sábado, 17 de novembro de 2012
Análise da macroeconomia brasileira.
MARCELO
KFOURY MUINHOS, superintendente do Departamento Econômico do Citi Brasil e PhD em Economia por
Cornell (Estados Unidos) e LEONARDO PORTO DE ALMEIDA, economista
sênior do Citi Brasil e doutor em Teoria Econômica pela FEA/USP, escreveram especialmente para a FOLHA DE S. PAULO.
O
PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre deste ano deverá ter
crescimento de 1% em relação aos três meses anteriores, caracterizando-se como
o primeiro trimestre em que a economia brasileira expandirá acima do seu
potencial, desde o início do governo de Dilma Rousseff em 2011.
Ainda
que haja dúvidas sobre a sustentabilidade desse crescimento nos próximos
trimestres, devido às prováveis influências positivas de alguns fatores
temporários, o correto diagnóstico de algumas evidências paradoxais contribui
para uma melhor avaliação do cenário prospectivo da economia brasileira.
1)
Primeiramente, é importante olhar com atenção para o fato de que a indústria de
transformação tem apresentado desempenho muito abaixo do restante da economia
desde 2011.
Para
nós, a crise nos países desenvolvidos (em especial na Europa) tem papel crucial
sobre o entendimento da pior performance da indústria em relação ao PIB,
agravado pelo fato de o mercado de trabalho brasileiro se encontrar
extremamente aquecido.
2)
Com relação ao mercado de trabalho, é surpreendente o fato deste se manter
extremamente aquecido mesmo diante de um crescimento do PIB abaixo das suas
potencialidades.
Enxergamos
que a maior concentração do crescimento no setor de serviços (devido à crise no
setor industrial) e suas características intrínsecas de ser intensivo em mão de
obra e, consequentemente, apresentar menor expansão da produtividade, seriam
algumas das possíveis explicações para este paradoxo.
3)
Contudo, mesmo diante de condições tão favoráveis no mercado de trabalho, como
explicar a evidência contraditória da taxa de inadimplência dos empréstimos
bancários ter atingido o patamar mais elevado desde dezembro de 2009?
Uma
possível explicação seria o aumento significativo da formalização do emprego
desde 2004, que permitiu que uma parcela relevante da população acessasse o
crédito bancário sem uma avaliação suficientemente satisfatória sobre as reais
condições de pagamento desta dívida.
4) E
como explicar que uma queda da taxa Selic (taxa básica de juros) em mais de 500
pontos pudesse ocasionar uma resposta tão fraca da atividade econômica depois
de mais de um ano?
Acerca
disso, a crise internacional e suas implicações ao setor industrial brasileiro,
a resistência à queda da taxa de inadimplência, a resposta mais tímida do BNDES
e da política fiscal em comparação ao afrouxamento monetário de 2009 apontam na
direção de que outros fatores têm restringido o impacto expansionista da atual
política monetária.
5)
Por fim, diante de um crescimento tão pouco representativo da economia, não
seria de se esperar que a inflação estivesse orbitando em patamares mais
próximos ou até mesmo abaixo do centro da meta de 4,5%?
Sobre
isso, o já mencionado aquecido mercado de trabalho, ao exercer pressões de alta
sobre os salários e consequentemente manter a inflação de serviços em torno de
8,5% -acima dos 5,5% verificados no IPCA-, parece exercer papel crucial no
entendimento deste paradoxo.
Como
qualquer outra conjectura, nossas explicações para as inconsistentes evidências
que vêm prejudicando a economia brasileira requerem maior comprovação.
Um
denominador comum, entretanto, parece balizar todos os paradoxos acima
relatados. Ele reside nos impactos que a crise internacional exerce sobre os
diversos fundamentos macroeconômicos.
Nesse
sentido, se estivermos certos de que a crise sobre os países desenvolvidos
deverá perdurar por mais alguns anos, tais paradoxos tenderão a se manter por
mais algum tempo.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
PIB sonolento.
Editorial da FOLHA e uma análise da atual situação econômica brasileira.
Passada a letargia do primeiro semestre,
parece confirmar-se o prognóstico de lenta recuperação do PIB neste final de
ano, até o ritmo de 3,5% anualizados, que, espera-se, poderá se manter em 2013.
Os dados da indústria e das vendas no
varejo apontam melhora desde o terceiro trimestre, sobretudo no setor de
automóveis.
Seria um erro, porém, considerar o dinamismo
setorial um indicativo forte do restante da economia. Um fator importante para
o crescimento anda fraco: o crédito ao consumidor está estagnado, e a
capacidade de endividamento das famílias parece chegar ao fim.
Os estímulos ao consumo, úteis como medida
pontual para sustar a desaceleração, não têm, contudo, restaurado o
funcionamento da máquina produtiva. As evidências indicam que, agora, o gargalo
está na capacidade de produção.
Custos crescentes dificultam o investimento
privado. A inflação salarial de 10% ao ano, fruto de um mercado de trabalho
apertado, está bastante acima dos ganhos de produtividade e explica em parte o
decepcionante desempenho da indústria. A produção de bens de capital teve queda
de 12,4% de janeiro a setembro deste ano, na comparação com 2011.
Os indicadores de confiança empresarial até
têm melhorado, mas nada muito animador. Sem a retomada forte do investimento,
dificilmente o PIB superará, de forma sustentável, os 3,5% esperados.
A combinação de escassez de mão de obra e
consumo pressionado resulta em mais inflação. Não há perda de controle, mas um
crescimento do PIB de 2% ao ano (média de 2011 e 2012) e uma inflação de 6%
começam a compor o cenário mais temido: a economia patina, mas os preços sobem.
No curto prazo, a queda recente dos preços
agrícolas e a expectativa de redução nas tarifas de eletricidade permitem
projetar inflação na marca de 5,5% ao ano.
Não se pode descartar, porém, uma escalada
para cerca de 6,5%, teto da meta de inflação. Se isso ocorrer, com o PIB em
3,5%, o governo terá mais dificuldade para manter a economia em ordem.
A melhor forma de minimizar tal risco é
insistir em medidas que reduzam os custos e aumentem a produtividade. O governo
dá sinais de que atenta para esses imperativos, ao reduzir preços de energia e
desonerar a folha de pagamento em alguns setores, mas os resultados ainda
tardarão. O clima não melhorará tão cedo a ponto de despertar o espírito animal
dos empresários da hibernação.
domingo, 11 de novembro de 2012
Keynes, o retorno.
Exclusivamente para o colega de CAEN, atualmente estudando em Portugal, Alexandre Fermanian, a análise de LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO, hoje na FOLHA DE S. PAULO, sobre as eleições americanas.
A reeleição de Obama, na
terça passada, deveu-se à radicalização conservadora de seu adversário, que
selou o apoio aos democratas de imigrantes, mulheres e jovens, mas sobretudo às
políticas sociais e à intervenção estatal para enfrentar a crise econômica,
devolvendo à pauta as ideias do economista J.M. Keynes.
Passadas as surpresas de 6/11,
parte dos comentaristas banaliza os resultados das eleições americanas. Assim,
a campanha de 2012 não teria mudado nada em Washington. Barack Obama permanece
na Casa Branca e o Congresso continua dividido como antes: maioria republicana
na Câmara e democrata no Senado. Uma manchete do site do "New York
Times" resumiu essa interpretação: "Obama obtém uma nítida vitória,
mas a balança do poder não mudou em Washington".
Todavia, outros artigos do
jornal nova-iorquino - e da mídia americana - alteram tal perspectiva.
Efetivamente, como nas grandes viradas políticas geradas por um forte
reposicionamento eleitoral, a vitória de Obama tem uma dupla dimensão: ela
provoca a debandada de seus adversários republicanos e reforça o Partido Democrata.
Para além da contagem dos votos
de uns e de outros no Congresso, um Partido Democrata renovado enfrenta agora
um Partido Republicano apoplético: a balança do poder mudou, sim, em
Washington. As longas e polêmicas primárias republicanas fragilizaram a
candidatura Romney.
Em campanha há seis anos, desde
as primárias para a eleição de 2008, o republicano teve primeiro que terçar
armas no seu próprio partido. Na sequência da radicalização inaugurada por
Sarah Palin em 2008, o sucesso de Rick Santorum entre os partidários do Tea
Party e das teses mais conservadoras, levou a campanha republicana muito para a
direita.
Romney teve de correr atrás dos
votos de Santorum, fazendo declarações que queimaram seu prestígio junto aos
republicanos mais liberais, aos latinos e aos trabalhadores das indústrias
socorridas pelo governo federal. Aproveitando essas derrapadas e as
controvérsias sobre o passado empresarial de Romney, os marqueteiros democratas
pegaram pesado, apresentando-o como um ricaço insensível aos pobres.
No meio do ano, um anúncio da
campanha de Obama na TV responsabilizava Romney pelo fechamento de fábricas e
entrevistava metalúrgicos desempregados que o chamavam de "vampiro".
Houve também uma radicalização
de Romney nos temas relativos à política externa e às suas ameaças diretas à
Rússia e à China. Sobretudo ficou patente sua hesitação na política interna e
sua inexperiência diplomática. Chamando Romney de "volúvel"
("ever-changing"), a revista conservadora britânica "The
Economist" declarou seu apoio à reeleição de Obama.
Perdendo o pé junto aos latinos
- que anteriormente pesavam menos no eleitorado e, em boa parte, votavam
republicano -, afastados do eleitorado feminino e dos jovens, os republicanos
saem das eleições enfraquecidos e desorientados. Para alguns comentaristas, a
viabilidade nacional do partido está agora posta em questão.
Tais circunstâncias
permitiram que Obama se situasse como um líder mais coerente na política
econômica e mais moderado no campo internacional. No discurso da vitória, em
Chicago, Obama sublinhou dois pontos que considerava como trunfos de seu
primeiro mandato: "a economia está se recuperando" e "uma década
de guerras está terminando", referindo-se à retirada das tropas americanas
do Afeganistão.
A força e o vigor do partido
democrata nascem do enraizamento da aliança social e política que levou Obama à
Casa Branca quatro anos atrás. Como notaram os editorialistas americanos, o
erro mais importante da direção republicana consistiu em considerar que Obama havia
sido eleito meio por acaso. Para esses dirigentes, o início da Grande Recessão
e o estrondo de setembro de 2008, com a bancarrota do Lehman Brothers, teriam
baqueado o governo Bush e entregado a Casa Branca de bandeja para Obama.
Depois disso sua vitória teria
virado pó. A prova? Obama sofrera uma pesada derrota nas legislativas de 2010
e, num contexto econômico ainda difícil, não teria condições de se reeleger. A
taxa de desemprego beira 8% nos EUA e, desde os anos 1930, nenhum presidente
havia conseguido se reeleger com essa taxa acima de 7,2%. A fieira de
dirigentes europeus derrubados pela crise nas eleições dos últimos anos parecia
confirmar o raciocínio dos republicanos.
Em maio, o portal de notícias
"Examiner", baseado em Denver, perguntou: "A eleição de Obama em
2008 foi um golpe de sorte ("fluke")"? Agora, do jornal
"Washington Post", numa análise de escopo nacional, ao
"Richdmond Times Dispatch", num balanço sobre a Virgínia (Estado
vezeiro no cerceamento do voto das minorias, onde Obama venceu pela segunda
vez), a maioria dos editorialistas constata: 2008 não foi um "fluke",
a reeleição demonstra que o presidente construiu uma base política consistente.
As mulheres solteiras, os
jovens, os latinos, os negros, os asiáticos, os trabalhadores industriais e
setores liberais dos Estados situados nos litorais oceânicos americanos
reelegeram Obama. Essa coalizão deu novo impulso aos democratas, até porque a
maioria democrata no Senado também evoluiu.
Conhecido como "Blue
Dog", o grupo de senadores democratas conservadores ou moderados
reduziu-se, cedendo lugar para senadores mais próximos dos princípios de
solidariedade social e de regulação econômica que têm sido esconjurados desde a
era Reagan (1981-89). Outros pontos do novo perfil democrata são mais sutis.
Ainda em maio, numa entrevista
exclusiva à rede ABC, concedida a uma jornalista amiga, Robin Roberts, Obama
declarou-se favorável ao casamento gay. Ele tomou a iniciativa de caso pensado,
sabendo que a militância mais jovem, essencial na sua campanha, apoia
amplamente tal declaração. Sabia também que a porcentagem dos americanos
favoráveis a essa forma de união passou de 27% em 1996 a 53% em 2012, segundo
pesquisa do Gallup, e que os casais gays são importantes doadores do Partido
Democrata.
A análise detalhada dos
resultados eleitorais imprime um significado histórico à vitória democrata.
Tome-se o caso de dois Estados-chave nesta e noutras eleições, cujo resultado
decide a parada no nível nacional, Ohio e Flórida.
A maioria dos comentaristas
concorda que a vitória de Obama em Ohio (nenhum republicano venceu a corrida
presidencial sem ganhar neste Estado), e no vizinho Michigan (onde o pai de
Romney foi governador, onde ele cresceu e tem parentes) deveu-se à intervenção
e aos empréstimos do governo federal para salvar um milhão de empregos da
indústria automobilística combalida pela crise.
Na hora em que escrevo, a
contagem de votos ainda não terminou na Flórida e o resultado do escrutínio ali
tornou-se irrelevante: Obama ganhou a parada, mesmo perdendo na Flórida. Mas a
apuração indica a vitória democrata. Além disso, num referendo estadual, os
eleitores da Flórida repudiaram restrições ao "Obamacare", a reforma
do sistema de saúde que favorece os pobres e regula as empresas do setor.
Na Flórida, e mais incisivamente
na Virgínia e noutros Estados onde os democratas venceram, pesou o voto dos
latinos e de outras minorias assustadas com a política anti-imigratória
apregoada por Romney. Mas há camadas sociais mais densas que ajudaram a
reeleger o presidente.
As pesquisas de boca de urna
mostraram que Obama venceu entre os eleitores de menor renda (abaixo dos US$
50.000 anuais) e que sua vantagem é ainda maior entre os mais pobres. Nesse
contexto, sua reeleição permite avançar na implementação do novo sistema de
saúde, consolidando a reforma e a base social dos democratas.
O apoio mais amplo do eleitorado
às intervenções do governo federal na defesa dos empregos industriais e na
proteção social, reabilita os investimentos e as políticas públicas.
Considerado peça de museu por
boa parte dos economistas e dos ideólogos, o keynisianismo está de novo na
ordem do dia nos EUA.
Tripé macroeconômico: sim ou não? Sim e Não.
A FOLHA DE S. PAULO na seção TENDÊNCIAS/DEBATES ao ouvir a opinião divergente de dois especialistas para uma questão propõe um excelente debate de IDEIAS. Nesta semana ela discutiu com dois economistas a questão abaixo e obteve uma aula de economia. Como sempre, na economia, o contraditório é presença constante.
O Brasil está abandonando o
tripé macroeconômico (meta de inflação, superavit primário e câmbio flutuante)?
Para Eduardo de Carvalho Andrade, doutor em economia pela Universidade de Chicago e professor da Faculdade Insper: SIM.
O tripé macroeconômico,
composto por meta de inflação, câmbio flexível e equilíbrio fiscal, não existe
mais como antigamente. Outros objetivos do governo entraram em conflito com o
seu funcionamento. A tendência é que a situação piore.
No que se refere à meta de
inflação, pode parecer que não houve alteração. Afinal, é possível que em 2013,
como em 2011 e 2012, a inflação não ultrapasse o teto da meta (6,5%). Além do
mais, a crise internacional justificaria uma flexibilização, com o Banco
Central usando o espaço de manobra permitido pelas bandas do regime -a margem
de dois pontos percentuais para mais ou menos, a partir do centro da meta
(4,5%).
Um olhar mais cuidadoso, no
entanto, mostra outra realidade. Não parece existir uma estratégia por parte do
BC de guiar as expectativas de mercado, e por conseguinte a inflação, para o
centro da meta num horizonte futuro, como se espera da atuação da autoridade
monetária em um regime de metas de inflação.
O nível de atividade da
economia brasileira se recupera agora, em um momento em que a taxa de
desemprego está em um dos patamares mais baixos. A pressão por aumento de
salários deve bater mais forte na inflação quando Dilma estiver se preparando
para a sua reeleição.
Assim, será difícil que o BC
suba a taxa de juros na magnitude necessária para levar a inflação para 4,5% em
2014. Principalmente depois que a presidenta gastou o seu capital político para
alterar a remuneração da poupança e entrou em disputa com os bancos para
reduzirem os juros. E tal ação entraria em conflito com seu objetivo de
crescimento econômico de curto prazo.
O mais provável então é que,
nos anos do governo Dilma, a inflação não chegue perto nem apresente
convergência para o centro da meta. Mesmo com o governo utilizando métodos
pouco convencionais para controlar a inflação, como segurar o preço da
gasolina, com consequências negativas sobre a capacidade de investimento da
Petrobras.
Quanto à segunda perna do
tripé, taxa de câmbio flexível, não existe dúvida de que o governo simplesmente
a abandonou. Está satisfeito com o patamar de R$ 2 por dólar.
É aí que o objetivo do
governo, de defesa da indústria, prejudica o funcionamento do tripé. Ao
intervir, diretamente e verbalmente, no mercado de câmbio, a equipe econômica
impede uma valorização cambial que reduziria a competitividade dos nossos
produtos industriais.
É claro que o governo
consegue manter o câmbio fixo temporariamente. Mas essa política compromete o
trabalho do BC de atingir a meta de inflação. Quando ocorrer uma recuperação
mais forte da economia mundial, com uma maior pressão para valorização do
câmbio, esse conflito ficará mais evidente.
Por fim, a última ponta do
tripé, o equilíbrio fiscal. Ele sempre foi entendido como a gestão das contas
públicas para evitar o descontrole da dívida -daí as metas para o déficit
primário (diferença entre receitas e despesas não financeiras).
É verdade que o governo
reconheceu que não cumprirá a meta para este ano, como já ocorreu em 2009 e
2010. Como antes, a justificativa dada é a crise internacional: redução de
impostos e aumento dos gastos para ativar a economia. De fato, não há risco no
horizonte de uma explosão no endividamento do governo.
O que preocupa, neste
componente do tripé, são os subsídios para o setor privado que são feitos pelos
bancos oficiais. É uma política feita sem aprovação do Congresso e vendida como
se não gerasse desequilíbrio fiscal. Se não limitarmos essa estratégia, ela
colocará em risco a estabilidade macroeconômica.
Metas para o câmbio, juros e
crescimento de curto prazo não são compatíveis com o tripé macro. O governo
parece já ter feito a sua escolha.
Para Paulo Gala, doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e professor da mesma instituição: NÃO.
Os pilares de nossa política
econômica continuam intactos, só que as metas passaram a ser usadas com bom
senso, não de modo dogmático.
Começo pela questão fiscal.
O Brasil tem hoje uma das
posições fiscais mais robustas do mundo. Basta ver nossos custos de captação de
dinheiro no mercado internacional. Nunca pagamos tão pouco para captar a prazos
longos, indicação clara de que o mercado vê a robustez de nossas contas
públicas.
É fato que o Ministério da
Fazenda já admitiu que não cumpriremos a meta cheia do superávit primário
(diferença entre receitas e despesas não financeiras) neste ano, mas isso deve
ser analisado em perspectiva.
Num contexto de forte
desaceleração mundial e local, ter algum resultado primário é louvável. Basta
comparar o resultado de nossas contas publicas de 2011 com as de outros países
emergentes ou mesmo ricos. Outra comparação possível é a da nossa relação
dívida/PIB, cerca de 35%, uma das menores do mundo. Poucos países apresentam
tal solidez.
O sucesso dos últimos dez
anos, claro, não permite leniência com o futuro. Mas usar essa margem de
manobra em momentos difíceis como o atual me parece fazer total sentido.
Melhor ainda, aliás, se o
superavit não for atingido graças às bem-vindas desonerações tributarias.
Também não é demais lembrar que os cortes da Selic estão trazendo grande
economia fiscal. O deficit nominal zero (que conta os gastos com juros) está
logo ali. O governo Dilma não abandonou a solidez fiscal.
Sobre a questão da inflação,
a mesma lógica se aplica.
O principio está correto,
continua sendo seguido. Novamente, a meta central de inflação de 4,5% não será
atingida. Devemos fechar o ano com um IPCA próximo a 5,5%. Mas daí a dizer que
a inflação está fora do controle -ou que o governo abandonou a meta- há um
longo caminho.
O grande vilão da inflação
por aqui, neste ano, foi a subida de preços de alimentos por causa da seca
americana. O Banco Central poderia ter combatido (talvez em vão) essa subida
com aumentos da Selic, mas é preciso pensar: qual o dilema enfrentado pelo BC
nesse caso?
Subir a taxa de juros e
agravar ainda mais o nível de atividade econômica no Brasil? Ou acomodar o
choque e tolerar uma inflação 1% maior?
O mesmo dilema surgiu em
2011. O BC optou nessas duas ocasiões por não sacrificar ainda mais o já
combalido nível de atividade para seguir dogmaticamente o centro da meta.
A subida de preços dos
últimos dois anos se deveu ao aquecimento do mercado de trabalho e a
importantes choques de oferta nos preços dos alimentos. Vários países emergentes
apresentavam inflação de 12 meses em linha com a brasileira (ou maior) em
outubro último. Nossa inflação não está fora de controle.
Finalmente, a política
cambial.
Há sim um piso informal de
R$ 2 que o governo tenta defender. Mas ele é momentâneo, não uma taxa fixa e
formal nem uma garantia para o futuro, um comprometimento. O regime formal de
câmbio continua sendo o flutuante -ainda que, no contexto atual, flutue muito
pouco, mas nada impede que isso mude.
O governo sabe que o cálculo
de uma taxa "correta" ou "adequada" para o câmbio é muito
complexo e dinâmico. Mas não saber exatamente qual a taxa "correta"
não significa que se ausentar totalmente seja o melhor caminho. O mercado
comete muitos exageros para cima e para baixo, como bem sabemos. Um comportamento
contracíclico do governo não me parece algo ruim.
A experiência internacional
é bastante clara. Não precisamos chegar no extremo da China, que acumulou mais
de US$ 3 trilhões comprando reservas. Basta olhar o que fazem países como
Coreia do Sul, Japão, Tailândia, Malásia e Colômbia.
Os pilares macroeconômicos
são iguais. Agora, há mais pragmatismo.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Nate Silver, o gênio da Estatística, acerta Obama.
Leio no UOL um texto muito bom,
principalmente para os nossos colegas estatísticos. Realmente, estudar
Estatística é um prazer. E com sorte, acertamos até quem será o(a) próximo(a)
presidente do Brasil.
Ele conseguiu novamente. E, não, não se trata
de Barack Obama. Depois da vitória do presidente democrata, que garantiu a
reeleição na noite desta terça-feira (6) ao derrotar o republicano Mitt Romney, o
comentário geral foi de que quem se deu bem foi Nate Silver, o blogueiro do "The
New York Times".
Silver, 34, é considerado o gênio da
estatística e desta vez acertou os resultado de pelo menos 49 Estados
americanos --ainda
falta a apuração da Flórida, mas tudo indica que ele vai acertar por lá também.
Logo que a apuração começou, o Twitter foi tomado de
internautas dizendo:
"Nate Silver is getting laid tonight", algo como "Nate Silver
vai ser dar bem esta noite", uma brincadeira com o fato dele ser
"nerd" e estar em alta por ter acertado o final de eleição.
O método que ele criou para chegar a um
resultado aproximado é considerado extremamente eficiente, pois calcula uma
média de diversas pesquisas de opinião, dando diferentes pesos a elas, e
considera demografia e registros de votos.
Mesmo quando ninguém botava a mão no
fogo pelos candidatos e garantia que eles estavam empatados, ou quando no dia
da eleição a apreensão dos dois lados era evidente porque a disputava estava
muito apertada, ele acreditava na probabilidade e até apostou com o jornalista
Joe Scarborough que Obama venceria.
Sua convicção dos números finais
chegaram a irritar republicanos e jornalistas, que tentaram minimizar a
importância do método. “Estes especialistas e seus computadores são péssimos
para prever comportamento humano”, escreveu David Brooks, no "Times".
No fim, ele previu que Obama tinha mais
de 90% de chance de ganhar, receberia 50,8% dos votos populares e conquistaria
332 votos dos colégios eleitorais --Washington, Oregon, Califórnia,
Nevada, Colorado, New México, Minnesota, Iowa, Wisconsin, Illinois, Michigan,
Ohio, Maine, New Hampshire, Nova YOrk, Massachusetts, Connecticut, Vermont,
Pennsylvania, Rhode Island, New Jersey, Maryland, Delaware, Virginia, Havaí e
Flórida.
Obama obteve 50% dos votos (59.725.608)
contra 48% de Romney (57.098.650) e, se conquistar a Flórida, ele vai
terminar com os 332 votos dos colégios eleitorais.
Na eleição de 2008, entre Obama e o
republicano John McCain, Silver acertou o vencedor em 49 dos 50 Estados. Em
2010, acertou 34 dos 36 senadores eleitos.
Formado em economia pela Universidade de
Chicago, Nate Silver começou a criar um modelo estatístico que calculava o
rendimento de cada jogador de beisebol, seu esporte do coração. Dado o sucesso
do método, resolver arriscar na política. Parece que deu certo.
sábado, 3 de novembro de 2012
Keynes X Hayek em 2012.
Estava
viajando e somente hoje li a matéria que a ÉPOCA publicou sobre as ideias do
austríaco Friedrich von Hayek, em pauta na eleição americana, graças ao Paul Ryan, o vice de Mitt Romney. O quadro com a batalha intelectual do século XX
entre Friedrich von Hayek e John Maynard Keynes é bastante didático e traz
surpresas para quem conhece apenas um dos economistas.
Assim
como em 1930 a maioria dos economistas e políticos desprezava as ideias de
Keynes e somente em 1950 elas se tornaram a ortodoxia reinante nos Estados
Unidos, não é impossível que os estudos de Hayek sejam as próximas ideias na ortodoxia dominante.
Indiferente de quem está correto, (afinal todos tem a sua razão de pensar), o importante é que são clássicos. Nestes tempos de graves crises econômicas na maior parte do mundo, é um luxo ter a colaboração de Keynes e Hayek na complexa resolução dos nossos problemas.
China: sem mudança, será sempre a União Soviética.
É comum
ouvir que o século XXI pertence a China. Sempre discordo que a China seja a potência
que ultrapassará os Estados Unidos e dominará o mundo.
Ainda
que eu não tenha concluído a leitura do “Por que as nações fracassam – As origens
do poder, da prosperidade e da pobreza”, os autores Daron Acemoglu e James
Robinson já deixam claro que “a China sob o domínio do Partido Comunista é mais um
exemplo de sociedade que cresce sob a tutela de instituições extrativistas, e é
improvável, do mesmo modo, que venha a gerar crescimento sustentável – a menos
que sofra uma transformação política fundamental, rumos a instituições
inclusivas de fato”.
Isso
posto, recordo da extinta União Soviética e de quantos, por exemplo, que afirmaram que a própria
renda soviética ultrapassaria a americana em meados de 1984. E olha que o
nosso grande mestre, o Nobel Paul Samuelson, defendia repetidamente a “iminente
preponderância econômica da União Soviética”. Em 2012, quem ainda lembra que
existiu uma União Soviética?
Portanto, colegas que estão desesperados estudando mandarim, peço continuarem com o seu inglês fluente, pois ele será utilizado ainda durante muitos e muitos anos. Exceto, claro, quando os chineses tiverem eleições livres para Presidente, o que acredito isso não acontecerá tão cedo.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Brasil rico, Brasil pobre.
Recebi através do Grupo de Economia Política, o direto editorial do ESTADÃO publicado em 28.10.2012. Triste, porém a mais pura verdade. Basta apenas você olhar ao ser redor, independente se você mora em determinadas grandes capitais, quanto no interior sem lei.
O aumento da renda nos
últimos dez anos proporcionou uma notável melhora no padrão de vida da maioria
das famílias brasileiras, aproximando-o de indicadores de países desenvolvidos,
se o que se leva em conta é a aquisição de bens de consumo. No entanto, como
mostrou o jornal Valor (21/10), se o critério for o fornecimento de serviços
públicos básicos, pelos quais o Estado é diretamente responsável, uma boa parte
desses mesmos cidadãos ainda convive com situações típicas dos países mais
pobres do mundo. Ou seja: quando depende da renda das famílias, o avanço dos
brasileiros na direção do mundo do conforto é significativo; no entanto, quando
há necessidade de investimentos estatais, as demandas mais óbvias de grande
parte da população ainda estão muito longe de serem satisfeitas.
O Brasil é hoje o oitavo
maior mercado consumidor do mundo, segundo o Fórum Econômico Mundial. Desde
2001, saltou de 85,1% para 96,3% o total de domicílios que dispõem de geladeiras.
No caso dos televisores, o índice passou de 89% para 97,2%, e no de máquinas de
lavar, de 33,6% para 51,6%. Quase 100% das casas agora têm fogão, e o número de
residência com computador ligado à internet quadruplicou, chegando a 37,1%.
Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), esses dados têm relação
direta com a redução da desigualdade de renda verificada no período. Houve
expansão de 16% do rendimento médio real do trabalho entre 2001 e 2011, e esse
crescimento foi mais acentuado entre os 50% mais pobres da população. Estudo da
Fundação Getúlio Vargas indica que o ganho nessa faixa foi de 68% acima da
inflação. Além disso, o total de trabalhadores com carteira assinada cresceu
48,1% entre 2003 e 2011.
Ao mesmo tempo, a oferta de
crédito, capitaneada por bancos oficiais, passou de 25% para 51% do Produto
Interno Bruto (PIB) entre 2002 e agosto passado, o que, ao lado do abatimento
de impostos para reduzir os preços, também ajuda a explicar o aumento
substancial da aquisição de bens duráveis. Com relativa estabilidade de emprego
e de ganhos salariais, aliada ao crédito fácil e aos incentivos estatais, os
brasileiros foram às compras.
No entanto, muitos desses
consumidores da "nova classe média", que passaram a assistir a seus
programas favoritos em modernas TVs de tela plana, são os mesmos que topam com
lixo na porta de casa, que enfrentam esgoto a céu aberto e que não têm escola
com qualidade ao menos razoável para seus filhos.
O IBGE mostra que cerca de
40% das residências brasileiras não dispõem de abastecimento de água e coleta
de esgoto. A comparação com os países ricos é dramática: nos Estados Unidos,
segundo o Valor, apenas 0,6% das casas não tinham água encanada e vaso
sanitário com descarga em 2011. Ainda segundo o IBGE, 11% das casas brasileiras
não têm nenhum tipo de saneamento básico e 5% convivem com lixo acumulado. E
40% dos logradouros não têm nenhuma identificação, de modo que seus habitantes
não sabem dizer exatamente onde moram. O quadro é igualmente sombrio na
educação. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2011 mostra que, no
ensino médio, a maioria dos alunos não sabe ir além das quatro operações
aritméticas nem consegue ler e escrever de modo satisfatório.
Tudo isso se reflete na
capacidade do Brasil de competir por mercados. O último ranking do Fórum
Econômico Mundial sobre o tema indica que o País, embora tenha subido cinco
posições, para o 48.º lugar, ainda marca passo em indicadores-chave. No item
"saúde e educação básica", por exemplo, o Brasil figura em 88.º lugar
entre 144 países, perdendo 9 posições desde 2009.
Como se observa, lentamente
estamos deixando de ser a "Belíndia", à qual se referiu o economista
Edmar Bacha, em 1974, para designar a concentração de renda que gerou o abismo
entre o minúsculo Brasil rico, isto é, a "Bélgica", e o enorme Brasil
pobre, a "Índia". Agora, o País está mais para um "Engana",
apelido dado recentemente pelo ex-ministro Delfim Netto para designar esse
festejado Brasil que tem renda da Inglaterra (England), mas que ainda dispõe de
serviços públicos de Gana.
Seminário em SP: Economia em 2013.
InterNews promove em 30 de novembro de 2012 em São Paulo, seminário para melhor identificar os fatores que irão influenciar o desempenho da economia em 2013.
A economia brasileira terá um
crescimento, já praticamente assegurado, de 3% a 4% em 2013. O ambiente de
negócios deve melhorar para a maioria das empresas. A economia está em
aquecimento neste 4º trimestre de 2012, o que estabelecerá um novo patamar para
as atividades econômicas.
No entanto, os desafios
estruturais que o país não consegue superar impõem um teto neste crescimento.
As expectativas de um desempenho mais dinâmico, que existiam em 2009 e em 2010,
tornaram-se altamente improváveis. Mesmo o crescimento ainda baixo que se
espera no Brasil para 2013 é vulnerável à possibilidade de agravamento da crise
da zona do euro, de uma piora na economia americana ou de um pouso forçado do
crescimento chinês.
Para ter um crescimento mais
dinâmico e sustentável, o governo terá que melhorar a qualidade dos seus gastos
correntes, criar condições para o aumento de produtividade, aprimorar os marcos
regulatórios, promover uma reforma tributária, investir na educação e na
qualificação de mão de obra e criar condições para a efetiva eliminação de
gargalos de infraestrutura.
O crescimento do PIB em 2013
está limitado em 3,5%?
Qual o risco de um choque
externo frustrar o crescimento esperado para o ano que vem?
O Brasil tem condições de
resolver os entraves que impedem um crescimento mais dinâmico?
Quais as condições para a
estabilidade nos patamares atuais das taxas de câmbio, juros e inflação?
Tudo isso e muito mais será respondido pelos conferencistas abaixo:
Amaury Bier
Presidente da Gávea
Investimentos. Ex-diretor executivo do Banco Mundial, IFC e MIGA, foi
secretário-executivo e secretário de Política Econômica do Ministério da
Fazenda. Doutor em Economia pela USP.
Luiz Roberto Cunha
Professor da PUC-RJ,
especialista em inflação, mestre em Economia pela Universidade de Vanderbilt
(EUA).
Raul Velloso
Consultor econômico
especializado em Contas Públicas Brasileiras. É sócio-diretor da ARD
Consultores Associados. PhD em Economia pela Universidade de Yale, foi
secretário-adjunto da Secretaria Nacional de Planejamento do Ministério da
Economia.
Roberto Padovani
Economista –chefe da
Votorantim Corretora. Mestre em Economia pela FGV-SP. Foi assessor do
Ministério da Fazenda durante o Plano Real, sócio da consultoria Tendências e
economista para América Latina do Banco WestLB.
O novo livro do Rodrigo Constantino.
Nas melhores livrarias, o
novo livro do colega economista e blogueiro Rodrigo Constantino, sempre no ótimo http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/.
Segue a resenha publicada na “Livraria
da FOLHA”. O livro, com 400 páginas, foi publicado pela Editora LEYA.
Em Privatize Já, o economista
Rodrigo Constantino procura desmistificar o termo "privatização",
expondo as vantagens de um processo como este quando é bem feito.
Para o autor, está provado
que o modelo de empresas estatais no Brasil não funciona. Hoje, são as menos
lucrativas e as que mais empregam. Ainda assim, boa parte da população treme ao
ouvir o palavrão ""privatizado"". Mas se o serviço público
não funciona, por que a privatização se tornou essa heresia? De acordo com
Constantino, por pura falta de informação.
O economista destaca o caso
das empresas brasileiras de telefonia, que há alguns anos eram as detentoras
das linhas e licenças. Quando um cidadão queria uma linha telefônica devia
preencher um pedido, enfrentar uma fila, passar por um sorteio e, mesmo assim,
só podia adquirir um número depois de meses, ou anos. Hoje, após as
privatizações, o consumidor pode ter quantas linhas quiser, brigar por taxas
mais baixas e optar pelas opções pré-pagas. A quantidade e a qualidade dos
serviços aumentaram exponencialmente.
Tomando por base a lei do
livre comércio, Constantino afirma que a concorrência entre empresas privadas
costuma ser garantia de bons serviços, e um passo extremamente importante na
direção de mais progresso, prosperidade e liberdade.
Minha homenagem à NYC.
Através
do texto de RUY CASTRO, hoje na FOLHA DE S. PAULO, a minha homenagem a Nova
York, a cidade que nunca dorme e que é um dos meus melhores destinos no mundo.
Nova York, devastada pela
furacão Sandy, não esperou a chuva estiar para sair às ruas, começar a passar o
rodo e cuidar dos estragos. É como se milhões de pessoas tivessem se cansado de
ficar sem energia - elevadores parados, gente presa no 80° andar, hospitais
fechados em meio a cirurgias, telefones mudos, voos cancelados -, de metrô,
trens e túneis alagados, prédios, garagens e estacionamentos idem, com pisos,
móveis e carros destruídos, e ruas cobertas de lixo, lama e, dizem, ratos
mortos, vindos dos subterrâneos.
Toda a Costa Leste americana
foi atingida, mas é inevitável que Nova York atraia as atenções. Não se entende
a cidade sem o comércio funcionando, as luzes piscando e o dinheiro girando. E
não se a concebe também sem seus cidadãos se mobilizando de forma coletiva e
solidária, todos se empenhando em resolver os problemas de todos -sem desprezar
a ajuda dos poderes oficiais, apenas antecipando-se a eles e fazendo a sua
parte.
Foi assim no 11/9, quando,
poucos dias depois do ataque aéreo e com a poeira ainda no ar, Blossom Dearie
começou a cantar "It's All Right to Be Afraid" num clubinho; os
teatros reabriram as portas e as pessoas voltaram à vida em vez de ficar
olhando para o céu. Normal ter medo, dizia a canção, desde que ele não as impedisse
de fazer o que tinham a fazer.
A maratona de Nova York, a
maior do mundo, programada há meses para este domingo, poderia ter sido
cancelada. As ruas estão um caos e inúmeros participantes, vindos de toda
parte, não tiveram ou terão como chegar. Mas será realizada assim mesmo. A
imagem dos corredores cruzando os cinco distritos e terminando no Central Park
simbolizará a invencibilidade desta cidade, ultimamente mais posta à prova do
que nunca.
Os furacões passam longe das
nossas costas, melhor assim.
domingo, 28 de outubro de 2012
29 de outubro - Dia Nacional do Livro.
Você sabe por que comemoramos o dia Nacional do Livro no dia
29 de outubro? Por que foi nesse dia, em 1810, que a Real Biblioteca Portuguesa
foi transferida para o Brasil, quando então foi fundada a Biblioteca Nacional e
esta data escolhida para o DIA NACIONAL DO LIVRO.
O Brasil passou a editar livros a partir de 1808 quando D.João VI fundou a Imprensa Régia e o primeiro livro editado foi "MARÍLIA DE DIRCEU", de Tomás Antônio Gonzaga.
O Brasil passou a editar livros a partir de 1808 quando D.João VI fundou a Imprensa Régia e o primeiro livro editado foi "MARÍLIA DE DIRCEU", de Tomás Antônio Gonzaga.
Fonte: Instituto Pró-Livro.
Leia sempre. Ler é cultura.
O lado pop do Nobel.
Da série: minhas leituras - 3:
"Em A RIQUEZA DAS NAÇÕES, lançado em 1776, ADAM SMITH defendeu, entre outras coisas, a livre concorrência entre os empresários como forma de garantir preços mais justos e a inovação tecnológica. Desde a publicação da obra-prima de SMITH, a população mundial saltou de 1 bilhão para 7 bilhões de habitantes, houve duas grandes guerras mundiais, o surgimento e a derrocada do comunismo e a invenção dos computadores. Com toda essa evolução, é natural esperar que o estudo da economia também esteja se redescobrindo a cada dia. O mais incrível, talvez, seja o fato de SMITH continuar tão atual. Foi ele quem mostrou a utilidade e o dinamismo da economia de mercado e por que - e, em particular, como - esse dinamismo operava. Por mais pop que seja, o Nobel continua tão ortodoxo como sempre".
Fonte: Revista EXAME.
Da série: minhas leituras - 2.
Esta vai para os Professores Alexandre Schwartsman e Carlos Pio: "As pessoas deveriam sustentar-se graças a seus esforços e àquilo que ganham [...] e depender o menos possível do Estado."
"Ela acreditava que, em contraste com o Estado socialista, o Estado do bem-estar social era perfeitamente compatível com o livre mercado e a democracia. Apresentava o Estado do bem-estar social como o próximo estágio da evolução natural do Estado Liberal".
Trata-se do pensamento da aqui desconhecida Beatrice Ellen Potter, esposa de Sydney Webb, que juntos criaram o conceito de "Estado do bem-estar social" e do "think tank". Em almoço em Oxford, conheceu Alfred Marshall.
Fonte: A imaginação econômica: gênios que criaram a economia moderna e mudaram a história - Sylvia Nasar.
7,25%.
Li recentemente na FOLHA, Antonio Delfim Netto e sua análise da última decisão do Copom.
O exercício da política econômica é, por sua própria natureza, um fato
datado e incerto. Datado pelo conhecimento acumulado ao longo dos anos, de que
seu agente se supõe portador. Incerto porque necessariamente envolve uma
perspectiva sobre o ambiente interno e externo em que ela se executará.
O problema técnico encontra o seu limite no conhecimento do agente. Depois,
trata-se de uma decisão tomada entre prospectivas razoáveis construídas pela
imaginação e a cuja realização pode-se, apenas, atribuir uma probabilidade
subjetiva.
Um exemplo parcialmente típico dessa situação foi enfrentado pelo Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco Central, quando decidiu, por 5 votos a 3,
reduzir a taxa Selic de 7,5% para 7,25%, "porque o cenário prospectivo
para a inflação ainda comportava um último ajuste nas condições monetárias".
Os membros que votaram contra "entenderam que não era necessário mais
um corte de juros para garantir a melhora do crescimento econômico", pois
o cenário não o recomendava.
Não parece ter havido nenhuma divergência técnica. Podemos supor, com toda
razoabilidade, que os oito votantes têm formação profissional competente,
colhida em excelentes academias, nenhuma das quais se pode classificar como
heterodoxa ou ideologicamente muito diferente.
A mais importante diferença talvez seja a da probabilidade subjetiva que
cada um atribuiu ao que supõe será o desenvolvimento da economia mundial no
futuro próximo.
Os vencedores apostaram na prospectiva que sugere que a fragilidade e as
incertezas que dominam a economia mundial serão mais prolongadas do que se
supõe e terão algum efeito "desinflacionário" sobre a doméstica.
Os perdedores apostaram na prospectiva de que os efeitos das medidas já
tomadas pela política econômica (fiscal, monetária e cambial) não esgotaram os
seus efeitos e que, portanto, mais uma queda marginal dos juros não era
necessária para garantir a volta ao crescimento. Estes, talvez, tenham sido
atendidos com o registro de que seria o "último ajuste (...) por um tempo
suficientemente prolongado" nas condições monetárias.
O que o Banco Central não explicita é que sua hipótese, se verdadeira,
ajudará a elevar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) ao mesmo tempo
em que fará a inflação convergir para a sua meta.
Temos a impressão (não é nada mais do que isso) de que a prospectiva dos
vencedores tem maior probabilidade de realizar-se, mas isso só o tempo
revelará. Não a teoria ou a ideologia.
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