terça-feira, 26 de abril de 2011

Estados Unidos e Japao: economia.

Alex Ribeiro, no VALOR ECONÔMICO de hoje, escreve que os EUA repetem erro do Japão dos anos 90.

O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, deverá sinalizar amanhã, em sua primeira entrevista coletiva após uma reunião de política monetária, o fim do controverso plano de expansão quantitativa de US$ 600 bilhões. Alguns economistas acham que a medida irá provocar alta nos juros dos títulos do Tesouro americano, mas a maioria acha que o impacto concreto será muito pequeno, porque a expansão quantitativa fez pouco para estimular a economia dos Estados Unidos.

Os americanos, porém, não deveriam estar tão preocupados com o fim dos estímulos monetários, mas principalmente com os riscos de uma prematura consolidação fiscal. "Os Estados Unidos correm o risco de cometer o mesmo erro que o Japão", afirma Richard Koo, economista-chefe da Nomura Securities, um dos maiores estudiosos dos erros de política fiscal que levaram a uma década perdida no Japão, nos anos 90.

Em resposta à crise financeira ocorrida a partir de 2007, os EUA baixaram os juros para próximo de zero, adotaram medidas pouco convencionais de expansão monetária e aprovaram pacote de estímulo fiscal de US$ 800 bilhões. Agora, preparam-se para desmontar esse aparato.

Muitos analistas acham que as medidas foram eficazes para evitar uma grande depressão, como a iniciada em 1929. Mas a economia ainda cresce lentamente, numa velocidade estimada em 2,8% pelo FMI, e o desemprego de 9,2% é considerado bastante alto para os padrões americanos. As estatísticas ainda apontam fragilidades no mercado imobiliário, que podem levar a um segundo mergulho recessivo.

O partido Republicano, de oposição, venceu as eleições legislativas do ano passado com o discurso de austeridade fiscal. Eles sustentam que o alto déficit público inibe consumo e investimentos e, por isso, pressionam a administração Barack Obama a reduzir gastos. Conseguiram corte de US$ 38 bilhões no orçamento deste ano e, agora, ameaçam não renovar o teto do endividamento público, tentando forçar o governo a adotar um plano de consolidação fiscal de pelo menos US$ 4 trilhões.

Para Koo, a continuidade dos estímulos fiscais é a única maneira para EUA e Europa evitarem a volta da recessão. "No Japão, tivemos os mesmos problemas políticos", afirmou, em entrevista ao Valor. "É quase impossível manter a expansão fiscal necessária numa democracia e em tempos de paz."

A crise americana e europeia atual, afirma ele, é idêntica à vivida pelo Japão a partir de meados da década de 90. No caso do Japão, levou 15 anos para combatê-la, em parte porque o governo recuou na hora errada, em 1997 e em 2001. "Ao primeiro sinal de recuperação, o governo fez o ajuste fiscal", afirmou. "A economia afundou, a arrecadação caiu e a situação fiscal ficou pior ainda." Se o governo japonês não tivesse errado, o problema seria superado em dez anos, diz ele.

Estados Unidos, Europa e Japão dos anos 90 enfrentaram o que Koo chama de recessão de balanço privados. Antes da crise, empresas e indivíduos tomaram muito dinheiro emprestado para comprar ativos, como propriedades e ações, cujos preços ficaram supervalorizados. Quando as bolhas estouraram, os preços dos ativos caíram, e o setor privado ficou com enormes dívidas em seus balanços. Agora, estão poupando para quitar esse débitos, num processo que pode levar anos.

No caso do Japão, o ajuste demorou 15 anos, porque os preços dos imóveis caíram 75% e o governo fez a coisa errada. Nos EUA, o ajuste nos balanços pode levar algo como seis anos, porque a queda dos preços foi em torno de 40%, mas depende de o governo americano fazer a coisa certa. "Os EUA têm a vantagem de aprender com o exemplo do Japão", disse.

Quando empresas e indivíduos aumentam poupança para pagar dívidas, corte nos juros e emissões monetárias, como os patrocinados pelo Federal Reserve, têm impacto quase nulo para aumentar a oferta de dinheiro na economia. Os bancos não querem conceder empréstimos, porque o setor privado está muito endividado. E o setor privado não quer tomar empréstimos, porque sua prioridade é pagar dívidas.

Nos EUA, alguns analistas afirmam que a situação do país é diferente, porque sua população é mais jovem, há mais imigrantes e o mercado de trabalho é mais flexível. "Conversa", afirma Koo. "Todo mundo vem com uma desculpa para dizer que é diferente do Japão."

O indicador mais importante, afirma ele, é comparar o aumento de poupança privada com o aumento do déficit público. Se o setor privado passou a poupar mais do que a expansão fiscal, a economia segue numa recessão provocada por um processo de ajuste de balanço privado. Nos Estados Unidos, afirma, o aumento de poupança privada é de cerca de 13% do PIB, mais do que o aumento do déficit fiscal, de cerca de 8%.

Mesmo em países da Europa, como Espanha, Irlanda e Portugal, a expansão fiscal ainda está atrás do aumento da poupança privada. Por isso, para esses países a recomendação de Koo é que os governos continuem gastando para estimular a economia. A regra, porém, não vale para a Grécia, que apenas expandiu o gasto público, sem aumento de poupança privada. "Sinto muito pelos gregos, mas eles têm que fazer o ajuste fiscal", afirma ele.

Contrações fiscais só têm impacto expansionista sobre a demanda agregada, como pregam republicanos nos Estados Unidos, e conservadores na Inglaterra, quando o setor privado não está se desalavancando. "Se o setor privado é saudável, o corte do déficit público vai abrir mais espaço para o setor privado", afirma Koo. "Os juros vão cair."

A China, afirma Koo, é um dos raros países que seguiram à risca a lição japonesa. Quando foi atingida pela crise de 2008, o país asiático tinha mercados acionário e imobiliário supervalorizados, com vários sinais de bolha. Se houvesse uma recessão naquela época, afirma o economista da Nomura, a China entraria num processo de ajuste de balanço privado. A resposta chinesa foi um pacote fiscal de 17% do PIB. "A China pode fazer", afirma Koo. "Não é uma democracia."

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A economia numa noite de inverno!

São raras as convergências entre economistas, mas no atual momento existe uma quase unanimidade de que a situação econômica mundial está complicada. Em pleno século XXI o mundo curva-se às ideias do célebre economista britânico John Maynard Keynes e, feito barata tonta, busca-se uma união ideal entre o livre-mercado e a intervenção do estado.

Quando a Standard & Poor’s revisa o triple A da classificação de riscos americana de estável para negativa, algo não está bem na América. Ainda está claro que o dólar irá continuar sendo a moeda mais poderosa do planeta, mas isso se deve até a falta de opção por uma moeda da eurolândia ou da China.

De qualquer maneira, o Brasil também está com seus problemas, a inflação dando o ar de sua graça, o dólar retornando ao patamar de R$ 1,50 e a taxa de juros no rumo das alturas. Bem que por aqui poderia-se analisar com cautela os gastos públicos e reduzir de uma maneira que não aumente a taxa de desemprego. No entando, é mais fácil a volta da CPMF e similares, com mais um generoso aumento na nossa carga tributária.

Aula com Carmen Reinhart.

CARMEN REINHART, economista que estudou crises, aponta na FOLHA DE S. PAULO que entrada de capital externo pode ser perigosa a emergentes.

A crise global como vimos em 2008 e 2009 chegou ao fim, mas a "sombra" dela ainda vai permanecer por muitos anos.

Uma das consequências é que os países ricos, como os Estados Unidos, deverão ter anos sem brilho, com baixo crescimento. Essa é a opinião de Carmen Reinhart, uma das mais importantes economistas americanas e autora, ao lado de Kenneth Rogoff, do elogiado livro "Oito Séculos de Delírios Financeiros", em que analisam diversas crises ao longo do tempo.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Nos últimos meses, os mercados, especialmente nos EUA, têm se comportado como se a crise tivesse chegado ao fim. A crise acabou?

Carmen Reinhart - O drama que vimos no fim de 2008 e no início de 2009 chegou ao fim. Não se vê algo algo daquela dimensão muito frequentemente.

Mas uma solução duradoura ainda não foi atingida. As economias avançadas - a maioria das europeias, os EUA e o Japão - têm dívidas pesando sobre suas cabeças.

Você veio do Brasil, sabe que o grande drama da crise da dívida na América Latina foi quando o sistema começou a implodir no início dos anos 1980, mas levou um bom tempo até que fosse resolvido.

Os mercados sobem e descem. Para falar a verdade, os mercados começaram a contar com o ovo antes de a galinha pô-lo, antecipando uma recuperação mais forte do que o que ocorreu realmente.

Os mercados desenvolvidos vão enfrentar o mesmo problema que os latino-americanos nos anos 1980?

Eles não vão, eles estão. Em 2006, dava para imaginar uma conversa envolvendo a reestruturação da dívida de países europeus? É preciso colocar as coisas sob perspectiva. Não acredito que as condições serão as mesmas, porque os emergentes perderam o acesso aos mercados internacionais de capital de uma maneira que os países desenvolvidos não perderam. Não tenho dúvida de que, se a Grécia e a Irlanda não tivessem a União Europeia por trás, nós teríamos "default" (calote), reestruturação.

Se nós olharmos quem está comprando os títulos da dívida deles, é o BCE (Banco Central Europeu), e não investidores privados. Então, quando você me pergunta se a crise já acabou, eu acho que a sombra que ela projetou é grande e que nós ainda não a superamos.

Então, a sra. não vê o desemprego nos Estados Unidos recuando nos próximos dez anos para o nível do fim de 2007, próximo a 5%?

Acho que vai demorar um tempo até voltarmos a 5%. A minha expectativa é de que o desemprego nos EUA permaneça teimosamente alto, acima de 8%.

Para começar, os preços do setor imobiliário estão muito longe da recuperação e o setor de construção é um que exige muita mão de obra.

Eu acho que os EUA e a maioria dos países avançados terão anos sem brilho, com crescimento abaixo da média. As dívidas das famílias americanas estão perto do seu nível recorde e as empresas financeiras estão altamente endividadas. Nos EUA, o único setor que está relativamente enxuto é o de empresas não-financeiras, mas, ao mesmo tempo, os planos de investimento delas, quanta gente mais pretendem empregar, dependem da expectativa de como será o consumo. E isso nos traz de volta à questão das dívidas das famílias.

Voltando à questão fiscal, quais serão as consequências dessa crise na economia real dos Estados Unidos?

Não estamos ainda no nível de uma crise fiscal nos padrões de Portugal, da Grécia e da Irlanda, mas os efeitos serão mentais. As expectativas das pessoas serão reduzidas, os valores de aposentadorias não serão os entregues em sua plenitude e os impostos também devem subir.

Qual é a sua avaliação sobre a atuação do governo Obama e do Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA]?

Eu acho que o Fed tem atuado de maneira bastante agressiva e rápida, mas ele precisa convencer o mercado e o setor privado de que, quando chegar o momento, também vai agir agressivamente e rapidamente para aumentar os juros. Sobre a administração Obama, acho que já chegou a hora de apresentar um plano para reduzir a dívida.

Uma coisa é dizer que temos, com a crise, uma situação fora do comum e estímulo é necessário.

Mas é preciso estabelecer uma estratégia para reduzir a dívida. Dizer que a dívida vai se estabilizar em 77% [em 2021] é realmente medíocre.

E quais efeitos os países emergentes devem sofrer?

Ainda não acabou o ciclo de busca por rendimentos maiores nos países emergentes, neste momento de juros baixos nas economias avançadas.

A combinação do desemprego nas economias avançadas e de dívida alta nesses países inclina a política monetária para o afrouxamento e para a manutenção dos juros baixos.

Então acredito que os países emergentes terão provavelmente que continuar a lidar com essa faca de dois gumes que é a enorme entrada de capital estrangeiro.

Por que é uma faca de dois gumes?

Entrada de capital externo, como os brasileiros bem sabem, está geralmente associada à alta da moeda.

A valorização cambial pode ser tolerada até o ponto em que não começa a deteriorar a conta-corrente, o que já começou a ocorrer no Brasil. Ela também só pode ser tolerada enquanto não começa a afetar a capacidade competitiva de um país, especialmente do setor industrial, o que também já ocorre no Brasil.

O problema com a entrada de capital é que ou você não recebe nada ou recebe demais. Eu acho que essas questões de administração do ingresso de capital externo vão perdurar por mais algum tempo nos países emergentes.

Qual é a sua opinião sobre a forma como o Brasil está administrando a entrada de capital externo?

Tenho algumas preocupações. Acho que o Brasil está indo no caminho certo ao aumentar os tributos sobre o capital especulativo, mas temo que, se o país continuar com a intervenção esterilizada [no câmbio] e perpetuar o diferencial de juros, isso é um negócio perigoso.

Por quê?

Porque, com base na minha própria pesquisa, quando você tem políticas que perpetuam o diferencial de juros você tende a dar mais força para esse processo, ou seja, atrair mais capital.

A China está tentando conter a inflação. Quais são os riscos que ela pode trazer para a economia global?

Os riscos que a China traz têm a ver com o seu tamanho, é a segunda maior economia do mundo, e tem grande influência sobre os mercados de commodities.

A China enfrenta algumas questões parecidas com as do Brasil, mas não de maneira tão aguda, porque ela tem mecanismos de controle de capital.

O dilema que eles enfrentam é que, quanto mais tempo eles tentarem impedir a valorização do yuan, mais as pressões inflacionárias durarão e mais serão crônicas.

A China vai ter um período difícil, tentando conter a inflação sem tirar muito do crescimento. Eu preciso acrescentar, porém, que a questão da inflação na China é pior do que os dados oficiais mostram.

E a inflação no mundo? Os preços, especialmente nos emergentes, continuam a subir. É um problema que vai continuar?

Acho que é um problema para os emergentes agora, mas que deve se generalizar.

Porém, até isso ocorrer deve ser um período de longa gestação. A inflação é uma questão para os emergentes, devido à entrada de capital.

Para os desenvolvidos, é uma questão ainda menor, especialmente pela falta de força das suas economias. E é um problema ainda menor para os EUA, porque, ao contrário da libra e do euro, o dólar não teve um enfraquecimento sustentado.

O risco de se ter governo demais.

O economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, afirma que "ainda falta muito" para chegar a um novo pensamento econômico depois da grande crise que atingiu o mundo. Um dos maiores riscos, afirma, é a volta aos anos 1950 e 1960, quando a intervenção dos governos cresceu ao ponto de se tornar excessiva.

Em entrevista ao Valor, Blanchard explica os principais pontos do debate que ele mesmo levantou dentro do FMI, incluindo a polêmica sugestão de que os bancos centrais tenham uma meta para a taxa de câmbio. " Estava apenas colocando isso sobre a mesa."

Em seu manual de macroeconomia, um dos mais populares em cursos de graduação, Blanchard define as principais escolas de pensamento econômico atual. Mas ele não quis colocar um nome no novo pensamento que surge da crise. "Detesto rótulos."

Valor: Há um novo pensamento econômico depois da crise? Precisamos de um?

Olivier Blanchard: A resposta para sua segunda questão é sim. Para a primeira, ainda não. Aprendemos que existem coisas em que acreditávamos que provavelmente não são corretas. Temos que repensar como executamos políticas macroeconômicas, mas ainda não chegamos lá. Ainda falta muito.

Valor: É possível colocar um nome, um rótulo, nesse novo pensamento econômico?

Blanchard: Detesto rótulos, não quero dar um novo rótulo, me recuso a ser associado com alguma escola de pensamento. Mas acho que muita gente me vê como um novo keynesiano. O que é um economista novo keynesiano? Acho que é alguém que acredita nos mercados, mas acredita que às vezes eles funcionam mal e que as políticas públicas devem ter um papel central.

Valor: É suficiente para os bancos centrais terem apenas uma meta, a inflação?

Blanchard: Absolutamente não. Não está em questão a importância de manter a inflação em um nível baixo e estável. Mas há muitas outras coisas importantes para a saúde econômica, como desemprego, hiato do produto. Muitos economistas acreditavam que, se a inflação fosse estável, as questões do desemprego e do hiato do produto estariam superadas. Com frequência, esse não é o caso. Você pode ter situações em que há inflação, mas também hiato do produto. Veja a África do Sul de hoje. Outra coisa que aprendemos na crise é que você pode ter inflação estável, hiato do produto estável ou pequeno, mas nos bastidores pode estar criando problemas financeiros. Quando eles aparecem, podem criar uma grande confusão. Essa é a essência da crise atual. Então, o banco central tem que se preocupar com a estabilidade financeira. E aprendemos, de outro lado, que existem muitos instrumentos, muito mais do que a taxa de juros. Quando a taxa de juros vai a zero, você tem que usar expansão quantitativa ou de crédito, mas além disso tem que olhar níveis de capital, níveis de crédito, níveis de liquidez. Tudo isso cria um trabalho muito difícil, mas não acho que os bancos centrais podem evitá-lo.

Valor: Como não perder o foco no que é importante, a baixa inflação?

Blanchard: Esse é o desafio. É necessario ter um compromisso total com um nível de inflação baixa e estável no médio prazo. Por exemplo, hoje a inflação cheia é maior do que o núcleo de inflação em muitos países, por causa do impacto direto da alta dos preços dos combustíveis e de alimentos nos índices de preços ao consumidor. Mas não nos preocupamos com isso, porque os bancos centrais têm um compromisso com a inflação baixa no médio prazo e as expectativas de inflação estão ancoradas.

Valor: Como manter a credibilidade obtida no sistema de uma meta e um instrumento?

Blanchard: Foi essencial usar coisas como regimes de meta de inflação para estabelecer credibilidade. É muito simples: um instrumento, uma meta. Muitos bancos centrais firmaram sua credibilidade dessa forma. Agora que eles têm credibilidade, devem usar. Há muita comunicação que deve ser feita. Acho algo factível. Existe um "trade off" de ter essa política muito simples. Você pode ter credibilidade, mas pode também estar fazendo algo errado.

Valor: Não é controverso defender metas para taxas de câmbio, como o sr. fez?

Blanchard: Há bons argumentos para evitar uma apreciação excessiva. É algo que já está na cabeça dos formuladores de política econômica. Então, o ponto de vista que defendo é apenas ser explícito sobre isso. Muitos países com movimentos de capitais imperfeitos talvez tenham dois instrumentos potenciais. Têm a taxa básica de juros e também a intervenção esterilizada e, dessa forma, podem prestar atenção em duas metas. Estava apenas colocando isso sobre a mesa. Mas há vários outros pontos a ponderar. Pode ser muito perigoso ter uma taxa de câmbio baixa, porque você pode criar "carry trade". Alem do mais, existe o risco de que alguns países usem intervenções para manter a taxa de câmbio em níveis excessivamente baixos, para ganhar uma vantagem desleal. Existe o risco de ser mal usado. Mas não há razão para não refletir sobre a questão.

Valor: Num seminário organizado pelo FMI, o economista Robert Solow falou sobre a dificuldade de calcular o multiplicador fiscal. Temos os instrumentos macroeconométricos para medir e lidar com esse mundo mais complicado?

Blanchard: Penso que a ideia que Robert Solow defendeu é que não existe algo como "o" multiplicador. Existem vários multiplicadores, dependendo do estado da economia, dos instrumentos fiscais usados. A questão é: quais são esse multiplicadores, podemos ter uma visão mais sofisticada deles? Por exemplo, em que circunstância uma contração fiscal pode ser expansionista? Se um país que tem um enorme prêmio de risco porque é fiscalmente irresponsável e, de repente, ele se torna responsável, é fácil ver que a taxa de juros vai cair de um dia para outro e provocar aumento da demanda. Temos uma noção de como o multiplicador vai variar de acordo com as circunstâncias. Mas temos que trabalhar muito mais nesses temas.

Valor: Controles de capitais estão definitivamente na caixa de ferramentas?

Blanchard: Sim, pelas mesmas razões que todos os instrumentos prudenciais. Se você acha que os mercados de capitais não trabalham de forma perfeita, algo em que todos nós poderemos concordar a esta altura, depois do que vimos acontecer, então você vai querer ter ferramentas para reduzir riscos, para influenciar comportamentos. Há circunstâncias em que fluxos de capitais levam a riscos e você não tem as ferramentas macroprudenciais tradicionais para fazer algo a respeito. Por exemplo, se empresas brasileiras tomam empréstimos em Nova York em dólares e você está preocupado com a possibilidade de um risco cambial excessivo, qualquer coisa que você fizer no mercado bancário brasileiro não terá nenhum efeito sobre isso. Então, nesses casos, o que basicamente você quer é evitar isso. Se você puder interromper o fluxo de capitais, você pode dizer não, essa é a coisa certa para fazer.

Valor: Estamos de volta ao mundo dos anos 1960?

Blanchard: Espero que não, mas o risco existe. Gostaria de um mundo com apenas um instrumento e uma meta, mas infelizmente o mundo não é assim. Nos anos 1950 e 1960, esses instrumentos foram mal utilizados. Quando se usam muitos instrumentos, aumenta o risco de surgir considerações políticas, de querer ajudar um grupo ou outro. Então, os riscos existem, mas é assim que o mundo funciona. (AR)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Novas e velhas ideias na economia.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, hoje na FOLHA DE S. PAULO
OS ANALISTAS já têm indicações suficientes para entender que a gestão da economia brasileira vai mudar no governo Dilma. São declarações diárias de membros importantes do governo -inclusive da própria presidente- defendendo novos valores e ideias sobre como deve ser conduzida a política econômica no Brasil. Depois de mais de 16 anos de uma estabilidade de agenda, essa não é uma mudança simples, e os riscos -vistos de hoje- me parecem elevados.
Uma primeira observação precisa ser feita antes de avaliar esse novo rumo do governo: nos últimos 16 anos, a economia brasileira -e o resto do mundo também- mudou muito. Por isso, em principio, não se pode a priori ser contra mudanças propostas pelo governo Dilma. Além disso, as crises que o chamado capitalismo viveu nos últimos anos colocaram em xeque a visão mais ortodoxa de uma economia de mercado.
Por isso, não admitir correções de rumo na política econômica é uma posição retrógrada, burra e que precisa ser questionada.
Mas nessa busca por uma economia de mercado mais eficiente no Brasil -no fundo é disso que estamos tratando nos debates recentes- não podemos deixar de lado lições que permanecem válidas, mesmo com o passar dos tempos. Para mim, uma das mais importantes dessas é a chamada curva de Phillips, que relaciona o desemprego e a inflação. Desenvolvida ainda nos anos 60 do século passado, ela mostra que, a partir de certo nível de desemprego, a inflação passa a crescer de forma não linear quando submetida a choques -internos e externos- de preços.
O auge da fama da curva de Phillips ocorreu nas décadas seguintes à sua formulação por uma razão que poucos analistas entenderam: a força do movimento sindical à época e sua capacidade de manter o valor real dos salários via aumentos nominais indexados à inflação passada. Com o posterior enfraquecimento dos sindicatos nas principais economias do mundo e um aumento da eficiência das ações dos bancos centrais, a curva de Phillips entrou em declínio.
Mas ela voltou agora com toda a sua força original -embora ainda pouco percebida inclusive pelos economistas liberais mais radicais- no Brasil da presidente Dilma. Como a história nunca se repete integralmente, os efeitos de uma taxa de desemprego muito baixa sobre a dinâmica de aumento de preços no Brasil estão mitigados hoje pela combinação de uma moeda forte e um fluxo muito grande de importações. Mas, se olharmos apenas para os setores que não sofrem os efeitos das importações, a velha curva de Phillips se mostra em todo seu vigor.
Como a maioria dos analistas mais ortodoxos tem uma dificuldade imensa de considerar o mercado de trabalho em suas análises, a preocupação com ele fica restrita a economistas que têm uma forte influencia da metodologia keynesiana ao olhar para os problemas econômicos. Por outro lado, o pensamento dominante nas lideranças petistas considera os índices de desemprego baixo um dos êxitos mais marcantes de seu período no governo federal.
Eufóricos e cegos, não acreditam na curva de Phillips porque a vêm como um instrumento agressivo da burguesia contra a classe trabalhadora. Bem ao estilo petista de reagir a críticas.
Uma prova do descaso das autoridades do governo Dilma para com esse problema é a euforia de seu ministro do Trabalho ao anunciar recentemente que ele garante uma criação de mais de 3 milhões de novos postos de trabalho em 2011. Certamente o sr. Lupi não tem a menor ideia do que o economista neozelandês da London School of Economics mostrou meio século atrás e, se o soubesse, usaria expressões de Leonel Brizola, fundador de seu partido, para desqualificá-lo.
Outros economistas depois de Phillips aprofundaram suas conclusões e mostraram com mais profundidade os riscos para a inflação de taxas de desemprego muito baixas em um ambiente de forte demanda. O Brasil será nos próximos meses um terreno fértil para verificar quem tem razão nessa questão.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Brazil's economy.

INFLATION is at 6.3% and is poised to break through the ceiling of the Central Bank’s target of 2.5-6.5% for the first time since it was adopted in 2006. That is despite the currency surging to 1.58 reais to the dollar, close to its peak since it was allowed to float in 1999—and much stronger than either the government or industry would like. All this means that monetary policy in Brazil is attempting to tame two wild horses at the same time. The Central Bank has already raised its benchmark rate by three percentage points over the past year, to 11.75%, with another 0.25-0.50 points expected from its monetary-policy committee on April 20th as The Economist went to press. But as the bank admitted in its latest quarterly inflation report, it does not now expect to bring inflation back to its central 4.5% target by the end of 2011. The economic cost, it said, would be “too high”.

The difficulty for the Central Bank is that each rise in interest rates—already the highest of any big economy—makes Brazil more attractive to footloose foreign capital. In the first three months of 2011 it saw net inflows of $35 billion, more than in the whole of 2010. That pushes up the currency, which is not directly the monetary-policy committee’s concern, and throws fuel on an overheated economy, which is.

To try to curb inflation without boosting the real further, the bank is resorting to what central bankers call “macroprudential measures”, such as higher bank reserve-requirements. The finance ministry has chipped in by raising taxes on consumer credit, foreign bond issues, and on overseas loans and derivatives’ margins. Without such measures, says the finance minister, Guido Mantega, the real would be at 1.4 to the dollar.

Dilma Rousseff, the president, has promised to do whatever it takes to control inflation. A big test involves the minimum wage, due to rise next year by 7.5% above inflation, unless the government amends the formula used to calculate it. That would push up state pensions, which are linked to minimum pay, as well as wages across the board, as many salaries are expressed in multiples of the minimum. The danger in trying to steer the exchange rate and inflation simultaneously is the risk of losing control of both of them.Some think the government should welcome the inflows, let the real rise where it will and cut public spending to eliminate the expansionary fiscal deficit. All that would bear down on inflation and in turn allow the bank to cut rates, thereby stemming inflows and eventually allowing the currency to fall. But the government is afraid this would lead to a destabilising outflow once rich countries start tightening monetary policy—and that manufacturers would be unable to survive a stronger real, even temporarily. FIESP, an industrialists’ trade body in São Paulo, says its members are already struggling: in 2010 the share of imported industrial goods in total consumption was at an all-time high. It wants the government to restrain speculative inflows by imposing far higher initial margin requirements on currency futures.

The 2011 TIME 100 - Dilma Rousseff

It's not easy being the first woman to govern your country. Beyond the honor it signifies, there are still prejudices and stereotypes to confront. Nor is it easy to govern an emerging nation: when societies begin to see the light of development at the end of the tunnel, there is a surge of optimism and enthusiasm, but the challenges become more complex and the citizenry more demanding. It's harder still to govern a country as large and globally relevant as Brazil.

Dilma Rousseff, 63, has all of this ahead of her. Brazil is living a unique moment in its history, one of great opportunity, which requires a leader with solid experience and firm ideals. Dilma offers precisely that virtuous combination of wisdom and conviction that her country needs. Brazil's new President is a courageous fighter who stood up to its former military dictatorship and has dedicated her life to building a democratic alternative for development, social equality and women's rights.

Bachelet is the former President of Chile and the first executive director of U.N. Women.

The 2011 TIME 100 - Joseph Stiglitz.

It's said that the day when the arms dealer Alfred Nobel picked up his newspaper and was shocked to find an obituary calling him a "merchant of death," he decided to dedicate the rest of his life to supporting peace and prosperity. Hence the Nobel Prize. It was good that he changed, because he has made it possible for us to honor people who have changed our view of the world for the good.

Joe Stiglitz, 68, has chaired President Clinton's Council of Economic Advisers, served as the World Bank's chief economist and developed theories that will be remembered long after current controversies die down, because he has delivered to us a better understanding of economics, particularly with the crucial insight that markets aren't always efficient.

The return to political economy is under way — even if the journey is through the rather messy area of behavioral economics — after the revelations of the deficiencies of a purely market-based approach. Joe's Nobel Prize–winning work on information asymmetries is a crucial part of this journey.

He got the Asian crisis right, foresaw the bubble that caused such havoc in 2008 and is advocating global answers to a host of problems that can no longer be solved at the local or national level. This worldview is the essential dimension missing in economic-policy making but which has to be at the core of the next ways forward. Now a distinguished professor at Columbia, Joe is a brilliant intellect, a great conversationalist, and because his work goes on challenging us all to rethink our ideas, he will always be a controversialist wherever he goes.

Brown is a former Prime Minister of the U.K. and the author of Beyond the Crash: Overcoming the First Crisis of Globalization

Obama and Facebook in Warm Embrace.

O poder do iPhone!

Para quem acreditava ou acredita no poder de venda do iPad, leia abaixa a notícia da FOLHA sobre os ultimos resultados da APPLE. Realmente, hoje, na minha opinião, não existe aparelho que supere o iPhone.
Sob impacto de vendas acima do esperado do iPhone, a Apple registrou lucro de US$ 5,99 bilhões (R$ 9,6 bilhões) no primeiro trimestre, crescimento de 95% em comparação ao mesmo período de 2010. O resultado ficou acima do esperado pelo mercado. O faturamento aumentou 83%, para US$ 24,7 bilhões. No trimestre, foram 18,7 milhões de iPhones vendidos -mais do que o dobro do mesmo período de 2010.
Para isso, contribuiu a decisão da empresa de oferecer nos EUA o produto aos clientes da operadora Verizon. Antes, a AT&T detinha a exclusividade na comercialização do smartphone.
Por outro lado, o desempenho do iPad ficou aquém do esperado, com 4,7 milhões de unidades vendidas -esperava-se que 6 milhões tivessem sido comercializados no período. Segundo analistas, esse resultado deveu-se aos problemas enfrentados pela Apple para atender a demanda pelo tablet e a consequente falta de produto nas lojas.
A Apple também apresentou resultados expressivos em uma indústria afetada pela queda de suprimentos. Devido ao terremoto e ao tsunami no Japão, a produção de insumos para computadores foi prejudicada em todo o mundo.Mesmo assim, as vendas do MacBook, o notebook da Apple, cresceram 53%, para 2,8 milhões. O desktop Mac, por sua vez, perdeu 12% de vendas, para 1 milhão.
O diretor financeiro da Apple, Peter Oppenheimer, disse que está "extremamente" satisfeito com os resultados, que foram recordes para o segundo trimestre do ano fiscal da empresa, que teve seu início em setembro de 2010.Ele ainda disse que a companhia está fazendo progressos na produção de iPads e expandindo o número de países nos quais o produto é comercializado.
O iPad 2 foi lançado em março nos Estados Unidos e em outros 25 países. Na semana que vem, chegará a mais 13 -não foi informado se o Brasil está na lista. Neste mês, a Foxconn, fornecedora da Apple, anunciou que fabricará o aparelho no país a partir de novembro.
O mercado também recebeu bem os novos números. As ações da companhia subiram 2,4% no "after market" (negociação de papéis feita após o pregão regular).
Com cerca de US$ 315 bilhões de valor de mercado no dia 20, a Apple é atualmente a segunda maior empresa do mundo, perdendo apenas para a petrolífera Exxon Mobil, que tem aproximadamente US$ 424 bilhões nesse indicador na mesma data.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

COPOM - sem surpresa: presente de Páscoa!

Sem surpresa, o UOL divulgou hoje que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu nesta quarta-feira (20) elevar a taxa básica de juros (a Selic) em 0,25 ponto percentual, para 12% ao ano, o maior nível desde janeiro de 2009, quando era de 12,75%.

Embora essa alta não tenha sido uma surpresa, a maioria dos analistas do mercado financeiro apostava que a taxa subiria para 12,25%.

Ao elevar a Selic, o objetivo do BC é fazer com que o crediário também suba e, com isso, diminua o consumo da população para conter a alta da inflação.

A alta de preços ocorre quando há muita procura por produtos e menos quantidade para atender a essa necessidade.

A Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), porém, não acredita que a elevação da Selic vá restringir o crédito.

Esta foi a terceira reunião do Copom sob o mandato da presidente Dilma Rousseff e com o BC sob o comando de Alexandre Tombini.

Em todas elas, o comitê decidiu elevar a taxa. Nas duas primeiras, a alta foi de 0,5 ponto percentual. Na desta quarta-feira, subiu 0,25 ponto percentual. Com isso, no governo Dilma, a Selic passou de 10,75% para os atuais 12% ao ano. O próximo encontro será nos dias 7 e 8 de junho.

A elevação dos juros é o principal método utilizado para o BC para perseguir o centro da meta de inflação, medida pelo índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é de 4,5% para este ano.

Também para conter a inflação por meio de restrição ao crédito, no início deste mês, o governo elevou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para empréstimos tomados por pessoas físicas de 1,5% para 3%.

O centro da meta pode ter variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, ou seja, a inflação poderia ir de 2,5% a 6,5%. O índice de 4,5% é chamado de centro, pois está bem no meio dos extremos.

O mercado prevê que a inflação em 2011 será de 6,29%. No ano passado, o índice foi de 5,91%, a maior registrada no país desde 2004. Em março deste ano, a inflação acumulado nosúltimos 12 meses chegou 6,30%.

A Selic é a taxa básica de juros. Ela é usada como base, por exemplo, para os juros cobrados quando se parcela uma compra ou se pede dinheiro emprestado no banco.

Se os juros básicos aumentam, as lojas fazem o mesmo com o crediário. Os juros também são usados como política monetária pelo governo para conter a inflação.

Com juros altos, as prestações ficam mais caras e as pessoas compram menos, o que restringe o aumento dos preços. No caso de redução dos juros, o receio do governo é que haja muitas compras e as indústrias não consigam produzir o suficiente.

Quando isso acontece, há falta de produtos no mercado, e os que existem ficam mais caros -é a chamada lei da oferta e da procura.

Um aspecto positivo dos juros altos é que eles remuneram melhor as aplicações financeiras. Isso é bom para os investidores brasileiros e também para os estrangeiros que procuram o país.

Quando alguém investe em fundos ou títulos públicos, por exemplo, recebe um rendimento mensal maior se os juros estiverem mais altos.

Por outro lado, os juros altos prejudicam as empresas, que ficam mais receosas de tomar empréstimos para investir em expansão.

Por isso os empresários reclamam dos juros altos. Nesse cenário, também se torna mais difícil a criação de empregos.

O Copom foi instituído em junho de 1996 para estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros.

Você sabe quanto o estado já arrecadadou em 2011?

A arrecadação federal totalizou R$ 70,984 bilhões em março, de acordo com números divulgados pela Receita Federal. O valor é recorde para o mês. Descontada a inflação oficial pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o volume é 9,69% superior ao de março de 2010 e 9,8% maior do que o de fevereiro passado.
Nos três primeiros meses de 2011, a arrecadação também é recorde e totaliza R$ 226,194 bilhões, em valores nominais. Em termos reais (com a correção pela inflação), o total passa para R$ 228,155 bilhões. Esse valor supera em R$ 24,367 bilhões, ou em 11,96%, o montante registrado no mesmo período de 2010.
Um dos principais fatores com influência sobre o resultado da arrecadação continua sendo o desempenho da economia. A Receita Federal destaca, por exemplo, o crescimento da produção industrial, que chegou a 3,88% de dezembro de 2010 para fevereiro de 2011, na comparação com igual período anterior.
Nesta mesma base de comparação, o volume de vendas cresceu 16,14% e a massa salarial, 15,34%, destaca a Receita. Como o fato gerador de um mês só influencia as receitas públicas no mês seguinte, a atividade econômica em dezembro e fevereiro tem impacto na arrecadação de janeiro e março.
O aumento da lucratividade das empresas também contribuiu para o recorde na arrecadação. As receitas do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) no primeiro trimestre tiveram aumento real de R$ 7,703 bilhões (19,87%) em comparação ao mesmo período de 2010. A arrecadação da Confins e do PIS/Pasep arrecadados também merece destaque, com crescimento de R$ 4,820 bilhões (11,13%). A receita previdenciária cresceu R$ 4,956 bilhões (20,34%).
De acordo com a Receita Federal, esses tributos foram os principais responsáveis pela diferença na arrecadação no acumulado do ano em relação ao ano passado
Fonte: FiscoSoft On Line

terça-feira, 19 de abril de 2011

O PT e a economia.

Na coluna do mês passado disse ao leitor que a presidente Dilma estaria resgatando o pensamento econômico histórico do PT. Minha intuição apontava nessa direção. Nestes últimos 30 dias o comportamento da presidente tornou essa percepção mais sólida. Declarações suas, atos concretos de ministros importantes e manifestações de membros do segundo escalão aumentaram minha convicção.

Dou um exemplo do que quero dizer. Um funcionário do Ipea acusou o mercado financeiro de estar tentando desestabilizar a política econômica via terrorismo com os índices da inflação. Os objetivos desses carbonários da direita seriam o de reverter uma política econômica que visa resgatar os pobres e reduzir a defasagem de renda entre ricos e a classe média. Para ele a inflação mais elevada não é um problema desde que o crescimento econômico seja elevado e os salários e o emprego cresçam a taxas robustas. Uma verdadeira quadratura do circulo macro econômico de uma economia de mercado.

Esse comportamento de acusar inimigos externos por problemas enfrentados pelo governo é típico do PT. O que varia, de acordo com o grau de militância, é a dureza das expressões e a leviandade das acusações. Com isso as verdadeiras causas dos problemas que enfrenta permanecem sem combate.

Mas volto ao campo mais restrito do pensamento econômico do PT que é o tema principal desta coluna. Conheço o modelo de economia que orienta as ações de um grande número de seus membros, inclusive a própria presidente. Durante seis anos fui professor no curso de doutorado no Instituto de Economia da Universidade de Campinas, centro principal do pensamento econômico do Partido dos Trabalhadores. Nesse período, não só pela leitura dos textos básicos utilizados nos diversos cursos mas, principalmente, por participar de debates e seminários internos, fui construindo esse meu conhecimento.

Além disso, meu pensamento de hoje incorpora algumas teses desse grupo, que aprendi na minha estada na Unicamp. Isso me faz um crítico não radical de suas ideias e propostas, diferentemente de outros analistas do mercado financeiro. Dou um exemplo: parecem-me corretas algumas das mudanças realizadas no sistema de metas de inflação pela diretoria atual do BC e que levou os grupos liberais mais radicais a vociferar que ele estava sendo abandonado. Também está correta, no meu entendimento, a política de intervenção no câmbio e as preocupações com o processo de perda de competitividade da indústria por conta de um real hiper valorizado. Ideias como a flutuação limpa do real nos mercados me parecem tolices, como já apontei recentemente.

Mas em relação à leitura da conjuntura econômica, a forma de intervenção do Estado nos mercados e ao entendimento de questões macroeconômicas importantes - como, por exemplo, as causas do processo inflacionário que vivemos hoje - minha discordância é total. Por isso sou extremamente otimista com a economia brasileira e muito pessimista com a política econômica do governo Dilma. Como essas duas leituras não podem existir juntas, ao fim do mandato da presidente duas situações podem ocorrer: os erros de política econômica prevalecem e a economia se degrada, ou a força da economia privada - dentro e fora de nossas fronteiras - acaba compensando os erros do governo e o Brasil continua a crescer, embora a taxas mais medíocres do que se poderia obter com uma política econômica de boa qualidade.

Para colocar esses dois cenários em números diria que no primeiro caso estaríamos crescendo a 2,5% ao ano em 2014 e mais de 4% no segundo. O ponto central dessa divergência me parece ser a questão da inflação e como o governo vai combatê-la.

No primeiro caso o governo é colocado contra a parede em 2012 e obrigado a realizar um tratamento de choque por conta da perda da popularidade que certamente virá com taxas de inflação da ordem de 8% ao ano. Nessa hipótese haverá uma redução importante na velocidade de crescimento da economia, depois de um período com taxas anuais acima de 4% aa, mas com a inflação voltando ao nível de normalidade. Na outra hipótese o governo reconhece o dilema inflação e crescimento que vivemos hoje e decide sacrificar o nível de atividade em 2011 e 2012, deixando para os anos seguintes a volta de um crescimento econômico mais robusto.

Temo que o governo vai optar pelo primeiro caminho, por ainda acreditar na cartilha econômica do PT. Essa minha hipótese fica ainda mais forte se considerarmos que a partir de maio poderemos ter, por três ou quatro meses, números da inflação menores. Embora a causa principal disso seja de natureza sazonal - e já precificado pelo mercado em suas projeções mais pessimistas - o governo vai tentar passar a ideia de que sua política está funcionando e declarar vitória. Segundo os economistas da Quest poderemos ter inflações mensais de até 0,25% nesta que poderá ser uma doce primavera para o governo.

Se essa declaração de vitória precoce acontecer e o governo abaixar a guarda, a recidiva da inflação no final do ano será muito forte, principalmente porque estará ancorada no aumento de 14% do salário mínimo que entrará em vigor em janeiro de 2014.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas no VALOR ECONÔMICO.

A importância de debater o PIB nas eleições 2022.

Desde o início deste 2022 percebemos um ano complicado tanto na área econômica como na política. Temos um ano com eleições para presidente, ...