Folha - Está emergindo um novo pensamento econômico pós-crise financeira?
Arminio Fraga - Acho cedo para dizer que temos um novo paradigma, provavelmente não. A economia vive se reinventando, se redescobrindo. A importância do crédito por si só não constitui aventura intelectual ou novidade. Vale salientar apenas que o uso de medidas nesta área deve ser claro no seu propósito e justificativa (genuinamente prudencial, ou seja, voltada para reduzir risco sistêmico).
O mesmo vale para regulamentações da conta de capital. Por exemplo, medidas prudenciais temporárias podem ser úteis para limitar a acumulação capitais de curto prazo, enquanto não são postas em prática políticas mais fundamentais que levem a queda relevante dos juros.
Olivier Blanchard diz que há muitos instrumentos de política econômica, mas que não se tem muita certeza sobre como utilizá-los. Isso não cria muita incerteza? Não creio que tenhamos tantos instrumentos assim, é preciso um certo cuidado. Os instrumentos prudenciais no fundo são apenas um e devem preferencialmente cuidar de questões de risco, enquanto a taxa de juros deve cuidar da inflação.
O ponto do Blanchard é que em certos momentos as combinações desses instrumentos podem variar, podem ser otimizadas. Quando os objetivos prudenciais e macro estão alinhados, não há grandes problemas, e a calibragem pode ser feita.
Na prática os governos em geral erram e se iludem quando trocam uma solução aparentemente mais cômoda no curto prazo pela introdução de distorções cujos custos não são óbvios, mas existem. Má alocação do crédito, por exemplo.
No Brasil há um ceticismo do mercado em relação à política econômica vigente. Quais os riscos desse cenário?
O mercado tem medo de que se utilizem medidas prudenciais para não ter que aumentar os juros. É um bom debate. Ou de que se entorte o crédito sem ser por razões prudenciais. Outro bom debate. Minha visão, que não é de hoje, sugere que o governo tem de reverter a expansão fiscal do ano passado e tomar cuidado com o crédito, especialmente com os bancos públicos. Portanto sou a favor do esforço fiscal e de medidas prudenciais.
Além disso, claro, a taxa de juros tem de ser a necessária para trazer a inflação de volta para a meta ano que vem. De qualquer forma, não vejo grandes mundos novos aqui, inclusive nada disso é necessariamente heterodoxo, no mau sentido. Os riscos são tentar atingir metas que são impossíveis no curto prazo, e tem a ver com pedir demais do Banco Central.
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