RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro civil e de
petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare
Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi
diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras
Distribuidora. Escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE S. PAULO.
Aproveitando o período de Carnaval, resolvi
tirar duas semanas de férias em parte fazendo um cruzeiro pelas Bahamas e nos
demais dias revisitando cidades turísticas nos Estados Unidos. Foram dias que
me deram a oportunidade de testemunhar, fora do país, aspectos positivos do
momento que vivemos no Brasil e refletir sobre os desafios a serem vencidos
para continuarmos a crescer.
A primeira observação feita está associada ao
indiscutível crescimento da classe média brasileira e ao maior acesso de nossa
população àquilo que, durante anos, apenas fazia parte de seu sonho de consumo.
A redução da taxa de juros e o aumento do crédito, associados ao real
valorizado, permitem que milhares de brasileiros estejam hoje viajando pelo
mundo. O cruzeiro mencionado foi apenas um pequeno exemplo. Dos cerca de
6.100 passageiros, 2.800 eram brasileiros. Só se ouvia falar português por onde
quer que você estivesse no navio.
São conhecidas as verdadeiras invasões de
brasileiros na Flórida nas férias, notadamente em Orlando, para visitar os
parques temáticos, mas jamais na proporção de hoje. Nos shoppings da cidade,
são raras as lojas sem vendedores que falam a nossa língua e já há panfletos e
informações em português em todos os parques.
Isso sem falar dos anúncios em português para
a venda de imóveis. Um corretor com o qual conversei me contou que os
brasileiros têm sido os maiores compradores estrangeiros de imóveis na Flórida,
algo que seria impensável até mesmo em um passado recente.
Outro aspecto interessante é o geográfico.
Anos atrás, os sotaques dominantes eram de São Paulo, do Rio, de Minas Gerais,
mas no tal cruzeiro das Bahamas, por exemplo, mais de mil brasileiros eram de
Pernambuco. Também sinal dos novos tempos e da recuperação econômica do
Nordeste brasileiro.
Mas a mais significativa observação está
ligada a recursos humanos e pode mostrar um exemplo a ser seguido pelo Brasil
-caso não queira atrasar seu crescimento.
Ao longo das últimas quatro décadas, os EUA
conseguiram desenvolver, seja no deserto de Nevada ou nas áreas semipantanosas
da Flórida, uma indústria de entretenimento com enorme sucesso e um fator foi
fundamental nessa como é em qualquer indústria: mão de obra de qualidade. E,
nesse ponto, não há restrição de nacionalidade. As principais atrações tanto
dos supershows de Las Vegas como do navio que utilizei são artistas
provenientes de todos os cantos do mundo.
Hoje o Brasil vive um momento extraordinário,
com economia estável, longe das crises e com um sistema político consolidado.
Sou de uma geração em que muitos perderam a convivência de amigos que tiveram
de se aventurar no exterior para encontrar emprego, principalmente nos EUA e na
União Europeia. Era uma gente guerreira, destemida e empreendedora que
certamente colaborou bastante para o sucesso das nações onde foi morar.
Os tempos mudaram e o movimento agora tende a
ser contrário, com muitos estrangeiros de elevado nível de capacitação
profissional interessados em fugir do desemprego de seus países e sendo
atraídos pela estabilidade e pelas oportunidades de crescimento existentes no
Brasil. Será um grande erro se não aproveitarmos a chance de trazê-los para
cá.
Os novos desafios para um crescimento
econômico sustentável são enormes, e passarão nos próximos anos por uma demanda
cada vez maior de ciência e de tecnologia.
E provavelmente a maior dificuldade de todas
no Brasil será conseguir contar com uma força de trabalho treinada e capacitada
para enfrentá-los.
Por isso, uma política correta de atração de
mão de obra especializada do exterior para completar nossos quadros de maior
deficiência será fundamental. Essas medidas, aliadas a um plano de educação de
médio e longo prazos, dariam ao Brasil as bases necessárias para o continuado
crescimento sustentável, pois a natureza já nos dotou favoravelmente de
recursos naturais dos mais variados, restando a nós a missão de aproveitá-los
da melhor maneira possível.
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