das
razões para manter, ou quiçá aprofundar, a trajetória de redução das taxas de
juros seria o fato de que o grosso da pressão inflacionária estaria associado
aos preços dos serviços, que correspondem a cerca de um terço do IPCA (índice
oficial de inflação), ao passo que os demais itens teriam inflação bem
comportada.
Trata-se de uma variação surrada do tema da
inflação estrutural, contra a qual nada pode ou deve ser feito. Essa é uma tese
que tem popularidade impressionante na nossa região, que é também a que tem um
dos piores históricos inflacionários do mundo, com o Brasil em papel de
destaque.
Os países da Ásia, para sua sorte, nunca se
empolgaram muito com esse atalho latino-americano, e decidiram perseguir o crescimento
acelerado sem abrir mão da estabilidade de preços. Mas por aqui a tese da
inflação estrutural ou inevitável ainda campeia.
Para ser geograficamente preciso, contudo,
cabe reconhecer que a tese da inflação estrutural tem perdido seu
"appeal" na parte setentrional da América Latina.
O Banco do México, por exemplo, tem
recorrentemente notado em seus documentos oficiais que a inflação subjacente de
serviços é aquela que melhor reflete os determinantes domésticos da inflação.
É fato que a inflação de serviços tem maior
persistência do que a de mercadorias, mas ela é também menos sensível a fatores
externos -à chamada inflação importada. É por essa razão que a maioria dos
bancos centrais olha com atenção para a dinâmica de preços de serviços.
Outra forma de encarar o problema é notar que
as medidas de núcleos de inflação por exclusão, no Brasil e em outros países,
em geral descontam do índice cheio a variação de itens mais voláteis, como
alimentos perecíveis e combustíveis, mas não o preço dos serviços.
Cabe notar também que, se a dinâmica dos
preços de serviços manifesta inércia e reflete em parte indexação informal à
inflação passada, é porque não conseguimos reduzir a inflação para um patamar
que torne essas práticas obsoletas.
De fato, é plausível supor que a indexação só
não é mais generalizada porque em diversos setores da economia a concorrência
efetiva, ou temida, dos importados a tem inibido -evidentemente, maior
protecionismo tenderia a favorecer o recrudescimento da indexação também nos
mercados de produtos.
É verdade, também, que fatores estruturais,
típicos do processo de desenvolvimento, tendem a promover a elevação dos preços
dos serviços, mas, se isso ocorre com inflação de serviços a 5%, 6% ou 9%, como
agora no Brasil, depende também da posição da política monetária.
Em suma, não faria sentido calibrar a
política monetária apenas para conter a inflação dos serviços, mas excluí-la do
conjunto de informações relevantes não parece razoável.
As inovações no campo do debate doméstico
sobre política monetária não param por aí. Nas últimas semanas voltou a emergir
a corrente dos que defendem que a política monetária deve dar peso não apenas à
inflação e à atividade mas também à taxa de câmbio (é isso, um instrumento e
três objetivos).
Mesmo que consideremos que o Banco Central
dispõe também de instrumentos macroprudenciais, como sugerem muitas leituras da
crise mundial de 2008, continuaríamos com um objetivo de sobra. Não parece
muito sensato esperar tanto de uma só instituição.
Nesse ambiente, não surpreende que reine
certa confusão no processo de formação de expectativas dos investidores sobre
qual seria a real função da autoridade monetária no atual arcabouço de política
-justiça seja feita, essa confusão não deriva dos documentos oficiais do Banco
Central, ou de pronunciamentos de seus dirigentes, que mantém o compromisso com
o regime de metas para a inflação.
Mas a confusão existe, influencia os preços
de ativos e reflete ao menos em parte as sugestões de outras áreas do governo e
de círculos alegadamente próximos ao poder.
Há limites para o que a comunicação oficial
pode conseguir, e essa confusão acabará sendo dirimida pelas decisões a serem
tomadas proximamente pelas autoridades.
Tsunami.
Antonio Delfim Netto, hoje na FOLHA DE S.
PAULO e o seu tsunami.
É decepcionante e assustador assistir a
alguns economistas bem apetrechados com rica formação e títulos de Ph.D nas
mais renomadas instituições continuarem a afirmar que as intervenções cambiais
executadas em legítima defesa pelas autoridades produzem
"distorções", como se um câmbio extremamente valorizado não as
produzisse ainda em maior dimensão.
Mas contra que modelos eles aferem tais
"distorções"? Não importa a sofisticação, a complexidade ou a
distância desses modelos da realidade. É axiomático que extrair deles
recomendações normativas é um salto que não encontra justificativa lógica e,
muito menos, empírica.
Em 29 de fevereiro, Jonathan Ostry, a estrela
emergente dos economistas do FMI, afirmou, sem nenhum remorso, que: 1º) os
altos e baixos da taxa cambial podem ser menos benignos para as economias
emergentes do que são para as desenvolvidas; 2º) quando a taxa cambial se
valoriza e os setores de bens e serviços perdem competitividade, ela pode ter
efeitos sobre a economia, mesmo se, depois, voltar ao seu nível inicial.
Há poucos meses, o FMI era o templo da
ortodoxia que condenava qualquer intervenção no mercado de câmbio flexível, regime
ao qual ele chegou empurrado pelos fatos: o abandono da relação fixa entre o
dólar e o ouro.
Por que aconteceu? Porque o regime de Bretton
Woods, com taxas de câmbio fixas e reajustáveis sob a supervisão do FMI, não
funcionou por muitos motivos, entre os quais a assimetria do "excessivo
privilégio" que beneficia o emissor da moeda reserva.
Nada de novo. Basta lembrar Keynes e Triffin!
A conclusão é a de que nem o regime de câmbio fixo nem o de câmbio flexível
entregam, no longo prazo, o que prometem. Quem decide o "melhor" para
cada momento é a história e suas "circunstâncias", e não a
"ciência" econômica.
O velho e sábio Bismarck dizia que não se
deve acreditar em alguma coisa enquanto o governo não desmenti-la. É o caso. Só
os inocentes não reconhecem o fato, negado tanto pelos EUA quanto pela
"Eurolândia", de que eles têm como objetivo desvalorizar suas moedas,
transferindo parte dos seus ajustes para os ingênuos que acreditam na OMC. A
China é a exceção: surfa no "dollar standard" e não lhes dá a menor
confiança.
Não é por outra razão que a chanceler alemã
Angela Merkel prometeu à presidente Dilma que a "farra" acabou.
Infelizmente, o "tsunami" está nas ruas e suas consequências não
podem ser recolhidas.
Dilma tem razão: a gentileza conforta, mas é
irrelevante. Vamos nos defender com toda nossa disposição, inteligência e
coragem, a despeito do que pensam saber os missionários do equilíbrio geral...
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