sexta-feira, 22 de abril de 2011

Novas e velhas ideias na economia.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, hoje na FOLHA DE S. PAULO
OS ANALISTAS já têm indicações suficientes para entender que a gestão da economia brasileira vai mudar no governo Dilma. São declarações diárias de membros importantes do governo -inclusive da própria presidente- defendendo novos valores e ideias sobre como deve ser conduzida a política econômica no Brasil. Depois de mais de 16 anos de uma estabilidade de agenda, essa não é uma mudança simples, e os riscos -vistos de hoje- me parecem elevados.
Uma primeira observação precisa ser feita antes de avaliar esse novo rumo do governo: nos últimos 16 anos, a economia brasileira -e o resto do mundo também- mudou muito. Por isso, em principio, não se pode a priori ser contra mudanças propostas pelo governo Dilma. Além disso, as crises que o chamado capitalismo viveu nos últimos anos colocaram em xeque a visão mais ortodoxa de uma economia de mercado.
Por isso, não admitir correções de rumo na política econômica é uma posição retrógrada, burra e que precisa ser questionada.
Mas nessa busca por uma economia de mercado mais eficiente no Brasil -no fundo é disso que estamos tratando nos debates recentes- não podemos deixar de lado lições que permanecem válidas, mesmo com o passar dos tempos. Para mim, uma das mais importantes dessas é a chamada curva de Phillips, que relaciona o desemprego e a inflação. Desenvolvida ainda nos anos 60 do século passado, ela mostra que, a partir de certo nível de desemprego, a inflação passa a crescer de forma não linear quando submetida a choques -internos e externos- de preços.
O auge da fama da curva de Phillips ocorreu nas décadas seguintes à sua formulação por uma razão que poucos analistas entenderam: a força do movimento sindical à época e sua capacidade de manter o valor real dos salários via aumentos nominais indexados à inflação passada. Com o posterior enfraquecimento dos sindicatos nas principais economias do mundo e um aumento da eficiência das ações dos bancos centrais, a curva de Phillips entrou em declínio.
Mas ela voltou agora com toda a sua força original -embora ainda pouco percebida inclusive pelos economistas liberais mais radicais- no Brasil da presidente Dilma. Como a história nunca se repete integralmente, os efeitos de uma taxa de desemprego muito baixa sobre a dinâmica de aumento de preços no Brasil estão mitigados hoje pela combinação de uma moeda forte e um fluxo muito grande de importações. Mas, se olharmos apenas para os setores que não sofrem os efeitos das importações, a velha curva de Phillips se mostra em todo seu vigor.
Como a maioria dos analistas mais ortodoxos tem uma dificuldade imensa de considerar o mercado de trabalho em suas análises, a preocupação com ele fica restrita a economistas que têm uma forte influencia da metodologia keynesiana ao olhar para os problemas econômicos. Por outro lado, o pensamento dominante nas lideranças petistas considera os índices de desemprego baixo um dos êxitos mais marcantes de seu período no governo federal.
Eufóricos e cegos, não acreditam na curva de Phillips porque a vêm como um instrumento agressivo da burguesia contra a classe trabalhadora. Bem ao estilo petista de reagir a críticas.
Uma prova do descaso das autoridades do governo Dilma para com esse problema é a euforia de seu ministro do Trabalho ao anunciar recentemente que ele garante uma criação de mais de 3 milhões de novos postos de trabalho em 2011. Certamente o sr. Lupi não tem a menor ideia do que o economista neozelandês da London School of Economics mostrou meio século atrás e, se o soubesse, usaria expressões de Leonel Brizola, fundador de seu partido, para desqualificá-lo.
Outros economistas depois de Phillips aprofundaram suas conclusões e mostraram com mais profundidade os riscos para a inflação de taxas de desemprego muito baixas em um ambiente de forte demanda. O Brasil será nos próximos meses um terreno fértil para verificar quem tem razão nessa questão.

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