Editorial da FOLHA de hoje comenta a redução
da taxa básica de juros (Selic).
Há algumas semanas, quando a valorização do
real voltou a se acelerar, o governo reagiu aumentando a tributação sobre
entradas de capitais e comprando dólares.
Ao perceber o fôlego limitado das medidas, o
mercado financeiro avaliou que o BC (Banco Central) poderia acelerar os cortes
de juros. Com isso, o BC reduziria mais depressa a distância entre a taxa
básica brasileira (Selic) e as taxas baixíssimas praticadas nos países ricos.
Esse é um fator importante de atração de dólares ao Brasil, pois investidores
no exterior podem lucrar com a diferença.
A confirmação de que o PIB brasileiro
continuou com desempenho fraco no trimestre final de 2011, somada à forte queda
da produção industrial de dezembro para janeiro, reforçou a impressão de que o
corte da taxa básica poderia ir além do meio ponto percentual das decisões
anteriores.
O BC, ao optar por reduzir os juros de
referência de 10,5% para 9,75% ao ano, ratificou a expectativa de que remaria
com mais força contra a apreciação do real e a favor do aquecimento da
economia.
Comparando a Selic com a inflação esperada
para os próximos meses, constata-se que o juro real caiu para a faixa de 4,3%
ao ano.
Segundo levantamento do BC, os analistas de
mercado estimam que o juro "neutro", aquele que não pressiona nem
alivia a inflação, está na faixa de 5% a 5,5% ao ano. Com o juro real abaixo
disso, o banco estaria pisando fundo no acelerador, podendo incorrer em exagero
indutor de inflação.
O comportamento recente da inflação, mais
comedido, e a possibilidade de reverter os cortes de juros à frente limitam
esse risco. Mas há outro, que também cabe assinalar: que a redução de juros se
revele insuficiente para reanimar a indústria combalida.
O PIB industrial caiu, no quarto trimestre,
pela terceira vez seguida. E o segmento da indústria de transformação vem tendo
desempenho muito pior do que os demais, menos expostos à concorrência dos
importados (como construção civil ou produção e distribuição de energia
elétrica, gás e água).
O PIB da indústria de transformação caiu
significativos 4% no segundo semestre de 2011. Cortes de juros não vão
solucionar as dificuldades do setor. Faltam medidas estruturais para
reforçar a competitividade.
Ainda mais urgente é a eliminação de
distorções, como a "guerra dos portos": alguns Estados, ao conceder
descontos na cobrança de ICMS, barateiam e atraem importações que entrariam por
outros portos. Com isso, prejudicam a competitividade do produto nacional e
destroem empregos aqui.
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