segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

PAUL KRUGMAN - DIA DA PREMIAÇÃO NOBEL

Hoje é o dia que a Academia Real de Ciências de Estocolmo premiará o nosso Nobel em Economia: PAUL KRUGMAN. Minha homenagem a esse grande Economista é publicando seu mais recente artigo sobre se "O GASTO DE HOJE PREJUDICARÁ A ECONOMIA DE AMANHÃ?" Enquanto aguardamos seu esperado discurso na cerimônia em Estocolmo, vamos analisar nas entrelinhas o que passa na cabeça desse Nobel 2008. O texto original publicado em 01/12/2008 encontra-se no endereço http://www.nytimes.com/2008/12/01/opinion/01krugman.html?_r=1 -DEFICITS AND THE FUTURE.

Neste momento, há um intenso debate sobre quão agressivo deve ser o governo dos Estados Unidos na tentativa de recuperar a economia. Muitos economistas, inclusive eu, estão clamando por uma grande expansão fiscal para evitar que a economia siga em queda livre. Outros, no entanto, preocupam-se com o fardo que o enorme déficit orçamentário irá colocar sobre as futuras gerações.

Mas as preocupações com o déficit estão totalmente equivocadas. Sob as condições atuais, não há conflito entre o que é bom no curto prazo e o que é bom no longo prazo; uma forte expansão fiscal pode, na verdade, melhorar as perspectivas de longo prazo da economia.

A alegação de que os déficits orçamentários enfraquecem a economia a longo prazo é baseada na crença de que o financiamento governamental desloca o investimento privado – o governo, ao emitir muita dívida, eleva rapidamente a taxa de juro, deixando as empresas pouco dispostas a investir em novas plantas e equipamentos, e isso, por sua vez, reduz a taxa de crescimento da economia a longo prazo. Sob circunstâncias normais, esse argumento faz muito sentido.

Mas as atuais circunstâncias estão muito além da normalidade. Imagine o que poderia ocorrer no próximo ano se a administração Obama capitulasse frente aos falcões do déficit e encolhesse seus planos fiscais. Isso levaria a taxas de juro mais baixas? Certamente, não conduziria à redução das taxas de juro de curto prazo, que são mais ou menos controladas pelo Federal Reserve. O Fed já está mantendo essas taxas o mais baixas possível – virtualmente, em zero – e não mudará essa política a menos que veja sinais de que a economia está ameaçada de superaquecimento. E essa não parece ser uma perspectiva realista em breve.

E sobre o juro de longo prazo? Essas taxas, já no nível mais baixo em meio século, refletem principalmente taxas futuras de curto prazo. Austeridade fiscal pode empurrá-las ainda mais para baixo – mas somente criando expectativas de que a economia poderia se manter profundamente deprimida por um longo tempo, o que iria reduzir, não elevar, o investimento privado.

A idéia de que apertar a política fiscal quando a economia está deprimida na verdade leva à redução do investimento privado não é apenas um argumento hipotético: é exatamente o que ocorreu em dois importantes episódios da história. O primeiro ocorreu em 1937, quando Franklin Roosevelt equivocadamente deu ouvidos aos preocupados com déficit de sua própria era. Ele reduziu de forma acentuada o gasto do governo, entre outras coisas cortando o Works Progress Administration (agência criada em 1935 para gerar empregos e sair da Grande Depressão) pela metade, e ainda elevando impostos. O resultado foi uma severa recessão, e uma queda abrupta no investimento privado. O segundo episódio teve lugar 60 anos depois, no Japão. Em 1996-97, o governo japonês tentou equilibrar seu orçamento cortando gastos e elevando impostos. E outra vez a recessão que se seguiu conduziu a uma queda drástica no investimento privado.

Apenas para ser claro, não estou afirmando que a tentativa de reduzir déficits orçamentários sempre é ruim para o investimento privado. Você pode se basear no caso da restrição fiscal de Bill Clinton nos anos 90, que ajudou a abastecer o maior boom de investimentos dos EUA da década, o que por sua vez ajudou a provocar uma recuperação no crescimento da produtividade.

O que torna a austeridade fiscal tão má idéia, tanto nos EUA de Rooselvet quanto no Japão dos anos 90, foram circunstâncias especiais: nos dois casos, o governo recuou frente a uma armadilha de liquidez, uma situação na qual a autoridade monetária cortou taxas de juro tão rápido como possível, e a economia ainda continuou a funcionar bem abaixo de sua capacidade. E nós estamos no mesmo tipo de armadilha hoje – motivo pelo qual preocupações com déficit estão deslocadas.

Mais uma coisa: expansão fiscal será ainda melhor para o futuro dos EUA se uma grande parte dessa expansão tomar a forma de investimento público – construção de estradas, reforma de pontes e desenvolvimento de novas tecnologias, iniciativas que tornam a nação mais rica no longo prazo.

O governo deve ter uma política permanente de grandes déficits orçamentários? Claro que não. Embora a dívida pública não seja tão ruim como a maioria das pessoas acredita – é basicamente dinheiro que nós devemos a nós mesmos –, no longo prazo o governo, como os indivíduos, tem de equilibrar o gasto e a receita.

Mas neste momento temos um rombo no gasto privado: os consumidores estão redescobrindo as virtudes de poupar no mesmo momento em que as empresas, escaldadas por excessos passados e limitadas pelos problemas no sistema financeiro, estão cortando investimento. Com o tempo, essa lacuna poderá fechar, mas até que isso ocorra o gasto do governo terá de ser feito da forma mais eficiente possível. Caso contrário, o investimento privado e a economia como um todo irão despencar ainda mais.

A questão essencial, então, é que as pessoas que consideram a expansão fiscal de hoje ruim para as futuras gerações entenderam tudo errado. O melhor plano de ação, tanto para os trabalhadores de hoje quanto para seus filhos, é fazer o que for necessário para conduzir a economia no rumo da recuperação.

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